domingo, março 13, 2016

MARLENE DE LIMA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de janeiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARLENE DE LIMA 

Marlene de Lima nasceu na cidade de Rio Claro, a 24 de maio de 1954, filha de Francisco de Lima, caboclo, e Maria de Lourdes Ondas de Lima, nascida no Brasil. Marlene esclareceu que quanto a palavra Ondas do sobrenome da sua mãe tem um motivo muito interessante, seus avós maternos vieram da região de Trás-os-Montes, Portugal, e narra a história que o avô gostou muito do mar,  o nome dele era Joaquim Carvalho, quando chegou ao Brasil ele colocou seu nome como Joaquim Ondas.
Marlene qual era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai era ferroviário, aos 17 anos ele ingressou na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sua função inicial era colocar dormentes nos trilhos. Fez carreira dentro da Companhia, passando por todas as funções: ajudante, foguista, maquinista de locomotiva a vapor. Quando eu tinha 12 anos levava comida para o meu pai na Estação de Rio Claro. Ele fazia as devidas manobras no pátio da estação e discretamente eu permanecia na locomotiva nesse passeio encantador. Moramos sempre na Rua 8-A, Bairro Vila Nova, na cidade de Rio Claro. Meus pais tiveram onze filhos: Maria José, Eunice, Maria Tereza, Marlene, Neusa, Francisco, João Carlos, Sonia Regina, Roseli, Marcelo e José Carlos. Foi uma infância difícil, mas feliz, morávamos em uma casa de quintal muito grande, com muitas plantas frutíferas, vivíamos subindo em árvores, havia frutas durante o ano todo. De casa até a estação de trem, a pé, demorávamos vinte minutos. Passava pela Vila Indaiá, Cidade Nova, chegava à porteira da Avenida 8. O movimento de trens era intenso, por sermos filhos de ferroviários tínhamos uma carteira de identificação que nos permitia viajar de trem. Nossos avôs paternos moravam em São Paulo, íamos sempre para lá, os avós maternos moravam em Itirapina. Em sua carreira como maquinista ocorreram dois desastres graves com o meu pai, um deles foi no dia de Natal, ele estava indo para Rincão, o trem de passageiros lotado, quando ele entra em uma curva, tinha chovido na noite anterior, o barranco caiu. O trem entrou no meio do barranco, meu pai passou o Natal lá, mas graças a Deus ninguém se machucou. A máquina já era elétrica.
A sua característica de preservar a memória da sua família surgiu naturalmente?
Desde pequena eu percebi que tinha o interesse em saber tudo sobre a história da minha família, poucos tinham esse interesse, meus irmãos não entendiam porque eu queria saber tanto. Meu primo, Alfredo Ondas, também tem o mesmo interesse pela história da nossa família. Talvez esse gosto fez com que, quando eu cheguei em Piracicaba e me tornei atleta, depois funcionária pública, eu continuasse os registros naturalmente. Comecei a perceber que isso não era rotina das pessoas, aumentou meu interesse em guardar esse material e disponibilizar às pessoas interessadas. O que eu disponibilizo é muita coisa. Fui professora da rede estadual no bairro Boa Esperança, nos anos de 1987 a 1992, ali registrei umas 200 fotos dos alunos em atividade. Fiz um álbum para esses alunos com todas as fotografias dentro, constantemente esse álbum vai para o bairro, permanece um mês rodando pelo bairro e retorna. Fiz exposições fotográficas, já realizei bastante coisa com o meu material.
Marlene você estudou em escola pública?
