terça-feira, agosto 11, 2009

MARIA JOSETE LATORRE BRAGION



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA : MARIA JOSETE LATORRE BRAGION

O Lar dos Velhinhos de Piracicaba foi fundado em 26 de agosto de 1906 por Pedro Alexandrino dos Santos. A princípio denominado como Asylo de Velhice e Mendicidade de Piracicaba, sempre contando com inúmeros colaboradores e beneméritos, muitos dos quais, anônimos. Sob a direção de Jairo Ribeiro de Mattos, transformou-se na Primeira Cidade Geriátrica do Brasil. O Lar não é um lugar de abrigo e esquecimento, um depósito, é uma cidade com habitantes que tem cada um sua moradia, entram e saem conforme a vontade e disposição de cada um. A beleza do lugar aquece os corações dos seus moradores e dos que ali passam. O desafio é diário para a existência desse complexo, que abriga também bom número de idosos quase sem recursos. Hoje é de fato uma cidade dentro da cidade de Piracicaba. Jairo Ribeiro de Mattos é o símbolo vivo do Lar dos Velhinhos. Aqueles que o acompanham de forma mais próxima sabem da sua luta, sua obstinação. Dr. Jairo fez do Lar a sua causa, e como é de seu caráter, resoluto, deixou muitas pessoas, inclusive autoridades de respeito em nosso país, simplesmente de boca aberta ao verem suas realizações. Com longo histórico de falta de recursos, graças á fé inabalável de Jairo, que transmite para todos que o rodeiam, Deus tem provido os mesmos. A Primeira Cidade Geriátrica de Piracicaba é uma das maravilhas da Noiva da Colina.
Professora Josete, como foi que a senhora escolheu o Lar para residir?
Pertenço a Instituição Vicentina, e nessa condição por muitas vezes vim procurar abrigo para as pessoas que atendemos. Vinha muito também para passear, olhar, ver as pessoas residentes aqui. Comecei a perceber que é um lugar muito bom. Em 2006 conversei com Dr. Jairo Ribeiro de Mattos e adquiri a casa onde hoje moro. Fiz uma reforma, adaptando-a conforme desejava. Passei a morar aqui em 2008.
Quando a senhora anunciou que mudaria para o Lar houve alguma reação por parte de alguns de seus amigos?
Alguns acharam que eu era demente! Não conseguiam entender o porquê da minha decisão de vir morar aqui. Chegaram a passar e-mails.
A senhora gosta de viajar?
Gosto! Acho que temos que viver. Não adianta se enclausurar. Faço parte do Friendship, já estive nos Estados Unidos, México, Alemanha, França, Holanda, Colômbia. Também já viajei pelo Brasil. Estou planejando uma vigem para a Rússia. Recebo regularmente correspondência dos amigos que fiz nesses países.
Em qual língua a senhora comunica-se?
Mímica! É divertido.
A senhora faz ginástica?
Faço hidroterapia na piscina térmica, aqui no Lar, quase no quintal da minha casa. Realizamos atividades de acordo com a idade da gente, sob a orientação de uma professora.
Qual foi a sua sensação no primeiro dia em passou a morar aqui?
Foi ótima, maravilhosa. Eu chamo o Lar de “Porta do Céu”! É tanta paz! Quando passamos pelo portão de entrada sentimos uma tranqüilidade, uma paz que é difícil explicar o porquê sentimos isso. Todas as pessoas que passam pela portaria falam a mesma coisa. Aqui temos os recursos que são necessários, além de convivermos com pessoas da mesma faixa etária. Nos dias atuais, temos que ter a consciência de que uma família tem suas obrigações diárias, filhos, faculdade. Uma pessoa com mais idade, exige cuidados especiais. Aqui temos as irmãs, as enfermeiras, médicos, ambulância, ônibus, perua, motorista. É um paraíso!
A convivência com pessoas de faixa etária semelhante é importante?
Eu acho! Todo mundo é alegre, todo mundo é feliz, um ajuda ao outro. É uma família. Existe muita amizade, muito respeito. Existe uma privacidade, mas também uma grande amizade, sem a intromissão. Minhas vizinhas vêm até a minha casa, jogamos cartas, damos risada, fazemos uma comidinha, uma sopa.
