sexta-feira, dezembro 10, 2010

CLEUSA BELLINI – ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS - APAE PIRACICABA

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 06 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: CLEUSA BELLINI – ASSOCIAÇÃO DOS PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS - APAE PIRACICABA
O grande salto tecnológico que a humanidade deu no último século infelizmente não teve a mesma correspondência em eliminar preconceitos enraizados por algumas culturas. Ao nascer um ente querido, caso ele seja portador de necessidades especiais, para algumas famílias despreparadas é gerado um mal estar, um complexo de culpa, que acarreta na atitude mais primária, que é esconder o “problema” da sociedade. Diante da mesma situação, outros se realizam como verdadeiros pais descobrem-se senhores de um carinho infinito com relação a um filho especial. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia tem feito grandes progressos para dar melhores condições de vida e realizar a inclusão social do portador de necessidades especiais. A prevenção e tratamento do portador de necessidades especiais avançaram muito. Já ao nascer uma criança deve fazer o Teste do Pezinho, que é um exame rápido de prevenção onde são coletas gotinhas de sangue do calcanhar do bebê com a finalidade de impedir o desenvolvimento de doenças que, se não tratadas, podem levar à deficiência intelectual e causar outros prejuízos à sua qualidade de vida. Através do Teste do Pezinho podem ser diagnosticadas a Fenilcetonúria, o Hipotireoidismo Congênito, a Anemia Falciforme, a Fibrose Cística e demais Hemoglobinopatias. Para que a prevenção seja possível, a coleta deve ser efetuada na primeira semana de vida da criança e as amostras devem ser enviadas o quanto antes para o laboratório. Hoje toda a criança nascida em território brasileiro tem direito ao Teste do Pezinho Básico, totalmente gratuito. Em Piracicaba a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais é administrada por Cleusa Bellini. Instalada em prédio recém-inaugurado com salas amplas e planejadas para a função a que se prestam, e aparelhos necessários á atividade específica. Há de salientar-se que todos que trabalham na APAE exalam um imenso amor ás “suas crianças”. Cleusa Bellini é vila rezendina convicta, nascida em 22 de dezembro de 1949, é formada em Economia pela UNIMEP. Atuou em empresas como a Motocana, do Grupo Dedini, Caterpillar do Brasil e Votorantin. Em 17 de novembro de 1998, já aposentada, ingressou na administração da APAE, que possui 25 diretores e cujo presidente é Paulo Odair Correr.
A APAE de Piracicaba conta com quantos funcionários?
São 80 funcionários, temos 280 alunos, para o próximo ano há uma lista com mais 200 candidatos, que passarão por uma triagem. A escola já se tornou pequena, embora caibam 300 alunos. Quando mudamos para este local estávamos com 219 alunos. A demanda é muito grande.
Qual é a faixa etária dos alunos?
A partir de 2012 a Secretaria Estadual de Educação não irá mais assumir os alunos com mais de 30 anos, ela já nos comunicou a respeito. Esses alunos serão excluídos do convenio com a Secretaria. Atualmente temos em nossa APAE 65 alunos com idade superior a 30 anos, no próximo ano estaremos estudando uma solução que deverá ser tomada com relação a esses alunos.
Qual é a idade mínima para ser atendendo pela APAE?
Não há idade mínima, temos crianças com zero ano de idade até o nosso mais velho, com 52 anos.
Que atividades são realizadas na oficina?
Os alunos trabalham com madeira, tapetes, camisetas, bijuterias, pinturas em gesso, madeira. A nossa oficina é pequena, para o número de alunos que nós temos.
Como é feita a captação de recursos?
Você pode observar os cuidados e a boa qualidade das nossas instalações. Fico até constrangida em dizer que apenas 30% das nossas necessidades são atendidas pelos governos federal, estadual e municipal. O nosso custo mensal é de 170 mil reais, incluindo folha de pagamento, impostos. O prédio em que estamos instalados foi construído no ano passado, pela Prefeitura Municipal, cedido para nosso uso em regime de comodato. O convenio federal é uma vergonha, abri esse convenio em 1998, recebendo por mês R$ 5.085,00 esse valor é exatamente o mesmo até hoje, não sofreu nenhum tipo de correção. As nossas despesas aumentaram nesses 12 anos.
Como a senhora consegue complementar a verba necessária para o funcionamento da instituição?
Saio na batalha todo mês. Graças a Deus até o momento, com muito esforço temos conseguido recursos para continuar o nosso trabalho. Fazemos todos os tipos de eventos possíveis, como a venda de pizzas, bingos, rifas, jantares, almoços. Sempre buscando angariar recursos. Temos no Brasil 2085 APAE, participamos da federação nacional das APAE, há muitas APAE de cidades em que o município ajuda muito. Posso afirmar que em Piracicaba o único prefeito que enxergou a nossa APAE foi o prefeito Barjas Negri. Temos atualmente 3.300 metros quadrados de área construída em uma área total de mais de 6.000 metros quadrados. A APAE de Piracicaba foi fundada em 29 de janeiro de 1986, nesses 24 anos ela nunca tinha saído do lugar. Quando entrei na instituição ela funcionava na Rua Monsenhor Rosa, em uma casa velha, em péssimas condições, com um quadro de 10 funcionários e 45 alunos. Eu me sentia mal naquela situação. A própria alimentação dos alunos era muito precária.
Como é hoje a rotina do aluno?
Ele chega à escola sendo conduzido pelos pais, ou com o sistema de transporte Elevar, que trás o aluno cadeirante, e são muitos nessa condição, há também o transporte feito por peruas particulares. Ao adentrar a escola ele toma o café da manhã composto de leite com chocolate, pão que é feito em nossa própria padaria, esse pão que o aluno consome é com manteiga, ou patê e uma fruta. Há aqueles que têm uma alimentação diferenciada pela sua limitação física, requerem maiores cuidados. As “minhas crianças” comem muito bem aqui, luto muito para isso. Toda sala de aula tem uma professora e uma auxiliar, é praticamente impossível apenas uma professora cuidar de uma classe. Temos atualmente 13 salas de aulas. Os alunos da escola ás 11 horas e 30 minutos voltam para as suas casas. Aqueles que freqüentam a oficina permanecem em tempo integral, temos 50 crianças nas duas oficinas. Temos empresas como a Caterpillar, Delphi, Waller, que formalizaram contrato conosco, onde os alunos saem da nossa escola pela manhã dirigem para trabalharem como aprendizes nessas empresas e voltam para a escola ás 16 horas e 30 minutos. Eles trabalham com embalagem, na contagem. São acompanhados por uma monitora. É interessante observar que realizam suas tarefas com extrema competência. A nossa escola oferece desde o ensino fundamental até o treinamento para que possam atuar no mercado de trabalho. No ano passado tivemos 35 aprendizes que passaram a integrar o quadro regular de funcionários em diversas empresas.
A padaria existente na APAE forma alunos na profissão?
Um dos objetivos é ensinar os alunos a trabalharem em panificação e confeitaria. Um padeiro profissional os orienta. Temos 5 ex-alunos no setor de panificação do Wal Mart., trabalhando registrados como profissionais. Na Kraft Foods Brasil S/A tem mais de uma dezena de ex-alunos trabalhando como profissionais. Na Santa Casa de Piracicaba há ex-alunos trabalhando.
Como é a relação desses aprendizes com os funcionários efetivos dessas empresas?
Muito boa! Temos um aluno trabalhando na CETESB, os funcionários o adoram, não sabem o que fazer por ele. A cada seis meses fazemos uma reunião com essas empresas, onde são abordados diversos aspectos da nossa parceria, e com muita satisfação recebemos elogios aos nossos alunos.
Esses alunos usam o salário de que forma?
Acredito que são orientados pelos pais para aplicarem bem esses recursos. A maioria deles é bem independente, freqüentam shopping, namoram. No ano passado tivemos dois casamentos de alunos, inclusive de casal de deficientes que já tiveram um filho perfeitamente normal. Temos em nossa escola uns cinco ou seis alunos que são casados e pais de filhos sem nenhuma necessidade especial.
O nome da instituição é de “Amigos e Pais” Quem pode ser amigo dos excepcionais?
Qualquer pessoa que deseje ajudar. Estamos instalados na Av. Brasília 1381, Vila Industrial, Telefone: 3413-1233.
A deficiência mental tem diversas origens?
Há centenas de doenças que podem ocasionar essa anomalia, há o fator genético e mais recentemente houve um acréscimo substancial em decorrência do uso de drogas pelos pais. No meu ponto de vista acredito que os governos federal, estadual e municipal deveriam dar mais atenção ao aumento de pacientes portadores de deficiências. É preocupante como cresce o numero de crianças com necessidades especiais. Temos casos de acidentes de transito que transformaram em deficientes pessoas normais.
Se gasta muito mais tratando do que prevenindo?
Um aluno custa para a nossa escola um “per capita” de R$ 900,00. Há setores, como o carcerário, que consomem o dobro “per capita”. O governo não enxerga situações como a nossa, a entidade funciona por estar sendo administrada pela iniciativa de pessoas de boa vontade e graças à sensibilidade de parte da população.
Há alunos que recebem aulas de educação física?
Temos alunos que praticam canoagem na Rua do Porto, orientados pelo nosso professor de educação física, Alan Annibal Schmidt. O SESI cede as instalações para a prática de esportes.
Há fatos marcantes que ocorreram com alunos?
Há sim, alunos que adquirem a capacidade de andar, falar. É maravilhoso!
A relação é mais difícil com os alunos ou com seus pais?
As maiores dificuldades encontraram com os pais. Alguns pais deixam seus filhos conosco sem se importarem com o que acontece com a criança. Já tive que ser muito enfática em algumas reuniões de pais. Há também pais extremamente zelosos e carinhosos. O ambiente doméstico pode afetar muito a conduta de uma criança.
A classe social a que a família pertence determina a conduta da mesma com relação a criança?
Temos um grande percentual de alunos pertencentes a classes menos favorecidas. Há também filhos de famílias abastadas que freqüenta a APAE. O fato de ter melhores condições financeiras não implica que essa criança receba um melhor tratamento por parte dos pais. Alguns aparentam certo desprezo pela situação do filho. Temos em nossos quadros pedagogas, médicos, dentistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, assistente sociais, são profissionais experientes, em alguns casos acredito que são mais carinhosos do que a própria família do aluno. Algumas crianças não querem voltar para casa, querem permanecer na APAE.
Há algum vinculo religioso da APAE?
Não há nenhuma influencia religiosa.
Quanto um pai paga para ter seu filho na APAE?
Não há obrigatoriedade de pagamento. Caso queira contribuir cada um dá o que acha que pode. Alguns não dão absolutamente nada. Há um caso que é gritante, sabemos que se trata de pessoa com bom poder aquisitivo, mas que contribui com uma quantia totalmente irrisória.
Há biblioteca na APAE?
Atualmente não temos espaço pra ter. Pretendo colocar uma sala de música, um teatro, um ambulatório, eu gostaria muito de fazer um salão de festas, nós fazemos muitas promoções. O Lar dos Velhinhos é muito atencioso conosco, eles cedem o salão de festas deles quando realizamos nossos eventos para angariar recursos. Recentemente fizemos uma bacalhoada para 600 pessoas. No dia 17 e 18 de dezembro, as 19 horas, alguns alunos estarão fazendo uma apresentação teatral na Estação da Paulista
Há alguma colaboração na aquisição de medicamentos?
Geralmente a própria família providencia os medicamentos, mas há casos em que nós adquirimos ou recebemos doações da Rede Drogal, da Farma Vip.
Os diretores da APAE são necessariamente pais de alunos especiais?
A diretoria é formada por 25 voluntários, sendo que apenas quatro tem filhos com necessidades especiais.
Com a sua experiência a senhora tem, acha que pode ter muitas pessoas que levam uma vida normal, mas nem imaginam serem portadoras de leve deficiência mental?
Acredito que isso seja possível sim.

