terça-feira, junho 22, 2010

HELIO DOS SANTOS MÓDICA



JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 19 de junhode 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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Foto by J.U.Nassif
Hélio, tendo ao fundo as casas da então Colônia da Paulista 

ENTREVISTADO: HELIO DOS SANTOS MÓDICA

Por muitas décadas a porta principal de Piracicaba foi a Estação da Paulista. Pessoas do mais alto nível social e cultural utilizavam o trem como meio de transporte. As estradas de rodagem eram precárias e os veículos não ofereciam o conforto e segurança do trem. A cidade era abastecida por vagões de carga, assim como despachava frutos da sua riqueza pelos mesmos. A Companhia Paulista de Estradas de Ferro ficou conhecida pelo seu alto padrão de qualidade no atendimento ao público, ainda hoje a Companhia Paulista de Estradas de Ferro é lembrada com orgulho e saudade. Afinal, desde os seus primórdios, foi reconhecida como sendo uma ferrovia exemplar e símbolo de excelência. A preocupação com a pontualidade era tão grande que as pessoas diziam que acertavam os relógios na chegada dos trens. A ferrovia foi idealizada, em 1864, por um grupo de fazendeiros, negociantes e capitalistas que necessitavam de um meio de escoar o café cultivado no interior do estado de São Paulo. Pretendiam que a São Paulo Railway, a "Inglesa" ou "Santos-Jundiaí", levasse seus trilhos até a então São João do Rio Claro (atual Rio Claro), já que detinha a concessão para tal. A decisão de fundar a "Companhia Paulista" surgiu após a São Paulo Railway declarar que não seria possível prolongar a ferrovia adiante, nem sequer até a cidade de Campinas, devido às perdas com a Guerra do Paraguai. Os trilhos da São Paulo Railway chegaram só até Jundiaí. Nesta cidade começou-se a construir os trilhos da Companhia Paulista rumo ao interior de São Paulo. O presidente da província ( governador do estado) de São Paulo na época, Joaquim Saldanha Marinho, teve atuação fundamental na fundação da Companhia Paulista, aglutinando no mesmo ideal os capitalistas e fazendeiros que se digladiavam por interesses políticos naquele momento. A Companhia Paulista foi fundada no dia 30 de janeiro de 1868, sob a presidência de Clemente Falcão de Sousa Filho, porém as obras de construção da linha iniciaram-se mais de um ano após essa data, com as aprovações dos estatutos da Companhia Paulista pelo Governo Imperial. Finalmente, no dia 11 de agosto de 1872, com uma bitola de 1,60 metros, chamada "bitola larga", foi inaugurado o primeiro trecho, entre Jundiaí e Campinas. A estação da Paulista em Piracicaba foi aberta a 9 de setembro de 1922 depois de mais de vinte anos de espera e promessas de chegada do ramal da Cia. Paulista à cidade. O terreno foi doado por João Baptista da Rocha Conceição, dono da fazenda Algodoal, O nome da estação tinha a terminação "Paulista" para diferenciá-la da estação da Sorocabana, situada no centro da cidade. As linhas da Paulista e da Sorocabana não se encontravam, apenas se cruzavam (a da CP passando em um viaduto sobre a linha da EFS, existente até hoje, ao lado da Avenida 31 de Março). Em 20 de fevereiro de 1976, os trens de passageiros foram suspensos. Alguns trens de passageiros especiais para Piracicaba e Santa Barbara D'Oeste existiram nos anos 1980 e começo dos anos 1990, bastante raros. Cargas seguiram pelo ramal até 1995. Quando se questiona o porquê do fim das ferrovias, surgem diversas respostas, entre elas o entusiasmo do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira pelo transporte rodoviário. Há aqueles que afirmam ser a estatização da Companhia Paulista o fator responsável pelo declínio, os cargos de diretoria e presidência eram exercidos por indicação política, sendo ocupado algumas vezes por pessoas com total despreparo.

Helio dos Santos Módica é um dos ex-funcionários da Companhia Paulista, morou por muitos anos na “Colônia da Paulista”, pouco mais de duas dezenas de casas destinadas á residência de funcionários da empresa. Sua narrativa às vezes é tomada por emoção, lembrando-se do orgulho que todos sentiam em fazer parte dessa verdadeira família chamada Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Helio, você é natural de qual cidade?

Nasci em São Paulo, no bairro Pinheiros, em 2 de novembro de 1945, sou o filho mais velho de cinco irmãos, meus pais são Manoel Módica e Páschoa Broglio Módica, quando eu tinha oito anos de idade mudamos para Piracicaba, terra da família da minha mãe. Inicialmente fomos morar no bairro Saibreiro, hoje Jardim Elite. Depois mudamos para a Paulicéia, onde estudei na escola Prof Antonio Mello Cotrim, o Prof. Heitor Pompermayer era o diretor da escola.

Com que idade você começou a trabalhar?

Comecei a trabalhar aos sete anos na firma de consertos de enceradeiras do Belardi, eu fazia entregas. Aos doze anos fui trabalhar na Casa Asta, propriedade de Santo Pavanelli, lá tomava conta da loja, ajudava na limpeza, transportava canos de ferro. Saí para trabalhar como ajudante de pedreiro. Fizemos os muros que cercam a Santa Casa. Em seguida fui trabalhar na Padaria Inca, situada na Rua Governador Pedro de Toledo, propriedade da Dona Augusta. Eu fazia as entregas em restaurantes com uma espécie de bicicleta de três rodas, havia um baú na frente onde levava os pães do tipo bengala, filãozinho. Entrava para trabalhar ás cinco horas da manhã, fazia entrega no Hotel Central, Café Senadinho, Hotel Jardineira, Hotel Regina.

Na época a Paulicéia era bairro de gente valente?

Em todos os bairros havia pessoas dispostas a brigar. Se o pessoal da Paulicéia entrasse na Paulista o pessoal de lá nos batia. A mesma coisa acontecia se o pessoal da Paulicéia entrasse na Vila Rezende. O mesmo acontecia no Bairro Verde. Nas imediações onde está à igreja da Paulicéia era o chamado Bairro da Coréia.

Após a padaria onde foi seu próximo emprego?

Permaneci por dois anos na Inca, em seguida fui trabalhar em uma fabrica de urnas mortuárias, propriedade de Darcy Soffner, vizinha a serraria do Chico Carretel. Eu aplainava madeira, fazia enfeites do caixão, na época as urnas eram forradas com tecido. Eu ia despachar os caixões na Estação da Paulista. Existiam quatro fábricas de urnas mortuárias na cidade: do Sbrissa, do Darcy, outra na Rua Joaquim André. Na Vila Boyes também havia uma fabrica de caixão funerário.

O Chico Carretel tinha fabrica do que?

Ele fabricava principalmente carrocerias de caminhões.

Você freqüentava cinema?

Ia ao Politeama, Broadway, São José, Colonial, Palácio, Cine Paulistinha cujas poltronas eram de madeira, sem estofamento, o proprietário era o Cassano No tempo de festas juninas ao lado da Igreja dos Frades havia as quermesses, onde funcionavam barracas com diversas atrações. Era o local onde os jovens “paqueravam”. Saíamos dali e íamos dar uns “rolês” na Praça José Bonifácio, centro da cidade. Voltávamos de bonde. Eu sempre gostei muito de jogar snooker, joguei com Ary Pedroso, Rubens de Oliveira Bissom. Jogava no Snooker Bola 7 que ficava na Rua São José esquina com Rua Governador Pedro de Toledo, hoje há um edifício no local. Joguei no Snooker Bola 13 que ficava na Rua Treze de Maio entre a Rua do Rosário e Rua Alferes José Caetano.

Saindo da fábrica de urnas, você trabalhou em que empresa?

Eu tinha feito curso de desenho e torno no SENAI, ingressei em uma empresa de implementos agrícolas que ficava em frente ao barracão de carga e descarga da Paulista. Em seguida fui trabalhar com a empresa Irmãos Rosa, que prestava serviços a Companhia Paulista. Houve um concurso para a admissão de funcionários na Cia. Paulista, prestei e ingressei, isso em 1965. Vim morar na casa número 17 onde permaneci até fevereiro de 1996, quando me aposentei.

Qual era a sua função inicial na Paulista?

Era Trabalhador de Estação, transportava mercadorias com carrinho, transportava geladeira, fogão, sabão, lâmpadas, uma infinidade de itens. O chefe da estação era Ivo Pizza. Trabalhei com Polizel, Zé de Barros, João Fraceto, Lovadini, irmãos Rodrigues, Zé Paulicéia, José Paulino. Alguns motoristas que trabalharam com os caminhões da Cia. Paulista foram o Neuri, Passarim Paulo Gambaro, Oscarzinho Lacerda, que jogou no XV de Novembro.

As locomotivas eram a vapor ou a diesel?

Na minha época era todas maquinas diesel. As maquinas a vapor eram apenas utilizadas para transporte de pessoal que inspecionava trilhos, dormentes.

Na estação em Piracicaba, quantas chaves de mudança de linha havia?

Acredito que havia aproximadamente umas vinte chaves. Existia um girador de locomotivas. No barracão onde funciona o salão da terceira idade era feita manutenção de vagões. Trocavam-se rodeiros que estavam gastos, com a utilização de macacos hidráulicos.

Ao descarregar gado o trem atravessava a Rua do Rosário?