Quando a senhora entrou para a instituição dos Vicentinos?
Quando Geraldo faleceu, (o advogado Dr. Geraldo Bragion) fiquei por cerca de dois anos deprimida. Decidi que deveria voltar a fazer algo, sempre eu trabalhei bastante. Fui até a Igreja do Bom Jesus, conheci o grupo e entrei.
A senhora nasceu em Piracicaba?
Nasci em Itatiba, em 8 de janeiro de 1938, sou filha de Mariano Latorre e Noemia Pupo Latorre. Meu pai veio da Itália, de Tito, próxima a Nápoles. Minha mãe era itatibense. Meu pai veio como imigrante, os navios vinham para o Brasil ou para a Argentina, ás vezes fechava a imigração no Brasil eles iam para a Argentina. Existem irmãos do meu pai que moram na Argentina. Fui para a Itália, conheci a casa onde meu pai morou aonde ele dormia, a carreta em que o meu avô transportava as coisas com o boi.
Quando a senhora conheceu o seu marido Dr. Geraldo Bragion?
Conheci meu marido Geraldo Bragion, filho de Pedro Silvestre Bragion e Amália Túlio Bragion em Campinas. Fazíamos a Faculdade de Canto Orfeônico juntos. Ele estudava Direito de manhã e Canto Orfeônico á noite. Eu estudava como interna no Colégio Coração de Jesus. Eu tinha feito o curso de piano, o meu curso era dentro do colégio mais era o Conservatório de Campinas que vinha realizar os exames das alunas. O diploma tinha validade.
O primário a senhora estudou em qual cidade?
O primário eu estudei no Grupo Conde Parnaíba em Jundiaí. O ginásio eu fiz no colégio interno Coração de Jesus das freiras da ordem Nossa Senhora do Calvário. Permaneci interna por oito anos. Na minha família, quando nascia mulher ia para o Colégio Coração de Jesus. Meus pais tiveram quatro filhas.
Foi lá que a senhora aprendeu a pintar?
Fazíamos pinturas em quadros, bordados, crochet, tricot.
A que horas as alunas levantavam-se?
Ás cinco horas da manhã, todos os dias. Ás seis e meia ia para a missa na capela, o café era ás sete e meia, as aulas ás oito horas. Ao meio dia almoçava, tinha o recreio. Cada um tinha a sua carteira, aquelas de levantar a tampa. Levávamos o tinteiro em uma caixinha de pó de arroz, tínhamos as penas, mata-borrão. A caneta era composta por um cabinho de madeira e a pena na ponta. Trocávamos as penas.
Quais idiomas eram ensinados no colégio?
Latin, francês e inglês. A missa era celebrada em latin.
Como era o uniforme?
Era um vexame! Tínhamos vários uniformes. Para o dia-a-dia era uma saia azul marinho, uma blusa branca, de manga comprida. Por cima um avental xadrez quadriculado, quatro dedos acima da saia. O comprimento da saia ia quase até a canela, com as meias grossas e um sapato fechado. O uniforme para sair consistia em tirar o avental, trocar a blusa, que era de algodão e púnhamos uma blusa de seda. A saia era a mesma. O uniforme de gala consistia no uso de boina, havia um emblema na boina, usávamos luvas azul-marinho combinando com a saia. Sapato de verniz preto, meia de nylon. Nesse caso a saia era trocada por uma saia pregueada.
Havia algum dia de folga do colégio?
Se tivesse boa nota e disciplina, uma vez por vez saíamos para irmos até a casa dos pais. Usávamos o trem da Companhia Paulista. Nessa época o colégio tinha comprado uma chácara, onde hoje é o Colégio Coração de Jesus. Íamos a pé do colégio até essa chácara, atravessávamos pelo centro. Todas andando em fila! Passávamos o dia na chácara.
Vocês eram jovens, quais eram as peraltices que vocês faziam?
A parte mais difícil para nós era a hora do banho. Era tudo na base do sino. Sino para tirar roupa. Sino para abrir a água. Sino para se ensaboar. Ainda tinha que tomar banho com camisolão! Cada moça tinha um box individual, fechado, com porta.
Tomar banho com camisola não é anti-higiênico?
