sábado, março 06, 2010

JORGE RASERA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 6 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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                                           JORGE RASERA E SUA ESP Da. MARIA JOSÉ
ENTREVISTADO: JORGE RASERA
A Rua do Rosário, na sua continuação após a Avenida Dr. Paulo de Moraes conserva forte tradição do passado. Por muito tempo foi corredor de passagem para quem se dirigia á zona rural. Derradeiro posto para se fazerem as compras. Duas máquinas de beneficiar arroz a do Barbosa e Grella e a do José Grella funcionavam ainda na base do benefício em troca de parte do produto. As lojas de sapatos, tecidos, bares onde se tomavam refeições rápidas, armazéns como o de propriedade de Vitório Fornazier. Os moradores da zona rural além de se abastecerem de alimentos adquiriam peças de vestiário, armarinhos, freqüentavam o barbeiro e acima de tudo era ali que se informavam das ultimas novidades. Os ônibus, então chamados de jardineiras, faziam ponto na Praça Takaki. O bairro era uma grande família, onde todos se conheciam, riam e choravam juntos, dependendo da ocasião. Religiosos, dividiam a freqüência entre a Igreja dos Frades e a Igreja São José. Gostavam muito de acertar os relógios com o som do apito do trem da Companhia Paulista que partia na hora exata. Uma profunda mistura de raças, a Paulista tem entre seus moradores descendentes de italianos, espanhóis, portugueses, árabes, suíços, alemães e provavelmente concentre o maior número de imigrantes japoneses de Piracicaba. É o único bairro da cidade cuja praça principal chama-se Praça Takaki. Hoje descaracterizada por um enorme reservatório de água em seu canteiro central. Um mastodonte de gosto duvidoso. Muitos cresceram no bairro vendo Jorge Rasera andando com sua inseparável bicicleta. Inicialmente em conjunto com seu irmão Pedro Rasera, possuía uma loja de tecidos e armarinhos, na Rua do Rosário, do lado direito, entre a Avenida Edgar Conceição e Avenida do Café. Ali Jorge se estabeleceu ainda bem moço, permaneceu por longos anos até mudar para o quarteirão seguinte. Provavelmente seja o comerciante mais antigo do bairro, embora a família siga com as atividades, o olho comercial de Jorge segue de perto o movimento. Filho de Pedro Rasera e Rosa Trevisam Raseira, Jorge nasceu no dia 12 de abril de 1931.
Onde você nasceu?
Nasci em Piracicaba, em uma chácara situada onde hoje é o Jardim Elite, meu pai tinha gado de leite nessa propriedade. Éramos oito irmãos, cinco homens e três mulheres. Na época aquela região era formada por chácaras, havia apenas uma entrada para entrar no saibreiro, era pela rua D.Pedro II. Quem ia para o bairro Dois Córregos subia pela Rua Moraes Barros. Da Rua Benjamin Constant até chegar nas chácaras lá em cima era tudo fechado, não havia caminho.

Quem trazia o leite para ser vendido na cidade?

Meu pai, meu irmão, eu mesmo. Trazíamos com um carrinho, a venda era feita para o próprio consumidor.

Você lembra-se do tempo em que o leite era transportado em um litro comum, tampado com um sabugo de milho envolto em palha de milho?

Lembro-me sim! Depois vieram os laticínios Ideal e Piracicabano.

Quando freqüentou a Escola de Comércio?

Eu tinha uns vinte anos de idade quando freqüentei a Escola do professor Zanin. Nessa época passei a ser proprietário de loja. Era um salãozinho pequeno que meu pai deu para mim e para meu irmão Pedro tocarmos nosso comércio. Depois nós aumentamos nessa época eu era solteiro ainda.

Como foi essa mudança para o ramo de tecidos e armarinhos?

Quem montou essa loja para mim foi o Toninho Sallum. Com um empregado da loja dele, pegou um pouco de cada mercadoria que ele tinha, e abriu a lojinha lá. Isso foi em 1951. Na época a Rua do Rosário era uma rua com duas mãos de direção, os veículos subiam e desciam por ela. Até que um dia na Avenida do Café com a Rua do Rosário um caminhão carregado de areia matou uma menina. Após aquele dia a Rua do Rosário passou a ser mão única.

O comerciante, já falecido, Alcides Saipp, também tinha um estabelecimento comercial na época?

Começamos a trabalhar na mesma época. O estabelecimento dele era na Rua do Rosário esquina com a Avenida Dr. Edgar Conceição.

Como conheceu sua esposa?

Naquele tempo era habito entre os jovens quadrar o jardim, foi assim que a conheci Maria José Barbelli Rasera. Casamos em 1957, na igreja da Vila Rezende, o celebrante foi Monsenhor Martinho Salgot.
Ela trabalhava onde?

Ela trabalhou na Fábrica Boyes, desde os 14 anos de idade até casar-se, ela é nascida em 29 de outubro de 1934, filha de Salvador Barbelli e Vitória Volpato. Meu sogro Salvador trabalhava no Engenho Central.

Era habito levar o almoço para seu pai, Maria José?

Eu ia levar o almoço para ele, ia buscar leite na cocheira. Havia aqueles montes de açúcar escuro, pegávamos aqueles pelotes para comer. Uma vez por ano havia um churrasco lá na Santa Rosa. Foi um tempo muito gostoso. A Boyes deu emprego á muita gente na cidade. Eu trabalhava na fiação, trabalhei um ano como aprendiz, depois passei a contramestre da seção. O horário era feito de forma alternada. Uma semana entrava ás 5 horas da manhã e saia á uma hora e trinta minutos da tarde. Na outra semana entrava a uma hora e trinta minutos da tarde e saia ás 10 horas da noite. A produção basicamente era de sacaria para ser utilizada em usina de açúcar. Uma das coisas que guardo é fruto de uma semente de abacate que meu pai trouxe do Engenho Central e que produz abacate até hoje! É um abacate muito gostoso.

Jorge, no tempo em você abriu a loja havia uma relação de confiança muito grande entre comerciante e freguês?

Vendia fiado para todo mundo e recebia de todos. Vendi muito tecido. Os clientes compravam de peça inteira.

Quando você montou a loja as construções existentes no bairro eram poucas e esparsas?

Quando cheguei ao bairro já existia o primeiro sobrado da paulista, que permanece até hoje, na Rua do Rosário, 2547. Ali havia também uma bomba para abastecimento de gasolina, que ficava junto ao meio fio, a bandeira era Texaco. O proprietário era José Nassif.

Jorge, você conheceu o Nhoca?

Nhoca era muito conhecido! O nome dele era José Vicente, era cego de um olho. Benzia todo mundo, pessoas, animais, cavalos! Vinha gente de longe para ser benta por ele. A mulher dele era Dona Idalina. Eram pais de dois filhos.

O Manoel Castilho era morador do bairro quando você mudou-se para cá?

Ele já morava na Paulista. Ele fazia sapato, colocava meia sola, era um sapateiro muito habilidoso. Onde é hoje a Igreja Assembléia de Deus existiam duas casas, foi o Nino Ferreiro quem vendeu para a construção da igreja. Mais a frente morava uma senhora italiana a Dona Lucrecia. Onde foi a Alvarco existia uma casinha no fundo.

Onde hoje é a loja Capital o que era antes?

Antes da Antonieta adquirir a propriedade e construir a Boutique Antonieta, era um imóvel de propriedade de Crispim Durrer, um terreno com muitos pés de banana. A casa onde mora Benedito Baglione foi construída por Alcides Fornazier. Estudei com Valdemar Fornazier no Zanin. O bonde tinha como ponto final em frente a Padaria Cruzeiro, quase em frente onde hoje é o Toninho Lubrificantes. Quando o bonde vinha no sentido do bairro para o centro, isso á noite, víamos o farol aceso que se aproximava, eu e o Valdemar corríamos bastante para poder pegar o bonde em frente a Estação da Paulista., e assim ir para a escola. Corríamos o máximo que conseguíamos e pegávamos o bonde correndo. Onde hoje é o posto Petrobras, na esquina da Avenida Dr. Paulo de Moraes com Rua do Rosário, tinha o bar da Dita Pé Grande, quando voltamos da aula parávamos ali, onde tomávamos uma cerveja caracu com pão.

Quando você veio morar na Paulista, em 1948 havia água encanada?

Não existia! A água era tirada de poço. A água era puxada do poço com uma corrente de ferro, de vez em quando quebrava, tinha que ficar pescando a corrente no poço. O fogão era a lenha.

A Avenida Dona Jane Conceição terminava onde?

O fim dela era onde hoje é a Rua Campinas. Dali em frente era plantação de cana de açúcar. A Avenida Madre Maria Teodora era a rua com mais movimento, depois havia apenas algumas casinhas dispersas. Era tudo propriedade da família Conceição.