Éramos muitos filhos, com uma vida muito dura, eu tive a felicidade, ou o destino, de desde cedo estar envolvida em política, mesmo sem saber. Ao lado da nossa casa havia uma chácara, era de propriedade de parentes próximos ao Dr. Ulisses Guimarães. Eles praticamente nos adotaram com relação ao material escolar necessário. Viam a luta dos nossos pais. Eu não tinha noção da importância disso tudo. Fiz o curso primário no Grupo Escolar Indaiá. A quinta e sexta série eu fiz na Escola Professor Armando Bayeux da Silva, a sétima e oitava séries eu estudei na Escola Professor Odilon Correa. Por volta de 1970 não havia a facilidade de fazer o ensino médio como é hoje. Tinha que prestar um vestibular para entrar, quis o destino que eu não passasse nesse vestibular, fiquei apavorada, meus pais incentivaram muito os filhos a estudarem, tive a sorte de encontrar um amigo que disse que também não havia passado no vestibular, mas ele havia encontrado uma escola técnica, CTA- Colégio Técnico Agrícola de Rio das Pedras. Nesse colégio havia Economia Doméstica para as mulheres, que era equivalente ao ensino médio, foi uma luta fazer o meu pai entender que tinha que sair de Rio Claro para morar dentro da escola! Duas colegas, vizinhas da minha casa também se interessaram e o pai de uma delas nos trouxe até o Colégio de Rio das Pedras. Com isso formei-me em Técnica em Economia Doméstica. Foram três anos de curso, no segundo ano, a professora de Educação Física descobriu que eu tinha talento para o atletismo. Eu corria muito bem. Ela trazia os alunos para participar dos campeonatos em Piracicaba. Foi ela que me disse que Piracicaba tinha uma equipe de competição e que era importante que após concluir o curso de Economia Doméstica, que eu procurasse o pessoal de Piracicaba, era possível que eu conseguisse entrar na equipe. Assim eu fiz. Terminando a escola não voltei para a minha casa. Empreguei-me como balconista na Eletroradiobraz de Piracicaba, arrumei uma pensão para morar, fui procurar o Idico Luiz Pellegrinotti, o “Deco”.  Ele estava treinando uma turma de jovens para formar uma grande equipe. Isso foi em 1975. Ele pediu que eu corresse na pista de atletismo em volta do campo do XV de Novembro, acho que dei umas 8 ou 10 voltas. Quando eu parei ele disse-me: “-Daqui a três meses irá ocorrer os jogos regionais de São Carlos, você quer participar?”. Disse-lhe que queria. Ele me colocou na equipe, com isso ganhei uma bolsa de estudo para fazer a Faculdade de Educação Física, em troca eu iria ser atleta da cidade de Piracicaba. Foi uma grande alegria, em três meses já consegui obter resultados, passei a participar de todas as grandes competições no país, fui bi campeã brasileira universitária, bati o recorde no dia 12 de junho de 1977 no Ibirapuera, onde nós fomos campeãs estaduais em uma das provas, revezamento 4 por 400 metros, foi corrida no tempo de 3 47.9 um tempo fantástico para a época. As quatro corredoras eram: Conceição Jeremias uma grande atleta que participou de cinco olimpíadas, Aparecida de Fátima Adão que era campeã Sul Americana, campeã Brasileira, Maria Teresa Ferreira que tinha batido o recorde mundial juvenil na França e eu, Marlene de Lima, campeã Brasileira. Participei de jogos regionais, dos jogos abertos, participei de muitas competições.
Você tem uma idéia de quantas competições já participou?
 Foram três anos intensos em que participei de todas as grandes competições do país todo. Fui sexto lugar do Troféu Brasil em Porto Alegre, fui finalista dos 800 metros, na final Piracicaba conseguiu colocar Aparecida de Fátima Adão e eu.
A prática dessa modalidade dá condições ao atleta de participar de uma corrida nos moldes da São Silvestre?
Na realidade até daria na época, mas como eram muito intensas as competições no Brasil todo, tínhamos o Campeonato Paulista, Troféu Bandeirantes, Jogos Regionais, Jogos Abertos, Campeonatos Universitários, Campeonatos Regionais, o tipo de treinamento era especifico para as provas de 400 e 800 metros, são corridas de velocidade e a São Silvestre é uma corrida de fundo. Todos os meus tempos, na época, eram para menos de um minuto, eu fazia para 59 segundos. Em Porto Alegre consegui correr 800 metros em 2 minutos e 17 segundos.
Sem querer ser saudosista, você acha que o atletismo sofreu um processo de decadência?
Atrás dos atletas tem que ter a mão de um grande técnico. Nós tivemos a felicidade de nessa época ter o Idico Luiz Pellegrinotti, que era um visionário, um idealista. Ele sonhava em transformar todos os seus atletas, não só em campeões de pistas, mas em campeões da vida. Ele lutava muito para que todos nós estudássemos. A grande maioria desses atletas que passaram pela mão do Idico Pellegrinotti tornou-se vencedores dentro e fora das áreas esportivas. Posso citar alguns nomes como Dr. Mário Telles, hoje um ortopedista de renome, o Fifi que era da Guarda Mirim de Piracicaba tornou-se um conhecido engenheiro. Muitos profissionais da Educação Física, como eu, Marlene de Lima, Olaria, Margarida, Aparecida de Fátima Adão, Denise Schiavinatto. A psicóloga Rita Furlan, Maria Eugenia, filha do Zequita aqui de Piracicaba, atleta do meu tempo, hoje fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Ginástica Artística, onde ela é responsável pelo Mario Zanetti, o Campeão das Argolas. O técnico era muito importante, ele participou de três estágios na Alemanha, buscava conhecimento. Eu acredito que estávamos no momento certo. Naquele tempo havia um interesse muito grande dos jovens pelo esporte, eram mais idealistas, participativos. Dentro das escolas estaduais éramos orientados para a prática esportiva. O esporte era tido como algo fantástico. De repente o ensino mudou. No momento em que a Educação Física mudou de turno já se quebrou a prática do esporte. O grande problema de não termos mais um basquete em Piracicaba, um atletismo tão forte, é porque houve uma interrupção dentro das escolas de base. Se for perguntar, todos os grandes atletas começaram na escola de base. Hotência, Paula, foram incentivadas dentro da escola estadual.
