sexta-feira, julho 25, 2014

WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 28 de junho de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: WALTERLY MORETTI ACCORSI e LUCAS TEIXEIRA DE MORAES

 

Walterly Moretti Accorsi é farmacêutica diplomada pela Unimep, advogada formada pela PUC de Campinas, nascida em Piracicaba, em 1944, a Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, filha dos professores Walter Radamés Accorsi e Judith Moretti Accorsi. Walter Accorsi lutou na frente de batalha da Revolução Constitucionalista de 1932 e Judith costurava, fazia alimentos, doces, para mandar para a linha de frente dos revolucionários. Tem uma irmã, Waldith.  Ao lado está o universitário Lucas Teixeira Franco de Moraes conhecido na Esalq como “Jayminho” isso porque seu avô, Aldir Alves Teixeira, também estudou na Esalq, formado na turma de 1959, quando estudante trabalhou nos Correios como telegrafista.  Atualmente ele tem um laboratório em São Paulo que trabalha com a qualidade do café.

Waterly você tem larga experiência em fitoterapia?

Como diria uma amiga, Dra. Cilene, não é mais sangue que corre nas veias, é puro verde! Cresci dentro disso, quando me casei foi com um botânico, agrônomo, fui morar no Nordeste do país, conheci coisas maravilhosas, Sou formada em farmácia. o Brasil é um país fantástico, de dimensões continentais, um povo maravilhoso, uma etnia fantástica. Temos todas as origens e todos os vieses. A planta em si é encantadora. A origem do homem é o reino vegetal. O reino vegetal veio preparar o caminho do homem. Claro que é a abençoada química que interfere. Que tira a dor, tira o infarto, faz nascer o bebê que não está conseguindo nascer. No crônico, no preventivo, as outras alternativas são bem válidas e muito importantes. Todos estão muito intoxicados, quando há a ingestão de muita medicação antes de ocorrer um quadro agudo já foi criada a tolerância, no estado agudo dificilmente as substâncias terão o efeito esperado pelo médico. Daí a singularidade de não mais vender sem receita médica antibióticos, antiinflamatórios. Isso porque não tem mais o que fazer, terceira, quarta ou quinta geração já não faz mais efeito. Eu nunca tomei nenhum antiinflamatório, ma se pego uma gripe de uma pessoa que contumaz no uso dele, esse vírus que me foi passado está resistente, ele não irá responder a nenhum tratamento. É um problema endêmico. Um problema social, brasileiro.

Você se casou com um agrônomo?

Casei-me com José de Souza Sobrinho, agrônomo, botânico. Natural de Pernambuco, temos os filhos Walter e Ricardo, gêmeos. Tenho cinco netos.

Atualmente você tem um importante laboratório fitoterápico em Piracicaba?

Antonio Perecin que era um grande amigo do meu pai dizia: “- Accorsi, você não pode perder esse conhecimento, ele tem que ficar para o Brasil, para o mundo!”. Meu pai era um entusiasta, gostava de divulgar seus conhecimentos, gostava de estudar. Tinha um grande conhecimento, tanto no Brasil como no exterior. Muitas vezes no exterior ele terminou algumas pesquisas que as pessoas estavam por concluir. Isso ocorreu nos Estados Unidos, no Japão, Canadá. Nos últimos 23 anos da vida dele dedicou-se só a fitoterapia, ele estava focado em tudo que dizia a respeito. Às vezes uma pequena palavra que alguém dizia era o que faltava para ele completar a conclusão dele.

Como começou a paixão dele por plantas?

Foi desde criança. Meu avô tinha duas fazendas de café. Quando criança gostava de passear pelos cafezais, e por muitas vezes ouviu alguém dizer que tal planta era boa para isso ou para aquilo. Desde criança ele tinha um olhar especial pela plantinha que era tida como daninha, mas era medicinal. Meu pai estudou no Mackenzie em São Paulo depois veio estudar na Esalq.

Foi na Esalq que ele desenvolveu esse setor?