Na esquina da Avenida Da. Jane Conceição com a Rua do Rosário, onde hoje existe uma farmácia Drogal existia o que?

Era uma sapataria! Onde hoje estão os bancos do Brasil e Itaú havia duas casinhas.

Qual era seu esporte preferido?

Eu tinha um timinho de futebol, União paulista, todo domingo jogávamos.

Onde era a sede do time?

Em cima do caminhão! O Pitão era o treinador.

Em que posição você jogava?

Não tinha posição determinada, já usávamos chuteira. Íamos jogar em muitos lugares.

Você gostava de passear quando era jovem?

Eu saia passear todas as noites.

Como era a história do Porunga?

Porunga era nosso amigo, um vira lata pequeno. Eu tinha uma cestinha, escrevia um bilhete fazendo o pedido que queria e ele ia até o açougue. A vantagem é que pelo fato de ele ser pequeno, entrava entre as pernas dos clientes e era o primeiro a ser atendido pelo açougueiro. A cestinha não era amarrada e sim presa por ele entre os dentes. Ninguém conseguia tirar essa cesta dele. Ele trazia o pedido que estava escrito no papel. O mais interessante é que ele nunca mexeu na carne, o açougueiro era o Rubens Zillio. Infelizmente o Porunga um dia morreu atropelado por um carro na esquina da Rua Sud Mennucci com a Avenida Dona Jane Conceição.

Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição, onde hoje existe uma diversidade de lojas era um terreno vazio, que era usado para lazer?

Ali se apresentavam circos, eram instalados parques de diversões, e até comícios políticos foram feitos nesse local. Um dos circos que esteve aqui foi um grande cliente meu de fitas de tecido. Era fita número 5, o palhaço enchia a boca de fita e ia tirando, pareia que não ia terminar mais, a molecada vibrava. Ali onde hoje é a caixa d`água na Praça Takaki passava um caminho de terra que ia até perto da estação. Existia a carregadeira de boi, hoje uma área fechada ao público, ao lado do Restaurante Frios Paulista, os bois eram conduzidos pelas ruas, fechavam-se os portões das casas para evitar que eles entrassem. Um dia um boi escapou na hora da saída do pessoal da missa, esse boi desceu a Rua Alferes José Caetano causando uma grande polvorosa.

Lembra-se da Chácara Nazareth quando ainda não tinha sido loteada?

Lembro-me sim. Eu tinha uma namorada que morava lá embaixo, próximo a sede. Eu tinha que levá-la até lá, á noite, no meio daquele bosque escuro, era uma caminhada memorável.

O senhor fuma?

Eu fumava cigarros industrializados e cigarro de fumo de corda. Fiz uma bateria de exames médicos, após isso passei a fumar só cigarro de fumo de corda. O fumo da nossa região, o fumo do Bairrinho é um fumo fino, o fumo Arapiraca é um fumo mais grosso. É interessante observar que hoje a palha de milho em que é enrolado o fumo é mais cara do que o próprio fumo.
 
 
 

                                                    JORGE RASERA CORTANDO FUMO DE CORDA PARA FAZER SEU CIGARRO DE PALHA DE MILHO
Você tinha uma bicicleta?

Andei muito de bicicleta, tinha uma de marca Philips, preta, eu a comprei quando ainda era mocinho. Todo domingo aos o almoço ia andar de bicicleta, ia lá para o Taquaral.

Você acompanhava os jogos do XV de Novembro?

Fiz muitas viagens acompanhando os jogos do XV. Uma delas foi marcante. Fui á São Paulo assistir a um jogo do XV contra o Paulista de Jundiaí. O XV perdeu o jogo. Eu e o falecido Alcides Saipp conseguimos uma carona para voltar á Piracicaba, era uma pessoa que estava de caminhonete. Não marquei o tempo que levamos para chegar, mas acho que ele fez o percurso em uma hora de viagem. Foi uma viagem de terror! O motorista estava revoltado com a derrota do XV. Quando chegamos á Piracicaba, e descemos do veículo demos graças a Deus.

O Milton Novello foi um personagem folclórico da Paulista?

Ele era mecânico, tinha uma grande facilidade para divertir-se e divertir os outros. Criava situações cômicas, como arrancar minhoca do solo com eletricidade. Havia um farmacêutico no bairro, que sofria de deficiência auditiva, o Milton arrumou uma boneca grande, embrulhou em um xale, pediu ao farmacêutico que medisse a temperatura da “criança”, que estava toda embrulhada. Após uma demorada aferição, o farmacêutico deu o diagnóstico: “Não tem febre nenhuma!”. Para espanto e horror do farmacêutico Miltinho jogou a “criança” no chão, deixando aparecer que se tratava apenas de uma boneca! Na feira livre havia um japonês muito zeloso com suas frutas, e ficava bastante contrariado quando alguém as apertava para testar a maciez. O Miltinho que tinha amputado parte de um dedo resolveu fazer uma brincadeira. Vendo um mamão muito bonito, apenas encostou a ponta do dedo amputado na fruta, dando a entender que tinha enfiado parte do dedo no mamão. Chamou o japonês e disse-lhe: “Esse mamão está bem mole né!” Furioso o proprietário usou todo o seu vocabulário de impropérios, até o Miltinho mostrar que a fruta estava intacta. Outro da família Novello era o Zico Novello, ele conseguia matar (desligar) o motor de um caminhão apenas encostando os dedos no contato elétrico de alta voltagem.

MATERIAL NECESSÁRIO PARA "PITAR" UM CIGARRO DE CORDA









sábado, fevereiro 27, 2010

RUBENS LEITE DO CANTO BRAGA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de fevereiro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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Rubens Leite do Canto Braga e sua esposa Maria Cleusa Gatti Braga



Pin do famoso "A" Encarnado da ESALQ- Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz



Pin da campanha de JK em 1965



Rubens Braga e equipe de veteranos, verdadeiras feras do basquete! Entre eles agachados, da esquerda para a direita o segundo é Gustavo Jacques Dias Alvim e o ultimo é o lendário Pecente.
ENTREVISTADO: RUBENS LEITE DO CANTO BRAGA
O Prof. Rubens Leite do Canto Braga tem presença marcante na vida esportiva de Piracicaba. Conviveu e trabalhou com verdadeiras lendas do esporte como Maria Helena, Heleninha, Delcy, Zilá, Angelina, Magic Paula, Branca, Pecente, Vlamir. O seu desempenho na política o tornou protagonista de uma série de fatos relevantes da história recente da Noiva da Colina. Rubens Braga juntamente com o prefeito eleito, mas ainda não empossado, Dr. Adilson Benedito Maluf, voaram juntos com o presidente mundial da Caterpillar na ocasião em que ele veio até a nossa cidade para escolher o local aonde seria implantada a unidade de Piracicaba. Como vereador atuou por treze anos na Câmara Municipal, sendo por duas vezes o seu presidente. É autor de inúmeros projetos, entre eles da criação da Guarda Mirim, uma instituição que tem formado muitos jovens, que passaram por ela e hoje são pessoas de grande destaque na sociedade em que convivem. Propôs projeto de lei que autoriza o município a dar incentivos fiscais para a atração de novas indústrias, proporcionando o aparecimento do Primeiro Distrito Industrial de Piracicaba. Por sua iniciativa foi criado o COMEDI- Conselho Municipal de Desenvolvimento Industrial, do qual foi vice-presidente, e que foi um órgão responsável pela vinda de grandes indústrias para Piracicaba. Foram atitudes corajosas, na época havia a predominância de empresas locais que não viam com muita simpatia a vinda de novos postos de trabalho. Nos anos 70, o Prof. Rubens Braga apresentou o projeto que deu a origem a leis que criaram, por exemplo, o Corpo de Vigilantes do Meio Ambiente, onde através da criança levava aos adultos a compreensão da preservação da natureza cuidando dos rios, fontes e lagos, dos animais, do hoje tão decantado verde. Isso em uma época em que nem se falava em ecologia! É de sua autoria o projeto que aprovou o plano de implantação do Sistema de Áreas Verdes do Município, bem como o que dispõe sobre a Industrialização do Lixo. O Velório Municipal surgiu de projeto de sua autoria, assim como outros projetos: o uso do taxímetro nos chamados de “carros de praça”, hoje conhecidos como taxi; a criação da Drogaria Municipal; dos Centros de Recreação Populares, construídos em grande número pela atual administração; a lei de Auxílio aos Clubes Esportivos Amadores da Cidade, que vigora desde 1966; o decreto lei que estabeleceu o “Dia do Médico” no âmbito municipal, e organizando o concurso literário alusivo a data. No exercício do seu cargo recepcionou o então presidente da república Emílio G. Médicci, os governadores Abreu Sodré, Laudo Natel (de quem é amigo próximo). Rubens Braga pratica até hoje o basquetebol, em sua categoria, participando de campeonatos que são realizados pelo Brasil afora. Atualmente ele está elaborando um livro sobre o basquetebol em Piracicaba. Meticuloso, ele procura preservar a história do esporte com sua coleção de selos temáticos. Possui uma das mais representativas coleções de pequenos botons de lapela, chamados de pin, e que foram feitos por times de futebol, políticos, indústrias automobilísticas. Foi locutor e comentarista esportivo na Rádio Educadora de Piracicaba, com o programa “A Opinião de Rubens Braga” e por um breve período na então Rádio “A Voz Agrícola”. Foi um dos fundadores da Associação dos Cronistas Esportivos de Piracicaba. Recebeu um grande número de títulos e homenagens concedidos pelo seu trabalho. Rubens Braga tem uma vida dinâmica e participativa, com grande e representativa folha serviços prestados á Piracicaba.

