domingo, março 13, 2016

ANTONIO GORGA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de fevereiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ANTONIO GORGA


Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras. Já existia o Cemitério da Saudade, o famoso Bosque do Cemitério, onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra.  Mais abaixo, na Rua Silva Jardim, onde hoje existe um grande supermercado, era o local onde ficava vivendo isolados os doentes de hanseníase na época uma doença incurável. Permaneciam próximos a caixa de água da prefeitura, a área atrás da chácaraonde residia a família Gorga, depois teve ali o “cano frio”. Era um terreno vago, tinha umas casas muito precárias. A terra era ruim para o cultivo, conhecida como piçarra. Não produzia nada, não dava nada.
Como é o nome dos pais do senhor?
Miguel Gorga e Maria Irma Rubens Gorga, brasileiros, filhos de italianos. Meus avôs vieram da Itália como imigrantes, conheceram-se durante a viagem, chegando a São Paulo casaram-se.
Foram morar em que localidade?
Vieram morar nessa chácara em Piracicaba, ela era propriedade de um comerciante que morava em São Paulo. Essa pessoa trouxe o casal para cá, instalando-os como empregados. Não era uma área muito grande, devia ter em torno de 2 alqueires (48.400 metros quadrados), abrangia uns quatro quarteirões, incluindo boa parte da atual Avenida Independência. Não existia a Avenida Independência, era um carreador, um caminho, depois a avenida foi alargando, entrando na chácara, até então um dos lados da chácara ficava ao lado da estradinha de terra que mais tarde tornou-se a Avenida Independência. Na realidade a estradinha foi aberta no meio da chácara. Onde hoje há a Clinica do Dr. Bicudo, aquela esquina era o canto da chácara. Dali até o cemitério deve dar uns 200 metros. Atualmente o cemitério chega até ao lado do Corpo de Bombeiros, o cemitério cresceu.
Naquele tempo havia muitas superstições, que ainda existe até hoje, não havia nenhum receio de estar morando tão próximo ao cemitério?
Não, pelo contrário! Colhíamos mamão verde, furávamos o mamão, simulando um crânio, colocávamos uma vela dentro, no canto do cemitério, em cima do muro, acendíamos a vela, eu tinha uns sete ou oito anos, ficava esperando voltar a moçada do bairro que tinha ido ao centro a noite. Lá pelas nove a dez horas voltava todo mundo, atravessavam o bosque de canto a canto, quando chegavam junto ao muro do cemitério viam aquela “caveira”, alguns saiam correndo com medo, outros já sabiam. Nós ríamos muito. Era uma brincadeira sadia.
A água era de poço ou encanada?
Ali não havia poço, atrás da chácara já tinha a caixa de água que distribuía água para a cidade toda. Essa caixa de água existe e funciona até hoje. Tínhamos água, mas não tínhamos a luz elétrica. Ficamos muito tempo sem que a energia elétrica chegasse até lá. Tínhamos que estudar a luz de vela, lamparina. Tapávamos o nariz, a fumaça do querosene deixava-o preto. Usávamos também o lampião a querosene. Fogão a lenha. A cama tinha colchão com palha de milho. Para fazer o colchão tínhamos que rasgar a palha “na unha”. Como não havia energia elétrica, a comida era conservada na banha de porco. Tínhamos três “cevas” para porco, comprava um porquinho, colocavam-os na ceva, os três, quando um estava gordo era abatido, minha mãe e meu pai faziam a linguiça. Em cima do fogão a lenha tinha um varal, enchia esse varal de linguiça, a gordurinha ia pingando. Eu ia ao grupo escolar, levava como lanche o pão que a minha mãe sempre fazia em casa, com dois gomos de linguiça curtida no fogo, eu sentava para comer a molecada ficava ao meu lado, eu tinha que dar um pedaço para cada um.
O senhor estudava em qual escola?
Estudava na Escola Normal (mais tarde denominada Sud Mennucci). O Grupo Escolar Alfredo Cardoso não existia ainda, foi implantado mais tarde. A Escola Normal era a mais próxima que existia na época. Cruzávamos onde hoje é o campo de futebol do Palmeirinha, com isso diminuíamos a distância. Ali era tudo pasto, só tinha terra ruim, só piçarra. A nossa chácara já pegou uma parte de terra melhor. Era uma terra boa.
O que a chácara produzia?
A chácara era inteirinha de frutas, um pedaço era horta. A renda da chácara era só verdura e frutas, era tudo levado até o mercado municipal, a minha avó Rosa é que tinha a banca no mercado. Era uma mesa quadradona, grande. Isso no tempo de mercado antigo. Meu tio Antonio (Nico) Gorga, todo dia engatava o carrinho no animal. Minha avó tinha sete filhos e duas filhas. A chácara era pequena para sustentar tantas pessoas, a maioria saia para aprender um ofício. Tenho tios que são marceneiros, carpinteiros, meu pai foi trabalhar na Escola de Agronomia, assim como o meu tio Francisco. Naquela época meu pai estudou a noite, formou-se como guarda-livros (contador). Só que ele não gostava dessa atividade. Ele entrou na Escola de Agronomia no setor de Horticultura, isso na época do Dr. Phillipe Westin Cabral de Vasconcellos. Meu tio mais velho do que o meu pai, Francisco Gorga morava na Escola Agrícola, era chefe do setor de Horticultura. Abriu uma vaga, meu pai falou com o Dr. Phillipe e foi trabalhar na roça da escola. Mais tarde ele passou a trabalhar só na horta. Passou um tempo, meu tio Francisco aposentou-se, o Dr. Phillipe chamou o meu pai e o nomeou como chefe da seção. Meu tio mudou-se para a cidade, a casa onde morava na Escola Agrícola ficou disponível, meu pai mudou-se para lá, na época eu tinha nove anos de idade. Havia cinco colônias de casas na Escola de Agronomia. A nossa casa era logo depois do ponto final do bonde, havia uma série de casas, a nossa era a segunda casa. A primeira casa era a carpintaria. Após trabalhar por 35 anos na ESALQ meu pai aposentou-se.
Após concluir o primário o senhor fez algum curso?
Fui estudar na Escola Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. Não cheguei a me formar, parei de estudar no ultimo ano. Eu não gostava dessa atividade, não conseguia permanecer por muito tempo em ambiente fechado. Eu tinha uns 17 anos. Quando estavam fazendo o aviário na Escola, aqueles postinhos de cimento, as cercas de tela, foram feito tudo com menores de 18 anos, era a criançada que trabalhava ali. Naquele tempo podia. Apareceu uma vaga na seção, fiquei sabendo, fui falar com o Dr. Phillipe. Fui para a Horticultura, varrer a sala de aula, limpar e trabalhar no laboratório.
O que o senhor fazia no laboratório?
O primeiro serviço era fazer café. Todo mundo tomava e gostava! No laboratório fazia análise de abacate, o Montenegro estava fazendo a tese, ele desejava passar para catedrático. Eu analisava a gordura de cada tipo de fruta. A floração. Às seis horas da manhã eu ia ao campo esperar abrir a primeira flor, para ver se era masculina ou feminina.
Como o senhor conhecia se era uma flor masculina ou feminina?
Há uma diferença bem perceptível entre uma e outra. O abacate depende muito do cruzamento. A flor de abacate às seis horas da manhã está se abrindo, são todas flores masculinas, não tem uma flor feminina. Isso dura até ao meio dia, pontualmente. Ao meio dia vai fechando aquela flor masculina e vem abrindo a flor feminina. Fica fora de posição para a abelha fazer o cruzamento. Tem variedades de abacates que é ao contrário, de manhã abre a flor feminina e a tarde abre a flor masculina. A abelha tem como trabalhar, ela leva o pólen da flor masculina para a flor feminina. Tinha que conhecer as variedades e plantar de forma alternada. De tal forma que a abelha pudesse trabalhar de uma planta para outra. A polinização era feita pela abelha.
Essas abelhas vinham de qual lugar?
Eram nativas e do apiário da Escola de Agronomia.
Que tipo de abelha havia no apiário da Escola?
Popularmente era conhecida como abelha italiana, naquele tempo não havia a abelha africana. Uma das atividades que eu tinha que saber fazer era a enxertia, conforme a variedade se faz uma estaca para se fazer uma muda. Tem estaca que enraíza bem e outras não. Têm que ter bastante habilidade para preparar tudo isso. O milho é muito utilizado quando se trata de uma planta grande, uma arvore com aquele torrão de terra grande, faz-se uma cova grande, joga-se bastante milho embaixo, é um adubo, não fermenta e não prejudica a raiz. Ele ajuda, dá um alimento à raia para puxar o enraizamento, já é próprio para isso.
Em que tipo de árvore eu  posso usar esse processo?
Em qualquer uma, a jabuticabeira por exemplo. Se você quiser mudar ela de lugar, sendo uma jabuticabeira grande, tira-a com um torrão de terra grande, um guincho, transporta-a para uma cova grande, conforme o tamanho da árvore pode-se colocar cinco, dez quilos. Irá servir como adubo. Se for uma jabuticabeira pequena, onde seja plantada em uma cova de um metro de comprimento por um metro de largura, jogam-se uns 5 quilos de milho. Quando a jabuticabeira foi retirada foi cortada a raiz, terá que sair outra raizinha. O milho irá ajudar.
Em que ano o senhor começou a trabalhar na Escola de Agronomia?
Foi em 1943 aposentei-me em 1985. Aos nove anos mudei com a minha família para uma casa na Escola Agrícola. Com 16 anos eu queria trabalhar. Trabalhei com o Dr. Phillip uns 15 anos. Meu pai aposentou-se, o Dr. Phillip me chamou e perguntou se eu queria substituir a vaga do meu pai. Eu quis, já estava bem entrosado com a rotina do campo, nessa época eu já não estava mais no laboratório. O Dr. Montenegro queria que eu permanecesse em função da sua defesa de tese. Tudo que era enxertia, estaquia eu fazia. Continuei morando na casa, antes disso a escola estava mudando um pouco e precisava dos prédios. A ESALQ adquiriu aquela parte da frente, próxima a Avenida Centenário, era tudo propriedade particular, não era da escola e construiu uma casa para o meu pai ali. Quando meu pai aposentou-se eu fiquei na casa em que ele morava. Já era fora da Escola, embora pertencesse a Escola.
A condução que o senhor usava para ir ao centro da cidade era o bonde?
Usava o bonde para ir a qualquer lugar, a Avenida Carlos Botelho era com o chão de pedregulho. As lâmpadas eram muito fracas, não chegavam a clarear nem o chão. Quando perdia o último bonde, as onze horas, tinha que vir a pé. Ia do centro até a Rua Santa Cruz e caminhava até chegar a Escola. Tudo terra. Pedregulho e cachorrada latindo atrás, a gente andando a noite no escuro.
Quando o senhor assumiu a chefia, quantos funcionários o senhor tinha como seus subordinados?
Tinha 73 funcionários. A seção de horticultura era a maior seção da Escola. Todos os parques da Escola, esses gramados, a Engenharia, o tanque, tudo era cuidado pela horticultura.  Só nesse parque eu tinha 10 funcionários. Tinha mais funcionários no  pomar, dos dois lados do Campo de Aviação.
Ia até o Campo de Aviação?
O Campo de Aviação está no meio do pomar. A Usina Monte Alegre precisava de uma área ideal para utilizar como campo de viação. A área escolhida foi onde está até hoje. A divisa da Usina Monte Alegre é logo após o campo, onde tem um declive, tinha uma nascente de água, dentro da Escola, é a que abastece a Escola hoje. O Morganti, propôs à Escola em trocar: ele dava uma área que lhe pertencia e a Escola dava-lhe a área onde estava o pico, ideal para a pista do Campo de Aviação. A Escola concordou. Foi feita uma permuta, o terreno dele que era só cana-de-açúcar nós transformamos em um pomar. Depois o Campo de Aviação precisou de mais terreno, o governo passou a doar mais alguns pedaços. Então arranca todo o pomar e vai aumentando o campo. A Fazenda Areão era ocupada pela ESALQ, atualmente encontram-se instaladas a Escola de Engenharia de Piracicaba e a Faculdade de Odontologia de Piracicaba FOP- UNICAMP.
Os produtos que a ESALQ produzia eram comercializados?
A horta pertencia a Horticultura, tinha três homens trabalhando na horta. Havia dois homens trabalhando na floricultura, plantávamos todo tipo de flor. Os produtos que colhíamos, vendíamos, nós precisávamos da renda, não tínhamos dinheiro.
Quais máquinas eram utilizadas?
Era tudo movido com burro. Arado, burro carroça. Depois de muito tempo adquirimos um trator Zadruga, esse trator está lá até hoje. Depois ganhei da seção de máquinas  um trator velho para cortar a grama da Escola, era um Massey Ferguson. Antes a grama embaixo das árvores era cortada com alfanje. . Aí comprei o tratorzinho pequeno, coloquei o trator grande no campo e o pequeno em locais onde o acesso era mais delicado. O resto da turma estava toda no pomar, carpindo na enxada. Eram pomares grandes de abacate, laranja, manga, tínhamos 56 variedades de mangas. Mais tarde o Professor Salim Simão ficou catedrático e passou a ser conhecido pelos seus conhecimentos inclusive na cultura de mangas. O Professor Salim Simão tinha uma grande confiança no meu trabalho, delegava muita responsabilidade para que eu cuidasse com afinco do pomar. Tenho boas lembranças do Professor Salim, uma excelente pessoa. Foi uma pessoa que teve muitas dificuldades no seu inicio, ele morava no sítio no hoje Bairro da Pompéia, quando chovia ele tinha que vir de lá e não tinha carro. O irmão dele o trazia com uma charretinha, debaixo de chuva. Ele já era professor. Naquele tempo tinha um livro em cima da mesa do Filipão, como era conhecido o Dr. Phellipe, era o livro-ponto, os professores assistentes tinham hora para entrar e hora para sair. Tinham que assinar o livro.
O senhor conheceu o Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger?

