domingo, novembro 16, 2008

Depois de virar piada na TV, Sarah Palin se transformou no centro de uma grande farsa na internet. Logo após o pleito que elegeu o democrata Barack Obama, no início de novembro, o canal conservador Fox News afirmou, com base em uma fonte anônima da campanha de John McCain, que a candidata a vice-presidência pelo Partido Republicano não sabia que a África era um continente. No início da semana, o âncora David Shuster, da MSNBC, desmascarou a fonte. "Tratava-se de Martin Eisenstadt, um assessor de McCain, que se identificou hoje como a fonte do vazamento", afirmou.
Há apenas um problema: Martin Eisenstadt não existe. Seu
blog existe, mas ele não – apesar de, no blog, ele negar que não exista. O think tank onde ele trabalharia, o Instituto Harding para Liberdade e Democracia, também não passa de um sítio de internet. Os vídeos onde ele aparece no YouTube são falsos.
Lição
Eisenstadt é uma farsa muito bem elaborada que vem sendo posta em prática há meses. A MSNBC, que rapidamente corrigiu o erro, não errou sozinha: a revista New Republic e o jornal Los Angeles Times foram alguns dos veículos que também caíram na armadilha. Agora, uma dupla de cineastas desconhecidos alega ter criado Martin Eisenstadt para ajudá-los a lançar um programa de TV baseado no personagem. Eitan Gorlin – que interpreta o assessor nos vídeos – e seu parceiro Dan Mirvish dizem que não são a fonte dos vazamentos sobre as gafes de Sarah Palin; apenas assumiram a responsabilidade para chamar a atenção.
Os dois culpam a mídia e, em especial, a blogosfera pela facilidade que tiveram em armar a farsa. "Com o ciclo de 24 horas das notícias, eles absorvem tudo o que conseguem achar pela frente", diz Mirvish. Jeremy Gaines, porta-voz da MSNBC, explicou que o erro da emissora ocorreu porque alguém da redação recebeu a história em uma mensagem de e-mail de um colega e achou que as informações haviam sido verificadas. "[O conteúdo da mensagem] Não havia sido avaliado", diz Gaines. "Não devia ter ido ao ar."
Mais do que os veículos tradicionais, as maiores vítimas de Eisenstadt foram os blogueiros, que caíram no conto das informações falsas apesar de alertas na própria internet sobre o suposto assessor – inclusive uma investigação online por parte de um blogueiro que tentou, a todo custo, desacreditá-lo.
Plano sofisticado
A farsa teve início no ano passado, com vídeos curtos sobre um manobrista de carros – que era a idéia original da dupla para o programa de TV. Em vídeos posteriores – que atraíram dezenas de milhares de visitas online, e pouca atenção da mídia –, o personagem aparecia dirigindo e soltando elogios sem sentido ao político republicano Rudolph Giuliani.
Quando Giuliani abandonou a corrida presidencial, o personagem foi transformado em Eisenstadt, uma paródia a comentaristas políticos nas emissoras de TV a cabo. Ele logo se tornou assessor de John McCain e ganhou um blog, atualizado com supostos comentários de dentro da campanha, e outros blogueiros começaram a reproduzir seu conteúdo. O Instituto Harding também foi inventado.
Gorlin e Mirvish ainda produziram um pequeno documentário "da BBC", em vídeos postados no YouTube, no qual Eisenstadt aparecia como convidado. Em julho, quando a campanha de McCain comparou Barack Obama à socialite Paris Hilton, o falso assessor afirmou em seu blog que o telefone estava "queimando" no escritório republicano, com ligações irritadas do avô de Paris. O blog político do Los Angeles Times estava entre os que morderam a isca e reproduziram a história, citando Eisenstadt e colocando um link para sua página.
O blogueiro William K. Wolfrum foi quem seguiu as mentiras de Eisenstadt pela internet e, por diversas vezes, derrubou suas alegações. Gorlin e Mirvish elogiam sua persistência, e dizem que a mídia tradicional poderia aprender umas lições com ele. "Como se já não houvesse desinformação demais nesta eleição, foi chocante ver tanto tempo perdido com coisas que não existiam", afirmou Wolfrum em entrevista. Mas como saber se o blogueiro realmente existe e não é, na verdade, parte da farsa? "É, esta é uma pergunta difícil", responde. Informações de Richard Pérez-Peña [The New York Times, 13/11/08].






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