sábado, agosto 07, 2010

LUIZ ANTONIO COPOLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 07 de agosto de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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                                                                                            Foto by JUNassif
Luiz Antonio Copoli e sua esposa Terezinha Aparecida Furlam Copoli
ENTREVISTADO: LUIZ ANTONIO COPOLI
A imaginação humana sempre criou um fascínio pelo desconhecido. Basta ver a atração que as chamadas redes sociais da internet exercem sobre milhões de pessoas. O rádio sempre foi um dos grandes elementos que aguçam a criatividade do seu ouvinte, como foram os célebres contadores de história ao correr do tempo. Versos de Camões, modinhas, repentes, desafios, histórias de cordel, são relatos que estimulam o imaginário, cada individuo dá forma própria aos fatos relatados. O cérebro, esse nosso desconhecido, atua de forma maravilhosa, expande fantasias, dá seu colorido próprio, a cenografia e a sonoplastia são características de cada individuo. O bom orador sabe trabalhar muito bem com seu público, estimula ao máximo o exercício de criatividade de cada ouvinte. Saber trabalhar de forma interativa com sua audiência é a grande magia do apresentador de rádio. Transforma o comunicador em alguém muito próximo do ouvinte, passa a ser quase intimo do individuo. Essa é uma das razões pela qual ao conhecer um locutor o ouvinte parece estar revendo uma pessoa de suas relações mais próximas, mesmo sem nunca o ter visto antes, para aquele que acompanha um programa de rádio, o apresentador é uma pessoa que integra o seu cotidiano. Saber interpretar esses sinais de interação, conduzir o imaginário do ouvinte, despertar emoções é a grande habilidade de um apresentador de rádio. Muito diferente de uma pessoa que simplesmente fala ao microfone. Piracicaba tem um grande apresentador de rádio, que com seu “Programa da Amizade” encanta seus ouvintes há quase 30 anos. Conduz seu programa com maestria, tem um público extremamente fiel, é um Midas da propaganda. Titio Luiz é o alter ego (outro eu) de Luiz Antonio Copoli. Assim como Pelé é o alter ego de Edson Arantes do Nascimento. Titio Luiz acumula grandes performances, quer desenvolvendo campanhas de arrecadação ou motivando centenas de ouvintes a viajarem de navio pela primeira vez na vida. Se alguns torcem o nariz ao ouvirem seu programa, muitos o escutam de forma apaixonada, já o integraram em suas vidas, ele é uma extensão da família de cada um deles. Luiz Antonio Copoli nasceu em 22 de dezembro de 1946, é um homem de estatura elevada, que se veste de maneira clássica, esbanja simpatia, sempre atento aqueles que se dirigem a ele. Refere-se ao Titio Luiz como uma terceira pessoa, o cidadão Luiz Antonio Copoli tem plena consciência de que ele é responsável pelo ídolo Titio Luiz.
Quando foi o inicio do programa que o senhor apresenta?
O Programa da Amizade que apresento pela Rádio Educadora, fará em janeiro próximo 30 anos de existência, iniciei em janeiro de 1981. A estréia do programa foi em uma segunda feira, no domingo à tarde ainda não tinha encontrado o nome que daria ao programa. Dirigi-me á uma estante, para pesquisar alguns nomes, quando me deparei com o título do livro “A Amizade” pensei: “- Esse é o nome!”. O formato do programa foi sempre o mesmo, o fato de ser improvisado torna-o cada dia um novo programa. Não produzo nada antes de apresentá-lo, não crio nenhum roteiro prévio, não sou a favor disso, mas pelo fato de ser sozinho posso ter esse privilégio. Tudo acontece de forma natural, e assim transcorre a cada programa, apresentado diariamente das nove horas da manhã até ao meio dia.
Onde o senhor busca inspiração para motivar o seu público?
É algo que me perguntam, posso dizer que devo muito ao Padre Jorge iniciei com ele na década de 60, acredito que foi em 1964 ou 1965, o Padre Jorge me ensinou muito, a Igreja Católica Apostólica Romana me ensinou demais, além dos meus pais quem me educou foi o Padre Jorge. A minha educação é muito católica, apesar de hoje eu não freqüentar mais a igreja devo muito a igreja católica. Acredito que Jesus deixou uma doutrina, não deixou uma religião, visito locais de outras religiões sempre que me convidam. Gosto muito de ouvir padres, pastores, pregadores, acompanho pela televisão os pregadores que me despertam a atenção, tenho acompanhado o R.R. Soares, alguns pastores da Igreja Universal, Padre Jonas Abib da Canção Nova, Padre Eduardo da TV Século 21, Padre Zezinho, acompanho os bons pregadores. Deus para mim é você. Hoje meu Deus é o meu próximo. Digo às pessoas que se nós perdêssemos a bíblia e ficássemos apenas com “Amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”, nada estaria perdido, meu Deus é o amor ao próximo. Começo na minha família, não adianta amar seu irmão de caminhada se não amar a sua família. Não somos santos, e nem a minha família é perfeita, a minha família é composta por pessoas imperfeitas. Na minha profissão, na ótica do meu filho, procuro respeitar as pessoas, aceita-las como são. Há um bom tempo eu queria mudar as pessoas, mas não queria mudar a minha maneira de ser. Hoje procuro mudar a mim mesmo e não aos outros, cada um tem os seus direitos, não existe uma única verdade, cada um tem a sua verdade, temos que lutar pela nossa verdade.
Algum dia o senhor pensou em tornar-se padre?
Quando eu era moço foi cogitada a possibilidade de tornar-me missionário passionista, fui convidado por uma congregação de Curitiba. Pelo fato de ser o filho mais velho, portanto arrimo de família e de meu pai ganhar pouco, em hipótese alguma eu poderia ir ao seminário. Somos cinco irmãos, renunciei a ser missionário passionista em função dos meus pais e meus irmãos. Acredito que hoje o meu trabalho é tão importante quanto ao de um padre ou de um pastor, tenho o privilegio de falar para um numero maior de pessoas através do radio.
Qual é a faixa etária do público que o acompanha?
São pessoas com mais de vinte e cinco anos, poucos jovens ouvem o meu programa, porque poucos o entendem, o perfil dos jovens da minha época e os atuais, mudou muito, mesmo que eu queira que os jovens ouçam o meu programa eles não saberão o porquê de me ouvirem. As minhas palavras ajudam, àqueles que não a entendem atrapalha um pouco e até incomoda.
Seus ouvintes o procuram para conversar fora do horário do programa?
Diariamente atendo a pessoas que dizem: “-Seu programa mudou a minha vida!”, “-Seu programa mudou a minha família”, “-Seu programa me tirou da depressão, me tirou do fundo do poço”. São pessoas com mais de vinte cinco anos. Recebo em minha sala pessoas que me procuram, são pelo menos dez pessoas a cada semana. Muitas vêm com problemas sérios, acredito que o que o padre escuta no confessionário eu escuto aqui. A minha sala foi feita especialmente para isso, tem uma porta mais larga, é só o espaço vazio, não tem as folhas da porta, está permanentemente aberta. A minha esposa Terezinha fica logo ali, ao lado. Converso de portas e coração aberto.
Já houve muito choro na sua sala?
Muitas lágrimas foram derramadas, já trouxeram muito desespero, mas eu tenho tido a Graça de Deus, um presente de Deus, que as pessoas saem daqui confortadas. Com toda minha pequenez diante de Deus e pela misericórdia dele ele me dá a palavra, a palavra vem.
São problemas de origem financeira?
Não! Atualmente os grandes problemas da humanidade são os ciúmes e a desconfiança. Ninguém mais acredita em ninguém! Quando se trata de marido e mulher não é diferente, e isso tende a crescer, aqueles que não conseguem administrar alimentam as desconfianças e os ciúmes.
Homens ou mulheres o procuram mais?
Os problemas afetam a ambos, só que o homem é mais resistente a buscar ajuda, uma atitude machista, quando me procuram é por problemas com a família, filhos envolvidos com drogas. Atendo a todas as pessoas que me procuram.
Na maior parte do tempo o senhor escuta ou aconselha?
Geralmente eu só escuto a pessoa que me procura, assim como a que procura a um padre ela necessita falar, são poucas as que estão prontas para ouvir. A cada dez ou vinte palavras que ouço, falo apenas duas! Ouço coisas terríveis. Em minha casa às vezes Terezinha diz que estou muito quieto. É tão cansativo ouvir, que por isso admiro os padres, que não tem com quem conversar, não a respeito do problema, mas simplesmente conversar após ouvir por muito tempo problemas geralmente muito sérios. A falta de dialogo é muito grave atualmente.
A depressão é a moda do momento?
Depressão é uma forma de fugir da realidade. Você faz a opção por ela. Para depressão não existe remédio, você a cura. Existem casos em que é mais fácil optar pela depressão do que estar de bem com a vida, estar deprimido é uma forma de fugir de um problema, só que problemas existirão sempre! Temos que aprender a resolvê-los! Colocar acima de tudo a humildade, a paciência, a renuncia, o que não é fácil! Nos dias de hoje uma das coisas mais difíceis é renunciar. Por que os casamentos atualmente não vão bem? Porque nenhum dos dois quer renunciar. “- Eu tenho razão, eu mando, eu faço!”. Com isso surgem os atritos que acabam em separação.
A atual tendência para um individualismo mais acentuado pode acarretar em problemas?
Algumas pessoas acham que são donas da verdade, do mundo e das coisas. Só elas estão certas. Estabelecem normas, não aceitam que podem ter motivos para erros, ou que tem problemas.
A pessoa pensa: “-Eu sou único, sou verdadeiro, eu sou eu, sou bom pai, bom marido...”, isso tudo é bobagem! Somos todos iguais, Deus não estabeleceu diferenças para ninguém. Nós é que fazemos com que as pessoas sejam diferentes.
Alguma vez já ocorreu do senhor considerar seu ingresso na política?
Não! Já fui convidado para fazer parte de alguns partidos, á concorrer para cargos eletivos, mas penso que o radialista que se envolve com política tem vida curta no radio, e acaba tendo vida curta na política. Os colegas que entraram para a política pararam no meio do caminho. O radialista não pode se envolver com política. O radialista tem a fisionomia que o ouvinte gosta. O excesso de exposição da imagem pode atrapalhar a audiência do programa. Se Titio Luiz for candidato os eleitores não estarão elegendo o Luiz Antonio, eles estarão elegendo Titio Luiz. O Titio Luiz é perfeito, Luiz Antonio é imperfeito.
Como é a convivência do Titio Luiz com o Luiz Antonio?
Não é fácil, mas eu convivo. O Titio Luiz exige muito de mim. Ele é perfeito, e luta com a imperfeição do Luiz Antonio. Para mim o Titio Luiz existe das nove horas da manhã até ao meio dia, dentro da Rádio Educadora. Permaneço trabalhando no rádio muito pela gratidão que tenho á Dona Ana Maria Meirelles de Mattos, eu era torneiro mecânico, quando ela e seu pai, Dr. Nelson Meirelles me tiraram do torno para trazer á Rádio Educadora.
Quantos anos de rádio o senhor completou no dia 3 de agosto?
São 35 anos de rádio.
Qual é receita que o senhor dá para ser bem sucedido na vida?
Trabalhar! Trabalhar e Trabalhar! Eu não era nada, não tinha nada. Há 41 anos casei-me com Terezinha Aparecida Furlam Copoli, na Igreja da Vila Rezende, o celebrante foi o primo da Terezinha, Padre José Mainardi, fomos morar na Rua Ângelo Bachi, 6, Vila Bachi, ali na Curva do “S”. De lá mudamos para a Rua Dr. Koch, 340, era uma casa muito velha que compramos para pagar em cinco anos, isso foi em 1978. Os pais têm que ter objetivos para os filhos também terem. Aos 13 anos o meu filho Flavinho começou a trabalhar na Ótica Piracicaba. Passei momentos dificílimos no inicio do meu trabalho no rádio, de sentar em um banco na praça, com a pasta de propaganda e chorar. O grande erro do homem é ao pegar o salário, achar que é mixaria, por menor que seja deve agradecer a Deus. Abençoar aquilo que conseguiu.
O veículo de comunicação é mais importante do que o apresentador?
Não adianta a rádio me colocar no ar se não tenho talento, eu irei ser mais um. Se você não tiver talento só a radio não irá torná-lo um bom profissional. Algumas vezes os interesses comerciais de algumas emissoras prevalecem independentemente de ter talento ou não. Já faz alguns anos que os anunciantes do meu programa me procuram no meu escritório ou na rádio. No inicio da minha carreira já bati muito na porta de clientes, foi muito difícil. Devo gratidão a muita gente, o Ermelindo Sturion da Casa do Papai foi o meu primeiro anunciante, no dia 3 de agosto fez 35 anos que ele anunciou comigo. Sou grato a Ótica Piracicaba, do Norival Favaro, ele me ajudou muito, a Charm Cosméticos do Toninho, me ajudou muito, eu não tinha um nome ainda conhecido, eles fizeram pela nossa amizade. A propaganda é um produto, ela tem que dar um retorno ao anunciante. Deus me deu tanto quanto eu mereço, mais do que preciso, guarde essa frase.
No Programa da Amizade há um momento especial, o momento da consagração, o senhor pode falar a respeito?
Aprendi a Consagração de Nossa Senhora com o Padre Vitor de Almeida Coelho, o Jair de Souza Palma gravou e colocou na internet, pelas suas mãos recebi um certificado dado pelo Papa Bento XVI, seu secretariado está fazendo uma pesquisa para santificação do Padre Vitor, e encontrou a minha apresentação da consagração que é de autoria do Padre Vitor. Conheci o padre Vitor em Aparecida do Norte, ele fazia um programa chamado Marreta na Bigorna, era um programa muito bonito, duro.
O senhor é tímido?
Sou muito tímido! Falo em publico quando faço uma palestra uma vez por ano, geralmente em alguma igreja que me convida.
Seus fãs solicitam seu autógrafo?
Já pediram, mas não gosto de dar autógrafos, fico muito tímido, abraço a pessoa dou um beijo. Tiro muitas fotos, geralmente com senhoras da terceira idade.
Como são os passeios de navio que o senhor promove?
Para mim foi uma vitória. Promovo uma viagem por ano, em 2008 levei 1380 pessoas, já estamos promovendo pelo sexto ano, fico no navio como passageiro, tiro muitas fotos.
Muitos ouvintes colocaram em seus filhos nomes inspirados pelo seu programa?
Existem muitos rapazes que levam o nome de Flávio por seus pais assimilarem o nome que dei ao meu filho, agora tem ocorrido com meninas cujos pais inspiram-se no nome da minha neta Luisa.
A naturalidade com que o senhor apresenta o programa é perceptível!
Todos falam isso, até o Marcos Turolla, nosso colega da Rádio Difusora, com 38 anos de rádio, diz sempre para mim: “-Titio Luiz eu ouço o seu programa no meu carro, parece que você está sentado ao lado, no banco do passageiro!”. Isso me honra muito, principalmente vindo de um profissional como o Marcos Turolla. O rádio tem me dado muitas alegrias.
O senhor recusa-se a fazer propaganda de algum produto?
Não faço propaganda de motocicleta e nem de bebida alcoólica. O que não serve para a minha família não serve para a sua.
Qual seu prato preferido?
Ultimamente tenho comido muito pouco, mas gosto de arroz e feijão bem temperado.
O senhor já narrou alguma partida de futebol?
Eu não aprendi a gostar de futebol. Até o Mário Luiz fala que o sonho dele é me levar para o estúdio para comentar uma partida.