O Professor Brieger foi um grande amigo, ele gostava muito de mim. Ele tinha verba, conseguia junto a seus contatos no exterior, a Fundação Rockefeller estimulava o ensino e a pesquisa, destinando recursos próprios.  O Dr. Brieger tinha um grande prestigio junto a Fundação Rockefeller, com isso obtinha recursos com mais facilidade. Até mesmo os meios de locomoção eram renovados anualmente. Dispunha de implementos agrícolas e até mesmo tratores com facilidade. Tudo doado por entidades estrangeiras. O Brieger era uma pessoa que trabalhava muito. Um dos seus objetivos era ter a maior variedade de orquídeas possível. Para aumentar a coleção da ESALQ. Na nossa região, percorríamos toda a redondeza de Piracicaba. Cada vez que ele saia com a perua para procurar novas espécies de orquídea ele me telefonava e íamos juntos. Passávamos o domingo no mato coletando orquídeas. O Brieger era excelente, um cientista. Conheci o Professor Dr. Guido Ranzani, o “Guidão”, era gente boa! Foi o responsável pela criação e direção do Centro de Estudos de Solos da ESALQ. A ESALQ me proporcionou além de uma carreira a realização de grandes amizades, com pessoas de grande projeção como o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, um grande amigo, com o qual sempre que podemos conversamos e trazemos as lembranças gloriosas dessa grande instituição que é um orgulho para Piracicaba e para o Brasil, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ. 
Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na ESALQ  por 35 anos. Aos nove anos de idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ. Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943  até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies. Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger, ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio de inúmeras mudas de árvores.  Antonio Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo substituído por outras culturas, por construções de prédios.Antonio Gorga nasceu a 4 de agosto de 1928, em Piracicaba, no Bairro Alto, próximo onde atualmente é o Corpo de Bombeiros, na Avenida Independência. Ali era uma região formada por chácaras: das famílias Gorga,Carrara, Picinatto, e outras, elas tomavam parte do leito carroçável da Avenida Independência que não era senão um pequeno “carreador”. Seu avô trabalhou na ESALQ. Seu pai trabalhou e morou na ESALQ  por 35 anos. Aos nove anos de idade Antonio Gorga mudou-se com seus pais para uma casa pertencente a ESALQ. Aos dezessete anos foi um dos garotos que ajudou na construção do aviário da ESALQ. Antonio Gorga trabalhou na ESALQ de 1943  até aposentar-se em 1985. Foi encarregado da Horticultura, que além de cuidar das verduras e legumes, cultivavam flores das mais variadas espécies. Foi responsável por 73 funcionários. Um dos seus passatempos prediletos era acompanhar o reconhecido cientista Professor Doutor Friedrich Gustav Brieger, ambos aos finais de semana internavam-se nas matas da região em busca de novos espécimes de orquídeas, formando um dos mais ricos acervos de orquídeas brasileiras. Antonio Gorga sempre foi um homem de campo, Como auxiliar de laboratório em seu trabalho praticamente anônimo teve participação fundamental nas experimentações que geraram grandes teses de renomados nomes da ESALQ. Fez muitas amizades, com nomes de expressão no cenário nacional. Conserva muitos amigos, entre eles o Professor Doutor Jairo Ribeiro de Mattos, um apaixonado pela ESALQ e pelo Lar dos Velhinhos de Piracicaba, local que conheceu mais proximamente quando ainda era estudante da ESALQ e foi responsável pelo plantio de inúmeras mudas de árvores.  Antonio Gorga manifesta sua tristeza em ver o pomar que formou e aos poucos foi sendo substituído por outras culturas, por construções de prédios.
O senhor praticou algum esporte?
Joguei futebol em um dos principais clubes do futebol amador que foi o São João da Montanha. Esse time tem a origem do seu nome na Fazenda São João da Montanha, de propriedade de Luiz Vicente de Souza Queiroz e doada ao Estado para a construção de uma escola agrícola. Eu jogava como beque esquerdo, o pessoal reclamava um pouco porque eu jogava meio pesado. Joguei todo o campeonato, fiquei tri-campeão na cidade. Um dos nossos adversários mais ferrenhos era o River Plate  da Vila Rezende.
O senhor conheceu o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos em que época?
Eu o conheci quando ele ainda trabalhava na Casa da Lavoura. Depois que ele ingressou na ESALQ.
A ESALQ cresceu muito?
A escola cresceu, mas a meu ver o piracicabano não a valoriza como foi no passado. Era muito frequentada pela cidade todos os dias. Andavam, passeavam adquiriam verduras, tinha um ponto de venda de frutas, verduras, flores. Tínhamos mudo de todo tipo de planta que se possa imaginar, principalmente as frutíferas. Da estrada do Monte Alegre para lá, aquilo era tudo viveiro de mudas. Vendíamos barato. Eu tinha o preço da concorrência, como as mudas de Limeira, por exemplo, vivíamos pela metade do preço. A cada 15 dias ia até o Mercado Municipal de Piracicaba, fazia um levantamento de preços e vendia cinquenta por cento mais barato. Com esses recursos fazia uma caixinha para as necessidades básicas da seção. O dinheiro da renda do mês eu recolhia para a reitoria, a reitoria devolvia à diretoria da escola, Setenta por cento do valor vinha para o nosso departamento, trinta por cento ficava com a finalidade de ajudar nas despesas da diretoria.
E defensivo agrícola já era utilizado?
Usava-se muito pouco. Não tinha dinheiro para adquirir também, naquele tempo as coisas eram difíceis. O mais utilizado na época era o BHC,  um inseticida sua sigla advém do nome inglês - Benzene Hexachloride - é um produto que combate pragas na lavoura Seu uso foi banido.
E  a frase a frase “Ou o Brasil acaba com a Saúva ou a Saúva acaba com o Brasil”?
Eu tinha três homens o dia inteiro trabalhando só na máquina para exterminar a saúva. A máquina era composta por uma ventoinha, dentro de uma caixa de ferro fundido, enchia de carvçao, colocava fogo no varvão, colocava a saída de uma mangueira na entrada do “olheiro” do formigueiro. Abria a tampa  daquela fornalha colocava duas colheres de arsênico. O arsênico descia junto ao carvão em brasa e saia junto com a fumaça. Essa fumaça entrava pelo canal, ficavam dois homens, andando com a enxada na mão e fechando os “olheiros” onde saia a fumaça. Matva aquele mas vinha outro, vinha muito do Monte Alegre, da usina de cana-de-açúcar. Ninguém ia matar saúva em cana. Em novembro os iças saiam voando, caia no meio do pomar, caiam por todos os lados. Tinha dois homens que no tempo de içã pegavam a enxada e iam para o pomar passear. Quando o içá cai, afunda e forma uma panelinha para ela. As sauvinhas já começam a sair. Nesse caso não precisa de veneno, com a enxada cavoca e mistura tudo. Mata com a enxada, Isso um mês depois que o içá caiu e já formou um formigueirinho. Quando está em um local cheio de capim, não se enxerga com facilidade essa panelinha.
E cobras tinha muitas?
Cobra sempre teve. Nunca tivemos funcionários picados de cobra. Tinha jararaca, jararaquinha e jaracuçu. A jararaca tem uma característica, você pensa que ela foi embora ela volta, é dissimulada. Cobra não ataca as pessoas. Nós é que as atacamos. Se você não bater nela ela n]ao faz nada. Ela vai embora, foge da gente.
Hoje é comum termos estudantes de agronomia do sexo masculino e feminino, antigamente era assim também?
Era comum ter no máximo uma ou duas moças que estudavam agronomia. Ultimamente aumentou muito o número de mulheres que fazem o curso. Hoje a ESALQ está mais voltada à pesquisa.
Como surgiu a intenção de construir uma usina de açúcar dentro da ESALQ?
Surgiu com a iniciativa do Professor Dr. Jaime da Rocha de Almeida, diretor da ESALQ. Naquela época as usinas de açúcar estavam no auge, com uma usina funcionando dentro da escola o aluno tinha a facilidade de aprender tudo ali dentro, já para sair, trabalhar ou montar uma usina. Ao que contam a verba para concluir o prédio da usina infelizmente não foi deliberada. E caso estivesse entrado em atividade atualmente não teria mais condições de funcionar.
O senhor conheceu o Engenho Central?
Muito! Carregava bagacinho de cana para usar na composição de esterco para a Horticultura. Eu mandava o caminhão com dois homens, até a hora do almoço lotava o caminhão de bagaço de cana de açúcar. Na zootecnia eu mandava uma carroça por dia, eu aproveitava o esterco dos bezerros. Todo dia um funcionário meu colocava uma carroça na esterqueira para curtir. Não tinha dinheiro para comprar adubo. Plantava milho para alimentar 36 burros. Eram burros chucros, que vinham de Minas Gerais, tinha dois funcionários meus, dois irmãos: Silvio Pavão e Virgilio Pavão, dois irmãos, que os domavam. Três burros eu tirava para puxar charrete. Um era para uso da esposa do Dr. Phillipe em sua charrete esse era o único que usava ferradura. Os demais não precisavam porque só andavam na terra.
O Rio Piracicaba passa pela ESALQ?
Passa entre a Fazenda Areaão e o bairro Santa Rosa. O Piracicamirim passa no meio da ESALQ,Tem um salto no meio do mato, é uma beleza, Tinha a colônia da Zootecnia, a colônia da Fazenda Modelo, a colônia da Horticultura, a colônia do prédio principal e a colônia do Pombal. Todas cheias, hoje estão todas fechadas. Hoje estão todas fechadas.
O senhor mantém contato com o pessoal daquela época?
Infelizmente com poucos, uma boa parte já faleceu. Dos funciorios, de setenta e poucos sei de apenas dois que estão vivos.
Atualmente temos frutas com aspectos muito bonitos, mas não são tão saborosas como eram antigamente. Por que?
Quando trabalhava na Hoticultura da ESALQ cheguei a usar uma variedade de caqui permitia transformá-lo em passa, plantei uma verdadeira coleção de Tâmara na ESALQ.Colhia a tâmara, colocava em um quarto, passava enxofre pra não dar fungo, deixava amudaerecer, todos os dias tinha que ir lá colher. Hojes são frutas sem sabor, não tem açúcar suficiente, são produtos híbridos. Antigamente tinha a laranja Serra D`Agua, era enjeitada, é uma laranja antiga, ninguém ligava para ela, Agora deram esse nome á um tipo de laranja baiana. Hoje o  mamão é uma fruta que está bem cultivada. Infelizmente a pulverização aérea da cana-de-açúcar destrói tudo. E depois que me aposentei, no meu sítio tive leiteria, parei. Passei a trabalhar com carneiro, cheguei a ter 300 cabeças parei também.
Sou muito amigo do Marinho, da Agropecuária Marinho. Trabalhamos na ESALQ na mesma época.  Conheci muito Dr. Walter Accorsi. Assim como era utilizado fórceps para fazer um parto humano com dificuldades, o Spalini usava trator para auxiliar as vacas a parirem. Isso é muito antigo. Urgel de Lima, formou-se e tornou-seprofessor da ESALQ onde aposentou-se. 