Não só atravessava como às vezes permanecia sobre a rua, impedindo a passagem de veículos, isso podia demorar algum tempo às vezes. Quem tinha que passar não tinha outra coisa a fazer senão esperar o trem movimentar-se. Nós cortávamos a composição, os vagões permaneciam descarregando, sendo movimentados na medida em que descarregavam. Havia o que chamávamos de seringa, um local por onde o gado descia do vagão para a mangueira, e mais tarde voltariam para subir em um caminhão de transporte que os levaria até o frigorífico.

Em quais ocasiões eram utilizados os vagões dormitórios?

Para viagens de longo percurso apenas, que não era o caso de Piracicaba.

Havia muita gente que vinha ver a chegada do trem?

Puxa vida, se vinha! Uns vinham para esperar parentes, conhecidos. Outros vinham para “paquerar”! Na época existiam os carros DKW, o pessoal sentava na pracinha em frente à estação, principalmente no tempo do calor. O bonde circulava, logo adiante existia a Adega do Vitório. Na primeira quadra da Rua Alferes José Caetano havia a Padaria São João, de propriedade de João Rossi. Na esquina da mesma rua com a Avenida Dr. Paulo de Moraes tinha o armazém do Roque Signhoretti. Na Rua Boa Morte esquina com a Rua Joaquim André existia a Pensão Paulista

O trem apitava quando saía?

Eram dados dois apitos, o primeiro e o segundo. Quando chega à estação vinha dando vários apitos contínuos, eram apitos para liberar a plataforma. O trem saia de São Paulo as 06h45min e chegava a Piracicaba as10h20min.

As compras para o consumo pessoal dos funcionários e suas famílias eram feitas onde?

Antigamente uma composição vinha e permanecia no pátio da estação, onde as compras eram feitas. Depois passou para a central em Campinas, tinha que ir comprar lá. Mais tarde mandaram comprar em supermercado, depois descontavam no hollerith.

Você trabalhou em outras localidades além de Piracicaba?

Permaneci por 30 anos na Companhia Paulista, em Piracicaba trabalhei por uns 18 anos, o resto do tempo prestei serviços em Campinas, Americana, Santa Barbara D`Oeste, Limeira, sempre no serviço de faturamento. Era mandado para substituir alguém, isso implicava em dobrar o meu salário pelo fato de estar em outra localidade.

As casas da Colônia da Paulista eram confortáveis?

Eram casas boas, eu gostava. A minha tinha cozinha, sala, três quartos, e o banheiro no lado de fora da casa.

Quais empresas deram origem a FEPASA na unificação das ferrovias paulista?

Foi Companhia Paulista, Sorocabana, Araraquarense, Mogiana e São Paulo-Minas. Sendo bitolas (distancia entre trilhos) diferentes, há como composições percorrerem trechos de outras de outras companhias?

É possível sim, com o auxilio de um terceiro trilho.

Você fazia entregas em Piracicaba com um caminhão da Cia Paulista?

Eram utilizados caminhões marca Ford, F-600, azul e branco. Cada caminhão atendia a um bairro. Para o centro era comum ir dois caminhões, a carroceria era aberta. A cidade inteira nos conhecia e gostava de nós. Fazíamos entrega e coleta de mercadorias. Na Boyes carregávamos tecido, no Dedini carregávamos pregos, correntes, parafusos, porcas.

Havia despacho de carga viva?

Era comum mandar principalmente para São Paulo, porcos, frangos, cabritos, todos vivos, iam dentro de um engradado individual de madeira. Cobras coletadas na região eram remetidas vivas para o Instituto Butantã em São Paulo. Colocava-se água, comida para serem ingeridos pelos animais durante a viagem.

Conheceu Dr. Jacob Diehl Neto?

Quando o conheci ele já era idoso. A casa dele hoje é um restaurante de massas, na Avenida Dr. Paulo de Moraes, em frente ao barracão de cargas da Paulista.

Conheceu alguém que criava pombo correio na Colônia da Paulista?

Antonio Barbosa era um criador de pombo correio, ele os levava aos mais diversos locais para soltá-los, ia a Santa Barbara D Oeste, Limeira, Rio Claro, Araras. Levava uma caixa cheia de pombos, soltava-os e eles voltavam á Piracicaba.








sexta-feira, junho 18, 2010

Antonio (Toninho) Marchini


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de JUNHO de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: Antonio (Toninho) Marchini
O inesquecível professor de Cálculo Integral e Diferencial Justino Castilho dizia que os números são a forma com a qual a natureza fala com os homens. Muitos profissionais que trabalham com cálculos matemáticos revelam-se grandes poetas, cantores, pintores, expressam de alguma forma o seu dom artístico. Antonio Marchini, ou Toninho Marchini, é muito conhecido em Piracicaba, por ter nascido na Água Branca, dedicado sua vida profissional por quarenta anos a uma empresa que foi orgulho para Piracicaba. Em seus momentos de folga Toninho exerceu seus dotes artísticos, embalando os sonhos de muitos casais e convidados em casamentos realizados nas igrejas de Piracicaba. Com uma voz extremamente semelhante a do cantor Nelson Gonçalves, parece invocar a presença do mesmo quando canta. Vale ressaltar que não é uma imitação do cantor, mas uma notável coincidência de timbre vocal. Com esse talento, passou muitas madrugadas cantando embaixo de janelas, acompanhado por alguns músicos com seus instrumentos, fazendo as tão românticas serenatas. É interessante observar que essas serenatas eram encomendadas por algum Romeu apaixonado, mas que não tinha talento ou coragem de dizer tudo o que sentia pela sua Julieta. Lá ia Toninho cantar e encantar com sua voz e seu conjunto musical. Um hábito quase secreto, muitas pessoas do seu circulo familiar ou pessoal nem imaginavam que aquele compenetrado contador era também um expressivo cantor. Por décadas Toninho foi muito mais do que contador da empresa Alvarco, formada pelos sócios: Marcos Contarini, Ricardo Alvarez Viñuela e Jorge Cesar de Vargas. Toninho Marchini era o quarto ponto de apoio dessa empresa que abasteceu o mercado nacional com produtos fabricados em nossa cidade, sendo os mais conhecidos as rodas de caminhão e peças para o sistema de freio.

Sua veia musical tem sua origem onde?

Acho que começou com o Jornal de Piracicaba. Meu pai vinha até a banca do João Elias, que ficava na Rua Benjamin Constant, esquina com Dr. Paulo de Moraes, comprava o Jornal de Piracicaba, onde eram impressas marchinhas de carnaval. Minhas irmãs me ensinavam a cantar, eu tinha sete anos, a mais nova tinha dezesseis anos, com isso passei a cantar inclusive na igreja da Água Branca, as pessoas achavam engraçado um menino pequeno cantando de forma afinada. Meu irmão mais velho chegou a ir para São Paulo com a finalidade de seguir a carreira artística, só que logo a saudade de casa trouxe-o de volta á Piracicaba. Eu sou barítono, ele era tenor.


Em que ano você casou-se?
Foi em 1964, ano da revolução, todo mundo dizia: “-Você é louco! Vai casar em ano de revolução!”. Casei-me com Ana Maria Calegaris, na capela do Colégio Dom Bosco de Americana, ela é natural de lá. Namoramos por cinco anos e meio, ia namorar viajando pelo ônibus da AVA, Auto Viação Americana. Nasci em 4 de julho de 1942, no bairro da Água Branca, Piracicaba, sou filho de Micheli Marchini, conhecido como Ângelo Marchini, nascido na Itália, e de Maria Mazzucato, nascida no Brasil. O primário fiz na escola do Bairro do Chicó, o preparatório e primeiro ano ginasial fiz no Colégio Dom Bosco. Em seguida fui estudar como seminarista salesiano na cidade de Lavrinhas em Minas Gerais. Quando deveria vir para Pindamonhangaba para fazer o noviciado desisti de seguir a carreira religiosa.

A sua vocação para sacerdote foi descoberta como?

O Padre Baron foi um dos precursores do Colégio Dom Bosco de Piracicaba, ele tinha um irmão, Seu Santo Baron, que trabalhou inicialmente na lavoura também no bairro Água Branca, onde meu pai tinha uma olaria, que vendeu e doou muito tijolo para a construção do colégio. A amizade entre o meu pai e Santo Baron, acabou aproximando meu pai do Padre Baron. Entusiasta da carreira religiosa, esse padre buscava despertar a vocação dos jovens para o sacerdócio, sendo o responsável pelo encaminhamento de muitos jovens para Lavrinhas, onde aqueles que tinham vocação poderiam prosseguir nos estudos até tornarem-se padres. Para mim foi ótimo ir para lá, havia mais de 120 pessoas no seminário, eu e outro seminarista por dois anos fomos os encarregados de lavar a louça da cozinha. Ganhei uma impressionante prática em lavar pratos! Minha ocupação principal era cuidar do teatro, foi construída uma nova igreja e o teatro do seminário passou a ocupar o local da antiga igreja. Realizamos as obras necessárias, aprendi como fazer instalações elétricas, conhecimentos que utilizei mais tarde, posso dizer que conheço bem o assunto. Trabalhei na iluminação de palco, efeitos especiais, fiz algumas participações em encenações de peças.


Você costuma lavar os pratos em casa?

Não!

Qual era o meio de transporte utilizado no tempo em que estudou no Colégio Dom Bosco de Piracicaba?

