sexta-feira, agosto 18, 2017

JOÃO LUIS BISCALCHIM


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 19 de agosto de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


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ENTREVISTADO: JOÃO LUIS BISCALCHIM


ESCOLA DE PAIS DO BRASIL – SECÇIONAL DE PIRACICABA



 

A velocidade de evolução da tecnologia é um fenômeno que nos surpreende: a gigante IBM, fabricante de supercomputadores investe pesado em pesquisas. Consta que é de sua autoria a frase: “Ligou, funcionou, está obsoleto!” Isto para explicar que ao acabar de fazer um novo produto com alta tecnologia já tem alguém com outro produto superior. As relações humanas não estão acompanhando a mesma velocidade da tecnológica. Isso está colocando o mundo de “cabeça para baixo”, ou seja, o homem está agindo como um cego sendo conduzido pelo carrossel tecnológico. Alguns visionários já previram, talvez até por intuição, que o comportamento humano tem que ser constantemente reformulado em uma velocidade  maior do que ocorreu no passado. Já estamos diante de uma realidade que exige essas mudanças o ponto básico é a educação e o ensino. A Escola de Pais do Brasil tem como objetivo ajudar pais no desenvolvimento global de seus filhos, é importante que escola e pais trabalhem em harmonia. É fato: quando os pais participam da vida escolar dos filhos, estes aprendem mais e melhor. A família tem um papel extremamente importante na construção do sucesso ou do fracasso escolar, à medida que funciona como um grupo afetivo responsável por grande parte da formação cultural e do estabelecimento dos projetos de vida e identidade dos alunos. A família é considerada como uma importante instituição de aprendizagem dos alunos, pois é nela que se dão as suas primeiras experiências e que constitui o capital cultural que lhes é transmitido. No inicio da década de 60 achavam-se os pais agoniados e sem perspectivas quanto a educação dos filhos. Também preocupados com essa problemática, por iniciativa de Madre Inês de Jesus, Provincial das Cônegas de Santo Agostinho, contando com o apoio do Padre Leonel Corbeil, Presidente da Associação dos Educandários Católicos e da Pedagoga Maria Junqueira Schmidt, reuniu-se com a finalidade de estruturar um movimento que pudesse ajudar os pais na difícil tarefa de educar os filhos.  Em 16 de outubro de 1963, partindo de um modelo existente na França, nascia a Escola de Pais do Brasil. Seus fundadores, embora católicos não subordinaram o movimento à sua Igreja e o tornaram aberto a todos os casais, independente da raça, condição social, credo religioso ou político.
 A Escola de Pais é uma instituição particular, voluntária e gratuita, que está aberta a todos os interessados na educação e orientação de jovens e crianças Tornou-se uma instituição a serviço da família. Aos poucos a Escola de Pais foi se expandindo, pelo interior do Estado de São Paulo e, ao mesmo tempo, por quase todo o território nacional. Hoje tem 71 Seccionais funcionando dentro do mesmo padrão.  É filiada à Fédération Internatíonal Pour L’Education des Parents, com sede em Paris e é participante da Federação Latino Americana de Escolas de Pais. O presidente da Seccional de Piracicaba da Escola de Pais do Brasil, João Luiz Biscalchim em sua entrevista forneceu mais detalhes. João Luis Biscalchim nasceu a 1 de janeiro de 1967, em Piracicaba, no bairro da Vila Rezende, são seus pais  João Biscalchim, instrutor da Escola SENAI, e Nilva Totti Biscalchim que  tiveram os filhos: Gisela, João Luis, Gilmara e Márcio. João Luis é casado com Lucimara Renno Biscalchim, são pais de quatro filhos: Ana, Beatriz, João Luis Júnior e Érica. João Luiz estudou do primário ao colegial na “Escola Estadual Sud Mennucci” ingressando em seguir na Escola de Engenharia de Piracicaba formando-se como engenheiro civil.

Atualmente o senhor é o presidente da Seccional de Piracicaba da Escola de Pais?

Eu  e minha esposa, para ser presidente tem que ser um casal. Ambos somos presidentes. O Casal presidente anterior foram o Dr. Plínio/Arlete Ribeiro Santos Filho. Aqui em Piracicaba a Escola de Pais foi fundada em 30 de novembro de 1984. Esse movimento surgiu na França nas décadas de 30 a 40. Muitas mães tinham que cuidar sozinhas de tudo, grande parcela dos homens foram mortos em combate. Diante das dificuldades, os pais reuniam-se para estabelecerem regras para educar os filhos diante da situação caótica. O que o grupo ia aprendendo passava aos novos casais que se juntaram a eles. Essa idéia começou a ser formatada e chegou ao modelo que temos hoje. Quem trouxe esse conceito para o Brasil foram a Madre Inês de Jesus e Padre Leonel Corbeil. Embora Paul-Eugène Charbonneau, o Padre Charbonneau, tenha dado todas as instruções, não foi quem trouxe o conceito ao nosso país.

Por que surgiu a necessidade dessa escola no Brasil ?

Até algumas décadas passadas o pai trabalhava e a mãe ficava em casa, convivendo por período integral de 24 horas com seus filhos. Ela sabia o que eles estavam fazendo. Atualmente, o pai e a mãe são obrigados a trabalhar. O filho fica com a babá, avó ou em uma creche. A mãe quando chega a sua casa não pode dar atenção ao filho, tem seus afazeres domésticos. O tempo que os pais têm hoje para se dedicaram na educação dos filhos é muito pequeno. Quando entramos para a Escola de Pais fazemos os Círculos de Debates, onde nos são passadas orientações a respeito da criança, desde o nascimento até o fim da adolescência.

Com que idade ocorre o término da adolescência?

Atualmente existe uma brincadeira que diz que “a adolescência termina aos 35 anos”, isso porque tem pessoas que com 30 anos ou mais continua morando com os pais. Oficialmente, conforme diretrizes da Organização Mundial da Saúde a adolescência termina aos 20 anos. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente estipula o término aos 18 anos.. Os critérios de avaliação dependem muito do individuo, do seu meio social.

Quantos voluntários existem hoje em Piracicaba trabalhando na Escola de Pais?

Todos são voluntários, formamos um grupo de 17 pessoas. Fazemos nossa reunião uma vez por semana na casa do Dr. Plínio, geralmente abordamos os aspectos administrativos da Escola.

O que é necessário para ser voluntário?

A vontade de participar! Damos o Circulo de Debates, para a pessoa ter uma noção do começo ao fim da adolescência. São sete círculos, sendo que cada um dura uma hora e meia, uma vez por semana. Aí é dado o básico. Fazemos uma vez por mês um curso de aprofundamento, toda última sexta feira de cada mês no Salão de Festas da Paróquia São Judas Tadeu. Quem desejar tornar-se voluntário pode ligar para os telefones 9 9144 8236 (Lucimara) ou 3421 2593 (Madalena). A Dra. Madalena Tricânico é uma das fundadoras da Seccional Piracicaba, faz 33 anos que ela está persistindo. O Sr. Aldo da Acqualax, o Sr. Warner Beranger e Dona Isabel, Dna. Maria Helena e o Sr. Pedro Basso também são fundadores, que ainda continuam conosco. O Dr. Plínio e Dna Arlete, entraram um ano depois. O  Sr. O Waldmiro/Cleonice estão aqui ha uns 15 anos, eu e minha esposa estamos ha 10 anos, os outros não me lembro quando ingressaram.

