quinta-feira, outubro 18, 2012

LUIZ ANTONIO LEITE - MADALENA

REPRODUÇÃO DA ENTREVISTA FEITA NOS ESTÚDIOS DA RÁDIO EDUCADORA DE PIRACICABA EM 3 DE MAIO DE 2005
                                                         Foto: João Umberto Nassif

                                                       LUIZ ANTONIO LEITE - MADALENA 

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS Produção e Apresentação Jornalista e Radialista JOÃO UMBERTO NASSIF Transmitido pela RÁDIO EDUCADORA DE PIRACICABA AM 1060 KHERTZ Aos Sábados das 10:00 às 11:00 horas da manhã.
Contato com João Umberto Nassif        joaonassif@gmail.com


ENTREVISTADO: LUIZ ANTONIO LEITE - MADALENA, Presidente do Centro Comunitário do Bairro Boa Esperança.


Luiz Antonio Leite é uma figura folclórica de Piracicaba, muitas vezes você absorto em seus pensamentos foi surpreendido, descontraiu-se com as inocentes brincadeiras que Luiz Antonio Leite proporciona aos habitantes de Piracicaba. Hoje vamos conhecer o lado sério, de trabalho humanitário, de luta pela sua comunidade. O cidadão Piracicabano Luiz Antonio Leite é popularmente conhecido pelo nome de Madalena.


Você é cidadão Piracicabano?


Sou nascido em Piracicaba, no dia 27 de dezembro de 1956. Nasci no local denominado Boqueirão, situado no Bairro Alto. Meu pai chama-se Inácio de Moura, que eu não cheguei a conhecer. Minha mãe é Luisa Leite. Somos em 5 irmãos. Estudei no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. Aos 14 anos de idade comecei a trabalhar. Aos 13 anos de idade ainda brincava de casinha. Não gosto de jogar bola. Meu negócio era mais arrumar a casa, fazer a comida. Meu primeiro trabalho foi na casa da Ditinha Penezzi. Ali aprendi a fazer muita coisa que ela me ensinou. Ela era muito exigente. Na casa dela a maioria era composta de advogados, eu lavava uma camisa branca do doutor, quando ela via um amassadinho ela me chamava e dizia: - Você vai passar essa camisa de novo! Está mal passada! Nunca respondi. Eu passava tudo de novo. Eu queria aprender. Ali aprendi muita coisa, a cozinhar, a fazer doces.


Você chegou a queimar alguma comida?


Cheguei a queimar arroz.(risos) A casa era muito grande. Eu tinha que fazer de tudo, lavar, passar, enquanto o arroz ia secando eu ia fazendo outro serviço. Quando percebia o arroz já estava queimado!


Você se considera bom profissional para limpar uma casa?


Sou. Até agora em todas as casas em que trabalhei nunca ninguém reclamou! Eu faço uma faxina das boas! Tiro tudo do lugar. Não tenho hora para sair. Tem empregada que vai trabalhar, quando o relógio marca 4 horas da tarde quer ir embora. Quando eu trabalhava por dia, entrava às 7:00 horas da manhã e saia às 6:00 horas da tarde. E arrumava a cozinha da janta ainda! Para não deixar para a patroa fazer! No tempo em que eu era mais molecão não tinha onde ficar eu ficava até as seis horas da tarde no trabalho, assim eu também jantava!


Você trabalhava cantando?


Cantando, ligava o rádio, sempre na maior animação.


Você é católico?


Sou católico graças a Deus! Quando era garoto morava no Bairro Alto, ia assistir a missa da Igreja Bom Jesus. Após a missa dormia no banco da igreja. No dia seguinte uma mulher vinha abrir a igreja, me via encolhidinho e dizia: - Menino você dormiu aqui! Ela me dava um copo de leite e pão com manteiga.


Você tinha uma relação amistosa com seus irmãos?


Não. Com meu irmão por parte de pai não. Ele era contra tudo que eu fazia. Não podia ir um colega meu lá em casa que ele tocava. Ele tinha preconceito. Meu padrasto também não gostava muito do meu jeito de ser. Eu ficava muito triste, meus colegas iam me convidar para sair e ele tocava! Eu dizia para a minha mãe, quando tiver uns 14 ou 15 anos de idade vou sair desta casa. Ela adoeceu, não tinha jeito de eu sair. Eu sozinho que trabalhava para sustentar a todos em casa! Até que um dia sai de casa. O primeiro quartinho em que fui morar foi no Bairro Verde, chamado antigamente de Coréia, fui morar na casa da Dona Irene. O meu quartinho era de tábua. A minha cama era de jornal, com uma cobertinha, e uma corda em forma de varal que eu usava como cabide para por as minhas roupas.