Eu e Irineu Razera vínhamos de bicicleta. Nos dias de chuva tomávamos chuva, ás vezes meu pai nos levava de charrete, era um tempo diferente, do bairro Taquaral chegava um carroção tracionado por dois ou três burros, com vários estudantes do colégio. O Nozella que foi gerente do Banco Mercantil vinha a cavalo; Osmar e Pedro Furlan vinham de charrete do bairro rural Chicó.

Após o período no seminário em Lavrinhas qual foi o próximo passo?

Estudei por um período no Dom Bosco, em seguida fui estudar o curso Técnico em Contabilidade no Colégio Piracicabano. Em 1974 na Unicamp fiz os cursos de Custo Industrial, Administração Financeira, Marketing e Planejamento e Controle de Produção.

Antes de entrar na Alvarco trabalhava onde?

Na empresa Implementos Agrícola Antonio Dedini, situada em frente ao barracão de cargas e descargas da Estação da Paulista, onde hoje se joga boliche. Ao lado havia a fabrica de vassouras Canta Galo, de propriedade de Giovanni Ferrazzo que gostava muito de cantar e tocar violão. Lembro-me de que ás vezes ia até a cidade de Matão, buscar peças, dirigindo um caminhão Opel, cambio seco. Um dia passei em frente ao local onde foi a Alvarco, estavam mexendo em uns fios, tudo indicava que uma nova empresa estava surgindo. Disseram-me que o contador, João de Oliveira Dorta, era a pessoa indicada para conversar. Na época eu fazia a contabilidade com escrita manual, e ele ia me ensinar a fazer a contabilidade mecanizada. Pensei que era uma oportunidade caída do céu. Além de contabilidade passei a mexer com almoxarifado, fiz um curso a respeito, aprendi a fazer fichas pelo sistema cardex.

Como era a Alvarco quando você passou a ser funcionário da empresa?

Existiam dois barracões, uma balança e um pequeno escritório com frente para a Avenida Dr. João Conceição. Anteriormente tinha pertencido a empresa Amaral Machado. Foi instalado um forno e a empresa passou a funcionar. Em seguida, no piso superior, foram construídas as instalações administrativas da empresa e os apartamentos dos proprietários da Alvarco.

Os proprietários Marcos e Ricardo se conheceram em São Paulo?

Eles trabalhavam em uma empresa chamada Omega. Fazia exatamente o que a Alvarco iniciou fazendo aqui: tambores de freio e peças para chassi de caminhão. O Sr. João Contarini, pai do Sr. Marcos Contarini, foi funcionário, por longos anos até a aposentadoria, do Sr. Paschoal D’Abronzo. Foi um funcionário padrão e por gratidão o Sr. Paschoal D’Abronzo, lhe fez uma promessa: “-Quando seu filho Marcos Contarini terminar o curso de torneiro mecânico na escola SENAI, eu monto uma oficina mecânica para ele”. O Sr. Marcos Contarini, trabalhava nas Indústrias Dedini, moço com a cabeça cheia de ideais foi exercer seu ofício em São Paulo, na empresa Omega. Lá conheceu um espanhol recém chegado ao Brasil, chamado Ricardo Alvarez Viñuela, ferramenteiro, com quem de imediato fez grande amizade e confidenciou a proposta que o pai tinha recebido do Sr. Paschoal D’Abronzo. Nesse meio tempo, o Sr. Paschoal D’Abronzo veio a falecer. No dia do velório do Sr. Paschoal D’Abronzo, o Sr. Jorge Cesar de Vargas, sabendo da promessa, confidenciou ao Sr. João Contarini: “-Eu cumpro a promessa do meu sogro Sr. Paschoal D’ Abronzo e no dia em que seu filho quiser voltar à Piracicaba eu monto uma oficina mecânica para ele”. Marcos Contarini e seu amigo Ricardo Alvarez Viñuela, já tinham exercido várias atividades dentro da empresa Omega, desde a área de engenharia, fundição, mecânica. Resolveram vir à Piracicaba e conversar com o Jorge Cesar de Vargas e assim montaram em 1954 as INDÚSTRIAS MECÂNICAS ALVARCO LTDA. De propriedade de Jorge Cesar de Vargas, Marcos Contarini e Ricardo Alvarez Viñuela, em partes iguais, 100% financiada por Jorge Cesar de Vargas. A junção dos nomes dos três formou a marca ALVARCO, AL(varez)VAR(gas)CO(ntarini), forte em todo território nacional. A empresa passou a funcionar em um prédio alugado na Vila Rezende, o Ricardo dormia no prédio.

Qual foi a sua participação nas obras das Alvarco na Rua do Rosário esquina com a Avenida João Conceição?

Tive participação efetiva, entre algumas realizações fiz a administração de materiais para a obra, lembro-me que aos fins de semana, na ausência dos proprietários, cheguei a molhar as lajes de concreto. Tinha por habito ir ao escritório aos domingos, olhava algumas coisas.

Você foi um dos primeiros funcionários administrativos contratado pela Alvarco?

Quando fui contratado havia um funcionário morador de Rio das Pedras, o Flauri, que estava saindo da empresa O Robertinho Franhani era contínuo, o Sr. Luis Antonio Luis Santos de Almeida já trabalhava lá.

Como você assumiu a contabilidade da Alvarco?

O João de Oliveira Dorta, Ciro Mendes e Araripe Castilho montaram uma empresa de móveis tubular, com a saída do João fui convencido a assumir a contabilidade da empresa. A Alvarco evoluiu muito rapidamente, com a importação de algumas máquinas da Alemanha ela deslanchou. O Seu Ricardo construiu uma maquina de granalha que dava uma excelente apresentação ás peças produzida. O fato de chamar indústrias, no plural, era pelas múltiplas atividades sem terceirizar etapas, a cadeia produtiva da Alvarco era muito grande. Foi uma empresa que contribuiu muito para Piracicaba, para o Estado.

Quantos funcionários trabalhavam na empresa?

No bairro da Paulista, em 10.000 metros quadrados chegamos a ter 350 funcionários.

Ao lado da Alvarco existiam os trilhos da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, com instalações próprias para carga e descarga de gado vivo. Você chegou a presenciar essa movimentação de animais?

Vi sim! Cheguei a ir á Campinas com o Deputado Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, para solicitar a permissão de fazer uma parceria com a Companhia Paulista e trazer ferro gusa e carvão coque. Não conseguimos.

A área da Cia. Paulista, que hoje está cercada e com um portão de ferro ao lado do Restaurante Frios Paulista, ia até onde?

Passava ao lado da Alvarco, saia na Rua Campinas, tinha um bico que fechava a Rua Campinas. Vinha confrontando com as casas existentes até a Rua do Rosário. Havia um pequeno lote de terras que não deixava a área chegar até a Avenida Nove de Julho. Os trilhos estavam assentados no nível da Rua do Rosário, a terra que existia até então foi retirada, era um terreno bem alto.

Da sua janela dava para ver a Estação da Paulista?

Conseguia ver muito bem a estação. Logo a minha frente havia um virador de locomotivas a vapor. Via a lavagens dos vagões com água quente, saia uma fumaça desse processo de higienização, os carros de passageiros saiam com o encosto de cabeça branquinho. A Companhia Paulista era um brinco.

Onde é hoje um posto Petrobras de combustíveis havia um posto e um restaurante, na esquina da Avenida Dr. Paulo de Moraes com a Rua do Rosário?

Era o Posto Canta Galo, que tinha anexo um Bar e Restaurante, o proprietário era Giovanni Ferrazzo, cheguei a cantar com ele. Pedro Chiquito trabalhava nesse posto como lavador de carros. Pedro Chiquito, um grande cantador de cururu, uma sumidade, deveriam falar “doutor” para ele. Ele cantava ao lado da Igreja dos Frades, nós íamos assistir suas apresentações, quando a trova era sobre a bíblia ninguém ganhava dele. A história de Piracicaba ele começava desde as origens em Itu, vinha descrevendo as famílias que deram origem a cidade. Quando eu era criança, Pedro Chiquito trabalhava em construções, meu irmão levava tijolo para as obras e eu ia junto, na hora do almoço enquanto os demais trabalhadores descansavam ele ficava lendo um pedaço de papel. Curioso como toda criança é, fiquei sabendo que ele estava memorizando um trecho da bíblia ou de um jornal que tinha algum assunto para depois ser cantado no cururu.

Você sempre foi muito meticuloso?