É! Havia um estrado de madeira, colocávamos a camisola sobre esse estrado e pisávamos em cima. Com isso podíamos tomar um banho de verdade. A freira responsável mandou cortar um palmo da porta na parte inferior da mesma. Eu achava um abuso. Isso fazia com que aprontássemos algumas artes para com as freiras. Trocávamos as roupas delas de lugar.
Quantas alunas havia no total?
Eram 120. Os ambientes eram separados por faixa etária. As pequenas era da ala “Anjo da Guarda”, a turma do ginásio era a “Nossa Senhora do Carmo”, a das mais velhas era a “Nossa Senhora Auxiliadora”. Em cada dormitório dormiam duas freiras, elas ficavam no que era chamado de “cela” eram fechadas por cortinas. Deitavam depois que nós dormíamos e levantavam antes.
Ao concluir o período do internato qual foi o passo seguinte?
Sai como professora e fui trabalhar no Sesi em Jundiaí. Isso foi em 1958. Em 22 de janeiro de 1959 eu casei-me e vim morar em Piracicaba. Meu sogro reformou uma casa para nós na Rua Boa Morte, ficava bem em frente ao Colégio Assunção, ao lado do Tola. Depois me mudei na casa vizinha a Padaria Jacareí, do Sartini, ainda na Rua Boa Morte. Nosso vizinho era o Julio Dihel. Eu gostava muito da grande amizade que existia entre os vinhos, o pessoal colocava as cadeiras nas frentes das casas ficávamos vendo o bonde passar. Lá pelas nove, nove e meia da noite entravamos em casa. Era muito bom.
Um familiar da senhora foi frade capuchinho?
Frei Estevão Maria de Piracicaba, irmão do meu sogro, o nome civil dele era Miguel Bragion, foi guardião da Igreja dos Frades, foi ele quem celebrou o meu casamento.
A senhora morou uma época na Rua do Rosário?
Morei 28 anos ali, em frente a atual biblioteca.
O tilintar do bonde permanece ainda em seu ouvido?
Está. Quando morei ao lado da Padaria Jacareí a nossa empregada levava os três meninos para passear de bonde. O motorneiro para fazer folia com as crianças ao passar em frente de casa, fazia barulho com a sineta do bonde. As crianças davam várias voltas de bonde, iam e voltavam por diversas vezes.
As primeiras aulas do Sesi em Piracicaba foram ministradas onde?
Comecei na Escola Assunção, as salas eram alugadas para o Sesi. Isso foi em 1962. Em 1964 fomos ocupar o prédio vazio que o Grupo Escolar Dr. João Conceição havia desocupado, ele havia mudado para o prédio novo. Veio então o Ginásio Estadual Dr. Jorge Coury, com aulas no período da tarde e período da noite. Depois o Colégio Jorge Coury quis o período da manhã. O Sesi foi então para á Rua Antonio Bacchi, 1030, onde funciona até hoje. A primeira coordenadora do Sesi 164, que é o número da escola, foi a Leonora Januzzi, depois foi Maria do Carmo Dias de Souza. Nós mudamos de prédio em 1965, a Avenida São Paulo ainda não era asfaltada, a torre da Igreja da Paulicéia ainda estava em construção.
Qual era o meio de transporte que a senhora usava para ir até a escola?
Era o “Fusca”, ás vezes nós revezamos de carro, outras subíamos de ônibus.
Quantos alunos existiam na época?
Mais ou menos 300 alunos. Naquele tempo não havia pré-escolar, a criança vinha “nua e crua”. Começávamos com treino ortográfico. Em agosto, setembro nós estávamos dando o primeiro livro.
Eram mais disciplinados?
Criança é criança. O método de ensino era muito eficiente. Quem sabe a tabuada faz qualquer conta. Hoje se você tirar a pilha da máquina de somar acabou o aluno.
Havia merenda na época?
O prefeito era Luciano Guidotti, foi quando começou a ter merenda na escola.
Havia um trabalho com os alunos no sentido de desenvolver o amor a Pátria?
Recebi ontem a visita de um ex-aluno que frisou bem essa parte. Eram incentivados a amar o Estado, a Família, tinha uma fanfarra, toda semana havia apresentação de teatro, hasteávamos a bandeira, cantava-se o hino nacional.

