segunda-feira, dezembro 21, 2015

ALICE DAS DORES DIAS CARMO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/



ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO

Alice das Dores Dias Carmo nasceu na Rua Manoel Dutra, batizada na Igreja do Espírito Santo na Rua Frei Caneca, fez a sua primeira comunhão na Igreja São João Batista. Foi crismada na igreja Nossa Senhora Achiropita na Rua 13 de Maio. Casou-se na Igreja Imaculada Conceição. Filha de José Pedro Dias e Tereza de Jesus Dias nascida em 1892.

Igreja Nossa Senhora Achiropita





Os pais da senhora nasceram no Brasil?
Sou filha de pai e mãe portugueses, assim como neta de portugueses. Meu pai é da região de Trás-os-Montes sua atividade profissional lá era barbeiro.


                                              IMAGENS DE TRÁS-OS-MONTES
 Na época havia uma imagem de que no Brasil as libras esterlinas estavam em toda parte, o que era pura ilusão. Meu pai nasceu em 1888, embarcou em um navio e veio para o Brasil, desembarcando em Santos. Foi para São Paulo, no Brás, onde a irmã da minha mãe tinha uma pensão na Rua Marcos Arruda. Morei na Rua João Boemer entre a Rua Itapiraçaba e Rua Santa Clara.




Que dia a senhora nasceu?
Nasci no dia 19 de julho de 1918, tenho 97 anos. Minha mãe teve três filhos, um que faleceu precocemente, outro, o Alberto que foi o precursor da música na família e eu. Quando eu nasci meu pai era militar, trabalhava no quartel situado a Rua José Getulio. Naquele tempo meu pai pertencia a então Guarda Cívica. A farda era bonita, com botões dourados. Logo depois que eu nasci o meu pai pediu baixa, recebeu menção honrosa.

Imagem relacionada

 Ele então decidiu abrir uma casa de móveis. Alguns anos depois minha mãe adoeceu, ela queria ir embora para Portugal. Em 1922 fomos embora para Portugal onde permanecemos por quase três anos. Fomos para Portugal no navio Astúrias, da Mala Real Inglesa, levamos 14 dias de viagem Quando voltamos de Portugal ao Brasil foram 9 dias de viagem, no navio Neptuno. Voltamos para o Brasil em 1925, aonde meu pai era patrão ele foi ser empregado, na casa de móveis. Ficou uns três anos lá até juntar algumas economias, abriu outra vez uma casa de móveis. Em 1932 veio uma crise muito forte, não havia uma casa comercial aberta, ninguém tinha emprego. Nessa época meu pai tinha uma casa de móveis, contava com cinco funcionários. Teve que encerrar as atividades. Calhou que o meu pai vendeu para pessoas que não eram boas pagadoras. Papai perdeu tudo. Morávamos em uma casa onde pagávamos de aluguel oitocentos mil réis, que naquela época era muito dinheiro. Fomos morar em um quarto e cozinha meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Na época eu estava estudando. Meu pai chegou a pagar dívidas cortando cabelo pelo equivalente a um real hoje, e a barba a cinqüenta centavos.
O que a senhora se lembra de 1932?
Lembro-me que morava em uma casa grande, no Brás, na Avenida Celso Garcia, 56 em frente a Rua Joli, entre a Rua Bresser e a Rua Progresso, tinha o cinema Brás Polyteama, do outro lado, do nosso lado era o Cine Universo. Era quase na esquina da Rua Bresser. Estudei no Grupo Escolar Padre Anchieta, na Avenida Celso Garcia. Minha primeira professora, ainda no Jardim de Infância, chamava-se Dona Delfina, usava cachinhos nos cabelos. A professora do primeiro ano foi Dona Luisa. A escola ficava próxima a Rua Santa Rita. Dali fui para a Escola São João Evangelista. Até onde hoje é o Templo de Salomão é o Brás, a seguir vem o Belém e mais adiante o Belenzinho. Mudamos para a Avenida Nove de Julho aos quatorze anos tive que trabalhar para ajudar em casa e eu fui trabalhar em uma casa na Alameda Lorena.
Vocês moravam antes ou depois do túnel da Avenida Nove de Julho?
O túnel não existia, era um morro. Em cima havia uma casa de chá muito bonita, onde hoje é o MASP – Museu de Arte de São Paulo. No sentido centro para o bairro morávamos após o morro, nós íamos pela Rua Pamplona. Eu comecei a trabalhar ajudando um casal que veio da Holanda, foram morar na Rua Iris, no final da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e inicio da Avenida Santo Amaro. Tinha uma igrejinha que se chamava Igreja Santa Terezinha. Os meus papeis de casamento foram feitos na Igreja São Gabriel e na Imaculada. A Igreja São Gabriel era bem pequena. A Igreja Santa Terezinha era na divisa da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio com Avenida Santo Amaro. Ela ainda existe, mas fica em outra rua. Esse casal abriu uma fábrica de torradas holandesas, aqui chamam switchback. Naquele tempo jamais uma moça entrava em um escritório para trabalhar, eram só homens. Meu pai abriu um salão de babeiro, com um espelhinho que até a pouco tempo estava comigo, ficava no Jardim Paulista, tinha uma casa de pedra, do Dr. Aché, nós fomos morar lá, uma amiga nossa tinha uma casa com quarto e cozinha, o banheirinho como era antigamente, lá no fundo do quintal. Meu pai abriu lá o seu salão de barbeiro, ele tinha um amigo que disse-lhe: “- Zé Pedro, eu tenho um bar, é grande, vou dividir com madeira de tal forma que cabe uma cadeira de barbeiro.” Meu pai comprou uma cadeira usada, com aquele espelhinho, ali ele passou a trabalhar de barbeiro. Eu empacotava as bolachas, o proprietário chamava-se Pete Fanel. Faziamos torradas redondas e switchback. Nessa época nós estávamos morando ainda na Avenida Nove de Julho, entre a Rua José Maria Lisboa e a Alameda Lorena. Do lado da Lorena, após o morro a Nove de Julho chamava-se Rua Salvador Pires. Do lado direito tinha uma chácara de flores, chamava-se Rose de France. Do lado esquerdo já tinha casas bonitas, no estilo alemão, que ainda existem na Rua José Maria Lisboa. Do outro lado havia muitas chácaras de flores. As ruas eram todas em chão de terra. Nessa época o meu pai adquiriu uma bicicleta, que mais tarde chegou a levar à Portugal. Ele saia dali de manhã, ia até ponto final do bonde 45, no Jardim Paulista, lá ele tinha o salão de barbeiro. Eu ia de bonde para trabalhar com os holandeses. Eles almoçavam e faziam a comida em um fogãozinho chamado Jacarezinho. Ela me dava comida. Um dia sai de lá e vim com meu pai, estava chovendo, meu pai tirou o paletó e colocou nas minhas costas, para eu tomar o bonde. Eu subi, com o paletó dele no ombro, quando o condutor, que equivale ao cobrador de ônibus hoje, disse ao meu pai: “ – O senhor não pode subir no bonde sem paletó!”. Meu ai explicou que tinha colocado em meus ombros para me proteger da chuva e do frio. Em seguida ele foi embora com sua bicicleta, para economizar quatrocentos réis, era duzentos réis cada passagem. Logo em seguida faleceu o dono de um salão de barbeiro na Rua Manoel Dutra, na Bela Vista, eram amigos dos meus pais. Meu tio, irmão do meu pai, morava na Rua Manoel Dutra avisou o meu pai. Conclusão: Meu pai comprou o salão de barbeiro. Trabalhou uma temporada. O falecido tinha um filho que era barbeiro também. Um dia a viúva, Dona Rosinha avisou-nos que teríamos que mudar porque o Rogério é barbeiro também. Meu pai falou com um senhor que era nosso vizinho, um português, o Seu Magalhães que disse: “-Eu tenho esse salão que foi um açougue, hoje esta alugado para uma leiteria, e é muito grande, eu faço uma parede divisória e vocês ficam ai”. Era ao lado da nossa casa, números 112 e 114, isso na Rua Manoel Dutra esquina com Praça 14 Bis. Ficamos morando bastante tempo ali. Meu pai tocava bandolim, meu irmão tocava violão, banjo, todo tipo de instrumento de corda, ele ficava com o meu pai no salão e quando não tinha freguesia meu pai tocava bandolim e ele tocava violão, conclusão: ficava cheio de gente. Com isso meu pai ficou muito conhecido. Aquele salão estava pequeno, mais acima, na Manoel Dutra, um armazém fechou, meu pai passou para lá. Ai sim era um salão de barbeiro bom, bem arrumado. Quando sai da fabrica de bolacha fui trabalhar na fábrica de toalhas de Vicente Define e Pascoal Frascar. Nesse prédio na Rua Frei Caneca com a Rua Caio Prado trabalhei em quatro empresas.