Sergio Defavari trabalhou muitos anos comigo, ele dizia que tinha orgulho de entrar na Alvarco com a luz apagada e pegar a pasta que fosse necessária, sem acender a luz. Eu tinha rascunhado o escritório da Alvarco quando foi construído, fiz um layout para cada armário fiz o seu desenho correspondente, marcava lado direito e esquerdo, para cada prateleira tinha escrito no papel lado direito 1, 2, 3 assim sucessivamente, o mesmo fazendo para o lado esquerdo, no papel estava relacionado o conteúdo de cada armário, ninguém se atrevia a colocar nada fora do lugar. Eu era muito exigente com relação a essa ordem. Um dia recebi a visita de um fiscal de Piracicaba, ele começou a solicitar documentos, passei-lhe a pasta que tinha o desenho dos armários, repartição com os documentos correspondentes e disse-lhe: “-O que o senhor precisar é só olhar na pasta onde encontrará exatamente a localização do documento que julgar necessário”. Ele ficou abismado. Um dia ele me ligou, queria levar uma pessoa para conhecer o escritório da Alvarco. Era o encarregado de organizar todos os postos estaduais do Estado de São Paulo. Recebi o visitante e dei-lhe a pasta que servia de índice para achar determinado documento. Na escrivaninha de cada funcionário tinha uma tabua retrátil, geralmente usada como apoio,eu exigia que fosse colocado um papel, do qual eu tinha uma cópia, discriminando o conteúdo de cada gaveta. Naquele tempo não existia computador, era tudo feito no papel.









quarta-feira, junho 09, 2010

Francisco Corrêa Garcia

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 04 de junho de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

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ENTREVISTADO: Francisco Corrêa Garcia

No próximo dia 20 de setembro Francisco Corrêa Garcia, mais conhecido como Chiquinho Correia, estará completando 96 anos. Parou de dirigir faz pouco tempo, mas ainda monta a cavalo, “desde que seja um cavalo manso” reforça. Uma história de vida em que os desafios sempre foram constantes e aos quais sempre enfrentou com muita coragem, determinação e retidão de caráter. Portador de acentuada miopia desde a infância só usou óculos após passar por consulta com o Dr. Penido Burnier na cidade de Campinas. A deficiência visual já tinha provocado graves transtornos na vida do jovem Chiquinho. Descendente de espanhóis, foi agricultor de alho em larga escala, produzindo mais do que o mercado consumia, mandava alho para Americana, São Paulo. Duas paixões tomavam conta do seu tempo de lazer: cururu e truco. O jogo de truco, ou truque, era na base do “leite de pato”, ou no máximo jogava-se valendo “uma janta” que a dupla perdedora pagaria. Sempre com todos os jogadores desfrutando do jantar e da companhia. O jogo de truco, ou truque, ao que consta é um jogo praticado inicialmente por imigrantes italianos, caiu no gosto popular e foi adotado em muitos lugares do interior de São Paulo. É um jogo onde as cartas do baralho fazem parte, mas requerem extrema vivacidade e malícia dos jogadores, o blefe é uma das artimanhas mais utilizadas, saber quando ocorre é essencial para ganhar-se o jogo. É comum os jogadores levantarem o tom da voz gritando: “-Truco!” O adversário pode retrucar “-Seis” e assim por diante. Quem nunca assistiu a um jogo de truco pode achar que os jogadores estão brigando, tamanha a algazarra que é feita!

O senhor é nascido em Piracicaba?

Nasci no Bairro do Pau D`Alhinho, Município de Piracicaba, em 20 de setembro de 1914, sou filho de Francisco Corrêa Rodrigues e Gracia Garcia Moral Munhoz. Meu pai veio da Espanha com oito anos e a minha mãe com vinte anos, vierem em épocas diferentes. Inicialmente meu pai morou na Fazenda Pau D`Alho, depois mudou-se para um sítio no Bangé, adquirido pela família. Ele foi vender laranja na Fazenda Pau D`Alho, quando conheceu a minha mãe. Casaram-se, permanecendo um ano no sítio do meu avô, comprou então um sítio no Pau D`Alhinho, que foi o lugar onde nasci.

Lembra-se do antigo Mercado Municipal?

Conheci o Mercado Municipal no tempo em que em frente era terra nua, não havia calçamento. Para vender os nossos produtos estendíamos um encerado no chão para colacar os produtos em cima. Eu era ainda menino quando comecei a vir ao Mercado para vender verduras. O prédio era pequeno, depois foi aumentando. Lá, aos 24 anos de idade, conheci a minha esposa Isaura Lopes, ela tinha 15 anos. Namoramos por três anos e nos casamos em 1941, na Igreja Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida como Igreja dos Frades. Um casamento que permaneceu por mais de 67 anos, Em 1998 minha esposa ficou doente, perdeu 88% da memória, faleceu em 29 de outubro 2008, tivemos três filhos: Francisco, José e Manoel. Ainda solteira, ela morava na Rua do Rosário, na Paulista, era uma rua sem asfalto naquela época. Sou cunhado do Isidoro (Nenê) Lopes, do Antonio Lopes, moradores da Rua do Rosário. Quando me casei tinha vinte e sete anos e minha esposa dezenove anos. Fui á luta, fui trabalhar no sitio levando apenas uma enxada na mão.

Com que condução o senhor vinha vender seus produtos em Piracicaba?

Vinha com carrinho de tração animal, demorava uma hora e meia para chegar, fazia esse percurso uma vez por semana. Trazia verduras, repolho, pimentão, berinjela, alho. No Mercado Municipal não tinha comprador para toda a quantidade de alho que eu produzia. Os viajantes de Americana, São Paulo chegavam ao Mercado e falavam com os corretores que sabiam que eu tinha alho. Iam até o meu sítio e efetuavam a compra. Levavam o alho com caminhão.

O senhor fazia réstia de alho?

Fazia réstia! O alho era todo trançado, com 50 cabeças de alho, o milheiro de cabeças de alho era composto por 20 réstias. Nós fazíamos réstias com 52 cabeças de alho, com duas cabeças a mais.

Quanto tempo o senhor levava para fazer uma réstia?

Eu fazia por noite de 20 a 25 réstias. Passava o mês inteiro trançando alho, ia deitar lá pela meia noite, uma hora da madrugada, minha mulher trabalhava comigo. Levantávamos cedo, ás cinco horas já estávamos em pé, ia para a roça no clarear do dia. Eu tinha uma várzea muito boa onde plantava arroz. Ás vezes o Rio Piracicaba enchia muito, as águas entravam pelo Ribeirão do Garcia e inundavam a várzea, perdia todo arroz.

O senhor caçava?

Nunca peguei uma espingarda para caçar!

E pescar?

Meu pai tinha um sítio que tinha quatrocentos metros de barranca de rio, nunca armamos uma rede, nunca pescamos. Só trabalhávamos. Nós víamos os pescadores a cada 100 metros pegavam um dourado, a Ilha das Flechas ficava em frente a propriedade do meu pai.

Qual era a alimentação básica?

Comíamos arroz e feijão, verduras, leite, de vez em quando um franguinho, ovos, batata frita. Quando vinha ao Mercado comprava sardinha. No período em que trançava alho, ás 10 horas da noite minha esposa fazia uma espécie de polenta, bem feita e colocava açúcar, nós comamos e ferrávamos de novo a trançar o alho.

E a famosa miga?

No tempo da minha mãe nós comíamos. Minha esposa sabia muito bem fazer a miga. É uma comida que dá muito trabalho, tem saber fazer. Existem dois tipos de migas. Uma é feita com fubá, farinha de trigo, e muita banha de porco. Tem que ser bem cozida e mexer muito bem para ficar miudinha. Outra forma de fazer é a “miga em tortilla”, feita só com trigo e banha, é muito gostosa, dá muito trabalho para fazer. Meu pai contratava camaradas para trabalhar no seu sítio, isso na época em que o mato crescia junto ás plantações, era necessário cortar. Esses camaradas diziam: “Dona Gracia que comida a senhora vai fazer hoje?” Ela respondia: “-Vou fazer arroz e feijão.” Eles retrucavam: “Não Dona Gracia, faz uma miga!”. Não eram espanhóis ou descendentes, eram negros. Quando se come um prato de miga irá estar o dia todo sustentado, é uma comida forte.

Que tipo de lavoura era a sua?

Plantava de tudo, menos cana-de-açúcar. Plantei alho em grande quantidade, algodão, cereal. Cheguei a plantar três sacos de sementes de alho, adquiri um sitio, e fui lutando muito. O pouco que tenho agradeço á Nosso Senhor Jesus Cristo, á Virgem Maria e á minha mulher.
O senhor continuou a levar produtos para serem vendidos no Mercado Municipal?

O Mercado foi melhorando, passou a ter maior área coberta, tinha mesas para as mercadorias á venda serem expostas, no começo, quando eu ia com o meu pai.

Aos noventa e cinco anos, o senhor ainda monta a cavalo?

Só em animal muito manso!

 

Quantos quilômetros o senhor andava a cavalo do seu sítio no Bairro do Garcia até outro sítio onde tinha gado no Tanquã?

A distância de um lugar ao outro é de 50 quilômetros, por uns sete anos eu ia e voltava uma vez por semana. Saía ás três horas da madrugada, olhava o gado e voltava á noite, onze horas, meia noite, percorrendo na ida e na volta o total de cem quilômetros. Tinha um cavalo muito bem cuidado, atravessava por um atalho, a noite bambeava a rédea do cavalo e ele fazia o trajeto de forma correta. Praticamente era ele quem nos guiava. Chamava-se Alazão. (Chiquinho se emociona ao lembrar-se do animal). É difícil achar um cavalo como aquele!

Quando o senhor mudou-se do sítio para a cidade de Piracicaba?