quarta-feira, agosto 04, 2010

MARCELO RICARDO GIMENES



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 31 de julho de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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                                                      Foto by JUNassif

ENTREVISTADO: MARCELO RICARDO GIMENES
Dois artistas holandeses Marcelo Gimenes e Jaap Snijder, com reconhecimento mundial, estão trazendo novas técnicas de arte, para exposição no período de 28 de julho a 22 de agosto, no Espaço Cultural “Eugenio Nardin”, no Engenho Central. Uma iniciativa da Barce Fundation (Holanda), que tem como objetivo principal iniciar e financiar projetos culturais para adultos e crianças carentes no Brasil. A Fundação Barce não tem fins lucrativos e arrecada fundos através da venda das obras de arte a preços acessíveis. O valor das vendas é totalmente revertido á Fundação. O que chama a atenção de forma especial é de que um desses artistas é brasileiro naturalizado holandês, tem dupla nacionalidade, e para orgulho de Piracicaba, ele é piracicabano! Marcelo Ricardo Gimenes é filho de Antonio Raul Gimenes e Maria Esther Crivello Gimenes, nasceu um Piracicaba no dia 1 de outubro de 1967. Muito jovem, reuniu a coragem e o destemor próprios da idade e fez o caminho contrário dos seus antepassados, com mil idéias na cabeça e alguma bagagem na mão foi descobrir o Velho Mundo. Desembarcou na Espanha, preferindo imediatamente fazer uma conexão para Lisboa. Ali começava a sua descoberta da Europa. Em 1985 trabalhou na Megastore Benetton do Amoreiras Shopping Center, o primeiro grande Centro Comercial de Portugal. Muito comunicativo, fez novos amigos, com muito talento em decorações logo foi trabalhar em uma empresa que trabalhava com plantas permanentes. Em um dos seus trabalhos teve a oportunidade de trocar rapidamente algumas palavras com o Presidente Sarney, que visitava aquele local. Suas criações artísticas despertaram a atenção de representantes de uma universidade holandesa que fez o convite para cursar a faculdade de arte e design na Willem de Kooning Art Academy A Holanda dita as novas tendências de decorações de interior para a Europa e em conseqüência para o mundo, foi na mais importante instituição que Marcelo foi trabalhar. Galgou os cargos mais importantes, tornou-se o designer mais influente da Holanda, e também cidadão holandês. Foi diretor de arte da Dutch Press Center for Design (Centro de Design da Imprensa Holandesa). É mentor da Fundação Barce. Sem deixar de ser cidadão brasileiro. A história de um Pedro Álvares Cabral no sentido contrário de direção: da ex-colônia para a terra mãe. Marcelo Ricardo Gimenes em 2007 recebeu a “Médaille d'Argent” (Medalha de Prata) "Pour les Hauts serviços rendus uma cultura la" da Societé Académique Arts Sciences Lettres Paris. Teve obras de sua autoria expostas no Salon Du Louvre em exposição da Société Nationale des Beux-Arts.