Ele estudou, quando ele se aposentou foi concedido a ele o título de professor emérito, foi lhe concedido um espaço na própria Esalq, onde permaneceu os últimos vinte e três anos e meio da sua vida. Ele sempre foi muito ético. Quando descobria algo que podia fazer bem e que não oferecia risco a saúde da pessoa, ele divulgava. Meu pai foi uma pessoa que percorreu o Brasil todo, viajou por muitos países, ele trazia consigo os conhecimentos étnicos. Ele sabia interpretar. Tinha muitos amigos na área médica, agronômica. Ele tinha segurança no que dizia. Antigamente havia pechas impingidas em portadores de certos males como câncer, AIDS. São colocadas por algumas pessoas sobre outras com o intuito de intimidar. Poucos sabem que esses males são frutos de experiências realizadas em buscas de outras medicações. Por isso se alastrou. Isso foi dito por pessoas que estavam no auge da vida acadêmica, eram pessoas de expressão, que poderiam sofrer represálias por conta dessa divulgação. Iriam incomodar alguns interesses. Essas pessoas que fizeram essas afirmações já não estão mais vivas. Meu pai tinha um amigo de infância, Coronel Fiori Marcelo Amantea, cuja esposa estava muito debilitada, com câncer, meu pai tinha ganho um caminhão de casca de ipê roxo que veio de Cruz das Almas, Bahia. Meu pai deu um saquinho com essa casca, para ser fervida. O coronel fez o chazinho, deu a sua esposa e essa senhora dormiu por três dias. A mulher melhorou, passou a ter uma qualidade de vida, o câncer tem marcadores, é como a diabetes, uma vez com ele sempre com ele. O oncogen está dentro da gente, ele irá se manifestar por genética, por estress.

Qualquer pessoa tem o oncogen?

Sim, e pode ser benigno ou maligno. Pode se manifestar ou não. Uma vez manifestado é possível ter qualidade de vida. Assim como a diabetes, pode estabilizar nos níveis aceitáveis, mas não existe como dizer que está curado, a qualquer momento ela pode se manifestar.

Após a melhora da esposa do coronel o que ocorreu?

Elçe ficou tão entusiasmado que passou a divulgar, ele foi falar com a Xênia que tinha um programa na televisão. Me lembro que todos os domingos iamos almoçar coma a minha avó em São Paulo. Estávamos todos almoçando quando o coronel ligou. Sabiamos que poderiamos colocar um artigo no jornal, ser um multiplicador, mas não tinhamos estrutura para atender a todos que procurassem após uma divulgação em massa. Foi feita a divulgação, meu pai ficou muito triste, vieram os interesses economicos, em vez de ter no mercado um produto de segurança foi constatado que algumas pessoas vendiam até serragem.

A Rede Globo divulgou os benefícios do ipê roxo.

Foi veiculado no programa Fantástico. Após isso meu pai ficou mais cuidadoso em divulgar os benefícios das plantas. Atualmente a maior quantidade de plantas fornecidas por distribuidoras são feitas por extrativismo. Isso significa que tem que ser tomado muito cuidado porque elas podem acabar. Não existe o cultivo de plantas medicinais.

Ha a presença de pesquisadores estrangeiros em nossas matas?

De fato eles estão mesmo pesquisando nossa flora. Como tudo é bio-tecnologia, uma questão de clone de células, uma pequena raspadinha com uma tampa de caneta é suficiente para levar omaterial genético para o exterior. Isso foi presenciado por uma pesquisadora. O quimico, bio-quimico ou fitoquimico, consegue desenhar aquela estrutura, seja ela de que origem for. Uma vez desenhada pode ser copiada na parte alopática. É uma pré-sintese de tudo: da fauna ou da flora.

Ha quanto anos você está nesse meio?

Eu cresci nesse meio. Morei de onze a doze anos no nordeste, com isso conhecia mateiro, reserva indigena, via como eram feitas as curas. Passar cinco horas com recursos acadêmicos de saúde e sarar no dia seguinte com uma planta. Ai que vem o sincretismo religioso e o foco daquela pessoa com a divindade, aquela crença. Tive uma vivência indigena que foi fantástica, fui para o Alto Araguaia, estava em uma reserva de Xavantes, permanecemos por vinte dias lá, pegamos gripe. Eles entram na mata e trazem para cada um uma plantinha que serve para a gripe. Dizem que a planta escolheuaquela pessoa para curar.

Lucas você é acadêmico da Esalq?

Estou no quinto ano de Engenharia Agronomica, nasci em 30 de setembro de 1991. Meu interesse por essa área surgiu a partir de quando passei a frequentar um centro de xamanismo, que é a prática espiritual mais antiga da humanidade. De ver o sagrado na natureza. De tentar uma conexão mais profunda com a natureza, como se ela fosse divina.

Lucas , você chegou a visitar alguma tribo indígena?

Já fui a uma tribo na Amazonia, conheci aqui em São Paulo a Aldeia Quiruá. Acredito que exista muito interesse dos jovens pelo assunto, embora esses aspectos não sejam muito abordados dentro da universidade ou mesmo em nosso contexto social. As pessoas não tem acesso a essas informações.

Há outros jovens estudantes com essa visão mais voltada ao mistico, ao espiritual?

