domingo, outubro 24, 2010

OLGA IZABEL MARINS MARCHIORI

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 23 de outubro de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: OLGA IZABEL MARINS MARCHIORI
O Instituto Butantan há muito é uma referência mundial pelo seu trabalho. A jovem piracicabana Olga Isabel Marins, como muitos turistas o fazem, foi visitá-lo pela beleza do local e pela importância do trabalho ali realizado, envolvendo milhares de espécies de répteis e animais peçonhentos. O que ela nunca imaginou era encontrar e cumprimentar naquele local uma visita ilustre: Clark Gable! O mito do cinema Clark Gable nasceu em 1901 e faleceu em 1960. Chamado no auge da sua careira de "Rei de Hollywood", foi nomeado pelo Instituto Americano do Cinema a sétima maior estrela masculina do cinema de todos os tempos. Atuou em 67 filmes, entre eles "… E o Vento Levou" de 1939 Olga Isabel Marins Marchiori nasceu em Piracicaba 10 de novembro de 1912, é filha de Jerônimo Marins e Luiza Zanotti Marins. Seu pai nasceu na Italia e sua mãe na Austria. Muito bem informada de tudo que acontece, lê diariamente três jornais: A Tribuna Piracicabana, A Gazeta de Piracicaba e o Jornal de Piracicaba. Recentemente deixou de ler outros jornais que circulam em escala nacional Seus avós vieram da Europa como imigrantes e foram morar no Bairro do Recanto, mais tarde chamado de Monte Alegre. Ainda menina ela sempre avistava o escritor Thales Castanho de Andrade. Integrante das instituições Clube da Lady e Escola de Mães desde a fundação das mesmas. Casou-se com Luiz Marchiori, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do transporte coletivo em Piracicaba.

A senhora nasceu em que bairro de Piracicaba?

Nasci na Rua XV de Novembro, proximo á Escola Normal, mais tarde denominado Instituto de Educação Su Mennucci. Éramos em cinco irmãs e dois irmãos. Fiz o curso primário no Grupo Moraes Barros, via constantemente Thales Castanho de Andrade nas imediações da escola. O livro que mais tenho lembrança é o Saudade de autoria de Thales.Como eu gostava daquele livro!

Aprender a costurar era uma das atividades que as moças aprendiam na época?

Aprendi a cortar e costurar fazia roupas para uso da nossa própria família. Usavam-se vestidos bem enfeitados, com babadinhos, rendas, as “casinhas de abelhas”. Aprendi a bordar na Singer, que ficava embaixo da Escola Cristóvão Colombo, a fazer rococó, ponto cheio, ponto aberto, ponto russo. Sempre tive facilidade de bordar, gostava muito de pintar em tecidos, guardo comigo até hoje muitos pincéis que utilizei, para trabalhos feitos em benefício do Clube da Lady e da Escola de Mães. Esses dias me dei conta que já há 70 anos participo da Escola de Mães, assim como participo do Clube da Lady desde a sua fundação.

Ainda solteira a senhora participava das atividades da igreja?

Quando eu era moça não perdia uma missa, cheguei a ser Filha de Maria na Igreja Bom Jesus, usávamos a roupa branca com uma faixa azul. O religioso responsável pela igreja era Monsenhor Martinho Salgot. Freqüentávamos os cines Iris, que mais tarde veio a chamar-se Broadway, e o Politeama que ficava na Praça José Bonifácio. Íamos à matinê, lá pelas 2 horas da tarde, naquele tempo ás 9 horas da noite tínhamos que estar em casa.

Lembra-se de algum artista da época?

Aos 18 anos de idade fui á São Paulo, até a casa da minha irmã Uma amiga mais velha do que eu, a Lídia Marreto, não perdia um filme sequer que tivesse a participação de Clark Gable, juntas fomos até o Instituto Butantan, estávamos olhando as cobras, que permaneciam em suas instalações, quando de repente parou um automóvel, e saiu de dentro um moço, a minha amiga começou a gritar: “- Clark! Clark!”. Pensei: “– Puxa vida! Será que esse grande artista veio até o Brasil, e ainda no Butantan?”. Ele desceu do carro, e provavelmente ao ver o entusiasmo da minha amiga veio cumprimentá-la, assim como também me cumprimentou, permanecendo conosco por 2 ou 3 minutos, falando em inglês e acompanhado de um intérprete. Fiquei admirada do que estava acontecendo. Outras pessoas que estavam passeando pelo Butantan tiveram a sua atenção despertada pelo visitante ilustre e pelo entusiasmo da Lídia. No dia seguinte eu estava no bonde tipo “camarão”, quando um senhor ao meu lado abriu um jornal onde estava estampada a manchete: “Clark em São Paulo!” Ele pessoalmente era exatamente como parecia nos filmes.