Isso significa que o esporte deve ser incentivado nas escolas?
A força do esporte está nas escolas. Na base. Desde pequenininho, quando entra no primário, até ele chegar à idade de definição, quando ele entra para o ginásio. Isso não existe mais. O mundo mudou, as mídias chegaram, as realidades são outras.
Voce acredita que os pais são responsáveis por essa mudança?
É um conjunto, responsabilizar apenas os pais não é correto, eles não têm força junto as escolas, quem tirou isso tudo das escolas foi a diretriz de ensino. Ela transformou a Educação Física dentro de uma grade curricular no horário de aula. Como um aluno pode ter matemática, português, educação física e história? Não se admite isso! Voce vai com uma roupa comum para a escola, fui professora da rede estadual até 2011. Sai decepcionada em 2011, quando me aposentei da rede estadual. Dei aula de educação física por 25 anos. Boa parte desses anos todos foi de pura alegria. Consegui passar para muitos jovens a importância da pratica do esporte. A importância dele se tornar atleta para poder ter uma ascensão social através de bolsa de estudo.
Em sua visão a indumentária utilizada em uma aula de história não irá ser apropriada para a prática de uma aula de educação física?
Em hipótese nenhuma! Entendo que a educação física tem que ser o contra turno, em um turno as aulas normais e em outro turno a educação física. É dessa forma que ira se conseguir estimular o jovem a não ter a preocupação de uma sala de aula. Ele vai lá para praticar o esporte. Esse jovem terá muito mais possibilidade de se interessar por aquilo que será passado se estiver fora de um horário de aula normal.
Nos três anos em que você estudou no Colégio Agrícola de Rio das Pedras qual era a sua forma de lazer?
Morávamos em frente a Igreja Matriz em Rio das Pedras, hoje no local existe uma agência bancária, ali residiam todas as meninas que estudavam no colégio interno, nós passávamos o dia no colégio íamos até esse alojamento só para dormir. Nós ajudávamos a limpar a escola, a fazer as refeições, tinha uma cozinheira, nós éramos ajudantes. Muitos produtos que consumíamos vinham da horta dos meninos que estudavam no Curso Técnico Agrícola. Tínhamos grandes professores, como por exemplo, Frederico Alberto Blaauw, uma sumidade, deu aula de português no CTA de Rio das Pedras. Regina Dória Sanflorian foi minha professora de educação física, na cidade de Rio das Pedras, ela que descobriu que eu tinha talento para o esporte. Fui muito feliz em Rio das Pedras porque foi um marco de mudança na minha vida. Aos domingos nós alunas íamos à missa, depois ficávamos no alojamento, não tinha televisão, eu lia muito. Lembro-me que eu tinha muitos livros. Tinha uma grande amiga Dirce Salati de Almeida, infelizmente ela já faleceu. Eu pratiquei atletismo só por três anos, tive uma lesão muito grave e não pude participar mais de esporte. Nesses três anos fui muito feliz, conheci muita gente por conta dos Jogos Regionais e Jogos Abertos, convivia muito com Maria Helena, Heleninha, pessoal do basquete, assim como convivi muito com o pessoal do vôlei, todos os esportes se interagiam. Logo que me formei, Maria Helena, Heleninha, viajavam com a Seleção Brasileira e me convidavam para substituí-las nas escolas onde lecionavam educação física. Foi dessa forma que ingressei como professora na rede de ensino estadual. Eu já era funcionária publica municipal, logo que terminei a minha carreira dentro do atletismo tornei-me uma estagiária de educação física, e logo me tornei professora de educação física da rede municipal. Naquela época não havia concurso, havia a indicação. O Fernando Guerra e o Luiz Antonio Chorilli disseram-me que estava começando um movimento muito grande na cidade e que era um trabalho social. Instituir educação física nos centros comunitários da cidade. Com essas pessoas eu tinha muito respeito, o que eles falavam para mim, eu fazia. Fui para o Centro Comunitário dar aulas. Eu mal sabia que no ano de 1977 estava começando um grande projeto social, que se tornou a minha carreira na Prefeitura do Município de Piracicaba. Um trabalho social atuando em centros comunitários, junto a Associações de Bairros, em vários projetos voltados à população em um trabalho integrado com várias secretarias de governo.
