sábado, fevereiro 16, 2013

CVV CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 16 de fevereiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADOS: CVV CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA


DIRCEU ANDREOTTA GRANJA e ELIANE MARGARETE SOARES




A Sociedade de Apoio a Vida Dr. Nelson Meirelles é a entidade piracicabana que adota o programa CVV. Dirceu Andreotta Granja é um dos voluntários, nascido no bairro rural Monte Branco a 21 de setembro de 1955, filho de Alcides Zonetto Granja e Osvaldina Andreotta Granja, que tiveram mais três filhos: Luis, Jair, Agnaldo. Seu pai era agricultor, adquiriu um caminhão e passou a ser caminhoneiro. Em 1961 a família veio morar na cidade em uma casa situada a Avenida Dona Jane Conceição, uns 130 metros abaixo da Praça Takaki, no bairro da Paulista. Fiz a primeira comunhão na Igreja São José, o pároco era o cônego Luiz. Lembra-se do Cesac ainda cercado por bambu. Aquela região sempre foi muito rica em atividades, o Circo do Veneno instalado em frente a sua casa. O Carlão Ferreiro morava a uns 20 metros da sua casa, ele fabricava ferraduras , forjava ferros, dobradiças, na época era uma função importante. Conheceu Romeu Gomes de Oliveira, o Rodomeu, quando ele estava começando suas atividades com a transportadora, ele e seus filhos tinham alguns caminhões, não era uma transportadora ainda, prestavam serviços para a Klabin, sendo que também terceirizavam o serviço alugando caminhões de outras pessoas. Com isso foram crescendo. Quando garoto Dirceu foi cliente de Crispim Durrer, adquiriu muito papel de seda para fazer papagaios, hoje denominado de pipas. Lembro-se que ao lado havia o açougue do Scarpari onde seus dois filhos Toninho e Alcides também trabalhavam, em frente ao armazém do Fornazier ( Local onde hoje é o Supermercados Balan). A família Scarpari montou o primeiro supermercado daquela região, mais tarde passou à família Canale que permanece nessa atividade até hoje. Quando garoto jogou muito futebol onde atualmente funciona a Escola ETEC Escola Técnica Estadual. Jogou na várzea como quarto zagueiro, zagueiro central, jogava bem. Estudou o primário n Grupo Escolar Dr. João Conceição, o ginásio no Ginásio Estadual Prof. Dr. Alcides Guidetti Zagatto, o colegial no Colégio Dr. Jorge Coury.




O senhor tem algum hobby?


Não. Me dedico ao trabalho voluntário, no CVV já há 10 a 11 anos, realizo trabalho voluntário em uma outra entidade, isso consome o tempo disponível fora do trabalho. Sou casado há 29 anos.


Qual é a sua profissão?


Sou engenheiro agrônomo formado pela ESALQ na turma de 1982. Trabalho atualmente como funcionário público municipal no cargo de fiscal de construção civil.


Eliane Margarete Soares você é nascida em que cidade?


Nasci na cidade de Limeira a 16 de junho de 1972. Vim estudar Administração de Empresas na UNIMEP e acabei permanecendo em Piracicaba. Em Limeira fiz o curso primário na Escola Antonio de Queiroz, estudei contabilidade no Colégio Bandeirante.




Dirceu, quando o senhor conheceu o CVV?


Eu me lembro do CVV quando ele situava-s na Rua Regente Feijó, isso foi em 1982 ou 1983, ao passar em frente vi uma placa escrita “CVV Centro de Valorização da Vida. Venha conversar conosco”. Isso me chamou a atenção. Na época eu acabei saindo de Piracicaba fui trabalhar em Porto Seguro, Bahia, como engenheiro agrônomo, estava montando uma destilaria em Eunápolis. Após sete anos trabalhando fora de Piracicaba, em 1990 houve a quebra do Proálcool. Foi no período do Plano Collor, prestei concurso e ingressei na Prefeitura de Piracicaba. Dois meses depois de ingressar na prefeitura recebi um convite pra trabalhar em São Pedro do Turvo, em uma destilaria chamada Arcângelo, optei por ficar em Piracicaba.