Com que idade a senhora casou-se?

Casei-me na Igreja Bom Jesus, com Luiz Marchiori aos 25 anos, conheci o meu marido quando quadrávamos o jardim! Namoramos por três anos. Ele trabalhava na empresa de ônibus da sua família, naquela época, em Piracicaba, não havia rodoviária, os ônibus intermunicipais paravam em frente onde hoje há um supermercado, atrás da catedral.

Onde a senhora foi morar após casar-se?

Em uma casa situada á Rua Cristiano Cleophat, 449. Meu marido e seus irmãos eram sócios na empresa de ônibus. Mais tarde, com a ampliação dos números de linhas, houve uma segmentação de cada filho com participações diferentes nas diversas linhas.

A senhora e seu marido realizaram alguma viagem de lua de mel?

Não, foi tudo muito simples, não dava para deixar um dia sequer sem operar a linha de ônibus. Tivemos quatro filhos: Gregório, Fábio, Gilberto e Estela. Fiz questão que todos tivessem formação universitária.

A senhora viajava de ônibus com o seu marido?

Quando era noiva, eu e a minha amiga Helena Dutra, filha do Arquimedes Dutra, íamos e voltávamos de ônibus até Rio Claro, com o meu noivo, Luiz, dirigindo. Ele usava um guarda pó porque ficava tudo vermelho de terra, até o cabelo.


Jardineira da linha Piracicaba Rio Claro da família Marchiori
Quem fundou a empresa Marchiori?
Foi o meu sogro, Gregório Marchiori. No início ele adquiria no Krahembull as charretes de tração animal, com as quais fazia a linha Piracicaba a Rio Claro. De Piracicaba á Rio Claro a distância era percorrida em 4 horas. Quando chovia, por uns 15 dias não havia viagem. Com o tempo foi adquirida a famosa jardineira.

No período da Segunda Guerra havia falta de peças de reposição para os ônibus?
O Luiz, meu marido, ia de trem até São Paulo, carregava peças pesadas, uma dificuldade enorme para que os ônibus não deixassem de circular. Era difícil fazer a manutenção dos veículos. A estrada era de terra, muitas vezes ele chegava a nossa casa coberto de terra vermelha, em tempo de chuva vinha com lama. Ele acordava bem cedo, trabalhava dirigindo o ônibus e á noite ainda ajudava o mecânico na manutenção do veiculo. Um fato interessante é que desde quando nos casamos ele sempre fez o café. Eram realizadas três viagens até Rio Claro, uma as 7 horas da manhã, outra as 12 horas e a terceira ás 4 horas da tarde.

O ônibus era diesel?

Era a gasolina, no tempo da Segunda Guerra a gasolina vinha em barris de metal, importada dos Estados Unidos.

Nessa época de onde saiam os ônibus com destino a Rio Claro?

O ponto de partida era em frente ao Hotel Jardineira, localizado na Rua Benjamin Constant, esquina com a Rua XV de Novembro. Depois passou a funcionar no Largo São Benedito, na ocasião havia só a Igreja São Benedito e a casa que pertenceu ao Barão de Serra Negra, mais tarde Prefeitura Municipal, prédio que foi demolido para dar lugar ao estacionamento existente na Rua Alferes José Caetano esquina com Rua São José. Na esquina onde hoje há a Câmara Municipal havia o Bar do Banhara, exatamente atrás da Igreja São Benedito era a Câmara Municipal, na esquina, havia a residência do Santo Bueloni, uma bela casa, com uma fonte de água no jardim da frente. Entre a casa do Bueloni e a Câmara Municipal situava-se a garagem dos veículos da prefeitura. Em 1965 o Luiz adquiriu uma casa em frente a Igreja São Benedito com o intuito de fazer uma agência de venda das passagens de ônibus á Rio Claro. Do largo São Benedito partia ônibus para os mais diversos locais, menos os que iam para a cidade de Americana, que saiam da agencia da AVA, localizada na Rua Prudente de Moraes, em terreno hoje ocupado pelo Edifício Canadá. Onde hoje existe uma galeria, ao lado da catedral era a agencia da Viação Piracicabana. Na esquina onde está instalada a Uniodonto foi a casa de um fazendeiro de sobrenome Pretel. Lembro-me de uma loja de doces, Éden, até hoje não encontrei doces iguais aos que eram fornecidos ali, ficava na Rua Prudente de Moraes na esquina com a Rua Santo Antonio, onde mais tarde foi construído o prédio ocupado pela Nossa Caixa Nosso Banco. Na esquina da Rua Voluntários de Piracicaba com a Rua do Rosário, morava o Bento Chulé, tinha o melhor doce puxa-puxa da cidade, vinha embalado em uma palha de milho, isso por volta de 1945. Lembro-me do Pedro Rico, que morava em uma casa situada á Rua Voluntários de Piracicaba, próximo á Rua Governador Pedro de Toledo, ele era dono da área de terras que mais tarde foi loteada e transformou-se na Cidade Jardim.

