sexta-feira, junho 13, 2008

Da. Lidia Lucano Crivelo

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ás 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
19 3433.8749 / 8206 7779 / 8167 0522
Rua do Rosário, 2561 Cep 13401.138 Piracicaba- S. P.
joaonassif@gmail.com
(11/JUNHO/2006)
Entrevistada: Da. Lidia Lucano Crivelo


Dona Lidia é o retrato vivo de uma geração que perpetua em seu intimo a garra dos imigrantes. O desejo de vencer transformou as adversidades em etapas a serem transpostas. As bases de sustentação do nosso país, do caráter do nosso povo, foram desenvolvidas com a fibra inabalável, construindo com risos e lágrimas uma nação que está mostrando a sua grandiosidade no cenário mundial. A junção de atos quase insignificantes, pequenas atitudes corriqueiras, a mesmice de um trabalho insano, o anonimato dos que realizam tarefas tidas como de menor importância, porém essenciais na vida dos grandes vultos. A memória privilegiada e a sua lucidez trazem a tona histórias de uma Piracicaba que se distancia a cada dia da história do seu passado, em função da famigerada globalização. Onde hábitos e costumes de um povo transformaram-se na geléia geral que hoje constitui grande parte da humanidade.
A senhora é natural do município de Piracicaba?
Sou filha de Serafim Lucano que veio de Padova, Itália, aos oito anos de idade e Rosa Parisch Lucano, ela era descendente de alemães. Nasci no dia 14 de junho de 1922 na Fazenda Olho D`Água propriedade do Dr. Francisco Toledo. Fica adiante de Saltinho, no sentido da cidade de Tietê. Os meus irmãos são: José, Romano, Eugênio, Avelina, Elza, Therezinha. Utilizávamos carroça ou trole com quatro rodas para a locomoção. Era estrada de terra. Nós praticamente não conhecíamos a cidade. Trabalhava na roça colhendo café, algodão. Naquela época tínhamos quase tudo que necessitávamos no próprio sítio. Plantando, tudo dava. Tínhamos arroz, feijão, o açúcar vinha de engenhocas que faziam o açúcar preto, açúcar batido. As nossas brincadeiras de criança era brincar de pega-pega, esconde-esconde, pular corda, brincadeira de roda, pata-choca. Lembro-me da brincadeira Vintém queimado, com uma corda, dez ou doze crianças. A primeira da fila diz: - Vintém queimado. A última pergunta: - Quem queimou? A primeira responde: - Ladrão dos porcos. A última responde: - Bendito vá daqui para lá. Todos eram puxados pela corda. Permanecia o lado que era mais forte ao puxar a corda. Quem perdia pagava um castigo. Era comum brincar de boneca usando uma abobrinha, com um palito furava o olhinho, o narizinho, a boquinha, enrolava um paninho e era uma boneca! Ou então uma espiga de milho, apanhada verde, tinha o cabelinho arruma e brincava. Com o chuchu colocava uns pauzinhos como pés e tínhamos os porquinhos. Depois mamãe começou a fazer boneca de pano. Ela aprendeu com uma senhora, então passamos a ter que tomar mais cuidado, não podia esquecer fora de casa, se chovesse iria molhar!
Quando os pais iam trabalhar na roça levavam as crianças?
Iam todos os filhos. Apenas as minhas irmãs Elza e Therezinha que nasceram na cidade de Piracicaba é que não chegaram a ir á roça. Os outros cinco iam. Mamãe dava de mamar para uma criança, na rede, no pé de café.
A família mudou-se para a cidade de Piracicaba?