As aulas para os pais devem ser ministradas ao pai e a mãe da criança ou adolescente?

Eu aconselho para o casal assistir aos Círculos de Debates. Uma das diretrizes que todos os psicólogos adotam é que “os casais devem falar a mesma língua”, ou seja, estarem em sintonia. A dinâmica nos encontros, nos círculos, é dividida em 3 Móculos: o primeiro módulo  vai do zero ano até os cinco anos; o segundo módulo aborda as crianças do ensino fundamental, 6 que vai até 12 anos e o terceiro módulo abordado é sobre  Adolescência. Cada encontro aborda uma fase da criança.

Os pais que participam, são aqueles cujos filhos apresentam desvios de comportamento ou eles vão preventivamente?

A maioria eu acredito que vai preventivamente. Percebemos que mais pais poderiam participar e geralmente os que vão muitas vezes são os que menos precisam, já têm uma estrutura, uma base. Por exemplo, uma diretora de escola convida-nos para dar um Circulo de Debates em sua escola, supondo uma escola de 200 alunos, são 400 pais, o comparecimento é de menos de 10%, ou seja, participam uns 30 pais. Muitas vezes só a mãe comparece. A diretora geralmente quando nos convida é porque tem alguns alunos que estão dando problemas, justamente os pais desses alunos não comparecem.

Essa desagregação familiar o senhor reputa a que?

Acredito que estamos de frente a uma modernidade com a qual estamos aprendendo a trabalhar. Há um estudo na Inglaterra revelando que em média os pais conseguem dedicar sete minutos por dia na educação dos filhos. Só que a criança é uma esponja, tudo que estiver ao redor dela, ela absorve. Os pais não estão mais presentes para saber o que ela está aprendendo. A pergunta que faço aos casais é e as outras vinte e três horas e sete minutos quem é que está educando seu filho ou filha? É a televisão? O smartfone? O facebook? É o coleguinha da escola? O indivíduo transgressor?

A Escola de Pais está envolvida com alguma religião?

Somos apartidários, não temos vinculo religioso algum, a Igreja Católica nos dá muito apoio. Nós estamos preocupados com os filhos e não com a doutrina de cada pai. A falta de presença dos pais acarreta no filho a falta de afeto. Um exemplo típico é a de Suzane von Richthofen. Ela esperou a babá ir embora para deixar o namorado e o irmão dele entrarem e matarem os seus pais. A babá ela não iria deixar matar nunca. “Ela cuidou de mim, me tratou”. Essa é a situação que está aflingindo a classe de maior poder aquisitivo. Em contra partida na classe menos favorecida é a falta de estrutura da família que irá influenciar, um caso típico era da mãe que tinha cinco filhas de cinco pais diferentes. E não morava com nenhum deles. Nesse caso nenhum pai dá afeto, está presente. Isso é um desastre em termos de estrutura famíliar. A principal forma de educar um filho é pelo exemplo. Se o pai falar para o filho o que é correto e ele mesmo agir de forma errada, o filho passa a não acreditar mais no pai. Dentro de casa os filhos estão vendo o lado bom e os dfeitos. Na rua só irá ver o que é teoricamente coisa boa.

Com relação a liberalidade adquirida em relação a algumas decadas passadas como é colocada essa questão?

Cada família tem os seus princípios e os seus valores. Embasado nisso cada um educa os seus filhos na direção ao que julga certo e errado, bom ou ruim. A Escola de Pais vai alertar para como os pais irão transmitir os seus principios e valores, de forma que na sociedade saibam reconhecer quem ele é. De onde ele veio. Os filhos mais velhos são espelhos para os filhos menores. Casais que trazem filhos de outro casamento tem que haver um senso comum de como eles serão educados de forma equalitária.

Na separação de um casal a criança irá ficar sob a guarda de um dos conjuges, se em uma espécie de vingança ela instiga a ira da criança contra o pai ou mãe. Isso pode moldar o caráter da criança?

Isso tem um nome, é alienação parental. A criança passa a perder toda a referência do pai (ou mãe) que ela tinha. Esse tipo de situação causa traumas profundos. Temos que lembrar que não existe a figura do ex-pai e ex-mãe. E na separação ficar criticando o pai e ou a mãe para o filho traz muita insegurança e incerteza ao filho.

Existe alguma orientação diferenciada quando o casal tem uma criança adotiva?

Geralmente o excesso de carinho como forma de compensação torna uma criança mimada, e uma criança mimada será um adulto com problemas, particularmente nos dias atuais em que há muita competição. O que ela irá encontrar no mundo fora de casa não irá cair de “mão beijada” como dentro de casa. Ela fica meio perdida no mundo normal. Na Escola de Pais dizemos que amor tem que ser como remédio, se tomar demais faz mal, se faltar, não faz efeito. Tem que ser na dosagem certa.

E a questão de pais ausentes que “compram” o amor da criança com presentes?

Damos o exemplo daquele pai que chega a sua casa, quer o seu prato na mesa, janta, tem o chinelinho na cabeceira da cadeira do papai, o jornal do lado, ele senta, abre o jornal, assiste televisão, depois assiste jogo de Futebol, nem pergunta como foi o dia dos filhos, da esposa. Com certeza irá ter problema com os filhos no futuro.

Como os pais sabem a dosagem certa de amor carinho?

Não existe uma medida definida. Tem que ir experimentando, se a criança estiver muito dependente do pai, tem que começar a dar mais autonomia para ela. Se a criança estiver carente de carinho tem que dar mais atenção à ela. Cada criança é diferente, cada uma delas precisa de uma dosagem diferente. Toda a ação de chamar a atenção da criança, de esclarecer regras, de esclarecer comportamentos, de estabelecer limites, e outros tem de ser feita com carinho e amor.

Até algumas décadas passadas homem não carregava criança. É uma faceta cultural nossa que evoluiu também?