Exposições relevantes: Salon Nationale des Beaux-Arts du Louvre - Salon Dez.2007;

Bienal de Artes Ciências Lettres - Le Salon d'Arts Plastiques sep.2007; Galerie Philippe Gelot - Paris aug.2007 ; Société Académique Arts Sciences Lettres Paris apr.2007 ; Galerie L'Angle (expo AGH) - Paris may.2007 ; Secretaria de Ação cultural - Pinacoteca Miguel Dutra - Ministerie van van Cultuur São Paulo - Brasil oct.2007

SAC - Salão de Arte Comtemporânea - São Paulo oct.2007 ; Alliance Française Rotterdam feb.2007 ; Banco Fortis Rotterdam jan.2006 ; Voorjaarsexpo 2006 AGH mei.2006 ; Galerie Artwerk - Westvoorne sep.2006 ; A galeria de visão em crianças - Londres - okt.2006 ; Artevent - Feira de Arte de Haia nov.2006 ; Kunst-en Atelierroute Rotterdam mrt.2005 ; Feira de Arte em Ahoy Rotterdam Kunst - may.2005 ; expositie Jaaroverzicht Grupo de Arte Holanda nov.2005 ; Openeningstentoonstelling Grupo de Arte Holanda jun.2004; Kunst Lente Festijn Rotterdam mrt.1997 ; Vernissage Rotterdam - Atelier 47E oct.1995 ; Vernissage São Paulo - Atelier 47E dec.1993

Museu Luiz de Queiroz - USP - Universiteit van São Paulo - Brasil sep.1992

De Regentenkamer, The Hague janeiro. 2008; centrum Rechtbank Rotterdam may.2008 ; Voorjaarsexpo AGH, Rotterdam jun.2008 ; Galeria de MSR, Rotterdam, okt.2008

Seus primeiros estudos foram realizados em Piracicaba?

Estudei no Grupo Escolar Dr. João Conceição, na época em que se hasteava a bandeira do Brasil e cantava-se o hino nacional, todos os dias de aula. Minha primeira professora foi a Dona Mara. Freqüentei o curso científico no Colégio Estadual Dr. Jorge Coury, fomos na época responsáveis pelo retorno desse curso ao colégio. Quando meu pai faleceu, eu tinha seis anos, éramos quatro filhos, minha avó tomava conta de nós enquanto a minha mãe trabalhava. O meu primeiro emprego foi em um escritório de arquitetura que ficava em frente ao prédio do terminal urbano, mais tarde reformado e que deu lugar ao atual. Uma das lembranças que guardo é que ao lado desse escritório existia uma oficina onde era cromados metais, algo impensável nos dias atuais. Com17 anos fui trabalhar como revisor no “O Diário”, situado na Rua São José, entre a Praça José Bonifácio e a Rua Governador Pedro de Toledo, trabalha a noite geralmente até a uma hora da manhã. O editor era o jornalista Nelson Bertolini, o Mario Evangelista trabalhava lá. No inicio trabalhei como revisor, depois apareceu uma vaga como arte-finalista. Eu sempre soube que deveria sair de Piracicaba para outros centros maiores, na época havia uma série de restrições para realizar-se uma viagem ao exterior, uma carga de imposto de cinqüenta por cento em cima do valor da passagem, só podia comprar quinhentos dólares, além disso, tinha um deposito compulsório de vinte e cinco a trinta por cento, pagos ao estado, mas não poderia viajar com menos de mil dólares, dificultava a saída de qualquer cidadão brasileiro para o exterior. Economizei o que pude para realizar a viagem á Europa. Aos dezenove anos fui para Portugal, tinha concluído meus estudos no Mello Moraes, saí do Aeroporto de Viracopos, voei por uma empresa de aviação com sede em um país da Americana Latina, aqueles vôos que são uma verdadeira aventura, era uma das passagens mais baratas que existia na época.

Você desceu onde na Europa?

Desci no Aeroporto de Madri, pretendia ficar por lá, meu avô era madrileno. Não sai do aeroporto, não quis ficar por lá. Fui para Lisboa a minha primeira sensação foi: “Isso é tudo?”, a impressão que o brasileiro tinha e ainda conserva, infelizmente, é de que a Europa é melhor em tudo. A ditadura portuguesa tinha acabado em 1975, estava sendo inaugurado o primeiro centro comercial de Lisboa, existia uma escada rolante, os portugueses vinham do país inteiro para andar na escada rolante, isso para dar uma idéia do atraso do país na época. O Brasil estava já naquela época a anos-luz a frente de Portugal.

A primeira noite em Portugal, quando você colocou a cabeça no travesseiro, qual é a sua sensação?

Essa sensação eu tive já quando cheguei ao aeroporto, coloquei as malas no chão e pensei: “-O que eu vou fazer agora?”. Fiquei uma meia hora, sentado, pensando. Não foi mede, mas a certeza de muita coisa iria mudar. Tomei um taxi do aeroporto até o centro, eu não entendia o que eles falavam. Hoje é outra história, houve uma mudança enorme na língua em Portugal. Naquela época eles estavam bravos com tudo e com todos, tinham perdido o domínio sobre Angola, Moçambique, e na época achavam que os brasileiros chegavam a Portugal para criarem mais dificuldades a eles. A reforma da língua em Portugal iniciou-se nos meios universitários, as universidades de Portugal começaram a crescer, a aparecer novas pessoas, novos cursos. Uma faculdade de medicina pode adotar livros em inglês ou em português, esses livros vem com informações de outros países, a tradução desses livros é dada de acordo com a relevância da língua. Livros em português são traduzidos pela quantidade de pessoas falando português no mundo. O Brasil impôs a condição de unificar a língua portuguesa ou então iria criar a língua brasileira. Os países africanos juntaram-se ao Brasil nessa disputa. Portugal se viu na situação de ter que aceitar a mudança ortográfica.

E a linguagem oral?

Logo que cheguei a Portugal, estava no Shopping Amoreiras, que tinha sido recém inaugurado, fui entrevistado e ao perguntarem-me o que achava da obra. Respondi o que realmente pensava: “-Quando não se tem criatividade constrói-se isso.” Não imaginei que fossem ficar tão magoados comigo por ter dito isso. Tínhamos só duas redes de televisão a RTP1 e a RTP2 uma começava quando outra terminava, uma funcionava até as seis da tarde outra até a meia noite. Fiz muitas amizades, e eles achavam bonita a forma que eu falava. Quando apareceram as primeiras novelas brasileiras elas eram legendadas! Conservo grandes amigos em Lisboa, recentemente passei por lá, pude observar o quanto a língua mudou. A TAP hoje voa para quase todas as capitais brasileiras.

Qual foi seu primeiro trabalho em Portugal?

Foi em uma loja da Benetton no Shopping Amoreira. Para os padrões portugueses eu era alto, por isso chamava a atenção, trabalhei como modelo, em Portugal na época para ser modelo bastava ter todos os dentes era uns pais de desdentados. Os portugueses adoravam os dentistas brasileiros, verdadeiros pedreiros. Os dentistas portugueses diziam: “-Doeu? Então extrai o dente!” Imagine tratar um canal, o que é isso? Víamos pessoas novas sem dentes. Trabalhei várias vezes como modelo para estudantes de uma escola de fotografia.

Você criou um circulo de amigos?

Tínhamos um pequeno grupo de brasileiros. Uma amiga, a Diva Pavesi, trabalhava para a Rádio Cidade uma rádio pirata brasileira, dentro de Lisboa. Era um underground. (expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais), Portugal ainda tinha muito do europeu, uma festa em boate exigia que se usasse smoking, não se pagava para entrar, tinha que ser selecionado na porta. Se tivesse uma cara boa, se fosse uma pessoa conhecida você entrava. Caso contrário, nem pagando poderia entrar. Até hoje eles são assim. O barzinho “Três Pastorinhos” localizado no Bairro Alto, em Lisboa, é muito pequeno, tinha uma senhora que ficava na porta, parecia uma figura saída de um desenho animado, toda colorida, pequenininha, ela abria o postigo, uma pequena portinha na própria porta, olhava para o rosto do candidato ao ingresso no local, muitas vezes falava: “-Não!” e fechava o postigo. Para outras pessoas dizia: “- Aí, tudo bem? Entre!”, abria a porta e convidava a pessoa a entrar. O contato certo, com a educação certa, tratando as pessoas como elas são as coisas acontecem naturalmente.

Seu próximo trabalho foi aonde?

Conheci a família portuguesa Ferreira que havia morado em São Paulo, tinham trabalhado em uma empresa de concreto no Brasil, ao retornarem a Portugal levaram plantas brasileiras desidratadas. Contrataram-me para trabalhar, montava as plantas, eram árvores, fiz o Hotel Ritz, o Aeroporto do Porto. Existe um restaurante chamado Alcantara-Mar onde construí sete árvores com seis metros de altura, foram mais de mil furos em cada tronco, com um galho de avencão em cada furo, no meio ao restaurante estão quatro arvores imensas de avencão com ventiladores em volta, parecem reais. No Hilton, quando estava montando duas árvores imensas no hall de entrada, o diretor do hotel disse ao presidente José Sarney que estava em visita: “Este rapaz que está trabalhando é brasileiro!”. O presidente Sarney perguntou-me: “Você é brasileiro?”. Respondi-lhe que sim. Disse-me então: “Que você esta fazendo aqui? Que pena que deixou o Brasil!”. Disse-lhe: “-Se eu tivesse tido as mesmas facilidades culturais não teria saído do Brasil”. Deu-me um sorriso e continuou caminhando. Não foi uma frase de cunho político, mas muito natural da minha parte, e a passagem dele por aquele corredor foi casual, sendo que a sua atenção sobre mim foi despertada pelo diretor do hotel.

A sua permanência em Portugal estava legalizada?

Como brasileiro tinha direito a dupla nacionalidade por pertencer a uma ex-colônia de Portugal, só que eles enrolavam e não concediam. Eu tinha registro, podia trabalhar, pagava impostos, mas não podia ter uma conta bancaria como turista podia dirigir, como residente não! Fui chamado pela Policia de Estrangeiros, pegaram meu passaporte e colocaram um imenso carimbo dizendo que eu tinha 30 dias para sair do país. Eu já estava em Portugal há uns três anos e meio, tinha conhecido algumas pessoas da Holanda, inclusive tinha recebido um convite para estudar na Academia de Artes.

Qual motivo foi alegado para que eles tomassem uma atitude dessas?

