terça-feira, março 04, 2014

LUIZ DARCI CUCOLO


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 04 de janeiro de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 
 
 
 

ENTREVISTADO: LUIZ DARCI CUCOLO

 

Luiz Darci Cucolo é filho de Felício Cucolo e Duzolina Regazzo, nasceu a 6 de setembro de 1938, no Bairro São Bento na fazenda do seu pai, tendo sido registrado no então distrito de Saltinho. A propriedade rural pertencia a família, seu avô era Luis Cucolo. A lavoura na época era plantação de fumo. No inicio era fabricado açúcar batido, depois passou a plantação de fumo. Felicio e Duzolina tiveram sete filhos: Zenide, Liete, Inês, Luiz, Edelardo, Geraldo e Vilma. Luiz Darci Cucolo é casado com Maria Alice Rosa da Silva com quem tem um casal de filhos: Júnior e Ana.

Sua família mudou-se para Piracicaba?

Quando eu tinha de cinco para seis anos de idade nossa família mudou-se para a cidade. Moramos na Rua Benjamin Constant em frente a indústria de Vicente Orlando, que adquiriu a casa onde morávamos. Eu passava na frente da fábrica de bebidas e ficava admirando aquilo tudo.  Tomávamos a famosa gengibirra. No primeiro quarteirão da Rua Governador Pedro de Toledo, junto a Avenida Dr. Paulo de Moraes existia a selaria de Artur Gobbo. Lembro-me do primeiro asfalto feito em Piracicaba, o prefeito Luiz Dias Gonzaga asfaltou a Avenida Independência da Rua Governador até a Santa Casa de Misericórdia. Onde é o Teatro Municipal Dr. Losso Neto, havia um córrego onde pegávamos cascudo. Fomos morar na Rua São Francisco de Assis, quase esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo, na esquina tinha uma casa antiga onde funcionava uma pensão de propriedade da família Ometto, hoje no local há um edifício. Na frente havia a fábrica de balas Lider. Eu estudava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco.

Com quantos anos você começou a trabalhar?

Aos oito anos comecei a trabalhar, em frente a Estação da Paulista, de costas para a estação, do lado esquerdo, havia um salão onde engraxavam-se sapatos. Eram três lugares para serem ocupados por clientes. Quando chegava o trem eu largava tudo e ia correndo até a estação, ajudava os passageiros a levarem suas malas até o seu destino final. Tanto o passageiro como eu íamos a pé.

As cores de sapatos que predominavam na época quais eram?

Era o preto e o marrom.




Dali qual foi seu próximo trabalho?

Fui aprender ofício, na selaria de Artur Gobbo situada na Rua Governador Pedro de Toledo entre a Avenida Dr. Paulo de Moraes e Rua Joaquim André. Morávamos ao lado. Ao lado tinha um terreno vazio onde ficavam dois caminhões que eram utilizados pela lenhadora de propriedade da nossa família. Eram entregues carvão e lenha. Ainda na fazenda onde fazíamos fumo fabricávamos também o carvão. Em Piracicaba a fábrica de carvão ficava atrás de onde hoje é o Colégio Dom Bosco na Cidade Alta. Ainda na fazenda meus tios derrubavam árvores enormes, eram toras de madeira carregadas em carros de bois, chegava a ter 16 bois puxando um carro com três toras de madeira. O primeiro automóvel que vi na minha vida pertencia a um médico, era movido a gasogênio, tinha dois tubos como dispositivo para o funcionamento. Ele ia buscar carvão para abastecer o carro.

Com o Artur Gobbo qual foi a sua atividade?

