sábado, abril 21, 2012

Sérgio (Tapióca) de Jesus

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 21 de abril de 2012

Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

                                           Sérgio (Tapióca) de Jesus         Foto by JUNassif

 

ENTREVISTADO: SÉRGIO DE JESUS (TAPIOCA)

Piracicaba tem seu nome associado ao Rio Piracicaba, ao XV de Novembro, a ESALQ, ao Lar dos Velhinhos. No entanto uma febre espalhou por muitas cidades, inclusive em São Paulo, veículos equipados com alto-falantes de onde podia ouvir-se: “Pamonhas, pamonhas, pamonhas! Pamonhas fresquinhas, o puro creme do milho, pamonhas de Piracicaba!”. Com isso associou o nome da cidade com a pamonha. Um grupo de irmãos veio da Bahia e passou a produzir e vender tapioca, em pouco tempo agregaram bandas tocando músicas típicas transformando uma praça em um autêntico show a céu aberto. Realizada anualmente a Festa da Tapioca já está em seu quarto ano, além dos nordestinos e nortistas que compõe elevado percentual da população, o piracicabano de famílias tradicionais passou a conhecer e consumir a tapioca, incrementada no cardápio de muitas lanchonetes. Sérgio Tapioca, ou simplesmente Tapioca, é um desses irmãos, ele identificou-se tanto com a festa que incorporou o nome do alimento ao seu nome. A Quarta Festa da Tapioca será realizada nos dias 4, 5e 6 de maio próximo. Segundo Tapioca a estrutura preparada é para receber nesses dias 15. 000 pessoas.

Nascido a 9 de setembro de 1979, Sérgio de Jesus é cormariense, gentílico dos que nascem em Coração de Maria, interior da Bahia. Filho de Elizeu de Jesus e Carmelita Pinheiro de Souza. Aos 16 anos foi para Salvador, junto com alguns de seus irmãos onde trabalhou nos Laticinios Candibom, fabricando queijos, requeijão, em seguida foi para Camaçari onde trabalhou por mais dois anos. Em 1999 veio para Piracicaba onde seus irmãos já se encontravam. Por sete anos foi funcionário da Caterpillar, atualmente tem sua empresa que presta serviços de eletricidade e pintura.

Como surgiu a Festa da Tapioca?

Meus irmãos e eu em um sábado a noite fizemos uma tapioca em uma chapa, meu irmão tem um trailer nessa praça.

Como é feita a tapioca?

A massa é feita com a mandioca descascada e ralada, a mandioca pode estar enxuta ou molhada, em uma época da lua ela irá estar molhada, ela não vai dar a liga necessária. Após ralar a mandioca essa massa é lavada, dali sai o amido e a àgua, após 10 a 12 horas pelo processo de decantação o amido ficará no fundo do recepiente e a àgua que fica na parte superior será jogada fora. O amido é colocado para secar ao sol, após ficar granulado ele será peneirado e será adicionado o sal. Mesmo a tapioca doce passa por esse processo. A essa farinha muito fina de amido adiciona-se água, sal ou açucar, tem-se a massa que é colocada em uma fina camada em uma “trempe” como denominamos na Bahia a frigideira ou caçarola, ou se vai ser feita no forno. A semelhança de quem vai fazer uma panqueca, colocamos o recheio sobre metade da superfície, a outra metade será dobrada sobre a mesma. O recheio pode ser os mais diversos possíveis, atualmente temos mais de 150 tipos de rechios na Festa da Tapioca.

Quais são os recheios mais procurados?

Chocolate com morango, frango com catupiry e a de carne seca são as três mais procuradas. Na festa além de tapioca tem outros pratos como acarajé, milho cozido, panqueca, cuzcuz. Neste ano teremos 5 barracas com tapioca, cada uma com 5 a 6 chapas para poder atender o volume de pessoas.

A que horas será realizada a Festa da Tapioca?

