sábado, janeiro 22, 2011

GEORGINA MARIA ANTONIA PIRES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 22 de janeiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: GEORGINA MARIA ANTONIA PIRES
No Brasil há um século documentos pessoais era quase um requinte a que muitos não se davam ao luxo Em eventos, como casamentos e óbitos, quem fazia os registros era a Igreja Católica, embora em 1875, tivessem sido criados os primeiros cartórios, e em 1888 o registro de nascimentos, casamentos e mortes deveria ser feito obrigatoriamente por órgãos do Estado. Georgina Maria Antonia Pires conforme a sua data de nascimento de 12 de maio de 1911, que consta em seu título eleitoral, estará completando 100 anos de vida. Pelos registros verbais ela nasceu dois anos antes, em 1909, isso implica que ela está com 102 anos de idade pelos relatos orais. Esse diferencial de dois anos é irrelevante em uma vida tão profícua. Nascida em Piracicaba, na tradicional Rua do Porto, é filha do casal Antonio Salvador e Maria Antonia Pires que tiveram doze filhos. Quando tinha seis anos de idade a sua família mudou-se para a vizinha cidade de Rio das Pedras. O que desperta muito a atenção do interlocutor de Da. Georgina é a sua vivacidade, sua alegria de viver, excelente estado físico e mental. Do alto da sua centenária experiência de vida sabe selecionar com extremo bom senso que tipo de informação quer receber da mídia televisiva. Dispensa programações que acha sensacionalista, assim como as apelativas ou indutoras de maus costumes. Incentivada pelas filhas, netas, bisnetas, deixa-se levar pela pintura das suas unhas com desenhos decorativos, tão em moda atualmente. Recentemente ela teve a oportunidade de conhecer o mar pela primeira vez, gostou tanto que já voltou e pensa em futuras viagens. Buscou um terreno mais firme na praia, e sentou-se, tendo o mar aos seus pés. Ela que foi mãe, na roça cortando cana, criou muitos filhos. Dona Georgina, centenária, tem em seu sorriso o verdadeiro retrato da alma brasileira. Simples, de grande sabedoria, dona de fé inabalável na vida e na existência de Deus. A quem o trabalho e a atividade de mãe de família nunca impediram que externasse sua alegria de alma cabocla, nos dias consagrados a festas, onde as músicas, e as danças estiveram presentes com pureza de sentimentos.
A senhora freqüentou escola em Rio das Pedras?
Estudei até o quarto ano primário, tive como professoras no primeiro ano a Dona Maria Augusta, esposa do Seu Neves, no segundo ano foi Dona Olga, no terceiro ano tive aulas com Dona Ladir, Dona Francisca foi a minha professora no quarto ano. Após concluir o primário permaneci ajudando a minha mãe nos serviços domésticos.
Como era a cidade de Rio das Pedras naquela época?
Era um sítio! As ruas não eram calçadas, o trem era muito usado como transporte para Piracicaba, havia o trem de carga, havia também o “lastro” que transportava lenha.
Como era a alimentação cotidiana?
Arroz, feijão, pão feito em casa, não havia padaria, comia-se lingüiça, torresmo.
Havia bailes nessa época?
Existia sim, eu gostava muito de dançar, tocava-se mazurca, valsa, os bailes varavam a noite, eram brincadeiras sadias e de respeito.
Como a senhora conheceu o seu marido?
Conheci Otávio Carvalho quando ainda éramos crianças, ele ia á escola com suas primas. Quando eu tinha dezesseis anos, após três meses de namoro no dia 2 de julho de 1927 casamos na Igreja Matriz de Rio das Pedras. O escrivão foi José Leite Negreiros que trabalhava com o Sr. Osório Martins. Passamos a morar na barreira do Horacio Limonge, depois moramos no Zeca Leite, no Nicolau Marino. Sempre moramos nessas imediações.
Quantos filhos a senhora teve?
Sou mãe de nove filhos, tenho 36 netos vivos, 56 bisnetos e 7 tataranetos.
A senhora sabe o nome de todos?
De um “terno” (uma parte) eu sei, de outro não sei.
Qual era o trabalho que o seu marido fazia?