Você continuou lecionando na rede estadual de ensino?
Naquela época o fato de ser professora na rede estadual não estabelecia um vinculo com o Estado como tem hoje, em que você é obrigado a ter 20 horas semanais de aulas. Com 9 horas semanais já podia ser professor da rede estadual. Por um bom tempo eu entrava dando aulas de educação física as seis e meia da manhã e às nove horas da manhã já estava livre para trabalhar na prefeitura. Sempre sob a orientação da Maria Helena que me dizia: “-Nunca deixe a rede estadual, nunca deixe a prefeitura, porque lá no futuro você irá ter um ganho muito grande”. No ano de 2008 aposentei-me na prefeitura do município e no ano de 2011 aposentei-me na rede estadual. Sou muito grata à essas pessoas que me deram a mão lá no passado. Lecionei na Escola Mirandolina de Almeida Canto de 1983 a 1986. No ano de 1987 fui lecionar na Escola Samuel de Castro Neves, no bairro de Santa Olímpia, para mim foi uma alegria enorme. Imagine trabalhar em uma escola que quando chegava a safra não tinha aluno. Eu perguntava à diretora: “- Onde estão os alunos?” e ela respondia: “- Eles estão todos cortando cana-de-açúcar!” Eu ia no meio do canavial. É uma pena que eu não tenha fotografado. 

A professora de Educação Física Marlene de Lima já foi atleta de destaque nacional. Conviveu com as grandes estrelas do esporte nacional radicadas em nossa cidade. Apaixonada pelo esporte, Marlene de Lima conseguiu a proeza de unir a máquina pública para incentivar a prática esportiva. Passou por diversos governos, das mais variadas correntes políticas, mantendo o foco no esporte. Tem como característica pessoal documentar através de fotografias a evolução ocorrida no esporte piracicabano nos últimos quarenta anos. Aposentada, continua com sua paixão dedicando-se ao esporte da Terceira Idade. Tem revelado valores significativos nessa área, mas acima de tudo, ajudado a proporcionar uma qualidade de vida melhor aos integrantes da Terceira Idade.  
Antigamente, nas escolas publicas, as aulas de educação física eram fora do horário normal utilizado para outras matérias?
As aulas de educação física tinham horário diferenciado. Havia muito empenho em adaptar tudo para incentivar o aluno. Em Santa Olímpia um aluno manifestou seu desejo de jogar tênis de campo. Construímos na terra uma quadra de tênis de campo. Comprei as raquetes e meus alunos passaram a ter aulas de tênis de campo. Tenho no facebook um grupo chamado Arquivo fotográfico de Piracicaba, já tenho uns trinta álbuns e essa história que estou contando pode ser vista em um dos álbuns que estão lá. Inclusive há fotos das adaptações feitas nas aulas de educação física, como eram feitas na década de 80. Era tudo feito com muito carinho e os alunos fazendo aulas com qualidade. Sai da Escola Samuel de Castro Neves e fui para a Escola Carlos Sodero no bairro Boa Esperança, onde fiquei de 1988 até 1992. Também uma escola fantástica. Depois fui para a Escola Helio Penteado de Castro, no Parque Piracicaba – Balbo onde permaneci até o ano de 1996. Em seguida fui para a escola de Tupi, voltei para a Escola Mirandolina de Almeida Canto onde trabalhava com a criançada de primeira até quarta série. A primeira coisa que fiz na escola, junto com a diretora, foi resgatar a fanfarra. Fui buscar o famoso Zé Hélio, ele desenvolveu um projeto na escola. Quem comandava a fanfarra eram os alunos mais velhos, o Zé Hélio treinou a criançada, ele era o professor, mas quem conduzia a fanfarra eram os próprios alunos.
Como vocês conseguiram adquirir os instrumentos?