sábado, novembro 20, 2010

MARIA APARECIDA BISMARA REGITANO E ANTONIO REGITANO

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 20 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADOS: MARIA APARECIDA BISMARA REGITANO E ANTONIO REGITANO

O casal de professores Maria Aparecida e Antonio acabou de chegar de uma viagem a Santos, com ele ao volante do seu carro. Muito animados, com o entusiasmo de adolescentes, ambos enchem de alegria o ambiente. Ele nasceu quando sua família morava na Rua do Rosário esquina com a Rua Rangel Pestana, em Piracicaba, a 23 de setembro de 1931, filho de Amadeu Regitano e Isaura Sartini e ela nasceu na Fazenda Barreiros Luiz da Costa, em Tietê, no dia 18 de abril de 1934 é filha de Antonio Bismara e Maria da Costa Bismara. Antonio é conhecido pelos amigos como “Lemão”, uma corruptela de “Alemão” e Maria Aparecida é conhecida como “Cidinha”. Ambos ministraram aulas para centenas de alunos, foram professores em uma época em que a profissão era reconhecida e valorizada, a população reverenciava aqueles que transmitiam o conhecimento em salas de aula, a remuneração era a altura da função. Em um período em que a indústria automobilística implantava-se no país, recorria-se a diversas alternativas como meio de locomoção. O casal Cidinha e Lemão marcou época ao transitarem pela cidade em uma vistosa Lambretta. Como fosse feita de elástico, à medida que a família crescia ia adaptando-se ao veículo, chegando a cruzar as ruas com o casal e mais três filhos a bordo. Situação impensável nos dias atuais com transito pesado e legislação rigorosa. Cidinha lembra-se com saudades dos tempos em que Tietê produzia as goiabadas e marmeladas tão famosas, do curso de História e Geografia que iniciou na USP, na época funcionando no prédio da Rua Maria Antonia, local que mais tarde entrou para a história pela participação política dos seus alunos. O casal lembra-se do menino Gilbertinho, correndo pelas dependências da casa em folguedos infantis, mais tarde esse garoto tornou-se o apresentador conhecido no Brasil, o famoso Gilberto Barros. A vida de Lemão e Cidinha retrata a vida de muitos casais de professores de determinada época, e também por isso mesmo tornou-se emblemática de um período da nossa história. Lemão resgata uma expressão peculiar e utilizada na época, para dizer que em determinado local havia boas probabilidades de professoras disponíveis para o casamento, um verdadeiro mapa da mina, dizia-se que ali era o “Tufo do Anel Verde”!

Lemão, o seu pai tinha qual profissão?

Ele foi um dos bons sapateiros existentes em Piracicaba, tinha o seu estabelecimento na Rua Governador Pedro de Toledo, em frente ao Hotel dos Viajantes. Esse hotel situava-se na esquina do Mercado Municipal, onde hoje há uma farmácia, no hotel havia um jardinzinho, meu pai tinha uma portinha onde havia uma oficina de concertos e venda de sapatos. O meu avô tinha uma sapataria logo adiante, próxima ao local onde hoje é o Hotel Esplanada, em frente ao Mercado Municipal. Seus vizinhos eram o atacadista Sebastião Ferraz e o armazém de secos e molhados do Romualdo Bertozzi. Onde é o Hotel Esplanada era a loja do Tannus Neder, pai do cirurgião dentista, Dr. Antonio Carlos (Lalo) Neder, que é filho de leite da minha mãe, ele costuma dizer quando me vê: “- Esse ai é meu irmão de leite!”.

Quantos filhos seus pais tiveram?

Cinco filhos: Maria Loreley, Antonio, Amaysa (Mãe do apresentador Gilberto de Barros), Arlete e Vicente.

E seus pais professora Maria Aparecida?

Éramos seis filhos: Luiz Antonio, Agostinho, José Leônidas, João da Mata, Maria Adelaide e Maria Aparecida.

O senhor tem contato com o sobrinho famoso, o Gilberto de Barros?

Tenho pouco contato, de vez em quando ele telefona, entrou para a televisão nem que não queira a vida segue outro ritmo, de vez em quando ele fica até 20 minutos ao telefone, falando conosco enquanto desloca-se de um ponto a outro no trânsito paulistano. Ele foi narrador de futebol, crooner de orquestra. ( Nesse momento Lemão dirige-se até sua discoteca e traz um LP gravado por Gilberto Barros, com uma dedicatória especial aos tios queridos). A prefeitura de Piracicaba fez uma homenagem a Gilberto Barros.
Prof. Antonio, onde o senhor realizou seus estudos?

Freqüentei o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, o Externato São José fiz a quarta série, meus pais mudaram da Rua do Rosário para uma das casinhas humildes que havia na Rua Rangel Pestana, junto ao local onde hoje é o Instituto Piracicabano, depois é que ele abriu a sapataria e mudamos para a Rua Governador. Isso no tempo em que fabricavam sapatões, com cravos (pregos) de madeira, e iam vender nos sítios.

O senhor chegou a trabalhar na sapataria?

Houve um tempo em que fiz bastantes chinelos, eu devia estar estudando no ginásio. Lembro-me de ter levado um amarrado de chinelos, uma dúzia ou mais, para os seminaristas do Seminário Seráfico São Fidelis. Nas proximidades da hoje Praça Takaki havia um sapateiro que processava o material cortado pelo meu pai, e fazia calçado, o que hoje chamaríamos de terceirização de mão de obra, algumas vezes fui levar esse material e passava pela Rua do Rosário, um detalhe curioso é que na esquina da Avenida Edgar Conceição com Rua do Rosário havia um ponto de ônibus proporcionando uma aglomeração de passageiros à espera de condução. Atualmente vemos essa cena na Praça Takaki. Eu subia a Rua do Rosário com uma bicicleta Philips, fabricada em 1950 e adquirida na Casa da Chave, situada na Rua Prudente de Moraes entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Santo Antonio. Quando eu estava no ginásio meu pai fabricou um Keds para mim. (Por um período Keds era a denominação para o que hoje chamamos de tênis, Keds foi a primeira indústria a fabricar sapatos com sola de borracha, em 1918), ele era muito habilidoso, fabricava o que hoje denominamos calçados ortopédicos. O calçado “Alpargatas” era feito de lona com solado de corda, conhecido popularmente como “enxuga-poça”, quando molhava a sola estufava. Era um produto que o meu pai vendia muito, vinham em caixas de papelão, transportadas pela Cia. Paulista de Estradas de Ferro. Muitas vezes vim buscar ou despachar mercadorias pela Paulista. Havia um carroceiro famoso que fazia as entregas, lembro-me da sua fisionomia, um homem magro, quando ele melhorou de vida adquiriu uma espécie de camionete. Sofreu um terrível acidente e achou mais prudente voltar a usar veiculo de tração animal.