Por volta da década de 50, um pouco mais, a estrutura era patriarcal. Pai, mãe e os filhos, era uma subordinação verticalizada, o pai era aquela pessoa que estava entronada, todo mundo gravitava em torno dele. Hoje está uma estrutura familiar horizontalizada, pai, mãe e filhos no mesmo patamar. O envolvimento e participação efetiva dentro da estrutura familiar são maiores. A mãe trabalha fora de casa, não irá permanecer junto com a cozinheira, faxineira. Antes ficavam a mãe e a empregada, as duas cuidando das crianças. Hoje não existe mais essa disponibilidade de tempo por parte da mãe. No passado todas as famílias tinham os mesmos princípios. A educação dentro de cada família era muito semelhante. A criança saía para brincar na rua, o que valia na casa dela era a mesma coisa na casa de outra criança.  A hora de ir para casa, tomar banho, era a mesma hora. Eram princípios e valores iguais para todas as famílias. Atualmente se você olhar para um bairro mais tradicional verá que a forma de educar é uma, totalmente diferente da forma de educação que recebe um jovem de um bairro moderno. Se um jovem de um bairro moderno for namorar uma moça de um bairro em sua maioria conservador, irá ter uma diferença de hábitos e costumes.

A questão da violência a seu ver é em decorrência de uma legislação branda demais ou há também outros fatores?

Recentemente reunimos algumas seccionais para discutir esse tema. Por que há muitos jovens com tanto ódio? Relacionamos diversos fatores que contribuem para estar acontecendo esse comportamento. Não chegamos a uma conclusão final. Citamos o mundo virtual, as redes sociais, onde não há interação com as pessoas.  Alguns desses jovens em suas próprias palavras “estão pouco se lixando pelos outros”. A relação entre pessoas está ficando distante. Mais individualista. A falta de afeto dos pais com os filhos, entre os membros da família. O jantar em família, os almoços de fins de semana que reunia todos, já não existe mais. Há um grande número de fatores que faz com que a pessoa vá se distanciando.

A mídia tem mostrado diversos casos em que o individuo é mal sucedido na intenção de cometer algum tipo de crime, cercado pela polícia, ele impõe como condição para render-se a presença da mãe. Qual é a explicação para um homem nessas circunstâncias chamar pela mãe? 

Ele sente mais segurança com a Mãe! A relação entre mãe e filho ainda é forte. A relação entre filho e pai atualmente está bem fragmentada.

A evasão escolar pode em parte ser creditada a atração exercida pelo desvio de conduta sobre o adolescente, as facilidades de obter dinheiro rapidamente com  pouco esforço?

O adolescente está naquela fase em que tem que aparecer, “ser o cara”, no nível econômico menos abastado, onde as oportunidades são restritas, um ou outro consegue sobressair, nessas circunstâncias o mundo do crime é atrativo. Ele vê no meio da comunidade um conhecido ou amigo, com corrente grossa de ouro no pescoço, uma motocicleta potente, de origem duvidosa, mas é uma “motona” ou com um carrão (também de origem suspeita), mas é muito chique. Isso fascina o adolescente. O primeiro raciocínio natural é de que não irá conseguir estudar e ser doutor, ou se for vai demorar muito, vai ter que trabalhar sustentar a mãe, pagar a escola, energia elétrica, água, como não tem condições de chegar a esse mundo de estudo, faz a opção pelo caminho mais fácil.

Qual é a solução que se apresenta para uma situação dessas?

Acredito que o governo tem a responsabilidade de oferecer oportunidade á esses jovens.

A sociedade não deveria sair da sua zona de conforto e assumir sua parcela de contribuição?

Há uma série de entidades que cuidam do problema. As entidades poderiam prevenir antes de acontecer, uma delas é a Escola de Pais, preocupadas na formação de bons cidadãos, e não só tratar após o delito ter sido cometido. Infelizmente as associações que cuidam da prevenção são poucas e desconhecidas da maior parte da população.  Os possíveis voluntários membros da sociedade, estabilizados, estão pensando mais em si do que no próximo. Como iremos mobilizar o jovem que está entrando na idade adulta, sendo que o seu relacionamento com o próximo está cada dia mais distante?  No passado a influência que uns exerciam sobre os outros era idênticas, hoje as influências vem de milhares de fontes. Um exemplo comum, o adolescente vê na internet um ídolo seu, com um boné que custa R$ 1.000,00. Os garotos ficam alucinados para conseguir um boné daquele. Tudo o que o seu ídolo usa ele quer ter igual. A juventude é altamente influenciada por blogueiros, cantores e outros popstar.

Temos exemplos de países que há 40 anos eram paupérrimos e atualmente são riquíssimos, qual é o segredo?

O segredo do desenvolvimento de uma nação é a educação. Quanto mais bem educado o povo for, mais desenvolvida a nação será. A estrutura com Educação no Brasil está tão desgastada que nem os evolvidos acreditam mais nela. A desvalorização do professor também contribuiu para isso, é uma das profissões que mais perdeu reconhecimento. Temos que colocar a Educação como prioridade. Isso irá nos garantir um futuro melhor.

A Escola de Pais já realizou trabalhos com jovens desviantes?

Fizemos com os Pais de jovens da Fundação Casa. Íamos uma vez por mês para conversar com os pais dos internos naquela instituição. Fomos por 5 anos. Após a última rebelião a nova diretoria temerosa com esse acesso dos pais dentro da Fundação decidiu não fazer mais a parceria conosco. Posso afirmar que o trabalho que ali realizamos foi um dos que mais nos deu satisfação. Os pais que estavam lá já estavam com filho com problemas. Não tinha mais como os pais influenciarem aquele filho, mas todos os pais que estavam lá tinham outros filhos menores, irmãos do interno. Os pais então poderiam orientar esses filhos menores. Nós dávamos as ferramentas para os pais mudarem a história daquela criança. Esperamos que a qualquer momento a Fundação Casa volte a nos chamar.

Em que local situa-se a sede nacional da Escola de Pais do Brasil?

A sede é em São Paulo. Temos uma Diretoria Executiva Nacional, o atual presidente nosso é da Bahia é composta por Terezinha e Djalma Falcão. Temos um Conselho de Educadores formado por profissionais, psicólogos, pedagogos, ex-presidentes da escola, eles atualizam o Círculo de Debates. A relação de cada Estado com a Diretoria Nacional é feita pelo Representante Nacional. Em São Paulo é o casal Regina e Armando Gabriele. Depois temos uma Diretoria Regional, o Vicente de Santa Barbara D`Oeste representa a nossa regional. As cidades próximas a Piracicaba, que não tenha Escola de Pais, como Capivari, Saltinho, Santa Maria da Serra, São Pedro, Charqueada, nós fazemos o trabalho nessas cidades. Cada voluntário paga as suas despesas. Nós pagamos para trabalhar!

A Escola de Pais do Brasil através da Seccional de Piracicaba irá realizar uma palestra?

Nosso próximo evento será o XXII Seminário, que será no dia 31 de agosto de 2017, quinta feira, às 20:00 horas, no Salão de Festas da Paróquia São Judas Tadeu, entrada franca, para quem precisar damos certificado de participação, geralmente muitos alunos da UNIMEP, das Faculdades Anhanguera, assistem nossas palestras, assim como professores que usam o certificado da Escola de Pais em sua carreira profissional. O tema será “A (Des) Educação Sexual das Crianças”. O palestrante é o Dr. Paulo Sérgio Emerique que atua há mais de 40 anos na área da educação, é Pedagogo pela Universidade Mackenzie, Doutor em Psicologia pela USP, Professor, Orientador e Pesquisador das Universidades UNESP e UNIMEP. Fundador e Diretor da Escola de Educação Infantil “Bem-te-vi”.