APÓS TER VOADO PELA CIDADE PARA ESCOLHER A ÁREA ONDE FOI INSTALADA A CATERPILLAR EM PIRACICABA, FORAM TOMAR UMA REFEIÇÃO.
Da esquerda para a direita: Rubens Leite do Canto Braga, o então Presidente Mundial da Caterpillar Mack Vehriden, o prefeito eleito Adilson Benedito Maluf, o famoso fotografo piracicabano Idálio Filetti, na extremidade direita Quartim Barbosa.


O senhor é piracicabano?
Nasci em Piracicaba, no dia 23 de novembro de 1929. Sou filho de Ernani Leite do Canto Braga, farmacêutico, professor da antiga Faculdade de Odontologia e Farmácia “Washington Luiz” que funcionava no prédio onde hoje é o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes. Ele atuou como jornalista, sendo redator chefe do “Diário da Manhã”, foi colaborador do Jornal de Piracicaba e “O Estado de São Paulo”. Minha mãe, Maria Ferraz de Toledo Braga, conhecida pelo cognome de dona Mariquinha Mó, foi uma das primeiras piracicabanas a formarem-se pela conceituada escola Caetano de Campos localizada em São Paulo. Foi professora na Escola Normal de Piracicaba, hoje denominada Sud Mennucci. Lecionou também em um dos mais eficientes cursos preparatórios, o Curso de Admissão ao Ginásio. Meu avô materno era conhecido como Nho-Nhô Mor, isso em decorrência da origem da minha família que descende de capitães mor. Sou descendente do primeiro presidente da câmara municipal da Vila Nova da Constituição, como era então conhecida a cidade de Piracicaba. Ele era capitão mor e seu filho que foi o segundo presidente também era capitão mor. Com o tempo a letra erre do “mor” deixou de ser pronunciada e passou a ser apenas “mó”.
Quantos filhos os seus pais tiveram?
Éramos três filhos, dois homens e uma mulher. Meu irmão Arnaldo Braga é um ano mais velho do que eu, é dentista e ainda trabalha! Parece-me que seus clientes são contemporâneos que se acostumaram com seu atendimento! Minha irmã, Iolanda Braga Rodrigues Coelho já é falecida.
Como farmacêutico Ernani Leite do Canto Braga manipulava fórmulas?
Entre os medicamentos que ele produzia havia um tônico muito conhecido na época, chamava-se Biogol. Para cefaléia tinha a Sorbelina. Conheci esses remédios porque sobraram em minha casa, cheguei até a tomar o fortificante Biogol. Meu pai faleceu quando eu tinha apenas 1 ano de idade. Minha mãe era professora na Escola Normal, onde lecionava em todas as disciplinas. Quando houve a necessidade de fazer a opção por uma matéria a ser ensinada, por influência do professor Francisco Godoy, que chegou a ser secretário da educação do município de Piracicaba, ela fez a opção de lecionar educação física. Francisco Godoy incentivou-me a estudar educação física, jogou como meia-esquerda do XV de Novembro, ele foi campeão do interior de futebol em 1936. Desde criança eu já tinha uma forte tendência para praticar atividades lúdicas e competitivas, desde a bolinha de gude, futebol com bola de meia, jogo de futebol de botão. No curso ginasial participei da organização desportiva, ajudando na formação de campeonatos internos, organização da equipe juvenil para representar a Escola de Agronomia, o famoso “A” encarnado, no campeonato da Liga Piracicabana de Futebol.
Como foi ingressar na Faculdade de Educação Física da USP?
O curso de Educação Física só existia nessa escola, que era ainda a Faculdade de Educação Física do Estado de São Paulo, que funcionou inicialmente no Pacaembu e mais tarde foi para o Espéria, um local onde havia infra-estrutura para prática de atletismo, natação. Na ocasião éramos quatro estudantes de Piracicaba, e constituímos uma república onde moramos, um desses estudantes é o Francisco de Assis Carvalho Ferraz, conhecido como Chiquinho ou ainda Rosquinha. Outros dois estudantes piracicabanos eram o Gad Aguiar e Francisco Mezzacappa. Ainda criança eu recebi o apelido de Bolacha, foi adotado por mim para poder jogar futebol contrariando a opinião da minha mãe que não queria que eu praticasse esse esporte. Eu jogava no melhor juvenil da cidade, a equipe formada pelo médico Dr. Manoel Gomes Tróia, o Juvenil Horizonte. Quando fui estudar em São Paulo, jogava no Juvenil da Agronomia. O XV de Novembro de Piracicaba ao entrar para a divisão profissional, a federação exigiu que os clubes tivessem um quadro de juvenil. Havia a necessidade de compor um time de futebol no mesmo nível para disputar as partidas de futebol, a Liga Piracicabana de Futebol, cujo presidente era Vicente Marino, criou o campeonato juvenil da cidade, todos os clubes amadores da cidade montaram o seu quadro de futebol juvenil. A ESALQ, rival do XV de Novembro, não tinha como compor um time de futebol juvenil, os jogadores do quadro principal eram os estudantes de agronomia. Através do Grêmio Normalista da Escola Normal comecei a administra esporte, fazendo o Juvenil da Agronomia. Eu jogava como ponta direita ou ponta esquerda e era o dirigente do time. A camisa era emprestada da Agronomia.
A república dos quatro estudantes de Piracicaba ficava em que bairro de São Paulo?
Situava-se no bairro Santa Ifigênia. Para ir até a faculdade que funcionava no Espéria eu apanhava o bonde, ia pela Rua Turiassu, até a Ponte Grande hoje Ponte das Bandeiras. Joguei muito voleibol no Espéria e no Tietê. Eu gostava mais de futebol e futebol de salão. Um dos alunos que jogava no Espéria achou que eu tinha toque de bola muito bom, me convidou para jogar na Associação Atlética Floresta, nome adotado pelo Espéria no período da guerra. Participei de diversas modalidades esportivas como futebol, basquete, vôlei, hand e atletismo. No voleibol defendi as equipes do Floresta, do C. A. Paulistano, Tietê, São Paulo F.C.
Onde foi seu aprendizado de natação?
Para poder fazer a faculdade de educação física eu fui obrigado a aprender a nadar na piscina do Colégio Piracicabano, era uma piscina com 22 metros comprimento, ao lado havia um rinque de patinação, uma quadra de tênis, quadra de basquete. Era uma área enorme, situada á Rua do Rosário.
De quanto tempo foi a sua permanência em São Paulo?
Permaneci morando lá por 10 anos. Após terminar meu curso de graduação permaneci por mais quatro anos na USP, especializando-me em Técnicas Esportivas, nas modalidades de Futebol, Atletismo, Basquetebol e Voleibol, ao mesmo tempo em que apitava jogos colegiais, universitários como Pauli-Poli, Mack-Medi, tornando-me Secretário Geral da Federação Paulista de Voleibol. Os dirigentes do Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo o DEFE, tiveram sua atenção despertada para o trabalho que eu vinha realizando. O Major Sylvio de Magalhães Padilha foi convidado a trabalhar no DEFE como responsável pela organização do esporte amador no Estado de São Paulo, foi Presidente do Comitê Olímpico. Ele me viu apitando jogos, arrumando quadras para as partidas, marcar pistas para atletismo na ocasião do Troféu Brasil, foi quando me convidou para trabalhar no DEFE.
Após o casamento da Iolanda, sua irmã, ocorreu a sua mudança de domicilio?
Ela casou-se com um paulistano, eu passei a morar com eles, em seguida meu irmão foi cursar odontologia, minha mãe aposentou-se e foi morar em São Paulo, passamos a morar no Tucuruvi. O Mendonça Falcão nomeou-me professor de educação física no colégio Albino Cezar, no Tucuruvi. Foi o primeiro colégio em que dei aulas.
Quando funcionário do DEFE foi organizado jogos?
A Secretaria tinha uns 15 funcionários técnicos desportivos, nós organizávamos os campeonatos colegiais do Estado de São Paulo, Jogos Abertos do Interior. O Major Padilha mandava os técnicos para cidades do interior com o objetivo de orientar os técnicos da localidade visitada. Nós chamávamos aqueles que iam nessa missão de “Bandeirantes da Nova Geração”. Os técnicos que eram casados não gostavam de viajar, como eu era bem jovem, solteiro, acabava viajando muito para o interior do Estado. O meio de locomoção mais utilizado era o trem, o governo fornecia os passes para as viagens.
Como era o basquetebol de Piracicaba?
Sempre foi bom! Talvez o fato da Escola de Agronomia Luiz de Queiroz atrair estudantes de outras cidades, vinha pessoas com conhecimentos em diversas modalidades de esportes. O Clube Regatas funcionava muito bem. Naihim Coury de Mello professor de educação física do Mackenzie veio á Piracicaba, isso em 1942, quando fomos campões dos Jogos Abertos, graças a presença de um técnico competente. Piracicaba sempre foi muito expressiva no futebol e no basquete.
Como foi defender a camisa do São Paulo Futebol Clube?
Eu treinava futebol diariamente no DEFE, fui jogar no São Paulo, que na época tinha o Estádio do Canindé, hoje pertencente á Portuguesa. Ocorreu um fato interessante nessa época, no dia da colocação da pedra fundamental do Estádio do Morumbi, o Major Padilha, como o ma maior autoridade do esporte no estado deveria estar lá representando o DEFE. Uma forte gripe o impediu de ir, ele me pediu que fosse em seu lugar. Como sãopaulino eu fui muito orgulhoso da missão. Tive a felicidade de ver ser colocada a pedra fundamental do Estádio do Morumbi, um local que ficava a quilômetros do centro da cidade, na época era só mato! Pensei o que será que vão fazer nesse mato? Monsenhor Passos, Porfírio da Paz, Cícero Pompeu de Toledo, Laudo Natel, eram alguns dos presentes. Hoje além do Estádio do Morumbi, esta lá o Palácio do Governo, e é um dos locais onde os imóveis têm valor expressivo. Cabe ressaltar que o Major Padilha foi atleta, um dos primeiros brasileiros a se classificar para uma olimpíada, correndo 400 metros com barreira.