O senhor continuou seus estudos em que escola?

A partir da segunda série ginasial passei a estudar na Escola Normal, hoje Instituto Sud Mennucci. Em 1951 me formei como professor. Nesse período acompanhava o trabalho do meu pai na sapataria, ele tinha horror à idéia de eu tornar-me sapateiro. A meta dele era proporcionar a melhor formação para os filhos. Eu gostava de montar calçados, quando mudei para Maristela no Município de Laranjal Paulista, montei um banquinho de sapateiro, uma mesa baixa, de madeira, medindo 50 x 50 centímetros, com as divisões feitas por sarrafos de madeira onde eram colocados os diversos tipos de pregos e tachinhas necessários ao oficio. Existia uma gaveta, meu pai dizia que a gaveta de sapateiro era uma bagunça, mas as ferramentas necessárias a prática da profissão eram muitas, tinha a lamparina para esquentar ferramentas, como o pé de porco, uma ferramenta utilizada para dar lustro na beiradinha da sola.

Quando o senhor era jovem quais atividades de lazer eram comuns?

Uma das mais comuns era ir até a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz onde o meu tio Pedrinho Regitano foi bedel e era muito querido. Eu me reunia a seus filhos e íamos juntos saborear uma variedade enorme de frutas existentes na Escola Agrícola, como denominávamos a ESALQ. Costumávamos ir a pé pela Avenida Carlos Botelho com seu chão de terra nua ou de bonde, geralmente desviando a medida do possível do cobrador, uma prática comum entre muitos passageiros desprovidos de carteiras recheadas. Iamos até o Campo de Aviação, atual Aeroporto Comendador Pedro Morganti.

Como era denominada uma cidade ou localidade com grande número de professoras candidatas ao matrimônio?

Dizia-se que “Era o Tufo do Anel Verde”, ou seja, o mapa da mina. Uma referência ao anel de professora, uma jóia com pedra da cor verde, o anel de formatura era um acessório muito utilizado pelos profissionais de cada área. Quem se casava com professora tinha garantia de vida estável! Minhas irmãs foram lecionar na Alta Paulista e eu fui lecionar na Alta Sorocabana, em Presidente Venceslau, a Helena Cosentino é que me arrumou uma substituição naquela localidade, no Grupo Escolar Dr. Álvaro Coelho. Daqui até lá eram 24 horas de viagem, sendo que 18 horas eram de trem “Ouro Verde” da Sorocabana, era uma região constituída com casas modestas feitas de madeira, isso foi em 1952. Eu me hospedava em uma pensão com outros cinco professores. O professor tinha salário equivalente ao do promotor público. Um tio da minha mulher era chefe da Casa da Lavoura, meu salário era igual ao dele.

Que traje o senhor usava para lecionar?

Usava um blusão de shantung (Tecido originário de Chan-tung, China, produzido com fio de seda.), zíper na frente, não era permitido abrir o zíper e com gravata.

Dona Cida a senhora formou-se em Tietê?

Estudei no Grupo Escolar Luiz Antunes, depois cursei a Escola Normal Plínio Rodrigues de Moraes, onde fiz ginásio e curso normal. Formei-me em 1953.

Lembra-se dos famosos doces de Tietê?

Sim, e lembro-me de que a Dona Celica era uma das grandes doceiras, fazia doces de goiaba e marmelo, colhi muito marmelo, é uma fruta que dá na ponta de uma vara fina, ela tem o aspecto de um pêssego muito grande, pele grossa e bem amarela, ao natural é uma fruta horrível de se comer, para fazer o doce é necessário cozinhá-lo, passar por uma peneira e depois apurar o doce. Vi fazer doce por muitos anos.

Após tornar-se professora a senhora continuou seus estudos?

Em 1954 ingressei na Universidade de São Paulo, fazia o curso de geografia e história, localizado na Rua Maria Antonia, em São Paulo, fiz o primeiro ano do curso.

Como o senhor conheceu Dona Maria Aparecida?

Em, 1954 houve um baile na Associação Esportiva de Tietê, e a Rainha de Laranjal Paulista, conhecida como Neguinha Salto, filha do prefeito da época, precisava de um rapaz que fosse alto para formar par com ela, na época eu lecionava em Maristela, que pertencia a cidade de Laranjal Paulista. Dançamos a valsa, fiz o papel que chamavam de primeiro-ministro, ela mais alta do que eu. Ao termino da valsa tomamos cada um o seu rumo, não tínhamos nenhum compromisso. Eram festas lindas, com orquestra. Fui tirar uma moça para dançar, levei uma “tábua”, ela não sabia dançar. Abaixei a cabeça, virei de outro lado e convidei a Maria Aparecida para dançar, isso foi em 16 de outubro de 1954. Estamos dançando até hoje!

A senhora retornou a Tietê e passou a lecionar?

Fui dar aula no Grupo Escolar Rural Dona Isabel Alves Lima em Maristela, substituir a professora Dona Idalina Pivetti Piccolo. Estávamos namorando, após um ano e três meses casamos em Tietê. Em 15 de dezembro de 1959 mudamos para Piracicaba. A minha casa é de 1961, construída pelo famoso construtor piracicabano Alfredinho Romano, as casas construídas por ele levam seu estilo inconfundível, estão espalhadas por diversos bairros de Piracicaba, há um quarteirão quadrado inteiramente ocupado pelos conhecidos “sobradinhos do Romano”, construídos em parceria com o Comendador Antonio Romano. Meu marido havia sido removido para Cillos. Fui chamada para escolher a minha cadeira, escolhi a Escola Típica Rural do Olho D`Água, na estrada de Piracicaba a Laranjal Paulista, um pouco depois do Arraial de São Bento, distante a uns 32 quilômetros, ia de ônibus, em estrada de terra. De lá fui lecionar na Escola do Bairrinho, para mais tarde lecionar na Escola Estadual Profa. Mirandolina Almeida Canto, em seguida lecionei na Escola Estadual Dr. João Conceição, onde me aposentei.

Como o senhor ia dar aula em Cillos?

Ia pelo trem da Paulista. Ir era fácil, difícil era voltar! O trem só passava bem mais tarde. Pegava carona com algum caminhão de cana e ia até Santa Barbara D`Oeste onde apanhava o ônibus até Piracicaba. De Cillos fui dar aula no Instituto de Educação Comendador Emílio Romi. Fui convidado a ficar no Setor de Orientação Pedagógica que funcionava na Escola Estadual Olivia Bianco. De lá fui lecionar por 16 anos na EE Prof. Antonio Mello Cotrin.
                               Lemão e o seu primeiro automóvel
Quantos filhos nasceram desse casamento?

Tivemos quatro filhos: Marisa, Amadeu, Jonas e Miriam. Freqüentávamos o Clube de Regatas, meus filhos aprenderam a nadar no Rio Piracicaba, não havia poluição. Tinha trazido de Maristela um barco que eu tinha confeccionado com o auxilio de dois colegas professores.

Há uma característica muito marcante e simpática que era o meio de transporte utilizado pelo senhor durante um período.

A Lambretta foi o primeiro carro da família, adquiri-a em Americana, no Nardini, ela era cor creme, ano 1962. Nunca tive um impacto ou emoção tão grande com nenhum outro veiculo que adquiri mais tarde. Eu nunca tinha andado de motocicleta, o primeiro passeio foi certamente em volta do quarteirão.

Qual foi a reação da sua esposa?

Ficou assustada com as prestações. Para pegar um dinheirinho a mais e pelo fato de ter a Lambretta fui cobrador da Casa Periañes. No dia em que o Comurba caiu, eu estava seguindo para o centro e pelo trajeto regular deveria passar ao lado do prédio. Parei para abastecer em um posto de gasolina quando ocorreu a queda. Dirigi-me até lá e vi a nuvem de poeira que ainda pairava no ar, assim como o desespero de quem estava acorrendo ao local.

Quantas pessoas da família eram transportadas pela Lambretta?

