sexta-feira, junho 09, 2017

LEDA COLETTI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de maio de 2017.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/

 

 


ENTREVISTADA: LEDA COLETTI

 
Em seu prefácio do livro de Leda Coletti, “Eu, Educadora”, Carmen Maria da Silva Fernandez Pilotto, escritora, poetisa, integrante da direção da Academia Piracicabana de Letras e outras instituições literárias de expressão cultural de Piracicaba, com precisão cirúrgica sintetizou quem é Leda Coletti:“ Permeada de valores familiares, não deixou que a inquietação e seu lado sensível fossem ofuscados pela rotina e as dificuldades da época, quando garotas não ousavam ou em que a vanguarda de suas ações propostas na área da educação ainda assustassem os menos esclarecidos. A cada nova instabilidade ou mudança, sua força era redobrada, como um autodesafio que a fazia entrar por um caminho sem volta, o da convicção de oferecer melhoria de instrução para sua nação. Dever cumprido certamente, fosse na roça ou na cidade, no ambiente escolar, social ou familiar, Leda sempre foi um preito ao ensino. Sua história é certamente o retrato de sua personalidade: um ser humano de nobreza impar, atento aos menos favorecidos, seja pela delicadeza dos agradecimentos aos que contribuíram para a transposição das etapas profissionais e pessoais ou nos excepcionais registros de locais e inusitados momentos e objetos que conseguimos visualizar em seu pitoresco relato”. Leda começou a escrever poesias em 1992, após sua aposentadoria como Supervisora de Ensino. Já escreveu mais de duas centenas delas, bem como trovas, crônicas e contos tendo obtido vários prêmios nessas categorias. É Membro Titular Fundador do Clube dos Escritores de Piracicaba e do seu Conselho Acadêmico, do Centro Literário de Piracicaba - CLIP; do Grupo Oficina Literária de Piracicaba – GOLP; colaboradora da coluna Prosa & Verso do jornal A Tribuna Piracicabana. Colaboradora do Jornal de Piracicaba; do Informativo dos Escritores; Sócia Convidada do CLIRC- Centro Literário de Rio Claro; Acadêmica da Academia Piracicabana de Letras; participante do Sarau Literário Piracicabano; Voluntária do Recanto dos Livros- Lar dos Velhinhos de Piracicaba; Realizou um Livro Infantil com mais de 30 Antologias de Poesias e Contos. Leda Coletti fez um minucioso trabalhos de pesquisa em seu livro “A Saga dos Dal Piccolo”. Escreveu “Aconchego” um livro de contos, crônicas e poesias. Em seu livro “Eu, Educadora” apresenta uma rica trajetória, de vida, sempre com entusiasmo, acreditando que a EDUCAÇÃO é a tão procurada solução para os problemas que nos afligem como pessoa e como Nação. Uma narrativa que prende a atenção do leitor. Uma obra que leva o leitor a um passeio encantador e profundas reflexões. É em “Louvar e Agradecer ao Senhor”, que Leda flutua em seus versos, levando a sua paz de encontro ao universo. Leda Coletti nasceu a 29 de março de 1941, é filha de Antonio Coleti (com um “t” apenas no Coleti) e Amélia Dal Piccolo (Originalmente a família era Dal Piccol na Itália) Coleti. Antonio e Amélia tiveram três filhos: Gema Guiomar, Leda e José Tadeu, todos nascidos no bairro rural Vila Nova, a dez quilômetros da cidade de Piracicaba.