O que era o “Expressinho”?

Era um veículo, uma Kombi, por exemplo, que fazia a viagem de Piracicaba á Rio Claro na metade do tempo, a passagem tinha que ser reservada com antecedência.

A senhora participou ativamente da vida social de Piracicaba?

Desde a fundação do Clube da Lady, da Escola de Mães, eu participo de ambas as entidades assistenciais. Freqüentava o Clube Coronel Barbosa, o Clube de Campo de Piracicaba. Todos os finais de tarde o Luiz pegavas as nossas crianças, que já estavam arrumadinhas, prontinhas, e saia com elas para passear pela cidade, ia até o Passarela, lá havia balas de bergamota, que nunca mais vi, eram deliciosas. Ele teve entre outros carros um Hudson 49, cor de cobre, que foi um carro muito admirado em Piracicaba. Em 1951 ele comprou um automóvel da marca Kaiser. Até 1965 tivemos uma empresa de construção de carrocerias de ônibus. Dirigi por muito tempo o Kaiser, mais tarde dirigi uma Kombi, e depois tive um Fusca.

Como surgiu a sigla da Viação Marchiori?

A empresa que fazia a linha de Piracicaba á Rio Claro chamava-se Irmãos Marchiori, a empresa que tinha a linha urbana de Piracicaba, de São Pedro e Torrinha era a Luiz Marchiori e Cia. Ninguém usava nome abreviado, até que o Luiz resolveu colocar AVM, Auto Viação Marchiori.

A senhora assistiu a festa do Quarto Centenário de São Paulo?

O Luiz estava recém operado, quando fomos para São Paulo, até o Parque Ibirapuera, para assistir os festejos dos quatrocentos anos da cidade. Foi a coisa mais linda, havia uma exposição maravilhosa, da França veio o Museu de Cera Madame Tussaud, de um realismo impressionante nos mínimos detalhes. Algo Admirável foi assistir ao cinerama. (processo cinematográfico que trabalha com imagens projetadas simultaneamente por três projetores sincronizados para uma tela de proporções gigantescas e extremamente curva, com um arco de 146°). Em Piracicaba, que me lembre, foi feita uma única apresentação. Ao ser projetada a figura de um avião, dava-se a impressão de estar voando.

A senhora gostava de ver desfiles de carnaval?

Ah! Como era lindo! Chegamos a fazer até o corso de carro! Isso em 1948, 1950. Era tudo muito enfeitado, fantasias maravilhosas, ficavamos literalmente enterrados no confete que se espalhava pela calçada. No corso cada um enfeitava da melhor forma possível o seu carro.

Qual é a receita para viver bem e por longos anos?

Estou sempre de bom humor, leio diariamente os três jornais da cidade. Gosto muito de ler . Interesso-me por saber tudo que está ocorrendo nos dias de hoje.

A senhora vê as novelas da televisão?

Eu gosto! É uma distração ver uma novelinha! Vejo também o noticiario. Ainda mocinha, uns 15 ou 16 anos, fui ao campo “Roberto Gomes Pedrosa” para assistir aos jogos do XV de Novembro. Acompanhei a minha amiga Joana, irmã do lendário jogador Rabeca. Conheci o Capitão Carlos Wingeter, figura de proa do XV de Novembro. Minha primeira professora foi Dona Wanda, irmã do Dr. Lula. Ainda menina eu fui escoteira, com uniforme cáqui, e lenço vermelho no pescoço. Como escoteira participei da inauguração da Estação da Paulista, muitos escolares estavam presentes quando da chegada do trem pela primeira vez em Piracicaba. Lembro-me da colocação da pedra fundamental da construção da Igreja Bom Jesus.

Como foi a reação da senhora como dona de casa, com relação à mudança da compra em armazém para a compra no primeiro supermercado de Piracicaba, os Supermercados Brasil?

Puxa vida! Eu era amicíssima da Bete, filha do Lélio Ferrari, proprietário dos Supermercados Brasil. Tinha muitos produtos importados, dava gosto fazer compra lá.

Foi cliente da famosa loja “A Porta Larga”?

Fui a vida inteira! Desde quando ela era na outra esquina. Era uma loja com piso de tábuas largas, que rangiam quando andávamos pelo assoalho, em um prédio de portas antigas, íamos comprar de tudo lá, desde linha, tecidos. Depois que eles compraram o prédio da Loja do Sol, da família Azevedo, que se situava no local onde a Porta Larga construiu um prédio enorme e permaneceu por muitos anos.












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