Apesar de eu estar trabalhando, ter o meu apartamento, tudo de forma absolutamente correta à afirmativa deles é de que eu não tinha meios para sobreviver em Portugal! O cargo de Presidente da Republica em Portugal é mais representativo do que executivo, mantendo influencia política. Uma senhora, com quem eu tinha grande amizade e que foi diretora da Lancôme, mais tarde foi diretora da Avon, em Portugal, era muito amiga do Mario Soares, Presidente da Republica português que mandou uma carta á Policia de Estrangeiros, para que fosse revisto o meu caso. Nesse meio tempo tinha recebido o convite da Academia de Artes de Rotterdam, com o direito de residir na Holanda enquanto estivesse estudando. Após receberem a carta a Policia de Estrangeiros chamou-me, afinal não era tão comum esse tipo de documento. Fui bem mal educado com eles, e me neguei a aceitar a reconsideração. Em 27 de julho de 1990 fui para a Holanda. Hoje tenho dupla nacionalidade, sou brasileiro e holandês. A Rainha da Holanda concedeu-me a nacionalidade por merecimento.

Qual foi o impacto que você teve ao passar a morar na Holanda?

Foi o desenvolvimento social, cultural, econômico, fiquei fascinado com a educação, a organização. Todos têm os mesmos direitos. O básico para o povo holandês, a cesta básica, além de comer, beber e se vestir é a educação, a cultura, o direito as férias.

Você acha a humildade importante?

É tudo! Não existem pessoas arrogantes, existem pessoas menos desenvolvidas moralmente.




quarta-feira, julho 28, 2010

Na quase totalidade de nossos insucessos o grande responsável somos nós mesmos, por sentimentos como inveja, ódio, preguiça, mesquinhez, e um bom número de obstáculos que criamos consciente ou inconscientemente, para o nosso desenvolvimento.
Jean de LeBourget

segunda-feira, julho 26, 2010

Roberto Cabrini afirma pelo Twitter ter sido sequestrado pelas Farc

O jornalista Roberto Cabrini informou ter sido sequestrado pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) enquanto realizava reportagem para o programa "Conexão Repórter", do SBT. O produtor Tiago Bruniera e o cinegrafista Daniel Vicente, que acompanhavam Cabrini, também foram mantidos reféns pelo grupo durante dois dias.
De acordo com o portal Terra, o apresentador da atração do SBT relatou o rapto por meio de seu perfil no Twitter. A história só foi contada recentemente porque, segundo Cabrini, poderia comprometer "o desenvolvimento da reportagem." "Foi uma averiguação que fizeram conosco. E depois nos trataram muito bem", escreveu o jornalista.
O apresentador informou que a matéria mostrando o sequestro pelas Farc e o período em que a equipe ficou na selva colombiana irá ao ar nas próximas semanas. Pelo Twitter, Cabrini afirmou que o rapto "acabou sendo uma ótima forma de entender melhor muitos aspectos das Farc". Redação P I
"Um homem não é só feito de dinheiro ; há certas coisas que se podem arruinar : arruína-se a saúde, a reputação, a inteligência, o caráter, a profissão..."
Eça de Queirós

DICA DA LARANJA

DICA DA LARANJA
PARA QUEM COZINHA
VAI UMA SUPER DICA
(Se não cozinha passe a dica para quem o faz, porque só fará bem à saúde de quem come!!!!!)
Se tiver de fazer uma feijoada...
Siga este conselho: coloque uma laranja inteira e não descascada (lavada sim!) na dita feijoada junto com as carnes...
Realmente funciona, até parece milagre! A gordura fica toda dentro da laranja, basta cortá-la para ter a confirmação.
A laranja não modifica em nada o gosto da feijoada que fica super light!
Experimente com um pedaço de linguiça: ferva a água, fure a linguiça com 1 garfo, coloque a laranja na panela e depois a linguiça e....
Comprove, em 5 minutos a gordura está toda dentro da laranja!
Depois frite a linguiça e veja como está deliciosa... e a panela sem gordura!!!
Isso poderá servir para alguém, é por isso que transmito o que aprendi.
FAÇA O MESMO, ENVIE A DICA AOS SEUS AMIGOS!
By Moni

sábado, julho 24, 2010

DIRCEU OLÍVIO POMPERMAYER

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 24 de julho de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

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ENTREVISTADO: DIRCEU OLÍVIO POMPERMAYER

Dirceu Olívio Pompermayer nasceu em 5 de abril de 1925, na Fazenda Pompermayer situada no bairro rural Campestre. É filho de Frederico Pompermayer e Angelina Sândalo Pompermayer, seus irmãos são: Nair, Angenor Antonio, Henriqueta, Nelson, Nivaldo. Trabalhou com a plantação e preparo de fumo de corda, incorporou e realizou o loteamento de diversas áreas de terras urbanizadas, uma delas deu origem a Rua Chavantes, em Piracicaba. Tornou-se sócio de uma pequena loja de tecidos, que veio a ser uma das grandes fornecedoras de artigos comercializados pelos chamados “frangueiros”, comerciantes de miudezas que percorriam as zonas rurais. Seu estabelecimento tornou-se um dos mais representativos do seu setor em Piracicaba e região. Suas lembranças trazem de volta o tempo de menino, quando acompanhava o pai na vinda do sítio para a cidade, em sua juventude vinha a cavalo até propriedade da família situada na Avenida Dr. Paulo de Moraes, onde deixava sua montaria, preparava-se com os trajes de passeio e rumava com alguns amigos para o centro de Piracicaba, onde a juventude costumava quadrar o jardim.

Qual era a área cultivada pelo seu pai na Fazenda Pompermayer?

Eram 63 alqueires, inicialmente com pés de café, depois passou para o plantio diversificado. Por doze anos e meio fabriquei fumo de corda. Dos sete anos até os dez anos, embora meu pai tivesse colonos, eu tinha que tratar de animais. Eu arrancava mandioca, para cozinhar e dar aos porcos, cortar cana de açúcar para doze parelhas de burro. O trabalho que eu fazia com essa idade eu acho que são poucos os moços de hoje que conseguiriam fazer. Com o tempo meu pai deu um pedaço de terra para mim e para meu irmão mais novo plantarmos as nossas coisinhas, e assim foi até quando completei dezoito anos. Foi quando vim para a cidade e fui trabalhar na oficina do Rui Consentino. Foi no tempo da Segunda Guerra.

 

Foi no período em que se usava gasogênio?

O ônibus que ia de Piracicaba ao Anhembi era do Renato Angeli, e o que ia á Botucatu era do Romeu Rolandi. À tarde eles chegavam de viagem com os ônibus, tinha que retirar o carvão que estava quase todo queimado, isso nos dois tambores de cada veiculo. Eu tinha que limpar e encher de carvão novamente. Era colocada uma estopa na abertura inferior, às sete horas da manhã quando iria funcionar o ônibus era colocada uma estopa embebida em querosene, e colocava-se fogo. O Romeu Rolandi dizia que para subir a serra de Botucatu ele tinha que passar o motor para funcionar a gasolina, com o gasogênio não subia. Não me acostumei com aquele serviço, voltei ao trabalho com a terra. Fiquei com o meu pai, passei a trabalhar com meu tio, Antenor Bragatto, casado com uma irmã do meu pai. Plantávamos nosso pedaço de fumo, fazíamos a nossa “fumadinha”, ele gostava de negociar, comprava e vendia fumo. Dois irmãos da minha mãe, Tio Luiz e Tio Zezinho tinham uma propriedade boa, de sessenta e poucos alqueires, tinham derrubado dois capões de mato e capoeira e estavam querendo plantar fumo. Fui trabalhar lá, um primo, Alfredo Sândalo me ensinou a fazer o canteiro para as mudas, fiz duas fumadas bonitas e boas.

Como é o processamento do fumo?

Conforme a folha ia amadurecendo embaixo eu ia tirando, hoje se colhe todas as folhas, eu só apanhava a folha que estavam amarelando, as folhas colhidas iam para o rancho coberto, era tirado o talo grosso e colocada em um estaleiro feito de bambu onde as folhas ficavam dependuradas, esse processo era feito no mês de junho, julho, agosto já é um mês com tempo seco. Quando a folha estava no ponto, maciazinha fazia-se a corda. Era uma corda comprida com mais de 10 metros de comprimento, ficava alguém com um cambito. Após enrolar três cordas elas eram novamente enroladas entre si, em torno de um pau, onde era então feito o rolo. Após esse processo o rolo era levado para a cambota, que tinha uma catraca. Puxava-se bem apertado e dava-se uma volta, fazia-se isso até concluir o rolo. O fumo ia melando, ficava marrom, soltava uma mela preta, ai é que tinha a ciência de não deixar o fumo azedar, não tinha como deixar o serviço para outro dia, perdia-se a qualidade.

 

O que era feito com o caldo que saia do fumo?

Às vezes alguém ia buscar para usar para tratar animais com bernes. Normalmente eu jogava fora.

Entre cortar a folha e ter o produto pronto quanto tempo levava?

Fazia-se o canteiro no fim de fevereiro, tirava do canteiro em março e plantava na roça, uns 50 dias depois ele já estava com 22 a 23 folhas, apanhava-se, conforme ia amadurecendo ia apanhando, colocava na carroça, levava ao rancho onde a meninada, moças, mulheres “destalavam”. Era um serviço bonito, eu gostava a única coisa da qual tenho saudades do tempo em que era moço é do quartinho de fumo. Lá você tem os rolos de fumo separados por suas qualidades. O fumo “bachero” é feito com as folhas de baixo da planta, é um fumo mais fraco, de qualidade inferior. O fumo extra é o que não tem uma corda quebrada, é amarelo. Naquele tempo se pegasse uma lasquinha daquele fumo bom, amarelinho, e mascasse, sentiria até a sua doçura.