Você foi trabalhar em república de estudantes?


Trabalhei na república Canecão, ficava na Rua Benjamin Constant, era uma república antiga. Lá eu cozinhava, lavava roupa, deixava tudo em ordem. Nessa época eu tinha uns 16 a 17 anos. Até aquela época me chamavam de Luiz. Só que eu não gostava que me chamassem por esse nome. O responsável pela república era o Robertinho, ele era o bom da boca, era o homem que tinha mais dinheiro na república. Ele formou-se Engenheiro Agrônomo. Normalmente eu não trabalhava aos domingos, mas ele disse que eu deveria ir trabalhar no próximo domingo. Foi feita uma votação, meu nome foi escolhido em uma eleição pelos estudantes. Quem sugerisse o nome vencedor ganharia uma caixa de cerveja. Teve muitas sugestões de nomes: Maria, Vanessa, etc... Eu não gostei de nenhum. Foi feita uma nova eleição. Na segunda votação o Carlinhos sugeriu Madalena. Teve então o batizado como Madalena, com diploma, churrasco e tudo! Foi muita gente. Meninas, rapazes. Foi a coisa mais linda! Eu tinha feito um arroz de forno.


Você bebe? Fuma? Joga?


Não bebo, não fumo e não jogo!


Você mesmo se encarregou de divulgar o seu novo nome, Madalena?


Eu mesmo. A coisa pegou de uma tal forma que se me chamarem de Luiz sou capaz de até nem responder. Desde criança sou Madalena! Vou responder por Luiz no cartório, no banco. Na minha conta de água vem escrito Madalena. Vem escrito Luiz Antonio Madalena!


Você adotou o nome Madalena em suas duas candidaturas a vereador?


Na primeira candidatura não pude adotar. Deu uma confusão. Colocaram outra Madalena para concorrer comigo. Hoje meu nome para efeitos eleitorais é Luiz Antonio Madalena. Hoje Madalena é um nome oficial.


Você trabalhou em casa de gente muito importante em Piracicaba?


Trabalhei sim. Trabalhei por um período de um ano mais ou menos, na casa do Deputado Federal João Hermann Neto, ali no bairro Cidade Jardim. Lá eu fazia tudo. Cozinhava, lavava, passava. Ele é uma pessoa simples como nós. Ele não tem luxo na comida. A mistura sim, ele gosta de filé mignon, carne toda de primeira! Eu faço tudo isso. Não tenho preguiça.


Na hora das refeições você come junto a família para a qual trabalha ou em um cantinho separado?


Logo que comecei a trabalhar por dia, eu achava chato sentar a mesa com o patrão. Comia na cozinha. Só que eles ficavam bravos. Diziam: Não! Não! Você é como nós! Pode vir sentar a mesa! Passei a sentar a mesa. Até hoje sento a mesa com qualquer patrão.


O guarda-roupa da sua casa tem mais roupa do Luiz Antonio Leite ou da Madalena?


Para falar a verdade tem mais roupa da Madalena. Ela é mais vaidosa!(risos) Do Luiz tem terno, sapato preto, marrom, cinto, relógio. Já usei terno! Fiquei a tarde inteira atendendo ao telefone no meu serviço. E não era homem que ligava, era só mulher!(risos) Algumas diziam que eu tinha ficado muito bonito de terno, por que eu não passava a usar só terno, outras ligavam para falar abobrinha!(risos).


Você colocou terno e foi paquerado por algumas mulheres?


Exatamente! Só que elas perderam tempo à toa! Encostei o terno rapidinho! (muitos risos)


Você quando era criança sofreu bastante, e isso refletiu muito na sua vida toda, e talvez por isso hoje você atua como presidente do Centro Comunitário do bairro Boa Esperança?


A Boa Esperança é um bairro carente. O Javari ainda é mais carente do que a Boa Esperança! O Javari não tem asfalto, não tem luz, o bairro Monte Rei tem muitos problemas sérios. Dá dó. Eu brigo muito para melhorar essa situação. Cobro atitudes dos vereadores, do prefeito. Todo mundo recolhe seus impostos. No bairro Javari ninguém paga imposto, mas eles querem pagar para terem uma situação melhor no bairro! Pagando os impostos, é melhor para a Prefeitura e para os moradores também.