 

domingo, agosto 13, 2017

TOMAS BACELIS BACCHI


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado, 12 de agosto de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/


http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: TOMAS BACELIS BACCHI


 

Por volta de 2013, a então Presidente do Lar dos Velhinhos, Cyonéa Ed Ramos, apresentou aos voluntários João Umberto Nassif e Vera Pereira Bueno Nassif um desafio: reorganizar o “sebo” do Lar. O espaço requeria atenção especial dada as suas condições precárias. Tudo tinha que ser refeito e organizado. O casal aceitou a empreitada. Após alguns meses, já funcionando, apareceram algumas pessoas desejando colaborar. A primeira delas era uma adolescente, muito interessada em leitura: Júlia Frias. Pouco tempo depois ela trouxe um colega de escola Tomas Bacelis Bacchi, acompanhado de seus irmãos Gaudre e Kazys. Graças a muito trabalho, o então sebo foi conquistando pessoas ligadas à literatura piracicabana. Pessoas com nome de expressão na cidade foram se tornando voluntárias. Como por obra divina, a caridosa e dedicada Irmã Hilda, ativa colaboradora do Lar dos Velhinhos, vendo que tinham limitações de espaço físico e condições precárias de trabalho,  indicou um espaço que o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos havia construído, como que prevendo qual seria seu destino. Esse local, maravilhoso, foi a mola propulsora para a criação de um novo conceito de espaço cultural para Piracicaba. Uma nova forma de interação com a população foi surgindo. Lançamentos de livros, apresentações musicais, saraus e palestras passaram a integrar o calendário. O IHGP abraçou a causa, assim como departamentos e pessoas da Esalq, Unimep, CLIP, GOLP, A Academia Piracicabana de Letras,  e muitas outras entidades, bem como  doações particulares . O então “sebo” em suas novas instalações passou a ser denominado “Recanto dos Livros”  do Lar dos Velhinhos.

Tornou-se referência, ajudando a projetar o nome do Lar dos Velhinhos. Além de proporcionar fácil acesso a cultura integra moradores e voluntários. Atualmente o Recanto dos livros do Lar dos Velhinhos tem um acervo respeitável de aproximadamente 12.000 títulos de todos os tipos de obras: técnicas, jurídicas, literatura, juvenil, infantil, lazer.  A renda das doações ao Recanto dos Livros é integralmente revertida ao Lar dos Velhinhos.  O acesso ao facebook do Recanto dos Livros pode ser feito através do endereço eletrônico

https://www.facebook.com/recantodoslivrospiracicaba ou o interessado pode conhecê-lo pessoalmente a Avenida Dr, Torquato da Silva Leitão, 615, entrar com o seu veículo, e seguir a sinalização “Recanto dos Livros”.  Funciona ao público todos os sábados das 8 horas da manhã até as 13 horas. O voluntário Tomas Bacelis Bacchi nasceu a 2 de julho de 2002 em Piracicaba, é filho de Gustavo Sanches Bacchi, engenheiro agrônomo e Betina Jana Bacelis Bacchi, administradora de empresas, que tiveram os filhos: Gaudre, Tomas e Kazys. Tomas Bacchi mudou-se para a Alemanha, mas não se desligou do voluntariado, é de lá que ele controla o processo de comunicação eletrônica do Recanto dos Livros com o público aqui no Brasil

Você iniciou seus estudos em qual escola?

Iniciei no Jardim de Infâcia Alecrim da Escola Waldorf Novalis, Piracicaba. Depois estudei até o sétimo ano na Escola Waldorf Novalis.

Após o sétimo ano de estudo o que ocorreu?

Meus pais receberam convites para trabalhar na Alemanha, aceitaram e mudamos para Bonn. Na época eu estava com treze anos.

Pode-se dizer que você estava na adolescência, qual era a sua forma preferida de lazer no Brasil?

Gostava muito, muito mesmo do meu cachorro, o Jack. Outra atração era ir até o Recanto dos Livros, no Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Conheci o Recanto dos Livros através de uma colega da escola, a Júlia Frias. Fiquei encantado com o local, todos os sábados eu gostava de ir, e ia por gostar da leitura, sempre gostei muito de ler.

Você tem preferência por algum gênero específico?

Gosto bastante de ficção, histórias de sobrevivência e um pouco de livros com temas policiais do gênero de Sherlock Holmes. Eu estava no sexto ano da escola quando o meu interesse por leitura foi despertado. Foi quando a professora passou a relação de uma série de livros do Pedro Bandeira. “A Droga da Obediência” foi o primeiro. Era para ler e fazer uma prova sobre o livro, só que a Júlia e eu gostamos tanto da leitura que passamos a ler a série inteira, chegamos a ir até São Paulo para conhecer o escritor Pedro Bandeira. Chegamos a montar um grupo na escola para imitar o grupo que era descrito no livro.

Praticava algum esporte?

Sempre joguei volei e fiz natação. Por ter estudado na Escola Waldorf, e o fato de ser uma escola totalmente diferente das demais, ela proporciona atividades de interação que são diferenciadas. A escola quer que você primeiro faça a experência e depois escreva sobre isso, diferente do padrão da escola que quer que você primeiro escreva e depois faça a experência.

Em que dia você mudou-se para a Alemanha?

Foi dia 28 de janeiro de 2016.

Ao saber que iria mudar-se para a Alemanha o que passou pela sua cabeça?

Foi tudo muito rápido. Meus pais ficaram sabendo três meses antes. Acredito que na hora o mais feliz com a notícia era eu. Meu irmão até chorou quando meus pais falaram, ele sabia que iria ter que deixar os amigos dele. Minha irmã também ficou sensibilizada com a notícia, mas eu fiquei muito feliz. Pensei nos meus amigos, mas estava entusiasmado com a idéia de mudar. Conhecer um lugar novo.

Vocês foram para qual cidade da Alemanha?

Fomos para Bonn, ex-capital da Alemanha, próxima a cidade de Colônia que é a cidade maior mais próxima.

Ao chegar, qual foi o primeiro pensamento que lhe ocorreu?

A primeira imagem foi quando o avião estava pousando no aeroporto de Frankfurt e consegui ver um grande número de pinheiros com um pouco de neve. É o mais importante da Alemanha, terceiro na Europa e o nono maior do mundo. Foi muito interessante, nuca tinha visto neve, nem uma floresta de pinheiros. Fomos para uma casa, de alvenaria, a família que nos alugou tinha acabado de reformar, eles foram morar em outra cidade e deixaram tudo na casa, estava mobiliada, ficaram até as bicicletas. No dia seguinte meu pai, meu irmão e eu pegamos as bicicletas e saimos para dar uma volta pela cidade.