Papai resolveu vir morar em Piracicaba. Eu tinha uns sete anos de idade. Viemos morar na fazenda do Ditoca. Passamos a morar o que na época era chamada de “Colônia do Ditoca”. Para quem segue no sentido Centro-Bairro da Avenida São Paulo, desde o Posto de Gasolina São Jorge até o Terminal de Ônibus, o lado direito era propriedade do Ditoca. A nossa casa ficava onde mais tarde foi construída a famosa padaria Pansa, ali tinha 15 ou vinte casas de colono. Todos trabalhavam na fazenda apanhando café, algodão, plantando arroz, feijão, milho. As casas situadas ali eram todas de barrote. Havia mais acima outras casas construídas com tijolos. Ao lado da Pansa existe uma baixada, era li que plantávamos arroz! Era uma várzea. A casa do Ditoca ficava próxima do local aonde depois veio a ser o Posto São Luiz. Ali ficava a sede. Atrás da casa ficava o pomar. No local onde hoje existe o Supermercado Guidi existia uma venda de propriedade do “Seu” Melico. Bem em frente é que ficava a casa do Ditoca e da sua esposa Dona Mocica. Ele tinha sete ou nove filhos, se não me engano um deles foi prefeito de Tiete. Já com sete anos de idade fui trabalhar na roça. Ás cinco e meia da manhã tinha que estar trabalhando. Papai fazia um foguinho no cafezal para esquentar a mão e poder apanhar café. Trabalhávamos até as seis horas da tarde. O patrão ficava andando a cavalo pelas ruas de café olhando se os empregados estavam trabalhando ou não. O nosso patrão, o Ditoca, dizia que: “-Diploma de filho de empregado era o cabo da enxada”.
As refeições eram feitas em quais horários?
Levantávamos, tomávamos um cafezinho e íamos embora. Ás oito horas mamãe ia com a cesta de comida, sempre tinha polenta. Polenta com ovo, polenta com lingüiça, polenta com sardinha. Ao meio-dia era o “minestrão”, a minestra, era feijão com macarrão tudo junto, e a Graça de Deus! (risos). Ás três ou quatro horas da tarde ela levava uma merenda, um bolo de fubá, ou uma banana, ou um mamão. Quando eram oito horas da noite, chegávamos á nossa casa e lavávamos as mãos e os pés, não havia banheiro, não havia pia, não havia nada! O banheiro era fora da casa, com uma fossa séptica. Depois de nos lavarmos, sentávamos á mesa e comíamos polenta de novo! Com ovo frito, com “futaia”! Futaia é ovo batido com cebola, bastante cheiro verde. Hoje conhecemos pelo nome de omelete! Comia quanta polenta podia comer, a mistura era pouca! Pão e bolo eram os que a mamãe fazia em casa, na época nem existia quase padaria. A primeira padaria que nós conhecemos ficava na Rua Benjamin Constant embaixo do pontilhão. (Era o pontilhão por onde passava o trem da Companhia Paulista e retirado do local na administração do prefeito José Machado).
Era comum usar sacos já utilizados para transporte de açúcar para confeccionar roupas?
Mamãe fazia roupas para nós com sacos de açúcar! Quando apanhávamos o café eram colocados panos embaixo do pé de café para não pegar pedrinhas nem terra. Abanávamos aquele café colocávamos em um saco, amarrávamos e os sacos eram transportados por carroça para a tuia. No término da colheita, aqueles panos eram dados para nós. Mamãe usava a sobra daqueles panos como lençol, para enxugar os pés, enxugar o rosto. Era uma miséria terrível! O pagamento geral era feito no final do ano, ao final da colheita. Durante esse período em que não recebíamos nada, retirávamos na venda do Sr. João Feliciano. Teve uma época e que fui á escola situada na Chave de Chicó. Tomava o trem da Sorocabana, que parava na Água Branca, pertinho da Igreja São João. Ali havia uma plataforma, íamos a pé até lá. Depois o Ditoca nos transferiu para o cafezal, onde havia uma casa mais próxima da plataforma para tomar o trem. Por dois anos freqüentei aquela escola. Lembro-me do nome de algumas professoras: Dona Cacilda, Dona Amélia, Dona Jacira. Depois o Ditoca trouxe de novo o papai para a colônia e com isso eu não pude mais ir para a escola, freqüentei a escola nos meus dez e onze anos de idade. Eu chorava porque queria ficar na escola. Precisei ficar olhando minhas irmãs que estavam crescendo, mamãe ia para a roça e eu ia junto, ajudava ela a trabalhar, a olhar as crianças menores. Meu pai pegava o couro do boi, limpava, estaqueava (esticar) com bambu, ele fazia uns espetos esticando, não perdia um pedacinho. Deixava o couro muito bonito. Ás vezes ele tirava o pelo, outras vezes não. Algumas pessoas queriam que ele fizesse reio, rédea, cabresto mantendo o pelo, porque ficava mais bonito. Outros já queriam que ele lixasse o couro, ficava branquinho.
