sábado, julho 24, 2010

DIRCEU OLÍVIO POMPERMAYER

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 24 de julho de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/



ENTREVISTADO: DIRCEU OLÍVIO POMPERMAYER

Dirceu Olívio Pompermayer nasceu em 5 de abril de 1925, na Fazenda Pompermayer situada no bairro rural Campestre. É filho de Frederico Pompermayer e Angelina Sândalo Pompermayer, seus irmãos são: Nair, Angenor Antonio, Henriqueta, Nelson, Nivaldo. Trabalhou com a plantação e preparo de fumo de corda, incorporou e realizou o loteamento de diversas áreas de terras urbanizadas, uma delas deu origem a Rua Chavantes, em Piracicaba. Tornou-se sócio de uma pequena loja de tecidos, que veio a ser uma das grandes fornecedoras de artigos comercializados pelos chamados “frangueiros”, comerciantes de miudezas que percorriam as zonas rurais. Seu estabelecimento tornou-se um dos mais representativos do seu setor em Piracicaba e região. Suas lembranças trazem de volta o tempo de menino, quando acompanhava o pai na vinda do sítio para a cidade, em sua juventude vinha a cavalo até propriedade da família situada na Avenida Dr. Paulo de Moraes, onde deixava sua montaria, preparava-se com os trajes de passeio e rumava com alguns amigos para o centro de Piracicaba, onde a juventude costumava quadrar o jardim.

Qual era a área cultivada pelo seu pai na Fazenda Pompermayer?

Eram 63 alqueires, inicialmente com pés de café, depois passou para o plantio diversificado. Por doze anos e meio fabriquei fumo de corda. Dos sete anos até os dez anos, embora meu pai tivesse colonos, eu tinha que tratar de animais. Eu arrancava mandioca, para cozinhar e dar aos porcos, cortar cana de açúcar para doze parelhas de burro. O trabalho que eu fazia com essa idade eu acho que são poucos os moços de hoje que conseguiriam fazer. Com o tempo meu pai deu um pedaço de terra para mim e para meu irmão mais novo plantarmos as nossas coisinhas, e assim foi até quando completei dezoito anos. Foi quando vim para a cidade e fui trabalhar na oficina do Rui Consentino. Foi no tempo da Segunda Guerra.

 

Foi no período em que se usava gasogênio?

O ônibus que ia de Piracicaba ao Anhembi era do Renato Angeli, e o que ia á Botucatu era do Romeu Rolandi. À tarde eles chegavam de viagem com os ônibus, tinha que retirar o carvão que estava quase todo queimado, isso nos dois tambores de cada veiculo. Eu tinha que limpar e encher de carvão novamente. Era colocada uma estopa na abertura inferior, às sete horas da manhã quando iria funcionar o ônibus era colocada uma estopa embebida em querosene, e colocava-se fogo. O Romeu Rolandi dizia que para subir a serra de Botucatu ele tinha que passar o motor para funcionar a gasolina, com o gasogênio não subia. Não me acostumei com aquele serviço, voltei ao trabalho com a terra. Fiquei com o meu pai, passei a trabalhar com meu tio, Antenor Bragatto, casado com uma irmã do meu pai. Plantávamos nosso pedaço de fumo, fazíamos a nossa “fumadinha”, ele gostava de negociar, comprava e vendia fumo. Dois irmãos da minha mãe, Tio Luiz e Tio Zezinho tinham uma propriedade boa, de sessenta e poucos alqueires, tinham derrubado dois capões de mato e capoeira e estavam querendo plantar fumo. Fui trabalhar lá, um primo, Alfredo Sândalo me ensinou a fazer o canteiro para as mudas, fiz duas fumadas bonitas e boas.

Como é o processamento do fumo?