ISAIAS GERMANO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de janeiro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ISAIAS GERMANO
com o capacete de proteção e o jaleco da FEPASA
ENTREVISTADO: ISAIAS GERMANO
Isaias Germano é piracicabano, filho, neto de ferroviários, nasceu no dia 30 de janeiro de 1939, na Vila Saraiva que ficava na Avenida Armando Salles entre a Rua Prudente de Moraes e Rua 13 de Maio, onde hoje só tem prédios comerciais, havia uma série de casas antigas. É um dos 15 filhos de Sudário Germano e Joana Leite. Seu pai após ficar viúvo casou-se em segundas núpcias e teve mais 13 filhos. Pelo lado paterno Isaias teve 27 irmãos, incluindo 2 que faleceram logo após o nascimento. Esportista, defendeu a camisa de três importantes times de futebol amador de Piracicaba: Vera Cruz, Regente Feijó, Unidos Clube, Palmeirinha, E. C. São João da Montanha. Seu pai trabalhou na via permanente da Estrada de Ferro Sorocabana, como guarda-passagem, ou guarda-nível, assim era denominado o responsável pela cancela que impedia o transito de veículos e pedestres quando o trem se aproximava. Cada rua por onde a linha do trem cruzava havia uma porteira de madeira que corria sobre um trilho, acionada pelo guarda. Seu pai trabalhava na Rua Voluntários de Piracicaba. Isaias trabalhou na equipe de trem de ponte, onde ocupou o cargo de chefe. Casou-se em Piracicaba, com Eunice Almeida Germano, filha, neta de ferroviários.

Como o guarda-passagem sabia que deveria fechar a porteira?

Na guarita onde ficava o guarda, havia uma campainha que tocava quando o trem partia da estação, alertando os guardas da aproximação da composição. O controle era feito pelo tempo que o trem levaria para chegar e pela visão. A noite quando trem estivesse a uma distancia de uns trezentos metros já poderia ser fechada a porteira.
 
 
Isaias Germano com o lampião utilizado pelo seu pai para sinalizar a passagem do trem

O que era “socar-linha”?

Era assim que se denominava o trabalho na via-permanente. Naquele tempo era tudo feito na moqueca, no braço mesmo. Tirar dormentes, nivelar a linha, era feito com a picareta, não havia máquinas.

Quais madeiras eram mais utilizadas para fazer os dormentes onde eram assentados os trilhos?

Eram usados dormentes de peroba. No trecho nosso aqui não havia dormente de eucalipto. Nos últimos tempos da ferrovia havia uma usina de tratamento químico de dormente, com caldeira. A linha era toda de terra, não havia a utilização de pedras britadas entre os trilhos, como mais tarde passou a existir. Ás vezes era socado quinhentos metros de linha, se a noite chovesse era necessário fazer todo o trabalho novamente.

Em que ano o senhor ingressou na Estrada de Ferro Sorocabana?

Foi em 1963, eu tinha 22 anos de idade, parei de jogar futebol para trabalhar na Sorocabana.

O senhor estudou onde?

Estudei no Grupo Escolar Moraes Barros. A minha primeira professora foi Dona Edith, fui aluno da Professora Dijanira casada com Sr. Nestor, ambos são pais da Professora Marly Therezinha Germano Perecin, lembro-me que a Dona Joana, sua avó materna, gostava muito de mim. Frontino Brasil foi diretor da escola, lembro-me do Professor Perpétuo.

Quais eram os locais do centro que eram mais freqüentados pelo senhor na sua juventude?

Eu era ainda bem moço, gostava de freqüentar a Brasserie, Gioconda, Sorveteria Paris que ficava na esquina da Rua Prudente de Morais com a hoje Praça José Bonifácio, local que veio a ser ocupado pelo Banco Safra.

Como foi a sua participação no futebol do Vera Cruz?

Silvio Alarcom, irmão de Manoel Lopes Alarcom, foi praticamente quem fundou o time de futebol Vera Cruz, compondo os quadros infantil, juvenil e amador. No tempo em que joguei no Regente Feijó, quem tomava conta do time era Roberto Canoa, professor universitário.

Em que posição o senhor jogava?

Eu era centro-médio, hoje equivale hoje a posição de quarto zagueiro.

O senhor era um craque?

Não era! Tinha gente que jogava melhor do que eu. Eu tinha vontade própria, jogava com amor a camisa dos times em que participei, não ganhava nada para jogar, o meu uniforme eu levava para ser lavado na minha casa. O uniforme do Vera Cruz era como é atualmente, branco com faixas prestas. O uniforme do Regente Feijó era camisa zebrada, branca, vermelha e preta. Um grande técnico de futebol era do Unidos Clube, chamava-se Enio Mônaco. Era um time muito bem organizado, unidos mesmo. O segundo quadro em 1957 além de Enio Mônaco como treinador, era composto por alguns nomes como: Airton, Abe, hoje cirurgião dentista, Chico Pio mais tarde dono do famoso Pastelão, José Nascimento, Ademar Pavaneli, Heitor Zipe, Du, Homero, Toniquella, Zuza, Caipira, Lefon, Nelson, Neno. Os jogos eram realizados no Estádio El Tigre, onde atualmente é o Pão-de-Açucar, no Bairro Alto. Nós chamávamos o campo de “ralador”, não tinha nenhuma grama plantada, só havia a piçarra, quando chovia a bola passava a ter o dobro do peso! Em 1957 jogamos uma partida contra o time Progresso, cujo presidente era Felício Maluf, e ganhamos marcando 6X1.
 
 
Isaias Germano, capitão do time de futebol Unidos Clube, campeão de futebol amador em 1957.
Em pé, o terceiro atleta da esquerda paraa direita é o conceituado cirurgião dentista Dr. Antonio Abe


Como foi prestar o serviço militar?

Servi em Piracicaba, no Tiro de Guerra, que ficava no Largo da Sorocabana, onde hoje é o Terminal de Ônibus, no local onde hoje estão os camelôs. O armazém da Sorocabana ficava em frente.

Com que idade foi o seu primeiro trabalho?

Ainda moleque, saia da escola e ia trabalhar em uma oficina de artesanato. Aos 12 anos de idade já estava trabalhando como ajudante de encanador, o meu patrão era Erasmo Diehl, quinzista roxo, que mais tarde veio a falecer durante um jogo do XV de Novembro, no campo de futebol da Portuguesa Santista, em Santos. Dali eu fui trabalhar na Estrada de Ferro Sorocabana.

