sexta-feira, agosto 29, 2014

IRENE SOUZA FERRAZ


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA: IRENE SOUZA FERRAZ

 


Nascida em uma fazenda, no município de Bariri, a 21 de abril, filha de Antonio de Paula Ferraz e Julieta de Souza Ferraz, que tiveram 12 filhos, sendo que três faleceram ainda muito novos. A filha primogênita foi a Maria, a seguir: Conceição, Jandira, Nair, Marina, Irene, Luiz, Antonio e Expedito. Logo que se casaram Antonio e Julieta eram proprietários de uma fazenda no bairro rural de Recreio, próximo a Charqueada. Após alguns anos seus pais venderam essa fazenda em Recreio e adquiriram outra fazenda enorme em Avanhandava seu pai após alguns anos vendeu essa fazenda ao seu cunhado, e adquiriu outra fazenda em Bariri, local em que Irene nasceu. Alguns anos depois ele adquiriu uma propriedade muito próxima a Guaiçara, localidade próxima a Lins.

Até que ano escolar a senhora estudou em Guaiçara?

Estudei até o segundo ano primário. Quando eu tinha uns nove anos nossa família mudou-se para Piracicaba à Rua Floriano Peixoto, no centro. Matriculei-me no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Lembro-me perfeitamente da minha professora do terceiro ano: Maria José. Depois mudamos para a Rua Moraes Barros, fui estudar a quarta série primária no Grupo Escolar Moraes Barros. Bem em frente existia a Fabrica de Bebidas Andrade. A minha professora era Dulcelina Ferraz de Arruda Leite.

Na esquina havia um casarão, que mais tarde foi a Biblioteca Municipal, e recentemente foi demolido sendo que no local está sendo construído um edifício. Quem residia naquele casarão?

Quem morava ali era o Padre João. (Em 1916 assume o cargo de Capelão da igreja São Benedito, o Cônego João Batista Ferraz.) Era primo-irmão do meu pai. Ele tinha herdado uma grande fortuna, aquela casa foi construída por ele onde morou até falecer. Ele sempre auxiliou muito aos necessitados. Conclui o curso no Grupo Escolar Moraes Barros, naquele tempo davam diploma escrito com letras góticas, esse diploma está na no Grupo Escolar Moraes Barros, há uns 15 anos foi aniversário acho que de 100 anos do Grupo Moraes Barros, a diretora estava organizando uma comemoração, pediu meu diploma emprestado, infelizmente não recebi esse diploma de volta, na época fiquei meio chateada. Para entrar no ginásio tinha que fazer um exame de admissão. Naquele tempo a classe era composta só por meninas e outra classe só por meninos. Tudo que aprendi com essa professora foi muito importante, cheguei a usar até em aulas que dei em faculdade. Era um ensino de nível elevado.

Após terminar o primário qual foi a próxima atividade da senhora?

Fui trabalhar! Minha irmã mais velha já tinha arrumado um emprego para mim. Tínhamos que trabalhar. As mais velhas tinham aprendido corte e costura, Por sinal a mais velha era modista mesmo. A Nair trabalhava na Livraria Giraldes, na Rua Moraes Barros. Ela trabalhou lá muitos anos.

A senhora foi trabalhar aonde?

Fui trabalhar na Galeria dos Tecidos de propriedade de Ultimio Tardivo. Era uma loja só de tecidos, situava-se na Rua Governador Pedro de Toledo, quase esquina com a Rua Moraes Barros quase em frente a Porta Larga. Trabalhávamos mais com sedas puras, era uma loja muito chique, muito boa.

O que uma menina de quinze anos fazia em uma loja dessas?

Vendia! Cortava o tecido certinho! Ganhava quarenta mil réis por mês. Trabalhei na Galeria dos Tecidos por dois anos. Após esse período fui trabalhar em São Pedro em uma loja de tecidos de propriedade de João Coury, onde permaneci por nove anos.

Como a senhora decidiu mudar-se para São Pedro?

O Sr. João Coury gostava muito de leitura, ele era cliente da Livraria Giraldes, minha irmã que o atendia. Ele a convidou para ir trabalhar na Casa Coury. Ele precisava de uma funcionária que inclusive soubesse fazer a escrita da casa, eu sabia fazer. Sempre fui a mais atirada dos irmãos. Desde muito pequena. Minha mãe fazia trabalhos de tricô, crochê, fazia trabalhos bonitos. Fazia joguinhos de lã para recém-nascidos. Colocava em uma cestinha e dava para que eu vendesse. Eu ia de porta em porta, vendia tudo, voltava com o dinheiro e entregava para a minha mãe, feliz da vida! Eu deveria ter uns nove anos. Um dia minha irmã citou o meu nome ao Sr. João Coury, deu-lhe o endereço de onde eu estava trabalhando. Ele foi até lá, era um sírio muito distinto, fino. Ele se apresentou, e me convidou para ir trabalhar em São Pedro, disse-me que a minha irmã Nair tinha dito que talvez eu fosse. Ele disse-me que pagava oitenta mil réis, o dobro do que eu ganhava. Ele disse-me ainda que eu teria um quarto meu, comida, tudo incluso, já que não dava para ir e voltar todos os dias até São Pedro. Ele era casado, tinham perdido um filho com uma doença que hoje jamais morreria: apendicite. A loja em São Pedro chamava-se Casa Coury, ficava na Rua Veríssimo Prado. Naquela época São Pedro ainda não era considerada a terra do bordado. A cada 15 dias eu vinha visitar minha família em Piracicaba. Era estrada de terra, a condução era a famosa “jardineira”, a gente comia poeira até Piracicaba. Tinha o trem também, a “Maria Fumaça” da Estrada de Ferro Sorocabana. De trem levava quatro horas de viagem de São Pedro até Piracicaba. De ônibus levava umas duas horas, até mais um pouco, parava em todo quanto era lugar. Após um ano que eu estava trabalhando lá, foi trabalhar conosco a minha irmã Jandira que até então trabalhava na Ótica e Relojoaria Gatti, situada na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Moraes Barros. A Casa Coury em São Pedro tinha muito movimento. O pessoal do Alto da Serra vinha, levava sacos de mercadorias. Quando o Sr. Coury veio para o Brasil era mascate, ele conhecia todo mundo do Alto da Serra de São Pedro, fazendeiros, foi assim que ele conseguiu montar essa loja. Depois ele casou-se com Dona Maria (Mariquinha), ela era brasileira.

Lá vendia de tudo?