A abertura será ás 18 horas do dia 4 de maio com a apresentação do Laércio do Acordeom com o forró Pé De Serra, tipo universitário. A Prefeitura Municipal dá apoio ao evento, envia o palco, a aparelhagem de som, tenda, energia elétrica. Nesse dia a festa vai até a meia noite. Nos dias de festas, todas as noites nós fazemos sorteios de cestas de café da manhã, a Cristina Ballistiero nos dá um grande apoio. A data de realização da festa é bem proxima ao Dia das Mães, por isso o meu foco são as cestas de café da manhã. No sábado a festa começa as 14h e vai até as 2h da manhã de domingo, com a apresentação inclusive de roda de samba. No domingo começa as 10h30 e vai até as 22h. Ao todo são 30h de festa. É um evento muito voltado para as famílias.
 estacionamento de veículos é fácil?
O estacionamento é pago, o valor é repassado para uma empresa que cuida da segurança. Se a pessoa for de moto estaremos oferecendo um local para que deixe o seu capacete e circule mais a vontade. Teremos três locais de entrada para o evento, e em cada uma delas será instalado esse recinto para guardar os capacetes. A Praça do Rezendão tem como referência a Rua Terenzio Galesi, no Bairro Algodoal. Para as crianças oferecemos os brinquedos como pula-pula, tobogã e outros.
As pessoas ali reunidas dançam?

Dançam, uns embaixo das tendas outros em plena praça.

A Festa da Tapioca é freqüentada só por pessoas residentes de Piracicaba?

Recebemos pessoas de cidades vizinhas.

Você esperava que essa festa tomasse as dimensões que ocupa hoje?

Nem imaginava que ela chegasse ao tamanho atual. Recebemos grande apoio da mídia desde a primeira festa que realizamos.

O azeite de dendê é utilizado como?

Principalmente na fritura do acarajé. O azeite é feito a partir da retirada do coquinho do cacho já maduro. Cozinha-se em uma panela esse coquinho, é batido em um pilão para que ele se quebre e solte seu óleo que depois será coado.

É um óleo muito forte, quem não está acostumado pode sofrer alguma conseqüência?

Depende da quantidade que a pessoa comer, se não estiver acostumado a culinária do nordeste, ela poderá sofrer inconveniências digestivas. O acarajé por si só é uma alimentação muito forte, o ideal é que a noite a pessoa coma no máximo 2 acarajés, durante o dia ela pode comer mais, isso pelo fato de ser uma comida pesada.

Você quando pode visita sua terra natal?

Já voltei diversas vezes. Meu pai tem outro sítio em Irará onde cria umas quarenta cabeças de gado.

Qual é a sua religião?

Eu sou católico, a Festa da Mandioca não tem envolvimento com nenhuma religião. É um evento para todos.

Você passa a imagem de uma pessoa muito segura. Em sua opinião isso é fruto da educação recebida em casa?

O meu pai dizia: “Vai para a escola, quando voltar vai ter isso para fazer”. Terminada a tarefa ele dava outra nova. Ele não deixava nós ficarmos sem fazer nada, aos domingos ele mesmo cortava o nosso cabelo, meu e de mais 9 irmãos. Se tivesse um jogo de futebol, íamos, quando acabava tínhamos que voltar logo para casa. Meu pai sempre foi disciplinado e impunha isso para nós também.

Você tem filhos?

Tenho uma filha, ela mora em Camaçari, chama-se Tainá, sempre tive o projeto de trazê-la para Piracicaba.

Atualmente você cuida só da Festa da Tapioca, além de trabalhar na sua empresa?

Surgiram novas propostas para trabalhar em eventos, além de participar do Centro de Tradições Nordestinas.

Você é muito festeiro, isso é uma característica do baiano?

Eu gosto muito de festas, principalmente a parte dos bastidores. É uma grande emoção sentir que aquele povão todo reunido é fruto do meu trabalho de coordenação de outros colaboradores. Ninguém faz nada sem me perguntar. Desde a quarta feira já me envolvo com a Semutran para o bloqueio de ruas, montagem do portal da festa, várias autoridades municipais já se fizeram presentes na Festa da Tapioca. È o jeito baiano de ser, o espírito festeiro.

Porque o baiano é um povo tão alegre?

Acho que é o clima do lugar, lá na segunda feira já tem a Lavagem do Pelourinho, na terça feira a Lavagem do Bonfim, são dias de festas, tradição já da cidade de Salvador. Já pulei carnaval em Salvador, são 48h de festa continua, só ia para casa para tomar banho, comer e voltar para o carnaval.

Você é uma pessoa estressada?

