sexta-feira, setembro 07, 2012

MARIA HELENA AGUIAR CORAZZA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 01 de setembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADA: MARIA HELENA AGUIAR CORAZZA
Maria Helena Aguiar Corazza nasceu em Piracicaba, no dia 12 de agosto de 1937, na casa situada a Rua Governador Pedro de Toledo, 673, centro, Piracicaba, a casa existe até os dias atuais e é ocupada pelo Yázigi. Filha de Jorge Aguiar e Maria Aparecida Vieira Aguiar, que está com 99 anos, Maria Helena tem os irmãos Maria Lúcia e Jorge Roberto. Aos dois anos mudou-se com seus pais para São Paulo, foram morar no bairro Aclimação, de onde retornou aos 18 anos quando contraiu seu primeiro matrimônio com Antonio Corazza Júnior, com quem permaneceu casada por 51 anos, quando ele faleceu. Tiveram quatro filhos. Jorge Aguiar tinha comércio calçadista no então elegante centro de São Paulo, na Rua José Bonifácio, Rua Benjamin Constant. Mais tarde foi proprietário da Casa Marabá, em Piracicaba. Sócia fundadora do Clube da Lady, Presidente da Academia Piracicabana de Letras, lançou seu quinto livro, onde reúne uma pequena parcela das inúmeras crônicas publicadas anos a fio. Trata-se do livro “Crônicas de Maria Helena”.


Quando a senhora se casou e retornou a Piracicaba estranhou o ritmo de vida com relação a São Paulo?


Mesmo morando em São Paulo mantinha laços estreitos com Piracicaba, era aqui que eu passava as minhas férias. A família Aguiar Jorge era muito conhecida em Piracicaba, meus tios, minha avó Francisca de Aguiar Jorge ( Avó Chiquinha), o avô era José Jorge. O nome do meu pai deveria permanecer como era: Jorge Aguiar Jorge, só que ele, talvez por razões de ordem prática, suprimiu a repetição do Jorge no fim do seu nome, ficando Jorge Aguiar. Com isso não tenho em meu nome o sobrenome Jorge que minhas primas carregam em seus nomes. Eu me formei como professora na turma de 1956, no Colégio Assunção, depois de casada, fui a primeira aluna casada a terminar o curso no Colégio Assunção. Depois veio Terezinha Ferraz Leite, transferida de outra cidade, também casada. Éramos como se fossemos uma atração, tanto para as freiras como para as meninas.


Qual é a origem do sobrenome Jorge?


Meus antepassados vieram de Damasco, capital da Síria. Todos os povos e países têm seus encantos e desencantos.


A senhora é religiosa?


Muito. Sou devota de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Santa
Paulina a Primeira Santa Brasileira. Estudei no colégio em que ela viveu no
Ipiranga, minha mestra Irmã Célia Cadorin foi quem fez o processo de beatificação
e santificação de Santa Paulina. Escrevi muito, sobre a vida toda de Madre Paulina, publiquei ainda no tempo em que o editor do Jornal de Piracicaba era Joacyr Coury . Escrevi muito sobre o Padre Galvão.


Como surgiu essa inspiração para a senhora escrever?


Não sei precisar. Ainda criança, com nove a dez anos já tinha muita facilidade em escrever, nessa época fiz uma redação cujo título era “Uma Gota da Água”. No final, encerro o conto comparando a gota d’água com uma lágrima. Leio muito, li clássicos, obras de Jorge Amado. Comecei a fazer Yoga, mas tenho um temperamento irrequieto demais. Uma vez arrisquei a participar de uma aula, isso há muitos anos, fui constantemente abordada por um pernilongo. Como poderia fazer Yoga sendo atacada por pernilongo? Sou a mais agitada em casa, mais do que meus filho, netos.


Como Presidente da Academia Piracicabana de Letras a senhora sabe por que o brasileiro ainda lê pouco?


O fator principal é o custo das obras.


Então como escritora a senhora teve bons rendimentos financeiros?


(Após uma boa risada Maria Helena volta a abordar o tema). Conheço pessoas que ocupam funções braçais, mas que gostam muito de ler. Como essas pessoas de poder aquisitivo restrito pode adquirir obras que custam 30, 40, 60 reais? Há a facilidade do livro eletrônico, eu não gosto, para mim tem que ser escrito no papel. Quando encontro algo que me interesso no computador, eu imprimo. Atualmente estou na fase de ler autores hindus.


Frases de efeito, motivadoras despertam seu interesse?