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A Rua Augusta já era calçada?
Já! Lembro-me do jogador de futebol “Ministrinho”, era do Palmeiras, nunca fizeram homenagens para ele. Era um rei do futebol, morava na esquina da Rua Pena Forte Mendes. O Ministrinho era sapateiro remendão, sua casa era em frente ao colégio de freiras onde meus filhos estudavam. Quando não tinha guarda para atravessar a criançada lá ia ele com aquele avental, ficava no meio da rua atravessando as crianças. Quando eles jogar em outros lugares ele que carregava o saco das bolas.

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Na fábrica de tecidos quantos anos a senhora trabalhou?
Trabalhei 14 anos. Lá eu era tecelã de seda. O proprietário era Jean Nicolau. A Rua Frei Caneca começa na esquina da Caio Prado, trabalhei ali. O Seu Jean Nicolau sabia que pegada a fábrica dele havia a Fábrica Santa Terezinha, era famosa, de seda também. Trabalhávamos só com peças de tecido, não era confecção de roupas. Fomos trabalhar lá, até que eles falaram que a fábrica ia mudar para a Vila Formosa, Zona Leste. Meu pai disse-me: “-Você não vai!”. O Jean Nicolau era um moço, ele andava com a azeiteira na mão subindo em cima dos teares azeitando, porque não tinha funcionário para fazer isso. Se estragasse um pedaço de fio, por menor que fosse ele chamava a nossa atenção, com luvas de pelica. Dizia que estávamos estragando, que aquilo custava. Ali nós aprendemos a sermos econômicas e a trabalhar direitinho. Permaneci 10 anos trabalhando ali. Ai a fábrica mudou para a Vila Esperança. Nessa fábrica conheci o meu marido, ele era ajudante de contramestre. Ele tinha 22 anos. Eu sou mais velha do que ele sete anos.
Seus pais, os dois  portugueses, não é uma coincidência muito grande virem a se conhecerem e casarem no Brasil ?
Foi! A minha tia Maria casada com Manoel João, irmã da minha mãe, veio de Portugal para o Brasil antes do que a minha mãe. Abriram uma pensão nas imediações de onde é a ROTA, na Avenida Tiradentes. Ali era o reduto dos soldados. Após juntarem um dinheirinho, foram a Portugal para buscar uma irmã para ajudar a trabalhar. Meus avós tiveram 10 filhos, minha mãe era uma das mais novas. Trouxeram minha mãe para cá, ela tinha 20 anos. Ela preveniu a minha mãe que iria trabalhar fora, e que era costume na época que a empregada doméstica só ia em sua casa ver a família de 15 em 15 dias, geralmente no domingo após o almoço. Ela foi trabalhar na casa da família Paula Souza. Lá ela conheceu Washington Luís, a esposa dele era Dona Sofia. Ela trabalhava em uma rua que mais tarde veio a se chamar Washington Luís. Naquela época em Portugal havia o José do Telhado, equivalente português ao célebre italiano Gino Amleto Meneghetti. Aqui tinha o Tenente Galinha, era um homem de complexões físicas avantajadas, a polícia fazia de tudo para prendê-lo, não conseguia. Nessa ocasião Washington Luís era ministro da justiça. Alguns tinham rádio galena, inclusive meu pai, meu marido chegou a fazer rádio galena, mas já havia rádio a venda em lojas. A noticia que o radio dava era  que tinham prendido o Tenente Galinha. Um deficiente físico, que tinha um caso amoroso com a mulher do Tenente Galinha o matou, graças as indicações dadas por ela.
A senhora lembra-se da revolução do  liderada pelo General Isidoro Dias a Revolução de 1924?
Lembro-me da musica: Quem fala que é legalista/Legalista é uma banana/ Eu sou filha do Isidoro/ E sobrinha do Cabana (Tenente João Cabanas). Víamos movimentos de tropas.
A senhora viu o Zeppelin quando ele esteve em São Paulo?
Vi o Graf Zeppelin ele veio, ficou uns quinze minutos parados. O dono da firma deixou que saíssemos da empresa e ver, era uma coisa muito diferente, parecia de alumínio, o sol batendo nele. Antigamente os rapazes que não iam servir o exército faziam a linha de tiro, meu pai tinha um empregado que aos sábados eles iam fazer as instruções, praticavam, no Anhangabaú a noite, hoje um dos locais mais movimentados da cidade. Faziam duas vezes por semana.
A senhora viveu a Revolução de 1932 também?
Essa foi difícil pelo racionamento de alimentos.
Sabe como foi feita a Avenida Nove de Julho?
Com enxadão! Naquela época é que o pessoal do norte começou a vir para São Paulo. Tinha emprego a vontade. Eles trabalhavam dentro do túnel com água pelo joelho. Na Praça 14 Bis tinha umas bocas de lobo altas. Tinha mais ou menos uns vinte ou trinta burrinhos que puxavam aquelas caçambinhas, carrocinhas, os burrinhos iam um encostado no outro, chegavam a Rua Manoel Dutra, os burrinhos já sabiam, paravam, ali tinha uns rapazinhos que esvaziavam a terra. Ai os burrinhos iam devagarinho até a boca do túnel. Lá tornavam a encher as caçambinhas. Do lado onde é a fonte luminosa, a Escola Getulio Vargas, o pessoal vindo do norte fez as casinhas em volta, barracos.  Ali faziam as suas comidas, dormiam. O pouco que eles ganhavam ainda mandavam para o norte. Eles recebiam as cartas de lá e não sabiam ler, o meu pai era maravilhoso. Nessa ocasião papai era barbeiro no começo da Manoel Dutra, eles levavam as cartas para o meu pai ler e escrever as cartas para eles. Eles diziam: “Seu Zé é o nosso pai!”. Reclamavam que não dormiam a noite, não traziam quase roupas, não dormiam porque os pés não esquentavam. Meu pai dizia: “ Antes de dormir, vocês tomam um banho e colocam os pés em uma água bem quente, embrulham os pés em uma folha de jornal, assim vocês esquentam. Assim que fizeram o Túnel da Avenida Nove de Julho. Eu fui a inauguração do túnel, até guardei uns tijolinhos de lá. A inauguração foi uma grande festa, veio até pessoal do Rio de Janeiro.  
A senhora lembra-se do dia em que se casou?
No civil casei-me no dia 14 de fevereiro de 1952 e no dia 16 casei-me na igreja. Meu pai me fez um casamento maravilhoso, com dois salões de festa..
Quantos filhos vocês tiveram?
Dois, o Alberto e o José Antonio, nomes dos dois avós, do meu pai e do meu sogro. Casei-me velha, tinha 32 anos. Fui na Tecelagem Santa Branca, comprei sete ou oito metros de pano e mandei fazer o vestido. Depois com o pano do vestido fiz uma colcha.
Meu marido e eu trabalhávamos na mesma empresa, os irmãos dele também trabalhavam lá. Começamos a namorar e todo o mundo era contra porque eu era a mais velha do que as demais. Como falam hoje, naquela época já tinha as “periguetes”. Meu marido era mocinho, novinho, bonito, ele era ajudante de contramestre e eu tecelã. Eu já ganhava mais do que ele. Esperei ele completar 25 anos dia 15 de janeiro, eu tinha 32 anos, senão ficava feio, com menos de 25 anos ele era muito jovem ainda. Meu desejo era casar com uma festa e um vestido de noiva de cauda, tudo isso eu tive. Só uma coisa que eu tive e não esperava é que casei-me no domingo de carnaval, acabamos de casar no dia seguinte embarcamos para o Rio de Janeiro, minha cunhada morava lá, ficamos 18 dias no Rio de Janeiro. Passei o carnaval. Fui ao Morro da Urca, Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Niterói. Deus me deu tudo que eu queria. 