Eu pilotando, a Marisa sentada no pneu atrás, meu filho Amadeu em pé, e o Jonas entre eu e minha esposa, totalizando cinco pessoas!
                                         Jonas, Marisa, Amadeu filhos que com Cidinha e Lemão circulavam nessa possante Lambretta.

terça-feira, novembro 16, 2010

OSWALDO TAGLIETTA FILHO

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 13 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: OSWALDO TAGLIETTA FILHO
O médico cirurgião Oswaldo Taglietta Filho nasceu em Piracicaba em janeiro de 1962, é filho do modelador Oswaldo Taglietta, ex-funcionário da Dedini e da professora Evanil Baldo Taglietta. Praticante de esporte atuou como médico junto a equipes esportivas, sendo marcante a sua atuação no XV de Novembro de Piracicaba. Dr. Oswaldo revela fatos pitorescos, além de descrever a sensação de tornar-se parte do espetáculo, uma verdadeira arte que é uma partida de futebol. A alegre convivência com os atletas, equipes esportivas, em uma época em que o XV de Piracicaba foi patrocinado pela TAM, do lendário Comandante Rolim Adolfo Amaro. Confirma uma particularidade de Edson Arantes do Nascimento: o Rei Pelé é míope! Taglietta aborda aspectos da prevenção da osteoporose, um fantasma que ronda particularmente as mulheres.
Ao nascer sua família morava em qual bairro de Piracicaba?
Residia no centro na esquina da Rua Prudente de Moraes com Rua Tiradentes. Meu pai antes de ser funcionário da Dedini, trabalhou esculpindo móveis na empresa de Miguel (Miguelão) Sansígolo. Em 1968 passamos a morar na Rua Dona Francisca e posteriormente na Rua Lourenço Ducatti, próximo a Igreja São Luiz, na Vila Rezende. Na época havia corridas de kart que contornavam a igreja. Tenho dois irmãos, um é dentista e outro é professor universitário de informática.
A decisão de ser médico surgiu em que época da sua vida?
Nunca me imaginei atuando em outra profissão! Fiz o primário no Grupo Escolar José Romão, o ginásio no Jerônimo Gallo e sou da primeira turma do Colégio CLQ, o primeiro ano estudei na Avenida Carlos Martins Sodero, onde funciona o cursinho CLQ, os outros dois anos foram nas novas instalações á Rua Hide Maluf. Era um grupo pequeno, foi muito bom. Sempre gostei muito da área de esportes, jogava basquete na época de ginásio, colégio, cheguei a jogar no juvenil do XV de Novembro, isso no tempo do técnico Joãozinho e do Marquinhos. Tenho 1 metro e 85 centímetros, considerada altura normal, mas quando jovem destacava-se entre os meus colegas. Nunca fui magrinho, fazia arremesso de peso, de disco, cheguei a treinar com Marcos Leme, um excelente atleta de arremesso de disco. Eu praticava esportes pela satisfação em fazê-lo, nunca tive maiores pretensões nessa área.
O senhor estudou medicina em qual faculdade?
Estudei medicina na faculdade de Pouso Alegre, fiz a residência médica no Hospital da Beneficência Portuguesa de Santos permanecendo por quatro anos naquela cidade. Não tinha a intenção de retornar a Piracicaba, havia um conceito formado de que a medicina em Piracicaba era praticada em um circulo fechado, um pensamento que hoje não existe mais. Vim passar umas férias junto a minha família, surgiu um plantão no pronto socorro existente na Avenida 31 de Março, o chefe era o Dr. Tuffi Chalita, ele disse-me: “- Por que você não fica trabalhando aqui?”. Acabei ficando, ingressei no corpo clinico do Hospital da Cana. E assim estou aqui como médico a mais de vinte anos, exercendo a ortopedia, basicamente cuidando de joelho e quadril.
Quando o senhor passou a exercer a medicina esportiva?
Fui médico do VX de Novembro de Piracicaba por 12 anos. Por volta de 1991 o presidente do XV era Waldir Athanazio, o time tinha acabado de subir á primeira divisão, tinha um quadro razoável. Em 1994 a TAM assumiu a direção sob a presidência do Comandante Rolim Amaro, uma pessoa que tinha paixão pelo que fazia, era o grande segredo dele. Ele sabia viver a vida lembro-me de uma passagem em que o XV estava concentrado no Hotel Antonio`s, fui á concentração, ví quando estava chegando em um automóvel Porshe maravilhoso o Comandante Rolim, já na garagem disse-me; “-Gostou doutor?”, sem dúvida respondi-lhe que sim, ao que ele falou: “- A revendedora ofereceu-me para fazer o teste-drive!”. Era esse o nível que ele freqüentava.
Qual era de fato o objetivo da TAM em patrocinar o XV de Novembro de Piracicaba?
Até hoje eu me questiono a respeito! O Comandante Rolim tinha ligações com Piracicaba, ao que consta antes de fundar a TAM ele havia sido piloto particular de um empresário da cidade. Penso que estrategicamente Piracicaba interessava ao seu empreendimento, acredito até que ele previa esse “boom”, o que a empresa Azul faz atualmente em Campinas já era uma idéia sua. Olhando no sentido de hoje para a época temos uma visualização do que se passava pela sua cabeça. Ele montou uma escola de formação de pilotos aeronáuticos em Piracicaba. O Comandante Rolim elaborou um grande projeto de um CT (Centro de Treinamento), onde além de CT, havia uma escola de pilotos, hotelaria. Só não foi adiante em função de um “racha” dentro do XV de Novembro. Caso esse projeto tivesse sido levado adiante, com certeza Piracicaba teria o CT mais moderno do Brasil e deveria ser sede de equipes da Copa do Mundo. A aviação regional sempre foi a grande paixão do Comandante Rolim.
Como o senhor tornou-se médico do XV de Piracicaba?
Logo após retornar á Piracicaba, o Pianelli disse-me que o Tadeu estava saindo do XV e que haviam pedido que ele indicasse alguém, se eu aceitava. Antes de tudo, sou torcedor do XV, ainda menino ia assistir aos jogos do time, sentava na arquibancada debaixo de sol escaldante para ver o meu time jogar. Um dos meus ícones era o médico do XV, na época Dr. Mello Ayres. Quando recebi o convite para ser médico do XV não pensei duas vezes, era meu sonho de infância.
O cargo é remunerado?
No inicio foi uma relação em que financeiramente não valia a pena. Na época da TAM havia uma relação mais profissional, com carteira de trabalho assinada, mesmo assim nunca foi um salário atraente. Havia a remuneração com participação de “bicho”
(pagamento de um extra aos jogadores pelas partidas em que fossem vencedores), teve épocas boas, em que o XV liderava o campeonato paulista, foi um período bom, tinha “bicho” que compensava. Já com o Campeonato da Série B, era um campeonato pesado com relação a disponibilidade, se eu colocasse na ponta do lápis estava colocando dinheiro de próprio bolso. Saindo em uma segunda-feira para jogar na quarta-feira em São Luiz do Maranhão, de lá ia na quinta-feira á Fortaleza para jogar no domingo e estar de volta á Piracicaba na segunda-feira, com isso ficava uma semana fora da cidade.
O senhor era o responsável pela saúde da equipe?
Eu era o médico responsável pelo Departamento Médico. Os atletas tinham um convenio firmado com a AMHPLA, onde todo corpo clinico prestava assistência médica em suas especialidades, ao incorporar um atleta á equipe eram feitas avaliações nas mais conceituadas instituições clínicas de São Paulo.
Quais eram os problemas mais comuns encontrados no atleta que entrava para a equipe?
A TAM tinha uma política de buscar novos talentos Brasil afora. Os jogadores tinham uma grande briga com a nutricionista. Eles queriam comer carne, arroz, enquanto a nutricionista tinha que fazer a dieta balanceada.
Vemos em partidas de futebol, na disputa de algum lance, jogadores que caem ao solo com expressão de dores agudas, entra nessa hora a representação teatral?
Muito! Impressionar o juiz, colocar pressão sobre ele, colocar a torcida contra o arbitro, esfriar uma jogada, são alguns dos motivos para essas artimanhas, isso ocorre no mundo todo. É lógico que existe a lesão em uma partida, me preocupa muito mais o jogador que cai e fica quieto do que aquele que sai rolando. Com dor na perna você não sai rolando! Em campo há jogo de sinais, ao chegar perto do jogador contundido ele dá uma cutucadinha no seu pé e você já sabe que aquilo tudo que ele está fazendo é para dar uma esfriada. O goleiro não pode ser tirado de campo, com isso o juiz tem que esperar que ele seja atendido, proporcionando com que ele ganhe tempo para o time. Quando um médico passa a atender um jogador o mesmo tem que sair, o time fica com 10 jogadores, isso muitas vezes irrita o técnico. Se o juiz percebe que foi catimba do jogador ele pode enrolar a sua volta á partida.
Há algumas passagens folclóricas das quais o senhor participou?
Sim há algumas! Uma famosa ocorreu no primeiro campeonato paulista do qual participei, na segunda ou terceira rodada a partida foi no Estádio Pacaembu, o jogo realizado a noite era contra o Corinthians. Um grande número de elementos da torcida Fiel estava presente a disputa. Na época eu pesava 140 quilos. Havia uma orientação da Federação Paulista de Futebol para o médico não entrar em campo, não podia cruzar o campo, para atender o jogador deveria ser feito o contorno do campo pelas linhas laterais. Um jogador do XV, o gaucho Airton, uma grande figura, caiu no meio do campo, do lado oposto. Era o lugar mais distante do ponto onde eu estava. Sai, percorrendo a lateral, fui ao pé da torcida Fiel. Atendi voltei ao banco. Quinze minutos depois o Airton caiu no mesmo lugar. Dessa vez era malandragem dele. Ao passar atrás do gol, a cada passo que eu dava escutava a marcação da torcida do Corinthians; “Tum..tum..tum...tum...”. Quando eu acelerava o passo eles aceleravam a marcação. Quando cheguei junto ao Airton perguntei o que tinha ocorrido e ele disse-me que era apenas encenação. Voltei ao meu posto, acompanhado pela marcação dos meus passos pela torcida do Corinthians.
Qual jogador de futebol o senhor considera como o melhor atleta pelo seu condicionamento físico?
O Pelé! Pela diferenciação dele, ele veio pronto e era aquela maquina. Ele tinha miopia e não era pequena, conheci em Santos a pessoa que fazia os seus óculos. Imagine se Pelé enxergasse bem!
Dizem que juízes de futebol têm duas mães, a legítima e a que a torcida ofende o médico também é assim?
O médico nem tanto! Às vezes ocorre alguma rusga. Em Rio Preto, o antigo estádio do América era muito em pé, a torcida ficava próxima ao campo, o torcedor não precisava fazer muito esforço para jogar alguma coisa dentro do campo, era possível tomar nas costas um saco cheio de cerveja, você rezava para que o conteúdo de fato fosse cerveja.
Nas viagens da equipe o ambiente é descontraído?
É um ambiente bom porque o médico não cuida de pessoas doentes, cuida-se de pessoas saudáveis, que apresentam alguma contusão. Em uma determinada ocasião saindo de Natal com destino a São Luiz do Maranhão quem me deu trabalho foi o narrador esportivo Gerson Mendes, ele sofreu uma intoxicação alimentar e eu tive que fazer um soro improvisado dependurado em uma cortina. Convivíamos com jogadores, narradores das Rádios Educadora, Difusora e Alvorada (atual Onda Livre). Fazíamos campeonatos de tranca, buraco. Era muito bom. A maior parte dos hotéis é referencia para os times de futebol, torna-se uma rotina hospedar-se em determinado hotel.
E as famosas baladas dos jogadores?
Existem, há os atletas que não tem regras, mas acho que não é tanto como se fala. Os jogadores de futebol são pessoas com um ritmo de vida diferente. Trabalham e muito. Não tem final de semana livre, ou estão concentrados, ou estão treinando ou ainda amanhã cedo terão treino. O que para nós é uma simples saída para um jantar para eles é infringir uma regra, provavelmente na manhã seguinte terão treino. Naturalmente que eles saem para jantar, se uma pessoa comum pode consumir uma cerveja em um ambiente público o atleta em função da sua grande visibilidade é mais notado, em qualquer lugar que for um astro do futebol terá sempre alguém olhando e comentando seus mínimos atos. Há treinadores que na concentração não admitem o uso de celular, não deixam que passem ligações telefônicas ao quarto do atleta.
A prática de sexo antes do jogo influi no rendimento do atleta?
Não vejo nenhuma diferença, a não ser que o atleta envolva-se em alguma orgia!
Como é assistir um jogo dentro do campo?
È muito mais gostoso assistir da arquibancada, no campo a visão é ruim, o envolvimento com o jogo é sempre maior, o médico quando senta a beira do campo ele não está apenas assistindo, ele está torcendo. Há uma frase dita pelo Vadão da Portuguesa: “Futebol seria bom, se não fossem os 90 minutos!”. Ninguém tem idéia do que é colocar um time em campo, todo trabalho que existe por trás, em recuperar um atleta, em cuidar da alimentação, alojamento, treinamento, muitas vezes ás vésperas de uma partida aparece um problema com algum jogador, tudo que foi desenvolvido em uma semana toda não será mais realizado. Futebol é um espetáculo que conta com o imponderado. Há atletas que deitam em perfeitas condições e acordam travados no dia seguinte.
Onde se manifestam os maiores problemas físicos do jogador de futebol?
No joelho, ocorre também em ligamentos. Atualmente o atleta começa a jogar mais cedo, há uma cobrança maior sobre ele, temos casos como o do Neimar que aos 18 anos já está na mídia, aos 16 já estava aparecendo, ele deve estar sendo cobrado desde os 14 anos, uma criança fazendo o trabalho de gente grande, com peso, musculatura. Isso tem um preço, a articulação irá cobrar, a vida útil é menor do que a normal.
O senhor atua em sua clinica em qual especialidade?
Costumo brincar dizendo que faço muita ortopedia geriátrica. Minha especialidade é em quadril e joelho, há muitos casos degenerativos em decorrência de artrose, quanto mais a população envelhece maior o numero de pessoas com artroses. Há vinte anos não havia tantas pessoas como hoje fazendo próteses de quadril de joelho.
É em função do sedentarismo?
O sedentarismo ajuda. Quanto mais for trabalhada e fortalecida a musculatura mais estável será a articulação.
Atualmente a osteoporose ronda algumas mulheres?
A osteoporose é acentuada em decorrência do sedentarismo e de hábitos alimentares, diferentes dos que existiam á algumas décadas. Hoje se come muitos alimentos processados, desconhecemos o teor dos alimentos que ingerimos. A osteoporose é uma doença muda, sem sintomas, indolor, ela já existia anteriormente só que não era diagnosticada com tanta eficiência como é atualmente. É uma doença muito mais simples de ser prevenida do que tratada, a vitamina D e o sol são elementos importantes na prevenção e tratamento.