                            Dr. Nelson Meirelles que doou a casa onde funciona o CVV


                            O radialista Luiz Copolli, o famoso Titio Luiz, que após utilizar a casa como posto de atendimento para distribuição gratuita de remédios, cedeu-a para o CVV.

 

Eliane, quando foi fundado o CVV em Piracicaba?


Foi fundado no dia 16 de junho de 1982 por: José Lutero Rodrigues, Antonio Agostino C. Souza, José Antonio Urbano, Wanderley Serrow Camy, Higino Carlos Trindade, João Luiz Lopes Pastorelli, Florisval dos Santos, Manoel Messias Lobo e Antonio Carlos da Costa.


Eliane como você conheceu o CVV?


Após concluir a faculdade senti a necessidade de fazer um trabalho voluntário, que não envolvesse a distribuição de bens materiais. Lembro-me que vi o anuncio do curso para novos voluntários do CVV e assim vim para cá.


Você já sabia quais eram as atividades do CVV?


Não muito bem. Quando eu era criança via o comercial veiculado pela televisão, do telefone preto do CVV. Diziam: “Ligue para nós, um amigo do outro lado da linha”. Eu achava essa frase muito bonita.


Eliane o que o CVV faz exatamente?


A função do CVV é facilitar o desabafo das pessoas. Estamos aqui como um amigo do outro lado da linha. Damos apoio emocional para a pessoa. Esse apoio emocional se dá através da conversa; além do atendimento por telefone temos também o chat. O endereço do chat é http://www.cvvweb.org.br/, funciona das 16 horas até as 23 horas. Atinge mais o público jovem, sem deixar de incluir um pouco do público adulto. O chat fica espalhado pelo Brasil, são voluntários treinados, passa por um curso, o atendimento pode ser feito de casa, não precisa vir ao posto CVV.


 

O CVV é uma ONG?


Legalmente não. Ela é denominada como Sociedade de Apoio a Vida Dr. Nelson Meirelles. Hoje tudo que é filantrópico é levado para uma ONG, muitos entendem que somos uma delas. Somos, isso sim uma sociedade de apoio. Uma sociedade civil sem fins lucrativos.


Quem criou o CVV?


No Brasil surgiu em 1962, com um grupo de jovens em São Paulo, o primeiro posto foi na Rua da Abolição. Eles eram de uma determinada religião, queriam desenvolver um serviço voluntário, não sabiam exatamente de que forma fariam isso, pelo fato de serem muito jovens. Foram aconselhados a irem aos hospitais e conversarem com os pacientes internados. Encontraram muitas pessoas que haviam tentado o suicídio, isso foi no Hospital das Clinicas. O tratamento dado à essas pessoas resumia-se no atendimento médico regular.


Diminuiu o número de pessoas que tentam o suicídio?


Não, ele está aumentando, ano após ano, tanto no Brasil como em outros países.


O que leva a pessoa a procurar o suicídio?


A pessoa tenta quando percebe que não tem uma solução para a sua vida, que aquela é a melhor saída. Ela irá sair dos problemas, seja material, emocional, existencial, moral, familiar. Quando a pessoa não consegue encontrar uma solução adequada ela acredita que o suicídio é a saída.


Qual é faixa etária em que há maior incidência?


Não há uma faixa etária determinada. Atendemos desde jovens até idosos.


Mais pessoas do sexo feminino ou masculino?


Todo mundo tem problemas hoje. Não há um público específico, toda pessoa que está passando por um momento difícil na vida ela se vê muitas vezes encurralada, sem saída. Tanto homem como mulher, casada ou solteira, idoso, adolescente que estão na fase de descoberta, não tem seu amor correspondido. Toda pessoa que está em um momento difícil para ela, procura o CVV. Nós não aconselhamos, fazemos que as pessoas ao falar conosco, percebam por si próprias as saídas para seus problemas. Acreditamos que todo ser humano tem condições de superar as suas dificuldades. Geralmente quando ligam para nós já conversaram com o vizinho, com a mãe, com o pai, com os amigos.