É tranquilo andar de bicicleta em Bonn?

É! Aqui no Brasil muitas pessoas reclamam que não existem ciclovias, as ciclovias são ruins. Mas na Alemanha não são todas as ruas que tem ciclovias, não é o meio de transporte principal. Há o costume de andar de bicicleta na rua, para eles a bicicleta é mais respeitada do que um carro. A sinalização de trânsito é a mesma para carros e bicicletas.

O ciclista pode ser multado?

Não pode andar de bicicleta se beber, não é permitido o uso de celular andando de bicicleta, não pode andar pela calçada com bicicleta. Tem ruas em que não são permitidas. Nunca me multaram, mas já vi ciclistas sendo multados, é comum, como a bicicleta não tem placa de identificação a multa é aplicada pelo documento do condutor. São multas pesadas, já vi multa de 300 euros. Se o condutor for atravessar a rua pela faixa de pedestres têm que descer e levá-la caminhando.

A alimentação é muito diferente?

Não é tão diferente, embora tenha sentido falta das comidas brasileiras. A batata está quase sempre presente, praticamente toda carne consumida é a suína. Por exemplo, no refeitório da escola é quase sempre a mesma coisa, mudam muito pouco.

Você deu continuidade normalmente aos estudos?

Quando cheguei era para começar a oitava série, só que lá janeiro é a metade do ano escolar, com isso repeti a metade do sétimo ano. Foi bom por causa do idioma, a aula é em alemão, embora tenha feito curso de alemão no Brasil, o que eu conhecia era insuficiente para entender tudo em alemão. Foi difícil, praticamente fui obrigado a aprender, eu falava alemão ou não falava. Tive que aprender de alguma forma, isso por um lado ajudou, como usei mais o inglês melhorou minha fluência nessa língua, mas atrasou um pouco o aprendizado do alemão.

Quantos alunos freqüentam a sua sala de aulas?

Em torno de 30 alunos. Mais do que a metade não são alunos de origem alemã. Há muitos alunos filhos de pais estrangeiros. Todas as salas de aulas são assim. Isso é comum nas escolas. Pelo menos na minha região tem muitos turcos e muitos árabes. Entro na escola às oito horas da manhã e saio às quatro horas da tarde. O almoço é servido na escola, só que tem que pagar pela refeição. Outra opção é levar o almoço da própria casa, é o que a maioria faz. Mais por uma questão de que a comida que levam é mais saborosa do que a da escola. A escola serve um prato chamado schnitzel, é extremamente popular na Alemanha onde costuma ser preparado com carne de porco parecido com o bife à milanesa brasileiro, pode ser acompanhado com vários tipos de molhos. As vezes vem com batata cozida ou frita. Na escola não tem refrigerantes, não pode levar salgadinhos, não é permitido levar nenhum tipo de doce.

Há prática de esportes na escola?

Temos aulas de educação física, cada mês fazemos um esporte diferente. O forte lá é futebol. Todo mundo joga futebol, como aqui.

O que você achou da cidade de Bonn?

A cidade em si é muito limpa, o centro da cidade é exceção, têm lugares onde há pichações, a Estação Central do Metrô é um pouco assustadora. As demais estações não são assim. A polícia reuniu todos os alcoólatras em um local em cima do prédio da polícia, lá eles consomem o álcool e a polícia tem o controle sobre eles. Apesar de serem-lhes oferecidos todos os tipos de opções para se recuperarem do vício, são alcoólatras por opção. A famosa rádio Deutsche Welle, a sede alemã das Nações Unidas e o Correio Alemão, Deutsche Post, ficam em Bonn, é uma cidade que concentra a sede de muitas empresas também.

Supermercados funcionam como os nossos?

Aqui há um aspecto curioso, Ao passar no caixa tem que tomar muito cuidado para que suas compras não se misturem as do cliente que vem logo atrás. O cliente tem que empacotar tudo muito rapidamente, são mais acelerados porque tem menos funcionários trabalhando, tem que ser tudo muito rápido ou o cliente que está atrás acha que está demorando muito vai a outro supermercado, eles não podem perder o cliente. Nesse aspecto é muito diferente do Brasil onde tem muitos funcionários a disposição do cliente. Lá é muito caro contratar pessoas, por isso contratam o mínimo de pessoas possível. Ao lado de casa tem um supermercado grande com apenas três pessoas trabalhando. Elas limpam, são caixas, abastecem as prateleiras, atendem na padaria, trabalham muito mais do que aqui.

Nesse período em que vocês estão lá, a seu ver estão todos adaptados?

Acredito que é muito pouco tempo para afirmar alguma coisa. É uma cultura muito diferente da cultura brasileira.

Já foi ao cinema na Alemanha?

Já fui, tem vários cinemas na cidade, é diferente de Piracicaba, onde o cinema fica dentro do shopping. Boon é uma cidade com cerca de 300 mil habitantes, tem cinco cinemas. A cidade de Colônia tem cerca de um milhão de habitantes e fica só a 30 minutos de Bonn. As pessoas vão de trem para lá. Mesmo tendo carro o trem é mais utilizado. Em Colônia há shows, festas.

Você já fez viagens para conhecer outras regiões?

Há muita facilidade de locomoção seja por ônibus, trem ou avião. Um aspecto interessante é que às vezes o trem sai mais caro do que o avião, pelo conforto que oferece, o passageiro pode locomover-se dentro do trem, tem restaurante, vários banheiros maiores do que os de avião. Outro aspecto interessante é que têm uns cinco tipos de trem, um que é rápido, outro mais lento, os de trajeto curto.

O transporte aéreo é atraente em termos financeiros?

Muito! Posso pegar um trem e ir até o aeroporto que fica entre Bonn e Colônia. Pago 10 euros (ao câmbio do dia da entrevista R$ 37,00)  pela passagem aérea para a Itália. O pessoal do Brasil comenta que eu viajo muito lá, mas é que é barato. A oferta de várias opções de transporte torna-o barato. E é tudo muito próximo.

Nesse seu processo de reconhecimento do país você observou se na Alemanha há diferenças de cultura de uma região para outra?

Há! Começa pelo dialeto. Cada região tem um dialeto. Os jovens quase não falam dialetos, são mais as pessoas idosas.

Você consegue entender dialeto?

Não! É bem mais difícil. Quem fala dialeto também fala alemão, mas com sotaque. A Alemanha inteira fala o alemão, só que também cada região tem um dialeto.

A imagem que muitos têm da Alemanha é de um país muito bonito e perfeito, sem nenhum tipo de problema.

Como qualquer lugar, só mostram as imagens boas. No Brasil quando divulgam o Rio de Janeiro mostram o Cristo, a praia.

E com relação a segurança?

Eu me sinto mais seguro em andar a noite, às vezes até uso meu celular. Mas já furtaram a bicicleta da minha irmã, mesmo dentro de escola há furto, principalmente de celular.