Há sim. As plantas são cultuadas e sendo reconhecidas como sagradas pelos nossos ancestrais, desde o começo elas tinham esse poder divino de conexão com o mundo espiritual e do poder de cura do fisico, espiritual e mental. Durante a história da humanidade todas as civilizações tinham algumas plantas de conexão, as plantas ritualísticas, e dentro disso tinham as plantas medicinais, eram utilizadas com preceitos religiosos. A primeira bebida que seria sagrada na história da humanidade é o Soma. (Soma é uma bebida ritual da cultura védica e hindu, é também o nome da própria planta da qual se extrai a bebida, bem como a personificação do Deus dos Deuses. Existem nos Vedas (Rigveda, Soma Mandala) 114 hinos exaltando suas qualidades). No Brasil temos uma bebida que já foi considerada patrimonio cultural brasileiro pelo então Ministro da Cultura Gilberto Gil que é a Ayahuasca.

Walterly você já esteve no Japão, qual é a opinião deles a respeito das plantas?

Fui acompanhando o meu pai, ele foi quatro vezes ao Japão. Conhecemos um Japão ocidentalizado, com o consumo de muito tabaco, cerveja, remédios alopáticos. Mas há um Japão que ainda cultiva a tradição, dos chás, eles cultuam muito o idoso que foi produtivo, fomos levados para conhecer um idoso que esteve presente em Hiroshima. Ele nos ofereceu um chá de babosa. Tem um gosto horrível.

Walterly quando se produz um remédio sintético é utilizada como base algo produzido na natureza?

A primeira síntese foi do salgueiro: o ácido acetilsalicílico, Em 1897, o laboratório farmacêutico alemão Bayer conjugou quimicamente o ácido salicílico com acetato, criando o ácido acetilsalicílico foi o primeiro fármaco a ser sintetizado na história da farmácia e não recolhido na sua forma final da natureza. Foi a primeira criação da indústria farmacêutica. A visão da pessoa pelo Oriente é como um todo, a soma que é a parte física e o sutil, que é a nossa emoção, a nossa alma. É interessante como os nossos indios agem, ele dá um chá, uma determinada bebida ou ainda ele fuma e põem em você a fumaça. Essa fumaça penetra os oros e faz um outro tipo de tratamento.

Pelo que estou entendendo, se a pessoa sofre de um problema cardiaco a origem pode ser emocional?

Não! A pessoa tem programado geneticamente para ter esse problema. Pode se acentuar ou suavizar através da vida dessa pessoa. Com seus traumas e suas realizações.

Qual é a receita para viver bem?

Meu pai dizia três frases: 1-) Se ocupe. Não se preocupe. 2-) Não deixe que as coisas interfiram em você. 3-) Ontem é a base do futuro e a força do presente. Todo ese conhecimento, o que você acertou, continue pesquisando. O que errou, pare. O que vai fazer essa análise é o presente. O que hoje é muito doido amanhã não será mais. O que hoje é muito importante incorpore a sua vida. O que doeu muito use como exemplo para que não ocorra mais.

A humanidade está em uma corrida suicida?

As pessoas se preocupam em ter e não em ser. Isso é uma corrida suicida. O modelo economico é que fez isso. Se você não estiver com o sapato da moda, não tiver o carro da moda, se não visitar os países da moda. A sua felicidade está na sua mão, você não depende de nada de fora, de ninguém. A sua felicidade pode ser acrescentada por agentes externos, mas não depende dos outros a própria felicidade.

Qual sua visão de evolução humana, Lucas?

Aos poucos as pessoas estão tomando conciencia de que a forma em que vivemos não é a forma correta. Em janeiro desse ano Domenico De Masi (Sociólogo italiano contemporâneo, famoso pelo seu conceito de "ócio criativo" segundo o qual o ócio, longe de ser negativo, é um fator que estimula a criatividade pessoal), escreveu um texto dizendo que o Brasil poderia inspirar a humanidade na criação de um novo modelo de desenvolvimento, e que esse modelo poderia surgir dos indios. Acredito que a desigualdade social, depresão, corrupção, violência, são doenças que afetam nossa população. A cura vem da reintegração do homem com a natureza. Da utilização das plantas como remédio.

Walterly a humanidade está doente?

Não está doente, está em transição.

Walterly, a nossa flora oferece muitas opções?

O açafrão-da-terra (curcuma longa) é o açafrao brasileiro, não é concentrado como o indiano, que é caríssimo, esta sendo realizado um trabalho com a coordenação do Professor Lindolfo, que é de multiplicar essas plantas, fazer um horto de plantas medicinais, ensinar como devem serem usadas, a Dra. Nair, médica sanitarista instrui sobre o uso dessas plantas. Outra planta fantástica é a ora pro nobis (Pereskia aculeata), é muito consumida no Sul de Minas Gerais consumida com frango, parece uma verdura, é extremamente proteico. O Brasil tem muitos recursos.

 

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