Conforme a folha ia amadurecendo embaixo eu ia tirando, hoje se colhe todas as folhas, eu só apanhava a folha que estavam amarelando, as folhas colhidas iam para o rancho coberto, era tirado o talo grosso e colocada em um estaleiro feito de bambu onde as folhas ficavam dependuradas, esse processo era feito no mês de junho, julho, agosto já é um mês com tempo seco. Quando a folha estava no ponto, maciazinha fazia-se a corda. Era uma corda comprida com mais de 10 metros de comprimento, ficava alguém com um cambito. Após enrolar três cordas elas eram novamente enroladas entre si, em torno de um pau, onde era então feito o rolo. Após esse processo o rolo era levado para a cambota, que tinha uma catraca. Puxava-se bem apertado e dava-se uma volta, fazia-se isso até concluir o rolo. O fumo ia melando, ficava marrom, soltava uma mela preta, ai é que tinha a ciência de não deixar o fumo azedar, não tinha como deixar o serviço para outro dia, perdia-se a qualidade.

 

O que era feito com o caldo que saia do fumo?

Às vezes alguém ia buscar para usar para tratar animais com bernes. Normalmente eu jogava fora.

Entre cortar a folha e ter o produto pronto quanto tempo levava?

Fazia-se o canteiro no fim de fevereiro, tirava do canteiro em março e plantava na roça, uns 50 dias depois ele já estava com 22 a 23 folhas, apanhava-se, conforme ia amadurecendo ia apanhando, colocava na carroça, levava ao rancho onde a meninada, moças, mulheres “destalavam”. Era um serviço bonito, eu gostava a única coisa da qual tenho saudades do tempo em que era moço é do quartinho de fumo. Lá você tem os rolos de fumo separados por suas qualidades. O fumo “bachero” é feito com as folhas de baixo da planta, é um fumo mais fraco, de qualidade inferior. O fumo extra é o que não tem uma corda quebrada, é amarelo. Naquele tempo se pegasse uma lasquinha daquele fumo bom, amarelinho, e mascasse, sentiria até a sua doçura.

O senhor fumava?

Eu fazia o meu cigarrinho. Costumava fazer um rolinho de fumo para mim, outros para os meus tios. Escolhia as folhas no estaleiro, mesmo as folhas iguais na roça, no estaleiro umas ficavam diferentes das outras, se tiver uma folha verde na corda o fumo fica amargo, fazendo com folhas selecionadas o fumo durante o ano todo tem a mesma qualidade. O comprador só de pegar o canivete e bater no rolo sabe a qualidade dp fumo.

Quanto pesa um rolo de fumo?

Eu fazia de 17, 18 quilos, o rolo pronto, curado. Ao vender quebravam-se ao meio, os compradores não queriam rolo muito grande era mais difícil de vender. Eu tinha um vendedor em Sorocaba, era um aposentado da Sorocabana, chamava-se Alfredo Marques. Após vender ele mandava-me uma carta com o pedido, essa carta era entregue em um barracão que meu pai e meu avô tinham na Avenida Dr. Paulo de Moraes, bem em frente ao barracão de cargas e descargas da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro, ao lado da casa onde morava Dr. Jacob Dhiel Neto, vizinho ao Giovanni Ferrazzo, mais conhecido como Joane Vassoureiro, que por sinal comprava toda vassoura que nós plantávamos.

O senhor lembra-se quando o Joane construiu o Posto Cantagalo?