Trabalhava com enxada, com burros, cortava e plantava cana. Eu o ajudava a trabalhar na roça, além de fazer o serviço de casa. Eu cortava e amarrava duzentos a duzentos e cinqüenta feixes de cana por dia. Levava as crianças na roça, não havia creche para deixar. Com meu filho tracei (serrei) madeira nas terras do Inácio Leite, era cabriúva, guarantã, peroba, cedro, todas madeira de lei.
Qual é a sua religião?
Bastante católica, tenho muita fé em Deus, rezo também para diversos santos como Santo Antonio, Santa Luzia. Toda quartas-feiras eu comungo.
A senhora sempre gostou de festas?
Sempre fui muito festeira, gostava de ir a missa, freqüentar as festas da igreja. Deus nunca me deixou passar por tristeza, Ele quer alegria. Eu com a idade que tenho, como bem. Durmo bem. Passeio. Na semana passada voltei de um passeio que fiz em Itanhaém.
Quem a acompanhou até lá?
Fui com a minha filha e com a minha neta que tem uma casa lá.
Já conhecia o mar?
Fui conhecer agora, achei muito bonito. Entrei nas águas do mar, é muito salgada.
Como a senhora compara os dias atuais com os de antigamente?
Para trabalhar a pessoa tem que estar preparada, tem que estudar. Antigamente mesmo sem estudar a pessoa trabalhava e conseguia ter um salário que o sustentava. Hoje quem não estuda não tem como trabalhar.
A senhora assiste televisão?
Gosto de assistir a missa. Não assisto novela, não me simpatizo com as que são apresentadas atualmente. Gostava de ver “Meu Pé de Laranja Lima”. As notícias do tele jornal eu assisto, são noticias feias! Parece que o mundo vai acabar em água!
A vida para a dona de casa está mais fácil atualmente?
Para a mulher que sabe trabalhar há mais facilidades. Algumas parecem que não estão nunca satisfeitas com o que tem.
Como é a sua saúde?
Ontem eu pesei a minha pressão, estou com 12 por 8. Não tenho diabetes.
E a sua alimentação como é?
Como de tudo, arroz, feijão polenta. Só não como veneno porque mata!
Ao chegar a algum determinado lugar, quem a vê imagina que tenha menos idade?
É comum acharem que sou mais nova. Quando descobrem a minha idade forma-se uma roda em minha volta. Gostam de conversar. Adoram-me!
Nos tempos da sua juventude, como era tratada uma dor de dente?
Colocava-se algum remedinho para passar a dor. Se por acaso a dor não passasse tinha que ir ao dentista extrair o dente. Em Rio das Pedras tinha o Serapião que fazia esse trabalho.
Alguma vez a senhora foi ao cinema?
Fui uma vez, no cinema que havia na Rua Prudente de Moraes, em Rio das Pedras, no prédio onde hoje funciona o fórum local. O filme era sobre a vida da dupla Tonico e Tinoco. Eu gostava muito de ir aos circos que vinham à cidade.
Não havia geladeira, como era conservada a carne?
O toucinho nós dependurávamos em uma espécie de varal, carnes conservávamos submersa em uma vasilha com banha de porco. Fazíamos lingüiça em casa, era bem temperada.
Como eram os colchões utilizados pela família?
Eram feitos com palha de milho, rasgava a palha, cortava com o podão e preenchia. O travesseiro era feito de macela.
Atualmente as pessoas parecem muito agitadas, era assim há alguns anos?
Não era assim! Hoje o povo se afastou de Deus, deu oportunidade para acontecer os roubos, violência, uso de drogas.
A senhora é vaidosa?
Não sou! (Ela diz sorrindo!). Quando tenho uma roupa boa gosto de usar. Eu fazia roupa para todos os filhos, usava-se o tecido de riscado, ou pano bravo mesmo, chamado de “ranca-toco” (arranca toco). Sacos de açúcar eram tingidos e usados para confeccionar as roupas. Éramos muito pobres. Andava-se descalço. Colocava-se paletó e sem sapato, era comum isso, alguns usavam paletó, colete e descalço. Naquele tempo tinha que ir ao sapateiro, tirar as medidas dos pés e encomendar o sapato. Não era comum encontrar calçados prontos para serem adquiridos e usados. Para ir a roça ia descalço, machucava os pés com espinhos.