Trabalhou com sifão de pia ainda feito em chumbo?

Não havia encanamentos em PVC, ou plásticos. O encanamento era feito com ferro fundido e chumbo. Esgotos eram todos em ferro fundido, para fazer as curvas com o cano de chumbo era necessário primeiro enche-lo com areia, se curvasse vazio ele amassava. A areia tinha que ser muito seca, ás vezes tinha que ser colocada no fogo para secar. Na tubulação de esgoto com ferro fundido de 4 polegadas, as emendas eram feitas com o chumbo derretido.

Como foi a sua admissão na Sorocabana?

Prestei concurso para entrar na via permanente. Trabalhava na “soca” da linha, batia o bico da picareta para tirar o dormente, que era arrastado dessa forma. Entrei como trabalhador de linha, fui promovido a encanador. Trabalhei com o trem de ponte, era uma turma que trabalhava só com pontes ferroviárias, fazia reformas e pinturas de pontes. Era necessário ter carpinteiro, encanador, eletricista. As pontes em sua grande maioria eram feitas em madeira, o marceneiro era quem entalhava a madeira, seno a peroba e o ipê as mais utilizadas.


O trem passava sobre as pontes de madeira?

Eram vigas de 40X40 centímetros. As estacas eram erguidas pelo guindaste, que também tinha um dispositivo, o martelo, para enterrá-las no solo. Cheguei a bater estacas com 18 metros sobre leito de rio, na ponta era colocado um capacete de ferro, uma cuia, que se atingisse uma pedra não se deslocasse.

De Piracicaba á São Paulo quanto tempo demorava a viagem pela Sorocabana?

Levava de 12 a 13 horas de viagem. Quem trabalhava na Sorocabana se viajasse pela Companhia Paulista tinha que pagar uma diferença, além de preencher uma requisição.

Como era composto o trem de ponte?

A tração era feita por uma locomotiva, inicialmente a vapor, nos últimos anos era uma máquina a diesel. Havia o vagão de cozinha, o dormitório, de ferramentas e um vagão gôndola. Nos anos mais recentes as estacas passaram a utilizar trilhos, eram três trilhos soldados em forma de triângulo. Se fosse um serviço de emergência eram utilizadas estacas de eucaliptos.

O que era “troca-truque”?

Um dispositivo para passar de bitola larga para bitola estreita e vice-versa. Foi muito utilizado na FEPASA, que unificou várias estradas de ferro do estado. Nós batemos estacas para fazer o lugar próprio para esse trabalho, fizemos isso em Campinas, em Bauxita, em Bauru. O trem chegava pela bitola estreita, era suspenso o vagão, saía a bitola estreita e entrava a larga. Isso era feito só para vagão, carregados ou vazios, carro de passageiros não.

A correspondência que chegava pelo trem como eram transportadas?

Naquele tempo era feito o transporte por carroças. A família do Cardoso Monteiro que jogava no XV de Novembro, eram funcionários da Companhia Paulista e do correio. A família Monteiro trabalhava no correio.

Havia alguns ciúmes entre os funcionários da Companhia Paulista e os da Estrada de Ferro Sorocabana?

Eles tinham ciúmes de nós! O salário da Sorocabana era maior! Eles eram “mais bonitos” porque o trem deles corria dentro do horário, o nosso não cumpria rigorosamente o horário, mas tinha a maior linha de trem! A Sorocabana tinha mais de 5.000 quilômetros de linha.

Lembra-se do episódio em que o Dr. Francisco Salgot Castillon participou junto com os funcionários da Sorocabana?

Lembro-me sim, durante a primeira greve eu não era funcionário ainda. Na segunda greve que houve eu já trabalhava na empresa. Não cheguei a assistir o episódio em que Dr. Salgot participou, mas lembro-me do fato.

Como eram os comícios do ex-governador Adhemar de Barros?

Ele esteve realizando comícios em Piracicaba, conseguia empolgar o público.

Ao quadrar o jardim havia uma determinada área ocupada por determinados grupos?

Havia sim, uma área delimitada pelos próprios ocupantes do local, ao passear quadrando o jardim entre os diversos grupos e setores percorridos, os negros faziam o trecho da Rua Governador, Rua São José, Praça José Bonifácio e Rua Moraes Barros.

O famoso Bar do Buriol antes de ser na Rua Boa Morte era onde?

Ficava na Rua Voluntários de Piracicaba, esquina com a Rua Benjamin Constant, o prédio existe até hoje.

Onde era o Hotel Paulista?

O prédio foi derrubado, ficava na Rua Boa Morte, esquina com a Rua Joaquim André, em frente onde hoje é a Padaria Asságio.

Teve um episódio muito interessante e com final feliz, quando um vagão tombou, dentro da cidade?

Ocorreu com um vagão carregado de açúcar, vinha da Usina Costa Pinto, no meio da passagem de nível ele saiu do trilho, correu sobre os dormentes e tombou. Por sorte o vagão desengatou-se da locomotiva, caindo em um lugar vazio, entre as casas que estavam aos lados. Algumas crianças brincavam nas proximidades da linha de trem, um dos meninos cavou, fazendo um buraco até a cabeceira do dormente. Quando ele percebeu que o trem ia tombar, entrou embaixo, na cavidade que ele tinha feito, ficou preso ali, como se estivesse em uma gaiola. Foi um desespero muito grande, todos achavam que tivesse morrido. Ele está vivo até hoje! Foi uma grande correria para tirar a criança, até que meu pai o tirou de lá.

Onde o trem da Sorocabana jogava lixo?

Um pouco para frente de onde hoje é o viaduto da Rua Governador Pedro de Toledo, sobre a Avenida Armando Salles de Oliveira. Era feita a limpeza da estação, recolhidas as cinzas, estopas, ali havia um local que sempre estava desbarrancando, uma locomotiva trazia um vagão gôndola com o que deveria ser jogado no lixo. O encarregado pelo depósito era Juvenal Gallendi, nosso vizinho na Rua 13 de Maio, ele parava o trem, nós éramos crianças, subíamos em cima do vagão e íamos ajudá-lo a descarregar, com pás. Éramos dez ou doze moleques que íamos pelo prazer de passear de trem. Isso acontecia a cada 15 ou 20 dias.

Ao longo da linha havia casas dos funcionários da ferrovia?

Onde havia uma colônia de casas de ferroviários era dado um número. O avô da minha esposa, Manoel Marcelino de Almeida era mestre de linha, morava na Turma 18, as casa existem até hoje, ficam atrás onde hoje é o Atacadão Munhoz, na Avenida 31 de Março. No local onde hoje funciona o Pronto Socorro da Vila Rezende, havia a Turma 19. No pátio da Usina Costa Pinto era a Turma 21. Eu fui trabalhar era a Turma 26, quase na divisa com o município de São Pedro.

A Estrada de Ferro Sorocabana tinha quantos túneis na descida da serra para Santos?

Eram 21 túneis! A manutenção dentro de um túnel é feita da mesma forma que era feita fora dele, apenas tinha que ser providenciada a iluminação. O projeto original era para ser construída uma segunda linha, que nunca foi feita, o que de fato existiu foi um terceiro trilho, possibilitando o trafego de trens com bitolas (distâncias das rodas) diferentes.

A FEPASA encampou os funcionários da Sorocabana em que ano?

Passei a ser funcionário da então FEPASA em 1971, em 1979 passei a ser o Chefe do Trem de Ponte.

O trabalho com o guindaste do Trem de Ponte é muito perigoso?

Eu tinha a habilitação para operar o guindaste, é um serviço muito perigoso, principalmente se for um trabalho na curva da ferrovia, a lança do guindaste tinha 11 metros de comprimento, se perdesse o equilíbrio poderia tombar e arrastar todos nós que estávamos trabalhando.