Qual é o tempo médio de duração de uma ligação por telefone entre o consulente e a pessoa do CVV que o atende?


Nós orientamos os voluntários para permanecer em torno de 50 minutos conversando com a pessoa. Já tivemos pessoas muito desesperadas onde a ligação durou 90 minutos. Muitas pessoas ligam chorando são pessoas normais. Quando estão alcoolizadas não choram tanto, falam de forma muito característica. Nesses casos procuramos cortar, a pessoa passa a ser muito repetitiva devido ao estado de alcoolismo eles não estão absorvendo nada da conversa. Nesses casos procuramos evitar em ficar um tempo muito grande. Não é uma coisa produtiva para ele. Quando as pessoas estão desequilibradas e em condições de perceberem pode acontecer da ligação se prolongar.


Dirceu, qual é o significado do suicídio?


Eu entendo que seja uma fuga após perder todas as esperanças, expectativas.


Eliana, a depressão é uma doença dos tempos atuais?


A depressão sempre existiu só que antes era denominada como melancolia. Principalmente as mulheres tinham melancolia, aquela tristeza, aquela coisa de ficar vivendo no passado, isso foi classificada como doença e passou a ter o nome de depressão. Com o avanço da medicina percebeu-se que uma boa parte da sociedade tinha depressão. A vida moderna contribui para que a depressão seja em maior escala. Diversos fatores induzem a isso: afastamento da família, competição, a concorrência pelo “ter material”, a sociedade dita que você é importante pelo que tem e não pelo que você é; Isso leva a pessoa a ter depressão.


Algumas pessoas ligam para o CVV para desabafarem que não tem aquilo que outra pessoa possui?


Em algumas conversas isso transparece. Seja um carro, uma roupa, o corpo bonito que apesar da pessoa estar malhando, fazer regime, não consegue ter. Se a pessoa tem um perfil biológico que nunca a fará magra, as características de um povo ocidental será diferente fisicamente as de um oriental. Esse modismo das pessoas terem o corpo magro as leva a ter muitas doenças.


Vocês andam no fio da navalha?


No caso de algumas ligações, às vezes andamos. Todos que são voluntários passam por um curso de 30 horas. A idade mínima do voluntário é 18 anos, não existe limite para a idade máxima. Após realizar o curso a pessoa passa a atender as ligações telefônicas, uma vez por mês temos a realização de reuniões de grupo. Temo também uma reunião geral dos voluntários para que possam ter um treinamento constante. Essas reuniões ocorrem em dias diversos, como terças feiras, domingos pela manhã. Se você tiver quatro horas disponíveis por semana e tiver tempo de vir nessas reuniões, no domingo ou terça feira, poderá participar.


Quantos voluntários existem no CVV de Piracicaba hoje?


São 19, o número ideal, como são quatro horas dedicadas por cada voluntário, seria de 42 voluntários, funcionando 24 horas por dia.


Esse déficit de voluntários se dá em função do que?


É difícil trabalhar com o emocional das pessoas. Se você passou por um câncer é mais fácil ir a uma ONG que trabalhe com pacientes de câncer do que ser simplesmente voluntário sem ter vivido essa situação. Da mesma forma pais que tem filhos com síndrome de Down é mais fácil de participarem de ações voluntárias. Nós trabalhamos com a parte emocional e nem todas as pessoas estão preparadas para isso. Há muito receio de trabalhar com pessoas em desequilíbrio.


Uma característica própria é que o CVV não consegue ter um retorno de um atendimento. Saber como a pessoa reagiu.