Lembra-se dos campeonatos de corte de cana?
Meu filho, já falecido, foi campeão de corte de cana, ele chegou a ponto de cortar mil feixes de cana em um dia de trabalho. Cortava e amarrava os feixes. O Américo Guião está vivo até hoje, pode confirmar o fato.
A senhora trabalhou em lavoura de café?
Carpi café, apanhei , plantei e cobri café. Para cobrir o café eram colocados uns pauzinhos sobre a muda nova, formando uma casinha, dando sombra á mudinha. Trabalhei com café na Fazenda Nova Java. Morávamos na cidade, na zona urbana, mas tinha que ir trabalhar nos sítios da região, íamos a pé.
A senhora ajudou a construir alguma casa de taipa?
Ajudei a fazer, fincava-se a madeira no chão, trançava as taquaras, ficava uma pessoa pelo lado interno e outra pelo lado externo das paredes, jogava-se o barro de forma alternada, com isso construíam-se as paredes. Muitos adicionavam estrume ao barro. Para cobrir a casa usava-se o sapé.
Como era o banheiro?
Não existia, usavam-se as imediações da casa como banheiro, ao ar livre. O banho era tomado em bacias, a água aquecida era despejada sobre a bacia. A cada um que se banhava sucedia outra pessoa, o ultimo a banhar-se às vezes já estava cochilando, cansado e com sono. Era comum muitas vezes a pessoa lavar apenas os pés antes de dormir, o banho ficava para o dia seguinte.
Qual é a sua impressão sobre a cidade de São Paulo?
Para mim não tem nada igual a minha terrinha aqui em Rio das Pedras!
Em suas recentes viagens á praia, a senhora andou de barco?
Andei, no meio do passeio comecei a ficar com medo, se caísse na água afundaria como um martelo!
Em sua opinião, após aposentar-se a pessoa deve se recolher em seu canto ou deve passear, divertir-se?
Deve divertir-se, viver. Quando tenho vontade de sair eu saio. Há pessoas muito mais novas do que eu e que não estão com disposição igual a minha. Deus me deu essa condição eu toco para frente até quando Ele quiser.
Ao deitar-se, pela sua cabeça passa uma espécie de filme recordando o passado?
Passa sim.
O que a senhora imagina que possa existir após a morte?
Quem morre se acaba. Ninguém veio contar o que existe após a morte. Assim como Jesus Cristo morreu e ressuscitou, nós também deveremos morrer e ressuscitarmos.
Há a necessidade de se ter muito dinheiro para ser feliz?
Não, basta ter saúde! O dinheiro não trás a felicidade é importante ter dinheiro, pois sem ele não se vive.
Havia caça nas proximidades da sua casa em Rio das Pedras?
Próximo onde hoje estão localizadas as casas da Conferência São Vicente de Paula, existiam coelhos lebres, tatu, lagarto.
                      Residência de Dona Georgina na Vila Vicentina, da Conferência São Vicente de Paula de Rio das Pedras
O que a senhora mais deseja atualmente?
Desejo que Deus dê saúde para nós todos, que todos estejam sempre alegres.
A senhora ouve rádio?
Ganhei um do Dr. Antonio Costa Galvão, que assim como Oscar Waldemar Gramani sempre foram amigos da nossa família. Ambos foram prefeitos de Rio das Pedras.
A seu ver o tratamento entre as pessoas mudou?
Antigamente havia mais respeito, as roupas eram mais recatadas.
Se alguém lhe oferecer uma passagem de avião a senhora viaja pela primeira vez?
Tenho receio, mas se aparecer uma passagem eu vôo! Imagine se eu tiver medo de tudo! Não se pode ter medo!
A senhora tem medo da morte?
Não tenho! Todos nós temos que passar por ela, na hora em que ela chegar eu estou pronta. Com a idade que atingi já cumpri a vontade de Deus, mas se for da sua vontade que eu passe mais um pouco aqui neste mundo eu fico!
A senhora teve um filho que faleceu aos sessenta anos, como é a dor de perder um filho?
Essa dor nunca acaba! Estou contente porque ele está com Deus, a quem ele pertencia.
Existem pessoas que são muito caladas, o fato de não se comunicarem facilmente as prejudica?
