segunda-feira, junho 27, 2011

RICARDO MARTINI E JOÃO AUGUSTO MARTINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 17 de junho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: RICARDO MARTINI E JOÃO AUGUSTO MARTINI
Lembranças além de imagens trazem aromas e sabores. Atualmente as crianças e adolescentes consomem bolachas, principalmente as recheadas, devoram batatas fritas e salgadinhos, especialmente de uma marca líder de mercado. O consumo é alavancado por ações de marketing muito bem elaboradas. As crianças e adolescentes de algumas décadas passadas tinham outros hábitos alimentares, mesmo porque a maioria dos produtos consumidos atualmente não existia na época. O consumo de refrigerante era apenas em datas especiais: aniversários, casamentos, festas de fim de ano e mesmo assim de forma regrada, conforme ditava as normas do bom comportamento. O mesmo acontecia com os doces e salgadinhos. Restava a criança a opção do doce caseiro, obtido a partir das frutas mais abundantes: abóbora, mamão, laranja ou batata. Esses sim eram devorados com avidez, as famílias normalmente numerosas rapidamente consumiam a iguaria. Os folguedos, o trabalho precoce, o desenvolvimento físico, tudo colaborava para que as crianças e adolescentes encontrasse nos doces o repositório de energias. As tão famosas “vendas”, armazéns, ou padarias tinham sempre uma vitrine de doces, que aos olhos do pequeno cliente tinha o impacto de uma vitrine de joalheria. Uma figura que o tempo se encarregou de extinguir era a do ambulante, com sua cesta de vime coberta por um pano branco imaculado, levando quitutes aos consumidores. Tinham roteiro e freguesia já determinada, assobiavam, tocavam apitos ou gritavam refrões apregoando seus produtos. Eram pessoas queridas e respeitadas, quase faziam parte da família. O chamado “doce caseiro” teve como referência a cidade de Tietê, onde fervilhavam fabricas domésticas, com suas receitas passadas por gerações. Hoje muito pouco ou quase nada resta dessas fabricas de doces. Piracicaba é famosa pelas suas tradições: o Rio Piracicaba, a Escola de Agronomia, o Lar dos Velhinhos, O XV de Novembro, a Rua do Porto e seus peixes, a famosa cachaça, hoje mais difícil de ser encontrada, a pamonha, a Gengibirra do Orlando, os doces Stenico e Martini. Muitos piracicabanos, longe da terra natal chegam a sonhar com essas maravilhas. Mal colocam o pé na cidade e acorrem a cada um desses locais, um rito quase sagrado para quem esteve fora da terra abençoada, seja por pouco tempo ou por anos, o peso da saudade é sempre muito forte. Agostinho Martini Neto constituiu há 80 anos uma empresa que produz em escala industrial doces com as mesmas características do chamado doce caseiro. A partir de uma cesta de vime carregada embaixo do braço, determinado, ele chegou a fornecer doces para gigantes como a Volkswagen do Brasil. Sempre com a mesma qualidade. O seu aguçado espírito empresarial fez com que preservasse todos os itens que integraram o desenvolvimento da sua indústria, mantendo veículos e objetos em um local apropriado, um verdadeiro memorial da sua empresa. Muitas empresas já se preocupam em ter seu memorial, sabem do valor agregado que isso representa. Um acontecimento marcante na história de Piracicaba foi a celebração do casamento de Agostinho Martini Neto com Joana Rocha realizado em 1935 na Igreja Bom Jesus: o noivo ao invés do tradicional terno usava a farda verde do Integralismo, assim como muitos dos convidados envergavam suas fardas. (O Movimento Integralista foi fundado por Plínio Salgado no dia 7 de outubro de 1932, em síntese diz que o homem vale pelo trabalho, pelo sacrifício em favor da Família, da Pátria e da Sociedade, o Homem deve praticar as virtudes que o elevam e o aperfeiçoam).

Ricardo Martini, você é neto de Agostinho Martini Neto?