Algumas vezes recebemos a ligação de uma pessoa que foi atendida e conseguiu superar a fase difícil. Tivemos um caso em que a pessoa ligou durante dois anos até sentir-se equilibrada, ligou para nos agradecer. Nem sempre isso é comum, estamos preparados para isso também, não receber nenhum agradecimento. Não temos identificador de número do telefone que nos liga, o sigilo é total. O sigilo da pessoa é acima de qualquer coisa dentro da filosofia do CVV. Por mais desumano o ato que a pessoa tenha praticado o seu sigilo será sempre mantido. A emoção desiquilibrada faz com que tenha um ato desiquilibrado.


Qual é a gratificação que um voluntário do CVV recebe?


A gratificação é ao atender uma pessoa, no final da conversa a pessoa estar bem.


Como funciona o sigilo no CVV?


Eu posso me identificar pelo meu primeiro nome, desde que ela pergunte quem liga não necessita identificar-se.


A segurança que é passada a pessoa que telefona pode gerar algum tipo de envolvimento pessoal com o atendente?


Pode acontecer. Nós somos preparados para que o atendimento seja feito sem ocorrer envolvimento pessoal. Ao mínimo indício de que isso possa ocorrer temos técnicas próprias para barrar qualquer prosseguimento nesse sentido.


Eliane como sobrevive o CVV?


O CVV através dos cursos constantes de aperfeiçoamento, o estudo passa a ser parte da nossa vida. Com esse treinamento passo a lidar melhor com as nossas emoções, trabalhamos melhor com o sentimento de raiva, de frustração, principalmente com as emoções negativas, que mais desestabilizam, ao se tornar voluntário do CVV passa-se a lidar melhor com essas emoções. O que até então nos desestabilizavam não ocorre mais. Ai já tem uma grande vantagem em sermos voluntários do CVV.


Durante o atendimento vocês vivem emoções fortes?


Às vezes tem algumas ligações que são delicadas. Principalmente atendimentos de perdas de pai, mãe, em casos de falecimento de um ente querido, são sentimentos comuns a todos nós, só que algumas pessoas sofrem mais. São mais sensíveis. Graças aos treinamentos e a convivência ao telefone aprendemos a trabalhar melhor com isso.


O CVV segue alguma linha religiosa?


Cada voluntário tem a sua religião. O CVV é apolítico e sem qualquer ligação religiosa.


Como vocês conseguem levar adiante esse trabalho, há algum incentivo financeiro oficial?


Cada voluntário contribui financeiramente.


Isso significa que o voluntário paga para trabalhar?


O voluntário além de não receber nada ainda paga. Realizamos os eventos, o jantar italiano para 200 pessoas, realizado na Casa da Amizade do Rotary, que é feito todo mês de maio, sempre na sexta feira antes do dia das mães. O Rotary Paulista nos dá um apoio muito grande.


Outras entidades de serviços podem ajudar o CVV?


Com certeza podem, Nos desdobramos na realização de eventos para suprir as necessidades financeiras do nosso trabalho.


Quais são as maiores necessidades atuais do CVV de Piracicaba, voluntários, recursos financeiros?


Os dois. Mais voluntários possibilitariam dar um atendimento melhor à sociedade. Uma cidade do porte de Piracicaba, contar com apenas 19 voluntários é muito pouco. Há muitas pessoas que necessitam efetivamente do nosso trabalho. Precisamos de ajuda na parte material, financeira, para que possamos ter um espaço confortável para os voluntários.


O poder público ajuda em alguma coisa?


Não ajuda. Um dos entraves é que não temos como fazer a prestação de contas em decorrência do caráter sigiloso dos nossos atendimentos. Não temos como medir resultados em dados. O que de fato importa é que se salvarmos uma vida o nosso trabalho valeu a pena. Tudo que foi criado na lei prevê o lado material e não o lado emocional. Na hora de se fazer a lei esquece-se desse apoio emocional que as pessoas precisam. Enquanto existe uma infinidade de ONG que prestam outras assistências só o CVV é que presta esse serviço. Um grande entrave é que não podemos ter ligação com nenhuma facção política O Ministério da Saúde reconheceu o CVV como de utilidade pública.