Porque Achiropita?    

Como o título de Nossa Senhora Achiropita é tão diferente dos nomes conhecidos atribuídos à Mãe de Jesus Cristo, devemos explicar muitas vezes seu significado. Sempre o fazemos contando uma bonita história, que pertence à tradição do povo italiano, vindo da Calábria para o Brasil, no final do século XIX.
Eis a nossa história:

No ano de 580 um certo capitão Maurício enfrentou uma grande tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Desviado pelos ventos, por milagre, conseguiu salvar-se e, na aldeia em que atracou, encontrou um monge que lhe disse: “Não foram os ventos que o trouxeram para este lugar. Foi Maria, para que lhe construa um santuário, quando o senhor for eleito imperador”. A profecia cumpriu-se e o santuário foi construído em Rossano - Calabro.
Um artista da região iniciou uma pintura da imagem de Maria. Ocorria, no entanto, que tudo o que pintava durante o dia, desaparecia durante a noite. Assim, colocaram um vigilante para impedir a entrada de possíveis intrusos, que estivessem danificando a pintura.

Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Que mal poderia fazer aquela gentil senhora?

Passaram longos minutos e a mulher não saía da igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura. Por esta razão o vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (A-kirós-pita - não pintada por mãos humanas).

Esta é a devoção Mariana que nossos irmãos italianos trouxeram para o Brasil e que nós veneramos como protetora e Mãe de nossa comunidade. Sua festa é celebrada no dia 15 de agosto, dia da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, só existe uma igreja dedicada a Nossa Senhora, com o título de Achiropita que se encontra em São Paulo no bairro da Bela Vista - Bixiga. Sua festa é a maior comemoração religiosa da cidade. Que a Mãe de Deus, Achiropita, nos proteja como filhos e cuide de nós com amor!


