domingo, outubro 09, 2016

ARMANDO DE ANDRADE ALGODOAL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de outubro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 




ENTREVISTADO:  ARMANDO DE ANDRADE ALGODOAL
Nilce Andrade e Armando Andrade Algodoal estão resgatando o valor de uma das maiores artistas plásticas que Piracicaba teve e infelizmente não conheceu ou conheceu muito pouco. Suas obras premiadas em muitos países e grandes centros foram expostas ao que se sabe uma vez em Piracicaba. Falecida precocemente, a artista deixou um magnífico acervo. Piracicaba é uma cidade extremamente privilegiada em todos os setores artísticos e intelectuais, raras são as cidades que possuem tantos valores concentrados como em nossa querida Piracicaba. Os mais enfáticos dizem que quem bebe da água do Rio Piracicaba encontra a sua verdadeira inspiração.
Armando de Andrade Algodoal nasceu a 17 de agosto de 1936 na cidade de Jaboticabal, filho de Jayme de Andrade Algodoal, engenheiro agrônomo formado pela ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba e Zenaide de Andrade Algodoal que tiveram dois filhos: Armando e Beatriz de Andrade Algodoal. Até os 14 anos Armando permaneceu na Escola Agrícola de Jaboticabal, onde seu pai era diretor. Eu adorava aquele local, tinha de tudo, era um jardim. Eu estudava na Escola Estadual Aurélio Arrobas Martins de Jaboticabal. Com uns 14 anos eu convivia com maquinas, automóveis, caminhoes. Já dirigia caminhão!