Sou, meu pai é João Augusto Martini e minha mãe Julieta Maria de Castro Martini, nasci em 15 de fevereiro de 1976. Sou engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia de Piracicaba, tenho Pós-Graduação em Ciência dos Alimentos na ESALQ, onde a minha tese de mestrado aborda a produção de doces sem utilização de açúcar. Aos 21 anos fui morar por um ano em um kibutz em Israel (Combinando o socialismo e o sionismo no sionismo trabalhista, os kibutzim são uma experiência única israelita), em Londres permaneci por dois anos, tenho passaporte italiano, isso permitiu que eu trabalhasse como cidadão europeu. Entre outros serviços trabalhei na London Eye: uma elegante roda gigante às margens do Rio Tamisa, de onde se tem uma belíssima vista panorâmica de Londres, a duração da volta da roda é de meia hora, meu trabalho era servir champanhe e canapés durante esse giro, era um passeio especial, com um numero menor de pessoas, de 2 a 10, geralmente em cada ambiente cabem 25 pessoas.

Qual é a sensação de trabalhar como garçom na roda gigante London Eye?

Muito legal! Todos os dias eu fazia pelo menos um passeio na roda gigante, e ainda ganhava algum dinheiro pelo meu trabalho, que na realidade era um bico que eu fazia a noite, durante o dia trabalhava em uma empresa de pesquisas. As pessoas que freqüentavam a roda gigante eram muito comportadas, sem atitudes extravagantes, a cena mais inusitada que presenciei foi um pedido de casamento, o pretendente simulou que estava passando mal, todos acreditaram, inclusive eu, foi quando ele se ajoelhou e pediu a moça em casamento, isso tudo dentro da roda gigante! Foi bonito! Essa roda tem de 35 a 40 metros de altura.

Em que ano você voltou ao Brasil?

Voltei em 2001. Vim para trabalhar com a nossa família. Foi meu avô Agostinho Martini Neto que aos 16 anos iniciou essa empresa. Já naquela época meu avô tinha o apelido de Neguinho, mais tarde passou a ser chamado de Seu Neguinho, a origem desse apelido é desconhecida. Meus bisavôs Andrea Martini e Maria Fantazia tinham um bar na Rua Moraes Barros, próximo a Rua Santa Cruz, a minha bisavó fazia doces de abobora, batata e cocada e meu avô saia com cestos de palha vendendo os doces pelas ruas, além de venderem no próprio bar. Rapidamente as pessoas passaram a fazer encomendas de doces. A cidade embora fosse bem menor tinha moradores residindo em localidades dispersas, isso fez com que meu avô tivesse a necessidade de adquirir uma charrete e um cavalo isso foi em 1934. Em 1936 mudaram para o prédio onde até hoje se situa a fábrica, na Rua Ipiranga, 1725. Em 1938 ele adquiriu o primeiro veículo a motor, um Chevrolet 1928, que foi utilizado até 1950, na época ele já tinha cinco furgões que faziam entregas de doces pelos bares da cidade. Ele vendeu esse Chevrolet, a pessoa que adquiriu utilizou-o até 1970, foi quando ela ofereceu ao meu avô para recomprá-lo. Meu avô comprou o Chevrolet, restaurou, e ao construir a loja de vendas junto a fabrica colocamos esse veiculo e outras peças em um espaço que formam o acervo Martini, onde estão máquinas, equipamentos de escritório.

A Martini chegou a empregar quantos funcionários?

Chegamos a ter perto de 100 pessoas trabalhando conosco. Trabalhávamos com pêssegos, fazíamos extrato de tomate. Na década de 40 tínhamos forno a lenha, eram feitas queijadinhas, creme e outros doces. Foi quando surgiu o famoso doce “mata-fome”, que era na verdade um reaproveitamento de doces que no processo de fabricação quebravam, ou tinham tamanho fora do padrão, eram triturados, fazia-se um bolo com um creme em cima, era o famoso mata-fome! Eu não cheguei a comer, mas recebemos todo dia alguma pessoa que diz: “A época do mata-fome era boa!”. Chegam a pedir que voltemos a fazer só que não temos mais forno à lenha e nem todos os doces de forno que fazíamos na época são produzidos, torna-se inviável a fabricação do mata-fome.

Quantos filhos seu avô Agostinho Martini Neto teve?