Foi em 1957, vim morar na Rua Campinas, aqui conheci muitos amigos, José Nassif foi um dos meus grandes amigos, que tinha em sua companhia dois filhos, um deles chamado Marco, que ás vezes passava em casa, sempre lá pelas três horas da tarde e dizia: “Seu Chico, papai quer que o senhor vá jogar um truquinho lá”. Com meu parceiro Zé Birolo, subíamos até a casa do José Nassif, divertíamos até as dez horas da noite, em uma harmonia como se fosse da família. Depois o Marco ficou mocinho, veio o filho dele chamado João que dizia: “-Seu Chiquinho! Papai falou para o senhor ir jogar uma trucada!” Isso aconteceu por muitos anos, nunca tivemos um descontentamento. José Nassif tinha um irmão médico, o coronel João Nassif, toda vez que ele vinha de Curitiba á Piracicaba visitar a família eu era convidado para jogar truco. Sempre gostei muito de cururu e jogo de truco. Aos sábados eu dizia: “Seu Zé! Dez horas vou ao cururu!”. Ele não queria que eu fosse, mas eu ia. Isso no tempo dos cururueiros Bastião Roque, João Davi, Zico Moreira, Pedro Chiquito, Nhô Serra, eram todos meus amigos. No truco joguei muitas jantas (jantares), só consegui ganhar amigos. Nunca tive um descontentamento com os parceiros de truco, quando iam a minha casa, na hora de nos despedirmos, nós nos abraçávamos. Na casa do meu amigo Zé Nassif apareceu muitos jogadores afamados, nós sentávamos para jogar, eles ganhavam, após algumas partidas percebíamos que o jogo não estava certo, quando era descoberta a marca do baralho eles levantavam e iam embora. Alguns jogadores de truco levavam um baralho novo, com suas próprias marcas. Ganhei muitos amigos no jogo do truco.

As jantas, ou jantares, onde eram feitas?

Joguei varias jantas no Porto João Alfredo (Artemis), era feita em um bar que também servia a comida, era quatro jogadores daqui contra quatro jogadores de lá, meu parceiro era o Juvenal. A outra dupla era formada por Juca Jordão e Chico Penha. No Pau Queimado quem fazia a janta era o José Alonso. Jogamos valendo janta na Bassororoca, na casa do Chico Gomes, no então bairro rural São Jorge (hoje urbanizado), na Rua do Rosário. Em muitos lugares as esposas dos jogadores faziam a janta. Na Rua do Rosário, havia um bar cujo dono era um japonês onde joguei um torneio com o parceiro Lupércio Ferraz, havia umas cinco duplas participando, Lupércio e eu ganhamos o torneio. Ás vezes acabava “perdoando” o adversário perdedor e dividíamos as despesas da janta!

A sua casa da Rua Campinas foi construída pelo senhor?

Eu comprei a casa pronta, no quarteirão em que eu morava, Rua Campinas entre a Rua Edgar Conceição e Avenida do Café, havia várias casas, do Fiori Novello, Francisco Moraes, José Grella, no quarteirão em frente não havia nenhuma. Mais tarde Alfredinho Casarim e outros construíram suas casas ali.

O senhor conheceu o Dr. Francisco Salgot Castilon?

Conheci, devo obrigação á ele. No Tanquã existia um senhor com 110 anos, chamava-se Benedito, não tinha ninguém que olhasse por ele. Dois amigos meus, Aristides Pires e Manoel Martins, disseram que o Seu Benedito estava muito doente, havia a necessidade de internação. Com o meu jipe trouxe-o até a Santa Casa, onde me disseram que não havia vaga para interná-lo. O médico Dr. Omir Dias de Moraes, a quem devo essa obrigação, morava próximo ao mercado, ao procurá-lo contei-lhe o ocorrido. Voltei a Santa Casa com um bilhete do Dr. Omir. Imediatamente arrumaram acomodações ao Seu Benedito. Após permanecer por 30 dias internado, com o auxilio do Dr. Salgot, conseguimos levá-lo para o Lar dos Velhinhos, onde terminou o resto dos seus dias. O pessoal da Santa Casa foi até Serra Negra, hoje Ibitiruna, onde levantaram a data de nascimento do Seu Benedito, estava escrito na uma ficha do paciente, na cabeceira da cama, idade: 110 anos!

O senhor conheceu Vitório Fornazier?

Muito! Ele tinha venda no Pau D`Alhinho, adquiriu de João Sabino Barbosa a esquina da Rua do Rosário com Avenida Dona Jane Conceição, hoje Super Mercado Balan. João Sabino, outro grande amigo, morou no Bangé ainda criança, éramos amigos desde aquela época teve barbearia na Rua do Porto, na Rua do Rosário, colocou uma máquina de beneficiar arroz e uma venda tinha uma grande freguesia.

Onde atualmente é a Padaria Takaki, na Praça Takaki existia uma venda?

Era de propriedade de Antonio Lucas.

Conheceu algum frangueiro?

Conheci vários. Silvério Correa, Bepe Molina, Antonio Granal, Zé Patrício, Mathias, Regolim, Antonio Angelocci, levavam de tudo, pão, miudeza, linhas, agulhas, trocavam com ovos, frangos.










segunda-feira, maio 31, 2010

O COLECIONADOR DE FRASES

                                                                                                                                          
O COLECIONADOR DE FRASES
Autor: J.U. Nassif
Antonio Castro, mais conhecido como Castrinho aos sete anos de idade passou a atuar como coroinha, ajudando na celebração da santa missa. Ficou fascinado com a missa em latim. O primeiro trecho que procurou traduzir, com a ajuda do Padre Bento foi Kyrie Eleison.
Do grego,
KYRIE ELEISON
Kyrie eléison. Kyrie eléison. Kyrie eléison.
Christe eléison. Christe eléison. Christe eléison.
Kyrie eléison. Kyrie eléison. Kyrie eléison
Traduziu para o português:
KYRIE (PERDÃO)
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós
A satisfação de conhecer o significado das palavras que estava falando dava-lhe um enorme prazer, e também certa superioridade junto aos colegas coroinhas, que a principio estranharam o fato daquele menino da idade deles saber grego, latim. Uma mistura de ciúmes e fascínio pelo conhecimento do coleguinha. Certo dia Castrinho viu a frase “Ala Jacta Est“ (“A sorte está lançada“) encantou-se com ela e sua tradução. Passou a usá-la em voz alta após entregar cada prova escolar ao mestre. Embora não fosse propriamente um aluno aplicado, suas notas sempre foram razoáveis, e aquelas palavras estranhas aos outros alunos parecia uma fórmula mágica para atrair boas notas. A classe toda repetia a mesma frase ao entregar suas provas ao professor. Castrinho tinha se tornado um líder. Logo foi eleito representante da classe junto à diretoria da escola. Era ele quem falava em nome dos alunos nos dias solenes. Castrinho cresceu, tornou-se um rapaz que deixava as garotas entusiasmadas por ele. Praticava esportes, futebol, natação, chegou a ganhar medalhas como jogador de basquete do time da escola. Prestou vestibular, e foi cursar Direito durante o dia e Publicidade a noite. Castrinho embora tivesse tudo para ser vaidoso e pedante, tratava a todos com a mesma deferência. Do porteiro ao diretor da escola. Isso o tornava popular e muito estimado. Gostava de namorar, de sair nas baladas, viajar quando entrava em férias. Através de intercambio internacional de estudantes, morou no exterior. Viajou pelos albergues da Europa. Castrinho passou a ser um colecionador compulsivo de adágios. Anotava todos e transcrevia-os para seu computador. Era fascinado por frases feitas, sem questionar a origem. Com o tempo, passou a usá-las, com o maior cuidado para não causar o efeito contrário: ser um chato. No momento em que ouviu a famosa frase "Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”, atribuída a John F. Kennedy. Castrinho tomou a decisão da sua vida: seguiria a carreira política, queria salvar a humanidade da miséria e injustiças. Surgiu nesse instante um novo Dom Quixote, as frases de efeito, seriam o seu Sancho Pança. Filiou-se a um partido político, uma legenda que não exigia uma votação estrondosa. Quando estava só em sua casa, ficava diante do espelho do seu quarto e ensaiava gestos, palavras, expressões faciais. Auxiliado pelo seu partido político passou a visitar comunidades de bairro, conhecer lideranças. O público feminino delirava em ter aquele quase artista de novela ali, presente. O público masculino ficava hipnotizado com as falas sábias de um jovem, de origem abastada, dedicando-se a nobre causa de lutar pelos mais necessitados. Era um sucesso total. Seus discursos eram aguardados ansiosamente. Primeiro citava os nomes mais conhecidos ali presentes. Tomava o cuidado de antes estudar quais eram as aspirações daquela comunidade. Se alguma obra pública não tinha sido realizada no tempo prometido Castrinho soltava: “Não adianta dizer: "Estamos fazendo o melhor que podemos". Temos que conseguir o que quer que seja necessário”. A platéia vibrava. Ele então completava: “O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade”. "A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque é a qualidade que garante as demais. " Era o clímax! Castrinho sentia que os ouvintes entravam em transe. Eram votos garantidos. Ele então encerrava dizendo: “Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor." A turba como nos circos romanos gritava com toda força dos seus pulmões: “Castrinho...Castrinho...Castrinho...!
Eleito vereador, deputado, governador, Castrinho passou para a fase máxima da sua carreira: candidato á Presidente da República.
Antonio (Tuta) Siqueira foi seu colega no curso de publicidade. Eram amigos, companheiros, e foi dele que partiu a grande idéia: todo eleitor ganharia um celular, se Castrinho fosse eleito iria buscar o chip. O mote da campanha era: “Fale bem pertinho com Castrinho”. Milhares de aparelhos ortodônticos foram implantados, sempre para a arcada inferior, se fosse eleito o eleitor iria implantar a parte da arcada superior do aparelho. O mote da campanha era “Castrinho eleito, sorriso perfeito”. Camisetas com frases de auto-ajuda foram distribuídas, sempre com o nome do guru Castrinho.
O poema Jabberwocky de autoria de Lewis Carroll (1832-1898), autor de Alice No País Das Maravilhas surpreendeu e encantou o mundo. Tinha palavras inventadas, alternadas com palavras já existentes. O poeta Augusto Campos tentou traduzir o poema para a língua portuguesa:
“Era briluz. As lesmolisas touvas. / Roldavam e relviam nos gramilvos./ Estavam mimsicais as pintalouvas/ E os momirratos davam grilvos”
“Retoando pela incerosa pradaria, lá vai o alazão, célico e alveloz.../ Volteje alazão! Volteje a anseria! (Nils Zen).
Para Castrinho foi o pote de ouro no fim do arco-íris! Castrinho passou a brincar com as palavras. .Mastigarei! Se fosse sólido comê-lo-ia. Doa a quem doê-la. O primeiro pé nunca é esquecido. A Suíça é um mundo de faz-de-conta numerada. Esse Bamerindus...
Criou um vasto repertório usando a fórmula que o consagrou. Um de seus pronunciamentos:
“Trabalhadores do Brasil! Escravidarei relojoando, injetando adrenalina por força pancaditiva. Glândulas sudoriporas sideresforçais, forjabras em óleomintos, açonosso, petronosso de cada dia. Brasileiros e brasileiras! Big Brother da moedagem consumitiva, fiscoespionai, tabelaço no acém como na abobrinha. Despejais folgosas abelhudas e marimbondos espadachins. Minha gente! O igual será diferente, gelomoedas para todos! Poupançadores enfartem com suas economisérias. Veja o meu reflexo na amplitude dos seus olhos. Se lindo sou, lindo estou, qual cisnedindo em noiteluz. Neto de avô Doutor Honório Causa, conheci Alfa e Beto, e nada mais foi igual nunca antes na história desse país”. Sendo interrompido pelos aplausos da enorme massa popular ensandecida. Castrinho é estadista consagrado dentro e fora do país. Emocionam-se com as suas palavras, acham-nas bonitas, ditas com convicção, embora poucos o entendam na sua língua mãe, os que se arriscaram a entender chegaram a neologismos e a um amontoado de palavras desconexas. Enlouquece os tradutores oficiais dos países que visita. Porém todos reconhecem o seu incomparável talento para a oratória, troféu olímpico dos verdadeiros líderes.