Através de doações, a Associação de Pais e Mestres da escola conseguiu doações, compraram, tinha uns quarenta alunos que participavam. Foi um marco na escola a participação da fanfarra em desfiles de 7 de Setembro, encontros de fanfarras no Engenho Central, tenho tudo documentado, eram eventos que aconteciam no Engenho e eu trazia as fanfarras. . Em seguida fui para a Escola de Anhumas. Depois fui para a Escola de Tanquinho. Aposentei-me quando lecionava na Escola Estadual Professora Avelina Palma Losso localizada no bairro Santa Rosa. 
O que você acha sobre a divulgação das realizações feitas em Piracicaba?
Por conta de coordenar o trabalho com o pessoal da Terceira Idade viajo muito. Faz 40 anos que estou em Piracicaba, só trabalhando, eu não tenho família em Piracicaba, isso permite que eu esteja disponível diuturnamente para o trabalho. Faço o que gosto, convivo até hoje com o pessoal da prefeitura, tenho trânsito em todas as secretarias de governo, conheço muita gente. Eu tiro o chapéu, esta cidade faz muito. Todas as secretarias de governo que atuam com crianças, jovens, adolescentes, com adultos, cada um fazendo o seu trabalho. Desde o tempo em que eu atuava de uma forma direta na prefeitura, sempre dizia que os grandes terminais de ônibus da cidade de Piracicaba: Terminal Central, da Paulicéia, Cecap, Piracicamirim, Vila Sônia e São Jorge, só esses terminais abrangem uma grande massa da população que usa o serviço. Eu que vivi muito tempo, usaria algumas formas para divulgar mais ainda os eventos que ocorrem na cidade.
Você trabalhou quantos anos?
No Estado foram 25 anos, na Prefeitura Municipal de Piracicaba estava na Secretaria de Esportes, aposentei-me após 33 anos de trabalho. A maioria dos projetos que desenvolvi era de finais de semana. Acredito que foi quase um sacerdócio dentro da prefeitura do município.  Todos os projetos em que eu era envolvida eram sociais: Jogos Comunitários, Manhãs de Lazer, Trabalhos com Terceira Idade, eventos de lazer na cidade, eram voltados à população, desenvolvidos junto com diretorias de centros comunitários. Preparava-se tudo durante a semana para realizar aos finais de semana.
A cada mudança de administração possivelmente são estabelecidas novas metas e novos objetivos. Isso às vezes não chocava com o projeto que você estava desenvolvendo, principalmente se o projeto era para ser realizado em longo prazo?
No ano de 1992 fui convidada a escrever sobre exatamente isso. Escrevi a respeito umas 10 páginas para uma editora ligada a UNIMEP. O título era “A Eterna Transição do Esporte e Lazer na Cidade de Piracicaba” Mencionei todos os governos para os quais trabalhei e quais eram os projetos públicos e no final consegui concluir que os projetos de uma forma ou de outra que o Esporte fazia, não foram interrompidos. A população não era tão grande como é hoje, há 35,30, 25 anos, os grandes bairros da cidade como Piracicamirim, Jardim São Paulo, Paulicéia, Santa Terezinha, Balbo, já estavam acostumados com as atividades de lazer aos finais de semana, aos campeonatos de futebol. Não havia o interesse por parte da administração que assumisse em terminar esses projetos. Eram seqüenciais. Tanto que os jogos comunitários têm 33 anos de existência. Eram projetos suprapartidários. Posso afirmar que a parte que eu coordenava não teve interrupção. Obvio que tinha novas ópticas de trabalho. Eu ia adequando.
O basquete que já nos deu muito orgulho, e em particular, o basquete feminino, como está hoje?
Eu costumo afirmar que o basquete de Piracicaba quem viu, viu! Tenho gravações de grandes partidas da Paula, de vez em quando eu vejo. Quem viu as grandes estrelas como nós tivemos, peguei o finalzinho da Maria Helena e Heleninha, mas tive a oportunidade de acompanhar toda a geração da Paula, sendo que me tornei uma amiga da família, particularmente da Dona Hilda Gonçalves, era uma mulher apaixonada pelo trabalho dela, brigava pelas filhas, pelas escolinhas, para dar condições para que continuassem. O esporte é uma atividade muito bonita, essas meninas são maravilhosas, comove ver a humildade da Paula, da Branca. Essas coisas me emocionam. O esporte mostrou tudo isso para mim. Convivi com muitos “monstros sagrados”. Mantemos relacionamentos com amigos que conhecemos há quarenta anos, estrelas que brilharam no cenário nacional. Há uma grande amizade entre nós.
Quantas medalhas você conquistou?
Acredito que são umas 80 medalhas, muitos troféus e muitos prêmios na carreira. Um prêmio fantástico me foi dado pelo “Educando Pelo Esporte”, que é o Premio Rocha Netto. Tive o meu trabalho reconhecido o tempo todo.