Três filhos: Aljovil Martini (Homenageado com uma rua em seu nome no bairro Dois Córregos), João Augusto Martini, Lucio Carlos Martini (Titá). Dos 11 netos apenas eu permaneço trabalhando na Martini. Diante das circunstâncias econômicas e culturais do nosso país quem trabalha sério passa por muitas dificuldades: a carga tributária é muito grande, as margens de ganho são muito pequenas. Para ganhar dinheiro é mais fácil trabalhar como funcionário do governo ou em uma grande empresa, compensa muito mais do que ter seu próprio negócio. Em 1970 Pelé disse que devíamos cuidar das nossas crianças, quem sabe se a próxima geração tiver consciência de que a nossa sociedade deve mudar talvez daqui a umas duas gerações possamos chegar a viver em um país melhor. A nossa educação é deficitária, não temos pessoas qualificadas para mudar o país hoje. Há mais de uma década foram criadas leis que dão diplomas a quem nem sequer sabe ler. Não adianta ter um diploma se a pessoa não tem qualificação.

A sua vivência por diversos países propiciou conhecer a valorização que cada povo dá á produtos com tradição?

O piracicabano dá valor ás tradições como o peixe do Rio Piracicaba, o caldo de cana, a pamonha, o doce Martini. É comum chegar alguém afirmando que o filho ou parente próximo está na Europa e vai mandar um doce Martini. Até mesmo para piracicabanos residentes em outro estado são enviados doces de nossa fabricação. Dizem que a pessoa está com saudade de Piracicaba, alguém da família passa no Martini e compra um docinho para enviar á essa pessoa. Toda semana escutamos uma história envolvendo os doces fabricados pela Martini.

Quais os tipos de doces são fabricados atualmente?

Temos os doces em massa como a queijadinha, o creme, os doces típicos de festas juninas: paçoca, pé-de-moleque, cocada, torrone. Temos o doce sírio. Depois os doces em caldas e cremosos, todos a base de frutas. A partir de 1970 meu avô passou a fornecer para a Volkswagen, vendíamos caminhões de doces para ela que servia como sobremesa dos cerca de 20.000 funcionários. Até 1970 tínhamos fornos a lenha e produzíamos bolos de casamentos, minha avó com uma equipe de confeiteiras chegou a fazer 40 bolos em um fim de semana. Quando passamos a atender as cozinhas industriais substituímos os fornos a lenha, com isso alguns doces foram deixados de serem fabricados, inclusive os bolos. Nos anos 90 as empresas passaram a terceirizar as cozinhas, as condições de negociação foram modificadas, essas empresas terceirizadas passaram a impor até 70 dias de prazo para efetivarem os pagamentos dos produtos que entregávamos, além de estabelecerem preços de fornecimento aviltados, estabelecendo um leilão entre fornecedores e priorizando o menor preço em detrimento da qualidade.

Seu avô Agostinho Martini Neto fez muitas entregas com charrete?

No inicio ele trabalhou com charrete, depois ele adquiriu um Chevrolet ano 1928, fazia entregas em bares de Piracicaba, alguma coisa ele mandava para fora da cidade. Com esse veículo ele também ia buscar a matéria prima para fabricar os doces. Na época da guerra houve racionamento de açúcar, mesmo assim ele não deixou um dia sequer de funcionar a fábrica. Certa vez ele fez uma viagem de 12 horas de ida mais 12 horas de volta para ir buscar 10 sacos de trigo em Santos, isso com o Chevrolet 1928. Até uns 20 anos atrás todas as sexta feiras meu avô distribuía gratuitamente doces para as crianças que vinham á fábrica.

Como era seu avô?

Era muito trabalhador, levantava ás 5 horas da manhã e trabalhava até as 10 horas da noite. Quando o primeiro funcionário chegava a caldeira já estava ligada, as frutas quase todas descascadas. A empresa era uma grande família, era normal alguém vir trabalhar na empresa e logo em seguida trazer o irmão, primo para também trabalhar na Martini. O funcionário mais antigo está conosco há quase 50 anos. Dona Rosa trabalhou 50 anos conosco, hoje ela tem 100 anos, só não vem trabalhar pela dificuldade em andar, faz uns 10 anos que ela parou de trabalhar. Nos anos 40 meu avô era o único proprietário de carro e telefone que existiam no bairro, era comum ele ajudar a transportar pessoas, ceder o uso do telefone, era de número 587.

Você já recebeu visitantes estrangeiros?

No ano passado vieram dois ônibus com funcionários coreanos da Hyundai, eles comeram bastante pé-de-moleque. Muitas famílias piracicabanas trazem visitantes estrangeiros.