Só não vendia calçados. Mas desde chapéu para homens, guarda chuvas, armarinhos, era uma loja quadrada, com um balcão enorme. Tinha três portas de aço enormes. Era separada da casa. Havia uma escada que ligava a loja até a casa. A casa era grande, tinha um terreno muito grande. Era um lugar muito bom para morar. A principio eu pensei em ir e ficar por um ano, até guardar algum dinheiro. Meu objetivo era estudar. No fim fiquei por nove anos. Quando sai deixei o casal chorando.

A senhora não estudou lá?

Estudei o que apareceu naquele tempo São Pedro era um décimo do que é hoje. As ruas eram de terra batida, não havia asfalto. Eu fiz SENAC lá, um ano. Apareceu, foi o prefeito Pedrinho Aguiar que trouxe esse curso. Tínhamos que estudar para valer, tinha até sociologia! Após um ano ganhamos um diploma enorme. O prefeito convidou as moças para fazer esse curso. Quem passasse em primeiro lugar, no final do ano, teria como prêmio uma viagem para São Paulo, para fazer outro curso lá, mais avançado. Eu ganhei o prêmio, fiquei em primeiro lugar. O prefeito Pedrinho foi conversar com o Sr. Coury. Sempre trabalhei muito, até hoje trabalho. Sempre gostei de trabalhar, nunca parei. No final daquele ano o curso foi encerrado com uma festa muito bonita. Isso foi por volta de 1942. Guardo esse diploma até hoje. Houve um exame, que veio lacrado de São Paulo e só foi aberto na hora em que foi aplicado às alunas. O Sr. João Coury concordou e dar-me uma semana de licença para viajar. Uma classificada em segundo lugar foi também para que eu não viajasse sozinha.

Em que local de São Paulo vocês ficaram?

Ficamos no Pacaembu. Isso foi uma iniciativa do governo. Lá estavam todos os alunos que haviam passado em primeiro lugar, de diversas cidades. Ficamos no próprio estádio,   havia quartos com três a quatro camas cada um. Visitamos pontos característicos de São Paulo. Foi o melhor passeio que fiz! Tinha outro curso que deveria ser feito e daria como prêmio uma viagem à Europa. Pensei a respeito e decidi que deveria aproveitar aquele momento, mas não me interessei em fazer uma viagem tão longa. Passeamos muito, divertimo-nos muito e depois voltamos para casa. Isso ocorreu quando eu já estava trabalhando há uns três anos na Casa Coury. Quando completou nove anos, eu já tinha guardado um pouco de dinheiro e pensei em fazer o curso de madureza (atual supletivo),  pensei: vou entrar no curso normal.

A senhora fez o curso de madureza aonde?

Fiz em dois lugares. Em Piracicaba não havia o curso de madureza. Hoje só não estuda quem não quer. Estudei o ginásio, para depois entrar no Normal. Era uma luta tremenda. Após um ano fui prestar exame em Itapetininga, no Instituto Peixoto Gomide, uma das escolas mais tradicionais do Estado de São Paulo. Eram nove exames escritos e nove exames orais, dezoito exames.

A senhora ficou hospedada aonde em Itapetininga?

Fui com uma colega que tinha uma prima que morava lá. Essa sua prima, Benedita, que nós a chamávamos de Ditinha, por coincidência era inspetora de alunos desse instituto. Era uma escola muito bonita, existe até hoje. Fiquei 21 dias em Itapetininga. Consegui passar em cinco matérias, quatro eu fiquei devendo. Voltei à Piracicaba, meu pai estava  na Santa Casa de Misericórdia onde permaneceu por três meses até vir a falecer. Naquele ano desisti de estudar. No ano seguinte voltei a trabalhar e estudar, trabalhava na Casa São Paulo, era de uns sírios, situava-se na Rua Governador Pedro de Toledo. No final do ano fui prestar exame em Jaboticabal. Fomos um grupinho, éramos três carros. Conseguimos passar e viemos com o certificado do ginásio. Matriculei-me na Escola Normal, tive que prestar exames em três matérias que faltavam. Eram matérias mais fáceis, fiz a adaptação. Tive algumas aulas com um parente muito famoso, era artista: Antonio Pacheco Ferraz que viveu até os 101 anos. Ele residia em São Paulo, como seus pais moravam em Piracicaba ele vinha sempre e dava-me algumas aulas. No Curso Normal passei em segundo lugar. Sou formada como professora na turma de 1955.

A senhora decidiu fazer o que a seguir?

Tive um convite desse mesmo primo, Antonio Pacheco Ferraz, é interessante que ele era primo por parte da minha mãe que era Pacheco e por parte do meu pai que era Ferraz. No final do ano, ia fazer os exames, fui até a casa dele, na época ele estava com sua família em uma casa próxima ao Mercado Municipal de Piracicaba, o professor que ia fazer os exames era João Dutra. Fui atrás do meu primo Antonio, em casa o seu apelido era “Nenê”. Ele me disse: “–Irene você tem dom para desenho, porque não presta concurso para desenho!”. Respondi-lhe: “-Ah Nenê! Eu gosto de matemática, gostaria de prestar concurso para matemática!”. Ele me disse: “ –Você vai se formar neste ano, vai lá para a minha casa e eu vou lhe ensinar desenho e você presta concurso para ensinar desenho para ginásio!”. Ele morava em São Paulo, na Vila Mariana, próximo a Igreja da Saúde. Ele era casado com uma prima irmã: Hermozila a mãe dela era Ferraz e o pai dela era Pacheco. Pais e mães de Antonio Pacheco Ferraz e Hermozila Ferraz Pacheco eram primos-irmãos legítimos. Eles se gostavam desde criança, ele foi estudar na Europa, ficou noivo duas vezes, ela ficou noiva aqui duas vezes, ela não tirava o Nenê da cabeça e nem ele deixava de pensar nela. Tiveram um filho, o Francisco.

Que idade a senhora tinha quando foi para São Paulo?

Em torno de 28 anos. Fui morar na casa do meu primo Antonio Pacheco Ferraz, a Hermozila foi minha colega de passeio em Piracicaba, ele me disse: “- Você se dá tão bem com a Hermozila!” De fato, fiquei lá dois anos e quatro meses. Eles moravam em um sobradão, muito bem arrumado. Ele me disse: “-Você fará companhia para a Hermozila!”. Lá na época existiam alguns sobrados, mas era um tanto quanto isolado. Ele ficava preocupado porque ela ficava sozinha com o menino na época com uns seis anos. Fiquei pensando, ser professora de desenho? Eu fazia bem feito, mas não era a minha matéria. Antonio Pacheco Ferraz era professor da banca examinadora da Escola Caetano de Campos. Ele me deu umas aulas, eu tinha facilidade para desenho, o meu irmão Antonio Souza Ferraz pintou vários quadros, meu primo Antonio Pacheco Ferraz dizia que o meu irmão era artista nato.