É menos burocrático pessoas e entidades privadas fazerem contribuições espontâneas?


É mais fácil empresas privadas doarem, se alguma empresa colaborar financeiramente com o CVV pode ser divulgado que é um colaborador. O Café Real colocou uma etiqueta divulgando o CVV. Isso é uma grande ajuda. Muitos produtos de consumo poderiam levar o telefone do CVV. A Papoula tem entre os telefones úteis o número do telefone do CVV. Quanto mais se divulgar o trabalho, maior será o retorno para a cidade. Qualquer cidadão piracicabano poderá um dia estar precisando do nosso trabalho. Uma doença grave pode tirar a estabilidade de qualquer família.


Existe um evento programado para data próxima?


O CVV situa-se na Rua Ipiranga, 806. Dia 23 de fevereiro, sábado, iremos ter uma promoção de pizza, nesse mesmo dia realizaremos um brechó literário, das 9 horas da manhã até as 5 horas da tarde. São romances, livros de ficção científica, de história do Brasil ao preço a partir de R$ 2,00.





                              BRECHÓ LITERÁRIO QUE ACONTECERÁ NO DIA 23/02/2013











ARNALDO MARCONDES MACHADO e SUZANA PAPPERT

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 09 de fevereiro de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: ARNALDO MARCONDES MACHADO e SUZANA PAPPERT





A Sears, Roebuck and Company é uma rede de lojas de departamentos americana sediada em Chicago, foi fundada por Richard Sears e Alvah Roebuck no final do século XIX. Possui lojas nos Estados Unidos, Canadá e México. A Sears também já possuiu lojas no Brasil até 1992. Por 25 anos Arnaldo Marcondes Machado foi funcionário da empresa no Brasil que tinha a denominação de Sears, Roebuck S.A Comércio e Indústria. Arnaldo galgou passo a passo até chegar ao importante cargo de Gerente Geral de Crédito. A sua história e a da empresa se entremeiam. Piracicaba foi pesquisada em determinado período para possuir uma loja da rede Sears, só que na época não se encaixava no perfil da rede de loja de departamentos. Arnaldo Marcondes Machado é paulistano, nascido a 17 de julho de 1920 na Vila Queiroga, Brás na Avenida Celso Garcia. Antonio Marcondes Machado e Isabel Araujo tiveram os filhos Iracema, Maria, Arnaldo, José, Reinaldo, Osvaldo, Lucila. Arnaldo é casado em segundas núpcias com Suzana Pappert nascida na Iugoslávia a 28 de janeiro de 1922, filha de Henrique Pappert e Bárbara Chaner que tiveram os filhos João, Suzana, Cristina, Eva, Sofia, Rudolf e José. Suzana veio para o Brasil trazida pelos seus pais quando ela tinha quatro anos de vida. Arnaldo e Suzana residem há treze anos no Lar dos Velhinhos de Piracicaba.


Os pais da senhora tinham quais atividades na Iugoslávia?


Meu avô tinha uma propriedade rural onde era cultivado trigo, uva, ali meus pais trabalhavam.


Como decidiram imigrar para o Brasil?


Naquela época dizia-se que o Brasil era muito bom, enriquecia-se em pouco tempo. Os que tinham pouco tempo de casados vinha para se aventurarem. Descemos do navio em Santos, fomos para a Hospedaria de Imigrantes em São Paulo. Nossa família permaneceu em São Paulo, entre outras obras meu pai trabalhou na construção da Catedral da Sé. Ele era serralheiro, fazia as armações de ferro para as coberturas da igreja. Trabalhei em várias fábricas de tecidos entre outras a Mário Filipelli.


 Como a senhora conheceu o Sr. Machado ?