Quantos tipos de doces a Martini fabrica atualmente?

Entre caldas e massas são cerca de 50 doces. Em dezembro de 2010 abrimos uma segunda loja, fica no Mercado Municipal.

João Augusto Martini, filho de Agostinho Martini Neto, em que dia o senhor nasceu?

Nasci em 5 de janeiro de 1943, sou formado pela ESALQ e me formei na primeira turma de administração da UNIMEP

O doce sírio fabricado pela Martini é uma receita dada por alguém conhecido?

Foi Tuffi Elias quem ensinou ao meu pai a formulação e a fabricação do doce sírio.

Os doces Martini já estiveram presentes nos mais diversos locais.

Na Piracicaba de algumas décadas só tinha o Cemitério da Saudade, na época de finados ao longo do Estádio Barão de Serra Negra, em frente ao cemitério, montavam-se barracas vendendo os mais diversos artigos, os nossos doces estavam presentes. No início, ainda quando não existia o estádio era um bosque, com o Chevrolet 1928 levavam-se doces, mais tarde com o Chevrolet ano 1951 era feito o abastecimento de doces nessa barraca. No inicio era feita a venda de doces em praticamente todos os bares, armazéns e padarias, com visitas pelos menos 3 vezes por semana, lembro-me nitidamente do bar do Seu Augusto Cardinalli, pai do Didi Cardinalli, lá na Vila Rezende, aonde tinha o Valler. Santo Bueloni, Falanghe foram fornecedores que sempre que necessário deram crédito ao meu pai. Mais tarde chegamos a fornecer supermercados em nível nacional, só que o aumento dos custos de logística inviabilizou a manutenção dessas vendas. Passamos a atuar no mercado institucional das grandes indústrias, por volta de 69, 70 a indústria automobilística como Volkswagen, Mercedes Benz, Scania investiram nos refeitórios próprios, com o advento de planos econômicos elas passaram a terceirizar o serviço. A concorrência tornou-se feroz, as contratadas passaram a reduzir cada vez mais os custos, nós acompanhamos até o limite onde poderíamos manter nossa qualidade. Atualmente atendemos grandes empresas, um número menor delas, mas sempre com nosso padrão de qualidade.

 
João o seu pai participou de política?

O meu pai casou-se com o uniforme verde muitos dos convidados envergaram seus uniformes verdes, perfilados participaram da cerimônia, eram todos seguidores de Plínio Salgado do Partido Integralista. As vindas de Plínio Salgado á Piracicaba eram conduzidas pelo meu pai. A participação dele no meio social foi muito grande, a própria vinda do Corpo de Bombeiros de Piracicaba teve a participação dele, assim como a Guarda Mirim recebeu muito apoio dele. Os clubes sociais de Piracicaba tiveram nele um grande benemérito.





ADALBERTO BARRICHELLO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 25 de junho de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: ADALBERTO BARRICHELLO