A senhora prestou o concurso para professora?

No dia certo do exame fui para a Escola Caetano de Campos, na Praça da República, passei em todos os exames. Nesse meio tempo apareceu um rapaz que eu conheci quando estudei em Itapetininga, Seu nome era Hélio dos Santos, era filho único, morava com a mãe viúva, em São Paulo. Era funcionário do Estado. A mãe dele era inspetora de alunos. Todo mês eles iam para um sítio que tinham em Itapetininga. As vezes iam visitar a Dona Ditinha que era prima deles. Eu estava lá e esse rapaz me conheceu. Fizemos amizade. Saíamos passear em grupo, junto com outros filhos da Dona Ditinha. Um ano em que permaneci em Itapetininga ele ia todo mês para lá. Minha irmã recomendou que eu voltasse para Piracicaba. Voltei. Um dia recebi uma carta desse rapaz. Disse que viria a Piracicaba fazer um passeio e que gostaria de encontrar-se comigo. Ele veio, na época eu estava ainda estudando. Ele voltou à São Paulo. Após me formar fui para São Paulo, eu estava na casa do Nenê, ia prestar concurso para ser professora do Estado. Um dia o Hélio apareceu na casa do Nenê. Ele foi com a mãe dele, Dona Adelaide. Foram fazer uma visita. Enquanto Dona Adelaide estava conversando com a minha prima ele se declarou, disse que desde que tinha me conhecido em Itapetininga não me esquecia. Concordamos em nos conhecer melhor, a começar a namorar até que ele me propôs casamento.

Ele era professor?

Não, era funcionário público, como o salário era restrito ele deixou doze anos de trabalho e foi trabalhar na Companhia Água Branca, uma empresa muito rica. Um grande amigo dele, o Joaquim era diretor dessa empresa, sempre dizia que ele poderia trabalhar lá e ganhar três a quatro vezes mais do que no Estado. Depois que ele firmou o namoro comigo, saiu do Estado e foi trabalhar com esse amigo. Íamos nos casar. Ele havia comprado o necessário, estava preparando tudo certinho. Ele queria fazer um casamento igual ao do Joaquim que fazia sete meses que havia se casado. Um dia ele me disse: “-Irene, falta três meses para nos casarmos, vou mostrar para você como será nosso casamento”. Deu todos os detalhes, onde seria a festa, a viagem de núpcias no Rio de Janeiro no Copacabana Palace. Fiquei muito contente, muito feliz. O meu casamento ia sair da casa do meu primo Antonio Pacheco Ferraz. O Hélio me disse: “-Irene, você vai escolher uma escola do Estado, só que para quem está começando não será aqui em São Paulo, você irá lecionar lá não sei aonde. Você vai sair de São Paulo, eu estou aclimatado aqui, não quero sair daqui. Eu gostaria que você desistisse você não precisa trabalhar.” Disse-lhe: “Imagine! Formei-me com tanto sacrifício, quero lecionar!”. Ele então me disse, você pode arrumar escola, perto de casa, aqui em São Paulo. Concordei com ele. Era um moço bom, congregado mariano, religioso. Faltava apenas três meses para nos casarmos, enxoval completo, alianças, viagem de núpcias programada. Ele viajava para essa companhia, ia pela Via Dutra. Ia para todos os lugares de carro. Em uma dessas viagens, no dia 29 de abril de 1958, ele sofreu um acidente de carro e faleceu. Eu já estava lecionando na Prefeitura de São Paulo, na Cidade Vargas, no final do metrô Jabaquara.

Quando a senhora ficou sabendo da tragédia?

Era bem cedo, eu estava indo para a escola, o Joaquim, amigo do Hélio foi para me dar a noticia, mas não teve coragem. Ele bateu na casa vizinha e deu o recado. A vizinha era um sobrado geminado com o do Nenê, da sacada ela bateu na janela do quarto do Nenê. Eram umas seis horas da manhã. O Nenê acordou assustado, quando recebeu a noticia de que o Hélio estava no necrotério. Nenê e Hemozila sentaram-se na cama, não sabiam como me dar a noticia. Ficaram os dois conversando, eu já estava de saída para a escola, quando eu estava para descer a escada passei pelo quarto deles que estava com a porta meio aberta, escutei falarem “Irene”. Logo imaginei que mamãe tinha falecido, ela andava muito doente. Bati na porta, falaram que eu entrasse. Perguntei o que estava acontecendo. Foi quando me disseram: “Seu noivo morreu, está no necrotério”. Era uma terça-feira. Eu tinha estado com ele no domingo. O Nenê foi comigo até o IML na Rua Teodoro Sampaio. Parecia que estava dormindo. Nem parecia estar morto. Ele faleceu no dia 29 de abril e foi sepultado no dia primeiro de maio. Larguei escola, larguei tudo. Voltei à Piracicaba, sem rumo. Fiquei quase um mês. Foi quando apareceu uma amiga, veio junto com o marido e me disse: “–Vamos voltar agora mesmo, ou você irá perder a sua escola!”. Eu disse-lhe: “–Aparecida, não sei se vou voltar a lecionar!”. No mês seguinte voltei a lecionar, meio sem rumo. Eu já estava lecionando na Adutora Rio Claro, antes de Santo André. Quando surgiu esse ensino, mais do que depressa fui atrás do padre Meirelles pároco da Igreja Nossa Senhora das Graças, ele arrumou uma sala fui até a prefeitura, me inscrevi, no mês seguinte estava nomeada. Wladimir de Toledo Piza como Prefeito do Município de São Paulo, tomando conhecimento da falta de vagas para crianças em idade escolar, criou as Escolas Primárias Municipais, rompendo com o Convênio Escolar que a prefeitura mantinha com o Governo estadual e implantou 2.000 escolas em um ano. Para viabilizar o orçamento as construiu em madeira, por serem de rápida execução e de baixo custo e adaptou outras, precariamente, em garagens e associações de bairro, visando atender a demanda anos depois elas ganhariam prédios definitivos. Com o passar do tempo a prefeitura construiu uma escla, a Escola Municipal Cidade Vargas. Nessa escola permaneci por 17 anos. Fui designada para dirigir uma escola em Campo Limpo, no Jardim das Rosas. Para chegar na escola tinha que tomar tres conduções, incluindo onibus e taxi. Ia de onibus até o Largo Treze. De lá em diante ia de taxi.

A senhora chegou a conhecer algum outro moço, após o falecimento do Hélio?