A senhora gosta de pescar?
Gosto muito. Acho que pesco desde quando nasci! O Geraldo, meu marido tinha uma tendência maior para a leitura, adorava literatura. Quando me aposentei, com o fundo de garantia adquiri um rancho, tenho que fazer uma reforma completa, está bem acabado.
Todo pescador um dia pegou um grande peixe, qual foi o maior peixe que a senhora já pescou?
Eu não pego peixe muito grande não! Meu filho Pedro está fazendo uma ceva, disse que um amigo dele foi pescar naquele local e pegou um peixe de 10 quilos. Eu tenho as minhas dúvidas, porque os peixes que eu pego não chegam a nem a 1 quilo. A graça da pescaria está em ficar na barranca, sentada, vendo o rio correr. É a paz!




terça-feira, agosto 04, 2009

MARIO ANTONIO CAVICCHIOLI (MARITO)





PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com

Sábado 01 de agosto de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: MARIO ANTONIO CAVICCHIOLI (MARITO)

As obras do artista plástico Mario Antonio Cavicchioli surpreendem pelo seu caráter inovador. Com sua habilidade de transformar materiais e criar ambientes, Mario revela um potencial já observado e reverenciado por um nome emblemático: Tarsila do Amaral. Entre suas inúmera intervenções e criações, Mario projetou a Praça Plínio Salgado, que fica no final da Rua Torta em Rio das Pedras. Uma praça que foge do lugar comum, onde o artista usou os desníveis do terreno criando um efeito visual lúdico. Executou a primeira escultura em cimento e argila, em tamanho natural, de São Francisco de Assis, exposto no jardim do Hospital São Vicente de Paulo (N.J. Alguns autores denominam São Vicente de Paula). Pintura e afresco do Altar Mor da Igreja Matriz de Rio das Pedras. Estabeleceu fortes laços de amizade com Noemia Mourão, viúva de Di Cavalcanti, onde aprendeu técnicas de pinturas e desenho. De 1996 a 2002 no espaço Agro-Castanheiras, Avenida Cidade Jardim, São Paulo, foi muito requisitado para decorações natalinas de empresas como Hoechst do Brasil Química Farmacêutica S/A, Rede Vida de Televisão, Silvio Brito, Ana Maria Braga, American Airlines, Parmalat, Bradesco, Igreja Cruz Torta (N.J. Uma das igrejas mais disputadas para casamentos em São Paulo), Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Sumaré, Hotel Renaissance, Terraço Itália, Biblioteca Alceu Moroso Lima. Aluno do lendário professor Kislansky em São Paulo,conheceu Willian Hering bisneto do Barão de Serra Negra. É autor da escultura em tamanho natural de São Francisco de Assis instalada no Instituto Filosófico Provida em Piracicaba. Um dos seus trabalhos mais recentes é simplesmente impressionante. Mario realizou obras de grande porte, na escola Centro Educacional Natureza e Cultura, fez em argamassa esculturas de troncos com até cinco metros de altura, com perfeição absoluta a ponto de alguns vizinhos receitarem venenos para cupim próprios da madeira....Em tamanho natural moldou girafas, tucano, macaca, pombas, coruja. Construiu fontes realizou as pinturas com motivos infantis, jardinagem, tudo com o objetivo de encantar o público infantil. Com o apoio dos proprietários da escola Marito ousou, inovou, criou, deu asas a sua imaginação, utilizando material de baixo custo e colocando Rio das Pedras em destaque mundial na concepção de estabelecimentos de ensino voltados á criança. Além de dedicar-se a arte Mario Antonio Cavicchioli trabalhou em cinco empresas aéreas: Varig, Royal Air Maroc, Ladeco, Canadian Airlines, Air Canadá.