MARLENE DE LIMA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 30 de janeiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARLENE DE LIMA 

Marlene de Lima nasceu na cidade de Rio Claro, a 24 de maio de 1954, filha de Francisco de Lima, caboclo, e Maria de Lourdes Ondas de Lima, nascida no Brasil. Marlene esclareceu que quanto a palavra Ondas do sobrenome da sua mãe tem um motivo muito interessante, seus avós maternos vieram da região de Trás-os-Montes, Portugal, e narra a história que o avô gostou muito do mar,  o nome dele era Joaquim Carvalho, quando chegou ao Brasil ele colocou seu nome como Joaquim Ondas.
Marlene qual era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai era ferroviário, aos 17 anos ele ingressou na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, sua função inicial era colocar dormentes nos trilhos. Fez carreira dentro da Companhia, passando por todas as funções: ajudante, foguista, maquinista de locomotiva a vapor. Quando eu tinha 12 anos levava comida para o meu pai na Estação de Rio Claro. Ele fazia as devidas manobras no pátio da estação e discretamente eu permanecia na locomotiva nesse passeio encantador. Moramos sempre na Rua 8-A, Bairro Vila Nova, na cidade de Rio Claro. Meus pais tiveram onze filhos: Maria José, Eunice, Maria Tereza, Marlene, Neusa, Francisco, João Carlos, Sonia Regina, Roseli, Marcelo e José Carlos. Foi uma infância difícil, mas feliz, morávamos em uma casa de quintal muito grande, com muitas plantas frutíferas, vivíamos subindo em árvores, havia frutas durante o ano todo. De casa até a estação de trem, a pé, demorávamos vinte minutos. Passava pela Vila Indaiá, Cidade Nova, chegava à porteira da Avenida 8. O movimento de trens era intenso, por sermos filhos de ferroviários tínhamos uma carteira de identificação que nos permitia viajar de trem. Nossos avôs paternos moravam em São Paulo, íamos sempre para lá, os avós maternos moravam em Itirapina. Em sua carreira como maquinista ocorreram dois desastres graves com o meu pai, um deles foi no dia de Natal, ele estava indo para Rincão, o trem de passageiros lotado, quando ele entra em uma curva, tinha chovido na noite anterior, o barranco caiu. O trem entrou no meio do barranco, meu pai passou o Natal lá, mas graças a Deus ninguém se machucou. A máquina já era elétrica.
A sua característica de preservar a memória da sua família surgiu naturalmente?
Desde pequena eu percebi que tinha o interesse em saber tudo sobre a história da minha família, poucos tinham esse interesse, meus irmãos não entendiam porque eu queria saber tanto. Meu primo, Alfredo Ondas, também tem o mesmo interesse pela história da nossa família. Talvez esse gosto fez com que, quando eu cheguei em Piracicaba e me tornei atleta, depois funcionária pública, eu continuasse os registros naturalmente. Comecei a perceber que isso não era rotina das pessoas, aumentou meu interesse em guardar esse material e disponibilizar às pessoas interessadas. O que eu disponibilizo é muita coisa. Fui professora da rede estadual no bairro Boa Esperança, nos anos de 1987 a 1992, ali registrei umas 200 fotos dos alunos em atividade. Fiz um álbum para esses alunos com todas as fotografias dentro, constantemente esse álbum vai para o bairro, permanece um mês rodando pelo bairro e retorna. Fiz exposições fotográficas, já realizei bastante coisa com o meu material.
Marlene você estudou em escola pública?
Éramos muitos filhos, com uma vida muito dura, eu tive a felicidade, ou o destino, de desde cedo estar envolvida em política, mesmo sem saber. Ao lado da nossa casa havia uma chácara, era de propriedade de parentes próximos ao Dr. Ulisses Guimarães. Eles praticamente nos adotaram com relação ao material escolar necessário. Viam a luta dos nossos pais. Eu não tinha noção da importância disso tudo. Fiz o curso primário no Grupo Escolar Indaiá. A quinta e sexta série eu fiz na Escola Professor Armando Bayeux da Silva, a sétima e oitava séries eu estudei na Escola Professor Odilon Correa. Por volta de 1970 não havia a facilidade de fazer o ensino médio como é hoje. Tinha que prestar um vestibular para entrar, quis o destino que eu não passasse nesse vestibular, fiquei apavorada, meus pais incentivaram muito os filhos a estudarem, tive a sorte de encontrar um amigo que disse que também não havia passado no vestibular, mas ele havia encontrado uma escola técnica, CTA- Colégio Técnico Agrícola de Rio das Pedras. Nesse colégio havia Economia Doméstica para as mulheres, que era equivalente ao ensino médio, foi uma luta fazer o meu pai entender que tinha que sair de Rio Claro para morar dentro da escola! Duas colegas, vizinhas da minha casa também se interessaram e o pai de uma delas nos trouxe até o Colégio de Rio das Pedras. Com isso formei-me em Técnica em Economia Doméstica. Foram três anos de curso, no segundo ano, a professora de Educação Física descobriu que eu tinha talento para o atletismo. Eu corria muito bem. Ela trazia os alunos para participar dos campeonatos em Piracicaba. Foi ela que me disse que Piracicaba tinha uma equipe de competição e que era importante que após concluir o curso de Economia Doméstica, que eu procurasse o pessoal de Piracicaba, era possível que eu conseguisse entrar na equipe. Assim eu fiz. Terminando a escola não voltei para a minha casa. Empreguei-me como balconista na Eletroradiobraz de Piracicaba, arrumei uma pensão para morar, fui procurar o Idico Luiz Pellegrinotti, o “Deco”.  Ele estava treinando uma turma de jovens para formar uma grande equipe. Isso foi em 1975. Ele pediu que eu corresse na pista de atletismo em volta do campo do XV de Novembro, acho que dei umas 8 ou 10 voltas. Quando eu parei ele disse-me: “-Daqui a três meses irá ocorrer os jogos regionais de São Carlos, você quer participar?”. Disse-lhe que queria. Ele me colocou na equipe, com isso ganhei uma bolsa de estudo para fazer a Faculdade de Educação Física, em troca eu iria ser atleta da cidade de Piracicaba. Foi uma grande alegria, em três meses já consegui obter resultados, passei a participar de todas as grandes competições no país, fui bi campeã brasileira universitária, bati o recorde no dia 12 de junho de 1977 no Ibirapuera, onde nós fomos campeãs estaduais em uma das provas, revezamento 4 por 400 metros, foi corrida no tempo de 3 47.9 um tempo fantástico para a época. As quatro corredoras eram: Conceição Jeremias uma grande atleta que participou de cinco olimpíadas, Aparecida de Fátima Adão que era campeã Sul Americana, campeã Brasileira, Maria Teresa Ferreira que tinha batido o recorde mundial juvenil na França e eu, Marlene de Lima, campeã Brasileira. Participei de jogos regionais, dos jogos abertos, participei de muitas competições.
Você tem uma idéia de quantas competições já participou?
 Foram três anos intensos em que participei de todas as grandes competições do país todo. Fui sexto lugar do Troféu Brasil em Porto Alegre, fui finalista dos 800 metros, na final Piracicaba conseguiu colocar Aparecida de Fátima Adão e eu.
A prática dessa modalidade dá condições ao atleta de participar de uma corrida nos moldes da São Silvestre?
Na realidade até daria na época, mas como eram muito intensas as competições no Brasil todo, tínhamos o Campeonato Paulista, Troféu Bandeirantes, Jogos Regionais, Jogos Abertos, Campeonatos Universitários, Campeonatos Regionais, o tipo de treinamento era especifico para as provas de 400 e 800 metros, são corridas de velocidade e a São Silvestre é uma corrida de fundo. Todos os meus tempos, na época, eram para menos de um minuto, eu fazia para 59 segundos. Em Porto Alegre consegui correr 800 metros em 2 minutos e 17 segundos.