A senhora foi trabalhar em outro serviço?
Com os meus treze ou quatorze anos minha mãe conversou com a Dona Mocica, e fui trabalhar de copeira na casa do “Seu” Ditoca. Passei a arrumar a mesa, varrer a casa, arrumar as camas. Tinha uma cozinheira e uma lavadeira. Mamãe nessa época ia lá pregar botões nas roupas, remendar meias, fazer doces: cocada, marmelada, goiabada, o que havia de frutas minha mãe transformava em doces. Enchia umas latas e guardava na dispensa. A chave ficava na mão da Dona Mocica. Lembro-me que eles tinham um rádio que era ligado a um acumulador. Como não tinha potência suficiente para ter um volume de som que todos escutassem, era ouvido por apenas uma pessoa por vez. Havia uma disputa muito grande entre os familiares para utilizarem o rádio. Tocava-se música caipira, samba. Os empregados nem sonhavam em chegar próximo do aparelho! Eu comecei a enjoar daquele serviço. Achava desagradável. Naquela época não existia banheiro completo, era um banheiro comum dentro da casa. Como era comum nas casas, eles usavam penico no quarto, eu tinha que fazer a limpeza! O Ditoca tinha uma escarradeira de louça. Ele cuspia muito. O chão da casa era assoalho, a lavagem era feita com soda caustica. Tinha uns 10 cômodos, era uma casa enorme. O chão não era encerado, só era lavado toda semana, com baldes de água. A Avenida São Paulo era uma estrada de terra. Quando algum carro ou caminhão passava pela estrada tinha que fazer uso de um trator ou burros para puxar porque ali atolavam mesmo! Era terrível. Do outro lado da hoje avenida, á esquerda de quem vai ao sentido centro bairro, era tudo pasto! A Fazenda do Ditoca tinha várias porteiras para entrar no cafezal: Porteira de Arame, Duas Porteiras e uma porteira que encerrava o terreno dele que era divisa com as famílias Momesso e Pupim.
Saindo da fazenda do Ditoca a senhora foi trabalhar onde?
Fui trabalhar na casa do “Seu” José Carlini, açougueiro, conhecido também como José Mata Burro. Ficava no primeiro quarteirão da Rua Governador Pedro de Toledo, no sentido bairro centro. Na esquina da Rua Governador com a Rua Joaquim André havia a sapataria do Fustaíno, na mesma calçada ficava o açougue, só que era antes da sapataria. Tinha o “Seu” Gobbo, que fazia arreio de burro, tinha em seguida a casa de um sírio, depois era a casinha que o “Seu” José morava. Ele tinha duas filhas, a Nancy e a Marjorie e o filho Ebear. A esposa era a Dona Helena. Nessa época conheci meu marido, Antonio Crivelo.
A senhora casou-se onde?
Casei-me na Catedral, quem celebrou o nosso casamento foi o Monsenhor Rosa, isso foi no dia 9 de janeiro de 1943. Era ainda a chamada Igreja Matriz, a catedral antiga de uma torre só. Era tão bonitinha por dentro. Era bem menor. Quando construíram essa nova ela permaneceu dentro! Construíram a nova catedral em volta da antiga igreja e foram derrubando aos poucos a igreja mais antiga que tinha permanecido dentro da nova! Casei-me e fomos morar na Vila Rezende.
Em que lugar da Vila Rezende a senhora foi morar?
(Risos) Fui morar no Sanatório São Luiz! Era um lugar onde ficavam os tuberculosos. Na época era terreno do Engenho Central. O nosso patrão era Mário Areas Witier, filho da Baronesa de Resende, que tomava conta dos empregados que colhiam cana e levavam ao Engenho Central. Ele tinha uma casa muito bonita. Tinham construído a casa onde minha sogra morava, e a casa onde fui morar. O Mário era uma pessoa maravilhosa. Sentava no chão, chamava meu sogro, meu marido para conversar com ele. Era uma pessoa muito humilde, muito bom.