Navios: o Asturias de 1925

1925-1957
Em setembro de 1925, nas páginas do jornal A Tribuna de Santos/SP, surgiu um artigo não assinado, provavelmente inspirado em material de divulgação da própria armadora, que transcrevemos parcialmente para dar ao leitor o feeling da época.
O 'Asturias' em 1932, passando defronte ao Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro
O Asturias em 1932, passando defronte ao Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro
"A Mala Real Inglesa acaba de lançar ao mar, nos estaleiros da Harland & Wolff, de Belfast, mais um possante transatlântico destinado à linha da América do Sul. O novo navio, que recebeu o nome de Asturias, representa o esforço da grande empresa de navegação em dotar a carreira com os países sul-americanos das melhores unidades, atendendo o crescente e espantoso progresso que aqueles países estão alcançando.
O Asturias é, no gênero, a unidade mais eficiente que se conhece até hoje. A engenharia naval inglesa, incontestavelmente a mais apercebida e aparelhada no que concerne à sua especialidade, tem, na nova construção, um dos seus mais legítimos títulos de glória.
O Asturias é a prova mais eloquente. Lancemos um rápido olhar sobre os detalhes mais importantes desse novo transatlântico de 22 mil toneladas de registro bruto. É o maior e mais possante navio a motor do mundo, sendo acionado por seis motores de duplo efeito, de oito cilindros a quatro tempos, motores que são os maiores a diesel até hoje construídos para navios. Estes motores desenvolvem mais de 20 mil cavalos-vapor, transmitidos a dois eixos.
O Asturias, que está destinado à linha sul-americana, satisfaz todos os requisitos do Ministério do Comércio e da Legislação Naval da Espanha. As suas principais dimensões são: comprimento de 655 pés (200 metros), boca (largura) de 78 pés (24 metros), possuindo luxuosas instalações para 1.740 passageiros e tripulantes.
O navio tem proa direita e popa de cruzador e conta 11 anteparas estanques, que o dividem em 12 compartimentos. O casco duplo é contínuo de proa a popa, podendo ser lastreado com água doce ou salgada.
Com essa magnífica unidade, fica a Mala Real Inglesa enriquecida de mais um transatlântico, que a coloca perfeitamente em harmonia com o espantoso desenvolvimento que vão alcançando os países da América do Sul."
O transatlântico inglês 'Asturias' atracado em Santos, no cais do Armazém 16 (Bagagem) nos anos 20/30
O transatlântico inglês Asturias atracado em Santos,
no cais do Armazém 16 (Bagagem), nos anos 1920/30
7 de julho de 1925 - O Asturias é lançado ao mar, sendo madrinha do navio a duquesa de Abercorn, esposa do governador da Irlanda do Norte e diretor da armadora.
26 de fevereiro de 1926 - Capitaneado pelo comodoro E. W. E. Morrison, o transatlântico zarpa de Southampton com destino ao Brasil e ao Prata. Nesta viagem inaugural já se denotam dois grandes problemas que perseguiriam o Asturias até 1934: baixa velocidade e alta vibração da estrutura, fazendo sofrer os passageiros pela trepidação e pelo excessivo rumor.
Janeiro de 1927 - Primeira viagem entre Southampton e Nova Iorque, rota que serviria ocasionalmente.
Em 1934, a Royal Mail Lines decide trocar os motores, seja do Asturias, seja do seu quase gêmeo, o Alcantara, com a finalidade de lhes dar mais potência e velocidade. Foram necessários quatro meses de estaleiro para se proceder a mudança no Asturias, pois toda a casa de máquinas teve de ser remodelada para permitir a instalação dos novos motores, maiores em dimensão do que os originais.
Aproveitou-se para substituir os hélices originais a quatro pás por outros de três pás, a proa foi encompridada três metros e seu desenho ligeiramente modificado. Outra alteração importante consistiu em aumentar a altura das duas chaminés originais em cinco metros cada uma.
Em setembro de 1934, o Asturias ficou pronto, realizando novas provas de mar, quando alcançou velocidades superiores a 19 nós. Com as modificações internas efetuadas, a nova capacidade do transatlântico passou a ser de 330 passageiros em primeira classe, 220 em segunda e 768 em terceira.
Aprovada a reforma pelos engenheiros navais, o Asturias foi, em seguida, enviado para realizar um longo cruzeiro, de vários meses de duração, saindo de Southampton para o Mediterrâneo, Canal de Suez, Extremo Oriente, Pacífico Sul, Estreito de Magalhães e retorno à Inglaterra via Atlântico Sul.
O período entre 1935 e 1939 constituiu o ápice da qualidade de serviço dos dois grandes transatlânticos na Rota de Ouro e Prata. A cada uma de suas viagens, seja no sentido Norte ou no sentido Sul, os lugares a bordo eram reservados com, ao menos, dois meses de antecedência.
O 'Asturias' navegando na costa brasileira, em cartão postal da época, vendo-se as duas chaminés
O Asturias navegando na costa brasileira, em cartão postal da época, vendo-se as duas chaminés
Segunda Guerra - Com a eclosão do conflito e tal como seu irmão-gêmeo, o Asturias foi rapidamente  convertido em cruzador auxiliar armado, sendo dotado de oito canhões de seis polegadas. Sua segunda chaminé, que só possuía funções estéticas, foi retirada, assim como todos os móveis e as instalações para passageiros.
O Astúrias prestou, inicialmente, serviço em patrulhas no Atlântico Norte nas águas próximas à costa ocidental da Grã-Bretanha, sendo deslocado para o Atlântico Sul, após o encontro naval entre o corsário alemão Thor e o Alcantara, acontecido em julho de 1940.
Após permanecer oito meses nesse teatro de guerra, o Asturias foi recolhido ao estaleiro da US Navy (Marinha dos Estados Unidos) em Newport News (EUA), para ser submetido a mais uma reforma. Novos canhões foram instalados no lugar dos antigos e o navio recebeu uma catapulta e um avião de reconhecimento.
O 'Asturias' no cais do armazém 16 do porto de Santos, em foto de J.C. Rossini
O Asturias no cais do armazém 16 do porto de Santos
Foto: J.C. Rossini
25 de julho de 1943 - Quando se encontrava em navegação de escolta, 400 milhas (740 quilômetros) ao largo de Freetown, o Asturias foi torpedeado pelo submarino italiano Cagni. Apesar de ter tido a casa de máquinas inundada, o Asturias não afundou, graças às portas estanques, possibilitando, assim, seu reboque ao porto mencionado, no qual o navio permaneceu até 1945, sem maiores reparos.
Terminado o conflito, o Asturias foi rebocado, inicialmente até Gibraltar, onde pôde ser feito trabalho provisório de consertos de maior urgência. Em seguida, levado para a Inglaterra, foi reformado inteiramente e reconvertido em navio de passageiros para o transporte de emigrantes.
Nessa função, realizou viagens entre a Grã-Bretanha e a Austrália até 1953, ano em que foi novamente transformado em navio-transporte de tropas, repatriando soldados que haviam participado da Guerra da Coréia.
Sua longa carreira de 32 anos chegou ao fim em setembro de 1957, quando foi demolido no Porto de Faslane (Inglaterra).
O 'Asturias' no Estuário de Santos, em pintura do inglês Kenneth Denton Shoesmith (1890-1939)
O Asturias no Estuário de Santos, em pintura do inglês Kenneth Denton Shoesmith (1890-1939

"Asturias - Este cartão-postal mostra o navio inglês Asturias, em frente à costa do Rio de Janeiro. O cartão é um original da Royal Mail Steam Packet Company, editado com base em pintura do artista Bernard R. Lachevre e publicado pelos editores Raphael Tuck & Sons. O navio, de 22.071 toneladas e 192,16 metros de comprimento, transportava 408 passageiros em primeira classe, 200 em segunda e 674 em terceira (imigrantes). Fazia a linha entre Southampton e Buenos Aires desde fevereiro de 1926. Foi lançado ao mar, em 7 de julho de 1925, nos estaleiros de Harland & Wolff, de Belfast, Irlanda. Foi o segundo navio da armadora em esse nome; o primeiro era de 1908. Este era gêmeo do Alcantara II. No início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, serviu como navio de transporte de tropas inglesas. Em julho de 1943 foi torpedeado pelo submarino italiano Gagni, na costa da África do Sul. Ficou abandonado por algum tempo e em 1947 voltou a ser navio de transporte de tropas, até que em 1949 passou a conduzir imigrantes para a Austrália. Foi demolido em 1957".
Imagem: Acervo José Carlos Silvares/fotoblogue Navios do Silvares (acesso: 13/3/2006)
Asturias:
Outros nomes: nenhum
Bandeira: britânica
Armador: Royal Mail Steampship Lines
País construtor: Inglaterra
Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast)
Ano da viagem inaugural: 1925
Tonelagem de registro bruto: 22.000
Comprimento: 200 m
Boca (largura): 24 m
Chaminés:2
Mastros: 2
Passageiros: 1740

                     MACEDO DE CAVALEIROS - PORTUGAL 


O bom gatuno

Meneghetti se transformou numa lenda em São Paulo por praticar roubos e sempre conseguir escapar.