Depois que o Hélio faleceu tive um convite para ir para a Serra do Navio, Território do Amapá, para lecionar lá. Fui, fiquei seis meses. Uma companhia americana tinha arrendado um território por cinquenta anos, tinham feito uma cidade em Macapá. No Porto de Santana embarcavam o minério de manganês, ficava a cinco horas da Serra do Navio, onde havia uma cidade que eles fundaram  Terezina. Implantaram um sistema administrativo tipico americano. Fui para dar aulas a filhos de funcionários brasileiros. Voltando a São Paulo continuei lecionando, com o passar do tempo após morar em apartamento próprio, por conveniência pessoal, passei a morar em um pensionato. Havia uma professora aposentada cujo filho tomava refeições aos sábados no pensionato, o advogado Francisco Dantas Pinheiro. Ambos tinhamos por volta de quarenta anos. Casamos na Igreja Santa Terezinha, em uma travessa da Avenida Angélica. Permanecemos casados por 15 anos.

DENISE OTERO STORER


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADA: DENISE OTERO STORER

 



O amor de Denise Otero Storer pelas artes plásticas, pelo cinema, pela literatura, ela considera como um presente dado pelo seu pai Telmo Otero, Denise desde pequena o acompanhava aos Salões de Belas Artes. Os primeiros salões que Denise freqüentou eram realizados nas dependências da FOP- Faculdade de Odontologia de Piracicaba, a Rua D.Pedro II esquina com Rua Alferes José Caetano. Ele chegava a sua casa e dizia à Denise: “- Hoje vou levá-la a abertura do Salão de Belas Artes!” Ela era ainda muito nova, mas gravou em sua memória Levava-a ao cinema para ver Cantinflas, Sarita Montiel, Jerry Lewis, ele também adquiriu coleções de Monteiro Lobato para que Denise pudesse ler. Proprietário da Casa Triângulo – comércio de materiais para construção, fundada em 1950, Telmo Otero presidiu a ACIPI- Associação Comercial e Industrial de Piracicaba de 1977 a 1991, entre os fatos que marcaram sua gestão, um deles foi a construção da sede da entidade uma obra que começou a ser idealizada por presidentes anteriores a Telmo, mas que foi colocada em execução em sua gestão, conforme previa um projeto na década de 70. Telmo Otero sempre foi muito influente junto a sociedade piracicabana, no exercício de suas atividades na ACIPI agiu com grande dinamismo, deixando um legado de obras e princípios comerciais que até hoje estão presentes em nossa sociedade. Denise Otero Storer é nascida em Piracicaba a 19 de setembro de 1951 ela e Maria Tereza são filhas de Telmo Otero e Anesis Antonia Bragaia Otero. Denise Otero casou-se com o engenheiro civil Cesar Marcom Storer. Recebeu diversos prêmios: Aquisição (1991, 1995, 1996), Medalhas de Ouro (1996, 1998), Medalha de Prata (1991) e Menções Honrosas (1991, 1994, 1996), em Salões de Artes Plásticas de Piracicaba, Araras, São João da Boa Vista, Amparo e Franca. Fez diversas exposições individuais em diferentes locais de Piracicaba. Foi membro de comissões organizadoras, de seleção e premiação de diversos Salões de Arte além de capas de “folder” e folheto turístico.


Seus primeiros estudos foram em que escola?

O curso primário foi no Grupo Escolar Moraes Barros, Da. Neide foi a minha primeira professora. No terceiro ano minha professora era Dona Maria José. Eu tinha muita vontade de ficar sócia da Biblioteca Municipal, que na época ficava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba. (Um casarão centenário, que recentemente foi demolido para dar lugar a mais um espigão no adensamento populacional). Foi uma grande alegria o dia em que me tornei sócia, houve a necessidade de ser acompanhada da minha mãe como adulto responsável. Até hoje gosto do odor característico de livros! A meu ver os novos recursos tecnológicos tablet, PC, ou simplesmente tablete não substitui o livro. Gosto de frequentar sebo (Palavra para designar livro de segunda mão).

Após concluir o primário qual foi o próximo curso que você fez?

Entrei no Jeronymo Gallo e no Instituto de Educação Sud Mennucci, onde fui classificada em segundo lugar. Optei em estudar no Sud Mennucci, na época as mães gostavam que as filhas fizessem o curso Normal, já era um diploma. Tive aula com Dona Zelina, Seu Argino, Lino Vitti, Evaristo, Benedito de Andrade, Godoy. Era no tempo em que o bonde virava na Rua José Pinto de Almeida, sentido da Rua XV de Novembro. Tínhamos os Cinemas, Polyteama, Broadway, Palácio.

Você tocava algum instrumento na famosa fanfarra do Sud Mennucci?

Eu só participava do desfile, não tocava nenhum instrumento. Eu convivi logo no comecinho do curso a existência de um muro que separava a entrada das meninas e dos meninos. Logo depois tiraram o muro.


Quem era seu professor de arte?

Tinha um professor de desenho, o Seu Costa, mais conhecido como “Costinha”, ele foi um professor de desenho que tinha muita consideração pelo meu trabalho, ele sabia que eu tinha uma coisa especial com relação a desenho. Foi o primeiro professor de desenho a me ensinar a tirar no natural. Enquanto todo mundo estava fazendo desenho geométrico ele colocava umas caixas para que eu fizesse um pouquinho de desenho artístico. Ele me deu algumas diretrizes de desenho artístico. Quando eu era criança lembro-me que meus pais compravam cadernos de desenho feito de papel jornal e lápis de cor. Eu desenhava meu mundo ali. E até hoje é assim! O meu processo criativo está muito ligado com o que eu vivo. Por isso também tenho várias fases de trabalho, depende muito da época eu necessito transmitir algo que estou vivendo ou observando. São todos tipos de emoções que procuro transmitir. Posso dizer que não pinto “comercialmente”. Sempre contei a minha história através da minha arte.

Olhando ao acaso uma pintura sua, sente-se um convite para vivenciá-la. Como você consegue transmitir esse sentimento ou ele existe apenas nos olhos de quem vê a tela? 

Essas coisas fazem parte da minha história. A carrocinha que você vê pintada no quadro é aquela que vinha na porta da minha casa para vender verduras.

Nesse quadro em especial, a carrocinha está ambientada em um ambiente rural, na tela ela foi inserida de acordo com algum processo trabalhado por sua inspiração?

Não é algo imaginário, e sim alguma coisa que existe. Toca o meu coração. Lembra alguma coisa da minha infância.

Toda essa riqueza de detalhes como você consegue transportar para a tela?