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PORTUGAL CONVALESCIDO


MATERIAL RARÍSSIMO, NUNCA SAIU DE PORTUGAL, E PROVÁVELMENTE TRATA-SE DO ÚNICO EXEMPLAR
REMANESCENTE. RETRATA O ESPÍRITO DO POVO PORTUGUÊS AO RECEBER O REI VOLTANDO DE UM LONGO PERÍODO QUE PERMANECEU NO BRASIL.














"O que é a vida?

"O que é a vida? Um contínuoPassar das trevas à aurora;Cadeia que nos arrasta,Turbilhão que nos devora."
Gonçalves de Magalhães,




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terça-feira, junho 10, 2008

Fitoterápicos receitados pelo SUS no Paraná

Fitoterápicos receitados pelo SUS no ParanáElizangela Wroniski [10/06/2008]
Mais de 60 espécies disponíveis no Horto da Itaipu: remédios mais baratos, com menos contra-indicações.
As plantas medicinais estão sendo receitadas por médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) de Foz do Iguaçu, no oeste do Estado, que passaram a adotar também o tratamento fitoterápico.
São mais de 60 espécies de plantas usadas para combater os mais variados tipos de doenças, como diabetes, hipertensão e gripe. Além de o produto ser mais barato, possui menos contra-indicações do que os remédios químicos.
Há quatro anos, o horto da Hidrelétrica Binacional de Itaipu começou a produzir plantas medicinais. O objetivo era ensinar a população a usar corretamente o produto. Uma pesquisa feita pela hidrelétrica verificou que 82% dos moradores das cidades da região tinham o hábito de combater doenças com essas plantas.
Uma parte achava que as plantas não provocam efeitos colaterais e outra, que não fazem mal - o que não é verdade. O responsável pelo horto, Altevir Zardinello, explica que é preciso uma série de cuidados com as plantas antes de usá-las.
Elas não podem ser cultivadas com agrotóxico, é preciso saber a hora de colhê-las, se o princípio ativo está na raiz, no caule ou nas flores, além da quantidade certa a ser tomada, que varia de pessoa para pessoa.
Aos poucos, a idéia ganhou corpo e chegou até os postos de saúde do SUS. Profissionais da área fizeram curso para prescrever essas plantas à população. Os pacientes fazem a consulta e ganham o medicamento embalado, pronto para o consumo.
Segundo a secretária municipal de Saúde de Foz, Lisete Palma de Lima, dois médicos já trabalhavam com as plantas e, devido aos bons resultados, resolveram criar o programa. Ela explica que alguns medicamentos naturais podem substituir os químicos e os outros podem ser usados para complementar o tratamento.
No horto existem 144 espécies de plantas medicinais, mas apenas as que possuem estudos científicos sobre a sua eficácia são distribuídas - ao todo são 60.
Além de Foz do Iguaçu, as cidades de Vera Cruz, Toledo e Pato Bragado também recebem os medicamentos. Este ano já foram distribuídos 60 quilos de plantas secas. Para cada quilo, são necessários dez quilos da planta verde. Altevir diz que o cálculo para ver a economia com o novo tratamento ainda não ficou pronto, mas afirma que é bem mais barato que os remédios tradicionais.




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domingo, junho 08, 2008

CATEDRAL DE PIRACICABA


MARIA BEATRIZ COURY

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Rádio Educadora de Piracicaba AM 1060 Khertz A Tribuna Piracicabana
Sábado das 10 ás 11 Horas da Manhã Publicada ás Terças-Feiras

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
19 3433.8749 / 8146.0313 / 8171.5774
Rua do Rosário, 2561 Cep 13401.138 Piracicaba-SP
joaonassif@gmail.com