O senhor fumava?

Eu fazia o meu cigarrinho. Costumava fazer um rolinho de fumo para mim, outros para os meus tios. Escolhia as folhas no estaleiro, mesmo as folhas iguais na roça, no estaleiro umas ficavam diferentes das outras, se tiver uma folha verde na corda o fumo fica amargo, fazendo com folhas selecionadas o fumo durante o ano todo tem a mesma qualidade. O comprador só de pegar o canivete e bater no rolo sabe a qualidade dp fumo.

Quanto pesa um rolo de fumo?

Eu fazia de 17, 18 quilos, o rolo pronto, curado. Ao vender quebravam-se ao meio, os compradores não queriam rolo muito grande era mais difícil de vender. Eu tinha um vendedor em Sorocaba, era um aposentado da Sorocabana, chamava-se Alfredo Marques. Após vender ele mandava-me uma carta com o pedido, essa carta era entregue em um barracão que meu pai e meu avô tinham na Avenida Dr. Paulo de Moraes, bem em frente ao barracão de cargas e descargas da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro, ao lado da casa onde morava Dr. Jacob Dhiel Neto, vizinho ao Giovanni Ferrazzo, mais conhecido como Joane Vassoureiro, que por sinal comprava toda vassoura que nós plantávamos.

O senhor lembra-se quando o Joane construiu o Posto Cantagalo?

Lembro-me, ficava na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. Paulo de Moraes, na época era um terreno baldio, o quarteirão todo era vazio, só havia uma casa na esquina. Hoje existe no local um posto de gasolina da Petrobras. Heitor Pompermayer, Jorge Angeli, Carlos Bortoletto, Fahjala foram meus colegas, éramos todos moços. O tiro de guerra ficava em um quarteirão onde mais tarde foi construída a Escola Industrial, nós saiamos a pé da Paulista e íamos até lá, uns oito a dez rapazes, entre eles Aristides Costa, Guilherme Cella. O comando era do sargento Ayres, nós usávamos fuzil para treinamento de tiro, tinha a prática adquirida no sitio, de atirar em caça voando, acertava três tiros “na mosca” quando o alvo era fixo. O Vanor Pachane morava na Chácara Nazareth, trabalhava na fabrica de barcos do Adamoli. Nós fazíamos aulas praticas de tiro junto ao Rio Piracicaba, no trecho em que passa pela Escola Agrícola. O sargento sabendo que o Vanor Pachani era bom carpinteiro disse-lhe para arrumar um companheiro e ficarmos em uma trincheira de onde colocávamos os alvos para o exercício de tiros. Descíamos os alvos e colávamos uma rodinha de papel onde havia sido acertado o tiro. Ali embaixo o sargento anotava a pontuação dos tiros. Tinha fuzil bom e ruim, eu conhecia os que eram bons, o Vanor sempre me chamava para ajudá-lo. Vim para a cidade na casa de duas tias minhas, irmãs do meu pai, Tia Emilia e Tia Elvira, seus maridos eram da família Furlan. Emílio Furlan namorava minha irmã, Henriqueta, trabalhei com ele na lenhadora da sua família, com um caminhão Ford 1948, F-8, um caminhão valente. Puxávamos lenha, Emílio, eu e um funcionário chamado Antonio Caetano. Chegávamos a carregar vinte metros cúbicos de lenha, eucalipto, cortados ali na região de Rio das Pedras. O Emilio ficava em cima do caminhão, eu e o Antonio jogávamos a lenha, às vezes precisava manobrar o caminhão, como eu estava embaixo, passei a executar essa tarefa, isso com 22 anos.

 

Onde hoje está o Shopping Paulistar foi alguma pedreira?

Não me lembro de ter havido alguma pedreira no local. Ali foi por muitos anos a caieira de Felício Tozzi, ele tirava pedra de cal, já era um buraco que com a extração aprofundou-se mais. Eu ia com uma Kombi ano 1960 buscar cal para a construção de uma casa que fiz.

O senhor vinha do sítio á cidade como?

Vinha a cavalo, deixava-o no imóvel da Avenida Dr. Paulo de Moraes, havia muita poeira pela estrada, por isso já deixava um terno pronto ali no barracão existente. Tomava um banho, punha a roupa limpa e saia para passear junto com os colegas.

Quando foi seu casamento?

Em 1951 casei-me com Luiza Beisman na Igreja dos Frades, o celebrante foi Frei Felício. Filha de Elvira Estela Beisman e Antonio Beisman. Conheci a Luiza quadrando jardim.

O senhor permaneceu no sítio cultivando a lavoura de fumo por quanto tempo?

Após regressar da minha experiência na oficina mecânica, permaneci por seis anos na plantação de fumo. Com o dinheiro que economizei adquiri um alqueire de terra do meu tio Orlando Furlan. Fica onde hoje é a Paulicéia, no local em que existe a Rua Chavantes, Rua Nossa Senhora Aparecida, até a atual Avenida 31 de Março, era tudo ocupado por eucalipto. Loteei três alqueires ali. Comprei o primeiro alqueire nessa região, meu tio Antenor, com quem trabalhava na lavoura de fumo, comprou outro alqueire. Adquiri mais uma área de terras com eucalipto plantado, já no terceiro ou quarto corte. Vendi 153 lotes de terrenos, isso em 1948. Pedro Bragion e Pedro (Peu) Clemente lotearam uma extensa área nas imediações.

Quando o senhor iniciou sua atividade na Casa Dom Bosco?

Em 1951 entrei como sócio do Rubens Broglio, que sempre foi muito meu amigo, ele já tinha a loja, ficava na esquina da D.Pedro II com a Rua Governador Pedro de Toledo, o prédio era de propriedade de Dona Thaaji. Éramos sócios em partes iguais. Já se chamava Casa Dom Bosco, nome que permanece até hoje. No inicio comercializávamos tecidos e retalhos, com o tempo passamos a comercializar maquinas de costura, vendemos muitas máquinas Vigorelli, Leonam, meu irmão Nelson ficou um mês na fabrica Leonam, para adquirir conhecimentos técnicos sobre as maquinas produzidas por ela. As máquinas vinham desmontadas, nós as montávamos aqui. As moças que casavam iam adquirir maquinas conosco. Quem vendia máquinas em Piracicaba éramos nós e o Cardoso. Entrei na loja em 1951 e sai em 1983. Expandimos, adquirimos imóveis vizinho, chegamos a ter mais de quarenta funcionários. Trabalhávamos com armarinhos em geral, linhas, agulhas, Melhoral, Sonrisal, brim aço, pano de roça, tecido xadrez, Casimira Aurora, Brim Ave Maria, Cretone Lapa artigo da Simão Rossi, cada peça tinha em média 25 metros de comprimento por 2 metros e 20 centímetros de largura, muito utilizado para fazer lençóis, linho irlandês, acetinado. Cheguei a fornecer para mais de trinta frangueiros, eles iam para o sitio de carrinho, vendiam produtos que traziam do sitio no mercado e se abasteciam conosco, alguns dos nomes que me lembro agora são o de Durvalino Brancalion, Benedito (Dito) Franzol, Francisco Franzol, Arlindo Petian de Rio das Pedras, Miguel Lopes, tinha três irmãos do Bairro do Peruca, de Rio das Pedras, Capivari, Saltinho, Charqueada, fornecia para a região inteira, éramos nós, os Irmãos Muniz situados na Rua do Rosário, a Casas Pernambucanas.

O senhor vendia a credito?

Nos últimos anos tínhamos crediário próprio, mas antes anotávamos as compras de alguns clientes em um caderno.

Na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua D.Pedro II, onde hoje há uma farmácia funcionava o que anteriormente?
Ali era o Hotel dos Viajantes, era um prédio comprido, com uns janelões. Quando era menino vinha com meu avô até o hotel o proprietário era Sr. Mario, depois ele vendeu aqui e colocou um hotel em frente à Estação da Luz, em São Paulo, cheguei a almoçar lá quando viajei com meu avô.
O senhor gosta de futebol?

No sítio eu jogava de half esquerdo, se a bola passasse o jogador não passava. Na quarta feira eu já tinha o ingresso no bolso para assistir as partidas do XV de Novembro realizadas no Estádio Roberto Gomes Pedrosa, mais conhecido como “Panela de Pressão”. Eu era sócio do XV. Tinha cada jogo bonito com De Sordi, Gatão Rabeca.

Na Paulista havia diversas canchas de boche?

Fui por muito tempo jogador de boche. Tinha o boche do João Canale, do Costa, tinha um no primeiro quarteirão da Rua da Boa Morte, próximo a Estação da Paulista. , José (Juquinha) Dionísio que trabalhava com o Vitório Fornazier, e foi meu companheiro de boche, ele o Lovadini da Companhia Paulista, o Alcides Fornazier com o Pachani, o Helio Saipp com o João Franceto, o Tio Zé Novello jogava também. Naquele tempo as boplas eram de madeira, algumas bolas não eram da mesma madeira, dava diferença de até 150 gramas no seu peso. Cada bola de madeira de boche pesava 1,250 quilos. Algumas de madeira com cerne branco chegavam a pesar 1,100quilos. As bolas se diferenciavam uma da outra porque uma era lisa e outra riscada. Nos jogos de campeonato tinha que abrir uma caixa de bolas novas para jogar. O Biche-Biche foi uma lenda do boche em Piracicaba. Eu não o conheci, ele já tinha morrido quando comecei a jogar boche.

O senhor participou do Cesac?