O Rotary é uma organização internacional de cerca de 1,2 milhão de empresários, profissionais e líderes comunitários. Os sócios dos Rotary Clubs, conhecidos como rotarianos, prestam serviços humanitários, enfatizam altos padrões éticos em suas profissões e ajudam a promover a boa vontade e a paz mundial. Há mais de 33.000 Rotary Clubs em mais de 200 países e áreas geográficas, os quais constituem entidades apolíticas, não religiosas e abertas a pessoas de todas as culturas, raças e credos. O principal objetivo do Rotary, o qual está refletido em seu lema “Dar de Si Antes de Pensar em Si”, é servir na comunidade, no local de trabalho e em todo o mundo. Os rotarianos desenvolvem projetos comunitários, que visam tratar de assuntos atuais e de extrema importância, entre eles crianças em situação de risco, pobreza e fome, preservação do meio ambiente, analfabetismo e violência. Além disso, eles apóiam iniciativas pró-juventude, promovem o desenvolvimento profissional e patrocinam oportunidades educacionais e intercâmbio para estudantes, professores e outros profissionais. Paul Percy Harris nasceu em 19 de abril de 1868 em Racine, Wisconsin, nos EUA, em Chicago Paul teve a idéia de criar um clube para homens de negócios e em 23 de fevereiro de 1905 reuniu-se com três amigos Silvester Schiele, Hiram Shorey e Gustavus Loehr formando o primeiro Rotary Club. Paul atribui aos valores nele incutidos por seus avós e vizinhos a base que levou à concepção do Rotary: "O Rotary nasceu do espírito de tolerância, boa fé e serviço, qualidades características de meus familiares e companheiros de infância na Nova Inglaterra. Tenho tentado transmitir minha fé nesses valores a outros seres humanos, com a mesma intensidade com que ela brilha dentro de mim". O significado do Emblema do Rotary composto por 24 dentes da roda denteada(e não dentada) representam às 24 horas do dia onde cada rotariano deve viver o Rotary em ação e pensamento. Os 6 raios representam as qualidades essenciais do rotariano em relação à:FAMILIA, ser bom chefe de família, AÇÃO, cumprir os deveres de cidadão, AMIZADE, cultivar a capacidade de fazer e manter amigos, PROFISSÃO, ter ética profissional, agindo sempre de acordo com os princípios rotários, RELIGIÃO, respeitar normas e princípios religiosos, INSTITUIÇÃO, manter a integração no movimento rotário, cooperando sempre.A cor dourada significa a nobreza e legitimidade dos propósitos rotários. A cor azul lembra o firmamento, indicando a universalidade e elevação dos mesmos propósitos. Em Piracicaba existem 7 unidades do Rotary Club. O que atrai nessa entidade é que apesar de ser centenária ela cultiva valores a cada dia mais essenciais para a saúde física e mental da humanidade. De certa forma vivemos uma nova versão do massacrante processo produtivo instituídos na Revolução Industrial, a humanidade ainda não se adaptou a tantas mudanças em tão pouco tempo. A convivência em um grupo social é fundamental para a existência do ser humano, e entidades como o Rotary são verdadeiros oásis á quem busca amizade e companheirismo. Adalberto Barrichello é o atual presidente do Rotary Club Paulista, que está terminando seu mandato de um ano. Nesse período de forma discreta, mas muito atuante, proporcionou eventos que levou muitos visitantes ás dependências do Rotary, com sua atuação ele atingiu com maestria o objetivo principal da instituição, que é promover o ser humano em todos os seus aspectos. Nascido em Piracicaba a 16 de março de 1939, é filho de Alberto Domingos Barrichello e Vicência do Carmo. Diz com orgulho que é bairro-altense, nasceu na Rua XV de Novembro a uma quadra acima do Sud Mennucci. Seus pais tiveram mais quatro filhas: Maria Aparecida, Maria Wilma, Vera Maria e Wanda Maria.


Onde o senhor iniciou os seus estudos?

Comecei a estudar em uma escola mista da Conferencia São Vicente de Paula, fui matriculado antes de completar os sete anos de idade, isso em uma época em que as escolas consideravam sete anos a idade mínima para o ingresso. A professora Dona Hermantina Brasil era uma pessoa extraordinária, ela é tia de outra professora muito conceituada Dona Conceição Brasil Vieira. O prédio da escola da Conferencia existe até hoje fica na Rua D.Pedro I, próximo ao Colégio Dom Bosco, atualmente existe uma creche no local. Após seis meses estudando lá a escola foi extinta, sendo que os alunos foram transferidos para o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, na Rua Governador Pedro de Toledo. Pelo fato de eu ser ainda muito novo minha mãe não me matriculou no Barão, que era bem mais longe de casa. A Dona Hermantina me passava lições particulares, seu objetivo era que eu aproveitasse o ano de estudos. Por questões burocráticas aquele meu ano de estudo não foi considerado para efeito de promoção á série seguinte. No ano seguinte entrei no Grupo Escolar Alfredo Cardoso, na época era um casarão situado atrás da Igreja Bom Jesus, onde hoje é o Edifício Morro Grande na Rua São José esquina com a Rua Alfredo Guedes, estudei lá até 1949, no ano seguinte o Grupo Escolar Alfredo Cardoso mudou-se para o prédio que ocupa atualmente. Esse local era conhecido como Largo Da Estação Velha, pois foi lá que funcionou a estação da Estrada de Ferro Ytuana, mais tarde denominada de Sorocabana.

Qual foi a próxima escola que o senhor freqüentou?