Sem querer ser saudosista, você acha que o atletismo sofreu um processo de decadência?
Atrás dos atletas tem que ter a mão de um grande técnico. Nós tivemos a felicidade de nessa época ter o Idico Luiz Pellegrinotti, que era um visionário, um idealista. Ele sonhava em transformar todos os seus atletas, não só em campeões de pistas, mas em campeões da vida. Ele lutava muito para que todos nós estudássemos. A grande maioria desses atletas que passaram pela mão do Idico Pellegrinotti tornou-se vencedores dentro e fora das áreas esportivas. Posso citar alguns nomes como Dr. Mário Telles, hoje um ortopedista de renome, o Fifi que era da Guarda Mirim de Piracicaba tornou-se um conhecido engenheiro. Muitos profissionais da Educação Física, como eu, Marlene de Lima, Olaria, Margarida, Aparecida de Fátima Adão, Denise Schiavinatto. A psicóloga Rita Furlan, Maria Eugenia, filha do Zequita aqui de Piracicaba, atleta do meu tempo, hoje fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Ginástica Artística, onde ela é responsável pelo Mario Zanetti, o Campeão das Argolas. O técnico era muito importante, ele participou de três estágios na Alemanha, buscava conhecimento. Eu acredito que estávamos no momento certo. Naquele tempo havia um interesse muito grande dos jovens pelo esporte, eram mais idealistas, participativos. Dentro das escolas estaduais éramos orientados para a prática esportiva. O esporte era tido como algo fantástico. De repente o ensino mudou. No momento em que a Educação Física mudou de turno já se quebrou a prática do esporte. O grande problema de não termos mais um basquete em Piracicaba, um atletismo tão forte, é porque houve uma interrupção dentro das escolas de base. Se for perguntar, todos os grandes atletas começaram na escola de base. Hotência, Paula, foram incentivadas dentro da escola estadual.
Isso significa que o esporte deve ser incentivado nas escolas?
A força do esporte está nas escolas. Na base. Desde pequenininho, quando entra no primário, até ele chegar à idade de definição, quando ele entra para o ginásio. Isso não existe mais. O mundo mudou, as mídias chegaram, as realidades são outras.
Voce acredita que os pais são responsáveis por essa mudança?
É um conjunto, responsabilizar apenas os pais não é correto, eles não têm força junto as escolas, quem tirou isso tudo das escolas foi a diretriz de ensino. Ela transformou a Educação Física dentro de uma grade curricular no horário de aula. Como um aluno pode ter matemática, português, educação física e história? Não se admite isso! Voce vai com uma roupa comum para a escola, fui professora da rede estadual até 2011. Sai decepcionada em 2011, quando me aposentei da rede estadual. Dei aula de educação física por 25 anos. Boa parte desses anos todos foi de pura alegria. Consegui passar para muitos jovens a importância da pratica do esporte. A importância dele se tornar atleta para poder ter uma ascensão social através de bolsa de estudo.
Em sua visão a indumentária utilizada em uma aula de história não irá ser apropriada para a prática de uma aula de educação física?
Em hipótese nenhuma! Entendo que a educação física tem que ser o contra turno, em um turno as aulas normais e em outro turno a educação física. É dessa forma que ira se conseguir estimular o jovem a não ter a preocupação de uma sala de aula. Ele vai lá para praticar o esporte. Esse jovem terá muito mais possibilidade de se interessar por aquilo que será passado se estiver fora de um horário de aula normal.
Nos três anos em que você estudou no Colégio Agrícola de Rio das Pedras qual era a sua forma de lazer?
Morávamos em frente a Igreja Matriz em Rio das Pedras, hoje no local existe uma agência bancária, ali residiam todas as meninas que estudavam no colégio interno, nós passávamos o dia no colégio íamos até esse alojamento só para dormir. Nós ajudávamos a limpar a escola, a fazer as refeições, tinha uma cozinheira, nós éramos ajudantes. Muitos produtos que consumíamos vinham da horta dos meninos que estudavam no Curso Técnico Agrícola. Tínhamos grandes professores, como por exemplo, Frederico Alberto Blaauw, uma sumidade, deu aula de português no CTA de Rio das Pedras. Regina Dória Sanflorian foi minha professora de educação física, na cidade de Rio das Pedras, ela que descobriu que eu tinha talento para o esporte. Fui muito feliz em Rio das Pedras porque foi um marco de mudança na minha vida. Aos domingos nós alunas íamos à missa, depois ficávamos no alojamento, não tinha televisão, eu lia muito. Lembro-me que eu tinha muitos livros. Tinha uma grande amiga Dirce Salati de Almeida, infelizmente ela já faleceu. Eu pratiquei atletismo só por três anos, tive uma lesão muito grave e não pude participar mais de esporte. Nesses três anos fui muito feliz, conheci muita gente por conta dos Jogos Regionais e Jogos Abertos, convivia muito com Maria Helena, Heleninha, pessoal do basquete, assim como convivi muito com o pessoal do vôlei, todos os esportes se interagiam. Logo que me formei, Maria Helena, Heleninha, viajavam com a Seleção Brasileira e me convidavam para substituí-las nas escolas onde lecionavam educação física. Foi dessa forma que ingressei como professora na rede de ensino estadual. Eu já era funcionária publica municipal, logo que terminei a minha carreira dentro do atletismo tornei-me uma estagiária de educação física, e logo me tornei professora de educação física da rede municipal. Naquela época não havia concurso, havia a indicação. O Fernando Guerra e o Luiz Antonio Chorilli disseram-me que estava começando um movimento muito grande na cidade e que era um trabalho social. Instituir educação física nos centros comunitários da cidade. Com essas pessoas eu tinha muito respeito, o que eles falavam para mim, eu fazia. Fui para o Centro Comunitário dar aulas. Eu mal sabia que no ano de 1977 estava começando um grande projeto social, que se tornou a minha carreira na Prefeitura do Município de Piracicaba. Um trabalho social atuando em centros comunitários, junto a Associações de Bairros, em vários projetos voltados à população em um trabalho integrado com várias secretarias de governo.
Você continuou lecionando na rede estadual de ensino?
Naquela época o fato de ser professora na rede estadual não estabelecia um vinculo com o Estado como tem hoje, em que você é obrigado a ter 20 horas semanais de aulas. Com 9 horas semanais já podia ser professor da rede estadual. Por um bom tempo eu entrava dando aulas de educação física as seis e meia da manhã e às nove horas da manhã já estava livre para trabalhar na prefeitura. Sempre sob a orientação da Maria Helena que me dizia: “-Nunca deixe a rede estadual, nunca deixe a prefeitura, porque lá no futuro você irá ter um ganho muito grande”. No ano de 2008 aposentei-me na prefeitura do município e no ano de 2011 aposentei-me na rede estadual. Sou muito grata à essas pessoas que me deram a mão lá no passado. Lecionei na Escola Mirandolina de Almeida Canto de 1983 a 1986. No ano de 1987 fui lecionar na Escola Samuel de Castro Neves, no bairro de Santa Olímpia, para mim foi uma alegria enorme. Imagine trabalhar em uma escola que quando chegava a safra não tinha aluno. Eu perguntava à diretora: “- Onde estão os alunos?” e ela respondia: “- Eles estão todos cortando cana-de-açúcar!” Eu ia no meio do canavial. É uma pena que eu não tenha fotografado. 