  Os jornais paulistanos do dia 14 de junho de 1970 traziam uma notícia pequena, mas que surpreendeu muita gente: no dia anterior, Gino Amleto Meneghetti fora preso tentando entrar numa casa da Rua Fradique Coutinho 909, na Vila Madalena. Levava nas mãos uma lanterna, uma talhadeira e um pé de cabra, ferramentas típicas de arrombadores de portas e janelas. Tudo isso seria muito comum se o homem que fora detido não tivesse 92 anos de idade! Liberado por falta de provas, Meneghetti sustentou, com histórias como essa, seu status de figura mitológica da história de São Paulo.
Gato dos Telhados, Ladrão Nobre, Bom Ladrão, Grande Ladrão, Homem Gato e Homem de Borracha foram algumas das alcunhas que ele ganhou da imprensa, por sua habilidade de andar sobre as casas, de entrar nelas pelos telhados e roubar ricos – sempre sem usar a violência –, e de fugir espetacularmente dos presídios. Foram dezessete escapadas desde a infância, passada em Pisa, na Itália, onde a pobreza o levou a cometer os primeiros furtos.
Nascido em 1878 – segundo ele mesmo; para alguns biógrafos, seu nascimento se deu em 1888 –, Gino chegou homem feito à capital paulista, depois de desembarcar em Santos no ano de 1913. Já tinha um histórico de roubos, prisões e fugas na Itália e na França, e veio para o Brasil porque era, segundo contava, um homem marcado na sua terra. Histórias de sucesso de uma tia e de outros italianos que viviam em São Paulo o atraíram e o incentivaram a buscar o sustento na cidade de maneira honesta. Mas sua vida boêmia atrapalhava tudo. O dinheiro que Meneghetti ganhava na fábrica de chocolates Falchi era pouco para seus hábitos de frequentador da noite e apreciador do vinho chianti.
Por isso, Gino largou o emprego e foi morar numa pensão, onde encontrou o amor de sua vida, Concetta Tovani, e conterrâneos que o reconduziram aos roubos. Passou a vender revólveres repassados por eles, que diziam ser contrabandistas de armas. Armas que, na verdade, eram roubadas. Meneghetti caiu numa armadilha policial, e em março de 1914 foi preso pela primeira vez em território brasileiro, e condenado a oito anos de prisão.
Na cadeia, junto com outros presos, tentou cavar um túnel, mas um detento delatou o plano e o acusou de ser o mentor da ideia. Por isso, o italiano foi colocado nu em um poço, fechado por cima com uma grade. Foi aí que começou sua fama: numa noite fria do mês de julho de 1915, ele escalou o poço com um pé em cada parede e conseguiu arrancar uma das barras de ferro, mas o espaço aberto era pequeno. Mesmo assim, ele atravessou o vão apertado, deixando pedaços de pele nas barras, fugiu pelo telhado e desceu perto do Jardim da Luz. Era uma hora da manhã. Nu, no meio da garoa paulistana, conseguiu despistar um guarda e seguiu rumo à casa da tia para obter roupas.
Os jornais fizeram grande estardalhaço, e ele passou a ser um homem procurado. Abusado, voltou a praticar furtos e deixava recados nas casas roubadas. Como no palacete da baronesa de Arary, onde ele a alertou para que escolhesse melhor seu fornecedor, pois suas joias eram quase todas falsas. Também escrevia com frequência cartas para os jornais gozando a polícia. Atitudes como essas o tornaram um mito, uma espécie de Robin Hood de São Paulo. No entanto, embora ajudasse os pobres – segundo algumas lendas, ele comprava alimentos para pessoas humildes que chegavam aos armazéns sem dinheiro suficiente –, não praticava seus furtos com essa finalidade.
Mas havia um outro motivo para a sua fama: ele nunca praticava qualquer ato de violência. “Jamais roubei um pobre. Só me interessa tirar dos ricos, e tirar joias, que são bens supérfluos que só servem para alimentar a vaidade”, dizia, coerente com seus ideais anarquistas. Quando criança,na Itália, Meneghetti já se sentia injustiçado por ser muito pobre, enquanto havia ali perto pessoas muito ricas, que desperdiçavam comida. Ele foi criando uma “consciência de classe” desde essa época. Leu muito, estudou. Já chegou ao Brasil adepto do anarquismo.
Seus furtos ocorreram em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em toda a Região Sul e até no Uruguai. Foi preso em vários estados, mas sempre conseguia fugir e voltar para São Paulo. Relatos fantasiosos diziam que ele usava molas nos pés para poder escapar da polícia saltando da rua para os telhados quando ficava acuado. Seu heroísmo era reforçado porque ele fazia com a polícia o que os pobres, constantemente perseguidos e discriminados, gostariam de fazer.
Cansada, em 1926 a polícia armou um cerco em torno da casa na Rua dos Gusmões, no Centro da cidade, onde moravam sua mulher e seus filhos. Meneghetti sabia da armadilha, mas uma noite, um tanto alcoolizado, resolveu procurar a família. Acabou encurralado e, como sempre, subiu no telhado atrás de uma rota de fuga. Mas todo o quarteirão estava cercado. “Havia mais policiais do que paralelepípedos”, disse ele posteriormente. Informada, a população correu em massa para lá. Cerca de 50 mil pessoas, segundo os jornais, esperavam para ver como Meneghetti conseguiria fugir. Numa das várias tentativas de alvejá-lo, o delegado Waldemar Dória acabou sendo atingido por uma bala e morreu. O ladrão foi acusado do crime, coisa que negou até o fim da vida. Mais tarde ficou provado que ele tinha razão, pois foram tiros de calibre 38 que acertaram Dória nas costas – Gino portava um revólver 32. Algum desafeto do delegado o matou, aproveitando a ocasião.
Às 11h15 da manhã, Meneghetti finalmente se entregou. O fascínio daqueles que o viam como um herói bandido popular subitamente se transformou em ódio, enquanto a população o vaiava e fazia ameaças. Muito torturado, Gino foi posto numa cela da “Bastilha do Cambuci”, um presídio de péssima fama, para onde eram enviados os inimigos do regime.Mesmo assim, sozinho numa cela, era vigiado 24 horas por dia. Ficou trancafiado até que fosse construída, especialmente para ele, uma cela blindada. Sua agonia era tanta que havia momentos em que ele gritava repetidamente “Io sono um uomo” (eu sou um homem), para reclamar do tratamento desumano ao qual vinha sendo submetido. Mas sempre que o ladrão começava a protestar, um policial se aproximava do cárcere, cuspia e jogava fezes em sua direção, antes de submetê-lo a mais uma sessão de tortura.

