sábado, setembro 29, 2012

VANDA MARIA VICENTIN DEFAVARI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de setembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:



ENTREVISTADA: VANDA MARIA VICENTIN DEFAVARI


A mobucana Vanda nasceu no dia 23 de março de 1958, foi registrada no distrito de Capivari, uma vez que em Mombuca, sua terra natal, não dispunha de cartório de registro civil. Seus pais Antonio Vicentin e Mathildes (Rute) Belanga Vicentin tiveram quatro filhos: Maria Rute, Vanda, Antonio Vinsentin Filho e José Fernando, já falecido. Antonio Vinsentin comercializava batatas no atacado. Sua mãe, além dos serviços domésticos tinha seu próprio negócio no setor de vestuário.


O fato de seus pais serem comerciantes influenciou em sua aptidão para o comércio?


Minha mãe tinha uma loja era dentro de casa, desde pequena eu estava sempre em contato com o comércio. Meu pai ia buscar batatas na roça e as levava para o Ceasa em São Paulo, nós sempre acompanhamos meu pai em tudo. Muitas vezes meus irmãos e eu levantávamos as duas horas da manhã e íamos todos lavar batatas.


Esse processo como funcionava?


A batata vinha da roça, era lavada e ensacada. Era tudo mecanizado, selecionadas as batatas miúdas das graúdas, A melhor batata é a binge.


Seus primeiros estudos foram em que localidade?


Estudei na Escola Estadual Bispo Dom Mateus, fiz o curso para admissão e o ginásio em Capivari. Estudei química no Colégio Dom Bosco, em Piracicaba, sou bacharel em Admiistração de Empresas pela Unimep. Trabalhava com meus pais, e por dois anos trabalhei na Assistência Social em Mombuca na administração do prefeito Abrão José. Na época eu tinha 22 anos de idade.


Quais eram os maiores problemas sociais encontrados pela senhora em seu trabalho de assistente social?


Havia muitas pessoas dependendo de doações. O importante é elevar a auto-estima dessas pessoas, para que sejam capacitadas e, saibam que podem conquistar o seu lugar sem depender de favores. É dar dignidade á seres humanos.


Quando a senhora conheceu seu marido?


Conheci meu marido Carlos Defavari há 38 anos. Ele era magrinho e cabeludo. Em Mombuca existe até hoje uma festa religiosa, em louvor a Santo Antonio, foi a primeira vez em que vi o Carlos em Mombuca. Eu tinha uns 17 anos de idade, namoramos por uns oito anos. Ele fazia faculdade especializando-se em Desenho Técnico, fazíamos a faculdade na mesma universidade, a Unimep. O Carlos ia com um pessoal de Rio das Pedras e eu ia com uma turma que era transportada por uma perua de Mombuca.


Vocês casaram-se onde?


Nosso casamento foi na Igreja Matriz de Mombuca, Paróquia de São Pedro. Em 25 de setembro de 1982. Viemos morar em Rio das Pedras na Avenida José Augusto da Fonseca, por sete anos. Tivemos dois filhos: o Junior e a Lays.


A senhora tem um ar de pessoas que seguem a linha dura, no seu ponto de vista é uma característica de alguém da sua família?


Minha mãe era mais durona, meu pai era mais flexível no trato.


As mulheres dominam o mundo?


Acredito que sim. Muitas pessoas dizem que eu tenho características de autoritária, severa, eu penso que sou acima de tudo muito justa, No restaurante Texas somos em 18 funcionários, todos sabem que se for necessário lavar copos, panelas eu estarei fazendo isso. É uma equipe que trabalha com harmonia, se precisar estaremos sempre juntos. Eu mando, mas também sei fazer, isso foi uma coisa que a minha mãe sempre ensinou. Quando era solteira tinha a empregada que fazia tudo na nossa casa. Só que quando a empregada não vinha, minha mãe dizia: “- Hoje a empregada não veio! Quem vai fazer são vocês!” Nunca nenhum de nós reclamou.