A professora de Educação Física Marlene de Lima já foi atleta de destaque nacional. Conviveu com as grandes estrelas do esporte nacional radicadas em nossa cidade. Apaixonada pelo esporte, Marlene de Lima conseguiu a proeza de unir a máquina pública para incentivar a prática esportiva. Passou por diversos governos, das mais variadas correntes políticas, mantendo o foco no esporte. Tem como característica pessoal documentar através de fotografias a evolução ocorrida no esporte piracicabano nos últimos quarenta anos. Aposentada, continua com sua paixão dedicando-se ao esporte da Terceira Idade. Tem revelado valores significativos nessa área, mas acima de tudo, ajudado a proporcionar uma qualidade de vida melhor aos integrantes da Terceira Idade.  
Antigamente, nas escolas publicas, as aulas de educação física eram fora do horário normal utilizado para outras matérias?
As aulas de educação física tinham horário diferenciado. Havia muito empenho em adaptar tudo para incentivar o aluno. Em Santa Olímpia um aluno manifestou seu desejo de jogar tênis de campo. Construímos na terra uma quadra de tênis de campo. Comprei as raquetes e meus alunos passaram a ter aulas de tênis de campo. Tenho no facebook um grupo chamado Arquivo fotográfico de Piracicaba, já tenho uns trinta álbuns e essa história que estou contando pode ser vista em um dos álbuns que estão lá. Inclusive há fotos das adaptações feitas nas aulas de educação física, como eram feitas na década de 80. Era tudo feito com muito carinho e os alunos fazendo aulas com qualidade. Sai da Escola Samuel de Castro Neves e fui para a Escola Carlos Sodero no bairro Boa Esperança, onde fiquei de 1988 até 1992. Também uma escola fantástica. Depois fui para a Escola Helio Penteado de Castro, no Parque Piracicaba – Balbo onde permaneci até o ano de 1996. Em seguida fui para a escola de Tupi, voltei para a Escola Mirandolina de Almeida Canto onde trabalhava com a criançada de primeira até quarta série. A primeira coisa que fiz na escola, junto com a diretora, foi resgatar a fanfarra. Fui buscar o famoso Zé Hélio, ele desenvolveu um projeto na escola. Quem comandava a fanfarra eram os alunos mais velhos, o Zé Hélio treinou a criançada, ele era o professor, mas quem conduzia a fanfarra eram os próprios alunos.
Como vocês conseguiram adquirir os instrumentos?
Através de doações, a Associação de Pais e Mestres da escola conseguiu doações, compraram, tinha uns quarenta alunos que participavam. Foi um marco na escola a participação da fanfarra em desfiles de 7 de Setembro, encontros de fanfarras no Engenho Central, tenho tudo documentado, eram eventos que aconteciam no Engenho e eu trazia as fanfarras. . Em seguida fui para a Escola de Anhumas. Depois fui para a Escola de Tanquinho. Aposentei-me quando lecionava na Escola Estadual Professora Avelina Palma Losso localizada no bairro Santa Rosa. 
O que você acha sobre a divulgação das realizações feitas em Piracicaba?
Por conta de coordenar o trabalho com o pessoal da Terceira Idade viajo muito. Faz 40 anos que estou em Piracicaba, só trabalhando, eu não tenho família em Piracicaba, isso permite que eu esteja disponível diuturnamente para o trabalho. Faço o que gosto, convivo até hoje com o pessoal da prefeitura, tenho trânsito em todas as secretarias de governo, conheço muita gente. Eu tiro o chapéu, esta cidade faz muito. Todas as secretarias de governo que atuam com crianças, jovens, adolescentes, com adultos, cada um fazendo o seu trabalho. Desde o tempo em que eu atuava de uma forma direta na prefeitura, sempre dizia que os grandes terminais de ônibus da cidade de Piracicaba: Terminal Central, da Paulicéia, Cecap, Piracicamirim, Vila Sônia e São Jorge, só esses terminais abrangem uma grande massa da população que usa o serviço. Eu que vivi muito tempo, usaria algumas formas para divulgar mais ainda os eventos que ocorrem na cidade.
Você trabalhou quantos anos?
No Estado foram 25 anos, na Prefeitura Municipal de Piracicaba estava na Secretaria de Esportes, aposentei-me após 33 anos de trabalho. A maioria dos projetos que desenvolvi era de finais de semana. Acredito que foi quase um sacerdócio dentro da prefeitura do município.  Todos os projetos em que eu era envolvida eram sociais: Jogos Comunitários, Manhãs de Lazer, Trabalhos com Terceira Idade, eventos de lazer na cidade, eram voltados à população, desenvolvidos junto com diretorias de centros comunitários. Preparava-se tudo durante a semana para realizar aos finais de semana.
A cada mudança de administração possivelmente são estabelecidas novas metas e novos objetivos. Isso às vezes não chocava com o projeto que você estava desenvolvendo, principalmente se o projeto era para ser realizado em longo prazo?
No ano de 1992 fui convidada a escrever sobre exatamente isso. Escrevi a respeito umas 10 páginas para uma editora ligada a UNIMEP. O título era “A Eterna Transição do Esporte e Lazer na Cidade de Piracicaba” Mencionei todos os governos para os quais trabalhei e quais eram os projetos públicos e no final consegui concluir que os projetos de uma forma ou de outra que o Esporte fazia, não foram interrompidos. A população não era tão grande como é hoje, há 35,30, 25 anos, os grandes bairros da cidade como Piracicamirim, Jardim São Paulo, Paulicéia, Santa Terezinha, Balbo, já estavam acostumados com as atividades de lazer aos finais de semana, aos campeonatos de futebol. Não havia o interesse por parte da administração que assumisse em terminar esses projetos. Eram seqüenciais. Tanto que os jogos comunitários têm 33 anos de existência. Eram projetos suprapartidários. Posso afirmar que a parte que eu coordenava não teve interrupção. Obvio que tinha novas ópticas de trabalho. Eu ia adequando.
O basquete que já nos deu muito orgulho, e em particular, o basquete feminino, como está hoje?
Eu costumo afirmar que o basquete de Piracicaba quem viu, viu! Tenho gravações de grandes partidas da Paula, de vez em quando eu vejo. Quem viu as grandes estrelas como nós tivemos, peguei o finalzinho da Maria Helena e Heleninha, mas tive a oportunidade de acompanhar toda a geração da Paula, sendo que me tornei uma amiga da família, particularmente da Dona Hilda Gonçalves, era uma mulher apaixonada pelo trabalho dela, brigava pelas filhas, pelas escolinhas, para dar condições para que continuassem. O esporte é uma atividade muito bonita, essas meninas são maravilhosas, comove ver a humildade da Paula, da Branca. Essas coisas me emocionam. O esporte mostrou tudo isso para mim. Convivi com muitos “monstros sagrados”. Mantemos relacionamentos com amigos que conhecemos há quarenta anos, estrelas que brilharam no cenário nacional. Há uma grande amizade entre nós.
Quantas medalhas você conquistou?
Acredito que são umas 80 medalhas, muitos troféus e muitos prêmios na carreira. Um prêmio fantástico me foi dado pelo “Educando Pelo Esporte”, que é o Premio Rocha Netto. Tive o meu trabalho reconhecido o tempo todo.
A seu ver o esporte tem que ser repensado em nosso país?
Tem que ser totalmente repensado, a educação em nosso país tem que ser repensada. A mudança que se faz necessária passa pela educação. Não se resolve a educação com idéias mirabolantes, a criança tem que passar o dia inteiro na escola, o ensino e a educação tem que serem completos. Transformar o aluno em um futuro cidadão tire-o um pouco dessas mídias que atuam no subconsciente, é o subconsciente que rege a nossa vida. É só analisar um jovem que fica o tempo todo nas mídias sociais, você acha que ele terá algum bom caminho?
O que você diz sobre a Terceira Idade?
No governo Collor eu trabalhava na Secretaria do Desenvolvimento Social, na prefeitura do município, aconteceu uma reunião da LBA – Legião Brasileira de Assistência, com todos os profissionais que atuavam em áreas sociais, ela convocou todas as forças vivas da cidade, o SESC, o SESI, a Prefeitura do Município, e veio com a diretriz de que o segmento da Terceira Idade deveria ser estimulado. O SESC fez algumas reuniões preparatórias com os técnicos, alguns palestrantes, esse segmento para nós era novidade, até então nossos pais ficavam dentro de casa, de chinelos, esperando talvez a morte chegar. E vem de repente essa possibilidade de trabalhar. Juntamente com outros profissionais fomos pioneiros, nós começamos a atuar junto a Terceira Idade. Foi uma alegria muito grande. Isso foi no ano de 1985, o primeiro Clube da Terceira Idade foi no Jardim Primavera, chamava-se Clube da Vovó, eram mulheres que se reuniam no Centro Comunitário e nós da Educação Física que estudávamos as possibilidades: gincanas, caminhadas, encontros no Engenho Central, o projeto foi crescendo, fui trazendo profissionais para ajudar, não demorou muito estavam jogando até vôlei adaptado. Eu tenho fotografias dessa época. Imagine um grupo da Terceira Idade, em circulo, fazendo exercícios, isso na Escola de Agronomia Luiz de Queiroz.  Até a forma de vestirem-se mudou. Deu certo de tal forma que se iniciou uma febre de atividade em 1992 a UNIMEP, o SESC, a Prefeitura e outras entidades reúnem-se e lançamos os Primeiros Jogos Municipais da Terceira Idade. Esses jogos existem até hoje. É direcionado aos grupos da Terceira Idade da cidade, onde tem jogo de malha, bocha, jogo de baralho (buraco), dominó. No ano de 1995, na cidade de Osasco começa um movimento de jogos de competição. O professor José Orlando de Almeida foi até a cidade de Osasco, ajudou-a a se organizar, durante 10 anos seguidos Piracicaba foi convidada especial dessa grande competição da cidade de Osasco, onde se reuniam representantes de toda a Baixada Santista, Grande São Paulo e Piracicaba.
Mais ou menos quantos idosos de Piracicaba participavam?