Fui fazer arreio, eu tinha uns 10 anos. A linha tinha que ser fabricada para fazer a costura. Passava cera, enrolava ela. Era um trabalhão danado. Eu estudava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, ao lado tinha uma lavanderia, me convidaram para ir trabalhar lá pagando cinco mil réis por mês. Eu retirava as roupas usadas nas casas dos clientes, depois as levava prontas. Eu tinha uma bicicleta marca Júpiter, gostava de entregar roupas no Hotel Lago, lá eu ganhava uma gorjeta. Praticamente entregava só terno, se fosse linho branco era engomado. Na Rua José Pinto de Almeida tinha um mecânico, eu fui trabalhar lá para aprender, isso na época que tinha muito Fordinho 1929, no começo lavava peças. Meu tio, Durval Lavoranti, era vendedor do Café Morro Grande, ele me levou para a torrefação do Café Morro Grande, eu era ensacador de café,  colocava o saquinho vazio na máquina, pisava em um pedal, dava o peso certo. Eu pesava de 1.500 a 1.600 quilos por dia. Dali fui trabalhar no Clube Coronel Barbosa, conheci Enio Graner Mortati, que era diretor do clube, fui trabalhar no escritório, eu tinha de 15 a 16 anos. Eu tomava conta da secretaria, preenchia os recibos dos associados. Quando eu trabalhava na torrefação tinha um cheiro forte de café impregnado, o Enio arrumou umas roupas bonitas, possivelmente usadas, fiquei muito elegante. Eu estava feliz. Com o Enio, Dr. Raul Coury, Dr. Salim Simão e alguns investidores, começamos a tomar conta de uma fazenda localizada na Volta Grande, plantamos 40.000 pés de goiaba. O projeto de um dos engenheiros agrônomos era adquirir uma máquina para transformar as frutas em pó. Era só adicionar água e o suco estaria pronto. Quando foram à Suíça para adquirir a máquina o investimento mostrou-se inviável. A fazenda foi vendida, quem a adquiriu colocou gado naquela área. Nessa localidade formei muda de árvores, umas 15.000 mudas. Quando Luciano Guidotti foi prefeito trabalhei na prefeitura, comecei como ajudante de topógrafo, com o passar do tempo comecei a observar os desenhistas a fazerem plantas. Um deles, muitas vezes se ausentava, eu comecei a riscar, com isso aprendi. O engenheiro Dr. Zimolamy disse que eu iria trabalhar com ele, colocou uma mesa na sala dele, passei a tomar conta da obra que a prefeitura estava fazendo na Rua Prudente de Moraes, aonde veio a funcionar a Gráfica Municipal e a Biblioteca Municipal. Fiz um mapa com dois metros por um metro e pouco, dei busca na prefeitura e fui colocando os loteamentos que não existiam no mapa. Cássio Paschoal Padovani foi quem assinou o mapa. Foi criada a seção de planejamento da prefeitura, entre os cinco ou seis desenhistas eu fui um dos escolhidos. O Arquiteto Dr. João Chaddad estava com o Dr. Geraldo Quartim Barbosa realizando o loteamento do bairro Nova Piracicaba. O João Chaddad me citou. Fui para ganhar quase quatro vezes o meu salário. Comecei a ajudar o João Chaddad a projetar o bairro Nova Piracicaba. Ruas, lotes, área verde. Dr. Geraldo Quartim Barbosa ficou sabendo que eu sabia fazer mudas de árvores, disse-me que iria fazer mudas para a Nova Piracicaba. Fiz 40.000 mudas de árvores. Eu tomava conta do pessoal que plantava as árvores, davam manutenção às ruas. Eram 18 a 19 funcionários.

Você considera certo plantar árvores frutíferas?

Não. Se parar um veículo embaixo da árvore a fruta irá cair sobre ele. O fato de ter fruta no pé irá trazer incomodo aos moradores próximos. É uma questão cultural.

Quanto tempo você permaneceu no loteamento da Nova Piracicaba?

Fiquei por seis anos. Lá havia a colônia de casas que pertenceu ao Engenho Central, foram demolidas, com muito tato negociei com cada morador para desocuparem essas casas em troca de outras em lugar que escolheram. Foi realizado um grande trabalho de terraplanagem. Juntamente com o Lino Vitti colocamos o monumento que deverá ser aberto em breve quando completar 50 anos. Ali estão documentos, jornal, fotografia, peças e moedas da época. Na época tive que conseguir quatro placas de mármore de Carrara. Ao lado tinha outro loteamento que pertenceu ao Mário Arêas Wittier.

Como você tornou-se proprietário de uma loja de molduras?

Eu estava muito bem colocado junto a companhia que realizou o loteamento da Nova Piracicaba, era uma empresa com atividades em outras cidades e eu já estava assumindo algumas funções nesses locais. Um convite para iniciar uma atividade que aparentemente iria dar melhores resultados acabou por me trazer grandes decepções. Essa atividade com molduras começou em 1980. Eu pintava quadros, tinha adquirido dois quadros de Maria Cecília Neves.  Fiz cursos de pintura. Ao terminar um quadro levava em uma loja de molduras, até que um dia decidi fazer a moldura. Contratei um senhor de nome Vitório, ele trabalhava em uma loja situada na Rua do Rosário, fomos para São Paulo comprar molduras. Todo mundo que tinha aula com a Maria Cecília levava as obras para que eu colocasse a moldura. Quando montei a loja éramos quatro lojas de molduras.

Como surgiu o nome Molduras Juana?

A minha esposa é a responsável por ter esse nome, ela chamava meus filhos Junior, Ana, para almoçar. Dizia: “Ju, Ana! Vamos almoçar!”. Ficou Juana!

É comum as pessoas trazerem obras para enquadrar e não voltarem para buscarem?

Tenho um local onde tem mais de quinhentas obras, certificados, diplomas, fotografias,  enquadrados e os donos não vem buscar. Com isso perco o vidro que não dá a medida certa para outra aplicação e a moldura é a mesma coisa. Muitas vezes a moldura já saiu fora de linha depois de tanto tempo aqui.