Aos 14 anos o senhr já dirigia caminhões, de qual marca?
As marcas Ford e Chevrolet predominavam. Essas aventuras com veículos me traziam uma grande satisfação. Nessa época, ainda muito jovem, meu sonho era ter um caminhão ou trator. Morávamos em Jaboticabal embora nossa família era toda de Piracicaba. Períódicamente vinhamos visitá-los.
Até que idade o senhor permaneceu em Jaboticabal, em sua adolescência?
Permaneci até os quinze anos, saí de uma vida no campo e fui estudar em colégio de padres em Campinas, como interno no Colégio Dom Bosco. A minha adpatação foi dificil, com isso meu pai colocou-me no Colégio Mackenzie, em São Paulo, também como interno. Na verdade eu tinha uma vontade muito grande de ter a minha autonomia, foi assim que comecei a atuar em algumas atividades comerciais paralelas, em especial voltadas a veículos. Nesse período fui convocado para servir o Exército, o qual servi durante dois anos. Foi no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva – CPOR - de São Paulo,  situado a Rua Alfredo Pujol, 681. Quando estava para dar a baixa houve a problemática de Jacareacanga. (Na noite de 10 de fevereiro de 1956, oficiais da Aeronáutica insatisfeitos, liderados pelo major Haroldo Veloso e pelo capitão José Chaves Lameirão, partiram do Campo de Afonsos, no Rio de Janeiro, instalaram-se na base aérea de Jacareacanga, no sul do Pará, e ali organizaram o seu quartel-general.) Quem tinha experiência não foi autorizado a deixar de servir o Exército.
Revolta de Jacareacanga
(Entre outubro de 1955 e janeiro de 1956, os militares antigetulistas, ligados à UDN e liderados pelos ministros Eduardo Gomes, da Aeronáutica, e Amorim do Vale, da Marinha, sofreram sérias derrotas. A primeira foi quando viram Juscelino Kubitschek e João Goulart, apoiados pela aliança PSD-PTB, serem eleitos presidente e vice-presidente da República em 3 de outubro de 1955. A segunda, quando o Movimento do 11 de Novembro, liderado pelo ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, depôs o presidente em exercício Carlos Luz, substituiu Eduardo Gomes por Vasco Alves Seco, Amorim do Vale por Antônio Alves Câmara, e garantiu as condições necessárias à posse dos eleitos. A terceira, quando os eleitos efetivamente foram empossados, em 31 de janeiro de 1956.
Poucos dias após a posse do novo governo, na noite de 10 de fevereiro de 1956, oficiais da Aeronáutica insatisfeitos, liderados pelo major Haroldo Veloso e pelo capitão José Chaves Lameirão, partiram do Campo de Afonsos, no Rio de Janeiro, instalaram-se na base aérea de Jacareacanga, no sul do Pará, e ali organizaram o seu quartel-general. Esses militares temiam uma represália do grupo militar vitorioso no 11 de Novembro e, por essa razão, não concordavam com a permanência, no governo JK, do ministro Vasco Alves Seco na pasta da Aeronáutica.
Dez dias depois do início da rebelião, os rebeldes já controlavam as localidades de Cachimbo, Belterra, Itaituba e Aragarças, além da cidade de Santarém, contando inclusive com o apoio das populações locais. Haviam recebido também a adesão de mais um oficial da Aeronáutica, o major Paulo Victor da Silva, que fora enviado de Belém para combatê-los.
Apesar de ter sido uma rebelião de pequena monta, o governo encontrou dificuldades para reprimi-la devido à reação de oficiais, sobretudo da Aeronáutica, que se recusavam a participar da repressão aos rebelados. Após 19 dias a rebelião foi afinal controlada pelas tropas legalistas, com a prisão de seu principal líder, o major Haroldo Veloso. Os outros líderes conseguiram escapar e se asilar na Bolívia. Todos os rebelados foram beneficiados pela "anistia ampla e irrestrita", concedida logo depois pelo Congresso, por solicitação do próprio presidente JK.
Célia Maria Leite Costa)
O senhor era bom de tiro?
Na época o Exército estava em uma crise financeira muito grande, cada soldado podia dar dois tiros apenas. O fuzil era de 1908. Eu tive sorte, sem falsa modéstia, eu desenho muito bem, e escrevo com qualquer tipo de letra. Isso foi notado, e fui colocado em um cargo bastante importante, que é o protocolo. Com isso passei a ter um grande conhecimento da burocracia do Exército. Eu lia toda a documentação que chegava e saia. Até pedido de casamento de oficial! Eu era soldado, poderia ser promovido a cabo, só que em situação de emergência seria o primeiro a ser chamado.
Nessa época o senhor morava em que local?
Nossa família morava na Rua Martins Fontes, no centro de São Paulo, eu tinha que sair às cinco e meia da manhã, ia a pé até o ponto ônibus, lembro-me que nesse horário, as boates que existiam no centro de São Paulo, estavam encerrando as atividades, eu via aquela movimentação toda de clientes e moças que freqüentavam a noite, era uma cena curiosa, todos em aparente alegria e diversão e eu indo para o quartel. Decidi mudar o meu trajeto, evitava passar em frente às famosas boates, mesmo que isso implicasse no aumento do meu percurso. O quartel era na situado a Rua Alfredo Pujol, 681, em Santana. Havia a possibilidade de dormir no quartel, cheguei a dormir diversas vezes, só que o conforto em casa era outro. Nessa época meu pai adquiriu um apartamento na Avenida São Luis. Era um bom apartamento. Só que a essa altura eu já não morava em São Paulo, estava envolvido com a terraplanagem. Sempre gostei de duas coisas: um bom carro (na época geralmente importado) e um bom sapato. São duas manias que eu sempre tive.
Qual era o sapato da sua preferência?
Eram os sapatos Bibo. Eram feitos sob encomenda. Eu fazia isso mas não sobrava dinheiro!
O senhor chegou a ter o tão sonhado caminhão?
Já com mais idade, tive uma empresa de terraplanplanagem, onde tinha caminhões e chegamos a ter 14 tratores FIAT de esteira. Além de jipe. picape, era uma empresa com 40 funcionários. Quanto maior o tamanho do empreendimento geralmente a qualidade de vida do empresário perde muito. As preocupações multiplicam-se. Nosso maior foco eram açudes e derrubadas de matas em fazendas.

Qual é o trator que mais atrai no mercado?
O trator considerado como uma grande máquina, em todos os aspectos é o de marca Caterpillar, 