Partiam mais ou menos 45 idosos atletas que permaneciam por uma semana lá. Fomos 10 anos campeões dessa competição, até que um dia terminou, ninguém conseguia ganhar da representação de Piracicaba. Em 1997 o Governo do Estado de São Paulo lançou os Jogos Regionais e os Jogos Estaduais do Idoso. Sou coordenadora dos Jogos Regionais do Idoso em Piracicaba desde o primeiro è realizado pelo Governo do Estado de São Paulo, através do Fundo Social de Solidariedade coordenado pela Primeira Dama do Estado, Dona Lu Alckmin e pela Secretaria de Esportes, Lazer e Juventude do Estado de São Paulo. Eu não coordeno sozinha, sou aposentada, não tenho vinculo interno com a prefeitura. Eu coordeno a Seleção Piracicabana da Terceira Idade em conjunto com a professora Renata Ganciar da Secretaria de Esportes.
Essa competição envolve quantos idosos?
Essa competição tem a participação de 300 cidades, são 25.000 atletas a partir de 60 anos, com diversas categorias, a última é dos atletas de 85 a 90 anos. Passamos por 10 fases de classificação, Piracicaba é da Região de Campinas que abrange 55 municípios. O primeiro e segundo colocado das quatorze modalidades coletivas e individuais vai para a grande final. Piracicaba ostenta por 10 anos seguidos o fato de ser campeã regional e 6 vezes campeã estadual nos últimos anos. É uma das maiores equipes do Estado de São Paulo. É uma das maiores competições do gênero na América Latina, realizada pelo Governo do Estado de São Paulo, em 2016 estaremos completando 20 anos de competições.
O Governo Federal não participa dessa iniciativa?
Há uma tendência de esse projeto tornar-se em Jogo Brasileiro dos Idosos. O projeto já está em Brasília, estamos encontrando uma dificuldade muito grande porque a rubrica, a verba, está dentro de um Ministério onde é dividido com os Jogos Brasileiros dos Indígenas. Há uma luta para que também tenhamos o nosso quinhão.
Os Jogos Regionais do Idoso exige muitos recursos? 
A logística dele não é tão complicada, a prefeitura participa com seus profissionais na modalidade de vôlei e atletismo. Os atletas treinam nos próprios municipais. Há parcerias, como a prefeitura e o Clube de Campo, onde ocorre a natação e o tênis de campo. Com o Clube Cristóvão Colombo com o tênis de campo.
Até por uma razão financeira incentivar a saúde dos idosos é muito mais barato do que o governo arcar com tratamentos de saúde de pessoas sedentárias?
O médico Dr. Pedro Mello, Secretário da Saúde, foi Secretário de Esportes em 2005 até 2012, em sua gestão era enfático o tempo todo para que os idosos tivessem motivação em atividades, sempre dizia que a relação custo-benefício é muito maior mantendo o idoso em atividade do que deixá-lo em casa sujeito a doenças próprias da idade e do sedentarismo. O Dr. Pedro é um grande incentivador juntamente com o Secretário de Esportes Lazer e Atividades Motoras João Francisco Rodrigues de Godoy, o Johnny, que é um entusiasta.
Hoje vemos que a pessoa integrante da Terceira Idade tem um comportamento menos formal do que há algumas décadas.
Brinco muito dentro do ginásio de esportes quando viajo, olho para os pés dos atletas, os tênis chamam muito minha atenção. São pessoas com 60,70,80 anos com roupas esportivas, descontraídos. O município os incentiva nesse aspecto. São roupas lindas fornecidas pelo próprio município. Neste ano tivemos o patrocínio da Amhpla. Conseguimos patrocínios para que essas roupas sejam feitas: roupa de vôlei, de atletismo, para jogar truco. É obrigatório o uso do uniforme. O truqueiro nosso é o José Beneditto Massarutt, já foi por diversas vezes campeão estadual nessa modalidade. O companheiro dele é o Odair Athanazio.
Marlene, Piracicaba tinha um grande acervo de troféus da Comissão Municipal de Esportes, onde eles se encontram?
Tenho um sentimento muito grande com relação a esses troféus, eu gosto de preservar a história. Muitos desses troféus estão com as modalidades. Eu acredito que há muitos troféus guardados em alguma sala do Estádio Municipal. Acredito também que já passou do tempo para que esses troféus sejam resgatados, reparados, organizados, para que fique em algum lugar onde todos possam ter acesso.
Você acredita que Piracicaba está na hora de criar seu Museu do Esporte?
Já passou da hora! Acho que poucas cidades têm o material que nós temos. Hoje os museus usam a mídia, com a possibilidade de que cada modalidade esportiva possa passar tudo que ela tem. Quantas modalidades têm em nossa cidade que foram grandes campeãs? Quantos atletas olímpicos têm em Piracicaba? Quantas histórias serão perdidas? Embora eu estivesse lotada em uma secretaria, trabalhei no gabinete dos prefeitos junto a todas as primeiras damas. Eu coordenava projetos de eventos com isso participava de todos os eventos. O primeiro prefeito com o que trabalhei foi João Hermann Netto a primeira dama era a Macau, depois Adilson Maluf, foi quando entrei mesmo no gabinete com a primeira dama Rosa Maria Bologna Maluf. Foi quando fiz parte de uma comissão formada pela Rosa Maria, Silvia Petrocelli, Claudia Paleo, era um grupo que gerenciava todos os projetos, eventos de esporte e lazer da cidade. Rosa Maira que é a responsável dos Jogos Comunitários, pela Festa das Nações, hoje Rosa Maria é atleta da Seleção Piracicabana da Terceira Idade. É uma grande atleta de natação, representou Piracicaba nos Jogos Regionais do Idoso. Classificou-se para os Jogos Abertos do Idoso, ela esteve em dois grandes eventos nas cidades de Mogi-Guaçu e na cidade de Campinas. Foi podium, medalhista, ela consegue no Clube de Campo me ajudar a agregar mais pessoas.
Hoje você tem sob sua supervisão quantos atletas da Terceira Idade?
Eu trabalho só com atletas de Piracicaba, são 150.
E esse pessoal da Terceira Idade que freqüenta as academias de bairro?
São milhares, passa dos 5.000. Quem pode afirmar com precisão é o Clevis  Spada e a  Mônica Graner da Secretaria de Esportes.
Esses aparelhos são importantes para incentivar o atleta?
São fundamentais, hoje em dia sabemos que o nosso corpo quando chega a certa idade se você não colocá-lo para funcionar, se não for ativo, a sua tendência é não ter energia para pensar, seguir sua vida.  Nosso corpo nada mais é do que atividade o tempo todo. È ele que vai oxigenar o cérebro.
Marlene de Lima como atleta como é?
Hoje faço pequenas caminhadas, sou apaixonada pelos meus atletas de 60,70, 80 anos. Supervisiono o trabalho acompanho o treinamento de natação, atletismo, vôlei, tênis de campo, tênis de mesa, são atividades intensas onde eles têm que submeterem-se ao ano todo a treinamentos, para competirem e representar bem a cidade.
Você cobra rendimento dos atletas?
Na realidade não preciso cobrar dos atletas da Terceira Idade. Eles têm dentro deles essa vontade. É uma alegria ver Amires Cobra, aos 87 anos nadar 25 metros! Rubens Machado, aos 88 anos ir viajar para nadar representando nossa cidade. Felício Lantanze com 86 anos praticando natação e dança de salão. Esses atletas com 80, 90 anos, são uma grande alegria. João Caetano Fonseca, irmão de Pecente, descobre que é capaz de representar a cidade de Piracicaba aos 83 anos. Contaram para mim que tinha um senhor do Lar dos Velhinhos que fazia caminhada, eu precisava de um senhor para fazer 600 metros de caminhada em Mogi-Guaçu. Fui até o Lar do Velhinhos, conversei com a assistente social, e fui conversar com o Barbieri. Seu filho levou-o a Mogi-Guaçu, ele fez a caminhada de 600 metros. Só que ele não ficou famoso só pela caminhada, é que quando terminou a competição ele perguntou se podia cantar o Hino de Piracicaba. Ele cantou, parou completamente a pista de atletismo. Antonio Carlos Bicheiro, um português que tem dois filhós médicos, é aos 80 e tantos anos corredor da São Silvestre, ele tem um pacote de medalhas.
Voce nasceu em Rio Claro, esta há 40 anos em Piracicaba, já é Cidadã Piracicabana?
Um dia escutei Cecílio Elias Netto dizer que para ser cidadão piracicabano basta chegar à beira do Rio Piracicaba, se molhar, se batizar, eu já fui lá e me batizei! Eu amo esta cidade, tudo que conquistei foi aqui. Convivi com monstros sagrados, com profissionais incríveis como Aracy Lovadini, todas primeiras damas do município com as quais atuei, particularmente a Rosa Maria Bologna Maluf, Janete Machado, Vanda Campos, Sandra Negri, atualmente a Dona Selma Ferratto. Foram primeiras damas fantásticas que me ajudaram muito. Asssim como todos os secretários de esporte que passei por eles: Rubens Braga, José Carlos Hebling, Dr. Pedro Mello, o Secretário de Esportes, Lazer e Atividades Motoras João Francisco Rodrigues de Godoy, o Johnny, é tanta gente que é impossível lembrar o nome de todos. As mídias de Piracicaba, sempre colaboraram e muito no desenvolvimento do nosso trabalho. Quando vou a Câmara Municipal recebo um carinho muito especial dos vereadores, em especial do João Manoel e do Longatto. Sendo que esses dois vereadores eram líderes comunitários e trabalhavam com crianças carentes. Eu organizava os campeonatos para as crianças carentes, era muito comum recebê-los em minha sala o João, o Longatto com as careteirinhas das crianças. Fica uma amizade muito bonita. Tenho que agradecer muito aos líderes de Associações e Centros Comunitários de todos os bairros de Piracicaba. Foram eles que junto com os profissionais da prefeitura, particularmente as assistentes sociais, deram inicio a tudo isso. Eu era da área de Educação Física estava junto com elas. Os grandes projetos públicos surgiram em momentos muito felizes da prefeitura. Tudo estava para fazer e foi feito. José Roberto Pianelli (Beto Pianelli) foi meu Secretário de Esportes, outra pessoa fantástica. Conto com o apoio muito especial do Dr.Pedro Mello,que em janeiro de 2009,fez eu entender que tinha ainda muito para contribuir na comunidade, com o meu trabalho,e desde então estamos próximos com objetivo único:possibilitar melhor qualidade de vida aos praticantes do esporte-competição da terceira idade.