Fui casada em primeiras núpcias, fiquei viúva, fui morar com a minha irmã Cristina que com seu marido tinha um estabelecimento comercial na Mooca, freqüentado pelo Machado. Quando o conheci eu tinha 38 anos e ele 40 anos, também já tinha sido casado. Sou do tempo em que havia bonde em São Paulo, moramos um período de tempo em Santo André, em seguida fomos morar em Santos onde também havia o bonde. Morávamos na Rua Manoel Vitorino, no Gonzaga pertinho da Avenida Ana Costa, isso foi por volta de 1962. O Arnaldo era sempre transferido, com isso conhecemos e moramos em várias cidades.


Qual era a atividade dos seus pais Sr. Machado?


Meu pai era viajante (vendedor viajante), minha mãe era do lar


Sr. Machado em que escola o senhor estudou o curso primário em São Paulo?


Foi no então denominado Grupo Escolar da Barra Funda. Estudei no Colégio Stafford. Esse colégio ficava na Alameda Cleveland, num casarão que havia sido residência de Santos Dumont. Estudei no SESC situado na Rua do Oratório onde fiz o curso de química de couro para fazer tintas para calçados. Naquela época era raro um garoto de 14 anos saber ler e escrever.. Eu trabalhava em uma loja de calçados onde vendiam retalhos de couro por quilo, a proprietária da Loja Italiana pesava e ficava esperando uma pessoa da loja de calçados para dizer quanto custava. Foi quando viram que eu sabia ler, escrever, dividir. Na fábrica de calçados eu ganhava quinze mil réis. Ofereceram-me cinqüenta mil réis, é lógico que eu fui trabalhar na Loja Italiana situada na Avenida Celso Garcia quase esquina com a Rua Bresser, ao lado de um cinema que já não existe mais. Lá fiquei uns dois anos trabalhando. A loja abria além dos dias de semana, também aos sábados e às vezes domingo pela manhã


Qual era o seu trabalho nessa loja?


Eu fazia de tudo, inclusive às vezes ia fazer entrega, ia de bonde, ônibus. Meus irmãos trabalhavam na fábrica de calçados Campana e Companhia, na Rua Marajó, eles não trabalhavam aos sábados após o almoço. Entrei no Campana onde trabalhei por uns oito anos. Comecei tirando a forma que vinha no sapato quando era produzido, limpava o sapato, lixava, realiza várias atividades. Como eu sabia ler e escrever muito bem, colocaram-me para fazer o controle do pessoal que saia para fumar fora da fábrica. Não podiam fumar dentro da fábrica pelo grande risco de combustão dos produtos: cola, couro. Fizeram uma espécie de gaiolinha onde eu passava o dia inteiro controlando o tempo de quem ia fumar, ia ao banheiro. Eu marcava saiu tal hora voltou tal hora.


Quantos funcionários trabalhavam nessa fábrica?


Mais ou menos uns trezentos funcionários. Fabricavam Tênis e Keds, naquele tempo calçado feito com tecido custava muito barato, cerca de um quarto do valor de um sapato de couro. Os Tênis e Keds daquela época eram muito mais simples do que os atuais. O modelista dessa empresa abriu uma fábrica e me chamou para tomar conta da mesma, dirigi-la. Ficava na Rua São Filipe, no Tatuapé. Eu tinha 25 anos, nessa época contrai o meu primeiro matrimonio. Permaneci nessa fábrica por dois anos, chamava-se Fábrica de Calçados Petiz. Fui convidado para trabalhar na fábrica de calçados Clark, uma empresa muito grande. Fui ser mestre de planchamento de sapatos. Após a produção do calçado ele saí todo “quebrado”, sujo, há um trabalho para colocá-lo na caixa, limpar, se for sapato de verniz pintá-lo todinho, de forma que atraisse a atenção do cliente. Naquela época a Clark tinha uns cento e cinqüenta a duzentos funcionários. Era um sapato famoso e de alto custo. A fábrica ficava na Rua da Mooca. Meu cunhado foi trabalhar na “Triunfal” situada na Rua Direita, centro de São Paulo. Era uma loja de mercadorias variadas, fui trabalhar lá. A Sears tinha uns auditores americanos realizando pesquisas nas lojas do centro de São Paulo. Entraram na Triunfal, questionaram-me sobre produtos e preços das mercadorias a venda. Respondi com firmeza e conhecimento. Fui convidado para trabalhar na Sears. A Sears ficava na Rua Treze de Maio, 1947, no Paraíso, próximo a Avenida Paulista. Era tão grande que atualmente funciona um shopping no local. Havia mais de 800 funcionários.