Marito, ou Marito Cavicchioli nasceu no município de Mombuca no dia 18 de agosto de 1949. Mora em Rio das Pedras, onde realizou o sonho de grande parte da humanidade, criou seu Jardim do Édem. O grande patrimônio de Marito é a sua criatividade. Funcionário de companhias aéreas percorreu inúmeros países, conheceu as mais diversas culturas. Hoje Marito em seu quintal, com pouco mais de duzentos metros quadrados traduz em cada detalhe, sutilmente, a experiência adquirida em suas incontáveis viagens, ele é uma própria usina de criatividade artística. A arte sempre esteve presente na vida de Marito. Seu pai foi músico e também maestro. Seu tio Antonio Otávio Cavicchiolo, o Néca, foi escultor em argila, madeira, além de ter sido também músico. Aos sete anos de idade Mario começou a realizar pinturas em aquarela, guache, lápis e presépio modulado em argila. Aos oito anos de idade teve vários contatos com Tarsila do Amaral, que freqüentava o atelier de costura da Tia Olga, isso em 1957 em Mombuca. A obra de Tarsila do Amaral denominada “As Costureiras” hoje no Palácio do Governo em Campos de Jordão nada mais é do que o atelier da Tia Olga.
Mario qual é o nome dos seus pais?
Mario Maria Cavicchioli e Isabel (Dona Belita) Gomes de Andrade Cavicchioli. Nós tínhamos uma olaria em Mombuca, denominada Irmãos Cavicchioli. Faziamos tijolos, telhas, que têm o nome Cavicchioli E Filhos impresso nas telhas e tijolos, eu ainda conservo algumas unidades. Meu tio fazia potes, esculturas em argila, estatuetas. Ele chegou a fazer um presépio para Tarsila do Amaral. A minha tinha Olga morava em Mombuca e era costureira da família da Tarsila do Amaral.
Como era a Tarsila do Amaral com relação a confecção das suas roupas?
Ela trazia os modelos de São Paulo, Paris e determinava o modelo que desejava A minha tia confeccionava.
Qual era a sua atividade na olaria?
Eu era um freqüentador da olaria. Quem trabalhava eram os meus pais, meus tios, meu avô Aristides Isaias Cavicchioli e sua esposa Maria Brandeileiro Cavicchioli, eram italianos, vieram de Veneto em 1892, desceram no porto de Santos, foram transportados pelo navio Arno. Essas informações eu obtive na Casa do Imigrante situada no Brás, em São Paulo. Quando meu avô veio da Itália dirigiu-se para a fazenda Cabras, próxima a Campinas, era de propriedade da família Mesquita de São Paulo. Meu avô tinha estudado no Liceu ainda na Itália, isso permitiu que ele não trabalhasse em serviço braçal. A família Mesquita colocou-o para trabalhar junto a parte administrativa da fazenda. O meu nono (N.J. avô em italiano), falava francês, lia muito, inclusive ele foi Juiz de Paz em Mombuca por muito tempo. Ele tinha um nível cultural e de educação muito elevado para a época. Quando montou a olaria, ele praticamente cuidava da parte administrativa enquanto os filhos trabalhavam na linha de produção. Essa olaria existia até pouco tempo, ficava bem no centro de Mombuca, após o falecimento do meu nono ela foi decaindo até desaparecer. A minha noção de arte iniciou-se pela influência do meu tio Néca.
Você lembra-se do seu primeiro trabalho artístico?
O poder aquisitivo naquela época era muito baixo, além da dificuldade em encontrar produtos para compra. No período de Natal eu queria comprar um presépio, meu tio Néca disse: “-Por que você não faz de barro?”. Fiz as pecinhas do presépio em barro, meu tio cozinhou no forno (N.J. Neste momento a emoção toma conta de Mário). E assim fiz o presépio de barro. Devo ter ainda algumas pecinhas que sobraram do presépio.
Você colocou esse presépio na sala da sua casa?
Coloquei na sala de casa, isso foi quando eu tinha sete anos de idade. A família achou aquilo fantástico, uma criança realizar um trabalho daqueles.
A partir daquele momento você achou que o seu rumo era o mundo da arte?