só que na época, ao meu ver, a manutenção do FIAT era cerca de um terço do valor, mesmo sendo tudo importado. Foi um período em que a receita e as despesas eram muito próximas, o resultado final era muito baixo. Acontecia coisas inacreditáveis, determinada ocasião, o tratorista fazendo um açude caiu dentro da água com trator e tudo, ele salvou-se, sem nada acontecer, ficou apavorado e sumiu. Ele estava em um local afastado, sozinho, nós simplesmente não conseguíamos localizar o trator, até que quando baixou a àgua descobrimos aonde estava o trator. Imagine tirar de dentro da água uma máquina que pesa de 14 a 15 toneladas. Foram engatados três tratores para puxar fora do açude. Após a retirada, a maquina foi inteiramente desmontada para limpeza. Isso ocorreu nas imediações de Bauru. Era um período em que a formação profissional nessa área estava em seu inicio, Não havia profissionais com a mesma destreza que há hoje. Os acidentes envolvendo bens materiais eram relativamente comuns. Como o motorista de um caminhão que deu a marcha a ré sem observar que havia um carro parado atrás. O resultado foi a destruição de um automóvel Volkswagen de propriedade de uma professora. Com apenas 500 quilômetros de uso! A professora fazia questão de um automóvel novo na cor que ela queria: um azul claro!
Trator dá muita manutenção?
É um equipamento utilizado em serviço bruto, não é como um automóvel ou um caminhão que sofre o desgaste natural. Já tive um conhecido que em um mês quebrou as  cinco máquinas de sua propriedade. Teve que parar o serviço, como consequência o prejuízo foi enorme.
O senhor é um apaixonado por carros, qual é o melhor carro em sua opinião ?
Esse termo “melhor” acredito que não existe para nada! E nem o “mais bonito” ! A meu ver, gosto do carro charmoso.
O senhor gosta de motocicleta?
Eu morava em Barretos, meu pai pegou a representação da Lambretta. 









Vendi umas quarenta ou cinquenta Lambrettas. O preço era relativamente alto. Nesse meio tempo, apareceu uma pessoa com uma motocicleta Indian, adquiri, e passei a andar com essa moto na cidade, tornei-me conhecido como “O Cara da Indian” !  Era uma motocicleta de 1.250 cilindradas.

Era pesada?
Funcionando não pesa nada! Na estrada os guardas me paravam não para pedir os documentos, mas para ver a motocicleta, eu deixei-a uma beleza! Era preta, ano 1950, e a época era 1954. Algum tempo depois outros dois interessados conseguiram localizar uma máquina parecida e compraram. Ficamos em tres  na cidade.
O senhor alguma vez caiu da motocicleta?
Levei dois tombos feios. Um deles foi quando fomos a um sítio de um amigo, para chupar laranja, foram umas dez motos, em estrada de terra, fez aquele poeirão, tinha um mata-burro com um buraco no meio, no meio da poeira não dava para ver nada, a moto ficou e eu fui! Outro tombo foi em um carnaval, tinha uma escola de samba desfilando no escuro, nós andávamos sempre quatro ou cinco motocicletas, meus amigos entraram e desviaram, eu entrei no meio do povão! Cai, machuquei o pé. Naquele tempo a importação era proibida, o negócio era comprar moto caindo aos pedaços e reformar. Eu trouxe a moto para São Paulo, veio em cima de caminhão, a estrada era de terra. A moto começou a fazer um barulho estranho, levei até a oficina do Edgard Soares, que era um piloto profissional de moto. A empresa existe até hoje.
O senhor é apaixonado por motores, já teve algum avião?
Meu pai teve três aviões. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, meu pai foi para os Estados Unidos, um fato muito comentado na região de Jaboticabal, naquela época foi o único homem a ir para os Estados Unidos. Seu objetivo era pesquisar sobre granja, ele tinha o projeto de fazer uma. Com o final da guerra houve uma invasão no mercado de grandes aviões, ele adquiriu um Stinson


 era um avião monomotor de asa alta, mais elegante que existia, o leme dele era igual ao da Fortaleza Voadora. Ele adquiriu com a intenção de alugar o avião, adquiriu um segundo avião com capacidade para dois passageiros e um Taylorcraft,


 também com capacidade para dois passageiros. Foi assim que ele montou uma empresa de taxi aéreo, ele era piloto. meu pai foi muito dinâmico. Havia muita precaução do povo em voar, com isso meu pai acabou vendendo a empresa. Na Escola Agrícola de Jaboticabal havia um aeroporto dentro da escola. Eram dois hangares, hoje cresceu, deve ter uma meia duzia de hangares. 