Posso até eventualmente citar alguma frase em algum livro que escrevi. Nunca irei contestar. “Quem espera sempre alcança”, que a pessoa vá atrás então, se não for nunca irá alcançar. Sem luta você não consegue nada. A pessoa tem que agradecer a sua saúde, que já vem naturalmente. Tenho horror a frase: “Era feliz e não sabia.” Quando estou feliz, digo: “Estou mesmo muito feliz, que coisa boa!”. E espero estar sempre muito bem, pois se pensar ao contrário a pessoa fica mau de verdade. Meu primeiro marido Antonio (Toninho) Corazza Júnior aos 41 anos foi acometido de uma doença que abalou, tirou o sossego, mas prosseguimos por décadas, persistindo, acreditando, com muita fé, trabalhando muito. Após a descoberta da sua doença ele viveu mais 31 anos.


Alguns anos após o falecimento do seu marido a senhora contraiu segundas núpcias?


Sou casada com o Dr. Luiz Antonio Abrahão, tem 55 anos de participação na OAB de Piracicaba. Parte da sociedade acha que uma viúva deve ficar em seu canto, recolhida, em seu luto. Conheci pessoa que por 10 a 11 anos ficou de luto, usando só roupas pretas. Na minha opinião isso é fraqueza. Não é fácil enfrentar isso. No dia anterior ao falecimento do meu primeiro marido, fui até a capela do hospital, descarreguei toda a minha dor, a ponto de fecharaem a porta da capela para evitarem que outras pessoas me vissem tomada por um sentimento de muita dor, minha manifestação escandalosa de sentimento de perda.


A senhora acredita que ao enviuvar-se, a pessoa não de ve se isolar?


Não pode se isolar. Essa é a grande mensagem que passo em um dos meus livros, que não é uma obra de auto-ajuda e sim de alto astral. Há pessoas que nasceram com o estigma de serem vítimas. Gostam de viver da comiseração (compaixão) dos outros. Quem irá suportar uma pessoa choramingando em um canto? Talvez isso suceda por dois ou três meses, depois ninguém mais vai tolerar. Você tem que usar a sua própria força. O processo de fé é muito importante, não é ser piegas, ser ingênua. Não se pode questionar Deus. Nós estamos neste mundo, mas existem milhões de galáxias. É melhor não questionar Deus e sim Tê-lo como uma energia. Há em cada um de nós uma força muito grande e que veio de algum lugar. Observe, quando você tem um pensamento muito forte você consegue. Eu estava revendo um livro “Santa Teresa de Ávila”, eu estive em Avila, ela conseguia ganhar as coisas com os mantras (orações repetidas) que ela fazia: “ Vou conseguir, vou conseguir, vou conseguir...) É lógico que existem limites, se a pessoa estiver falecendo, no fim de sua vida, atingiu o seu limite. Você não tem essa força.


A senhora freqüenta regularmente a igreja?


Tanto eu como o Luiz freqüentamos aos domingos.


Com sua experiência de vida, passando por muitas mudanças ocorridas nesses anos todos, sob o seu ponto de vista isso foi bom ou tornou as pessoas mais individualistas?


Contra o tempo não se pode ir. Hoje tudo que acontece é sinal dos tempos atuais. Houve uma inversão de valores, de disciplina, hoje os pais muitas vezes temem em dizer algo a seus filhos, os filhos em contrapartida dizem o que querem à seus pais. Desafiam professores, afirmando que são eles, alunos, que pagam o salário do professor. Há algumas décadas os pais controlavam os filhos apenas com o olhar. Pedia-se a benção aos pais, tios, padrinhos, avós. Existia o respeito pelos mais velhos, atitudes cordiais e respeitosas, como levantar-se e dar o assento aos idosos, grávidas. Hoje se tiver uma idosa quase sem forças, homens fortes, meninos grandes e sadios, ignoram. Ninguém liga para mais nada. Do rigor extremo passou-se a liberdade sem responsabilidade, sem limites. São atitudes inadmissíveis, qualquer ser humano é merecedor de respeito.


A senhora vive de bem com a vida?


Vivo. Tenho um processo de fé. Se perder o sono na madrugada, o que raramente acontece, eu rezo o terço. Tenho a certeza absoluta de que quando terminar de rezar o terço já estarei dormindo. O terço é uma arma. As orações funcionam como mantras.


A humanidade necessita de uma higienização mental?


Está faltando esse “voltar ao outro”. Ontem estivemos em São Paulo, no trânsito percebemos a agressividade das pessoas, uns contra os outros, independente de idade, sexo ou condição social, há uma violência gratuita.