Isso envolve técnica, saber definir planos, saber dar volume no trabalho, saber trabalhar no primeiro plano. Isso é um aprendizado, que não é adquirido instantaneamente. Demanda um tempo para dominar essas técnicas. A emoção é o último fator, quando você consegue dar emoção a um quadro é após todos esses ingredientes terem feito parte de você. A técnica é a asa que me permite voar na minha criatividade. Só que para voar eu necessito ter asas! Para criar alguma coisa eu tenho que dominar essa coisa. Existe uma diferença entre errar e distorcer. O erro eu faço mesmo sem querer. Cometo o erro porque não sei fazer. A distorção não, eu sei fazer e quero fazer diferente. É proposital.

Você formou-se como professora normalista quando concluiu o curso no Instituto Sud Mennucci?

Já sai do Sud Mennucci com aulas de desenho pedagógico, aulas de desenho geométrico. Permaneci no Sud mesmo, dando aulas. Por pouco tempo dei aulas também, no Jerônimo Gallo. Quando me formei tinha por volta de 18 anos. Sempre gostei de dar aulas, tenho facilidade de passar as informações ás pessoas, elas me entendem bem. Faço analogias para que fique mais fácil o entendimento. Eu gosto do que eu faço. E gosto de passar adiante o que sei. Assim como sempre estou aprendendo com outras pessoas.

Você prosseguiu nos estudos?

A minha paixão era fazer Belas Artes. Era um curso que só tinha em São Paulo.

Qual foi a reação do seu pai, Telmo Otero, com relação a esse desejo da filha?

Ele não permitiu de jeito nenhum! Tentei encontrar alguma faculdade que eu pudesse fazer, mas que tivesse relação com arte. Escolhi Letras. Fiz Literatura Inglesa, Americana, Portuguesa, Brasileira. Quando conclui a UNIMEP já saí com aulas. Era a primeira aluna da classe. Comecei como professora. Logo me deram tudo, laboratório de línguas, o colegial inteiro, noturno. De manhã e a tarde eu dava aulas de artes para cerca de 100 alunos, uma escolinha de crianças, adolescente, que ficava na casa da minha mãe mesmo, na Rua do Rosário, 133. Eu devia ter uns 20 anos, percebi que tinha que fazer uma opção, ou ficava com a arte ou com o inglês. Só que a arte sempre falou mais alto, e infelizmente deixei o Instituto Piracicabano. Foi um período interessante, levei minha arte para lá também, fazia teatro, interpretava William Shakespeare, levava discos do Elton John, na época traduziamos letras, eu desenhava na lousa, naquela época não tinhamos os recursos que existem hoje. Era uma aula artístitica. Acabei por optar só pela arte. Casei-me aos 24 anos, tive os filhos Cesar e Beatriz. Èramos estudantes quando eu e o meu marido Cesar Marcom Storer nos conhecemos, eu tinha 17 anos ele tinha 19 anos.

Denise, você transmite sentimentos especiais com sua arte e as pessoas se manifestam a respeito. Algumas de suas obras quando postadas na rede social é motivo de muitos elogios.

Embora não sejam explicitos as pessoas percebem os nossos sentimentos. Quando faço uma obra é essa emoção que carrego dentro de mim que coloco ali. Eu trabalho com a verdade, não me importo com o que os outros pensem a respeito. Essa arte é a minha vida, eu escrevo através dela.

Quais são as técnicas de pintura que você mais utiliza?

A principio comecei com o óleo, era a técnica mais conhecida, com mais facilidade de encontrar material. Por volta de 1990 a prefeitura patrocinou um curso na Pinacoteca Municipal, com um professor, Norberto Stori, da FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado. Ele veio para dar um curso de aquarela, por um período de dois anos. No final, dos aproximadamente 60 alunos que iniciaram o curso apenas sete alunos concluíram e formaram um grupo “7+2”.

Por  que esse grupo se chamava “7+2” ?

Éramos sete alunos que tinhamos concluido o curso e convidamos mais dois amigos para fazer parte: o Arair Ferrari e Natal Gonçalves. Durante aproximadamente uma década fizemos bastante exposições.

Quem pode matricular-se na sua escola de arte?

Qualquer pessoa que tenha interesse pela arte, desde principiantes. A partir dos doze a treze anos até sem limite de idade máxima. Tenho um aluno que entrou com dez anos, hoje tem dezesseis anos e ganhou menção honrosa no Belas Artes.

Temos grandes artistas em todas as áreas, o que falta para serem devidamente valorizados no Brasil?

É uma questão cultural. As vezes estou pintando no meu ateliê, como da rua é  possivel ver a obra que está sendo realizada, algumas pessoas passam, param, admiram, dizem que imaginam o quanto deve ser bom pintar. Geralmente acabam perguntando: “-E você não trabalha?”. Na concepção dessa pessoa pintar, desenvolver uma arte já a quarenta anos não é trabalho! Minhas obras são vendidas a um preço acessivel, só que por questões culturais gasta-se muitas vezes mais em uma bolsa do que em um quadro. 


Quantas obras você já realizou?

Quando meu marido aposentou-se, propô-se a catalogar todas as obras. Só que eu já tinha vendido muitas. Quando ele catalogou existiam cerca de 3.000 obras. Portanto deve ser um número maior.

Seus trabalhos estão em diversos países?

Tenho trabalhos que realizei espalhados pelo mundo afora. Tenho várias histórias a respeito. Um americano veio até o meu ateliê e encomendou especialmente para ele uma aquarela com o salto do Rio Piracicaba. Ele levou, enquadrou, colocou sobre a sua lareira, tirou uma fotografia e me enviou por e-mail para que eu visse. Em 2013 quando uma turma de engenheiros da Esalq comemorou 40 anos de formatura da turma fiz a capa do livro, a contra-capa e todos os trabalhos que foram presenteados aos alunos-colaboradores, fiz 23 aquarelas só sobre o prédio principal da Esalq, em angulos diferentes, nenhum repetido. A Unimep tinha um convênio com o Instituto Metodista Bennett do Rio de Janeiro, fui convidada para fazer uma exposição lá. Além de levarem a exposição, fizeram um coquetel de abertura, e deram-me a passagem de ida e volta de avião. O curioso é que essa foi a primeira vez em que andei de avião! (Denise após isso viajou para Europa, recentemete esteve na América do Norte).

Como o nosso jovem vê a arte?