domingo, novembro 07, 2010

MAESTRO ERNEST MAHLE

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 de novembro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: MAESTRO ERNEST MAHLE
Maria Aparecida R. P. Mahle, Ernest Mahle e a Escola de Música de Piracicaba são nomes tão associados que parecem constituir uma única família. Ao piracicabano é impossível ver a Escola de Música de Piracicaba sem imediatamente associar a imagem ao casal, escola da qual foram co-fundadores e grandes beneméritos, voluntários, que no Brasil é sinônimo de trabalhar pelo prazer de servir. Por 50 anos tiveram participação decisiva e efetiva na condução da Escola de Musica de Piracicaba. Hoje afastados da direção da Escola de Musica de Piracicaba continuam produzindo novas obras, compondo, regendo, ensinando, vivendo e respirando música com toda intensidade. Esbanjam energia, vitalidade e criatividade. Conforme o site da Universidade Metodista de Piracicaba (http://www.unimep.br/gdc_setores.php?fid=37): “Durante o processo de gerenciamento e ampliação, muitas foram as lutas e conquistas do casal Mahle, tanto no nível artístico como na obtenção de instalações adequadas. Em setembro de 1998, ao completar 46 anos, o casal Mahle demonstrou o desprendimento ao transferir a escola para o Instituto Educacional Piracicabano (IEP), entidade mantenedora do Colégio Piracicabano e da Unimep.” Após 50 anos ininterruptos de abnegado trabalho voluntário na direção, o casal Mahle em janeiro de 2004 deixou de conduzir a Escola de Musica de Piracicaba. O cargo passou a ser remunerado, assumindo uma nova diretoria. Maestro Ernest Mahle tem uma didática jesuítica, quer para música, para filosofia, da qual os alemães são mestres incontestes, ou ainda em um prosaico ensaio de engenharia mecânica. Em sua casa, junto a um engenhoso invento criado por ele, uma roda de água conduz um teleférico em miniatura cortando os ares debaixo de uma frondosa mangueira. Ele explica que Mahle em alemão é derivado de moinho de água, atividade exercida pelos seus ancestrais na Alemanha: “Os primeiros membros da família Mahle que se tem conhecimento, há 400 anos, era moleiros, não só moía o trigo, como também construía o próprio engenho movido a água. Por isso a família tem em seu brasão a roda d água”. Ernst afirma ser o primeiro artista de uma família com gerações compostas por engenheiros e professores. Ernest Hans Helmut Mahle é o nome completo do maestro brasileiro nascido no dia 3 de janeiro de 1929, em Stuttgart, Alemanha, filho de Else Mahle e Ernst Mahle. Seu pai é um dos responsáveis por uma das maiores evoluções havidas nas indústrias automobilísticas do mundo. De simples operário na Mercedes-Benz em Stuttgart passou a ser protagonista da história automotiva mundial, conviveu com figuras históricas como Henry Ford, Ferdinand Porsche, Robert Bosch.
A família Mahle tem fortes raízes em Stuttgart?
Meu avô paterno trabalhou como engenheiro chefe de uma fábrica de máquinas faleceu no fim da primeira guerra, sua fortuna tinha sido aplicada em papéis do governo e infelizmente perdeu-se toda nessa aplicação, deixando a minha avó com nove filhos para criar. Meu pai tinha sido tenente durante a Primeira Guerra Mundial, ele e meu tio Hermann como filhos mais velhos imediatamente tiveram que procurar um emprego, foi quando passou a trabalhar na Mercedes-Benz em Stuttgart. Gottlieb Daimler foi o fundador da fábrica Mercedes Benz, construiu um pequeno motor e adaptou em uma carruagem, cortou os varais onde eram atrelados os cavalos, era um veículo muito primitivo. Meu pai conheceu os principais inventores que trabalharam no desenvolvimento do automóvel. Quando menino ele viu Gottlieb Daimler correr com os seus carros em Stuttgart. Nos fins do século XIX a eletricidade era uma coisa nova, Robert Bosch viu que Daimler para dar partida nos veículos aquecia um arame e rapidamente tinha que colocar em uma câmara de combustão situada no motor, onde havia a mistura de gasolina com o ar produzindo um gás que aquecido dava origem a primeira explosão, mantido o calor o arame permanecia incandescente. Robert Bosch ao encontrar-se com Daimler disse-lhe que havia uma maneira mais fácil e rápida de proporcionar a explosão, uma faísca elétrica poderia provocá-la. Assim foi criado o primeiro modelo de ignição.