Essa propriedade rural onde vocês moravam era da família?
Era um sítio que pertencia ao meu avô Pedro Coleti e sua esposa, nossa avó, Eugênia Barban Coleti. Nunca me esqueço que quando estudei havia uma lição no livro de francês que mencionava o sobrenome Colette. Meus avôs paternos são de Pádua (em italiano: Padova; em vêneto: Padoa) e Mântua (em italiano Mantova) e os avós maternos Maria Eberle Dal Picolo, conhecida por todos da redondeza como Marieta, nascida em Vicenza, localidade proxima a Treviso e Martinho Dal Picolo (Martino Dal Piccol, nascido em Colbertaldo, na comuna de Vidor, província de Treviso). Meus avós vieram da Itália, no inicio trabalharam em propriedades de fazendeiros. Os Coleti vieram da Itália, trabalharam em prpopriedades de outros fazendeiros, adquiriram esse pedaço de terra. Sempre aqui na redondeza. Os Dal Picolo são de Ribeirão Preto, Batatais. Segundo informações dos tios e da “mama”, após chegar em Santos, de navio, a sua família foi contratada para o cultivo e colheita de café em uma grande fazenda de propriedade da tradicional família paulista, os Junqueira, em Ribeirão Preto. Conforme afirmava meu tio José o pai do nosso nono (avô) chamava-se Lourenço Dal Piccolo e a mãe Maria Luiza de Poi, nomes já abrasileirados. Depois que o “nono” comprou a propriedade no local denominado Santa Fé, próximo a Codistil. Onde eu nasci também é ali perto da Cruz Caiada, junto a Estrada de Piracicaba para Rio Claro. Martinho Dal Picolo tinha uma propriedade em Batatais, vendeu e adquiriu esse sítio chamado Santa Fé. A primeira filha que nasceu nesse sítio foi a minha mãe.
Como se deu a união entre as famílias Coleti e Dal Picolo?
Os Coletti e os Dal Picolos eram vizinhos. Minha mãe e meu pai estudaram na mesma escola, na Vila Nova. Todas as minhas tias casaram-se com rapazes da vizinhança, eram filhos ou netos de sitiantes. O meu pai na época era neto de sitiante. As minhas outras tias geralmente eram casadas com sitiantes, filhos dos donos das terras.
Qual era o produto que mais se cultivava nessa época?
Já era a cana de açucar!
Essa cana era fornecida para alguma usina?
Eles mesmos processavam a cana de açucar, tinham engenho de pinga. Forneciam para as industrias de Piracicaba que engarrafavam e comercializavam. Minha mãe contava que quando ela e papai casaram-se, foram morar com meus avós. Na época cada tio tinha a sua casa própria. Mais tarde mudaram-se todos para a cidade. O meu pai e o tio dele, que era mais novo do que ele, tornaram-se sócios, venderam esse sítio e adquiriram uma propriedade maior em Rio Claro. Nesse período tornaram-se sócios de membros da família Ometto da cidade de Iracemapolis.  Passaram a produzir açucar na  Usina Santana.  Meu pai era o administrador rural, meu tio Pedro Coleti ficava na parte burocrática.
                                                     CASA DA FAMÍLIA
Nessa época qual era a sua idade?
A nossa família mudou-se para Piracicaba, eu tinha sete anos. Foi quando iniciei meus estudos no Externato São José, no prédio situado a Rua D.PedroII esquina coma a Rua Alferes José Caetano, onde mais tarde funcionou a Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Aqui eu fui alfabetizada.
Em que local de Piracicaba você morava?
Morava a Rua Governador Pedro de Toledo, proximo a Estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Conheci a família Rensi, Algodoal, tinhamos excelentes vizinhos. Lembro-me da Gisela, vinhamos do Externato São José até a nossa casa juntas, de bonde. Naquele tempo o calçamento era de paralelepipedo. Eramos crianças, íamos sozinhas até a escola, nossos pais não precisavam nos acompanhar. Era divertido, formávamos um grupo de umas cinco meninas que moravam proximas.
Após dois anos no Externato São José, qual foi sua proxima etapa?