VALDIZA MARIA CAPRANICO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/


                                          Presidente do IHGP Dr. Pedro Caldari e Profa. Valdiza Maria Capranico
ENTREVISTADA: VALDIZA MARIA CAPRANICO
O ser humano comunica-se com seus semelhantes através dos órgãos dos sentidos, o que o leva a transmitir e a receber mensagens dos mais variados tipos: visuais (imagens, pinturas, filmes, sinais, mímicas), auditivas (músicas, ruídos, fala), táteis (sensações). Os símbolos de uma cidade conferem-lhe identidade própria, devem ser próprios da cidade, ter uma história. As professoras Marly Therezinha Germano Perecin e Valdiza Maria Capranico em uma feliz parceria desenvolveram um projeto para resgatar os símbolos que conferem a identidade própria á Piracicaba. Na busca de parceiros para essa empreitada o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba encampou a iniciativa, recebendo o apoio imediato de instituições com relevantes serviços prestados á Piracicaba, como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz através do seu diretor Prof. Dr. Roque Dechen, a Secretaria Municipal de Defesa do Meio Ambiente pelo intermédio do secretário Francisco Rogério Vidal e Silva, Acipi Associação Comercial e Industrial de Piracicaba presidida por Jorge Aversa Júnior, órgãos da imprensa, como A Tribuna Piracicabana com o apoio do seu diretor Evaldo Vicente. Pela importância do projeto e pela sua amplitude ocorre a participação de todas as forças vivas de Piracicaba que se consideram capazes em contribuir, por menor que seja a sua colaboração. A profa. Valdiza Maria Capranico concedeu a entrevista, com a apresentação do Presidente do IHGP Dr. Pedro Caldari.
Como o IHGP vê esse projeto presidente Pedro Caldari?

A participação do IHGP nesse projeto vem ao encontro de suas próprias raízes. A natureza faz parte da própria história do homem. A fundação de Piracicaba está relacionada com uma árvore, o tamboril, buscou-se este sítio em função da árvore para a produção de barcos, na época os barcos eram os veículos de transportes e os rios eram as estradas percorridas. Curiosamente o Rio Piracicaba tem o seu curso do litoral para o interior. Uma questão que gera divergências entre os estudiosos e especialistas diz que o maior volume de água é do Rio Piracicaba, sendo o Rio Tietê seu afluente e não o Rio Piracicaba afluente do Rio Tietê!

Quando garoto, o senhor subiu em um pé de tamboril?

Não me lembro! Quando éramos crianças, sabíamos identificar muito bem as árvores frutíferas! Recordo que subíamos e descíamos em abacateiros, mangueiras, nas laranjeiras apesar dos espinhos, mamoeiros, enfim toda espécie que produzisse frutos saborosos.

Qual é a importância desse projeto para o IHGP?

Para o IHGP essa proposta colocada em pauta pelas Profas. Valdiza e Marly, abriu um leque de novas atividades, voltadas para o meio-ambiente, uma integração. Estamos abordando aspectos da flora e automaticamente da entramos na fauna da região. A ave símbolo de Piracicaba é o curió, isso foi oficializado através de lei municipal. Particularmente como vilarezendino e amante de pássaros desde a minha infância, considero o papa-capim como espécime mais representativo em nossa região, mesmo considerando que o curió seja uma magnífica ave, mais valorizada pelos aficionados por pássaros. Iremos a busca da segunda, terceira árvore representativa da nossa região, do peixe, dos animais mamíferos representativos para Piracicaba.

A onça-pintada, o tatu, são espécimes em extinção na região de Piracicaba?

É em decorrência da degradação do meio ambiente. O tamboril pelo fato de ter sido praticamente extinto em determinado período, deixou de produzir o seu fruto que serve de alimentação ao veado. Por sua vez a onça que se alimentava do veado também entrou em processo de extinção. Esperamos que com o replantio do tamboril, voltemos a ter as onças pintadas.

Valdiza Maria Capranico, onde realizou seus estudos?

Fiz os meus primeiros estudos em Piracicaba, cursei a faculdade de história natural em Santos. Sempre gostei da natureza, problemas ambientais. Logo que passei a lecionar tive meu interesse despertado pela ecologia, isso há uns 30 anos. Como bióloga, mergulhei de cabeça no assunto. Em toda a minha carreira profissional realizei inúmeros cursos relativos á área do meio ambiente.

Qual grande nome do paisagismo foi seu conhecido?

Tive a felicidade de conhecer Burle Marx! Era uma pessoa muito simples, amante da natureza. Certa vez ele esteve em Piracicaba, nós o levamos para conhecer o Engenho Central, onde ele ficou encantado ele viu o por do sol no Rio de Piracicaba, ficou maravilhado! Ele via beleza em tudo! Junto a Estação da Paulista havia uma linha de jacarandá mimoso e no chão da estação havia enxofre, caído da descarga dos vagões. Vendo o azul das flores que haviam caído na calçada e o amarelo do enxofre no pátio da estação Burle Marx disse: “-Isso é uma tela! É uma pintura!”. Ele também pintava e fazia tapeçaria. Fico pensando se uma cabeça tão importante viu flores no chão e achou que compunham uma tela, lamentavelmente vemos hoje pessoas achando que folhas e flores caídas sobre as calçadas é apenas sujeira. Essas lições de vida enriquecem muito e proporcionam o nosso crescimento.

Em quais cidades da região você foi professora?

Dei aulas inicialmente em Santa Barbara d`Oeste por um período de 3 anos, no Instituto de Educação Emílio Romi e na Escola de Primeiro e Segundo Grau Professor Ulisses Valente. Em seguida lecionei em Leme no Instituo de Educação Newton Prado durante 12 anos. Voltei a Piracicaba onde lecionei na Escola Industrial Fernando Febeliano da Costa.

Como professora, qual é a sua opinião sobre a liberdade sem limites dada á alguns alunos?

Considero muito importante para o adolescente aprender a aceitar determinadas situações. Infelizmente hoje já saem de suas casas desconhecendo a palavra “não”. Isso provém do fato dos pais trabalharem fora de casa, em conseqüência de permanecer pouco tempo juntos faz com que não queiram falar “não” para seus filhos. Tudo que os filhos querem eles fazem ou dão. Quando vai para a escola o aluno leva consigo a mesma mentalidade de que ele pode fazer de tudo, e que pode ter tudo que quer. E não é bem assim. A vida tem muitos “nãos”! Lembro-me de um episódio que ocorreu aqui em Piracicaba, na Escola Industrial, hoje quando encontro com esse meu ex-aluno, agora trabalhando em Brasília como funcionário graduado da área de segurança, ele me diz: “-Valdiza! Aquela nota zero que você deu para mim quando eu estava colando, como me marcou e me fez crescer!”.

Já está na hora de instituir o ensino público em tempo integral?

Acho que já passou da hora!

Após aposentar-se na função de professora qual atividade passou a exercer?

Fui convidada para trabalhar na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Sedema. Ao concluir o mandato do então prefeito José Machado, fui convidada para ir até a cidade de Leme, onde fundei a Universidade Livre do Meio Ambiente Souza Queiroz, o patrocinador era o Dr. Ruy de Souza Queiroz, presidente da Usina Cresciumal. Graças a esse trabalho acabei indo parar ao sul da Argentina onde para fundar a Universidade Livre do Meio Ambiente da Patagônia, eu e mais quatro brasileiros fomos para lá a convite do presidente argentino Carlos Menem, fomos recebidos pela ministra do Meio Ambiente da Argentina.

Essa preocupação com o meio ambiente é uma alavanca para um futuro melhor?

Com certeza! Já faz 10 anos que fomos á Argentina. Nunca se falou tanto em meio ambiente como atualmente. Há a preocupação de proteção ás águas, ao plantio de mata. Hoje sofremos as conseqüências de uma natureza que foi violentada pelo ser humano.

Pensando em termos de meio ambiente, não é interessante privilegiar o transporte coletivo?

É muito importante fomentar o transporte coletivo. Só que eu conheço em Piracicaba, assim como em outras cidades, pessoas que se recusam a entrar em um transporte coletivo, por absoluto preconceito!

Não é pela qualidade dos coletivos?

Em Piracicaba me utilizo do transporte publico com destino a muitos bairros, mesmo sabendo dirigir e sendo proprietária de automóvel. A não ser para as pessoas que tenham um horário muito rígido, não há nenhum problema na utilização de transportes coletivos. Hoje o nosso transporte público é bom. Na Europa é muito utilizado o transporte público, sendo o carro utilizado aos finais de semana.

Há uma relação da sua família com a enorme e lendária sapucaia plantada na Avenida Independência esquina com a Rua XV de Novembro?

Há sim. Foi o meu avô quem plantou! Ele se chama Antonio Capranico, casado com Maria Stella Pertinelli Capranico, ambos nascidos em Áquila, uma pequena localidade próxima a Roma. Eles casaram-se em Roma, tenho a cópia da certidão de casamento deles. Na época todo mundo falava do Brasil, eles vieram em lua de mel, se apaixonaram pela terra e aqui ficaram.

Como seu avô chegou a Piracicaba?

Veio através de conhecidos, ao decidir pela permanência no Brasil, adquiriu uma fazenda em Santa Maria da Serra, onde passou a criar gado e cavalos de raça.

E quanto ao plantio da sapucaia, como foi?