Entrevistada: MARIA BEATRIZ COURY

A arquiteta Maria Beatriz Coury é portadora de muitos conhecimentos culturais, e tem uma qualidade que anda em extinção: a humildade. Com sua simplicidade trata a todos com a mesma atenção independente do nível social, cultural ou econômico. Pode-se dizer que Bia, como é carinhosamente chamada pelos mais próximos, nasceu em um berço privilegiado a 25 de outubro de 1957. Talvez pela sua silhueta ou maneira simples de ser, sua idade cronológica é contrastante com a aparência física, mais próxima a de uma jovem entusiasta da sua profissão. Em entrevista com seu pai, Dr. Raul Coury, acreditávamos que se ainda estivéssemos no regime imperial, época em que se concediam títulos de nobreza, ele possivelmente seria o Barão de Nova Java. Por extensão sua filha Maria Beatriz receberia o título de Marquesa de Nova Java.
Maria Beatriz Coury, sua vocação profissional já se manifestou no colégio?
Em 1975 concluí o ensino médio especializado em Decoração Artística no Colégio Nossa Senhora da Assunção em Piracicaba. Em 1976 fiz o curso de Língua Francesa e Inglesa na Ecole de Roches em Bluche sur Sierre, na Suíça. Realizei o Curso de Língua e Civilização Francesa na Universidade Sorbonne em Paris e o Curso de Língua Inglesa na Language Tuition Center em Londres. Sou diplomada no Curso Superior de Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura de Urbanismo de Santos que realizei no período de 1978 a 1983. Fiz pós-graduação em 1983 na área de Arquitetura Solar em São Paulo. Voltei á Europa, e na Espanha, na Universidade de Barcelona estudei Arquitetura Moderna Espanhola (Gaudi, etc...), concluindo em 1988. Na Universidade de Artes de Florença fiz o curso de Graphic Designer em 1989. No Politécnico de Milão estudei Urbanística Técnica em 1990. De volta ao Brasil realizei o
Curso Negócios para executivos, MBA (Master of Business Administration) ministrado pela Fundação Getúlio Vargas concluído em 2004.
Quais são os idiomas de seu pleno domínio?
Tenho perfeito domínio dos idiomas: Inglês, Francês e Italiano.
Você tem um site na internet?
Tenho sim. É http://www.biacoury.com/ , ali tem um pouco do meu trabalho.
Da faculdade de Arquitetura venci um concurso em que o governo italiano estava oferecendo uma bolsa de estudo eu fui fazer um curso de Pós-Graduação na Politécnica de Milão. É o berço da arquitetura! Segundo consta foi lá que inventaram o tijolo, na época em que estavam construindo o Coliseu. Eles tinham que criar arcos com bastante resistência, e o tijolo foi uma forma encontrada para fazerem as abobadas, os arcos, que permanecem até hoje.
Por quanto tempo você residiu na Itália?
Fiquei na Itália por oito anos. Após ter feito o curso, passei a trabalhar, a me integrar com a arquitetura local, fiz outros cursos no próprio Politécnico. Realizei diversas obras entre elas: Projeto e Execução de um Prédio de apartamentos de 03 andares, lá a altura das construções são limitadas em doze metros e setenta centímetros por uma cultura que não admite arranha-céus, ficava próximo a Milão, em Pavia. É um condomínio bastante agradável. Fiz restaurações no estilo Liberty. É assim chamado na Itália o Art Noveau.(Arte Nova). Na Bélgica, o art nouveau encontrou sua mais alta expressão na arquitetura de Victor Horta, que influenciou outros países. É um estilo agradável, bastante desenhado, valoriza o trabalho artesanal No trabalho que realizei foram recuperadas estruturas, feitas adaptações internas.
Chegou a dirigir veículos na Itália?
Sim, dirigi! O povo italiano dirige da forma que fala, usando muito os braços! Põem o braço para fora da janela! No começo a gente estranha, depois acaba se acostumando. Em Roma o transito é mais agitado. Em Milão é mais tranqüilo. Fica mais ao norte da Europa, tem uma grande influência alemã.
Você esteve em Veneza?
Veneza é um show! É uma cidade para os apaixonados mesmo, como dizem! É um local de rara beleza, alegria.
Você anda em calçadas em Veneza?