Me parece que está havendo um pouco mais de atenção nesse ponto. Vejo salões, pinacotecas, escolas, excursões levando alunos com monitores explicando, isso antigamente era raro. Talvez essa nova geração se interessse mais pela arte. Em diversas cidades de outros paises, vi crianças em museus, salões de arte, discutindo cores, percebe-se claramente que em determinados locais há um grande incentivo à arte. E o Brasil parece estar caminhando nesse sentido, de educar a pessoa.

Um patrimonio mundial da cultura artística que existe no Museu de Arte Moderna de São Paulo, MASP, porque não é usufruido mais?

Muitas pessoas nem conhecem, nunca foram. Não sabem o que é uma Pinacoteca do Estado.  Vale a pena visitar só para ver o prédio maravilhoso. Eu acredito que isso vai se invertendo. As pessoas estão tendo mais acesso a cultura, a própria internet facilita.

Para quem conhece apenas um pote de tinta e um pincel, ao iniciar um curso de pintura com você, quanto tempo essa pessoa levará para ter alguma noção de arte?

Depende da pessoa, da bagagem que ela traz, tem pesssoas que já tem um certo talento. Nesse caso é só lapidar um pouco e logo estará desenvolvendo. Outras não, tem que começar do nada, mas eu acredito, não daria aula para principiante se não acreditasse nisso, na possibilidade do seu sucesso. Penso que todo mundo tem todos os ingredientes em seu interior, basta querer desenvolve-los.

Há pessoas que desenham intuitivamente , com relativa perfeição, até em cantinho de jornal, qual é o caminho que esse futuro artista pode seguir?

Sou uma professora bem abrangente, dou aula de pastel seco, pastel oleoso, aquerela, óleo, moderno, classico, acrílica. Dou aulas de artes, a colagem dentro do contexto de arte também. Tem quem goste de fazer o moderno, o abstrato.

O conceito de que arte é coisa de elite existe ainda?

Isso está errado. O artista tem que estar onde o povo está. O artista não pode ser elitizado. No meu entender, o artista não é um intelectual. Ele é um artista! Sou apaixonada por desenho, é minha arte primeira, desde criança eu desenho.

Você tem alguns quadros com paissagens européias?

Tenho! Eu fui para lá! Não pinto coisas que não vivo! Preciso sentir o cheiro,saber a cor, viver o momento. Tenho que vivenciar para transportar aquilo para a tela. Meu processso criativo é esse. Pode ser uma situação que eu esteja presenciando. Acho que a arte não pode ter barreiras, fronteiras ou limites. Cada individuo é único.

A Bienal é um evento marcante e algumas vezes saimos do recinto com a duvida se algo exposto tem o valor de arte ou foi apenas a intenção de arrumar uma bela confusão?

A Bienal tem coisas maravilhosas, tem coisas que vi lá e nunca mais me esqueci. Lembro-me de uma em que tinha um espaço, tudo em construção, vamos dizer assim, inacabada. Um monte de tijolos. Uma pá. A impressão é de que não tinha dado tempo para fazer a obra. Era a obra! Mais tarde tinha um monitor explicando a obra! Mais parecia um espaço em reforma. É uma arte conceitual, tem toda uma filosofia envolvendo aquele trabalho. Precisa conhecer um pouco a trajetória do artista para poder avaliar, por isso não se deve colocar tudo no mesmo patamar.

Além da arte, o que você gosta de fazer?

Gosto muito de ler, de ir ao cinema, musica, prefiro mais musica clássica. Toco violão.

Como é a dona de casa Denise?

Normal! Cozinho, tem dias que acho que está muito bom, outros dias acho que não.

Qual prato que você cozinha e ninguém resiste?

É o puchero, receita que herdei da minha avó!

As mudanças ocorridas com o crescimento de Piracicaba reflete nas obras do artista?

Acredito que sim, o volume de informações é maior.

O aumento da violência influencia?

Acho que já temos tanta violência na mídia, não vejo a necessidade de que eu mostre isso na arte. Tem artista que gosta do motivo social, de alertar as pessoas. É valido. Mas eu prefiro ter um olhar diferente, passar isso para as pessoas para que os olhos delas fiquem contentes. Minha filosofia de vida já prega isso. Que temos que ser positivos. Para mim é uma missão, fazer com que as pessoas fiquem felizes. Temos que puxar as coisas boas que as pessoas tem dentro de si. Quando um aluno ganha um prêmio, participa de uma exposição, sinto uma realização pessoal muito grande.

A arte de Denise Storer está ao alcance de quem desejar adquirir?

Os preços são bem acessíveis. Desde uma pequena aquarela até um quadro maior. Basta a pessoa querer e gostar.

FREDERICO ALBERTO BLAAUW


ENTREVISTA REALIZADA NO DIA 21 DE AGOSTO DE 2014 A RUA ALFERES JOSÉ CAETANO, 581

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23de agosto de 2014.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: FREDERICO ALBERTO BLAAUW

 

 

Em uma reunião a 9 de setembro de 1968 o Conselho Diretor do Instituto Piracicabano decidiu encaminhar o pedido de autorização para mais dois cursos: o de Direito e o de Ciências Biológicas. Frederico Alberto Blaauw foi o primeiro colocado no primeiro vestibular, realizado a 14 de fevereiro de 1970, com um total de 159 inscritos e um total de 115 aprovados. Frederico Alberto Blaauw, que se tornaria professor do curso já era professor de línguas e literatura no Colégio Piracicabano. Formado em Direito, continuou na docência. Nascido em São Paulo, na Rua Piratininga, a 27 de outubro de 1933, filho primogênito de Frederico Blaauw e Ana Henriques Blaauw  que ainda tiveram os filhos José Carlos e João Paulo.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Meu pai era funcionário da Shell. Eu tinha alguns meses de vida quando a nossa família mudou-se à Piracicaba. No inicio residimos em uma casa situada a Rua São José, 1182, ficava a meio quarteirão abaixo do Largo Santa Cruz. Depois mudamos na esquina, no Largo  Santa Cruz, 862,  esquina com a Rua São José. Na época o Largo Santa Cruz era chão de terra. Tinha uma capelinha no centro do Largo Santa Cruz, onde  havia festas.

Com que idade o senhor começou a freqüentar a escola?

Aos sete anos iniciei o curso primário no Grupo Escolar Moraes Barros. Minha primeira professora foi Maria Emilia Cardinalli. Prestei o curso de admissão e fiz o ginásio no Piracicabano, situado na Rua Boa Morte. O Curso Científico fiz no Instituto Sud Mennucci onde tive aulas com Argino da Silva Leite, que ensinava matemática, Benedito de Andrade que lecionava português. Demosthenes Santos Corrêa professor de química. Fui aluno do Archimedes Dutra.Conclui o científico aos 18 para 19 anos.