Moldura tem moda?

Se tem! Hoje a moda é branca e preta.

Moldura de gesso é muito usada?

Aqui não entra gesso. É uma moldura extremamente frágil.

Qual é o maior quadro que você já fez até hoje?

Fiz dois quadros de cinco metros por seis metros, sem vidro.

Você faz restauração de quadros?

Restauro quadros. Já apareceu quadro de Joaquim Dutra, furado pelo cabo de vassoura de uma empregada descuidada.

Um casal pode ter divergência quanto a permanência de um quadro em casa?

Isso existe. Geralmente um deles traz o quadro até a loja e diz: “-Vê se vende isso ai que não quero saber dessa coisa na minha casa!”. Eu só pego se for quadro de artista famoso.

Se a pessoa muda de crença religiosa ela pode querer se desfazer de toda obra que relembre sua crença anterior?

Isso pode ocorrer, só que esse tipo de arte eu não comercializo. Quando se trata de gravura nem pego para vender.

No caso de um quadro de notável valor artístico qual é o procedimento padrão?

Ele fica na minha reserva, só será mostrado aos colecionadores.

Piracicaba tem muitos colecionadores de arte?

Tem. Há um que tem mais de 2.000 quadros. Além de ter a fazenda, aluga uma casa só para expor seus quadros. São colocados no chão, nem chegam a ser dependurados.

Quadro não é um item de fácil comercialização?

Se for de um pintor famoso torna-se fácil sua comercialização, principalmente para quem atua no ramo.

Pessoas de baixo poder aquisitivo apreciam arte?

Alguns gostam, mas não tem o fascínio próprio do colecionador. Para admirar um quadro há a necessidade de entender a arte. As pessoas mais humildes gostam de gravuras.

O que é uma gravura?

É a uma reprodução em papel. Ele acha mais bonito. Vai gostar de imagens de veículos, fotos, e são quadros relativamente caros.

Um modismo são as fotos antigas da cidade, isso pegou?

Há uma procura muito grande. Geralmente alguém vai abrir um restaurante, uma pizzaria e coloca uma foto antiga da cidade.

Você sente-se realizado com a sua atividade?

Em parte sim. Trabalhamos muito. As coisas mudaram, a economia do país mudou. Eu sentia muita alegria em trabalhar, levantava as três horas da manhã e ia para a loja, trabalhando com afinco e esperando os funcionários chegarem. Eu queria entregar as encomendas. Ainda procedo da mesma forma, entregar rapidamente o serviço. 

A procura de quadros de arte aumentou ou diminuiu?

Diminuiu. O enquadramento de diplomas, certificados, gravuras, aumentou.

Você já fez algum trabalho para cemitério?

Já! A pessoa trouxe a fotografia do finado, coloquei a moldura de alumínio com vidro em ambas as faces, tudo muito bem vedado com uma fina mangueira plástica. Já fiz inclusive com a fotografia de um cão, cujo dono o estimava muito e colocou a foto do animal junto ao seu tumulo no cemitério dos animais. Outro caso foi uma pedra que trouxeram da Rússia, foi feito um trabalho especial onde a mesma foi colocada em uma moldura. É comum as pessoas trazerem tigelas, pratos de valor sentimental e colocar em molduras. Um dos fatos marcantes foi um alemão que não mora mais em Piracicaba, ele trouxe 30 moedas de ouro maciço para serem colocadas em uma moldura. O grau de confiança que ele depositou em mim foi muito grande, aquilo tinha um alto valor financeiro.

Você tem algum hobby?

Adoro pescar. Fui diversas vezes com o Jorge Martins para o Mato Grosso. Gosto de sentar no barco e ficar pescando com sondal.

Você conheceu sua esposa em que cidade?

Eu a conheci em Cerquilho, namoramos onze anos, casamos a 25 de janeiro. Morei em Cerquilho, o Graner Mortati me levou para lá, eu desenhei a praça em frente a igreja.  Fui locar o desenho no chão.

Quantos prêmios você já ganhou em pintura?

Ganhei três menções honrosas, um prêmio em Araras, um prêmio em Limeira. Juntamente com Eugenio Nardin, João Chaddad, Manoel Martho criamos o Salão Almeida Junior. Eu era o primeiro secretário, como não tinha sede, não tinha nada, ficava aqui na minha loja, eu transportava em uma caminhonete os quadros que iam para serem expostos. Organizamos tudo, a partir do nada. Consegui um lugarzinho na Pinacoteca para transformar em sede do Salão Almeida Junior. Com o passar do tempo deixei para que outras pessoas tomassem a frente na manutenção do Salão Almeida Junior.

 

 

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