domingo, maio 30, 2010

Seleção Brasileira faz escala em Brasilia


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PARABÉNS PELO BLOG! EXCELENTE!
Abraço, Maria Emília
# postado por Mel Redi : 7:24 AM

Guido Ranzani



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 29 de maio de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: Prof. Dr.Guido Ranzani

Guido Ranzani mantém extremo bom humor, ao ser fotografado, muito bem disposto, contagiou o ambiente dizendo: “- Cansa fazer cara de inteligente!”. Durante o bate papo, do alto dos seus 95 anos, manteve um diálogo alegre, esbanjando cultura e de extremo bom senso, mantém-se muito bem atualizado através dos veículos de comunicação. Sua filha Macau, que foi a primeira dama de Piracicaba, na gestão do marido, o ex-prefeito João Hermann Neto, já falecido, confidencia em voz alta, que seu pai ainda gosta de comer uma rabada com polenta e uma taça de vinho, tradição italiana da qual ele não abre mão. Admiradora do pai, ela diz que ele era um terrível “pé-de-valsa”, a ponto de algumas vezes deixar a mãe com certa ponta de ciúmes injustificados. Guido Ranzani foi piloto nos tempos em que a coragem era o melhor combustível de um avião. Pára-quedista, bom futebolista, atacante destemido, daqueles que jogam para decidir a partida. Assim como jogava com garra, também mergulhava nos livros, estudioso, é o pioneiro na classificação de solos de diversas regiões do Brasil e de outros países, tendo elaborado cartas de solo, inclusive a de Piracicaba. Seu currículo é composto por trinta e uma páginas. Guido Ranzani é uma autoridade consagrada dentro e fora do Brasil, tornando-se uma figura lendária entre os estudiosos de solo. É membro das seguintes sociedades: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo; Sociedade Paulista de Agronomia; Sociedade Brasileira de Botânica; Sociedade Latino-americana de Ciência do Solo; ‘British Soil Science Society’; ‘Pacific Science Association’; Sociedade Brasileira de Engenharia Agrícola; Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba; Associação dos Geógrafos Brasileiros; Comissão Internacional de Condicionadores do Solo. Recebeu os títulos honoríficos: Medalha Marechal Rondon - jun/1994; Sócio Honorário da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo – jul/1997; Cartão de Prata da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Tocantins (AEATO), 1997; Cartão de Prata do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia/TO, 2000; Medalha de Mérito Científico e Tecnológico, concedida pelo Governador Geraldo Alkmin/SP, 2001; Cartão de Prata da Câmara Municipal de Piracicaba/SP, 2001; Medalha de Mérito Científico, ‘Scientiarum Persona Magnífica’, prof. Walter Radamés Accorsi, Clube dos Escritores de Piracicaba/SP, 2003; Título Cidadão Destaque Ambiental, CONDEMA-Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, Piracicaba/SP, 2004.
O senhor é piracicabano?

Nasci em Serra Azul, no dia 5 de fevereiro de 1915, sou filho de Francisco Elias Ranzani e Elizabeth Bernardes Ranzani, sou o mais novo de cinco irmãos: José, Antonia, Leonor e Maria. Meu pai era ferreiro, sozinho ele ferrava os cavalos puro sangue inglês existentes na fazenda Serra Grande. Uma característica do puro sangue inglês é ter defeitos no andar, com a ferradura de pesos diferentes em suas patas corrige-se o passo do animal. A Fazenda Serra Grande era a maior fazenda das imediações, seu proprietário era J.Martins, um político de grande expressão naquela região. Comecei a estudar no Grupo Escolar de Serrana, minha primeira professora chamava-se Marina do Espírito Santo, ela gostava muito de mim. O secundário eu fiz em Campinas, no Instituto Cesário Motta, aos onze anos de idade já era aluno interno, só ia para a minha casa no período de férias. Eu tocava na banda da escola, era corneteiro, nas festas típicas tocava violão.

Quando o senhor passou a morar em Campinas, como aluno interno, estranhou muito?

Mudou completamente! Saíamos aos sábados, tomávamos um sorvete, passeávamos um pouco no centro e voltávamos para o internato. No período de férias meu pai ia me buscar com seu carro, um Chevrolet preto.

Após concluir o ginásio o senhor estudou onde?

Fiz o Colégio Universitário, anexo à ESALQ, no período de 1936 a 1938. Prestei os exames e fiz o curso superior de Engenharia Agronômica, no período de 1938 a 1941.

Quando o senhor entrou na ESALQ o senhor veio morar onde?

Morei na República Rio Negro.

Após formar-se como agrônomo, o senhor foi trabalhar aonde?

Fui convidado por Manoel Ribas, interventor do Estado do Paraná, para trabalhar no Norte do Paraná como diretor da Fazenda Matilde. Havia gado de diversas espécies, cavalos puro sangue inglês. Duas éguas da raça Bretã Postier, a Quina e a Bala quando eram colocadas no semi-trole formavam uma composição que parecia um brinquedo. Na Fazenda Matilde permaneci por três anos. Voltei á Piracicaba, ingressei na ESALQ como assistente do Prof. Mello Moraes, o Melinho. Ele me jogou na fogueira, disse-me: “-Você vai tirar a livre docência logo, não vou esperar muito tempo não!”. Enterrei-me nos livros, fiz a livre docência e comecei a vida universitária, assumindo a cadeira de Solos, eu estudava para valer.

Como o senhor conheceu sua esposa?

Foi em um baile da ESALQ, eu cheguei até a comentar com meus colegas: “Vejam aquele narizinho em pé, é da paulistinha!”. Giselda Barbosa era natural de São Paulo. E não é que fui fisgado por ela! Casamos em Santos, para onde sua família havia mudado, tivemos quatro filhos: Godofredo, Maria da Graça, Maria Cláudia (Macau) e Adriano.
Com o neto Gustavo Ranzani Hermann
Em seu álbum de família há várias fotografias em que o senhor aparece dançando, essa animação sempre existiu da sua parte?

Eu era arroz de festa!

Qual é seu time do coração?

Sou Santista! Pratiquei bastante futebol. Era center-half (beque central) do “A” Encarnado, eu marcava a ponta direita. Um dos jogos dos quais me lembro foi uma partida contra o XV de Novembro de Piracicaba, o jogador Leme era o ponta direita, ele não pegou uma bola durante o jogo todo. Eu era uma brutalidade, muito atrevido, entrava feio, para resolver a questão, não havia meio termo. O Leme saltitava em volta, não se atrevia a ir pegar a bola.

O senhor pilotava avião?

Fazia até acrobacias aéreas com o Piper, me brevetei com um F-5, motor radial, fui o centésimo piloto de Piracicaba, entrava na pista a 100 quilômetros por hora, era um bi-plano muito pesado e com pouca área de sustentação, era necessário estar sempre em velocidade para garantir a segurança do vôo.
Passou algum apuro pilotando?

Passei por diversos apuros, um deles foi o motor que morreu, não pegava mais, eu desci planando, existe duas formas de dirigir-se de um ponto ao outro, deixar o avião já caindo ou inclinado para a aterrissagem.

Por acaso o senhor passou entre as duas torres da catedral de Piracicaba?

Passei! (Guido respondeu com ar de criança que fez alguma arte).