A seu ver o esporte tem que ser repensado em nosso país?
Tem que ser totalmente repensado, a educação em nosso país tem que ser repensada. A mudança que se faz necessária passa pela educação. Não se resolve a educação com idéias mirabolantes, a criança tem que passar o dia inteiro na escola, o ensino e a educação tem que serem completos. Transformar o aluno em um futuro cidadão tire-o um pouco dessas mídias que atuam no subconsciente, é o subconsciente que rege a nossa vida. É só analisar um jovem que fica o tempo todo nas mídias sociais, você acha que ele terá algum bom caminho?
O que você diz sobre a Terceira Idade?
No governo Collor eu trabalhava na Secretaria do Desenvolvimento Social, na prefeitura do município, aconteceu uma reunião da LBA – Legião Brasileira de Assistência, com todos os profissionais que atuavam em áreas sociais, ela convocou todas as forças vivas da cidade, o SESC, o SESI, a Prefeitura do Município, e veio com a diretriz de que o segmento da Terceira Idade deveria ser estimulado. O SESC fez algumas reuniões preparatórias com os técnicos, alguns palestrantes, esse segmento para nós era novidade, até então nossos pais ficavam dentro de casa, de chinelos, esperando talvez a morte chegar. E vem de repente essa possibilidade de trabalhar. Juntamente com outros profissionais fomos pioneiros, nós começamos a atuar junto a Terceira Idade. Foi uma alegria muito grande. Isso foi no ano de 1985, o primeiro Clube da Terceira Idade foi no Jardim Primavera, chamava-se Clube da Vovó, eram mulheres que se reuniam no Centro Comunitário e nós da Educação Física que estudávamos as possibilidades: gincanas, caminhadas, encontros no Engenho Central, o projeto foi crescendo, fui trazendo profissionais para ajudar, não demorou muito estavam jogando até vôlei adaptado. Eu tenho fotografias dessa época. Imagine um grupo da Terceira Idade, em circulo, fazendo exercícios, isso na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz.  Até a forma de vestirem-se mudou. Deu certo de tal forma que se iniciou uma febre de atividade em 1992 a UNIMEP, o SESC, a Prefeitura e outras entidades reúnem-se e lançamos os Primeiros Jogos Municipais da Terceira Idade. Esses jogos existem até hoje. É direcionado aos grupos da Terceira Idade da cidade, onde tem jogo de malha, bocha, jogo de baralho (buraco), dominó. No ano de 1995, na cidade de Osasco começa um movimento de jogos de competição. O professor José Orlando de Almeida foi até a cidade de Osasco, ajudou-a a se organizar, durante 10 anos seguidos Piracicaba foi convidada especial dessa grande competição da cidade de Osasco, onde se reuniam representantes de toda a Baixada Santista, Grande São Paulo e Piracicaba.
Mais ou menos quantos idosos de Piracicaba participavam?
Partiam mais ou menos 45 idosos atletas que permaneciam por uma semana lá. Fomos 10 anos campeões dessa competição, até que um dia terminou, ninguém conseguia ganhar da representação de Piracicaba. Em 1997 o Governo do Estado de São Paulo lançou os Jogos Regionais e os Jogos Estaduais do Idoso. Sou coordenadora dos Jogos Regionais do Idoso em Piracicaba desde o primeiro è realizado pelo Governo do Estado de São Paulo, através do Fundo Social de Solidariedade coordenado pela Primeira Dama do Estado, Dona Lu Alckmin e pela Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo. Eu não coordeno sozinha, sou aposentada, não tenho vinculo interno com a prefeitura. Eu coordeno a Seleção Piracicabana da Terceira Idade em conjunto com a professora Renata Ganciar da Secretaria de Esportes.
Essa competição envolve quantos idosos?
Essa competição tem a participação de 300 cidades, são 25.000 atletas a partir de 60 anos, com diversas categorias, a última é dos atletas de 85 a 90 anos. Passamos por 10 fases de classificação, Piracicaba é da Região de Campinas que abrange 55 municípios. O primeiro e segundo colocado das quatorze modalidades coletivas e individuais vai para a grande final. Piracicaba ostenta por 10 anos seguidos o fato de ser campeã regional e 6 vezes campeã estadual nos últimos anos. É uma das maiores equipes do Estado de São Paulo. É uma das maiores competições do gênero na América Latina, realizada pelo Governo do Estado de São Paulo, em 2016 estaremos completando 20 anos de competições.
O Governo Federal não participa dessa iniciativa?