Qual era a atividade profissional do Carlos quando vocês se casaram?


Tínhamos um supermercado bem pequeno situado lá embaixo da Rua Prudente de Moraes, foi derrubada uma parede e o supermercado foi até o fundo. Lembro-me que isso foi no dia do aniversário da avó dele. Após isso foi derrubada a casa da minha sogra ampliando o mercado. Na época quando o supermercado fechava, nós mesmos que limpávamos tudo, não havia funcionários para ficar limpando. Quando foi derrubada a casa da minha sogra e ampliado o supermercado, fechávamos às 18 horas, só eu e o Carlos éramos casados, acabávamos de jantar e íamos preparar para aumentar o mercado, havia apenas um plástico separando a parte existente da parte a ser ampliada. O Carlos trabalhava como açougueiro no supermercado nessa época. Eu comecei lavando verdura, fazendo maionese, junto com a minha sogra que sempre foi uma mulher de muita fibra Casei, nossa lua de mel foi no sul do país, Gramado, Canela, até a Argentina, fomos com uma Caravan marrom. Quando voltei da lua de mel comecei a ajudar a minha sogra: lavando verduras, temperando carne, fazendo maionese, trabalhava no açougue como balconista, isso foi em 1982. Após algum tempo depois me colocaram no caixa. Algum tempo depois fui pra o escritório. Fomos para Piracicaba, nessa época, já tinha os nossos dois filhos. Morávamos em Rio das Pedras, levantava as quatro horas da manhã, ás quatro e meia passava para pegar uma menina que morava perto da Arcor, era babá das nossas crianças. Eu com o Carlos íamos abrir a padaria às cinco horas em Piracicaba. Isso foi por vários anos. Na época nós tínhamos comprado a Padaria do Vovô na Vila Rezende, em sociedade com o tio do Carlos, o Carmelindo. A Pão & Cia. foi construída pelo Carlos e pelo Altair onde anteriormente era um barracão de uma escola de samba, na Avenida Armando Salles de Oliveira. Por muitos anos mantiveram a franquia Pão & Cia. Deixaram de ser franqueados para montarem a Di Pappi. Em outubro voltamos para Rio das Pedras.


A Pão & Cia assim como a Di Pappi, ambas sob o seu comando inovaram o conceito de padaria em Piracicaba?


O Carlos buscou um conceito de padaria que havia em Belo Horizonte, lá as padarias são muito diferentes, foi um marco na história de Piracicaba a instalação da Pão & Cia.


A clientela que freqüentava a padaria era de alto poder aquisitivo?


Era freqüentada por pessoas de bom gosto e alto nível. O que pesava no orçamento da Pão & Cia. é que ela não usava aditivo químico, com as mudanças de postura do consumidor a respeito disso, hoje seria um estrondo em Piracicaba. Na época o pão francês não era muito aceito. Sua aparência era diferente, só que era uma delícia. A baguete da Pão & Cia era maravilhosa. A franquia ficava muito onerosa, porque não incidia só nos pães, mas também nos produtos de terceiros. A padaria de Piracicaba da Pão & Cia.era o segundo faturamento do Brasil inteiro. Só perdíamos para Maceió, isso em um universo, na época, de 33 padarias franqueadas pela Pão & Cia. Por razões comerciais o Carlos teve que voltar a trabalhar em Rio das Pedras, eu permaneci com a padaria, tive que arrumar alguém que pudesse trabalhar comigo, das seis da manhã até nove horas da noite de segunda a segunda, sozinha é praticamente impossível manter esse ritmo. A Bete da Padaria Takaki tornou-se minha sócia. Após permanecer por três anos na Di Pappi, por motivos logísticos decidi vender minha participação na padaria. A família tinha adquirido o Restaurante Texas em Rio das Pedras, com a condição de que eu deveria administrá-lo. Gosto muito do ramo de restaurante, assemelha-se muito ao ramo de padaria. Onde se fabrica o produto o cuidado tem que ser redobrado. Digo que: “Comida que não é feita com amor dá dor de barriga nos outros”.Não é assim? Temos que por amor no que fazemos. Dedico-me de corpo e alma, faço de tudo para atender meus clientes.