Sendo uma atitude existente por habito e não por revolta, temos que respeitar sua postura em não ser tagarela.
Qual é a sua opinião sobre a doença depressão?
(Após um longo silencio, Dona Georgina responde). Acho que um bom serviço resolve! Deixar a depressão de lado e tocar a vida para frente é o melhor remédio.





CESAC: CENTRO SOCIAL DE ASSISTÊNCIA E CULTURA PARÓQUIA SÃO JOSÉ

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 15 de janeiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
Regiane, Joelma, Mel, Cidinha e Sueli
ENTREVISTA: CESAC: CENTRO SOCIAL DE ASSISTÊNCIA E CULTURA PARÓQUIA SÃO JOSÉ
O CESAC é uma entidade assistencial constituída em 29 de maio de 1967, são 43 anos de serviços prestados promovendo ações que possam melhorar a qualidade de vida da população da nossa cidade. O seu relacionamento com seus diversos públicos: beneficiários, colaboradores, voluntários, setor público e privado, comunidade, é pautado por valores éticos, profissionalismo e uma extensa relação de excelentes resultados. Situa-se na Avenida Marquês de Monte Alegre, 777, telefone 34342020. Aparecida Lizanêa de Lima Albino é assistente social do CESAC e da Creche Maria Maschietto Juliani, com seu auxílio é possível conhecer um pouco melhor essa instituição que poderá ser desconhecida por alguns, mas cuja atuação fez uma grande diferença na vida de muitos.
Quem é o atual presidente do CESAC ?
Luis Antonio Penteado é o atual presidente, função que iniciou em 5 de setembro de 2009 e cujo mandato termina em 4 de setembro de 2011. O Padre Marcelo Salles, pároco da Paróquia São José é diretor nato, conforme dispõe o estatuto.
Que trabalhos o CESAC realiza?
Seu inicio foi com uma obra social, encabeçada pelo Monsenhor Luiz Gonzaga Juliani,
três anos após a sua vinda á paróquia, vendo que havia muita pobreza na comunidade, o Bispo D. Aniger tinha uma visão voltada para o social, convidou o Monsenhor para realizar uma obra voltada ao social, com isso criou-se o CESAC. O inicio foi com o próprio Monsenhor Luiz dando as aulas de datilografia. A Vila Cristina era conhecida como Risca Faca, foi nessa comunidade carente que ele iniciou o trabalho com famílias, o curso de corte e costura foi um dos primeiros a ser implantados e que existe até hoje. A informática substituiu a datilografia. Desenvolvimento de habilidades que inclui curso de cabeleireiro, manicure, artesanato, corte e costura, panificação, padaria artesanal, é um projeto que engloba todos esses cursos, eles acontecem não só no CESAC, mas em diversas periferias da cidade, em todos os CRAS Centro de Referência da Assistência Social. Há o CRAS do bairro Mario Dedini, do Jardim São Paulo, do Piracicamirim, da Vila Sonia, ao todo são sete CRAS. Há outros projetos como Apoio e Orientação a Gestantes, Programa do Trabalhador Aprendiz, Construído Laços. Em conjunto com a prefeitura o projeto Pró-Família atendeu em 2009 a 4.697 famílias. O CESAC depende da sua parceria com a prefeitura para manter seus profissionais. O Programa Nacional de Assistência Social exige que o quadro seja constituído por profissionais. Essas verbas passadas pela União, Estado e Município com a finalidade de assistência social nos CRAS são administradas pelo CESAC. No critério adotado o gestor é o responsável, quem executa é o governo, a sociedade civil, que inclui entidades como a nossa, fazem as parcerias.
Como funciona o projeto Pró-Família?
Em cada CRAS existe uma equipe de assistente social e psicóloga que realiza o trabalho sócio-educativo, envolve as famílias integrantes do programa de transferência de renda, como a Renda Cidadã e a Bolsa Família, são famílias que estão em vulnerabilidade social. O CESAC tem os projetos em parceria com a prefeitura através da Secretaria de Desenvolvimento Social, mas ele também é que faz a gestão dos projetos realizados nos CRAS. As contratações de recursos humanos para administrarem esses projetos em outros CRAS são feitas pelo CESAC.