Algumas ruas têm canais, outras não. É bem fácil perder-se nas ruas de Veneza. Não existem pontos de referencia, são ruas que não tem carros, só pessoas que caminham, nessas ruas existem lojas, restaurantes, de repente você encontra um canal e uma pontezinha.
Você andou naquelas gôndolas?
Andei sim. É só você falar “Por favor, cante!” E eles cantam mesmo, e cantam muito bem!
Da Suíça o que você pode dizer?
É um país muito organizado, muito bonito, com geografia muito atraente, tudo muito certinho. A arquitetura é um pouco variada, talvez por estar no centro da Europa. A começar pela língua: conforme a região os habitantes usam um dos idiomas: francês, italiano ou alemão! Essa cultura misturou-se também na arquitetura, adquirindo aspectos próprios de cada cultura. Os chalés são muito bem cuidados, em todos os seus detalhes, flores na janela! Isso é típico! (risos).
Em Paris, como são as calçadas?
São iguais ás de uma cidade européia. O piso é um tipo de parelepipedo cortado em chapas. É confortável. Nas juntas das placas a água da chuva penetra. Possuem uma rugosidade natural para não ficar escorregadio.
Arquiteta Beatriz, o que você achou do Arco do Triunfo em Paris?
É o triunfo mesmo! (risos). Estive lá diversas vezes. Subi nele, existe um local por onde você sobe e vê a Place de l'Étoile (do francês "praça da estrela") em razão de seu formato de estrela, formada pelas primeiras cinco vias que chegam até ali. Foram adicionadas sete novas ruas às cinco que já iam ao encontro do arco como parte da renovação feita em Paris no século 19. Radiando do arco, 12 avenidas se espalham para todas as esquinas de Paris.
Além da Torre Eiffel você visitou o Museu do Louvre?
A Torre Eiffel é maravilhosa, uma obra incrível. Toda montada em ferro existe um mirante de onde se vê o Jardin de Tuilerie. Fui visitar por três dias o Museu do Louvre. Não consegui ver tudo!
Você escreveu algum livro?
Não. Mas é um projeto!
O título poderia ser “Memórias da Marquesa de Nova Java na Europa”?
Bia não responde, apenas ri muito!
Existe alguma forma diferenciada de amenizarmos o calor do nosso clima?
O importante é criar um micro clima interno bastante agradável. Usando muita ventilação, aberturas com ventilação á vontade. Em Holambra existe um sistema que utiliza um cano sobre o telhado. Esse cano é todo perfurado em sua extensão, formando quase um chuveiro contínuo sobre as telhas. A água é recolhida e volta novamente movida por um motor de pequena potência e consumo. A circulação da água já a refrigera.
Nas casas mais antigas eram construídas porões. Qual é sua opinião profissional á respeito? (Curiosamente servia só para acumular um bolsão de ar quente)
O porão antigamente era feito porque a parte de impermeabilização não era muito evoluída, não existia química que faziam impermeabilizações como temos hoje. Era feito para impedir que a umidade atingisse o interior da casa. É uma técnica que era usada por não existir tecnologia de impermeabilização eficaz.
Quando um cliente a procura para realizar uma obra como é o processo?
O primeiro passo é o anteprojeto. Conversamos detalhadamente para conhecer os anseios do cliente. Tamanho, divisões se haverá jardim interno, é uma interpretação daquilo que ele quer. A obra tem que ser do jeito dele, da forma que ele gosta. Penso bastante em satisfazer quem irá ocupar esse imóvel. No caso de ser um cliente com preocupações específicas como uso de energia solar, ou eólica (obtida pelo vento), já existe empresas que fornecem material para essas aplicações.
Até pouco tempo no Brasil era contratado um engenheiro que cuidava da obra e um familiar (geralmente a esposa) é quem cuidava do projeto de “decoração” muitas vezes ocorrendo desastres estéticos e funcionais.