Salto de para quedas chegou a realizar algum?

Saltei na cidade de Araraquara.

Quais são seus livros e capítulos de livros publicados?
Publiquei os seguintes: Solos para Cana de Açúcar; Pequeno Guia para Levantamento de Solos; Manual de levantamento de Solos; Terras para Café, O Solo como Fornecedor de Nutrientes aos Vegetais; Manual de Levantamento de Solos; Subsídios à Geografia de Piracicaba.

O Mapa de Solos de Piracicaba é de sua autoria?

Foi trabalho do meu departamento. O mapeamento de solo já existia como atividade comum, não era novidade. Esses mapeamentos são de penetração em todos os pontos de mudança de relevo, de solo, de vegetação, o trabalho é feito visitando cada ponto e comparando, fazendo confronto entre cada grupo de solo, dando a cada um suas aptidões existentes, dando informações a cada proprietário de terras, fornecendo as orientações de uso e manejo do solo, essa era a finalidade. Existem muitos tipos de manejos que são feitos uma vez só e o solo deteriora. Existem os manejos conservacionistas, fazem bem para o solo e para o bolso do dono da terra.

O senhor sabe que foi um pioneiro?
Só distribui o que conhecia, acreditava no que estava fazendo. É uma coisa fácil de ser feita, todo mundo fazia.
O senhor fez levantamento de solos no Estado de Tocantins?

Fiz, permaneci por 10 anos morando em Tocantins.

O solo de Piracicaba é rico?

Tem terras muito ricas, normalmente mal manejadas. O solo é uma entidade natural muito delicada, qualquer processo mal conduzido produz uma energia de transformações não desejáveis, baixa o nível de atividade. Existem solos muito delicados, onde a maior agressão é colocar um arado revirando tudo. Ele perde a capacidade de agregar as qualidades. O solo é como um animal, que possui suas qualidades e o proprietário não as quer perde-las, faz de tudo para conservar essas qualidades. Existem processos que uma vez ativados não tem jeito de voltar.

E a Amazônia, onde o senhor permaneceu por vários anos?

A Amazônia é um exemplo! O desmatamento da Amazônia é feito independente de uma vistoria das possibilidades existentes para a utilização das terras, ou para qualquer finalidade que se tenha em mente. Lá acontecem as coisas sem nenhum cuidado. Não se pode ir contra essas qualidades, elas devem ser conservadas, geralmente a utilização é uma agressão tremenda, o uso de produtos químicos é uma das questões mais polemicas altera o dinamismo das atividades, em vez de beneficiar, prejudica, aumenta-se os problemas. Há terras em que o equilíbrio é mantido com uma delicadeza a toda prova. Não se pode simplesmente entrar, limpar e arar! Isso está completamente errado. Existem terras que não devem sustentar produções agrícolas. Essas terras são indiscriminadamente utilizadas, não há separação do joio e do trigo, são solos muito delicados, que devem permanecer com a vegetação natural para manter o equilíbrio ecológico.

É difícil expor isso para quem está explorando a terra?

É difícil! Às vezes é a única terra disponível.

O que a ESALQ representa para a agricultura brasileira?

A ESALQ é uma peça fundamental para o desenvolvimento agrícola do país, e ela está no rumo certo. O IPT está se instalando também em Piracicaba, isso é só o começo, deverá vir outras coisas mais difíceis de introduzir e mantê-las.

O senhor é religioso?

Sou, rezo todos os dias, não me deito sem fazer a minha parte.

Algumas pessoas acreditam que a morte encerra completamente a existência do individuo, física e espiritualmente, qual é a sua opinião?

Não penso assim. Acho que a outra vida é melhor.

Cientificamente existe algum indício de outra existência?

Não sentimos racionalmente. Hoje tudo gira em torno do cérebro, o processo do raciocínio. A outra vida não tem essa contribuição, não tem o cérebro ajudando. Eu acredito em outra vida, para mim a morte é uma troca de roupa. Tomando-se um bom banho, troca-se de roupa! Não participaremos com o organismo, mas com o espírito, e espiritualmente nós não temos a capacidade para discutir quase nada, não conseguimos ter a devida argumentação, não encontramos palavras, e nós também não sabemos. O fato de ignorarmos o que existe após a morte não recomenda que se despreze alguma coisa. Existe uma forma de vida, completamente diferente. Eu não posso discutir isso, você não pode discutir ninguém pode discutir a respeito. O fato de acreditar que existe é até recomendado, você vive melhor. Se morrer irei me expressar de maneira diferente, não é falando ou ouvindo, me preocupando com as coisas que tenho me preocupado, as preocupações são outras. Troca-se esta vida por outra forma de vida, a forma de vida espiritual, que não temos nenhum parâmetro para discutir, basta acreditar, acreditando é o suficiente e eu acredito!

E o mérito pessoal? Há pessoas que agem de forma correta outras não.

Agindo bem a pessoa não estará criando obstáculos para essa outra vida, que desconhecemos. A pessoa pode criar problemas para o outro ele. O maior inimigo do homem é ele mesmo. É um tema difícil de discutir.

Às vezes o senhor olhando no vazio vê um filme em sua frente mostrando seu passado?

Volto muito! É bom recordar a experiência adquirida. Não estou levando nenhuma complicação para a outra vida!

Comentários:
Parabéns, o Dr. Guido Ranzani é uma pessoa fantástica. Conheci ele no Tocantins, também como um pioneiro e alguém que nos deixou muitos conhecimentos e a alegria de ter tido a oportunidade de trabalhar com ele na Universidade do Tocantins.


# postado por Margareteae : 10:01 AM


Grande amigo do coração tive contato em palmas onde trabalhamos juntos na confecção das suas cartas de solos e livros publicados, grande abraço de Ariovaldo e familia.


# postado por RAFAEL : 4:56 PM




sexta-feira, maio 21, 2010

Padre Luiz de Souza Lima (Padre Luiz)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de maio de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/