Eu fiquei sabendo a respeito muitos anos depois através do irmão mais velho do meu pai, que na época do plantio da muda da sapucaia tinha 12 anos de idade. Ao saber que havia acabado a Segunda Guerra Mundial disse ao meu tio; “-Vamos plantar umas árvores em homenagem ao fim da guerra!” Ele já morava em Piracicaba, no Bairro Alto, onde tinha um açougue onde comercializava a carne que provinha do gado de sua fazenda. Essa sapucaia é a única arvore que restou do bosque localizado onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra Conforme disse esse meu tio, que se chamava Dionísio Capranico, meu avô plantou mais árvores em outros locais.

Qual é a sua relação com o Museu da Água em Piracicaba?

Fui a coordenadora do projeto ambiental do Museu da Água. Na segunda gestão do prefeito José Machado, fui convidada pelo Semae para administrar o espaço que já estava pronto, porém ainda sem atividade, destinei esse projeto que foi premiado na Europa, no Canadá. Apresentei esse trabalho em Genova, para representantes de uns duzentos países. O projeto de ocupação do Museu da água é de minha autoria, assim como o projeto paisagístico. A restauração tinha sido feita na administração anterior, do então prefeito Dr. Humberto de Campos.

Havia a visitação do Museu da Água por pessoas de outros países?

Cheguei a receber em um mês 10 a 12 mil pessoas entre estudantes, empresas e visitantes de outros países. O programa de televisão Globo Ecologia tinha feito uma divulgação maciça do local. Casais de noivos pediam para fotografar tendo o museu como cenário. Duplas de cantores fizeram gravações lá.

Os moradores de Piracicaba visitavam o Museu da Água?

Aos domingos o povo de Piracicaba freqüentava o local, apesar de muitos ainda não terem descoberto o Museu da Água. Nesses 4 anos que trabalhei no Museu da Água conseguimos 8 premiações de nível municipal até internacional por que os trabalhos eram inéditos, interessantes. Ganhamos do Canadá a perua que circula hoje, é um laboratório volante que o Semae utiliza para educação ambiental.

Existe uma árvore muito especial dentro do Museu da Água?

É o tamboril! Justamente uma árvore que trouxe os povoadores para Piracicaba. É uma árvore curiosa, o fruto dele tem o formato de uma orelha, por isso é chamada também de orelha de negro.

Existem pessoas que acham que o trabalho feito na preservação de uma espécie de árvore poderia ser canalizado para atender os menos favorecidos?

Uma coisa está ligada a outra! Os dois movimentos são uma só intenção, melhorar a qualidade de vida da pessoa. Se a natureza não estiver bem o que poderá ser oferecer aos carentes. Se o rio estiver poluído ele não poderá pescar, se o solo estiver árido não poderá ser um agricultor. Escola, saúde, são obrigações que o governo tem, mas não leva a sério, teria que ser pensado melhor.

Por que não é levado a sério?

Politicamente não é interessante. Nenhum político se reelege porque planta árvores, ou leva escola para as crianças. Ajudar orfanatos, cuidar dos idosos abandonados, não dá votos, isso fica por pessoas da sociedade, as mais sensíveis á essa situação. Em um dos encontros dos quais participei, um pessoal da UNESCO tinha feito um estudo sobre a violência mais expressiva na época, que era na Baixada Fluminense, descobriram que o que faltava naquelas crianças era brincar com bola de futebol, em campos que já não existiam mais, não havia mais arvores para brincarem. Não havia mais quintais. Por não ter onde brincar, elas ficavam nas ruas aprendendo o que não deveriam aprender e partiam para a violência. Lembrando que tudo começa na família, se não tiver uma boa formação familiar, ele não irá ter muitas opções no futuro. O trabalho da criança, dentro da família, se bem dosado, é melhor que a criança que permanece o tempo todo em frente a televisão ou da internet.

O que é o Projeto Tamburil?

Faz parte de uma série de livros de uma série chamada “Piracicaba Conhece e Preserva”. O prefácio do livro “Meu Amigo Tamboril” será feito pelo Diretor da ESALQ que dá o aval para essa obra, um momento muito honroso para nós membros do IHGP. Nosso objetivo é distribuir para as crianças como também nas empresas para as pessoas que vieram de outras localidades e não conhecem a história de Piracicaba. Hoje, sábado, ás 9 horas da manhã estaremos realizando o plantio na confluência das Avenidas Armando Cesare Dedini com a Avenida Cruzeiro do Sul. Será plantada uma árvore para cada criança nascida em Piracicaba dentro de um período, conforme relação do cartório de registro.





terça-feira, fevereiro 16, 2010

Anísio Correa

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 de fevereiro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: Anísio Correa
Anísio Correa nasceu no do dia 28 de setembro de 1935, filho de Manoel Correa Bueno e Cezira Ferrari. Sua mãe grávida dele acompanhou seu pai em uma visita ao padrinho de casamento de ambos, em Duartina, onde ocorreu o nascimento de Anísio. Expansivo, comunicativo, Anísio personifica uma época em que a cidade de Piracicaba era uma cidade bem menor, as pessoas eram mais fáceis de serem identificadas. Pilotar um avião ou uma motocicleta tinha certo romantismo. Ele fez o seu curso primário na escola instalada onde havia residido o Presidente da República Prudente de Moraes, hoje museu.
Em que local de Piracicaba morava a família do senhor?
O meu pai inicialmente morou em Porto João Alfredo, hoje conhecido como Artemis, lá ele aprendeu a ler e a escrever em uma pequena lousa de pedra, era de origem cabocla, forte. Nossa família morava onde hoje é a Avenida Carlos Botelho, antigamente era o número 235, exatamente onde existe a agência do Banco Itaú. Era ainda estrada de terra, havia umas quatro ou cinco casas ao lado da nossa. Do outro lado da estrada existia uma plantação de goiaba, que se estendia até onde hoje é a Avenida Independência, avançando lá pelos lados do Piracicamirim, era enorme. Eu vivia comendo goiaba lá. Popularmente o proprietário era conhecido como Lazinho Babão, sua atividade principal era empréstimos financeiros. Existia também o Cortume Maniero, que se localizava na Rua Carlos Botelho número 7, fundado em 1926, por Antônio Maniero, sua esposa era a Dona Irene. A família era composta por muitos irmãos: Mário, Miguel, Armando, Tito, Terezinha. O cortume ocupava uma área que se estendia por uns quinhentos metros no sentido onde hoje se localiza a Clínica Amalfi. Onde hoje é o bairro Cidade Jardim era a Chácara do Pedro Ricco, era tudo mato plantações. Ficava entre onde hoje é a Avenida Saldanha Marinho, a Rua José Pinto de Almeida até a linha do trem nas imediações da hoje Avenida Armando Salles Oliveira. Da Saldanha Marinho até chegar na área onde era o cortume, havia um local chamado Chacrinha. Jardim Europa era outra chácara.
Onde ficava a Fonte da Saúde?
Era nas imediações onde hoje é a Rua Ipiranga esquina com a Rua Silva Jardim. Vendia-se água ali, e as carrocinhas saiam vendendo água pela cidade.
O senhor na época era uma criança?
Era! A minha brincadeira predileta era brincar com escorpião! Os tijolos na época eram maiores do que uma caixa de sapato, sempre havia escorpiões embaixo de tijolos. Existiam uns vasilhames, em forma de um grande litro, com capacidade pra cinco litros, nós enchíamos com álcool e colocávamos os escorpiões dentro, diziam que se a pessoa fosse picada por um escorpião era só passar aquele líquido onde estavam imersos os escorpiões, e pronto, estava curada. Em quatro ou cinco meninos, íamos ao Aviário da Escola de Agronomia, onde um amigo de nome João do Prado nos ajudava a pegar ovos de pata, voltávamos com quase uma lata de vinte litros cheia de ovos de pata, e ali no cortume fervia todos aqueles ovos, alguns com duas gemas dentro. E comíamos cada um cinco, seis ovos, quase morríamos de tanto comer ovo de pata cozido! Lá no cortume havia um tipo de cana-de-açúcar que era tão gostosa e de casca mole, com a unha conseguíamos abrir uns três gomos. Era molinha e doce.
Quantos irmãos o senhor teve?
Éramos cinco irmãos.
Qual era a atividade profissional do pai do senhor?
Ele era chefe de jardim, na Prefeitura Municipal de Piracicaba, tomava conta dos jardins da cidade, isso na época em que Dr. Samuel de Castro Neves foi prefeito.