A função do arquiteto é estudar o espaço. Ele irá fazer o espaço de acordo com o uso do cliente, com um fluxograma de utilização. O dia a dia da família é analisado. O arquiteto ajuda a economizar, ele sabe como e de que forma fazer, sem errar. O arquiteto se utiliza de desenhos, maquete eletrônica, que ajuda bem a visualização do resultado final. Ela pode ser girada, vista de todos os ângulos, externa e internamente. Pode ser feito o trajeto do habitante caminhando pela sua futura casa! Hoje a tecnologia ajuda muito. O trabalho do arquiteto não encarece a obra, no final o proprietário irá perceber que o arquiteto foi direto ao ponto, sem a ocorrência de erros. Na fase do projeto é explicado os fatores prós e contras a cada decisão dele. Assim ele terá os meios necessários para tomar a decisão que achar mais conveniente. Construir uma casa não é uma obra barata. Para ter a absoluta certeza de que vai gostar e viver dentro dela de forma confortável, a atuação do arquiteto é imprescindível.
Existem alguns cuidados para que a casa seja construída conforme o percurso do sol?
A primeira observação realizada em um terreno é o percurso do sol. Com isso localizamos os ambientes da melhor forma.
Existem algumas casas que a partir de determinado horário é simplesmente impossível permanecer dentro em função do calor, por que ocorre isso?
Por estarem na orientação errada. As janelas não estão no lado correto. A maioria das janelas deve ser colocada á leste, que é onde recebe o sol da manhã. Se houver a necessidade de construir uma janela que receba sol da tarde, uma vegetação externa pode amenizar a temperatura.
Qual é a construção mais exótica que você conheceu até hoje?
As de Gaudi são maravilhosas! (Arquiteto espanhol Antoni Plàcid Guillem Gaudí Cornet, ou Antoni Gaudí 1852-1926). Ele tinha uma maneira peculiar de projetar. Ele desenhava, mas o projeto mesmo era feito todo em maquetes. E ele fazia as maquetes de ponta-cabeça, porque assim ele poderia saber como a força da gravidade agiria sobre a estrutura, e assim ele sabia como teria que criar ou reforçar essa estrutura.
Recentemente você concluiu um trabalho que exigiu grandes esforços, conhecimento técnico, e empenho?
Foi um trabalho com muitos detalhes a serem resolvidos. Foi usado muito critério técnico para executar as obras. Foi um trabalho bastante meticuloso.
Existe uma curiosidade peculiar dentro dessa casa que poucos devem ter visto?
Trata-se de um pilar de madeira, que já existia, trata-se de um pilar esculpido em um tronco de árvore, sendo que em sua base foi preservado o tronco original de madeira bruta! Uma coisa típica da época, que era esculpir o pilar em troncos. Nós deixamos á mostra por trata-se de um aspecto muito interessante. As raízes e a casca tinham sido tiradas na ocasião em que foi feito originalmente. Percebe-se nitidamente que se tratava de uma árvore grande e forte.
Essa casa que você restaurou é de que época?
A casa é de 1860 aproximadamente. A fazenda Nova Java tem 148 anos. Surgiu de terras pertencentes à Marquesa de Santos, Maria Domitila de Castro Canto e Melo. Essa fazenda foi formada por volta de 1860 e pertenceu a João Tobias de Aguiar e Castro, formado em Direito em 1858, filho da marquesa com o brigadeiro Tobias. O Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar (1793-1857) foi por duas vezes presidente (equivalente a Governador de Estado) da Província (1831-1835 e 1840-1841), fundou a Polícia Militar no dia 15 de dezembro de 1831. O nome Fazenda Nova Java foi dado pelo meu avô Massud Coury, em homenagem a Ilha de Java que tem terras muito férteis, assim como são as terras daqui. O Estádio de Futebol Massud Coury. Situa-se em terras doadas por ele. Domitília de Castro do Canto e Mello, Marquesa de Santos casou-se com o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça com quem teve 3 filhos e de quem separou-se em 1815. Em 1822 conheceu o Imperador D. Pedro I com quem teve 5 filhos. A ligação entre eles foi definitivamente rompida em 1829. Se casou em 1842 em Sorocaba com Rafael Tobias de Aguiar um dos homens mais abastados da Província, com quem teve 4 filhos: Rafael Tobias de Aguiar Jr, João Tobias de Aguiar e Castro, Antonio Francisco de Aguiar e Castro e Brasílico de Aguiar e Castro.




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