ANTONIO (TONY RODRIGO) RODRIGUES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 23 de janeiro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: ANTONIO (TONY RODRIGO)  RODRIGUES


Antonio Rodrigues nasceu a 1º de setembro de 1940 na cidade de Andradas, no Estado de Minas Gerais, é filho de Manoel Rodrigues e Ana Teixeira Rodrigues, que tiveram treze filhos sendo que Antonio é o mais novo. Seus pais eram de Amarante, Portugal. No Brasil chegaram em 1912, desceram no porto de Santos, e dedicaram-se ao cultivo agrícola. È interessante ressaltar que Manoel e Ana já se conheciam em Portugal, mas namoraram e casaram-se no Brasil, em Jacutinga. Permaneceram em Andradas até 1942. Antonio Rodrigues reside em Piracicaba, é além de tudo um artista no violão e dono de uma voz que deixa toda e qualquer platéia maravilhada. Sempre solicito, canta pelo prazer, participou de grandes programas em televisão e rádio. Gravou musicas em Compact Disc (CD). É um artista completo que por opção pessoal seguiu a carreira profissional em outra área, que também envolve muita técnica e arte, a de modelista. É um dos grandes nomes da história da indústria automobilística nacional. Casado em segundas núpcias com Lina Valentim Rodrigues.
Você nasceu em Andradas e foi criado em que cidade?
Nasci em Andradas e fui criado em São Paulo. Fomos morar na Vila Alpina. Mudamos para São Caetano do Sul onde meu pai adquiriu um terreno e construiu uma casa. , estudei na Escola Dom Benedito Alves de Souza. Minha primeira professora foi Maria Soledade. O ginásio eu estudei no Instituto Rocha Pombo.
Você já estava trabalhando?

Comecei a trabalhar aos nove anos, tinha que ajudar a família. Meu pai fez uma caixinha de engraxate, eu ia para o campo de futebol e exercia minha atividade. Ia almoçar em casa, depois ia para o Clube da General Motors, havia jogo de boliche, eu ficava levantado pinos até umas quatro ou cinco horas da tarde. Eram pinos de madeira. Fiz isso até os doze anos, fui trabalhar em uma loja cujo proprietário era do São Caetano Esporte Clube. Eu gostava de jogar bola ele acabou me levando para treinar no time. Jogava como ponta esquerda. Só parei porque aos 17 anos tive um acidente durante um jogo, um adversário com chuteiras com cravos atingiu minha perna. Permaneci 45 dias em casa me recuperando, foi um corte extenso. Passei a jogar ping-pong, hoje denominado de tênis de mesa, no SESI em São Caetano. Fomos campeões intermunicipais, ganhamos o campeonato do ABC e região: São Bernardo, São Caetano, Diadema , Piraporinha e Ribeirão Pires. Como exercício individual, pratiquei natação. A GM – General Motors tinha um grupo de escoteiro, participei desse grupo. Comecei a freqüentar o SENAI, passei a trabalhar na Aços Villares, naquele tempo ficava-se seis meses na Escola SENAI e seis meses na fábrica. E a noite eu estudava o colegial. Na Escola de Desenho 28 de Julho fiz o curso de desenho técnico. Isso em uma época em que havia fila para entrar nas salas de aula colocava-se um a mão no ombro do colega da frente, cantava-se o Hino Nacional. No Dia da Bandeira cantava-se o Hino à Bandeira. Fiz o curso SENAI durante o dia e também o SENAI a noite, onde fiz o curso de modelação, na Escola Castro Alves C-22, no Cambuci. Quando me formei na minha carteira de trabalho colocaram como “Aprendiz Qualificado”.

Da Villares você foi trabalhar em que empresa?

Fui trabalhar na Ford. No inicio tive que desempenhar funções diferentes da que pretendia: eu queria ser modelador.  Nessa época surgiu o Renault, Dauphine, Gordine, ajudei a montar todas as máquinas da linha de montagem, eu sempre ia ao Departamento de Engenharia, queria saber quando passaria para a modelação. Até que em um dia no Departamento de Estilos da Jeep Willys estavam precisando de um modelador. Permaneci lá quase 10 anos, já pertencia a Ford. No Departamento de Estilos trabalhei desde 1963 até 1967.

O que fazia o Departamento de Estilos?

Na época para sair um carro novo na rua demorava-se três anos, um especialista em desenho recebia sugestões do carro desejado, ele então desenhava aquele carro. Ai vinha para o modelador, geralmente diziam: “-Queremos que voce faça isso aqui em escala 1 por 5”. Ou seja, exatamente igual, só que em tamanho cinco vezes menor. As rodas eram torneadas em madeira, com dois pauzinhos fazíamos a longarina, colocava-se um pedaço de compensado em cima, fazíamos uma gaiola, colocávamos longarinas onde é o capô, o teto, em cima daquilo colocávamos um barro especial que colocado em estufa ele amolecia, era preenchida a superfície além do limite, o que estava no papel era feito em escala 1 por 5, saia direitinho.

Tem que ter uma mão de escultor para fazer, ou seja, tem que ser artista?

Entra arte, técnica, o artista não trabalha bem com medida, trabalha mais com proporção. Vinha um desenho para nós com comprimento, largura, bitola, altura, por exemplo, a altura com relação ao chão era padrão. Assim como a altura do para choque, dos faróis, altura do teto.

E as curvaturas?

As curvaturas íamos sempre nos baseando nas medidas do comprimento, largura e altura, dentro da altura máxima fazíamos uma longarina que chegava ao teto, na linha de centro. Depois fazíamos mais duas linhas coordenadas, uma de cada lado em relação a linha de centro. Acompanhando o desenho. Para fazer as curvas tínhamos ferramentas próprias, espátulas, uma infinidade de curvas francesas, era uma escultura técnica.

Tinha que ser artista para fazer isso tudo?

Eu não me considerava um artista. Na modelação voce faz o desenvolvimento de superfície. Tem que ter noções de raios. Uma vez fizemos o modelo de um carro cujo emblema era o Diabo montado no garfo. Fizemos o protótipo, naquele tempo havia uma exposição de carros no Ibirapuera. Não foi aprovado porque o chassi era tubular. Quando a pessoa subia em uma calçada com o carro não conseguia abrir a porta. O Departamento de Estilos no Brasil começou naquela época. Os carros que chegaram aqui foram o Dauphine, Gordini. O Simca veio depois. Da Ford fui para a General Motors onde trabalhei por quatro anos, depois fui para a Chrysler onde trabalhei por cinco anos. Quando trabalhei na Simca fizemos o Dodge Polara, era um carrinho bonito, forte. Na GM fui o primeiro funcionário a ser admitido como Modelador de Estilo. Entrei como Modelador Senior. Lá eu trabalhei de 1967 até 1972.

Modelador de Estilo era uma figura rara na época?

Não existia! Tanto que quando fui para a Chrysler fui como supervisor, a Simca estava sob o comando da Chrysler, fui buscar modeladores conhecidos meus, que já eram do ramo. Se anunciasse a vaga não aparecia ninguém. Na GM trabalhei na criação do Opala, o nome faz referência a uma pedra, o mentor desse nome foi um designer chamado Carlos Alberto de Oliveira. O diretor de engenharia disse que íamos inventar um carro aqui. Eu dava estimativas: vai demorar tanto tempo, quero tantas horas, preciso disto, o pessoal que estava junto comigo se empenhava para entregar tudo no prazo pré estabelecido. Lembro-me que na Chrysler ia vir o painel de instrumentos do Dodge Charger, estávamos aguardando a vinda do painel, julgaram que não tínhamos condições de fazer um painel de luxo, compatível com o carro. Sugeri que fizéssemos um painel, para mostrarmos que também, sabíamos fazer. A nossa equipe fez o painel, utilizando o material que era da época, os americanos vieram, fizeram uma palestra de umas duas horas, quando acabaram a apresentação, mostramos nosso painelzinho, ficaram encantados, o nosso painel é que acabou sendo adotado. O painel que eles fizeram tinha muito aço bisotado, muita coisa que brilhava, e dentro do carro não se pode colocar elementos que dê reflexo com a luz, tanto durante o dia como a noite. Nós tínhamos um painel todo de madeira, naquele tempo usava-se o jacarandá e por dentro colocamos cerejeira, com todos os relógios marcadores muito bem posicionados. Na época não existia computador, era tudo feito na prancheta. Atualmente até as pranchetas são motorizadas. Naquela época era tábua formando a prancheta pantográfica e a famosa régua “T”. Era maravilhoso na época, eu gostava. Na Ford tínhamos um desenhista, Hans, ele trabalhou depois na revista Medicina e Saúde, no Hospital das Clinicas eles pegavam um coração, um pulmão, o Hans desenhava com absoluta perfeição e riqueza de detalhes. O Hans era o responsável por todos os desenhos da revista. Era uma sumidade. Para automóvel também ele era muito bom, quando ele chegou o Brito já estava lá.