Fomos morar na fazenda, situada a três quilômetros de Rio Claro. Hoje já é área urbanizada, com residências. Fui estudar no Colégio Puríssimo Coração de Maria, era uma congregação gaúcha. Estudei lá até o Normal. No período em que morava na fazenda, papai me levava até a escola todos os dias, lembro que o carro era um Simca. Era estrada de terra. Quando chovia de Rio Claro à Piracicaba tinhamos que dar a volta, passando por São Pedro. Assim mesmo era dificil, a estrada de São Pedro também era de terra. De Rio Claro à Piracicaba não tinha como trasitar de carro. Mesmo com o tempo bom demorava-se muito. Naquela época Rio Claro tinha um problema sério de fornecimento de água. Papai mandou construir uma casa na Rua 10, no bairro Boa Morte, em Rio Claro. As ruas eram feias, com buracos, as ruas não eram asfaltadas. Hoje Rio Claro é uma cidade linda, amo Rio Claro! Em Rio Claro havia o Ginásio Koelle ou Escola Alemã, muito famoso, muito bom.
Você formou-se professora em que ano?
Em 1958 conclui o Curso Normal na Escola Purissimo Coração de Maria. Eu era a caçula da classe. Passei por um período de adptação quando fui estudar em Rio Claro. De uma experiência pessoal, percebi como é importante ter discernimento e sabedoria no incentivo dos alunos. O professor tem que estar muito atento a reação dos alunos quando recepcionam um aluno novo, por melhor que esse aluno seja. Muitas vezes o comportamento do aluno em classe não reflete a sua realidade naquele momento. Ganhei medalha por bom comportamento durante o ano inteiro.
Você lembra-se do nome da sua primeira professora?
Ainda hoje estava comentando sobre isso, lembro-me dos nomes das professoras do segundo ano em diante. Tenho a frustração de não me lembrar do nome da minha primeira professora, que foi ótima professora, por quem fui alfabetizada. Ela deu-me a nota máxima, na época era 100. Eu que tinha chegado atrasada 15 dias, tinha vindo direto da roça. Devo ter sido muito bem alfabetizada. Talvez eu encontre alguém da turma de 1948 que possa me fornecer o nome dela. Ela era professora do Externato São José. A minha professora do segundo ano foi a professora Maria Stella de Aguiar Ayres (Irmã Missionária da Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado – Irmã Maria Stella da Eucaristia); depois foi Da. Deise, no ginásio tive uma professora de português inesquecível, a professora Ivanira Bohn Prado, conservo até hoje as cartas que ela me escreveu, uma grande poetisa, eu e outra amiga de Rio Claro íamos  visitava-la todos os anos.
Como foi seu ingresso na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro?
A faculdade de Letras foi para Araraquara, em Rio Claro ficou História Natural, Geografia, Matemática e Pedagogia. Eu tinha concluído o curso Normal, como gosto muito de estudar gostei muito das disciplinas pedagógicas. O professor de Prática de Ensino, Odilon Correia, dizia que eu tinha muita aptidão para ministrar aulas. Quando fui para a faculdade a minha intenção era aprender técnicas pedagógicas. Tinha uma vontade tremenda em aprender. Infelizmente não foi bem assim. A tal ponto que tínhamos tempo integral na faculdade. Eles visavam mais pesquisadores. Desde o primeiro ano tivemos psicologia experimental.
Era do Estado a faculdade?
Os professores todos eram da Universidade de São Paulo. O professor que mais impressionou pelo seu método de ensino foi Frank Perry Goldman, norte-americano, professor da cadeira de Sociologia. Éramos em 12 alunas apenas, no curso de pedagogia. Acho que apenas 3 não permaneceram como professores de faculdade.
Você participou de um movimento jovem?
Participei ativamente da Juventude Universitária Católica, fazia projetos sociais, participava dos congressos, era um movimento que envolvia o Brasil inteiro. Participei de diversos congressos nacionais. Estivemos em São José dos Campos, ficamos alojados no ITA- Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Percorri muitas cidades do Brasil, np Estado de São Paulo, como São José do Rio Preto, Agudos. Eu sempre fiquei na parte social. Havia também a parte política. Algumas estrelas que hoje brilham na política nacional, paticiparam desses congressos. A JUC era formada pela alta elite do Brasil. Eu era muito jovem, tinha de 18 a 21 anos. Quando me formei, automáticamente deixei de pertencer a JUC. O nosso trabalho sempre foi voltado para o bem comum.