Há uma tendência de esse projeto tornar-se em Jogo Brasileiro dos Idosos. O projeto já está em Brasília, estamos encontrando uma dificuldade muito grande porque a rubrica, a verba, está dentro de um Ministério onde é dividido com os Jogos Brasileiros dos Indígenas. Há uma luta para que também tenhamos o nosso quinhão.
Os Jogos Regionais do Idoso exige muitos recursos? 
A logística dele não é tão complicada, a prefeitura participa com seus profissionais na modalidade de vôlei e atletismo. Os atletas treinam nos próprios municipais. Há parcerias, como a prefeitura e o Clube de Campo, onde ocorre a natação e o tênis de campo. Com o Clube Cristóvão Colombo com o tênis de campo.
Até por uma razão financeira incentivar a saúde dos idosos é muito mais barato do que o governo arcar com tratamentos de saúde de pessoas sedentárias?
O médico Dr. Pedro Mello, Secretário da Saúde, foi Secretário de Esportes em 2005 até 2012, em sua gestão era enfático o tempo todo para que os idosos tivessem motivação em atividades, sempre dizia que a relação custo-benefício é muito maior mantendo o idoso em atividade do que deixá-lo em casa sujeito a doenças próprias da idade e do sedentarismo. O Dr. Pedro é um grande incentivador juntamente com o Secretário de Esportes Lazer e Atividades Motoras João Francisco Rodrigues de Godoy, o Johnny, que é um entusiasta.
Hoje vemos que a pessoa integrante da Terceira Idade tem um comportamento menos formal do que há algumas décadas.
Brinco muito dentro do ginásio de esportes quando viajo, olho para os pés dos atletas, os tênis chamam muito minha atenção. São pessoas com 60,70,80 anos com roupas esportivas, descontraídos. O município os incentiva nesse aspecto. São roupas lindas fornecidas pelo próprio município. Neste ano tivemos o patrocínio da Amhpla. Conseguimos patrocínios para que essas roupas sejam feitas: roupa de vôlei, de atletismo, para jogar truco. É obrigatório o uso do uniforme. O truqueiro nosso é o José Beneditto Massarutt, já foi por diversas vezes campeão estadual nessa modalidade. O companheiro dele é o Odair Athanazio.
Marlene, Piracicaba tinha um grande acervo de troféus da Comissão Municipal de Esportes, onde eles se encontram?
Tenho um sentimento muito grande com relação a esses troféus, eu gosto de preservar a história. Muitos desses troféus estão com as modalidades. Eu acredito que há muitos troféus guardados em alguma sala do Estádio Municipal. Acredito também que já passou do tempo para que esses troféus sejam resgatados, reparados, organizados, para que fique em algum lugar onde todos possam ter acesso.
Você acredita que Piracicaba está na hora de criar seu Museu do Esporte?
Já passou da hora! Acho que poucas cidades têm o material que nós temos. Hoje os museus usam a mídia, com a possibilidade de que cada modalidade esportiva possa passar tudo que ela tem. Quantas modalidades têm em nossa cidade que foram grandes campeãs? Quantos atletas olímpicos têm em Piracicaba? Quantas histórias serão perdidas? Embora eu estivesse lotada em uma secretaria, trabalhei no gabinete dos prefeitos junto a todas as primeiras damas. Eu coordenava projetos de eventos com isso participava de todos os eventos. O primeiro prefeito com o que trabalhei foi João Hermann Netto a primeira dama era a Macau, depois Adilson Maluf, foi quando entrei mesmo no gabinete com a primeira dama Rosa Maria Bologna Maluf. Foi quando fiz parte de uma comissão formada pela Rosa Maria, Silvia Petrocelli, Claudia Paleo, era um grupo que gerenciava todos os projetos, eventos de esporte e lazer da cidade. Rosa Maira que é a responsável dos Jogos Comunitários, pela Festa das Nações, hoje Rosa Maria é atleta da Seleção Piracicabana da Terceira Idade. É uma grande atleta de natação, representou Piracicaba nos Jogos Regionais do Idoso. Classificou-se para os Jogos Abertos do Idoso, ela esteve em dois grandes eventos nas cidades de Mogi-Guaçu e na cidade de Campinas. Foi podium, medalhista, ela consegue no Clube de Campo me ajudar a agregar mais pessoas.
Hoje você tem sob sua supervisão quantos atletas da Terceira Idade?
Eu trabalho só com atletas de Piracicaba, são 150.
E esse pessoal da Terceira Idade que freqüenta as academias de bairro?