Você trouxe uma pasta com muitas fotografias das ruas com problemas, praticamente não tem ruas, o leito carroçável são apenas enormes buracos. Isso não é uma situação nova, não é uma crítica a administração atual.


Exatamente. Não é uma crítica contra a administração atual. Muitas vezes no meio da noite sou acordado para ajudar alguém do bairro. Esses dias uma mulher recebeu uma cobrança judicial de impostos que o falecido marido estava devendo. Eu orientei para que buscasse um advogado. Defendo muito a prática de esportes pelos moradores. As crianças não encontram um local com um brinquedo, não tem um lugar para ir. Isso é uma forma de tirar as crianças das ruas. O Clubinho só atende das 8:00 da manhã até às 4:00 horas da tarde. E domingo? Como é que fica? Sábados? Feriados? Essas crianças ficam na rua! Se tivesse uma quadra de basquete, um brinquedo qualquer elas não estariam na rua!


Você promove duas festas anuais?


Promovo uma festa em todo dia 12 de outubro e no Natal. Saio pedindo contribuições pelas lojas, e consigo muita coisa! A Mercedes do supermercado Tutti Frutti me ajuda muito! As pessoas que se vestem de Papai Noel me ajudam muito. Tenho que agradecer a essas pessoas e a Deus que me ajuda.


(Nesse momento a ouvinte Silvia faz a pergunta: Estou ouvindo a entrevista da Madalena, acredito que muitas pessoas vivam um conflito interno muito grande sobre a sua opção de vida. Gostaria de saber com que idade ela percebeu que era uma pessoa diferente, quais foram as suas dificuldades, os problemas que ela enfrentou, se ela procurou algum médico, ajuda psicológica, ou simplesmente assumiu a sua condição).


Eu não fui ao médico. Aos sete anos de idade já gostava de brincar de casinha, com bonecas, meu pai era contra, brigava com a minha mãe. Minha mãe sempre me apoiou. Ela dizia: - Não posso abandonar meu filho porque ele é assim! Ele não é o primeiro! Eu sempre quis ser assim, nunca quis mudar. Após perder a minha mãe sofri muito. Resolvi seguir a minha vida do jeito que eu queria. Passei a usar lenço na cabeça, vestidinho, passeava pela Rua Governador Pedro de Toledo de saia, eu não me arrependo de ser assim, para conseguir a minha casa sofri muito! Tenho que agradecer em primeiro lugar a Deus, quando eu não tinha um lugar para morar eu pedia a Ele: Deus eu sei que um dia vou ter a minha casa! Acho que os pais devem apoiar o filho em sua opção e não simplesmente colocá-lo na rua!


Negro, pobre e homossexual, tem que ser muito macho para assumir uma situação dessas?


Com certeza sim.


A ouvinte Ângela do bairro Primeiro de Maio participa do programa dizendo que Madalena trabalhou com ela por quase dois anos, isso foi quando eu tinha meus dois filhos pequenos, a Madalena é a pessoa mais maravilhosa que eu conheci, de uma humildade, de um ensinamento de vida, nunca teve a liberdade que eu ia dizia para ela ter em minha casa. Eu só queria dizer que se tanta gente fosse como a Madalena o mundo seria bem melhor! Na época em que ela trabalhou em minha casa uma criança minha tinha 8 anos de idade outro uns 5, eles cresceram vendo a Madalena, ela é muito carinhosa, uma pessoa que sabe os limites, na rua, Madalena brinca com todo mundo, dentro da sua casa ela é uma pessoa que não tem nada a ver com aquela Madalena! Faz um serviço que ninguém faz melhor do que ela! Em casa todo mundo era Luiz. Meu marido se chama Luiz, assim como meu filho e também a Madalena! Eu era cercada de Luiz! Sou muito feliz de ter tido um dia a Madalena dentro da minha casa.


Você na verdade curte um grande barato quando está no terminal de ônibus urbano, ou na Rua Governador Pedro de Toledo, centro de Piracicaba, ali é a sua passarela,você encontra aquele machão acompanhado é ai que você deita e rola?


Esse machão que passa com a mulher e dá uma de homem, é ai que eu gosto de mexer! Falo Lindo! Bonito! Você é um gatão!(muitos risos). Ele fica sem jeito, e me cumprimenta!


É verdade que uma vez você arrumou uma confusão na Rua Governador, em uma esquina aonde tinha um pelotão de policiais?