Você teve a experiencia de ver o professor ser devidamente valorizado?
Eu vivi um período em que ser professor era uma ascenção social importante, o professor era valorizado em todos os sentidos, inclusive monetariamente. Seus ganhos permitiam viver com dignidade. Um diretor de escola era considerado uma autoridade na cidade.
Em que turma você formou-se na facudade?
Foi na primeira turma de pedagogia. Me ofereceram aulas em Brotas. Pegava o trem da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, isso em uma época em que os trens eram luxuosos, havia primeira classe, com restaurante. Instituiram o Curso Normal que não havia na cidade e precisavam de professor. Minha missão era formar professoras primárias. Eu ministrava todas as disciplinas pedagógicas. Psicologia, Sociologia, Psicologia da Educação, história da Educação, Filosofia da Educação, Teoria e Prática do Ensino Primário. Fiquei uns dois anos lá, a primeira turma tinha uns trinta alunos. Foi uma revolução na cidade! E realmente o Curso Normal era necessário! Fico muito triste quando vejo que a educação no Brasil perdeu muito do seu valor. Uma das formas de mudarmos é formarmos professores. Não que não se formem professores, só que naquela época o professor entrava em uma sala de aula sabendo como deveria agir. Ele conhecia uma sala de aula. Dificilmente eu reprovava um aluno. Mas por que? Porque eles tinham facilidade em aprender! Eu dominava o assunto de tal forma que conseguia chegar até o nivel de compreensão do aluno. Lecionei para o Curso Normal, para o colegial e para crianças também. Quando eu lecionva a matéria Teoria e Prática do Ensino Primário as minhas alunas faziam estágio nas minhas escolas, eu ia com elas, não me limitava a só ficar fora de aula, ia com as professoras também, sentava e adorava ficar com as crianças. Depois as alunas davam aulas, elas saiam já formadas, com uma certa prática, podemos dizer. Elas sentiam a sensação em dar aulas.
Naquela época quantos anos durava o Curso Normal?
Eram quatro anos, depois passou do Curso Normal para o magistério, diminuiu, então é claro, não tinham aquela formação anterior. Nessa época eu estava em Araraquara. De Brotas eu fui lecionar por um ano na zona rural, em Ipeúna. Meu pai tinha vendido a propriedade em Rio Claro e adquiriu outra em Ipeúna. Havia uma escola no sítio vizinho. Permaneci no sítio, morando com os meus pais, de lá eu pegava o jipe, acho que fui a segunda motorista de jipe de Ipeúna. As vezes tinha que colocar correntes nos pneus, eu ia pelos carreadores de cana. Os alunoss de lá iam comigo. A estrada era bem difícil, só com jipe mesmo. A distância entre a nossa casa e a escola era de uns três quilometros.
                                                      LEDA COLETTI
Você já foi jipeira então?
Já fui! No dia em que fui fazer o exame para tirar a carta de habilitação, o jipe da autoescola quebrou. Isso foi em Rio Claro. Fiz o exame com um Dauphine! Naquela época meu irmão era seminarista, todo o fã-clube do seminário foi lá para torcer para mim. Eu fiquei mais nervosa ainda! Fui reprovada. Mais tarde fiz ao exame em Piracicaba com um Volkswagen, passei na primeira vez. Em 1967 depois de prestar o exame de habilitação e ser aprovada ganhei um carro Volkswagen, já antigo e com bastante quilometragem. Entre consertos, peças e combustível ia quase todo o meu salários. Foi quando meu pai fez uma maravilhosa surpresa. Deu-me de presente um “Fusca”, imaculadamente branco, zerinho, zerinho. Dei ao carro o nome de “Leal”. Não sei se foi porque gostou do nome ou se quis fazer jus ao significado do mesmo ele se mostrou um dos maiores e melhores amigos. Nas longas viagens que fazia aos finais de semana, enfrentava 230 quilometros, conversava com ele. Também cuidava da sua aparência, estava sempre limpo e lustroso. Quantos admiradores aquele Fusca teve! Havia até fila para comprá-lo caso eu me interessasse em vendê-lo. Diziam: -Além de Volkswgaen , é carro de mulher e ainda professora!”

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