Houve um período em que a VASP – Viação Aérea São Paulo passou a descer lá, para testar, embarcavam dois ou tres passageiros, eu me lembro, os aviões da VASP eram medonhos por dentro, eram os DC-3, dentro do avião era tudo preto, tudo muito esquisito, dava uma péssima impressão, a VASP  experimentou, viu que não dava certo. A primeira vez que aterrizou um avião da VASP a cidade inteira foi ver, lembro-me de um barbeiro chamado Luizinho, disse-me: “-Eu não voo em uma coisa dessas cheia de arrebites!” De vez em quando passavam dois aviões NA North American da FAB, faziam diversas acrobacias, saia Jaboticabal inteira para ver. O motor mudava de ronco, fazia tremer o que estivesse perto.




O senhor fixou a sua residência em Piracicaba a quantos anos?
Faz uns 15 anos. Meu pai já estava cansado. Minha mãe é filha de Sebastião Nogueira de Lima, que chegou a ser até governador. 



Quando ele assumiu o governo em substituição a Fernando Costa, ele deu um almoço para os parentes no palácio em São Paulo. Eu era criança, lembro-me de que fiquei impressionado com uma enorme travessa repleta de batatas fritas. Como governador enviou-mer carta, ele ganhou um livro sobre avião, de um famoso piloto estrangeiro, ele autografou o livro e deu de presente para mim.
O senhor dormiu no Palácio do Governo?
O palácio era o Campos Eliseos, apenas almoçamos.





Como neto do governador o senhor sentia-se importante?
Não me lembro, mas acredito que não. Meu avô escreveu uns tres ou quatros livros sobre a sua vida. Tem meia página onde ele fala sobre mim. Fui seu primeiro neto. Quando estudei no Mackenzie eu frequentava a casa dele em São Paulo. Ele gostava de mim. Na época ele morava no Jardim Paulistano.
O senhor chegou a pegar a época do bonde em São Paulo?
Eu pegava para passear, era o famoso bonde “camarão”.

A corrupção era pouca, havia respeito, as mulheres andavam com roupa nas ruas. Havia poucos carros. Foi um período em que comprava-se um carro, usava e vendia sem perder dinheiro. Havia poucos automóveis. Meu pai chegou a ter uma concessionária de automóveis Studebaker.



O sobrenome Algodoal é em função do cultivo do algodão?
Dizem, não sei se é verdade. O sobrenome era Oliveira, o meu avô, pai do meu pai adquiriu uma fazenda grande e plantou só algodão. Ninguém queria plantar algodão. O pessoal dizia: “É o homem do algodoal!”Existe uma fotografia de um Buick que pertencia a família, era o carro mais luxuosa da época.
O senhor chegou a usar gasolina azul?
Em alguns carros, era obrigado a por senão o motor pifava. Meu pai comprou um Oldsmobile F85 compacto, uma beleza de carro, tinha um motor grande de alta compressão, só funcionava com gasolina azul, criou-se um problema, gasolina azul só tinha em São Paulo, teve que abrir o motor, aumentar o espaço da explosão para pegar a gasolina comum, toda a valentia do carro acabou.
Carro argentino o senhor teve algum?
A Beatriz teve um.
A parte mecânica de automóvel o senhor não mexe pessoalmente?
Até uma época eu mexia neles. Mais por distração. Modificava.
Carro a gasogênio, o senhor chegou a usar?
Eu não, mas o meu pai teve. Chegamos a viajar com um carro a gasogênio




saíamos de Piracicaba cedo e chegávamos a tarde em Jaboticabal, a estrada era de terra, o carro não tinha força nenhuma, deve dar uns 280 quilômetros de distância. Na ultima vez em que estive lá, tinham colocado o nome do meu pai em um hangar, esse hangar foi construído por eles. Meu pai era muito amigo de Auro Moura Andrade, que gostava muito de avião. 



Na inauguração do hangar, no cimento fresco, meu pai me pegou sem os dois sapatos e colocou os meus pés no cimento fresco. Deixou marcado lá, escreveu a data. O pessoal fez uma cópia em gesso, cortaram e deram-me de presente.
O senhor andou de carrinho de rolimã?
Na escola tinha uma descida muito violenta, que o pessoal chamava de descida da mata, lá tínhamos carrinho de madeira, até as rodas eram em madeira. 

Eu devia ter uns seis anos. O carrinho atingia uma velocidade em que saia roda, se desmanchava.
O senhor teve uma infância muito feliz?
Você nem imagina como! Aquela largueza com tudo! 

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