Com medo de ser envenenado, Meneghetti “lavava a comida” que recebia. Certa vez, contou ao jornalista Orlando Criscuolo (1917-1992)que, quando um rato entrava em sua cela pelo buraco do esgoto, ele o deixava comer um pouco de sua comida, tampava o buraco e esperava para ver se o roedor não morria. Só depois é que Gino se alimentava. Quem morreu de infarto nessa época foi Concetta, que deixou os filhos Lenine e Espártaco – nomes que homenageavam o revolucionário russo de 1917 e o líder de uma revolta de escravos na Roma antiga – com parentes. Libertado 18 anos depois, em 1944, ele encontrou uma cidade diferente, cheia de arranha-céus e inviável para um gato dos telhados. Mesmo assim, o mito persistia; prova disso foi a multidão que o esperava na saída da cadeia. Para que pudesse viver “honestamente”, Meneghetti foi trabalhar em uma banca de jornal, mas não abandonou o hábito de roubar. Acabou sendo preso várias outras vezes, até 1970.

Numa das suas saídas da cadeia, na década de 1950, ele foi morar uns dias na casa de Criscuolo, que se tornara seu amigo. A mulher do jornalista, Iracema, ciente da fama do ladrão, ficou com medo. Mas o homem que recebeu em casa era um sujeito simpático, cortês, culto, que gostava de contar histórias para crianças. Por conta desse perfil, sua fama chegou a outros países. Quando o escritor e filósofo Albert Camus (1913-1960) esteve em São Paulo em 1949, ele fez questão de incluir em seu roteiro uma visita ao ladrão, que passava uma temporada encarcerado. Na despedida, o autor francês perguntou se podia fazer alguma coisa por ele. Meneghetti respondeu: “Sim, me dê um cigarro”.
O ladrão, que adotou vários nomes falsos e declamava versos do poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321), passou seus últimos anos pobre, dependendo dos filhos, até morrer de trombose em 1976, aos 98 anos. Entre uma prisão e outra, Gino chegou a acumular fortunas, mas cada centavo que obteve foi confiscado pela polícia. Até hoje, Meneghetti é visto pelos paulistas como um exemplo do “bom ladrão”: amado pelos pobres e temido pelos ricos. Anarquista, admirador da Revolução Russa, respeitador das mulheres e das crianças, venerado e odiado – e nem por isso vingativo –, ele dizia: “Só não fiz em São Paulo o que eu não quis”. E, ao contrário de muitos homens supostamente honestos, tinha a sua ética: “Sempre detestei homens que malbaratam o dinheiro público”.
 
Mouzar Benedito é jornalista e autor do livro Meneghetti, o gato dos telhados (Boitempo Editora, 2010).




MENEGHETTI, O GATO DOS TELHADOS



Mouzar Benedito resgata a história de Gino Meneghetti, o anti-herói italiano que ganhou notoriedade por seus roubos e fugas espetaculares em São Paulo

“Minha primeira visão do mundo foi a cidade de Pisa, com sua torre inclinada. Tal como a torre, também o meu destino estaria sempre inclinado, cai-não-cai”. A frase de Gino Amleto Meneghetti já indica a trajetória incomum desta personagem da vida real. A história do larápio que fez fama na Pauliceia de meados do século XX será retomada na obra Meneghetti: o gato dos telhados, de Mouzar Benedito, que será lançada na próxima quinta-feira, dia 28.
Gino Meneghetti chegou em São Paulo pela onda de migração dos muitos italianos que vieram ao Brasil em busca de trabalho. Mas logo ficou claro que sua trajetória teria pouco de comum com a de maior parte de seus conterrâneos. Com uma linguagem irreverente, o jornalista Mouzar Benedito resgata a lendária “carreira” de Meneghetti, que foi avidamente acompanhada pela sociedade da época e gerou muitas histórias transmitidas até hoje na capital. Conhecido por roubar somente dos ricos e por sua politização contestadora, Meneghetti fez sua fama por empreender assaltos, fugas da polícia, por suas passagens pela prisão e por protagonizar muitos “causos” na cidade.
A pesquisa biográfica de Marcel Gomes e Antonio Biondi complementa o retrato de um dos maiores larápios que São Paulo já conheceu. A obra traz ainda a história em quadrinhos, criada em 1976 por Luiz Gê para o jornal Versus, que inspirou o curta metragem de Beto Brant sobre a história do italiano.
Na próxima quinta-feira, a Livraria da Vila recebe o autor, os pesquisadores e o cartunista para uma noite de autógrafos entre 19h e 22h. O lançamento será realizado na unidade da livraria localizada justamente em uma das casas que foi alvo do larápio no século passado – na Rua Fradique Coutinho, nº 915 (São Paulo).






ALICE DAS DORES DIAS CARMO ( CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 19 de dezembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ALICE DAS DORES DIAS CARMO
                                    ( CONTINUAÇÃO DA ENTREVISTA)