São milhares, passa dos 5.000. Quem pode afirmar com precisão é o Clevis  Spada e a  Mônica Graner da Secretaria de Esportes.
Esses aparelhos são importantes para incentivar o atleta?
São fundamentais, hoje em dia sabemos que o nosso corpo quando chega a certa idade se você não colocá-lo para funcionar, se não for ativo, a sua tendência é não ter energia para pensar, seguir sua vida.  Nosso corpo nada mais é do que atividade o tempo todo. È ele que vai oxigenar o cérebro.
Marlene de Lima como atleta como é?
Hoje faço pequenas caminhadas, sou apaixonada pelos meus atletas de 60,70, 80 anos. Supervisiono o trabalho acompanho o treinamento de natação, atletismo, vôlei, tênis de campo, tênis de mesa, são atividades intensas onde eles têm que submeterem-se ao ano todo a treinamentos, para competirem e representar bem a cidade.
Você cobra rendimento dos atletas?
Na realidade não preciso cobrar dos atletas da Terceira Idade. Eles têm dentro deles essa vontade. É uma alegria ver Amires Cobra, aos 87 anos nadar 25 metros! Rubens Machado, aos 88 anos ir viajar para nadar representando nossa cidade. Felício Lantanze com 86 anos praticando natação e dança de salão. Esses atletas com 80, 90 anos, são uma grande alegria. João Caetano Fonseca, irmão de Pecente, descobre que é capaz de representar a cidade de Piracicaba aos 83 anos. Contaram para mim que tinha um senhor do Lar dos Velhinhos que fazia caminhada, eu precisava de um senhor para fazer 600 metros de caminhada em Mogi-Guaçu. Fui até o Lar do Velhinhos, conversei com a assistente social, e fui conversar com o Barbieri. Seu filho levou-o a Mogi-Guaçu, ele fez a caminhada de 600 metros. Só que ele não ficou famoso só pela caminhada, é que quando terminou a competição ele perguntou se podia cantar o Hino de Piracicaba. Ele cantou, parou completamente a pista de atletismo. Antonio Carlos Bicheiro, um português que tem dois filhós médicos, é aos 80 e tantos anos corredor da São Silvestre, ele tem um pacote de medalhas.
Voce nasceu em Rio Claro, esta há 40 anos em Piracicaba, já é Cidadã Piracicabana?
Um dia escutei Cecílio Elias Netto dizer que para ser cidadão piracicabano basta chegar à beira do Rio Piracicaba, se molhar, se batizar, eu já fui lá e me batizei! Eu amo esta cidade, tudo que conquistei foi aqui. Convivi com monstros sagrados, com profissionais incríveis como Aracy Lovadini, todas primeiras damas do município com as quais atuei, particularmente a Rosa Maria Bologna Maluf, Janete Machado, Vanda Campos, Sandra Negri, atualmente a Dona Selma Ferratto. Foram primeiras damas fantásticas que me ajudaram muito. Asssim como todos os secretários de esporte que passei por eles: Rubens Braga, José Carlos Hebling, Dr. Pedro Mello, o Secretário de Esportes, Lazer e Atividades Motoras João Francisco Rodrigues de Godoy, o Johnny, é tanta gente que é impossível lembrar o nome de todos. As mídias de Piracicaba, sempre colaboraram e muito no desenvolvimento do nosso trabalho. Quando vou a Câmara Municipal recebo um carinho muito especial dos vereadores, em especial do João Manoel e do Longatto. Sendo que esses dois vereadores eram líderes comunitários e trabalhavam com crianças carentes. Eu organizava os campeonatos para as crianças carentes, era muito comum recebê-los em minha sala o João, o Longatto com as careteirinhas das crianças. Fica uma amizade muito bonita. Tenho que agradecer muito aos líderes de Associações e Centros Comunitários de todos os bairros de Piracicaba. Foram eles que junto com os profissionais da prefeitura, particularmente as assistentes sociais, deram inicio a tudo isso. Eu era da área de Educação Física estava junto com elas. Os grandes projetos públicos surgiram em momentos muito felizes da prefeitura. Tudo estava para fazer e foi feito. José Roberto Pianelli (Beto Pianelli) foi meu Secretário de Esportes, outra pessoa fantástica. Conto com o apoio muito especial do Dr.Pedro Mello,que em janeiro de 2009,fez eu entender que tinha ainda muito para contribuir na comunidade, com o meu trabalho,e desde então estamos próximos com objetivo único:possibilitar melhor qualidade de vida aos praticantes do esporte-competição da terceira idade.




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