O senhor começou em que função?


Fui trabalhar no crediário. Mr. Roland que era o gerente não me deixou sair mais, me colocaram para obter informações sobre clientes na rua. Passei a ser chefe da sessão de cadastro. O cadastro de uma empresa as vezes levava trinta dias para obter um crédito consegui reduzir o prazo. De três a cinco dias estava concedendo o crédito, as informações eram aprovadas pelo gerente. Permaneci ali por dois anos. Ofereceram-me para ser chefe da cobrança. Fiz um estágio na rua, batendo de porta em porta, cobrando, um mês e pouco depois passei a ser gerente da seção de cobrança. Por seis anos consecutivos ganhei um prêmio de caráter internacional, como o melhor desempenho do grupo Sears na minha atividade de cobrança. Passei a ser assistente de gerente de crédito, a minha carreira foi passo a passo. Havia três categorias de loja Sears: A, B e C. Em Santo André abriu uma loja na categoria “B”. Eu já estava trabalhando em uma loja de classificação “A”. Fui ser gerente da loja em Santo André. Houve a transformação da documentação do crédito de manual para mecanizado. Fiz o curso para fazer a transferência de manual para a máquina. Até nos Estados Unidos estavam com dificuldades nessa migração de escrito para mecanizado. Fui para a loja de Santos, fiz a transferência, deu certo, bateu os balanços.


Em que local da cidade de Santas ficava a Sears?


Ficava no centro, na Rua Amador Bueno. Eu ia trabalhar com um Fusca 1959. Tive um fusca 1952, cujo vidro traseiro era dividido por um friso central. Permaneci em Santos por cinco anos. Inaugurei uma filial Sears em São Vicente, ninguém acreditava no sucesso, em dois meses a despesa de abertura retornou, um verdadeiro fenômeno, o normal era o retorno das despesas demorarem de quatro a cinco anos. Fui transferido para o Rio de Janeiro, onde tinha quatro lojas para tomar conta: Botafogo, Méier, Ramos e Niterói. Enquanto eu trabalhei na Sears ela tinha no Brasil 16 lojas. Em 1970 me aposentei. Depois disso fiz vários trabalhos para a Sears, mas esporádicos. Aqui mesmo em Piracicaba fiz uma pesquisa para a Sears, foi considerado um local com baixa perspectiva, a única loja que se destacava na cidade era a Porta Larga. Atualmente o cenário é outro. Trabalhei nos mais diversos estados, inclusive em Manaus, Sergipe, Alagoas, a Sears tinha nesses locais escritórios de representação. Viajava de avião, lembro-me do Super Convair 303, da Real Transportes Aéreos. Quando fui para Manaus não existia nem hotel, apenas pousadas do governo. A cama era coberta por um mosquiteiro, de manhã quando fui me levantar estava cheio de calango no mosquiteiro.


O senhor lembra-se quais eram os produtos que eram mais vendidos pela Sears?


Vendiam-se muitos colchões, móveis, tapetes importados, a linha branca era o forte, vendíamos televisão, na época em preto e branco. Rádio era um produto muito procurado.

O senhor praticava algum esporte?


Fui campeão paulista de ciclismo em 1938/1939. Tive uma bicicleta Turino, italiana, de oito marchas. Aos 35 anos concorri na Festa do Pedal, realizada no Anhangabaú, isso foi em 1954 ou 1955. Eu concorria pelo Ciclo Clube Teixeira, situado na Rua da Mooca. Cláudio Rossi, que mais tarde foi campeão internacional, iniciou seu treinamento comigo. Quando morava em Santos cheguei a jogar um pouco de vôlei. Cheguei a correr de motocicleta pelo Moto Clube Piratininga no Autódromo de Interlagos.