Alice das Dores Dias Carmo nasceu a 19 de julho de 1918, tem 97 anos neste ano de 2015. Memória e disposição privilegiada a faz depositaria de parte da história recente. Continuando a narrar fatos da sua vida, transcritos no sábado passado, Da. Alice brinda os leitores com preciosas lembranças, aos que conheceram locais e fatos uma doce lembrança, aos que agora tomam conhecimento um enriquecimento cultural.
De que região de Portugal era a mãe da senhora?
Era de Macedo de Cavaleiros e o meu pai era de Bagueixe. Lá são denominadas aldeias o que no Brasil denominamos de bairros. Quando minha mãe chegou ao Brasil os bondes eram puxados por burros. Logo depois foram colocados os bondes elétricos. O bonde levava 22 minutos para fazer o trajeto. Saia do Largo do Correio. O ponto final era na Rua Formosa. O bonde dava a volta na Avenida São João, passava na porta do Correio, atravessava a Praça da Bandeira, subia a Rua Santo Antonio até a Rua Major Diogo, entrava a esquerda, na próxima rua entrava a direita na Rua São Domingos, na primeira a esquerda era a Rua Conselheiro Ramalho, ia até a esquina da Rua Brigadeiro Luiz Antonio. Lá ele subia dois quarteirões até a Rua Santa Madalena, vinha pela Rua Rui Barbosa, Rua Manoel Dutra, atravessava a Conselheiro Ramalho, entrava a esquerda na Rua Major Diogo, pegava a Rua Santo Antonio e já ia para a cidade outra vez. Às vezes a gente vinha dormindo, dependendo de onde estávamos já sabíamos que rua vinha a seguir.  Havia cinco bondes na Bela Vista. Era tão rápido esse percurso que quando um bonde vinha pela Rua Conselheiro Ramalho, esquina com a Rua Manoel Dutra, o condutor dava sinal para o motorneiro parar o bonde antes de chegar ao próximo ponto porque senão não dava tempo de cobrar. Alguns homens iam do outro lado do bonde para não pagar! 
A senhora tem vontade de voltar para Portugal?
Para passear sim. A casa da minha avó permanece como era antes. Lá as casas são feitas com cantaria, que aqui chamaríamos de pedra.
A senhora estudou no período em que morou em Portugal?
Estudei pouco, eu sempre gostei de ler, ler muito. Eu queria ir para a escola, mas não podia. Meu pai fez um banquinho com três pezinhos chamado tripeça. Fiz amizade com a professora Dona Elisa, eu pegava o meu banquinho embaixo do braço e ia junto com ela. Como não havia carteira escolar sobrando, ela colocava perto da escrivaninha dela. Eu ficava ali com ela. Eu tenho uma colcha de linho que me foi dada pela minha avó. Ela plantou o linho, é uma planta semelhante ao arroz, ela colheu o linho, dá muito trabalho, tem que lavar, esfregar, até que a minha avó fez um fio, usavam uma varinha, na cintura as mulheres usavam como se fosse um saquinho, para dar firmeza à varinha. O linho passa por um processo que fica semelhante a um algodão. Colocava-se um tubinho de fios e movimentava-se de um lado para outro. Aqui, tive uma irmã que com os pés mexia aquele tear. A roupa da casa da minha avó era toda feita em casa. A roupa dos homens, por dentro a capa era forrada com lã de carneiro. Minha mãe aos quarenta anos foi aprender a bordar a máquina. Antigamente vinha para o Brasil muita coisa da Argentina, dentro dos pneus de caminhões, os motoristas traziam e vendiam.
A senhora costura até hoje?
Costuro para mim!
A senhora usa máquina de costura?
Costuro a máquina.
E para colocar a linha na agulha da máquina a senhora aos 97 anos tem alguma dificuldade?
O meu médico Dr. Chakur fez essa mesma pergunta disse-lhe: “-Chamo os bombeiros!”. Às vezes peço ao meu filho, outras vezes pego algo branquinho, um pano ou papel, coloco ao fundo e com a claridade dá para ver perfeitamente o orifício da agulha por onde deve entrar a linha.
A senhora é bem saudável.
 Sou! Aos 92 anos eu fiz duas pontes e safena. Alimento-me bem, como de tudo, não sou de comer prato de trabalhador braçal, não tenho diabetes. De manhã levanto, como um pãozinho com manteiga ou uma fatia de queijo. Uma xícara de café com leite. Não repito. Entre o café da manhã e o almoço eu como uma fruta. Hoje comi duas ameixas vermelhas depois que almocei. Só duas coisas que não gosto: carne seca e dobradinha. Ao termino da refeição como uma fruta, uma fatia de mamão. Eu acho falta de doce e como doce, como uma fatia pequena, pode ser uma fatia de bolo.
A senhora cozinha?
Cozinho! Anteontem fiz bolo e patê de sardinha. Nunca bebi nem fumei. Meu marido fumava meus filhos também passaram a fumar. Em Portugal, todo o mundo tomava vinho tinto, sem que alguém se embriagasse. Lembro-me que na terra da minha mãe, Macedo de Cavaleiros, o que dava era castanha, noz, avelãs. O forte era a castanha.
A senhora acompanhava os movimentos musicais da época?
Tinha uma revista chamada “Carioca” que falava tudo sobre os músicos, as três irmãs: Linda, Dircinha e Odete Batista, sendo que eram estrelas consagradas, e as irmãs Linda e Dircinha faleceram vivendo muito tempo um quadro de extrema penúria. A Linda Batista tinha uma relação de amizade muito forte com Getulio Vargas assim como a vedete Virginia Lane.
A senhora lembra-se da época de Getúlio Vargas?
Lembro-me sim, do que passamos na época da Revolução de 1932. Não havia pão, o pão que comíamos era misturado com farinha de mandioca. Ia a meia-noite para a fila da padaria para pegar um pãozinho. Quando fomos à Portugal o reumatismo manifestou-se em minha mãe, no final do ano em Portugal é muito frio. Dezembro e janeiro eram os mêses em que comiam castanhas. Na casa da minha avó abatiam-se três porcos por ano, eles eram alimentados com castanhas. Primeiro dá a castanha crua, com casca e tudo. Com o passar do tempo eles ficavam enjoados, então se tirava a casca e cozinhava a castanha para dar aos porcos. A carne do porco é muito diferente da que temos aqui no nosso interior onde os porcos geralmente são alimentados inclusive com restos de comida. Na casa da minha avó tinha muitas castanheiras, uma árvore grande, forte, para colher apanha-se da árvore o ouriço, com uma luva, dentro tem duas a três castanhas. Um desses castanheiros caiu pero da casa da minha avó, todos os dias ela regava aquilo lá, dali é que saiam seis ou sete tipos de cogumelos.
E o bacalhau?
O bacalhau é mais encontrado nas cidades. O bacalhau do Porto é tradicional. Quem nasce no Porto chamam-se tripeiros. E quem nasce em Lisboa é conhecido como alfacinha. Porto é do mesmo tipo de São Paulo, trabalhadores, só pensam em trabalhar. E Lisboa é como o Rio de Janeiro, mais o movimento de turistas. Tenho uma prima que ainda tem uma casa em Macedo de Cavaleiros, terra da minha mãe, nos chamamos de “Casa das Avós”, todas as avós saíram dali. Os netos são criados ali. Reúnem-se lá. Esses dias ela me ligou dizendo que tinha adquirido um apartamento no Porto, no bairro chamado Gandra, isto porque no Porto não faz tanto frio como na aldeia. Popularmente, os tamancos têm as designações de socos. Lembro-me de meu pai ter comprado os socos (tamancos), brincarmos com as bolas de neve.
São Paulo teve bondes abertos e fechados, estes pintados de vermelho, que valeu o apelido dado pelo povo de “camarão”. A senhora lembra-se deles?