A Creche Maria Maschiett Juliani atende a quantas crianças?
Em 2010 foram 137 crianças de 2 a 5 anos, matriculadas.
Em Piracicaba quantas famílias estão cadastradas para receberem a Bolsa Família ou Renda Cidadã?
Cadastradas existem em torno de 15 mil famílias, tanto para o programa Bolsa Família que é um programa do Governo Federal, a Renda Cidadã é uma iniciativa do Governo do Estado, são similares, em alguns casos as famílias pode se beneficiar dos dois.
Há opiniões de que ao receber um desses auxílios ocorre certa acomodação por parte do beneficiado, isso ocorre?
Pode acontecer só que o objetivo do projeto é realizar a emancipação dessas famílias, e isso tem de fato acontecido. O exercício da Assistência Social porta várias outras éreas como a saúde, habitação, educação. Há um relatório anual feito pela prefeitura onde são relatadas as ocorrências com esses projetos, inclusive informando o número de famílias desligadas do projeto. Para uma família receber esses benefícios ela passa por três crivos: da saúde, educação e assistência social. As crianças dessas famílias têm que ser levadas para serem vacinadas regularmente, é verificada a freqüência dessas crianças á escola, na falta de cumprimento de algum critério a família é desligada. O cadastro único é de alcance nacional, a prefeitura faz através das assistentes sociais visitas e monitoramento, essas informações são enviadas a Brasília no caso da Bolsa Família, nesse caso é o governo federal que aprova o cadastro.
Qual é a posição que Piracicaba ocupa no cenário nacional?
Piracicaba não é considerada uma cidade pobre. Às vezes temos dificuldades em receber recurso federal ou estadual pelo fato da cidade ser considerada rica, desenvolvida.
Temos bolsões de pobreza?
Exatamente.
Como está a situação no território em que o CESAC atua diretamente?
Atualmente o meu trabalho envolve mais a parte administrativa. Quando atendo no CESAC ás pessoas que nos procuram em busca de cesta básica, vaga na creche, ou outras opções procura orientá-las. Ao chegarem aqui identifico á que território elas pertencem em função do seu domicilio, encaminho ao CRAS correspondente. A porta de acesso ao atendimento do serviço social é o CRAS.
Quantas pessoas trabalham no CESAC?
Em 2009 o total assalariados eram 73 pessoas. Voluntários permanentes eram 40 e voluntários eventuais 200, estes incluem os que trabalharam na barraca da Festa das Nações.
Os diretores recebem alguma remuneração?
São voluntários, não recebem nada pelo seu trabalho.
Quais são os riscos que envolvem as pessoas com vulnerabilidade social presentes na área de atuação administrada pelo CESAC?
O que mais influi é a deficiência de educação. Enquanto essa camada não se conscientizar continuaremos a ter sérios problemas sociais. Muitos procuram emprego para uma função á qual eles não estão classificados.
Há diretriz orientada aos professores da rede estadual de ensino para evitar reprovações de alunos, em sua opinião, isso é bom?
Considero isso ruim. A falta de educação é uma realidade nacional. O Plano Nacional de Educação está passando por mudanças.
O que falta para evoluir a educação?
Falta conscientização da sua importância no desenvolvimento individual e coletivo.
Os problemas que acometem aqueles que procuram assistência social são de difíceis soluções?
As pessoas nos procuram com um objetivo, ou é conseguir uma vaga na creche ou ganhar uma cesta básica. Conversando com a pessoa descobrimos o subjetivo, o que está atrás da sua procura, não é exatamente aquilo que ela fala inicialmente que quer. Muitas vezes com esses argumentos nos procuram, mas na verdade elas querem é serem ouvidas! Procuram atenção e acolhimento. Quando elas saem daqui não levam cesta básica, ao nos deixar saem orientadas. Ao recebermos alguém que nos foi encaminhado fazemos um levantamento da sua família, realizamos o diagnóstico socioeconômico dessa família. O trabalho técnico é diferente do assistencialismo.
Há atuações de pessoas e entidades que movidas pelas boas intenções promovem ações pontuais de assistência humanitária, qual é sua opinião a respeito?