Anísio Correa ainda menino já estava ajudando o proprietário desta loja a céu aberto. No canto direito, em destaque a foto da esposa do proprietário. No fundo, o então garoto, Anísio.
O senhor ainda menino já trabalhava?
Tinha que trabalhar vendia verduras, pegava uma cesta ia até a Vila Boyes para vender verduras. Voltava correndo e ia para a escola. Em frente a casa onde eu morava a Dona Maria Zen que tinha uma plantação de verduras.
Em que escola o senhor estudou?
Estudei no Sétimo Grupo, funcionava onde é hoje o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, onde também foi sua residência. Estudei ali até o quarto ano primário, um dos professores foi Alfredo Novembre.
O senhor trabalhou como auxiliar de vendas, ainda menino?
Trabalhei com o senhor Avelino Moreira. Seus descendentes hoje têm uma loja na Praça José Bonifácio. Na época ele vendia meias, cintos, carteiras, miudezas. A venda era feita na rua, embaixo de uma lona, á semelhança do que hoje são os camelôs. Haviam três pontos de venda na praça.
Quando chovia como fazia?
Encerravam-se as atividades! Os clientes eram as pessoas que passavam pela calçada. Tinha de tudo lá. Eu o ajudava. Quando ele ia á São Paulo buscar mercadorias quem ficava tomando conta era a sua esposa Dona Inês. Ficava bem em frente onde hoje é o restaurante Bistecão, ao lado da Catedral de Santo Antonio.
De lá o senhor foi trabalhar aonde?
Um amigo meu, já falecido, disse-me que havia uma vidraçaria que tinha duas bicicletas, se você quiser trabalhar lá, no sábado dá para usar a bicicleta para passear. Ficava onde hoje é o Chocolatão, na Rua XV de Novembro, próximo á Avenida Armando Salles Oliveira, os donos eram Elídio e Toninho. As bicicletas eram das marcas Philips e Hercules. Colocava os vidros no porta-malas da bicicleta, nos ombros também, não havia moleza não!
Mais tarde o senhor foi trabalhar em outra vidraçaria?
Fui trabalhar na vidraçaria de propriedade de Francisco Zenati, sua esposa é da família Crocomo. A família Crocomo tinha uma oficina na Rua Benjamin Constant esquina com a Rua Rangel Pestana.
Com o passar do tempo o senhor adquiriu uma motocicleta?
A minha primeira “moto” foi uma bicicleta com motor da marca Vitória, de procedência suíça, 38cc com 2 marchas de 2 tempos, que o Chico Zenati me deu. Reuni todas as minhas economias e adquiri uma motocicleta Eu já estava cansado de trabalhar de bicicleta, nessa época eu já trabalhava com vidros para carros. Para brisas, vidros de portas. Com o tempo apareceu a oportunidade de adquirir em sociedade um automóvel. O Milton Maluf um dos proprietários da loja “A Porta Larga”, me convidou para trabalhar com ele. Eu entraria com o trabalho e ele com o capital. Isso foi por volta de 1959, havia o Bar Senadinho, localizado na Rua Moraes Barros, onde hoje é a Casa Raya. Esse bar pertencia ao Sebastião Hortiz, que havia adquirido um estabelecimento de grande sucesso o restaurante Haiti, que ficava na Rua Moraes Barros ao lado da Livraria Brasil. Para aproveitar o luminoso do Bar Senadinho, eu tirei o nome Bar e coloquei Auto Senadinho!
O senhor tinha algum apelido?
No tempo em que tinha a motocicleta era conhecido como Diabo Louro!

"Diabo Loiro" Assim era como chamavam Anísio. Sua Indian 1250cc.
Avenida Independência, ao fundo o Seminário Seráfico São Fidelis.
O senhor foi fotografado andando de motocicleta de uma forma inusitada?
Era uma moto Indian 1250, cambio na mão e embreagem no pé Indian, era cor de chocolate, meio bordô. Eu pintava de azul metálica com as saias dela em vermelho, ficava muito bonita. Na época eu tinha uns 18 anos de idade, pilotava com o corpo ao lado dela, como se estivesse andando montado em um cavalo, com o corpo de um lado, também andava em pé, sobre o banco da motocicleta. Tenho essas duas fotos, foram tiradas em frente aonde hoje é o Teatro Losso Netto.
Quais eram os carros comercializados ali?
Havia muitos carros importados. Os fuscas até o ano de 1959 eram importados.
Como eram feitas as vendas na época?
Além das vendas a vista, havia também as vendas feitas com notas promissórias. O parcelamento era em até vinte e quatro meses. Quando eu vendia três ou quatro carros, imagine a quantidade de notas promissórias que eu tinha que datilografar! Ás vezes eram mais de cem notas promissórias á serem preenchidas! Havia uma máquina de datilografar Royal, depois foi adquirida uma Olivetti Lexicon 80.
O senhor andou de Romiseta?
Andei e não gostei! O filho do Dr. Cera, o Toninho tinha uma. O Iô Ferrazzo, filho do Giovanni Ferrazzo proprietário da fábrica de vassouras "Canta Galo" também tinha uma Romiseta. Eu ensinei o Sr. Romeu Romi a pilotar avião. Ele é do Conselho das Indústrias Romi, que entre outros produtos fabricava a Romiseta.
Como piloto de avião o senhor fazia vôos noturnos?
Não.
Os vôos eram feitos por instrumentos?
Cada avião tem um tipo de conduta a ser seguida. Com o avião P-56 o vôo é visual, é feito tendo as rodovias como referências.
O senhor tem noção das vezes que realizou vôos para o Rio de Janeiro?
Pilotei em vôos para o Rio de Janeiro inúmeras vezes. A aterrissagem era feita no Aeroporto Santos Dumont. A duração da viagem era de quatro a cinco horas.
Qual é a sensação em pilotar um avião?
Que você tem um mundo seu! A primeira vez em que pilotei sozinho, sem o auxílio do instrutor, parecia ser o próprio dono do mundo! É uma sensação inexplicável.
O senhor viu o ponto de bonde, mais tarde ponto de ônibus, conhecido popularmente como “abriguinho” ser construído na Rua XV de Novembro, atrás da catedral?
Vi sim! Foi feito um enorme buraco, os sanitários ficam abaixo do nível da rua. Um dos grandes no transporte urbano de Piracicaba foi quando chegou o ônibus com motor na parte traseira. Nós o apelidamos de “Gildão”! Era da Empresa Marchiori, na cores azuis e brancas, o seu trajeto era a Linha Circular. Aonde hoje existe o terminal de ônibus era ponto de carroça, o piso era de terra nua.
O senhor é piloto de avião?
Estudei aviação, tenho brevet, fui diretor de material por muitos anos do Aeroclube de Piracicaba. Eu tirei meu brevet com um piloto de nome Paulo, era da cidade de Campinas, depois com o Nonô, piloto do Altamiro Garcia, aprendi algumas acrobacias aéreas. Conheci Tito, Pedrinho, Zaíra, da família Bottene.
Com qual avião o senhor tirou o seu brevet?
Ele é popularmente chamado de Paulistinha, é o P-56. É um avião telado, com lona. Mais tarde adquirimos outros aviões, inclusive do já falecido industrial e empresário Silva Gordo. Uma característica interessante é que enquanto o seu avião era conduzido pelo seu piloto ele permanecia de costas para o mesmo. Durante o vôo ele olhava para traz. Era um habito seu.
Os aviões usavam gasolina azul?
Exatamente! Era uma gasolina mais rica, mais pura, a octanagem dela era maior. Um fato interessante, é que as corujas sentavam sobre as asas dos aviões estacionados, e as fezes dela eram tão fortes que chegavam a furar as telas dos aviões.
Os aviões mais utilizados no Aeroclube de Piracicaba comportavam quantas pessoas?
No início da aprendizagem eram utilizados aviões que conduziam o instrutor e o aluno.
O senhor saltou de pára- quedas alguma vez?
Nunca. Achava muito radical. Eu lancei muitos pára-quedistas. Eu gostava mais de fazer umas peripécias com o avião. Fiz parafuso que é uma manobra de auto-rotação. O resultado é uma trajetória vertical descendente e em espiral, que irá manter-se até que se apliquem comandos que a neutralizem, o looping que é uma volta na vertical, tunô (tuneaux) que é um giro em torno de si mesmo na horizontal. Fazia as curvas de grande, média inclinação. Para ser aviador tinha que aprender como funcionavam os recursos do avião. Em Rio Claro havia um PT-19, era muito antigo, do tempo da guerra ainda, Quando se fazia uma manobra em que ele ficava no sentindo contrário á gravidade era necessário bombear a gasolina com a mão senão o motor deixava de funcionar!
Qual é o segredo para lançar um pára-quedista?
Não há segredo! O manicaca é o salto onde o pára-quedas está preso pelo dispositivo que é acionado abrindo o pára-quedas assim que o pára-quedista salta. Com o tempo de experiência do aprendiz tudo vai aperfeiçoando-se. Em seguida vem o salto livre, com um pára-quedas atrás e outro na frente. Ao saltar ele puxa o situado atrás, se não funcionar ele puxa o da frente.

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