A que horas a senhora chega ao restaurante?


Hoje cheguei era 6:30 da manhã. Às 11:00 horas o restaurante é aberto para servir aos clientes. De segunda a sexta feira fecha as 14:00 horas. Aos sábados e domingos fecha às 15 horas. Vou chegar em casa em torno de 17:00 horas. Isso sem contar que sempre tenho que providenciar algo para o restaurante. Adoro trabalhar aqui no Restaurante Texas.


Rio das Pedras não é uma cidade de grande porte, seu conhecimento com os moradores da cidade é muito grande, como é a sua relação com eles?


Acho que é uma relação boa, tanto pelas pessoas que conheço no restaurante como as que conheço no supermercado. Eu gosto de estar no meio do povo, quem está em um comércio da nossa natureza tem que ser visto, ouvir o cliente, saber de suas necessidades e preferências, escutar reclamações. Não é só o funcionário que deve ouvir os reclamos do cliente, eu tenho que estar presente, ouvir, sentir o desabafo do cliente. Adoro escutar quando alguém vem e diz: “Vanda está errada nisto!” A pessoa está falando para mim mesmo. Recolho carrinhos de compra, pego cestinhas. Tenho funcionários que dizem: “Que dó em ver você pegando cestinhas e carrinhos!” Só que estou fazendo com amor. Adoro o que eu faço. Passo perto de alguém e escuto: “Vanda, não estou achando tal produto, onde tem?” Não é gostoso ouvir isso? Traz satisfação para mim. No trajeto até o produto que a pessoa necessita pode ocorrer de eu perguntar: “Você já experimentou este produto? E tem este outro também!”. Cria-se uma relação forte de proprietário com cliente.


Vanda, o que você produz no restaurante com a absoluta certeza de que não irá sobrar nada?


Isso é relativo, depende do dia. Aos domingos tenho colocado muito salmão no bufê. No último domingo uma cliente disse-me: “Vanda, vim buscar salmão e hoje não tem:”
Disse-lhe que tinha substituído por camarão, mas que no próximo domingo vou fazer salmão. Nas segundas feiras as pessoas têm a mania de fazer regime. É dia de entrar com pratos leves. Filé grelhado. Não pode colocar uma carne pesada na segunda feira. Um fato interessante é que acostumaram com feijoada, mesmo com o calor muitos pedem feijoada.


Quem administra bem um restaurante administra bem uma casa?


Acredito que sim.


E quem administra bem uma casa administra bem uma cidade?


Também acredito! Tenho a certeza disso! Absoluta! Na minha casa é apenas uma funcionária. No restaurante são 18. Tenho um encarregado que é o meu braço direito, o Luizinho, faz vinte anos que trabalha conosco. Acho que esse negócio de ditadura não funciona. Acabou o tempo da escravidão. O que eu exijo deles, eu cobro. Tem que haver uma boa relação com os funcionários. Imagine se eu brigar o tempo todo com os funcionários da cozinha, eles estão fazendo comida. Imagine o perigo que isso representa.


Você é brava?


Fico brava na hora, se virar as costas acabou. Não fico me martirizando por algo que aconteceu errado. Muitas vezes eles me entendem sem que haja a necessidade de falar nada. Sempre digo que temos que tratar os nossos clientes da mesma forma que gostaríamos de sermos tratados.


A senhora tem muita experiência bem sucedida na administração privada e que pode ser aplicada na administração pública?