Eu sempre gostei de arte, tanto que quando conheci Tarsila do Amaral no ateliê da minha tia eu estava desenhando. Eu passava o tempo inteiro desenhando. Em uma dessas oportunidades, Tarsila me pegou desenhando em um papel. Ela me perguntou se eu gostava de arte, de desenhar. Disse-me então que ela era uma pintora, e que iria pintar um quadrinho para mim. Ela pediu que eu arrumasse um azulejo branco. Uma senhora que era a cozinheira da nossa fazenda levou o azulejo, e Tarsila pintou esse azulejo para mim. É a única obra de Tarsila do Amaral, pintada em azulejo, e que permanece ainda como minha propriedade. É um anjo da guarda. Com isso estabeleceu-se uma relação muito agradável entre ela e eu. Em todas vezes em que ela vinha até o atelier da minha tia Olga ela conversava comigo, era uma pessoa muito calma, ponderada. Como criança eu não tinha noção da grandeza daqueles momentos, só mais tarde, recordando aquelas passagens é que fui compondo uma visão mais ampla de tudo que ela tinha feito por mim. Sempre que ela ia á fazenda, gostava de levar argila, ela pedia para que meu tio separasse uma porção de argila para ela levar. Ela também gostava de modelar.
Seus pais tiveram quantos filhos?
Dois filhos: minha irmã Ana Maria e eu.
Você começou a estudar em Mombuca?
Estudei no Grupo Escolar Bispo Dom Mateus. Essa escola foi derrubada, não existe mais. Papai veio para Rio das Pedras como maestro da banda, e assim mudamos para Rio das Pedras.
O seu pai além de trabalhar na olaria era músico?
Eles trabalhavam na olaria, só que a família toda era composta por músicos. Tios, sobrinhos. Os sobrinhos tiveram a “Jazz Band Mombuca”. Era o costume da época, animavam os bailes, as festas. O meu pai veio para Rio das Pedras para ser maestro da banda em Rio das Pedras, contratado pelo prefeito da época. Além de ser maestro da banda ele trabalhava na prefeitura. O meu nono Aristides era agrimensor, meu pai adquiriu conhecimento de agrimensura com ele. A maior parte da rede de esgoto de Rio das Pedras foi traçada pelo meu pai. Mesmo depois de aposentado, o pessoal da prefeitura o procurava em sua casa para obter informações relativas á rede de esgoto. Isso foi em 1960. Meu pai permaneceu por 26 anos como maestro da banda de Rio das Pedras, a Corporação Musical Santa Cecília.
Você toca algum instrumento?
Sempre gostei de música mais nunca aprendi a tocar nenhum instrumento. A minha arte foi na pintura e na escultura. Em Rio das Pedras estudei no Grupo Escolar Barão de Serra Negra e depois no Manoel da Costa Neves. Em Piracicaba estudei no Sud Mennucci, no Colégio Piracicabano, entrei na Unimep fazendo parte da primeira turma de formandos em Letras. Literatura Portuguesa e Inglesa. Isso foi ainda no prédio situado á Rua Boa Morte, o reitor era o Dr. Senn.
Você estudava e trabalhava?
Estudava em Piracicaba e era contínuo no Banco Moreira Salles em Rio das Pedras. Entrei com 18 anos no banco, aos 21 anos de idade me formei em letras. Decidi ir para a Inglaterra fazer aperfeiçoamento em inglês. Viajei pela companhia aérea Britsh Caledonian, fui morar em um bairro de Londres chamado Woak Wood, morava em uma casa de família.
Você foi sozinho de Rio das Pedras á Londres?
Era para viajar com um amigo também de Rio das Pedras. Por motivos profissionais ele acabou retardando a sua ida, com isso fui sozinho, falando o inglês aprendido em faculdade. Foi uma experiência inédita. Sempre fui muito comunicativo. Ainda aqui no aeroporto conheci uma pessoa que ia fazer o mesmo curso. Isso foi em 31 de dezembro de 1970.
Teve festa a bordo do avião?
Teve, com champanhe, aeronave enfeitada internamente. Foi um reveillon no ar.
Hábitos tidos por nós como corriqueiros como eram lá?