Participei junto com João Sabino, Antonio Scanavacca, Ciro Mendes Silveira e outros. O Neco Cardoso e a sua equipe eram os pedreiros responsáveis pela construção da Igreja São José. Para cobrir a igreja foram utilizadas telhas francesas, eu, Antonio Scanavacca, Juquinha, participamos dessas ocasiões, era amarrada uma telha em uma corda, e quem quisesse colaborar dava uma oferta em dinheiro, sendo a telha levantada em seu nome.



quinta-feira, julho 22, 2010

"O boato é um ente invisível e impalpável, que fala como um homem, está em toda a parte e em nenhuma, que ninguém vê donde surge, nem onde se esconde, que traz consigo a célebre lanterna dos contos arábicos, a favor da qual se avantaja em poder e prestígio, a tudo o que é prestigioso e poderoso."
Machado de Assis

8 x 85 ...

Frase do Senador Cristovão Buarque
"NO FUTEBOL, O BRASIL FICOU ENTRE OS 8 MELHORES DO MUNDO E TODOS ESTÃO TRISTES.
NA EDUCAÇÃO É O 85º E NINGUÉM RECLAMA..."
by Jayme

terça-feira, julho 20, 2010

PIRACICABA

                                          Foto by J.U.Nassif

sábado, julho 17, 2010

Irineu Laudelino Lopes

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado, 17 de julho de 2010

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

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ENTREVISTADO: Irineu Laudelino Lopes
Irineu Laudelino Lopes é o comerciante mais antigo do mercado municipal de Piracicaba, está a 64 anos na ativa. Formado pela lendária “Escola do Zanin”, quando jovem atravessava o Rio Piracicaba a nado, sócio do Clube de Regatas, remava sua catraia até onde hoje existe a “Ponte do Morato” e voltava rio acima, remando. Foi atleta campeão e presidente do Jaraguá Futebol Club. O Mercado de Piracicaba teve como construtor o engenheiro Miguel Asmussen, que entregou a obra pronta em 28 de fevereiro de 1887. A inauguração e o inicio do funcionamento aconteceram no dia 5 de julho de 1888. Esse intervalo entre a construção e o início efetivo das atividades, foi em decorrência da necessidade de preparar o entorno do prédio e, sobretudo pela confecção do regulamento de uso do Mercado, tanto pelos permissionários, pelos fornecedores como pelo publico consumidor. Tratava-se de uma nova maneira de comercializar, diferente da praticada até aquela data. Uma mudança significativa de hábitos e costumes, lembrando que no dia 13 de maio de 1888 foi sancionada a Lei Áurea, abolindo a escravidão da raça negra. A comissão formada por Prudente de Moraes e Paulo Pinto foi responsável pela elaboração do Projeto de Regulamento do Mercado de Piracicaba, sendo o mesmo apresentado em sessão de 15 de maio de 1887 junto a Assembléia Legislativa Provincial. Entre as peculiaridades, o artigo 18 diz que é proibido dentro dos limites do Mercado: “1-) O ajuntamento de pessoas ociosas que não estejam comprando nem vendendo e que possam perturbar o expediente de quem compra ou vende; 2-) Fazer algazarra e praticar atos ou proferir palavras imorais; 3-) Os ébrios, turbulentos e vadios; 4-) Sujar e danificar qualquer parte do edifício, escrever suas paredes, pintar,borrar,etc. 5-)Fazer fogo dentro do edifício e quatro metros em redor do mesmo, 5-) Amarrar animais nas grades ou nas árvores plantadas para decoração dos pátios do Mercado”, conforme consta nas atas existentes na Câmara Municipal. Com o passar do tempo essas regras sofreram mudanças, ou não teríamos os quitutes fritos na hora e um delicioso cafezinho, muito procurados no Mercado Municipal de Piracicaba. Por ali desfilaram piracicabanos de diversas gerações, criando vínculos e alianças. Atualmente o comerciante mais antigo do Mercado Municipal é Irineu Laudelino Lopes, há 64 anos trabalha em sua banca no Box número 19, que já pertencia a seu pai. Filho de Miguel Lopes e Antonia Moretti nasceu no bairro rural Pau Queimado, Piracicaba, no dia 28 de maio de 1931, casado com Aparecida Costa Lopes, filha de Francisco Luis Costa e Otilia Gazziolli Costa. É neto de Isidoro Lopes e Matilde Alcarde Lopes, seus tios Isidoro Lopes e Antonio Lopes foram comerciantes muito conhecidos.

A família do senhor mudou-se do Pau Queimado para a cidade?

Mudamos para a Avenida Dona Jane Conceição, depois mudamos para a Rua Sud Mennucci. Fiz o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, Da. Zica foi a minha primeira professora, tive aulas também com Da. Mimi, Dona Otília, o diretor era o Salustiano, depois veio o Aparício. Nessa época além das minhas irmãs Inês, Maria e Celina, eu era o único neto homem, meu avô passava na minha casa e me levava para o sítio, passear. Íamos de trole, pescava lambari, a noite ia com o meu tio Antonio até um ribeirão que existia no sítio, para tirar o peixe cascudo na toca. Aprendi a nadar no Ribeirão do Enxofre, tinha quatro “poços” para nadar lá. Estudei o ginásio no Instituto Piracicabano. Fiz o Curso Técnico em Contabilidade na Escola de Comércio Cristovão Colombo, do Pedro Zanin, ficava em cima do Cinema Politeama, de vez em quando passavam uns filmes de faroeste, nós escutávamos o tiroteio, íamos assistir ao filme. O melhor recreio de escola quem possuía era a nossa, ao sairmos da sala de aula estava com todo o jardim da praça central a nossa frente. Sou formado na turma de 1959. O meu pai e o meu tio Antonio tinham comprado o box no mercado em 1946, eu fui trabalhar com eles, fazia entrega de compras com uma carrocinha manual, com rodas de madeira e aro de ferro. Os fregueses iam, compravam e eu entregava. Infelizmente quase todos já faleceram Lembro-me de entregar na casa de Antonio Kok Leme, gerente da Casas Pernambucanas, do Antonio Sallun, da Dona Eutália, e outros fregueses. A compra era feita mensalmente, com isso eu tinha que fazer força para levar o carrinho, as ruas centrais eram calçadas em paralelepípedo, mas ainda existiam muitas ruas sem calçamento nenhum. Os vendedores de verdura traziam do sítio seus produtos em carrinho de tração animal, alguns vendedores de frutas como laranjas colocavam seus caminhões no pátio em frente ao mercado, esses veículos permaneciam meses no mesmo local, com outra condução abasteciam esses caminhões, eles não queriam perder o ponto. Após algum tempo meu pai e meu tio dividiram o Box entre si, ficando cada um com 25 metros quadrados de área de venda. Um pouco mais de tempo meu tio vendeu para Domingos Rafael, meu pai acabou adquirindo. O prefeito Luciano Guidotti em seu primeiro mandato reformou o mercado, com essas mudanças o nosso Box perdeu quase metade da área original.

Antes de adquirir o comércio no mercado qual era a atividade do seu pai?

Meu pai era frangueiro, sai muitas vezes com ele, na segunda feira ia para o Campestre, na terça feira ia para o Pau Queimado, na quarta ia á Dois Córregos, na quinta permanecia em casa para realizar as compras da encomendas feitas pela clientela, sexta feira ia para os Marins e no sábado para o Chicó. Com chuva ou com sol ele saia de manhã cedo. Meu pai era um homem muito calmo, nunca vi nenhuma pessoa igual. Ele tinha um burro branco chamado “Sereno”, o burro era mais calmo do que ele! Meu pai nunca usou um reio. Se tivesse uma touceira de capim ao lado da estrada, o burro ia lá e comia, meu pai esperava o burro comer para prosseguir a viagem.

O prédio do mercado mudou muito?

Olhando de frente para o mercado parte do lado esquerdo do prédio existente hoje, era descoberta, ali tinha a Arca de Noé, propriedade de Osni Massouh, o Galzerani, ficavam em barracas na área descoberta, inicialmente os produtos eram expostos sobre um pano estendido no chão, depois fizeram umas mesas de madeira. O mercado era cercado por um muro de um metro e pouco encima da qual vinha uma grade, as mercadorias ficavam a vista de quem estava do lado de fora, ninguém roubava. O cuidado maior era colocar os produtos mais sensíveis a chuva embaixo das bancas. Na esquina onde hoje há um prédio com uma farmácia na esquina, localizava-se o Hotel dos Viajantes.

Como era Da. Jane Conceição?

Era uma senhora muito fina, seu marido Dr. Jorge Pacheco Chaves era de estatura baixa. Eu era criança, nós escutávamos o cavalo que vinha batendo o sininho dependurado no pescoço, nós íamos correndo para abrir a porteira para eles passarem, sempre ganhávamos um dinheirinho. A porteira ficava nas imediações da Igreja São José, onde hoje é a Avenida Conselheiro Costa Pinto.

O senhor vendia fumo de corda?

Vendi sim, naquele tempo o fumo Bairrinho era muito famoso, era um fumo fraco, existia um fumo forte que vinha de Socorro, Bragança Paulista. Com o canivete fazia um pequeno corte e pela massa do fumo classificava suas qualidades. O fumo do Bairrinho, quando o miolo estava bem amarelinho ele era um fumo bem fraquinho, muito bom. Alguns clientes levavam por quilo, outros levavam um rolo de fumo inteiro. Um produto muito gostoso era a lingüiça de porco envolta em banha e embaladas em latas da marca Oderich. A lata de salada de frutas era uma delicia. O figo ramy, vinha em uma delicia.

Qual é o horário de funcionamento do mercado?

Para o público sempre a partir das seis horas da manhã, para os verdureiros abria às quatro horas da manhã. Fecha às cinco e meia da tarde. Se o comerciante necessitar ele pode permanecer no local fora desses horários.