São pessoas mal amadas?


Mal amadas, mal resolvidas consigo mesmas. Uma pequena contrariedade é motivo de reações violentas. São pessoas que não se realizam de nenhuma forma. O ser humano está estressadíssimo, completamente sem paciência. Egocêntricos. Colocam todas as fichas em uma determinada direção. Isso amesquinha a pessoa. Não acrescenta. Isso o leva a fazer uso de subterfúgios. Aos totalmente desprovidos de elementos necessários a sua sobrevivência o caminho das drogas é uma fuga, aqueles que mesmo tendo recursos necessários e entram nessa situação são pessoas carentes de carinho, atenção. Eu distribuo sorrisos, tapinhas afetuosos, abraços, atenção. Com a Dona Madalena Salati e mais 25 pessoas eu tomava conta da Casa do Bom Menino, eu passava a mão na cabeça de uma criança, dava-lhe atenção. Se um dia ele se tornasse um marginalizado, iria lembrar-se de que um dia havia recebido atenção e carinho de alguém. Isso poderá fazer com que ele imagine que existe pelo menos uma pessoa boa. Carinho é tudo. Toque é tudo. Existem muitos estudos e literatura sobre o poder do toque. Até os muito idosos sentem essa necessidade de afeto, quando vou a uma determinada casa de idosos procuro dar-lhes meu melhor sorriso. Confortá-los. Conheci e pratiquei o método Reiki que é uma prática espiritual esotérica baseada na canalização da energia universal através da imposição de mãos com o objetivo de restabelecer o equilíbrio energético vital.


A senhora considera-se uma pessoa extremamente ativa?


Sou. Até mesmo em reunião de condomínio, onde sou presidente da mesa, as medidas a serem tomadas procuro decidir de forma prática e objetiva. Sem muitas delongas.


Na cozinha como é a Maria Helena?


Se precisar ninguém passa fome. Criei meus filhos, cozinhava, dava aulas de piano. Da cozinha muitas vezes corrigia “– Fá sustenido!” ou -Si Bemol” Faço um bife muito bom, dizem que é melhor do que os outros, quando chega um neto, se não tenho nada pronto faço o “Arroz de Vó”. Tenho todos os molhos em pote assim como caldos de sopa, tudo natural. Atualmente consumimos muitas saladas e frutas. Mas já fiz muito quibe, principalmente o quibe cru, um dos pratos preferidos em casa. Um prato que faz muito sucesso é o mafufo que são charutinhos com folha de uva. Coalhada, homus, homus tahine, babaganuche, adoro halawi (doce árabe com pasta de gergelim).


A senhora tem o hábito de usar o Masbaha (Terço árabe)?


Não uso esse terço em particular, embora o tenha.


As pessoas não dizem que a sua vida são só rosas?


(Maria Helena ri.) Não existe isso! Eu sempre penso, mesmo nas piores situações: “- O melhor ainda está por vir!”


A mulher é cerne da família?


Com certeza! Uma mulher forte é um baluarte. Leva o marido, leva a família. O retorno sempre vem, e muito mais forte. Quando sinto alguma dificuldade com alguém peço a Nossa Senhora que toque o coração dessa pessoa. Isso dá certo.


Como a escritora Maria Helena vê o crescimento de Piracicaba?


É irreversível, o contrário seria dizer que Piracicaba deveria ficar presa, sem caminhar. Piracicaba cresceu de forma encantadora. Lembro-me da minha terra maravilhosa, com ruas ainda de terra, havia ribeirão a céu aberto, com suas pequenas pontes. Hoje ela cresceu, com um trânsito intenso, do bairro São Dimas até o bairro da Paulista pode-se levar quarenta minutos no percurso. Mas Piracicaba é uma cidade linda, muito bem tratada, nos dois últimos governos trabalhou-se muito nesse sentido. Há necessidades a serem resolvidas na saúde, na educação, só que essas necessidades só são quase inexistentes em países com alto grau de desenvolvimento. Mesmo nesses países há alto grau de suicídios, desgraças. Nesses países deveriam trabalhar mais a espiritualidade, isso no meu ponto de vista.


Suas memórias ruins, problemas, vão para o lixo?


Lembro-me de que devo confiar no Senhor de todo meu coração. Entrego a ele todos os meus problemas. Aplico isso. Converso com Deus. Não estou questionando onde ele está. As pessoas que deixam esta vida deixam também suas energias, e isso ajuda muito. Acho que essa energia não acaba nunca. Como disse São Agostinho: “-Eu apenas estou do outro lado do caminho!”.




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