                                                       
ENTREVISTADO: Padre Luiz de Souza Lima (Padre Luiz)
Os paroquianos da cidade de Rio das Pedras têm em seu vigário Padre Luiz de Souza Lima o condutor da fé católica do município. Padre Luiz como é mais conhecido, tem uma conduta ecumênica, respeitando e convivendo fraternalmente com fieis de outras crenças religiosas. Voltado para a motivação e aumento da fé religiosa, está trazendo verdadeiros astros da música católica, como o Padre Fábio de Mello, estimando a recepção de um público em Rio das Pedras de aproximadamente 60 mil pessoas, mais do que o dobro da população local. Apoiado em sua iniciativa pelo prefeito Marcos Buzzeto, que é evangélico, Padre Luiz parece ter-se lembrado que os jesuítas como Padre José de Anchieta, lançaram mão da música para a conversão de novos adeptos e fortalecimento da fé dos católicos. Muito organizado, sereno, Padre Luiz discorre de forma didática sobre sua vocação, seu trabalho, seus projetos, a recente viagem á Jerusalém, na companhia de dezenas de católicos e um único fiel de outra crença, o prefeito Marcos Buzzeto.
O senhor pertence a qual ordem?
Sou do clero diocesano, pertenço a Diocese de Marília, estou na Diocese de Piracicaba desde 1988, fui designado para vir á Piracicaba para permanecer por dois anos, estou até hoje. Fui designado para a Paróquia da Igreja Santa Catarina onde fiquei por 18 anos. Em 2006 fui transferido para Rio das Pedras, onde permaneço até hoje.
Em qual cidade o senhor nasceu?
Nasci em Lavras da Mangabeira, no Estado do Ceará, em 22 de dezembro de 1951, filho de Vicente Ramos de Souza e Glória Maria de Souza, somos sete filhos, sou o filho do meio. Eu tinha sete anos de idade quando a minha família mudou-se para São Paulo, radicando-se em São Bernardo do Campo. Sou o único filho que seguiu a vocação religiosa, minha família sempre teve uma profunda fé religiosa, sempre procurou viver o evangelho, minha mãe era uma mulher muito piedosa, rezava o terço todos os dias, não faltava ás missas, naquela época havia missa a partir das cinco horas da manhã, eu ainda criança a acompanhava. Meu pai era muito devoto de São Francisco de Assis. Minha mãe eu acho que era devota de todos os santos. (A resolução Régia de 20 de maio de 1816 criou o município com a denominação de Vila de São Vicente das Lavras da Mangabeira, hoje Lavras da Mangabeira, distante 434 quilômetros de Fortaleza. A origem do nome está nas lavras de ouro ocorridas na época).
Onde foram seus estudos?
Comecei meus estudos primários em Lavras da Mangabeira e conclui em São Paulo. Aos onze anos de idade fui estudar em Juazeiro do Norte, no Seminário Seráfico São Francisco dos frades capuchinhos. Após uns dois anos de permanência lá, retornei a São Paulo.
O que o motivou a ir para o seminário?
A decisão foi baseada na minha vocação, minha mãe comentava que desde os meus seis anos de idade eu já brincava com a criançada, pegava um lençol branco e dizia que já era padre. Sempre tive esse desejo, essa vontade de ser padre, fui coroinha, ajudava nas missas, isso me motivou a ir para o seminário.
O senhor trabalhou em uma grande indústria em São Bernardo Campo?
Retornei á São Paulo, e por um período, na época eu tinha dezesseis anos, fui trabalhar como montador na Brastemp. Quis pensar, refletir, e assim permaneci trabalhando por uns dois anos. Após esse período voltei para o seminário, ai foi para valer. Fui estudar em Bragança Paulista. De lá fui morar com os Frades Dominicanos, no Jardim da Saúde, na Igreja da Sagrada Família, por sinal quem a construiu foi o Engenheiro Antonio Costa Galvão, ex-prefeito de Rio das Pedras. Em três anos fiz a faculdade de filosofia e em quatro anos fiz a faculdade de teologia cursados nas Faculdades Associadas do Ipiranga, a FAI. Em 1984 fui ordenado por Dom Antonio Pedro Misiara, Bispo de Bragança Paulista. Fui auxiliar em Mairiporã o Padre Roberto da congregação do Schoenstatt, em seguida fui para a diocese de Marília, na paróquia de São Pedro, em Tupã, auxiliei monsenhor Nivaldo Resstel por um ano. Fui transferido para Flórida Paulista onde fiquei por três anos. Em seguida vim á Piracicaba em 1988 e durante 18 anos estive na Paróquia Santa Catarina, no bairro Nova América, vim para suceder os capuchinhos, que fizeram um trabalho muito importante nessa região. Meu antecessor foi Frei Augusto Girotto. Em 31 de janeiro de 2006 tornei-me pároco de Rio das Pedras, tendo como auxiliar o Padre Miguel que veio transferido de Anápolis.
Quantas capelas existem além da Matriz de Rio das Pedras?
São as capelas rurais de Lambari do Meio, Lambari de Cima, Viegas, Santo André, Nossa Senhora Aparecida, Pombal.
Como é administrar uma paróquia em uma cidade onde quase todos se conhecem?
Eu tenho mais facilidade de cuidar da paróquia em uma cidade menor, é uma paróquia única, as pessoas se conhecem mais, tudo é mais fácil. Até o próprio relacionamento com outras instituições, como o poder público, é mais acessível. O povo é muito bom, católico, respeitoso.
Como é a relação da Igreja Católica com outras crenças?
Vejo a Igreja Católica procurando caminhar com todos e respeitando a todos. O fato de uma pessoa ser evangélica e eu ser padre, isso não é motivo para impedir o nosso relacionamento, acredito que devemos conviver com as diferenças. A igreja católica ama as pessoas, somos todos filhos do mesmo Pai que nos ama que nos quer bem. Todos querem seguir Jesus, a igreja católica é sempre aberta ao diálogo. Em Rio das Pedras me relaciono muito bem com os pastores da cidade, existem algumas crenças que ainda se fecham um pouco no relacionamento com a igreja católica. O nosso prefeito é evangélico. Alguns perguntam como pode um padre católico relacionar-se tão bem com um prefeito evangélico? Dia 6 de agosto teremos o show do Padre Fabio de Mello, a idéia inicial partiu dele. Viajamos para a Terra Santa em 34 pessoas sendo que o único evangélico era o prefeito Marcos Buzetto. Causou a admiração das pessoas o seu comportamento, o seu testemunho de fé.
O senhor visitou o Muro das Lamentações?
Fui sim, só que não fui para lamentar nada, fui para agradecer. O Santo Sepulcro é um lugar onde as pessoas se emocionam muito. É uma demonstração pública de fé.
“É mais fácil um camelo passar por um buraco, pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus”. Como o senhor interpreta essa frase?
Não podemos fazer uma leitura fundamentalista, pegar a coisa ao pé da letra, não ter uma visão ampla, aberta, deixar de refletir sobre o sentido disso. Isso não significa que todo rico vai para o inferno. Aplica-se ao avarento, ao ladrão, ao egoísta, ao ganancioso. Se você conseguiu obter o que possui de forma honesta, não pensa só em si, não é egoísta, é claro que isso não se aplica. Existe muito pobre que é pior do que rico. Pobreza não significa humildade. Muitas pessoas ricas são também pessoas humildes. A grande pobreza é a espiritual. Existem pessoas que tendo ou não tendo bens materiais vivem com seu pensamento voltado á Deus.
Existem cursos motivacionais escondidos atrás de uma denominação religiosa, que estimulam seus seguidores a ganharem cada vez mais dinheiro e melhorar a contribuição aos cofres da instituição?
São instituições constituídas por pessoas que através de mentiras, engodos, buscam alcançarem seus objetivos. Só que isso não os leva a nada. Uma pessoa esclarecida irá sempre avaliar uma situação dessas. Os mais humildes são as maiores vítimas, muitas vezes aproveitando de uma situação de desespero pela qual o individuo passa, isso é uma grande chantagem.
Como o senhor vê a violência nos dias atuais?
A violência infelizmente estabeleceu-se em todos os lugares, é fruto de uma série de fatores. O principal é a falta de Deus no coração. Mudou o mundo, em Roma não existe praticamente o assalto, existe o roubo. Os exemplos negativos provocam a violência, temos no nosso país alguns péssimos políticos que dão esse exemplo. Vemos o que está ocorrendo, julgamos as atitudes, conhecemos os fatores, mas agir contra isso tudo é o mais difícil.
Qual é o santo da sua devoção?
Tenho muita devoção á Nossa Senhora Aparecida, ela já me ajudou muito e continua me ajudando. Todo ano faço uma visita ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Nossa Senhora é uma única, ela recebe vários nomes em diversos lugares.
O senhor é confessor dos seus fiéis, após um período ouvindo confissões não sente a cabeça pesada?
Quando termino de ouvir as confissões saio cansado fisicamente pelo tempo que permaneço ali. As palavras que ouço não me cansam. Aos sábados é grande o número de pessoas que desejam falar com o padre, não se trata de confissão, mas de aconselhamento espiritual, coincide com um número maior de pessoas que procuram confessar-se. O padre não deve falar muito, e sim escutar. Outro dia chegou uma senhora na igreja eram umas três horas da tarde, foi embora cinco horas e pouco. Ao sair ela me disse: “-Muito obrigado! O senhor me ajudou muito!”. Eu não tinha falado uma palavra sequer. Ela saiu chorando, feliz, ela queria alguém que tivesse paciência para ouvi-la, não era assunto para confessionário, tratava-se de situações particulares, que não é para serem tratadas de forma corriqueira.
Na sociedade atual o psicólogo faz as vezes do padre e muitas vezes o padre é também um psicólogo?
O padre tem ser padre e psicólogo.
O senhor confessa?
Tenho meu confessor, o bispo se confessa o Papa se confessa. Todos nós confessamos.
Fazemos retiro anualmente, e há um dia especial só para as confissões.
O senhor acredita que a humildade seja uma qualidade essencial ao ser humano?
A pessoa que não é humilde sofre muito. A humildade é uma característica do bom cristão. Independente da posição social ou financeira a pessoa humilde é aceita em qualquer lugar. A pessoa arrogante se isola. Você já pensou em uma pessoa chata, sem humildade nenhuma? Ninguém gosta dela! Quantas vezes você já ouviu dizerem: “- Ah! Aquele cara é chato! Vou sentar em outro lugar!” Humildade não significa ser bobo. A humildade deve ser inteligente, a pessoa humilde tem uma grande facilidade em ser aceita em qualquer situação. É comum ouvirmos dizerem: “- Que pessoa bacana! Que pessoa humilde!” Comigo já aconteceu de ir a determinado estabelecimento comercial em Piracicaba, e ao entrar deparei com um atendente apresentando-se em situação totalmente destoante com sua função, ele estaria perfeito para a apresentação pública de um conjunto musical de musica de protesto, o seu comportamento atendendo junto ao balcão estava totalmente inadequado. Em tom de brincadeira disse-lhe: “-Você está de mal com a vida?”. Ele respondeu que não. Disse-lhe então que ele estava em lugar errado.
O senhor tem algum esporte preferido?
Gosto de caminhar, as vezes brinco jogando futebol.
Qual seu time de futebol preferido?
Corinthians! (Outro padre corintiano é Monsenhor Jorge)
Algum hobby?
Gosto de ler, e preciso estar bem informado. Recebo a Folha de São Paulo, A Tribuna, Jornal de Piracicaba. O tempo tem que ser muito bem administrado para fazer tudo, se não forem devidamente programadas as tarefas do dia torna-se praticamente impossível de serem realizadas. O padre assim como outras profissões, tem que estar sempre atualizado.
Como são os jovens atualmente?
A juventude é 10! São sempre vitimas. Critica-se muito o comportamento dos jovens, mas certas coisas são decorrentes dos meios de comunicação, da mídia, as vezes problemas em família. Mas todo jovem é bom!
A nossa televisão deseduca?
Acho que a televisão deveria fazer um trabalho melhor, não posso afirmar que tudo esteja errado na televisão, tem o seu lado bom, os jornais são interessantes. Vemos programações onde se propagam as criticas sem sentido, a desunião da família, isso é muito ruim. A pessoa despreparada passa a imitar certas coisas vistas na televisão. Eles não tiram certos programas porque representam bom faturamento. Com isso temos pessoas despreparadas, sem nenhuma referência a não ser a beleza física, influenciando hábitos e costumes. A internet pode ser uma fonte de problemas para os pais administrarem.
O senhor prega de improviso ou prepara os sermões para as missas que celebra?
Não consigo fazer uma pregação lendo, falo de improviso, me preparo lendo o trecho no evangelho por diversas vezes, medito sobre o tema e na hora da missa falo de forma natural. Minha comunicação é espontânea A espontaneidade implica em maior motivação para os fieis.

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