Quantos Box existem hoje no mercado?

São uns setenta permissionários.

Hoje o senhor trabalha com uma linha de produtos diferenciada, como se deu essa especialização?

Inicialmente era um típico armazém de secos e molhados, atualmente trabalho com mais de 100 itens como trigo para quibe, farelo de trigo, farelo de aveia, gergelim, levedo de cerveja, linhaça, flocos de aveia, guaraná em pó. Um amigo, já falecido, o Osvaldo Bracalion sugeriu que eu deveria trabalhar com alguns desses produtos, achei a sugestão interessante e a adotei. Desenvolvi novos fornecedores.

A febre de consumo da “Ração Humana” ainda está firme?

Caiu um pouco. Algo parecido ocorreu com a aveia. A TV Globo em sua programação divulgou as qualidades da aveia, isso em uma sexta feira. Por coincidência eu tinha feito um pedido de aveia que chegou sexta feira a tarde. No sábado pela manhã começou a haver uma procura enorme por aveia. O meu estoque de aveia que deveria ser por um período maior em quatro dias terminou. Fiz mais um pedido, que rapidamente foi entregue. Em seguida começou a faltar aveia no mercado, eu consegui cobrir a demanda. Não me esqueço de uma senhora que me perguntou: “-O senhor tem aveia?”, respondi que tinha, ela então me disse que queria cinco quilos de aveia. Curioso, perguntei-lhe para o que seria toda aquela quantia toda, ela respondeu que seria para seu consumo, afirmando: Imaginei e disse-lhe que ela deveria ter uma família muito grande, ao que ela afirmou: “-É só para mim! Deu na televisão que é boa para isso, para aquilo.”. Sugeri que levasse apenas um quilo, o que já era bastante aveia para uma única pessoa.

A que horas o senhor dirige-se ao mercado para trabalhar?

Às cinco e meia da manhã. Fecho às cinco e meia da tarde. Aos sábados fecho à uma hora da tarde, e domingo ao meio dia. Quando meus pais eram vivos, as vezes eu tirava umas férias.

Onde o senhor conheceu a sua esposa?

Foi no meu caminho para o trabalho, meu pai saia de casa mais cedo e eu saia um pouco mais tarde, umas seis horas da manhã. Conheci a Aparecida quando ela voltava da compra que ia fazer em um açougue situado na Rua Governador, quase na esquina da Rua Riachuelo onde trabalhavam o Caneva e o Zambello.

O senhor jogou futebol na várzea?

Joguei como lateral direito e zagueiro central do Jaraguá Futebol Club, a camisa era vermelha, preta e branca. O primeiro campo ficava na esquina da Rua do Rosário com Avenida Dona Jane Conceição, onde depois foi a Angemar, hoje funciona um conjunto de lojas. O terreno ia até a Rua Campinas. Nessa época o Romeu Gomes de Oliveira, da Rodomeu, montou um açougue na Avenida Dona Jane Conceição, próximo ao campo de futebol. O Chico Pachani fez sozinho outro campo de futebol, na quadra logo abaixo. Quando o Jaraguá Futebol Club saiu desse primeiro campo foi para o local posteriormente ocupado pela Alvarco, onde hoje existe uma escola técnica.

Por muitos anos quem foi o presidente do Jaraguá Futebol Club?

Foi Abel Pereira, seu filho Jaime Pereira estava sempre presente.

Qual era o maior rival do Jaraguá?

Era o MAF, conhecido como Leão da Paulista. O nome MAF é formado pelas iniciais de Manoel Ambrósio Filho, empresário de São Paulo, proprietário da indústria de máquinas de costura Leonan, que fundou o time. Conheci muito o Olinto alfaiate, que foi presidente do MAF. Jogávamos contra os times existentes na época: Vera Cruz, Nacional, Unidos Club. Comecei a jogar em 1948 e parei em 1962, 1963.

Em que igreja foi o seu casamento?

Foi na Igreja dos Frades, no dia 22 de outubro de 1961, o celebrante foi Frei Liberato de Gries.

Dona Aparecida a senhora trabalhou muito tempo com costura fina?

Costurei por quase cinqüenta anos, a minha primeira maquina de costura comprei em 1955 na loja de propriedade do Cassano, que ficava em frente ao Mercado, onde hoje há uma agencia da Caixa Econômica Federal. Comecei a costurar com dezessete anos, parei há uns três anos. Fazia roupa de noivas, para festas de formaturas. Aos dezenove anos fiz o primeiro vestido de noiva para uma prima de Indaiatuba.

A senhora trabalhou ainda bem jovem com uma costureira famosa em Piracicaba?

Era uma costureira requisitada pelas senhoras da alta sociedade de Piracicaba, chamava-se Generosa Osoris Angeli, lá eu bordei muito para vestidos de noivas. Quando passei a exercer a profissão por conta própria mandava os bordados para serem feitos por outras pessoas. Naquele tempo usavam-se mais brocados, rendas. Meu pai Francisco Luiz Costa era cursilhista, ministro da eucaristia, ele trabalhou muitos anos como metalúrgico na Morlet, que ficava em um galpão onde hoje funciona a Calhas Pizzinatto, na Rua da Glória. Foi um tempo em que o fornecimento de água era sofria muitas interrupções, íamos buscar água na “Bica do Morlet”.















sábado, julho 10, 2010

Clélia Del Tedesco Saipp

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de julho de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: Clélia Del Tedesco Saipp
 A rápida evolução tecnológica em que vivemos afeta diretamente nossos hábitos e costumes. Nas décadas de 50, 60, era comum um menino sair pelas calçadas, quando existissem, rodando com a mão um pneu velho, ou ainda um aro de metal ou borracha era conduzido por um longo arame, ou ferro fino de construção, em forma de “U” tendo às vezes até um cabo de madeira, era o famoso “arquinho” e se mostrava indispensável para que mais rapidamente a criança pudesse ir fazer os mandados da mãe Um cabo de vassoura transformava-se em um cavalinho de pau. Com caixinhas de fósforos vazias e uma linha de costura fazia-se o telefone. O papagaio que depois passou a se chamar pipa é uma brincadeira que necessita condições climáticas de ventos constantes, próprias do mês de agosto. O bodoque que passou a se chamar estilingue era feito com uma forquilha de madeira, as melhores eram de pé-de-goiaba, um par de tiras de câmara de ar de bicicleta, de 25 centímetros de comprimento e um centímetro de largura e um pedaço de couro que unia as duas tiras de borracha. Era usado para atirar pedras com muita força. O jogo da bolinha de gude aparecia num determinado período do ano e depois de alguns meses cessava a brincadeira. Havia a perna de pau, o pião de madeira. O carrinho de rolimã ou carrinho de rolamentos era feito artesanalmente usando madeira e rolamentos.
Carrinho  de rolimã

Fazer uma bola de pano era uma arte. As meninas tinham poucas variações de brinquedos, em geral brincavam de bonecas que podiam ser feitas de pano recheadas com retalhos, peteca feita de palha de milho, brincavam de fazer guisadinhos, com comidas feitas em latinhas de goiabada, marmelada, massa de tomate e sardinha, havia as cirandas ou brincadeiras de roda. Em 1961, quando o então presidente recém-empossado Jânio Quadros proibiu o lança-perfume, foram produzidas bisnagas em plástico no mesmo formato das proibidas, bastava colocar água e apertar, foi uma febre no país inteiro. Muita criança de famílias mais abastadas perdeu o sono até ganhar o pequeno projetor movido à manivela, cujos filmes eram feitos de papel-manteiga desenhados com duas imagens e duas opções de movimento. Chamava-se Cine Barlan. Carrinhos feitos de folha de lata eram importados e caros. Os brinquedos de lata prensada foram fabricados até a década de 60. Inicialmente chamada como matéria plástica, na década de 60 o brinquedo plástico tomou grande impulso. Piracicaba tinha alguns templos de consumo infantil, entre outros, a Loja da Lua, Ao Cardinali Presentes, Casa Portuguesa, Casa dos Presentes. Clélia Del Tedesco Saipp e Alcides Saipp são nomes extremamente populares no Bairro da Paulista. Foram padrinhos de muitos casamentos e batizados de clientes que se tornaram amigos, afilhados e compadres.



Da. Clélia, a senhora nasceu em que dia?

Nasci em 9 de julho de 1932, meu marido as vezes brincava dizendo que pelo fato de ter nascido nessa data eu era uma “revolucionária”. Sou natural de Mococa, fiz o primário e o curso normal em Monte Santo de Minas, meus pais José Del Tedesco e Elza Di Conti Del Tedesco tinham um depósito de queijos, compravam em Minas e traziam para Mococa. De lá mudamos para Londrina, após uns dois anos mudamos para Bela Vista do Paraíso, também no Paraná, de onde viemos para Piracicaba.
                                                      A jovem Clélia
Onde a família estabeleceu residência em Piracicaba?

Tínhamos um armazém na Rua Benjamin Constant, 2333. O Alcides tinha um bar bem em frente, onde hoje há um posto de gasolina, na esquina da Avenida João Conceição com Rua Benjamin Constant. O Alcides Saipp, meu marido, nasceu em Rio Claro, no dia 23 de dezembro de 1923, seus pais eram Lucia Saipp e Antonio Saipp. Na época a Avenida João Conceição era de terra, quase em frente a nossa casa havia uma fabrica de barcos de madeira.

A família da senhora mudou-se para a Rua do Rosário esquina com a Avenida Dr. João Conceição?