Quando o senhor nasceu seu pai trabalhava na indústria automobilística?

Meu pai trabalhava na Mercedes Benz, era um dos dias mais frios de janeiro, meu pai tinha um carro Daimler, como a minha mãe estava para dar a luz ele acelerava o carro sobre o gelo, conforme minha mãe pressentia o meu nascimento dizia para ele aumentar ou diminuir a velocidade em função do risco que a estrada oferecia. Eu já tinha uma irmã quatro anos mais velha, fui o segundo dos quatro filhos do casal filhos: Ilse, Ernst, Eberhard, Christoph .

Percebe-se que o senhor além de profundos conhecimentos musicais gosta muito de mecânica!

Estou ligado a essa explosão tecnológica dos últimos 100 anos! Ligado de duas maneiras, uma delas é a parte mecânica que está no sangue, consigo lidar com todo tipo de máquina, por outro lado vejo os aspectos negativos dessa evolução tecnológica, filosoficamente significa a humanidade enfiada nesse materialismo, podendo ser comparada ao ser humano de três mil anos a trás, no tempo dos faraós, quando agiam como formigas, o faraó era o único realmente inteligente, que planejava. Há mil anos começou a haver modificações. Um exemplo foi quando os espanhóis conquistaram a América perceberam que se matassem o chefe dos incas ou dos maias parava a guerra, os demais eram como formigas, não funcionavam mais sem o líder. Para os espanhóis era indiferente se o chefe morresse, outro assumia o posto, todos eles eram personalidades. Sócrates foi uma personalidade interessante, condenado por estar seduzindo os jovens com a idéia de não acreditar mais em Deus. Sócrates dizia “-Se vocês querem saber como agir, ponham para funcionar o raciocínio, vocês são capazes de determinar como a vida deve ser não precisam correr para Delphos para consultar o oráculo”. Era a moda na Grécia, antes de fazer qualquer coisa o grego consultava o oráculo, onde os conselhos eram dados possibilitando a dupla interpretação. Confúcio já dizia a 3.500 anos, que há três caminhos que podem ser tomados, o primeiro é pela imitação, é o mais fácil, uma criança imita os pais, o segundo caminho é pela experiência própria, é o mais doloroso, o terceiro é pelo raciocínio, é o mais nobre. Se as máquinas dominam as pessoas é o inferno!

O tio do senhor fez parte da Mahle?

Meu tio também teve quatro filhos, eles eram donos da fábrica Mahle de pistão, tinham a fundição sobre pressão do magnésio que é mais leve do que o alumínio, mas ele tem a propriedade de explodir quando aquecido, tinha que ser derretido em uma caldeira fechada, sob pressão com nitrogênio, essa é também uma invenção do meu pai, o pistão do motor diesel se for de alumínio fundido não tem tanta durabilidade como o pistão de alumínio forjado sob pressão, até hoje o pistão do motor diesel é de alumio forjado. Meu pai percebeu que se o pistão e o cilindro fossem de alumínio a dilatação dos materiais quando aquecidos, seria a mesma, só que o desgaste do cilindro por onde corre o pistão era muito grande, foi quando ele resolveu cromar, só que o cromo era 100% liso enquanto o alumínio tinha poros onde o óleo poderia permanecer, tinha que ser criada uma cromação que fosse tão porosa como o alumínio. Ferdinand Porsche foi o primeiro a utilizar essa invenção do meu pai.

Alguma vez o senhor viu Ferdinand Porsche?

Sim, eu o conhecia, era austríaco, fez o automóvel Volkswagen a pedido de Hitler, morava perto de Salzburg, acompanhei o meu pai até lá por diversas vezes. Ele tinha um carro totalmente feito de alumio, inclusive o motor, esse veículo com 1 litro de gasolina conseguiu chegar de Salzburg a Monique. Hoje em dia o recorde são 1.000 quilômetros com um litro de óleo diesel.

Qual era a formação escolar do seu pai Ernst Mahle?

Quando meu pai percebeu que seu salário não iria crescer muito, decidiu estudar a noite, freqüentou a Escola Politécnica de Stuttgart, formando-se como engenheiro.

Até que ano o senhor permaneceu na Europa?

Permaneci até 1951. Quando era criança, morava perto da fabrica Mercedes Benz em Stuttgart, a partir do momento que meu pai passou a ter um salário melhor ele adquiriu uma casa em um bairro mais nobre, tínhamos um vizinho que era eletricista, tinha muitas bobinas de fio elétrico, eu era ainda menino, era louco por rolo compressor a vapor, uma invenção do meu avô, ainda menino eu tive a oportunidade de ver os barcos a vapor construídos pelo meu avô que navegavam no Lago de Konstaz, ele foi engenheiro chefe de uma fabrica de maquinas a vapor, construía para as fabricas maquinas a vapor, com uma única unidade dessas maquinas movimentava muitas outras de teares havia uma porção de eixos e engrenagens fixadas no teto, meu pai foi um dos primeiros fabricantes responsáveis pela colocação de motores elétricos nesses teares com fios correndo pelo chão. A meu pedido o nosso vizinho fez um rolo compressor para que eu brincasse de tal forma que eu sentava e dirigia esse brinquedo idêntico aos rolos compressores da época.

Quando foi o seu primeiro contato com um instrumento musical?

Havia uma escola particular próximo a nossa residência, a “Schicker Schule”, fui matriculado nela, e logo o professor mandou comprar flauta doce, antigamente eram todas de madeira, hoje são de plástico. Foi o primeiro instrumento que aprendi a tocar. Permaneci nessa escola por 4 anos, no quarto ano foi feita uma competição de quem lia melhor a pauta musical, e fui o vencedor, o professor percebeu que eu tinha muito talento para a musica. Nessa época a empresa do meu pai empregava 3.000 pessoas. Dois anos após começou a guerra.

O senhor conheceu Hitler?

Quando ele esteve em Stuttgart o vi de longe passando com seu carro Mercedes. Ele fez um discurso no estádio da cidade, cinco minutos apõe ele iniciar sua explanação um funcionário da Mahle cortou com um machado o fio de transmissão do microfone, Hitler teve que falar para o estádio sem alto falantes. No dia seguinte a Gestapo esteve na empresa. Isso foi em 1938. Lembro-me de ouvi-lo pelo rádio, ele berrava e mexia com todos que o escutavam. Em 1943 as cidades alemãs começaram a ser bombardeadas, colocamos nossos principais pertences em um caminhão e fomos para a Áustria onde tínhamos um chalé, próximo ao Lago de Konstaz. Após a guerra a Áustria foi dividida em quatro partes, cada uma das quatro potências passou a administrar uma região, os franceses dominaram a localidade onde estávamos. O coronel francês responsável pela ocupação sabia que o meu pai era um importante industrial, a Mahle sempre tratou muito bem seus os operários, ela tinha uma filial na França onde fabricava pistões. É interessante dizer que os franceses todo mês traziam músicos do conservatório de Paris, eram os melhores da Europa, vinham pianistas, violinistas, flautistas, cantores, violoncelistas, pela primeira vez na vida vi o que era música, o que era tocar bem um instrumento! Fiquei louco para ser músico! Comprei os estudos de Chopin, Beethoven e comecei a tocar por minha própria conta. Eu tinha 16 anos, tocava de 7 a 8 horas de piano por dia, após um ano surgiram dores nas mãos, nos pulsos, o médico deu o diagnóstico de uma tendinite irrecuperável, eu deveria tirar da minha cabeça a idéia de tocar piano! Comprei uma flauta transversal, um saxofone, uma clarineta e estudava tudo isso sem professor. Para tirar o primeiro som da clarineta levei três horas, na loja venderam-me a palheta mais dura que existia! Ainda guardo comigo a primeira peça que escrevi ao piano em 1945. (Mahle senta-se ao piano e executa um trecho da obra).