Lembro-me, ficava na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. Paulo de Moraes, na época era um terreno baldio, o quarteirão todo era vazio, só havia uma casa na esquina. Hoje existe no local um posto de gasolina da Petrobras. Heitor Pompermayer, Jorge Angeli, Carlos Bortoletto, Fahjala foram meus colegas, éramos todos moços. O tiro de guerra ficava em um quarteirão onde mais tarde foi construída a Escola Industrial, nós saiamos a pé da Paulista e íamos até lá, uns oito a dez rapazes, entre eles Aristides Costa, Guilherme Cella. O comando era do sargento Ayres, nós usávamos fuzil para treinamento de tiro, tinha a prática adquirida no sitio, de atirar em caça voando, acertava três tiros “na mosca” quando o alvo era fixo. O Vanor Pachane morava na Chácara Nazareth, trabalhava na fabrica de barcos do Adamoli. Nós fazíamos aulas praticas de tiro junto ao Rio Piracicaba, no trecho em que passa pela Escola Agrícola. O sargento sabendo que o Vanor Pachani era bom carpinteiro disse-lhe para arrumar um companheiro e ficarmos em uma trincheira de onde colocávamos os alvos para o exercício de tiros. Descíamos os alvos e colávamos uma rodinha de papel onde havia sido acertado o tiro. Ali embaixo o sargento anotava a pontuação dos tiros. Tinha fuzil bom e ruim, eu conhecia os que eram bons, o Vanor sempre me chamava para ajudá-lo. Vim para a cidade na casa de duas tias minhas, irmãs do meu pai, Tia Emilia e Tia Elvira, seus maridos eram da família Furlan. Emílio Furlan namorava minha irmã, Henriqueta, trabalhei com ele na lenhadora da sua família, com um caminhão Ford 1948, F-8, um caminhão valente. Puxávamos lenha, Emílio, eu e um funcionário chamado Antonio Caetano. Chegávamos a carregar vinte metros cúbicos de lenha, eucalipto, cortados ali na região de Rio das Pedras. O Emilio ficava em cima do caminhão, eu e o Antonio jogávamos a lenha, às vezes precisava manobrar o caminhão, como eu estava embaixo, passei a executar essa tarefa, isso com 22 anos.

 

Onde hoje está o Shopping Paulistar foi alguma pedreira?

Não me lembro de ter havido alguma pedreira no local. Ali foi por muitos anos a caieira de Felício Tozzi, ele tirava pedra de cal, já era um buraco que com a extração aprofundou-se mais. Eu ia com uma Kombi ano 1960 buscar cal para a construção de uma casa que fiz.

O senhor vinha do sítio á cidade como?

Vinha a cavalo, deixava-o no imóvel da Avenida Dr. Paulo de Moraes, havia muita poeira pela estrada, por isso já deixava um terno pronto ali no barracão existente. Tomava um banho, punha a roupa limpa e saia para passear junto com os colegas.

Quando foi seu casamento?

Em 1951 casei-me com Luiza Beisman na Igreja dos Frades, o celebrante foi Frei Felício. Filha de Elvira Estela Beisman e Antonio Beisman. Conheci a Luiza quadrando jardim.

O senhor permaneceu no sítio cultivando a lavoura de fumo por quanto tempo?

Após regressar da minha experiência na oficina mecânica, permaneci por seis anos na plantação de fumo. Com o dinheiro que economizei adquiri um alqueire de terra do meu tio Orlando Furlan. Fica onde hoje é a Paulicéia, no local em que existe a Rua Chavantes, Rua Nossa Senhora Aparecida, até a atual Avenida 31 de Março, era tudo ocupado por eucalipto. Loteei três alqueires ali. Comprei o primeiro alqueire nessa região, meu tio Antenor, com quem trabalhava na lavoura de fumo, comprou outro alqueire. Adquiri mais uma área de terras com eucalipto plantado, já no terceiro ou quarto corte. Vendi 153 lotes de terrenos, isso em 1948. Pedro Bragion e Pedro (Peu) Clemente lotearam uma extensa área nas imediações.

Quando o senhor iniciou sua atividade na Casa Dom Bosco?