Normalmente não sou, mas no fim acabo sendo, o tamanho de um evento como esse, muita gente “buzinando” na sua orelha. Já peguei o jeito paulista de ser, de vez em quando me pego falando sozinho. Tenho dois celulares mais o Nextel. No cotidiano a minha imagem em Piracicaba só é vinculada a Bahia pelo sotaque. Quando vou a minha terra natal para visitar a minha família o pessoal me diz: “- Chegou o paulista!”. A primeira Festa da Tapioca, para que fizesse acontecer e permanecesse eu sofri muito. Fiquei várias noites sem dormir.

Na verdade você agita tanto a organização interna como externa da festa?

Tenho muita motivação para orientar os procedimentos, desde um alvará na prefeitura, como as condições de cada detalhe de organização. Dia 25 próximo será realizada uma entrevista coletiva para a imprensa, inclusive com a participação do pessoal da EPTV, filiada a Rede Globo. O Silvestre da Secretaria de Turismo está apoiando muito o nosso evento. Teremos 14 bandas de musica se apresentando.

Você tem conhecimento de outra cidade que faça a Festa da Tapioca?

A cidade de Indaiatuba realizava uma festa tendo a tapioca como atração principal, mas pelo que sei não realiza mais. Acho que Piracicaba é a única cidade com evento dessa natureza.

Você ganhou um apelido?

Agora é Tapioca! O pessoal me chama de Sérgio Tapioca. Atualmente temos estabelecimentos comerciais que vende muita massa para tapioca, essa identificação da cidade com o alimento é em decorrência dessa festa. Onde você passa hoje tem tapioca. Quando iniciou a realização dessa festa até então nem se falava dessa comida. Eu me realizo com a organização e apresentação dessa festa.

Em sua opinião essa festa mudou os hábitos alimentares de uma cidade?

Mudou sim. Em muitos lugares por onde passo eu vejo anunciado: “Temos tapioca”, isso não existia. O “Bem Bahia”, “O Paraíso da Tapioca”, além do meu irmão Bonifácio que faz na Praça Rezendão são locais onde o consumo da tapioca é muito expressivo.

Quantos irmãos da sua família moram em Piracicaba?

São os seguintes: Veríssimo, Leonardo, Cosme, Bonifácio, Gregório e eu. Acabamos todos envolvidos nessa Festa da Tapioca, no dia a dia eles tem outras atividades, apóiam na hora da festa.

Você tem alguma aspiração política?

Não tenho envolvimento direto com política, às vezes apóio alguém ou alguma solicitação. Mas não tenho pretensão política.

Você tem algum retorno financeiro com a festa?

No ano passado tomei quase três mil de prejuízo com a festa, fiz um contrato com uma empresa de segurança, ela não cumpriu, tive que contratar outra empresa, com urgência. Ela não me dá lucro, é mais para manter a tradição nordestina. Tenho que trabalhar muito para a festa não dar prejuízo. O pessoal diz: “Negão tá com a Kombi nova porque está ganhando dinheiro com a Festa da Tapioca”. Tenho uma Kombi 2008, só que financiada. A tapioca não dá esse dinheiro que o pessoal imagina. Tenho projetos para fazer da tapioca minha atividade principal.

Você acredita que esteja ajudando a trazer um habito alimentar e cultural do nordeste para Piracicaba?

Acredito que sim, o Minas Fest Piracicaba, evento realizado pelos mineiros que residem em Piracicaba, neste ano terá um local oferecendo tapioca. Eles passaram a gostar do alimento que muitos experimentaram em Piracicaba.

Você acredita que um dia ouvirá alguém anunciando pelas ruas “Tapioca, tapioca, tapioca de Piracicaba”?

Acredito sim, que vamos chegar lá. Nem na Bahia tem tanto falatório da tapioca. Lá é conhecida como beijú. Temos até um link na internet para quem está fora da cidade poder acompanhar a festa. Sou muito grato ao Prefeito Barjas Negri e a Prefeitura Municipal que sempre deu uma força para que o evento se realizasse, ao Sedema, a Setur, Secretaria de Obras, Semutran, Policia Militar, Guarda Municipal, Polícia Civil. Sem todos esses apoios essa festa não alcançaria a dimensão atual.












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