O senhor aprofundou seus estudos de música onde?

Fui para Stuttgart após a guerra, lá havia a Escola Superior de Música, que havia sido quase completamente destruída. De três andares a escada ainda funcionava e havia sobrado umas cinco ou seis salas de aula, a diretoria funcionava em uma casa, alugada. Tive que prestar um exame para ingressar na escola, foi me dada uma partitura que eu deveria tocar ao piano e cantar. Eu tinha que decorar a partitura, olhar as mãos e tocar. Recebi uma carta dizendo que não podiam me aceitar como aluno. Isso tinha ocorrido com Giuseppe Verdi que queria estudar no Conservatório de Milão e foi reprovado! Fui conversar com o diretor, ele deu-me o tema "A Flauta Mágica" de Mozart para improvisar uma fuga. Após a minha apresentação ele disse-me: “-Você pode começar! Pode escolher o seu professor de composição!”.

Quando o senhor veio para o Brasil?

Meu pai viajava visitando os fabricantes de automóveis e indústrias que reformavam motores velhos, hoje essas empresas não existem mais, fica mais barato colocar um motor novo. Ele tinha três amigos em Berlin, que eram judeus, donos da maior retifica de motores da Alemanha. Quando Hitler chegou ao poder e começou a fazer propaganda contra os judeus esses três amigos do meu pai ficaram muito céticos quanto ao futuro. Por acaso viram no cinema uma reportagem sobre o Brasil, onde apareceram cenas de São Paulo, imagens de palmeiras tropicais. Pensaram: “-Isso parece que tem futuro!”. Ludwig Gleich que era engenheiro e Adolf Buck com formação na área financeira liquidaram seus negócios na Europa, tomaram um navio e vieram ao Brasil onde fundaram a maior retifica da América Latina a Motorit no bairro Cambuci. Em 1951 cheguei ao Brasil vindo por um navio cargueiro holandês, trouxemos nossa bagagem, o navio fez a primeira escala no Rio de Janeiro, fiquei muito impressionado com a paisagem. Descemos em Santos e subimos a serra com o meu pai dirigindo um automóvel Studebaker, cujo motor ferveu. Na Rua General Jardim, próximo a Praça da República havia uma pensão onde permanecemos hospedados os primeiros meses, até acharmos uma casa para morarmos. Todos os dias eu comprava o “Estadão”, que o meu pai e a minha mãe liam. Como eu tinha estudado latim no ginásio tive mais facilidade em aprender a língua portuguesa, no inicio foi mais difícil entender o que as pessoas falavam, meu pai arrumou uma professora de português, nascida na Alemanha. Ela ensinava principalmente a minha mãe que tinha mais dificuldades com a língua. Meu pai e seus amigos estiveram com o presidente do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, onde foi exposta a vantagem de se produzir os pistões de alumínio no Brasil, fator que poderia atrair os fabricantes de veículos automotores para o país. Era sete sócios, sendo seis judeus, motivo que deu a origem a piada feita pela esposa de um deles: “- Em vez de Metal Leve deveria ser Metal Levy!”. Logo os fabricantes de automóveis passaram a fabricar motores feitos no Brasil. Atualmente a Metal Leve pertence a uma fundação.

O senhor no Brasil continuou a nutrir sua vocação pela música?

Durante o dia ajudava ao meu pai. Como eu gostava de música a noite ia a concertos, no Teatro Municipal, no Teatro Cultura Artística. Conheci o professor de música Hans Joachim Koellreuter, formado em composição, regencia e flauta, tinha permanecido algum tempo no Rio de Janeiro após vir da Alemanha no período da guerra, a sua esposa era judia. É um professor importante, teve como alunos um grande número de importantes músicos e maestros brasileiros. Após assisti-los em alguns concertos procureio-o e disse-lhe que gostava muito de musica e gostaria de aprender alguma coisa a mais. Eu tinha uma pasta com as composições para piano, algumas para flauta, que havia feito após conhecer os alunos do conservatório de Paris. Ele disse-me que um dos mais compositores famosos da atualidade deveria chegar na próxima semana. Esse compositor, de nome Ernest, pegou as minhas partituras e em meia hora tocou tudo. Disse-me: “-Você tem talento, deve estudar musica!”. Comecei a estudar com Koellreuter, em 1939 junto com outro alemão ele havia fundado no Rio de Janeiro uma escola de artes chamada Pró-Arte, era de artes em geral, artes plasticas, pinturas, Koellreuter criou a parte musical, que chamou de Seminários Livres de Música Pró Arte. Durante a segunda guerra funcionou no Rio de Janeiro, em 1951 surgiu a idéia de fazer uma filial em São Paulo.

Foi lá que o senhor conheceu a sua esposa e passou a residir em Piracicaba?

Hoje parece ser uma grande coincidência eu ter casado com alguém que nasceu em Piracicaba, a 10.000 quilômetros de distância de Stuttgart, foi aluna nessa escola onde nos conhecemos. Creio que isso já estava determinado e mostra que para Deus nada é impossível!







sábado, outubro 30, 2010

NÁDIA BENTO DE LIMA – Estrela do Basquete irá casar-se.

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de outubro de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
                                                                                           Foto by J.U.Nassif
ENTREVISTADA: NÁDIA BENTO DE LIMA – Estrela do Basquete irá casar-se.
Nádia Bento de Lima nasceu em 30 de julho de 1965, é filha de Maria José Florêncio de Lima e Nadir Bento de Lima, são seus irmãos: Edmilson Bento de Lima e Lucéia Bento de Lima ambos militares. Nascida em Osasco, quando tinha dois anos de vida sua família mudou-se para Piracicaba. O Presidente da República Fernando Collor de Mello usou muitas ferramentas de marketing para divulgar a sua imagem de líder dinâmico, semanalmente praticava corridas estampando em suas camisetas frases de efeito como, por exemplo: “O tempo é o senhor da razão” Para valorizar essas aventuras esportivas convidava atletas e artistas que estavam em evidência na mídia nacional para juntarem-se a ele nessas maratonas. Nadia foi uma das poucas pessoas que conseguiu acompanhar todo o percurso do presidente-atleta em seu Cooper. Ela possui três passaportes quase completos com as viagens que fez por muitos países. Ainda menina dormia abraçada com a bola de basquete. Hortência disse ao entrevistador Jô Soares que a Nádia foi a única atleta que conseguiu marcá-la em campo com muito sucesso. É sobrinha do cantador de cururu Moacir Siqueira, ele é irmão do seu pai. Nádia atua no em um grupo educacional, onde transmite toda a disciplina e experiência adquirida por uma atleta que construiu parte da história do basquete feminino brasileiro. Com o casamento marcado para o próximo dia 5 de novembro com Celso Douglas Sozza estará recepcionando mais de 1.000 convidados no Salão de Festas do Lar dos Velhinhos de Piracicaba. Um evento marcante! Nádia é gerente comercial do Grupo Polibrasil, em Piracicaba.

Nádia, sua mãe busca pelas duas irmãs que nunca mais viu desde quando se separaram ainda pequenas?

Minha mãe nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, aos 13 anos ficou órfã de pai e mãe. Ela e duas irmãs foram conduzidas pelo juizado, cada uma foi destinada a guarda de uma família diferente. Hoje minha mãe está com 71 anos, e nunca mais viu suas irmãs.

Quando você passou a interessar-se pela prática de esportes?

Iniciei a minha carreira no esporte aos 11 anos de idade, na época estudava na Escola Estadual Prof° Elias de Mello Ayres em Piracicaba, onde Maria Helena Cardoso era professora de educação física, ela que por muitos anos foi técnica da Seleção Brasileira de Basquete Feminino. Logo que assumiu a nossa classe para lecionar, explicou que nas aulas de ginástica era necessário formar diversas equipes de basquete, vôlei, handebol. Pediu que cada uma das alunas entrasse na fila correspondente ao esporte que gostaria de praticar. Vi as minhas amigas entrarem na fila que ia jogar vôlei, também entrei. No basquete havia poucas pessoas e no handebol não havia ninguém. A Maria Helena, conduzindo pela mão cada aluna ia redistribuindo de tal forma que formassem equipes para cada atividade. Ela me conduziu para a fila do basquete. A partir daquele momento me identifiquei de uma maneira muito especial com o basquete. Assim começou a minha história.

Qual é a sua altura?

Tenho apenas 1,70 metros de altura. Eu era uma das menores na época. A Branca também tem a minha altura As demais eram mais altas, as laterais tinham de 3 a 4 centímetros a mais, outras eram muito mais altas. Hoje que convivo mais fora do meio esportivo percebo que sou alta em relação a altura de muitas mulheres.