O senhor tinha algum curso como meta?

Eu desejava entrar para a escola de cadetes., em Resende. Eu tinha um pendor para isso. Só que nessa época, em 1954, meu pai faleceu. Como filho mais velho tive que assumir os encargos da família. Prestei o concurso para o SESI, fui aprovado como educador social. Por ter sido aprovado nesse concurso, fiz a Escola de Sociologia e Política, com bolsa do SESI em São Paulo, onde permaneci por três anos residindo em uma casa situada no Brás. A Escola de Sociologia Política ficava bem no centro, ao lado da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, atualmente é a Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Após concluir esse curso voltei para Piracicaba como Educador Social do SESI. Atendia as empresas. 

 

Em poucas palavras qual era a função do Educador Social?

A função primordial era trabalhar no sentido em que houvesse a paz social. Evitar litígios entre funcionários e empresas. Já existia sindicalismo, com um enfoque diferente. Hoje as empresas e os sindicalistas são antagônicos. Antigamente procuravam caminhar juntos.

Quanto tempo o senhor permaneceu no SESI?

Foram mais de 30 anos. Assumi a supervisão do Centro Social número 20 que abrangia Piracicaba. Eram ministradas palestras, principalmente cursos, de formação cívica, de supervisão de pessoal, de relações humanas. Esse trabalho do SESI hoje não existe mais. Infelizmente a própria relação patrão-funcionário deteriorou. O intuito principal era estabelecer o dialogo, a paz social. Os cursos eram dirigidos nesse sentido.

O senhor lecionava?

Fui educador social ministrando as aulas. Depois assumi a direção, passando a ter uns oito ou nove subordinados. Pode-se dizer que nunca houve um clima extremamente pesado (de guerra) entre a classe patronal e a classe de trabalhadores, como ocorreu em outras regiões do país.

O sobrenome Blaauw tem qual origem?

A origem é holandesa, de Amsterdam Meu avô paterno, Frederico Blaauw era engenheiro, veio para Campinas quando a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro estava sendo implantada. Acabou casando-se em Campinas. Meus avós maternos eram portugueses, ela era Ascenção da Silva Henriques e meu avô era Alberto Henriques. Minha avó materna passava temporadas conosco, depois voltava para Lisboa. Blaaaw na Holanda é um nome tão comum como Silva no Brasil. Blaaw quer dizer “azul”. No Nordeste existe uma cantiga que fala do “Boi Blau” quando ele aparece traz sorte. A  origem está no período da Invasão Holandesa.

O que o levou a cursar direito?

Fiz o curso de direito na UNIMEP. No vestibular da UINIMEP fui aprovado em primeiro lugar. Isso foi em 1970, sou da primeira turma, formei-me em 1973. Eu tinha 37 anos.

O senhor resolveu trabalhar na área jurídica ou continuar na área de ensino?

Até então eu trabalhava no SESI e também lecionava. Fui professor de português por muito tempo, em várias escolas. Lecionei no Colégio Piracicabano, na Escola Industrial, por muito tempo lecionei na Escola de Comércio do Zanin (Escola de Comércio Cristóvão Colombo).

Há quem diga que a lingua portuguesa é complexa, o senhor concorda?

Se você comparar a lingua portuguesa com o inglês, a aplicabilidade dela é a mesma. Só que o inglês é uma lingua praticamente universal e o português é restrito.

A análise sintática tem algum segredo para que o aluno tenha bom entendimento?

Eu acredito que não existem segredos. O que existe é a aplicação do aluno. E o aluno é sempre uma resposta em relação ao professor. Na medida em que o professor exige o aluno corresponde.

Qual foi sua atividade referente ao direito logo após a sua formatura?

Passei a dar aulas na própria faculdade.

O senhor pratica algum esporte?

Faço caminhadas. Antes eu praticava corrrida, dois a dois quilometros e meio todos os dias. Eu morava em uma casa situada na Avenida Independência esquina com a Rua Samuel Neves. Fazia aquele percurso até a Esalq, dava um giro pelo campus e voltava.

O seu porte ereto, a postura elegante, é genético ou força do habito?

Acho que é força de vontade!

No campo do direito qual é a especialidade do senhor?

O meu escritórios´trabalha com pesssoa juridica. Prestamos assessoria para empresas. Obviamente que para os sócios das empresas nós prestamos serviços. Isso sempre foi assim, desde o começo.

O senhor nunca atuou na área criminal?

Essa parte criminal não fazemos. Só trabalhamos com direito civil, direito de trabalho, direito tributário. Contratos.

O Direito no Brasil é o mesmo direito dos outros países?

Acho que há um equilibrio.

Qual é a importância da Ordem dos Advogados do Brasil, OAB? 

E um orgão que disciplina, organiza, tem uma amplitude muito grande em relação aos advogados. É o orgão de controle da advocacia. Hoje ela está mais voltada para a sua própria atividade, ela não ten a expressão política. Ela já teve uma participação politica maior. Hoje ela está mais voltada para a prória classe.

Em 1964 o senhor ainda não era advogado, mas já estava inserido no sistema de serviço publico. O senhor vê que o Movimento de 1964 trouxe resultados positivos?

O golpe de 1964 foi bem recebido pela população de uma maneira geral, pela igreja, pelas instituições, pelo empresariado. Dados os desmandos que havia. Depois as coisas foram mudando e a visão passou a ser outra. Só que durante 20 anos vivemos garroteados. Fui vereador em duas legislaturas. No governo de Cassio Paschoal Padovani e no governo de Adilson Benedito Maluf, quando fui o vereador mais votado do MDB – Movimento Democrático Brasileiro, oposição a Aliança Renovadora Nacional – ARENA. O deputado Francisco Antonio Coelho era presidente do diretório do MDB. Fui líder da bancada do MDB. Fui fundador do Lions Cidade Alta.

Qual fato o senhor pode destacar como muito representante para Piracicaba no período em que o senhor foi vereador?

No governo do prefeito Adilson Benedito Maluf a vinda da Caterpillar para Piracicaba foi muito marcante! Talvez seja a mais importante mudança que Piracicaba teve nos últimos anos e se deve ao prefeito Adilson Benedito Maluf que nunca foi reconhecido como gestor que trouxe a cidade para Piracicaba. O Adilson era filiado ao MDB. Foi uma grande luta sua trazer a Caterpillar à Piracicaba, esteve até nos Estados Unidos, em Peoria, onde fica a matriz da Caterpillar.

Nessa época ser oposição ao governo era uma atitude muito complicada?

Precisava ter muito peito!