Como os alemães olham os estrangeiros?

Depende muito da pessoa, tem muitos que são bem acolhedores, alguns têm um pouco de preconceito, isso por parte das pessoas mais velhas.

Os shoppings são iguais aos nossos?

Na Alemanha não é como no Brasil. Aqui os shoppings estão em toda parte, lá há poucos shoppings em uma cidade grande tem um ou dois no máximo.  Em Bonn não tem nenhum. Eu acredito que lá as pessoas se sentem seguras andando no centro como em um shopping.

Quais países você já visitou nesse período de tempo que está morando na Alemanha?

Fui para a França, Portugal, Inglaterra, Holanda e Espanha. Na França fui para Estrasburgo, fica bem próxima a Alemanha e já pertenceu ao território alemão. Na Holanda conheci Amsterdã, gostei muito da cidade.

É como vemos nas fotografias?

É muito bonita com seus canais, arquitetura, mas também tem os lugares feios, como em todos os lugares. De Bonn até Amesterdã são apenas duas horas de trem. A Espanha é totalmente diferente da Alemanha. Achei até meio parecida com o Brasil. Barcelona achei parecida com São Paulo. Uma calçada na Espanha não é tão certinha como na Alemanha. Portugal achei bem semelhante com o Brasil.

As formas de cumprimentar no Brasil e na Alemanha são diferentes?

Acho que nunca abracei ninguém lá que não fosse da América do Sul ou alguém da nossa cultura. O tratamento dado às pessoas que você não conhece é Herr (senhor) ou Frau (senhora), se for da minha idade é Du (você). Quando me dirijo a uma professora tenho que chamá-la de senhora a acompanhado do sobrenome  (Frau Bloch por exemplo). Nunca pelo nome. Eu acho que isso afasta um pouco as pessoas. Lá sou chamado pelo professores como “você Tomas”. Quando a professora faz a chamada para computar a presença é pelo sobrenome “Bacchi”. Nesse ponto senti uma grande diferença, aqui eu conversava com os professores, fora do trabalho deles. Percebi muito que colega aqui é aquele que você fala um “oi” no corredor se fizer a mesma coisa lá. já é amigo. Um amigo aqui, lá é o melhor amigo.

Eles têm alguma curiosidade com relação ao Brasil?

Não! Lá tem tantos estrangeiros que se ficassem perguntando a cada um sobre o seu país iria levar muito tempo fazendo isso. Aqui é diferente, se vem um estrangeiro todo mundo acolhe, quer saber.

E televisão?Você assiste?

Lá tem muitos jornais em inglês, por causa dos estrangeiros, têm muitos estrangeiros, a maioria deles não fala alemão. Muitos vão a busca de uma vida melhor, outros por causa do trabalho, tem muitas empresas cujas sedes estão lá. Há muitos muçulmanos. Na minha classe quando temos aula de religião no mesmo horário temos aulas de filosofia, quem não pode participar da aula de religião cristã têm que ir para a aula de filosofia. Percebo que a classe divide-se mesmo, é bastante gente.

Você visitou museus?

Na minha cidade há muitos museus pelo fato de ter sido capital da Alemanha. Um deles é o Museu da História da Alemanha.

Hoje você fala quantos idiomas?

Português, Inglês, Alemão e Espanhol que estou aprendendo na escola. Para ler como hobby leio em português, quando fui levei vários livros, agora ganhei alguns, vou comprar outros, e em Portugal também comprei alguns livros.

Você já tem uma visão da profissão que vai seguir?

 Ainda não. Percebo que a escola incentiva muito para que o jovem tome essa decisão quanto mais cedo possível. Estão sempre nos levando a um departamento do Estado, fazemos pesquisas sobre trabalhos, respondemos a muitas perguntas, para saberem do que você gosta e consegue fazer. A escola quer preparar o profissional. No início eu achava que era uma análise muito precoce, mas hoje percebo que é uma forma importante de encaminhamento profissional.

Qual é a fruta mais comum no país?

Acredito que é a maçã, ela está presente tanto no verão como no inverno. Há muitos tipos de maçã. Há muito sorvete, em toda esquina tem uma sorveteria. No inverno algumas abaixam o preço, outras viram lojas de agasalhos. Na região em que estou no inverno não cai muita neve, cria uma camada de dois a três centímetros no máximo. Isso por um ou dois dias. Muito frio e pouca neve.

Vocês cozinham comida brasileira em casa?

Temos muito pouco tempo, só aos finais de semana e nem é todo final de semana. As vezes a gente cozinha, mas não é mito comum.

No Brasil vivemos uma onda de bailes funk, há alguma coisa semelhante na Alemanha?

Eu percebo que o funk aqui lá é um rap alemão. Nem todo rap alemão é como o funk, mas um determinado tipo é como funk.

Após um ano e meio na Alemanha o que você achou do Brasil?

Gosto muito do Brasil, e em minha opinião sou muito brasileiro. Escuto todo mundo falando em política, da crise, que está horrível, que bom que você foi para lá mesmo. Todo mundo quer sair do país. Mas lá também tem coisa ruim. Todo mundo diz: “Lá é maravilhoso, é perfeito!”. Mas não é assim! Tem coisas ruins em todos os lugares do mundo, a pessoa que vai a passeio acha maravilhoso, é diferente de morar. Completamente diferente. Acho que no Brasil nos diminuímos muito sem motivo nenhum. Quando você sai do Brasil  passa a valorizar muitas coisas que antes aqui não eram tão valorizadas. Tenho colegas de escola que não podem voltar ao país deles, seja por estar em guerra, ou podem serem presos. Não são todos os colegas que podem fazer isso, vir aqui, visitar os amigos. Às vezes nem internet tem.

 

 

VERA CRUZ DE FIGUEIREDO DOS SANTOS ASSOCIAÇÃO VIVA A VIDA


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de agosto de 2017

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/





ENTREVISTADA: VERA CRUZ DE FIGUEIREDO DOS SANTOS

                                             ASSOCIAÇÃO VIVA A VIDA

Vera Cruz de Figueiredo dos Santos nasceu a 3 de maio de 1953, na cidade de Cabo Verde, sul de Minas Gerais. É filha de João Paulino de Figueiredo e Tereza Rodrigues de Figueiredo que tiveram nove filhos: José, João, Antonio, Maria Aparecida, Helena, Pedro, Paulo, Francisco e Vera. Seu pai era agricultor, tinha uma fazenda. Tirava leite, colhia café. Vera Cruz de Figueiredo dos Santos é presidente da Associação Viva a Vida, que atende pessoas que tiveram câncer de mama. A entidade fica a Rua José Pinto de Almeida, 824, no centro, o telefone é 34337396, atende ao público de segunda a sexta feira das 14 horas até 17 horas.

Como era a vida na fazenda onde passou sua infância?