O meu pai construiu a casa existente até hoje, há inclusive um salão comercial anexo a casa. Havia poucas casas nas imediações, lembro-me dos vizinhos, Jorge Razera, Pedro Razera, João Sabino Barbosa, sua esposa Dona Vitalina, Isidoro Lopes, Rosa Canaan Nassif, muito amiga da minha mãe e com cuja filha Georgina, eu ia quadrar o jardim no centro. Descíamos a pé pela Rua Alferes José Caetano visitava a sua irmã Josefa e íamos até a praça, assistíamos a um filme no Cinema São José, no Broadway, quadrávamos o jardim e voltávamos para casa. Tudo a pé. Quando havia um filme muito concorrido o bonde ia lotado. Ao lado da nossa casa há uma rua particular que dá acesso a um conjunto de casas, ainda era fechada com cerca de arame quando aconteceu um fato que guardo na lembrança até hoje. Ainda era tudo terra, um dia vi um carro fúnebre entrando pela rua particular, comentei o fato com a minha mãe, ele disse-me que a Dona Teresa estava grávida e havia falecido. Era muito cedo, estava frio, resolvi levar um café fresco, ao chegar à casa o corpo estava na sala sendo velado na sala, os filhos dela, conforme iam acordando iam pedindo: “-Mãe! Quero leite!’ ou “-Mãe me dá o café!”. Ela tinha passado mal a noite, faleceu de madrugada, era costume naquela época velar os mortos em suas próprias casas. Nunca me esqueci desse episódio.

As ruas do bairro já eram pavimentadas?

A Rua do Rosário era mão dupla, terra vermelha, o movimento dos caminhões que subiam e desciam por ela, levantavam uma poeira triste. Minha mãe cultivava uma horta no quintal da sua casa.
Alcides Saipp

 

Quando a senhora casou-se?

Casamos em 24 de maio 1953, o Alcides trabalhava como serralheiro com seus irmãos Hélio e José. Uma loja de utilidades domésticas e presentes que existia na Rua Governador, próxima a Avenida Dr. Paulo de Moraes havia sido fechada. Foi quando eu disse ao Alcides que podíamos tentar estabelecer uma loja nesse ramo, já que não havia nas proximidades uma loja que substituísse a que havia sido mudada para o Largo São Benedito. O Alcides passou a procurar um local para abrir a loja, foi quando meus pais ofereceram o salão anexo a casa deles, que estava vazio. Assim começamos ali o nosso estabelecimento comercial. Por volta de 1962 construímos o prédio onde até hoje funciona a nossa loja. Foi o segundo sobrado construído no Bairro da Paulista. A Casa Portuguesa, que ficava no centro, era umas das grandes lojas do ramo, muito conhecida, que infelizmente encerrou suas atividades em conseqüência da queda do Edifício Luiz de Queiroz, o Comurba, quando vários membros da família do proprietário, o Seu Francisco, foram fatalmente atingidos. A loja Ao Cardinali, outra grande expressão do comércio piracicabano, sofreu um incêndio.

A clientela da sua loja é muito fiel?

Às vezes vou até lá, só para me distrair, de vez em quando chega e pergunta se a loja ainda pertence a nossa família. A pessoa então relata que vinha quando era criança ainda, vinha para comprar brinquedo, e que agora está comprando brinquedo para seus filhos.

Seu Alcides tinha algum hobby?

Ele gostava muito de assistir uma partida de futebol do XV de Novembro, ia também até um campo de bocha muito famoso que existia na Avenida Edgar Conceição, entre a Rua da Palma e a Rua Campinas.

A senhora tem quantos filhos?

São três filhos, Wilney, Marilney, Adilney. Sendo que o Adilney embora também tenha feito curso superior decidiu dar continuidade ao comércio que nós fundamos. O sobrenome Saipp é de origem alemã.

A loja tinha muitos clientes que moravam na zona rural?

Tinha muitos, quando havia casamento eles vinham de caminhão, os noivos vinham na cabine e os padrinhos e demais convidados na carroceria do caminhão, que vinha bem cheia. Iam até a Igreja dos Frades, onde a cerimônia era celebrada, na volta paravam em frente à loja, desciam e compravam os presentes para os noivos. Os convidados pediam: “-Pare na Casa dos Presentes para comprar presente para a noiva!”. Era aquele alvoroço! Embrulhar os presentes que era o detalhe, nós comprávamos folhas de papel pardo e papel de seda, como o papel de seda era muito caro, era colocada apenas a metade da folha, ou seja, o presente era embrulhando com o papel pardo, ficando apenas uma dobrinha de papel de seda. Na época fazia muito sucesso o licoreiro, que era composto por uma garrafinha, uma bandejinha e seis cálices pequenos. Um convidado da festa vinha e comprava, depois vinha outro, mais outro, com isso a noiva ganhava muitos licoreiros, eles achavam bonito, compravam o que gostavam, para dar aos noivos. Embrulhávamos os presentes e eles seguiam para a festa, convidados e presentes iam embora, no caminhão. Os padrinhos davam jogo de panelas em alumínio, pratos, jogo de jantar, ou um faqueirinho. Era comum que os padrinhos pagassem as bebidas.

A senhora e Seu Alcides foram padrinhos de muitos casamentos?

Fomos sim, de muitos casamentos e de alguns de batizados. Na Semana Santa e no mês de agosto não havia casamentos. Havia certa superstição com relação ao mês de agosto, diziam “agosto mês do desgosto”, com isso não se casava nesse mês. Era comum a venda de manteigueiras, a manteiga vinha embalada em papel ou caixinha de papelão. Bem mais tarde surgiram as travessas da marca Pyrex, vendia-se muito esses produtos. Hoje já vem em embalagem própria para consumo e armazenamento. Nós vendíamos bacias enormes, próprias para banho, não havia água encanada no bairro. Nós tínhamos um poço, com uma bomba, a água era armazenada em um reservatório e de lá distribuída para a casa. Poucos tinham esse recurso, a maioria tomava banho de bacia. O maior sacrifício quando vendíamos uma bacia dessas, era embrulhar. O cliente tinha vergonha de sair com ela sem embrulhar. Usávamos jornais para embrulhar as bacias. Mesmo outras mercadorias eram embrulhadas em jornais, não havia sacolas plásticas. As pessoas traziam de casa sua própria sacola. Uma panela de alumínio, meia dúzia de pratos, era tudo embrulhado em jornal. Os brinquedos eram levados em sua própria caixa, não havia nada de sacola não.

O que as crianças gostavam de ganhar?

Gostavam de ganhar bolas, carrinhos, bonecas. Chegamos a vender bonecas e cavalinhos de papelão.

Cine Barlan, projetor de imagens movido a manivela

A senhora viajava de trem?

Nós íamos á São Paulo de trem para fazer compras na Rua 25 de Março. Levantávamos de madrugada, embarcávamos no trem logo cedo, o Alcides ia com uma mala e eu ia com outra. Levávamos um lanche de casa, não se consumia em restaurantes, água mineral não era comum consumir-se, se estivesse com sede pedia um copo de água no local onde estávamos fazendo compras. Abria-se a torneira e tomava um copo de água. Era isso que existia. Fazíamos as compras, no final da tarde íamos a pé até a Estação da Luz, tomávamos o trem de volta á Piracicaba e aqui chegávamos ás 10 horas da noite. Da estação até a nossa casa também vínhamos a pé, com as malas. Foi assim que começamos, a vida era dura naquela época. Até hoje, algumas vezes quando meu filho vai fazer compras em São Paulo eu o acompanho, ando bastante a pé percorrendo diversos fornecedores. Qualquer lugar para onde você for para conhecer tem que ir a pé, isso se aplica até em viagens turísticas.

A senhora acha que hoje a população se alimenta melhor?

Há sem dúvida uma maior quantidade de alimentos disponíveis, porém a qualidade é inferior á de algumas décadas. Muito pior. Naquela época obtinha-se o necessário com muito sacrifício, mas era tudo natural. Na horta que a minha mãe plantava, em seu quintal, não se usava adubo ou veneno. Plantava-se tomate, milho, criava-se galinha, porcos. A criação de porcos em fundo de quintal deixou de ser permitida, até então quase todo mundo criava um porquinho, que era tratado com restos de comida e milho, não havia ração e a enorme quantidade de produtos químicos utilizados para a sua fabricação. Atualmente as frutas têm um visual mais bonito, porém são menos saudáveis.

O comerciante tem sua parcela de psicólogo?

Eu via e ouvia muita coisa. Opinião diferente entre algumas noras e sogras era muito comum existir. A sogra vinha e falava a respeito de um objeto, suas utilidades e propriedades. A nora em outra ocasião vinha com outra opinião a respeito. Eu escutava apenas, eles tinham que viverem a própria vida e eu a minha. Quem está no comércio não pode tomar partido em opiniões diferentes dentro de uma família. O Alcides gostava muito de conversar com os vizinhos, ele não ficava muito na loja, era mais eu que permanecia. Quando chegava a noite, nós dois sentávamos e ele então comentava: “-Soube que fulano está doente!” ou “Fiquei sabendo que cicrano mudou para tal lugar!”. Hoje sinto falta dessas nossas conversas. Dia 15 de setembro fará 10 anos que ele faleceu.

Como foi ter que abrir a loja no meio da noite para atender ao pedido de um pai?

Naquela época meia-noite já era tarde, tocou a campainha de casa, Alcides saiu no terraço de casa, era o guarda noturno dizendo que estava com um pai, cujo filho estava com febre, durante o dia ele tinha passado com a mãe e visto um carrinho de folha de lata, era um jipinho. Meu marido abriu a loja para eles entrarem, foi quando o homem disse que estava sem dinheiro. O Alcides deu-lhe o carrinho para que pagasse quando pudesse. Não faz muito tempo veio à criança da época, hoje um senhor, dizendo que seu pai sempre lhe contava a história do carrinho.







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