Eu digo que se dependesse de mim o Carlos jamais se meteria em política. Em nossas atividades já temos serviço de sobra para fazer. Só que ele idealizou esse sonho durante trinta anos. O Carlos soube entender quando deveria ser o seu momento, soube deixar seu sonho para o momento certo. Sou cada vez mais apaixonada por ele por ser um homem justo, leal, correto.


A senhora é religiosa?


Sou católica, praticante.


A senhora passa a imagem de uma pessoa realizada.


Sou com certeza! Sou amada, bem resolvida, muito feliz, amo tudo que eu faço e tudo que eu tenho.


Qual sua opinião sobre a internet?


Acesso a internet, acho que há muitas coisas boas, mas também tem muito lixo, a semelhança de jornal, onde se vê muita coisa ruim. Rio das Pedras poderia ter uma “nuvem” de acesso público e gratuito à internet, cada um aproveita o que quiser. Já dispomos gratuitamente dessa praticidade no restaurante, é muito comum clientes usarem seus computadores durante as refeições.


No seu conceito Rio das Pedras deve crescer?


Tem que crescer faltam várias coisas para a cidade. Daqui a pouco não precisaremos mais correr à Piracicaba em busca do que hoje ainda não temos aqui.


Rio das Pedras merece um espaço público, com infra-estrutura definitiva para realização de eventos, sem que interfira no sossego da população?


Sei que existe um projeto nesse sentido.


Cavalo é um animal que a senhora gosta?


Tenho que gostar, meu filho é veterinário de animais de grande porte. Não cavalgo, apenas ando de charrete com o meu marido. Dia 8 de outubro um grupo irá até Aparecida do Norte. O Carlos irá compor esse grupo, a viagem demora uns 10 dias. Minha mãe e eu vamos até lá para encontrá-lo.


Você tem algum animal de estimação?


Tenho um cachorro da raça pincher, o Tião, ele está obeso, em fase de dieta.


Qual é o seu passatempo preferido?


Ir à chácara, deitar em uma rede e ler um livro. Gosto muito de pessoas ao nosso lado, na chácara sem gente não tem graça. Eu gosto de gente.


Seu marido Carlos Defavari ganhando a eleição, qual será a primeira coisa que a
senhora irá fazer?


Dormir com o prefeito!


A eventual possibilidade de vir a ser a primeira dama do município, com todas as tarefas inerentes ao cargo a assusta?


Nem um pouco! É um novo desafio para o qual estou preparada. Gosto de novos desafios. O Rotary de Rio das Pedras por 43 anos só teve homens como presidente, fui a primeira mulher a presidir o Rotary de Rio das Peras. Foi um grande aprendizado. Em três anos conseguimos comprar 50.000 vacinas contra poliomielite. Se no Brasil a incidência da doença é baixíssima, no mundo há lugares onde essa doença representa grave ameaça. Quem banca a vacina é o Rotary, o nosso Rotary conseguiu 50.000 doses da vacina.


E esse esgoto a céu aberto, cruzando a cidade, chamado Tijuco Preto?


Acho que esse deve ser um trabalho a ser desenvolvido pelo futuro prefeito. Em 1958 Piracicaba canalizou o Ribeirão Itapeva.


Como cidadã a seu ver qual é um dos grandes problemas da cidade de Rio das Pedras?


A nossa praça central que poderia ser um lugar de encontro das famílias rio-pedrenses, tornou-se um local impróprio para freqüência de famílias. Há uma guarita, mas não tem nenhum policial. Um banheiro fétido.


Em Rio das Pedras em governos anteriores, foram criados bairros inteiros com fins eleitorais, o objetivo era trazer pessoas de localidades distantes unicamente para formar “um curral eleitoral”, sem infra-estrutura adequada, o reflexo está sendo agora?


Os possíveis políticos responsáveis por essa manobra não se beneficiaram da mesma.


Atrás de um grande homem há uma grande mulher?


Eu digo que há uma mulher ao lado de um grande homem, não atrás.


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