Depois que deixei o mandato fui secretário de finanças do João Hermann Netto, e fui também Procurador Geral do Município. Na época de Luciano Guidotti fui presidente do Departamento Municipal de Cultura, naquela época não existia secretaria. Havia também o Departamento de Turismo. Fui presidente da Guarda Mirim, criei o departamento feminino da Guarda Mirim. O Ciappina era o comandante. Quando a Guarda Mirim foi criada o menor podia trabalhar, o objetivo era tirá-los da rua, dar uma formação, o que a Guarda Mirim fazia muito bem, e encaminhá-los para o serviço. Hoje só pode ser feito com 14 ou mais anos.  Fui presidente da Comissão Municipal do Mobral, formamos muita gente em Piracicaba. Consegui doações para adquirir a sede do Mobral em Piracicaba, com a extinção do Mobral esse imóvel passou a ser propriedade da Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Rua José Pinto de Almeida quase esquina com a Rua São José.

Dr. Frederico Alberto Blaauw qual era o salário do senhor como vereador?

Nenhum! Não se ganhava nada para trabalhar como vereador. O combustível que eu usava no meu veículo era pago por mim mesmo. O carro que eu utilizava para trabalhar como vereador era o meu próprio carro. Não havia ajuda nenhuma. Não tinha secretária, assessor. Não tinha nem local para se trabalhar. Cada um trabalhava no seu escritório ou na sua casa.

O senhor atua como advogado especializado em direito comercial há quarenta anos, no decorrer desse tempo o direito mudou muito. Como o senhor avalia essas mudanças?

Até 2002 tínhamos um código comercial. Com o advento do novo código civil uma parte do direito comercial passou a ser incorporada ao direito civil. A parte de contratos, sociedades, deixaram de pertencer ao código comercial e passaram para o código civil.

Esse cipoal de leis que existe beneficia a quem?

Só dificulta. Para o interprete e para as partes. Eu diria que a tendência é tentar simplificar, mas nós não atingimos ainda esse estágio. A burocracia está enfronhada no sistema. É difícil desligar-se dessa situação. Nosso sistema sempre foi burocratizado, isso traz entraves. No Brasil para se abrir uma empresa leva-se no mínimo, correndo tudo bem, de três a quatro meses. Em determinados países você consegue abrir uma empresa em três dias!

O recolhimento de tributos é um problema?

A complexidade de recolhimentos é espantosa. Por exemplo, um tributo dos municípios que é recolhido para as prefeituras, o ISS, Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. Onde se recolhe esse imposto? Você paga onde a empresa tem sua sede, onde está o estabelecimento principal, ou você paga aonde o serviço é prestado. Só que as prefeituras exigem que a empresa que tem sede em Piracicaba, mas presta serviços em Campinas recolha o imposto aqui. A prefeitura de Campinas também exige que recolha lá, o serviço foi prestado lá. Há uma bitributação.

O senhor tem um cálculo aproximado de para quantos bacharéis em direito lecionou?

São 36 anos lecionando, em um cálculo rápido foram aproximadamente 2.900 profissionais do direito. Que hoje são bacharéis, advogados, promotores públicos, juízes, desembargadores.

Se o senhor não fosse advogado seguiria a carreira militar, não há um contraste nessa afirmação? Como um político da oposição se identifica com o militarismo?

Está havendo um equivoco! Militarismo é uma coisa, pertencer as Forças Armadas é outra coisa totalmente diferente! As Forças Armadas pertencem a própria instituição da nacionalidade. O próprio PT sempre foi oposição mas convive com as Forças Armadas, que é uma instituição.

O senhor tem algum livro na gaveta para ser lançado?

Eu contribuo com artigos no jornal “A Tribuna Piracicabana”. Pode ser que um dia reúna todos os artigos que publiquei e os publique em forma de livro..O que escrevo procuro dar um enfoque sempre de caráter prático. Não apenas a parte teórica.

O senhor acompanha a tecnologia?

Não tem como fugir! Antigamente a movimentação junto ao fórum era só através de papel, hoje não, é tudo digitalizado.

A profusão de novas normas, leis e decretos, obrigam o advogado a estar sempre muito bem informado?

A legislação vai se adequando a uma realidade nova que vai surgindo por força da própria evolução. Isso não há como evitar. Essas mutações fazem com que você fique sempre voltado para essas alterações. O direito evolui.

Essas mudanças de legislações não ocorrem só no Brasil?

Ocorrem mudanças em todo o mudo, só que no Brasil elas são decorrentes de uma imposição mais tática e não estratégica. Mais para atender o dia a dia e não a longo prazo. Hoje o empresário brasileiro está preocupado com o que pode vir a acontecer. Ele se prepara para isso. Só que ele não tem ajuda do governo. O governo visa apenas a arrecadação. É preciso levar em conta que o que mantém o governo é a empresa. A empresa mantém o governo, mantém o sindicato, mantém a economia funcionando, o emprego, ela tem que receber um tratamento especial para que possa suprir as necessidades da própria sociedade. Mas não é o que acontece. A empresa é vista como inimiga. Isso é uma mentalidade atrasada. Característica do Brasil. Eu acho que o enfoque teria que ser outro.  

O senhor diria que o empresário antes de tudo é um forte, parafraseando Euclides da Cunha que escreveu que o sertanejo é antes de tudo um forte?

Eu acho que se aplica bem a situação. Os jornais de hoje estampam a execução de imóveis de um tradicionalíssimo grupo de empresas de Piracicaba, quem está executando é a Receita Federal. Trabalham lá atualmente 3.000 empregados. Qual será o destino daqueles imóveis? O que a Receita Federal irá fazer com aquilo? O que mantém o que mantém o Status Quo (estado atual) hoje? É a economia. E a nossa economia está em uma situação extremamente complicada. Piracicaba sempre dependeu das usinas, quantas fecharam as portas?

Há um grupo muito poderoso, de capital internacional, que está adquirindo tudo que atua nesse setor?

Monopólio sempre existe, não há como evitar. Acho que é muito mais uma questão de política econômica do que interesses privados.

Como o senhor vê o momento político atual?

Conturbado.

O senhor viveu o ambiente de 1964, há como fazer uma comparação com dos dias atuais?

 A situação é completamente diferente. Hoje a democracia está estabilizada no Brasil. Hoje o Brasil é uma democracia firme. Para ser plena falta muito, mas caminhamos para isso. A não ser que sobrevenha uma situação inusitada.

O senhor tem algum hobby?

Gosto de chácara, de plantar, gosto de cavalo árabe, tive um chamado Koltov, de cachorro, sempre gostei da raça fila brasileiro, hoje tenho um, o Kaiser.

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