Na maioria dos casos estão contribuindo para quem recebe o benefício não queira mais deixar de tê-lo. Uma coisa é assistência social que faz parte de uma política pública, onde existe diretrizes para trabalharmos dentro desses parâmetros, outra coisa são atitudes cristãs de amor ao próximo. O assistencialismo impede o crescimento do indivíduo, ele permanece inerte, age apenas como receptor de benefícios. O objetivo da assistência social é conscientizar a pessoa de que ela pode emancipar-se.
Elevar a auto-estima de um indivíduo é um ato de caridade?
Considero que sim.
Há políticos que se valem do assistencialismo para a autopromoção?
Não se pode generalizar, mas existem políticos que usam o assistencialismo para capitalizar votos. Se ele entendesse o que é assistência social ele não faria isso. O nosso trabalho sócio educativo tem como objetivo fazer com que as famílias caminhem pelas suas próprias pernas.
Orientar o indivíduo pode ser tão importante quanto fornecer-lhe algo?
Sem dúvida! Muitas vezes o objetivo da pessoa não é aquele que ela expõe ao nos procurar. O seu objetivo verdadeiro é revelado se tivermos a disposição de ouvi-la. Das dezenas de pessoas que estiveram comigo no ano de 2010, a grande maioria a medida que passei a ouvi-las, descobri que elas procuram de fato algo totalmente diferente daquilo que inicialmente haviam pedido.
É uma característica própria de indivíduos pertencentes a classes menos favorecidas?
Não! Isso abrange a todas as classes sociais.
A dependência química em todas as suas versões, incluindo o álcool, afeta as famílias?
Muito! Bastante! A principal atitude a ser tomada é ter muita paciência e amor. Existem programas por parte do Estado, embora para a classe menos privilegiada seja muito difícil manter uma pessoa em uma clinica especializada. É um aspecto que envolve a área da saúde. Só que a demanda é maior do que a capacidade que a saúde tem em atender, passa a ser um problema administrado pela assistência social! Se há um dependente químico em uma família ela adoece com ele. Quando um membro dessa família nos procura para buscar uma cesta básica pode até existir a necessidade da mesma, mas o fator que o trouxe de fato é o problema que o envolve. É isso que necessitamos entender. Temos que oferecer oportunidade á quem quer evoluir, não adianta orientarmos se a pessoa não quer ter atitudes diferentes, se ela não se conscientizar de que ela quer mudar, não será assistente social que a fará mudar.
Atualmente qual é o foco principal do CESAC?
É a gestão administrativa. Pelos seus estatutos o CESAC privilegia a família, isso se torna um fator importante a favor da nossa instituição. O Programa Nacional da Assistência Social trabalha voltado á família. Quando faço entrevista com alguma família, pergunto se ela tem algum principio religioso, independente de qual seja, percebo que as famílias que professam alguma fé administram melhor os seus problemas. O CESAC hoje está dividido em programas de um projeto: com adolescentes, famílias, gestantes, desenvolvimento com habilidades.
Na creche ao identificar um problema com alguma criança qual é a ação a ser tomada?
No programa Construindo Laços cuidamos da relação das famílias com as crianças da Creche Maria Maschietto Juliani. Às vezes acontece de alguma mãe dizer que não consegue educar seu filho, acha que a creche tem essa obrigação. Ao analisarmos a estrutura e a convivência da família descobrimos que não é a criança que deve ser trabalhada, e sim os pais. Há muitas crianças educadas sem nenhum limite. Filhos de pais separados tornam-se “parafusos”, o pai fala uma coisa à mãe fala outra, é quando temos que chamar a ambos e mostrar a situação.
Quais são as atitudes de uma criança educada sem limites?
Ela é agressiva com as professoras e com outras crianças, se o pai está envolvido com alguma atividade escusa ela diz que pretende ser igual a ele, é seu referencial, considera-o como seu ídolo. Cada caso é um caso em particular. A creche através de seus horários para as diversas atividades ensina a criança a ter disciplina. Geralmente a criança problemática é o reflexo da sua família. Tivemos o caso de um menininho que mordia determinada menina na bochecha. Fizemos um estudo mais detalhado do fato e descobrimos que quando os pais brigavam a mãe mordia o pai na bochecha! A criança via e fazia a mesma coisa.

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