É uma parte da história automobilística do Brasil que poucos conhecem.

Há fatos interessantes, curiosos. Uma vez o Charles de Gaulle presidente da França veio nos visitar, o Interlagos é uma versão do carro francês Alpine, o Presidente Castelo Branco deu um carro Interlagos de presente para Charles de Gaulle, era um monstro de homem, tinha quase dois metros de altura, como iria entrar naquele carro esportivo? Ele só ameaçou entrar, abriu a porta, a cabeça dele batia. Ele agradeceu, disse que ia dar a seu filho. Dali a uns dois meses saiu uma brincadeira: Castelo Branco foi visitar Charles de Gaulle, ganhou uma gravata! Era sabido que Castelo Branco tinha pescoço muito curto.

Na General Motors você participou de grandes projetos?

Fizemos o projeto do caminhão Chevrolet Brasil, da Veraneio. A famosa caminhonete Marta Rocha era importada e montada no Brasil. Feito aqui foi a F-100 da Ford. A Chevrolet fez a C-10, C-14, D-20 que é fabricada até hoje. Deixei a indústria automobilística, em 1975 houve a crise do petróleo, fecharam cinco fábricas da Chrysler: da Argentina, Colombia, Venezuela, Brasil. Quando me chamaram para ir trabalhar na Chrysler eu já não queria trabalhar na indústria automobilística. Queria trabalhar em um local menos fechado, fui trabalhar com vendas na Melhoramentos, na Abril Cultural. Um funcionário da Chrysler foi duas vezes me procurar em casa, decidi ir até lá. O Celso me levou até a sala do chefe do departamento, era Pedro Falcone, um argentino que tinha trabalhado comigo na General Motors e havia aprendido muito conosco. Fui convencido a trabalhar, entrei como supervisor, com um salário substancial, veículo da empresa, começamos a caçar pessoas de talento no mercado, montamos um departamento de estilo na Chrysler, em frente a Volkswagen, na Via Anchieta. Trabalhei para a Volkswagen, fiz a maquete da Variant e acho que da Kombi também. Para a Mercedes-Benz fiz um para choque de plástico para caminhão, fiz uma versão de plástico, naquele tempo eram para choques de ferro. Fiz um modelo e um protótipo.  

A Kombi não veio com o projeto pronto da Alemanha?

Veio, só que ela sofreu umas modificações, era muito fraca, sofreu modificações nas colunas, tubulação, suspensão, recebeu inclusive uma entrada de ar, era muito abafada.

Há profissionais das mais diversas áreas envolvidos na produção de um veículo?

Na Ford tínhamos três decoradoras: uma cuidava da parte de estofamento, outra da parte externa e outra das cores. Havia um painel enorme, com, por exemplo: tons de verde, tons de todas as cores. Com isso ela tinha uma enorme variedade de opções.
Voce trabalhou em outras empresas com modelação?
Após ter trabalhado na indústria automobilística trabalhei na Modelação Atlântica, na Fast Ship, uma indústria de barcos de corrida e iates, pertencente ao Grupo Souza Ramos. No caso de barcos a aerodinâmica é primordial, tanto as quilhas, como diversos componentes que influenciam muito. A minha participação era só na parte externa, na aparência.
Da Fast Ship você foi para onde?
Fui para Nova Iorque, Estados Unidos, trabalhar em carpintaria naval. Lembro-me bem de que fui preparado para o frio, com roupas e bota forrada com lã, quando desci estava com a temperatura de 40 graus centigrados. Eu tinha um sobrinho que morava lá, ele tinha insistido muito para que eu fosse para lá. Ele era engenheiro na Laminação de Metais no ABC e a esposa era secretária executiva. Lá eles trabalhavam como diaristas, ganhavam um salário bem maior do que aqui onde eram profissionais qualificados.
Quanto tempo você permaneceu nos Estados Unidos?
Fiquei um ano e oito meses. Eu já conhecia o inglês técnico, lá trabalhando com americanos, voce passa a pensar em inglês e não tem alternativa a não ser falar em inglês. Fui fazer um curso de inglês lá e a diretora da escola tinha morado em Goiânia por nove anos.
De lá você foi para que local?
Voltei ao Brasil, comprei um apartamento na Vila Prudente. Em 1991 decidi vir para o interior, adquiri uma chácara em São Pedro, era terra nua, fiz o projeto da casa, construí, enquanto não ficava pronta fiquei hospedado na casa da minha irmã a uns 300 metros. Fiz a cerca, buraco, poço. Fiz toda parte de hidráulica, alvenaria.
Como iniciou o seu gosto pela música?
Comecei quando tinha doze a treze anos. Fui coroinha na Matriz Nova de São Caetano do Sul. Depois passei para a Cruzada Eucarística, fui da Liga Católica. Eu ia para a Congregação e às vezes cantava no coro da igreja. Durante dez anos fui coralista do Coral Clássico e Folclórico Baccarelli do maestro Silvio Baccarelli a sede era na Rua Nazareth, no Ipiranga.
Que voz você faz?
Sou segundo tenor. Estudei com meu ex-sogro. Um dia estava mexendo nas minhas coisinhas, ele disse-me: “–Toninho! Você toca bem! Voce conhece musica?” Ele passou a me ensinar aquela Bona (método completo para divisão musical). Eu gosto de compor, naquele tempo já tinha escrito alguma coisa, ele me levou a Chantecler, mostrei umas musicas, gostaram, me mandaram para o Morumbi, para a Bandeirantes, fui falar com o maestro Cocho, ele me deu um cartão para falar com o Caetano Zama. Arrumaram-me para cantar nas emissoras associadas cantei na Rádio Clube de Santo André, na Rádio Cacique de São Caetano. Fui crooner da Orquestra Carinhoso do maestro Osvaldo. Tive uma dupla sertaneja famosa em São Paulo chamava-se Rodrigo e Rodrigues.  O meu parceiro chamava-se Madiel Rodrigues Figueiredo. Tivemos um programa na Radio São Paulo durante uns quatro anos, chamava-se “Recital Sertanejo”. Voltei a cantar sozinho. No meu primeiro casamento não tive a felicidade de ter filhos, no meu segundo casamento tive dois filhos. Eu cantava em uma casa chamada Cana Verde, no bairro Santa Cecília.  Comecei a cantar musicas de Milionário e José Rico, Miguel Aceves Mejía, Pedro Vargas. A casa encheu outra vez. A Lilian Gonçalves um dia passando lá viu aquele tumulto todo, ficou escutando eu cantar, convidou-me: “Vai lá ao meu restaurante!”. Fui, cantei no Bastidores, na Biroska I , Biroska II, na Toca, trabalhei com ela por uns seis meses.
Ganhava bem?
Dava para levar. O que mais me desanimou é que meus filhos estavam crescendo com o pai ausente. Um dia eu disse a meu parceiro que tocava guitarra, era um boliviano, disse-lhe que assim que terminasse o contrato iria parar. Ele era proprietário da empresa CIMA, era uma indústria que vendia perfis de alumínio para serralheiro. Ele  ofereceu emprego como vendedor. A oferta foi boa, aceitei. Eu cantava no Clube Piratininga, onde havia a Festa Baile. O Agnaldo Rayol e Francisco Petrônio cantavam lá. Conversei com o Agnaldo, ele me convidou cantamos juntos “Galopeira”. Passei a trabalhar com a Promel que fazia fechaduras, assim tive duas representações. Tornei-me evangélico, aos poucos fui deixando o meio musical. Cheguei a vender musicas, compostas por mim.
Quantas composições você tem?
Umas 300 ou mais.
Tem algum motivo que desperta uma determinada inspiração?        
O problema do compositor é o tema. O que mais rola no mundo é a música romântica. A música reflete o grau de escolaridade, de cultura. Infelizmente estamos perdendo valores importantes. O ritmo não é tão importante, o fundamental é a mensagem que a musica transmite.
Você cantou e várias emissoras de rádio e televisão.
Cantei na Record, foi onde conheci Thais de Almeida Dias, como jurada, na Cultura, Tupi, Rádio Clube de Santo André, Rádio Cacique de São Caetano. Vendi uma música que eu tinha composto, o cantor que adquiriu a musica é famoso e fez muito sucesso, não posso revelar nada da negociação. porque tenho um contrato assinado que inclui o sigilo total. Quando vendi tinha uns vinte anos.
Você participou de shows abertos?

Participei com shows onde cantaram Wilson Simonal, Luiz Fontana, Dino Franco, Tião Carreiro, Abel e Caim, Os Vips. Cheguei a fazer shows em Rorâima, Barretos, Porto Velho, Jaboticabal, Rio Preto, Inhandiaára. Uma vez eu estava cantando uma música de Agnaldo Thimóteo, ele estava presente com o irmão dele Major e o Mitta. Ele disse: me: “Olha, irmãozinho, você não sabe como é emocionante alguém cantar a música da gente! Voce conhece a malandragem da musica, você tem jeito”. A música não é só cantar. 

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