Na minha casa fazíamos de tudo, naquela época usava monjolo, fazia de tudo, farinha de milho, fubá, limpava café, arroz, tudo no monjolo. Foi uma infância maravilhosa. Na fazenda havia uma escolinha rural, a minha irmã mais velha que dava aula, meu tinha a fazenda e uma casa na cidade onde nós ficávamos para estudar. Até a quarta série estudei no Grupo Escolar Major Leonel. Depois estudei no Colégio Estadual de Cabo Verde até concluir o magistério. Fiz a Faculdade de Ciências Contábeis em São João da Boa Vista. Eu morava com uma irmã em Águas da Prata. Trabalhei em Poços de Caldas em uma revendedora de automóveis Chrysler, a Sul Minas Automóveis. Nessa época eu tinha de  22 a 23 anos.

Você não exerceu o magistério?

Eu só passei a dar aulas quando vim para Piracicaba.

Seus pais permaneceram na fazenda?

Permaneceram. Eu vim para Águas da Prata para ajudar uma irmã, ia e voltava todos os dias para Poços de Caldas. Naquele tempo tinha muita criação de gado, plantação de café. Cabo Verde era uma cidade rica, havia muitos fazendeiros.  Meus avôs maternos José Sebastião Rodrigues e Maria Clementina moravam em Poços de Caldas. Mudei para São João da Boa Vista onde trabalhei na Santa Casa de Misericórdia daquela cidade. Fui trabalhar no atendimento do pessoal do Iamspe, fazia o cadastro das internações.

Ali você passou a atender um público completamente diferente.

Era um relacionamento muito diferente, nessa época eu tinha que fazer faculdade em São João da Boa Vista. Fiz a Faculdade de Ciências Contábeis. Minha mãe adoeceu, ficou internada nesse hospital, eu trabalhava o dia todo e a noite dormia como acompanhante dela. Ela faleceu, eu não me sentia mais disposta a permanecer no hospital. Soube que tinha uma vaga no Banco Itaú de Águas da Prata, fiz o teste em São Paulo, passei a trabalhar no banco onde permaneci por cinco anos.

Você conheceu seu marido no banco?

Eu conheci na faculdade meu futuro marido José Roberto Carvalho dos Santos, natural de Pirassununga. Ele trabalha na Secretaria do Governo Municipal de Piracicaba. Nós namoramos o tempo todo da faculdade, nos formamos, depois eu estava em Águas da Prata, decidimos casar, nos casamos na Igreja Nossa Senhora de Lourdes em Águas da Prata, foi em 9 de fevereiro de 1980. Em seguida viemos para Rio Claro. José Roberto como sub-gerente da Caderneta de Poupança A.P.E. , de lá ele foi transferido para Piracicaba, a A.P.E. ficava na Rua Governador Pedro de Toledo, próxima a loja Ao Cardinalli. Tinha então uma atração que o público ficava fascinado, era a máquina de contar moedas! Distribuíam cofrinhos e depois recolhiam com as moedinhas. Na época a Selma Ferrato trabalhou com ele ali. A Antonia Amaral também trabalhou lá.

Vocês tiveram filhos?      

Tivemos três filhas: Vanessa, Valéria e Veridiana. Em decorrência das atividades profissionais do meu marido a cada dois anos mudávamos de cidade. Nessa época eu tornei-me dona de casa e mãe de três filhas. Não tinha como trabalhar fora de casa.

Em que ano vocês voltaram à Piracicaba?

Voltamos em setembro de 1989, ele como gerente do Banco Econômico, ao lado da Catedral de Santo Antonio. Minhas três filhas estudaram no Grupo Escolar Moraes Barros, e por coincidência, embora em épocas diferentes, com a mesma professora: Hilda Castilho. Em 1990 o Presidente Collor foi eleito, meu marido José Roberto foi transferido para Dourados, Mato Grosso do Sul. Decidimos permanecer  em Piracicaba. Decidi me inscrever na Delegacia de Ensino para lecionar, a primeira escola que me chamou foi a Escola Estadual Francisca Elisa da Silva, no Jardim Monumento. Eu morava na Rua Capitão Antonio Correa Barbosa, abaixo do SESC.

Esse período foi muito difícil para a economia do país, o governo bloqueou os valores depositados nos bancos.

Foi difícil para todo o mundo. Havia dias que eu ia a pé da minha casa até o Jardim Monumento. Dei aula uns doze anos. Fui transferida para a Escola Estadual Dr. João Sampaio, localizada em uma rua paralela a Avenida Raposo Tavares.

Como era o comportamento dos alunos?

Um ou outro aluno tinha comportamento diferenciado dos demais, a maioria era bem comportada. Nessa escola permaneci de 1994 a 1998. A diretora era a Giselda Ercolin. Fiz grandes amizades naquela escola. Foi uma benção. Em seguida fui para a Escola Estadual Professor Manassés Ephrain Pereira no Jardim Monte Líbano, onde permaneci por mais quatro anos. Além de dar aulas eu fazia salgados para vender, dia e noite. Umas tortas lindas que eu enfeitava, uma tortinha individual, menor para festas e nas quentinhas para vender. Fiz tortas por uns 10 a 12 anos. Vendia na cidade inteira, nas lojas de conveniência, algumas casas famosas de frios finos de Piracicaba. Clubes que adquiriam para festas. Minhas meninas e eu que fazíamos, meu marido ajudava muito nas entregas. Tinha noite que assava torta a noite inteira, desligava o forno, tomava um banho e ia dar aula.

O que aconteceu após quatro anos?

Descobri que estava com câncer. No carnaval de 2001 fiz muita torta para o Clube Cristóvão Colombo, quando terminei de embalar tudo, aquelas formas todas branquinhas, a última caixa que peguei, tinha chovido, eu escorreguei e cai. Quebrei o cotovelo. Estava doendo muito, mas eu não sabia que tinha quebrado. Fiz a entrega em seguida fui tirar o Raio-X. Saí com o braço engessado. Só que acho que bati a mama no chão e não percebi. Na minha família ninguém teve câncer. Fiz várias ultrassonografias, várias mamografias, não acusava nada, mas depois a mama inchou, ficou com mastite crônica, endureceu, parecia uma pedra.

Você sentia alguma dor?

Não doía, só ardia. Às vezes ficava quente. Escamando, saindo uma pelezinha. A roupa não incomodava. Nunca passou pela minha cabeça o que de fato poderia ser. Ao tocar não sentia dor, mas eu notava que a mama estava dura. A princípio o próprio médico que me atendia dizia que não era nada demais. Até o dia em que ele achou que eu deveria passar em outro médico.

Qual foi a sua reação?