Estávamos em plena crise do petróleo. A casa em que morávamos tinha um regime muito rigoroso, só podíamos tomar banho duas vezes por semana. A proprietária da casa onde ficamos era muito severa. Como jovem, sempre havia uma forma de contornar essa situação. Tomávamos banho por partes, na própria pia do banheiro, de tal forma que passassem despercebidos “os banhos extras”. Quando comentei que gostávamos de comer feijão, ela foi muito gentil, serviu feijão ás sete horas da manhã, juntamente com o café da manhã!
Você visitou todos os pontos turísticos de Londres. Por acaso chegou a realizar a famosa arte característica dos brasileiros, de fazer o sisudo guarda real sorrir?
Éramos moleques! Coloquei a mão na frente dele, fiz o possível para tirá-lo de sua concentração. Ele permaneceu extremamente sério. É muito interessante a disciplina e o controle desses soldados ingleses. Em Londres tivemos a oportunidade de freqüentar teatros com peças famosas, cinemas, pubs.
Quantos idiomas você fala?
Inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e um pouco de árabe.
Você conheceu na Alemanha um padre muito famoso?
Conheci em Münster, o Padre Antonio Maria, ele era ainda postulante, é um artista plástico com obras maravilhosas.
O que você achou da obra Mona Lisa?
A principio achei uma obra maravilhosa. Também é decepcionante, principalmente porque fomos orientados a imaginar um quadro de grandes proporções, quando na verdade é um quadro de proporções pequenas (N.J. mede apenas 77 por 53 centímetros).
Como artista qual é a sua analise pessoal sobre o quadro Mona Lisa?
Eu pesquisei bastante. Além de ver o quadro, há a curiosidade em saber o que existe sob o aspecto histórico da obra. Ela passa mistério. Existem teorias de que a Mona Lisa não era uma mulher e sim um homem. A explicação é de que o pintor tinha um caso com um pastor de ovelhas, e que ele retratou esse pastor no quadro Mona Lisa. É interessante observar que ela não tem traços femininos. Ela tem linhas mais masculinas do que femininas. Visitei a Mona Lisa do Louvre e a Mona Lisa que existe no Museu do Prado em Madrid, existe uma disputa entre as duas Monas Lisas. Cada museu acha que a sua é a original. O que diferencia uma da outra é o fundo do quadro. Uma tem o fundo com ciprestes, outra tem um fundo escuro, próprio de estúdio.
Você é o responsável pelas palmeiras existentes na entrada da cidade de Rio das Pedras?
Na época eu ocupava uma função pública, Rio das Pedras fez oitenta anos, eu plantei oitenta palmeiras imperiais na entrada da cidade. Fui até Limeira buscar as mudas. Nem todas sobreviveram, algumas foram derrubadas por acidentes de veículos.

sábado, agosto 01, 2009

CEMITÉRIO PARQUE DA RESSURREIÇÃO PIRACICABA




















































































































































































































Comentários:
muito bons trabalhos no cemitério
Osvair Peron é um mago dos materiais!
# postado por N.A. : 2:52 PM

sexta-feira, julho 31, 2009

Cemiterio Parque da Ressurreição













O Cemiterio Parque da Ressurreição situa-se na Avenida Comendador LucianoGuidotti,1754, na cidade de Piracicaba, no Estado de São Paulo, Brasil. CEP:13.425-000 Telefone:19 3426-4877.




















































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































Apresentamos algumas fotos, que mostram um pouco do conceito cemiterial visto por um prisma diferente dos cemitérios tradicionais. As fotos são de autoria de J.U.Nassif.








































































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