Em 1951 entrei como sócio do Rubens Broglio, que sempre foi muito meu amigo, ele já tinha a loja, ficava na esquina da D.Pedro II com a Rua Governador Pedro de Toledo, o prédio era de propriedade de Dona Thaaji. Éramos sócios em partes iguais. Já se chamava Casa Dom Bosco, nome que permanece até hoje. No inicio comercializávamos tecidos e retalhos, com o tempo passamos a comercializar maquinas de costura, vendemos muitas máquinas Vigorelli, Leonam, meu irmão Nelson ficou um mês na fabrica Leonam, para adquirir conhecimentos técnicos sobre as maquinas produzidas por ela. As máquinas vinham desmontadas, nós as montávamos aqui. As moças que casavam iam adquirir maquinas conosco. Quem vendia máquinas em Piracicaba éramos nós e o Cardoso. Entrei na loja em 1951 e sai em 1983. Expandimos, adquirimos imóveis vizinho, chegamos a ter mais de quarenta funcionários. Trabalhávamos com armarinhos em geral, linhas, agulhas, Melhoral, Sonrisal, brim aço, pano de roça, tecido xadrez, Casimira Aurora, Brim Ave Maria, Cretone Lapa artigo da Simão Rossi, cada peça tinha em média 25 metros de comprimento por 2 metros e 20 centímetros de largura, muito utilizado para fazer lençóis, linho irlandês, acetinado. Cheguei a fornecer para mais de trinta frangueiros, eles iam para o sitio de carrinho, vendiam produtos que traziam do sitio no mercado e se abasteciam conosco, alguns dos nomes que me lembro agora são o de Durvalino Brancalion, Benedito (Dito) Franzol, Francisco Franzol, Arlindo Petian de Rio das Pedras, Miguel Lopes, tinha três irmãos do Bairro do Peruca, de Rio das Pedras, Capivari, Saltinho, Charqueada, fornecia para a região inteira, éramos nós, os Irmãos Muniz situados na Rua do Rosário, a Casas Pernambucanas.

O senhor vendia a credito?

Nos últimos anos tínhamos crediário próprio, mas antes anotávamos as compras de alguns clientes em um caderno.

Na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua D.Pedro II, onde hoje há uma farmácia funcionava o que anteriormente?
Ali era o Hotel dos Viajantes, era um prédio comprido, com uns janelões. Quando era menino vinha com meu avô até o hotel o proprietário era Sr. Mario, depois ele vendeu aqui e colocou um hotel em frente à Estação da Luz, em São Paulo, cheguei a almoçar lá quando viajei com meu avô.
O senhor gosta de futebol?

No sítio eu jogava de half esquerdo, se a bola passasse o jogador não passava. Na quarta feira eu já tinha o ingresso no bolso para assistir as partidas do XV de Novembro realizadas no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, mais conhecido como “Panela de Pressão”. Eu era sócio do XV. Tinha cada jogo bonito com De Sordi, Gatão Rabeca.

Na Paulista havia diversas canchas de boche?

Fui por muito tempo jogador de boche. Tinha o boche do João Canale, do Costa, tinha um no primeiro quarteirão da Rua da Boa Morte, próximo a Estação da Paulista. , José (Juquinha) Dionísio que trabalhava com o Vitório Fornazier, e foi meu companheiro de boche, ele o Lovadini da Companhia Paulista, o Alcides Fornazier com o Pachani, o Helio Saipp com o João Franceto, o Tio Zé Novello jogava também. Naquele tempo as boplas eram de madeira, algumas bolas não eram da mesma madeira, dava diferença de até 150 gramas no seu peso. Cada bola de madeira de boche pesava 1,250 quilos. Algumas de madeira com cerne branco chegavam a pesar 1,100quilos. As bolas se diferenciavam uma da outra porque uma era lisa e outra riscada. Nos jogos de campeonato tinha que abrir uma caixa de bolas novas para jogar. O Biche-Biche foi uma lenda do boche em Piracicaba. Eu não o conheci, ele já tinha morrido quando comecei a jogar boche.

O senhor participou do Cesac?


Participei junto com João Sabino, Antonio Scanavacca, Ciro Mendes Silveira e outros. O Neco Cardoso e a sua equipe eram os pedreiros responsáveis pela construção da Igreja São José. Para cobrir a igreja foram utilizadas telhas francesas, eu, Antonio Scanavacca, Juquinha, participamos dessas ocasiões, era amarrada uma telha em uma corda, e quem quisesse colaborar dava uma oferta em dinheiro, sendo a telha levantada em seu nome.



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