Fui estudar na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, situava-se na Praça José Bonifácio, a mesma área comportava três praças: a Praça Sete de Setembro, entre a Rua Prudente de Moraes e Rua São José, a Praça José Bonifácio entre a Rua São José e Rua Moraes Barros e a Praça da Catedral situada em frente á Catedral. A Escola Cristovão Colombo situava-se em um prolongamento da Rua Boa Morte em frente a Praça. A escola funcionava em um prédio antigo, um sobrado, embaixo tinha o Cartório do Segundo Tabelião e o fotógrafo Cantarelli com seu estúdio. Entrei em 1951 e me formei em 1957, foram quatro anos de curso básico e três anos de técnico em contabilidade.

Nesse período o senhor trabalhava alem de estudar?

Cheguei a trabalhar um pouco com o meu pai, ele era artista em uma profissão que hoje não existe mais, era seleiro. Ele trabalhou muito tempo na Selaria União, situada no Largo do Mercado, exatamente na Rua Dom. Pedro esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo. Com nove anos de idade eu já ia ajudá-lo. Naquela época o seleiro era polivalente, fazia de tudo, trabalhava como tapeceiro, sapateiro. O seleiro mais aperfeiçoado era trançador também.

O que é trançador?

Era o especialista em traçar couro de boi. Com o couro de boi seco era feita uma fita, com essas fitas trançavam para fazer laços, rédeas. É um serviço artístico.

Como é feita uma sela usada em cavalo?

A sela mais bonita, chamada mexicana, tem uma armação de madeira, forrada com feltro, atualmente usa-se espuma, antigamente até mesmo um acolchoado de couro era usado por baixo. Ela tinha depois a cabeça, o assento, das laterais desciam os estribos. Era um objeto que para fazer tinha que gostar do que estava fazendo. Uma sela demora em média três dias para ser feita.

O chamado “tapa” quando era usado?

Quando o animal de carga é selado, coloca-se em sua cabeça o "tapa" que cobre a cara, deixando-o com a visão direcionada somente para frente. Além do tapa usa-se a rédea que sai do freio e vai na boca do animal.

Quanto pesa uma sela?

Uma boa sela pesa cerca de oito quilos, não são feitas sob medida, ela tem que ser bem forrada por baixo, se a pessoa for muito pesada a sela acaba “pisando” o animal, provoca ferimentos no animal. Antigamente existia o chamado arreio para animais de carga, eles puxavam uns carroções, alguns carroções chegavam a puxar até mil quilos de carga. Geralmente eram puxados por uma parelha de animais, ou até três animais, diziam que dois iam no tronco e um ia na guia. Esses arreios de carga eram chamados de “selote”, não serviam como assento e sim para terem os varais da carroça engatados.

Como eram feitos os chicotes?

Pode ser feito em forma de tala, dobrado na argola que serve como empunhadura, há também chicotes trançados.

Um bom laço tem quanto de comprimento?

O laço normal media 10 braças, os laços maiores mediam 12 braças, o que equivale a aproximadamente 26 metros de comprimento. Para laçar um animal em movimento a distancia deve ser menor.
O senhor ainda estudante já passou a trabalhar na área contábil?
Arrumei um emprego no escritório de Onofre Pinheiro Nunes, lá tinha bons colegas que me auxiliaram muito no aprendizado, meu mestre na contabilidade foi Geraldo Cillo. O escritório ficava na Rua XV de Novembro, em cima do prédio onde por muitos anos funcionou a Receita Federal, no Edifício Falanghe. Permaneci nesse escritório por uns três anos. Trabalhei por um ano na Mercediesel, era a agência Mercedes-Benz, de propriedade de Altamiro Garcia, Mozart Garcia, Walter Hahn, Osvaldo Inácio de Tella, Heny Atallah. A Mercediesel ficava bem em frente a Casa Krahenbuhl, na Rua Governador Pedro de Toledo. Após um ano aproximadamente, em 11 de junho de 1961 apareceu a oportunidade de comprar a parte de Manoel Ferrari que era sócio com José Martins no Escritório de Contabilidade Paulista, situado na Rua Benjamin Constant,2495. Continuo até hoje lá, sendo que a minha filha assumiu o escritório. Tive muitos clientes da região como Jacinto Bonachella. Conheci a Padaria Cruzeiro do Alberto Secondo Sacchi, tinha a fabrica de barcos Ferrari, vizinho tinha o seu Ciro Sansigolo que era um carpinteiro extraordinário. Existia a Indústria Morlet, não havia a passagem sob os trilhos da Companhia Paulista, na Rua da Glória.