Achei que era normal. Fui ao CESM - Centro Especializado em Saúde da Mulher da Secretaria Municipal da Saúde de Piracicaba situado a Rua Santa Cruz, 2043 – Paulista Telefone: 3434-6966 fui atendida pelo Dr. Alexandre Paulino da Costa, no primeiro atendimento ao me examinar a fisionomia dele mudou. Disse-me: “- Vera, você vai ter que fazer um exame, de punção,  tenho que interná-la em um hospital”. Deu-me um calhamaço de exames para fazer, assim que estivesse com os resultados eu deveria levar para ele ver. Fiz tudo pelo SUS. Fui muito bem atendida. Quando chegou o resultado não tinha dado nada, na punção quando foi retirado o líquido. Dr. Alexandre viu o resultado, mas achou que mesmo assim eu deveria ser internada. Disse que iria fazer uma biopsia. Nem assim passou pela minha cabeça que poderia ser câncer. Na época não havia a divulgação que existe hoje, para prevenção e tratamento. Quem tinha feito essa cirurgia não comentava com ninguém. Isso em 2001 ! Dia 3 de maio foi meu aniversário, minhas amigas foram em casa, elas já desconfiavam, eu não ! No dia 4 de maio, quando Dr. Alexandre viu o exame, disse: “ – É mesmo!” e saiu rápido da sala, deixando e exame sobre a mesa, tinha umas seis palavras com termos técnicos da medicina , entre elas: Carcinoma Infiltrante da Mama. Quando li carcinoma é que tomei consciencia do mal que me acometia! Pensei; “-Nossa, estou com câncer de mama!”. Nisso o médico voltou, passou uma série de procedimentos que eu deveria fazer, marcou a cirurgia, Só que eu tinha que fazer um tratamento antes. Fiz três quimioterapias, uma a cada 21 dias, para depois operar. Fiz a cirurgia dia 19 de julho de 2002. Tive câncer em um seio, foi tirada a mama toda e a axila

Você acredita que aquele primeiro médico, poderia ter tomado uma providência assim que a atendeu?

Eu voltei ao Iamspe, falei com o médico, chorei muito, disse-lhe que nunca tinha imaginado que ele pudesse ter negligenciado com a minha saúde. Disse-lhe que ele poderia ter me avisado de que poderia ser outra coisa.

A seu ver porque ele não foi mais rigoroso em seus exames?

Pode até ser pelo volume de pacientes que ele atendia.

Após a cirurgia, como  ficou o seu estado psicológico?

Eu com três mocinhas, coincidiu das três quase ao mesmo tempo ficarem desempregadas, a mais nova tinha 14 anos. Quando percebemos estávamos todos em casa! Nessa época eu morava na Rua Campos Salles ao lado do então Frios São José, do Seu Valdir e Dona Lina. Moramos ali por 10 anos, eles comercializavam muitos salgados que fazíamos. Até hoje os filhos dele mantém vinculo de amizade com o meu marido.

Você tomou remédios pesados.

Após a cirurgia fiz mais nove quimioterapias. E 28 radioterapias. Nesses anos que se passaram houve uma evolução muito grande com relação aos medicamentos. Fiquei careca um ano e dois meses. Eu não tinha vergonha. Não usei peruca, não usei nada. Usei um chapeuzinho de crochê. Ia fazer quimioterapia, radioterapia de ônibus.

Como você descobriu a Associação Viva a Vida?

Quando operei foi uma pessoa chamada Azize na minha casa. Ela era operada também. Através dela fiquei sabendo da Associação Viva a Vida. Logo depois da minha cirurgia eu decidi ir até a Associação. Para chegar ao andar superior havia uma escada de madeira, que dava até certo receio em subir. Lá em cima tinha as próteses de silicone, em algodão, ofereceram lenços para cabeça, eu não quis. E ofereceram a prótese.

Quem fundou a Associação Viva a Vida?

A fundadora é Dona Wilma Godoy de Almeida. Ela fundou a entidade na casa dela, dedicou 28 anos da sua existência a Viva a Vida.  Ela percorreu muitas cidades para fazer palestras sobre câncer de mama. Divulgou muito os cuidados que ela tinha tido. Ela fazia umas próteses de alpiste e painço, ficava cômodo e confortável. O Dr. Sergio Bruno Barbosa do Instituto de Mama de Piracicaba em nossas reuniões dizia que ela media a mama da pessoa com a mão, para fazer a prótese. Como ela tinha tido câncer de mama aos quarenta anos, ela queria orientar as pessoas.

O câncer de mama pode ocorrer em homens heterosexuais ?

Pode sim! Já apareceram dois casos aqui. Por isso é necessário apalpar uma vez por mês, faço palestras nos bairros, comunidades. Levo um farto material para ilustrar.

Existe uma faixa etária em que a incidência do câncer de mama surge?

Há quem estime que ocorra após os quarenta anos, mas não é não, aqui aparecem pessoas com vinte, vinte e dois e até de dezesseis anos.

A origem é genética?

Também, mas pode ser uma tristeza, uma raiva, um rancor. Uma pessoa mal humorada. Álcool. Tabaco. Tudo isso causa câncer.

A seu ver doença é um reflexo do fator psicológico?

Eu tive alguns períodos de muita tensão. Principalmente após o falecimento do meu pai. Descobri que tinha a doença seis meses após ele ter falecido. Foi um abalo muito grande, ele tinha ficado em casa três meses. Embora tivesse 82 anos era uma pessoa super saudável. 

O prédio da Associação é próprio?

É da prefeitura. Só que nós pegamos em péssimo estado. Fizemos uma promoção muito grande com o apoio do Vereador Capitão Gomes, a renda deu para fazer uma reforma muito bem feita. A filha da Dona Wilma é a arquiteta Katia Marques, da Imobiliária São Judas, ela higienizou tudo, ajustou as instalações, o setor de baixo todinho é o brechó, é a nossa sobrevivência, não tem dinheiro de doação de ninguém, a Dona Arlete Negri comanda a parte de artesanato, as mulheres vem bordar. Pagamos luz, água, esgoto. Somos todos voluntários, em torno de 40 pessoas, atendemos a saúde.

Quantas pessoas operadas vocês atendem aqui na Associação?

Todas que passaram por cirurgia, em média 35 pessoas por mês, ou seja, 420 ao ano. Foras as palestras e ações externas que realizamos.

Vocês fazem um acompanhamento da pessoa após a operação?

Temos uma psicóloga voluntária, a Luciana Eduardo, duas fisioterapeutas a Maria Cláudia e a Ana Lúcia Pacheco.

Pessoas carentes vocês atendem muitas?

Fazemos uma triagem, sendo comprovada a renda da pessoa, residência, fornecemos uma cesta básica. Isso além de lenços, perucas, próteses. Todo ano fazemos o “Outubro Rosa”, a conscientização da necessidade de exames periódicos e o tratamento em uma fase inicial têm ocorrido, as mulheres hoje estão mais atentas para os primeiros sinais da doença. Tenho procurado divulgar todo tipo de informação sobre câncer de mama nos bairros da periferia, postos de saúde. Levo folders, cartilhas, tudo material que alguém patrocina a impressão. Levar a informação é um fator primordial, sentimos que não existe divulgação, as pessoas não sabem que existem essas doenças graves.

 

 

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