Lembro-me do bonde aberto. Pagava-se 200 réis! O “Cara Dura” era um tostão, era o bonde dos verdureiros, que tinham grandes hortas na Zona Leste, colocavam as verduras em sacos e vinham lá do fim da Zona Leste até a Penha, ali embarcavam no “Cara Dura” que era um bonde que só carregava verdureiros. Isso me faz lembrar de que os meninos gostavam de andar no “Cara Dura” para economizar. Quando fomos para Portugal não viajamos de primeira classe, mas tomávamos as refeições na primeira classe. Isso porque meu pai era barbeiro, andava com a malinha com as ferramentas necessárias ao ofício, ele subia ao primeiro andar, fazia a barba da tripulação, não cobrava nada. Na volta trazia a comida da primeira classe. Nós estávamos no convés do navio, os moleques lá embaixo, nadando, pedindo dinheiro, frutas. Isso eu vi fazerem, mostravam moedas para eles, iam do outro lado do navio e jogavam as moedas, os moleques iam por baixo do navio e iam pegar a moeda. A moeda demorava em afundar. Mergulhavam e passavam debaixo do casco do navio. Lembro-me de um dia em que veio um temporal muito forte, nós não tínhamos cabine. Antes de viajarmos, meu pai fez duas cadeiras espreguiçadeiras, dessas de praia, muita gente fazia isso, levamos no convés, meu pai e minha mãe iam deitados naquelas cadeiras. O navio mesmo emprestava cobertor para se cobrirem. No dia desse temporal mandaram todo o mundo que estava no convés deitar no chão. A água do mar entrava de um lado do navio e passava para o outro lado. Lembro-me muito bem da força que tem a água em alto mar. Atualmente existem muitos produtos para limpar o chão, na época só tinha a creolina. Um marinheiro jogava a creolina e esfregava, outro jogava a água. Caia em uma canaleta que jogava fora do navio.
A senhora lembra-se de algum fato muito marcante com algum passageiro?
Faleceu uma senhora, viajante, nossa amiga. Hoje há meios de conservar o corpo até a primeira cidade onde possa desembarcar, mas naquela época não havia meios apropriados para a conservação do corpo, eles fabricavam um caixão, de tal forma que entrasse água, na descida do caixão o navio quase parou, desceram com corda, devagarinho, até chegar à água. Colocavam materiais que fizesse o caixão ficar pesado, quando chegou à linha da água o navio apitou. O caixão afundou com o corpo da nossa amiga.
Havia certo conforto no navio?
A primeira vez em que vi um beliche foi no navio.
A senhora lembra-se de letras de músicas famosas?
Lembro-me da letra da musica “A Mulher Que Ficou Na Taça” com Francisco Alves, composição dele e de Orestes Barbosa: Fugindo da nostalgia/Vou procurar alegria/Na ilusão dos cabarés/Sinto beijos no meu rosto/E bebo por meu desgosto/Relembrando o que tu és/E quando bebendo espio/Uma taça que esvazio/Vejo uma visão qualquer/Não distingo bem o vulto/Mas deve ser do meu culto/O vulto dessa mulher.../Quanto mais ponho bebida/Mais a sombra colorida/Aparece ao meu olhar/Aumentando o sofrimento 
No cristal em que, sedento/Quero a paixão sufocar/E no anseio da desgraça/Encho mais a minha taça/Para afogar a visão/Quanto mais bebida eu ponho/Mais cresce a mulher no
sonho/Na taça, e no coração.
Como é bonita essa música, outro dia estava me lembrando. A melodia era linda, a letra. A gente acha que antigamente as letras tinham nexo. Gostava muito das musicas do Carlos Galhardo, musica que foi tocada quando casei. Onde hoje é chamada de Praça da Bandeira era chamado de Largo do Piques, ali enchia de água que era uma beleza!
Não existia ainda o túnel popularmente chamado de “Buraco do Adhemar”?
Isso veio depois de muitos anos. Na Avenida São João havia os corsos no carnaval. Como era bonito! A força do corso era na Avenida Celso Garcia, onde nós morávamos. 
Os carros enchiam tanto as rodas de serpentina que eles encostavam-se a uma travessa qualquer, para tirar, já tinha gente com sacos para pegar e vender o papel para reciclagem. Os carros eram quase todos de capota abaixada, o pessoal ia sentado na capota, iluminavam, era bonito! Meu pai tinha casa de móveis na Avenida Celso Garcia, aquele pessoal que morava nas ruas transversais onde não havia o corso ia até a minha casa, onde meu pai colocava uma tábua encostada na parede, para os amigos sentarem ali e ficarem assistindo o carnaval.
A família mudou-se para a Bela Vista?
Nós morávamos ao lado da Vila Pirani, próximo ao Pastifício João Caruso. Nós morávamos na Rua Rocha, eu estava no terraço costurando, três pontos de ônibus adiante já era a Praça da Bandeira. A cada pouco voava um papel meio queimado. Estranhei aquilo. A cada cinco minutos escutava a sirene de uma ambulância. Ali era a passagem das ambulâncias para a Rua Itapeva, Rua Pamplona. Fui até o quintal e vi o vento trazendo muito papel queimado. Fui até a frente de casa, a molecada toda correndo, fomos até a Avenida Nove de Julho. Ali dava aflição! Eu vi aquele pessoal lá em cima, no Edifício Joelma, nós embaixo gritávamos: Não! Não! Que não se jogassem. Eles se jogavam sim. Helicópteros pousavam em cima da Câmara Municipal de São Paulo, resgatavam a s pessoas e levavam para os hospitais.
Um parente da senhora destacou-se pela força física?
Meu avô, pai da minha mãe, levantava um sino de 25 arrobas, cada arroba tem 15 quilos, isso em Portugal. Na localidade já tinham feito uma igreja, iam colocar o sino, lá havia feiras uma vez por mês, e o sino exposto. Todos admirando –o. Meu avô suspendeu o sino por três vezes. Quando ele vinha do campo com o carro de boi carregando lenha ou mantimento, se por acaso entrasse uma roda em um buraco qualquer, ele com o ombro levantava o carro. Minha mãe mesmo era grandona, não eram gordos, mas eram fortes. Tanto que quando minha mãe casou o padre deu a aliança para minha mãe colocar no dedo do meu pai. Ele disse ao padre: “- Essa aliança não é minha, a minha é a pequena!”. Quando voltamos à Portugal levamos um gramofone.
A senhora lembra-se da Gazeta?     
Inicialmente ela ficava próxima a Rua Brigadeiro Tobias, depois que ela foi para a Avenida Paulista, ali ela tinha uma sirene que ao meio dia tocava, todos sabiam que horas eram. Nessa época eu morava na Rua Rocha. Quando mudamos a Rua Rocha era barro. Pegado onde era o Edifício Joelma, na Rua Santo Antonio, teve um crime pavoroso. Um dentista assassinou duas irmãs, a mãe e depois pôs fim a própria vida. Eu tinha uma amiga que trabalhava na Praça Patriarca na loja “A Exposição”, após o crime ter ocorrido, foi em uma manicure que passou a funcionar na casa. Ela disse-me: “– Alice, eu estava esperando para ser atendida, lembrei-me do crime que havia ocorrido ali, levantei-me e fui embora”. Lembro-me que na esquina da Avenida São João, em frente ao correio, havia um sinaleiro, ali ficava um guarda debaixo daquele sol de arrebentar, a cada duas horas era substituído, com uma manivela movimentavam o semáforo, dirigindo o trânsito.
Em 1954 foi comemorado o Quarto Centenário de São Paulo, a senhora lembra-se?
Foi uma festa linda! A famosa chuva de prata! (Ao cair da noite do dia 10 de julho de 1954, ocorreu a tão comentada “chuva de prata”, A idéia era jogar triângulos prateados ao povo.) Vieram os fuzileiros navais do Rio de Janeiro, tocando e cantando, nós ficávamos na boca do túnel da Avenida Nove de Julho assistindo. Era muito bonito. Eu gostava de ver as apresentações de fanfarras em 7 de setembro no Vale do Anhangabaú. Lembro-me que meu pai me levava para ver a chegada de navios em Santos. Quando chegou o navio  português “Santa Maria”, ele vinha vindo a noite, parecia uma cidade! Era lindo! Conheci o navio português “Serpa Pinto”. 

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