O senhor participa do Rotary Club há quantos anos?

Comecei no Rotary em 2001 e permaneci até 2006, por motivo de saúde na minha família tive que me afastar. Em 2008 voltei a freqüentar o Rotary. Sou o atual presidente, a cada ano ele muda o conselho diretor. O meu mandato no Rotary Club Piracicaba Paulista iniciou-se em 1 de julho de 2010 e termina 30 de junho de 2011. Atualmente temos 21 associados.

Há certa estagnação na inclusão de novos associados?
Em nome dessa correria intensa que movimenta as pessoas credita-se a falta de tempo ao associado em potencial. O ritmo atual de vida exige muito em suas atividades profissionais.

As pessoas estão cada vez mais individualistas?

Até mesmo em decorrência de sentir-se mais seguro face a violência que cresceu muito, aliada a facilidade de interagir com o mundo a partir do seu domicilio, utilizando ferramentas tecnológicas, ele passa a praticamente refugiar-se em casa. Isso é muito triste.

Esse isolamento pode gerar uma neurose?

Sem a menor duvida! O individuo perde o senso de companheirismo se fecha a cada dia mais.

Existe reunião rotariana por internet?

Existe eu sou totalmente contra, desde a sua origem o Rotary tinha como objetivo se reunir para trocar impressões pessoais, o Rotary é uma instituição que agrega profissionais das mais diversas profissões. A chamada comunicação virtual, utilizada em detrimento do contato pessoal é contra a essência do ideal rotariano.

O que ocorre em uma reunião de Rotary?

No Brasil a reunião é feita uma vez por semana, geralmente dura uma hora e meia. Não somos uma instituição filantrópica, trabalhamos para resolver dificuldades que ocorrem na comunidade. Uma das atividades atuais é trabalhar na erradicação da poliomielite no mundo todo, é uma ação global. O Rotary em Piracicaba participa ativamente na construção de moradias para pessoas em situação de risco.

Quantos Rotary existem em Piracicaba?

São sete, o mais antigo é o Rotary Club Piracicaba, que já completou 70 anos, tem o da Vila Rezende, da Cidade Alta, o nosso da Paulista em novembro fará 40 anos, o Povoador, o São Dimas e o Luiz de Queiroz.

Há participação feminina no Rotary?

Antigamente havia restrições a participação da mulher, hoje está aberto a participação feminina. Não há a necessidade da mulher em ser casada, ou de ter a participação do marido, ela pode ser individualmente rotariana.

A pessoa interessada em ingressar no Rotary Club como deve proceder?

Geralmente ela recebe o convite de um rotariano, ela participa sem compromisso de algumas reuniões, conduzida por um padrinho fará o seu ingresso na instituição. O interessado pode manifestar o seu desejo em participar da instituição, provavelmente receberá o convite de algum associado.

O que é a Casa da Amizade?

É o local que congrega os Rotary da cidade. É a sede da Afrop Associacao Familias Rotarianos Piracicaba uma entidade paralela do Rotary. Os Interact Clubs são grupos de adolescentes de 12 a 18 anos, patrocinados por um Rotary Club. A freqüência do rotariano é exigida com rigor. Se você estiver passeando em Manaus poderá recuperar a sua presença freqüentando o Rotary de lá. O rotariano Luiz Fernando Marucco em decorrência de suas atividades profissionais viaja muito, diversas vezes participou de reuniões em Rotary Club de muitos países, inclusive várias na Suécia.

É difícil ser presidente do Rotary?

Não é difícil, a preocupação desaparece quando temos o apoio de companheiros experientes, a presidência não deixa de ser um aprendizado. No Rotary Paulista temos a participação do companheiro Érico Bisson que tem grande conhecimento sobre assuntos rotarianos, com isso exercemos nossa função com grande tranqüilidade.

O que o Rotary representa na vida do senhor?

É a ocupação de um espaço onde posso ser útil, o Rotary oferece a oportunidade de me tornar útil á comunidade. É um local onde nos tratamos como companheiros. Somos todos iguais, sem os rótulos ou títulos habitualmente usados no cotidiano. Todos se tratam por “você”, em um ambiente respeitoso, descontraído e agradável.


































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