Isso foi na véspera de um Natal. Eu estava brincando gritando: Motoristaaaaaaa! Nesses dias tinha aqueles moleques novos de guarda (aspirantes), todo mundo buzinando, eu gritando, na esquina das Ruas XV de Novembro com a Rua Governador, bem na esquina da farmácia, me cercaram. Disseram: - Você está preso! Comecei a discutir feio com eles! Começou a lotar de gente. Um carro que vinha pela Rua XV de Novembro parou bem próximo a mim. Um senhor de terno desceu, era o delegado! A situação foi esclarecida, e assim eu pude seguir meu caminho em paz!


Você é exímio lutador de caratê e capoeira?


É verdade. Só que acho que não há necessidade de ficar falando isso para todo mundo! Eu guardo isso para mim. Se alguém pensa que vai bater em mim, vai se enganar!


Você fez um forrobodó no Estádio do Morumbi em São Paulo?


Foi uma briga que saiu lá. Foi em um jogo do XV de Novembro contra o São Paulo, fomos de trem! A torcida do São Paulo veio para cima de nós, tivemos que bater neles! Não gosto de briga. Não provoco ninguém. Fico na minha! Mas se provocarem, sai de baixo!


Você fazia bagunça no bonde?


Andei muito no bonde! Saia da escola para vir no terminalzinho do centro. Beijava um, gritava!


Você gosta de novela?


Adoro. Não choro, mas eu gosto. Adoro cinema. Não gosto de filme romântico. Prefiro filme de ação com o Rambo, Arnold Schwarzenegger, filme de terror.


Você foi padrinho de formatura de uma turma de formandos?


Fui. Eu não queria ir, não tinha roupa. Fui à casa de uma amiga minha, ela me emprestou a roupa e eu fui. Usei um blusão, uma calça, saia azul com uns desenhos bonitos, e o tamanco no pé! Foi a coisa mais linda!


Esse tamanco seu tem uma história curiosa?


Na verdade é o outro tamanco que eu tinha. Sou muito religioso. Freqüento a igreja da Catedral e a Igreja do Bom Jesus. Vou à missa aos domingos. Confesso-me. É bom confessar! Há uns quatro ou cinco anos eu tinha um tamanco de mola, era um tamancão com uma mola embaixo, esse tamanco eu ganhei de uma pessoa que trouxe da Itália. Eu ia a missa com o tamanco, ele fazia um barulho, que o padre coitado, parava a missa e todo mundo olhava para traz para ver a Madalena chegar!(muitos risos)


Quando você está dentro de uma igreja prestam mais atenção no padre ou em você?


Os fieis assistem a missa. Mas sempre tem alguém que fica olhando para mim!


Você gosta muito de carnaval?


Eu adoro! Saio na Portela. Eu adoro a ala das baianas! Eu saio todo ano de baiana!


Você foi candidato a vereador em piracicaba por duas vezes. Na primeira vez você teve 1200 votos. Na segunda vez você teve 1620 votos. Você hoje é suplente de vereador?


Exatamente isso. Se o vereador Chico D’Água deixar a cadeira hoje ocupada por ele, eu assumo como vereador.


É verdade que você tem o sonho secreto de ser prefeito de Piracicaba?


É verdade. Se Deus quiser. Tenho muita fé em Deus. Vou trabalhar muito para ajudar a classe pobre. Eu ando em todo lugar. Em todos os bairros. Eu tenho dó de ver aquela gente reclamar da vida. Gente que não tem o que comer. Eu não posso ajudar ninguém porque também passo apertado!


Você se informa muito?


Gosto de ler jornal. Assisto os noticiários de televisão.


No seu ponto de vista porque existem pessoas miseráveis?


As pessoas da alta classe pensam mais neles próprios. Eles pensam no povo na hora do voto. Após as eleições, eles não querem mais saber dos problemas que existem nos bairros. Quem é presidente de associações de bairro sabe o que o povo passa. Nós fizemos um trabalho assistencial junto com a igreja, isso quando eu era jovem, naquele tempo não se passava fome. Visitávamos casa por casa, e levávamos cesta básica para cada família necessitada. Hoje você não vê mais isso!


Você conhece o mar?


Nunca vi e nem quero ver! Se me oferecerem uma passagem para Aparecida do Norte, Pirapora, eu vou! Mas sair da minha casa para ir para Santos, não vai acontecer nada. Eu já sou negro, vou para lá para ficar mais preto ainda?(risos).


Meu santo de devoção é São Benedito, Santo Expedito, Nossa Senhora de Aparecida e Bom Jesus de Pirapora. Sou bastante religioso, Graças a Deus!








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