O senhor acompanhava os jogos do Juventus?


Logo que me casei morei em um prédio em frente ao Juventus, na Rua dos Trilhos, da janela eu assistia aos jogos.


O senhor gosta muito de ler?


Gostava, não leio mais nada. A vista já não ajuda muito e eu também perdi o entusiasmo pela leitura. Lia tudo que estava escrito no jornal, hoje pego o jornal, vejo o horóscopo e fecho.


Na capela do Lar dos Velhinhos em certa ocasião o senhor fez a leitura de um texto que emocionou muitas pessoas.


Devo ter criado na hora. Em reuniões dificilmente falo. Meu negócio não é falar é agir. Aprendi com os americanos algo que no Brasil infelizmente não existe. Quando entrevistaram um brasileiro perguntaram se ele gostava de comer arroz e feijão. Sua resposta foi: “Arroz e feijão, com um belo bifinho, uma saladinha talvez vá”. “Quando me fizeram a mesma pergunta eu respondi:” “- Claro que gosto, é a comida de toda brasileiro”. A resposta do americano é “sim” ou “não”. Observo que em muitas reuniões no Brasil, as pessoas são repetitivas. Para o americano isso não existe. Água é água. Vinho é vinho.


O senhor serviu o exército?


Fui dispensado. Dr. Silvestre Passi que consultava no Largo do Arouche, quando eu tinha uns oito anos, diagnosticou que eu tinha propensão para morrer aos dezoito anos, com um buraco na garganta em decorrência de uma doença chamada ozena (Doença do nariz, onde se formam crostas que exalam cheiro fétido, acompanhada de perda do olfato). Não morri até hoje!


Em 1932 houve a revolução constitucionalista, o senhor participou de algum ato?


Eu era escoteiro, fui de trem, junto com os militares até Itararé levar uma mensagem. Em 1932, a Associação de Escoteiros de São Paulo passou a chamar-se "Boy Scouts Paulista".


Foi fardado?


Fui em trajes civis. Lembro-me do enterro do General Marcondes Filho, parente do Yvens Marcondes. A solenidade foi no Pátio do Colégio. O cavalo dele estava sem ninguém montado, restava apenas a lembrança.


Durante a Segunda Guerra Mundial havia restrições para o uso do rádio por imigrantes italianos, japoneses e alemães. A Sears vendia rádio à essas pessoas?


Podiam comprar rádios. Não podiam adquirir imóveis. Clubes, associações e sociedades italianas, japonesas e alemãs tiveram que trocar seus nomes alusivos ao país de origem por nome tipicamente brasileiro. Onde é o campo da Portuguesa era um clube alemão, passou para o Estado, hoje é o estádio da Portuguesa.


O Rio Tamanduateí como era?


Era um rio fininho, mas já não era limpo. O Rio Tietê era sujo também, só que hoje está demais. Cheguei a nadar com Maria Lenk em 1937, na Vila Guilherme havia um trampolim.



O senhor é do tempo do Avenida Danças?


Eu era mocinho, freqüentava o Avenida Três, quando entrava recebia um cartão que era picotado. Após a gente dar uma parada, a dançarina pegava o cartão e dava para o funcionário picotar o correspondente aos minutos que tínhamos dançado. 10 minutos de danças ela mandava dar 10 picotadas. As músicas eram lindas.


Qual é a receita para chegar com essa disposição toda na idade em que estão?


Estamos juntos há 53 anos. Para ter disposição é tentar manter uma vida saudável, não comer alimentos prejudiciais, não beber em excesso, freqüentar parques, estar junto a natureza, levar uma vida regrada, sem excessos.


O senhor é usuário de computador?


Um pouquinho, comecei no Excel, Word.




 

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