Após começar a jogar basquete no Mello Ayres como foi a sua evolução no esporte?

Comecei a me identificar com o esporte, é da minha natureza ao me dedicar em alguma atividade, não consigo realizar apenas 100%, necessito atingir valores acima do desempenho considerado comum, têm que ser de 120%, 130%, valores acima dos considerados normais. Acredito que é exatamente isso, superar os limites, é que torna o diferencial entre o desempenho de um indivíduo para outro. Há elementos que rendem 80% do seu potencial, ou até mesmo chegam aos 100%, mas que não basta para se enquadrar em, por exemplo, atletas que tenham atingido um patamar de excelência. Participei de uma época fantástica do basquete, muitos recordam esse tempo, há uma boa procura pelos jogos que foram gravados naquela época, até mesmo pessoas de outros países me procuram para saber se tenho material daquele período guardado comigo.

Como era o seu treinamento quando você estava no Mello Ayres?

Eu estudava á tarde, na época morava na Rua José Ferraz de Camargo, ia de manhã treinar na quadra da escola, o inicio das aulas era às 13 horas, às 12h30min saia do treino corria até aminha casa, tomava um banho rápido e voltava á escola para assistir as aulas. No intervalo das aulas jogava basquete, após as aulas ia até a quadra brincar com a bola de basquete, ia embora e levava a bola comigo.

O que você via no basquete?

Eu não tinha noção de que um dia poderia jogar na Seleção Brasileira, tinha um amor ao basquete, a ponto de dormir abraçada com a bola. Lembro-me que a Maria Helena no primeiro dia disse: “- Hoje vocês vão jogar basquete!”, sem nós sabermos absolutamente nada das regras do jogo, formou as equipes, colocou duas alunas no meio da quadra para pularem na bola, eu fui uma dessas meninas, quando jogou a bola para cima, ela disse que cada jogadora de posse da bola deveria batê-la para alguém. Eu peguei a bola assim que ela foi jogada para cima, não passei para ninguém, eu era muito rápida, saí “voando”, batendo a bola no solo, correndo, até as meninas chegarem perto, quando então corria no sentido contrário de posse da bola. Um dia a Maria Helena disse-me que foi naquela hora que ela descobriu a minha vocação para o basquete. Um determinado dia ela chamou a minha mãe na escola e disse-lhe que eu era uma menina com um potencial fora do comum, que ela deveria me incentivar.

Seus colegas como a viam?

Como uma pessoa apaixonada pelo basquete! Meio fanática! Nos campeonatos internos me destaquei muito, sempre o meu time era campeão.

E suas notas escolares?
Com 11 anos eu estava na sexta série, da primeira a quarta série fui uma aluna impecável, a melhor aluna da classe. Quando a professora iniciava uma ponta da classe tomando a leitura da cartilha “Caminho Suave” eu ia à outra ponta da classe tomando leitura de outros alunos, anotando quantas palavras os alunos erravam e a professora dava a nota. Da quinta série até a oitava, não deixei de ser boa aluna, mas o meu maior esforço era direcionado ao esporte.
A sua determinação em fazer as obrigações acima dos 100% já se manifestava?
Acho que já era um dom, algo especial que acredito ter dentro de mim, que se manifestava. Além da educação que tive na minha casa, aprendi com a Maria Helena Cardoso que para se tornar um atleta, ser um craque, uma pessoa diferenciada, a primeira coisa que devemos ser é gente, ter uma formação como pessoa. Ela dizia que as notas escolares tinham que estar satisfatórias, para jogar no time dela tinha que ter boas notas. Muitas vezes ela verificava os nossos boletins.

Quando você foi treinar no XV de Novembro?

Era no meu último ano de mirim, eu estudava ainda no Mello Ayres quando recebi um convite para treinar no XV de Piracicaba, era muito nova perto das moças que treinavam no time. Na época o XV não tinha ainda uma equipe de expressão, embora tivesse boas atletas. Certo dia nós fomos jogar contra o time da Hortência, guardo comigo a foto publicada em um jornal com a legenda: “Nádia não se intimidou entre as estrelas”, foi a minha primeira aparição, quando começaram a notar que eu existia.

Qual foi a sua reação inicial diante daquelas estrelas do basquete?

Eu não sabia quem elas eram, já achava a equipe do XV muito boa. Logo após o inicio do jogo a Maria Helena me chamou e disse: “Nadia! Você está vendo aquela moça? É a Hortência! Você vai marcá-la, via marcar entre ela e a camisa dela! Se ela for ao vestiário você vai atrás dela!” Nesse dia a Hortência ficou muito nervosa, porque nunca ninguém tinha a marcado daquele jeito, ela dizia: “-De onde surgiu esse carrapato que está em cima de mim?” Naquele jogo ela fez só três pontos, ela que estava acostumada a marcar em média cinqüenta pontos. A minha maior dificuldade é que até então eu não tinha marcado uma jogadora tão boa como ela, com um preparo físico perfeito, muito inteligente! O basquete é um esporte onde o contato físico é muito forte. A partir desse momento passei a ser conhecida como a única jogadora que conseguia marcar a Hortência. Recentemente ela deu uma entrevista no Jô Soares, perguntaram á ela qual foi a jogadora que conseguiu pará-la. Sua resposta foi: “Por incrível que pareça é uma jogadora brasileira e é a Nádia!”. Passou um tempo e a Paula veio jogar conosco, passou o seu ultimo ano de juvenil aqui em Piracicaba, tanto ela como a Hortência já eram da seleção.

Qual é a sua impressão sobre a Paula?

Ela é um gênio! Não há como descrever a atuação da Paula dentro de uma quadra. Dá-se a impressão de que a sua cabeça é cheia de olhos, não precisava olhar para a pessoa que ia receber o seu passe de bola, olhava para um lado e passava a bola para outro, a sua visão periférica é muito grande, é inteligentíssima, o apelido que lhe foi dado de Magic é de acordo com a sua genialidade.

Sem querer fazer uma comparação e sim uma análise de Hortência e Paula dentro da quadra, como você descreve?

A Paula era praticamente o cérebro da equipe, de uma precisão fora do comum, não tinha a necessidade de treinar muito. Há o atleta que já nasceu com o dom de jogar e irá treinar o necessário para ele, e há outro tipo de atleta, o que supera as deficiências através de treino. Para definir a Paula só mesmo a palavra gênio, com a bola na mão é de uma genialidade de tirar o chapéu. A Hortência era muito efetiva, dizíamos que de cada 10 bolas arremessadas ela acertava 11. Nas finalizações que fazia dificilmente cometia algum erro, quando errava um arremesso ou um lance livre era motivo para espanto. A Hortência treinava muitas finalizações fora do horário do treino de seis a sete horas diárias. Joguei basquete por 21 anos, sendo que na Seleção Brasileira joguei uns 17 anos, parei um pouco antes da Olimpíada de Atlanta.
 Quando você iniciou sua carreira jogando no XV havia alguma compensação financeira?Tínhamos uma ajuda de custo. No comecinho não, a minha mãe comprava meu tênis Topper na Casa Raya, para ser pago em prestações mensais, ás vezes o tênis acabava antes de terminar de pagar as prestações.
Que número você calça?
Sapato eu uso 37, tênis 38. A Hortência também calçava o número 37. Eu pesava 61 quilos.

Como despontou o basquete feminino em Piracicaba?

A Paula e a Branca vieram jogar em Piracicaba, junto com a Maria Helena foi dado o inicio a um trabalho vitorioso. Nessa época ao andar pelo Shopping eu era bem procurada para dar autógrafos. Foi montada uma equipe em Piracicaba cujos resultados começaram a aparecer. Vieram juntar-se a essa equipe Vânia Hernandez, Vânia Teixeira, dizia-se que esse time jogava por música. A Paula e eu jogávamos na posição 1 e 2, revezamos nessas duas posições. A posição 1 é armadora e aposição 2 é a lateral mais baixa. Nesse time eu era conhecida como “Baixinha”, só que era muito rápida, não havia ninguém tão rápida como eu, o meu preparo físico era excelente, diziam que eu era “O Cafu do Basquete”. (Cafu é dono de uma marca que nenhum jogador de Seleção Brasileira conseguiu atingir: chegar a três finais de Mundial. Foi também quem mais entrou em campo com a camisa da Seleção Brasileira: 142 vezes). Nós íamos ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia para fazer os exames realizados pela Seleção Brasileira de Basquete Feminino, algumas vezes quando eu ia fazer o exame de esteira, havia uma bancada de estudantes de medicina que ia assistir. Lembro-me que o médico dizia: “Essa é a única atleta que vence a esteira!”. Quando eu comecei, ia para o treino de bicicleta, varava Piracicaba de ponta a ponta pedalando. No período de férias enganchava uma bola no guidão da bicicleta, ia até a Escola de Agronomia, onde há o ginásio de esportes, passava a bicicleta por cima da tela, pulava e ia jogar bola na quadra. Sozinha. Uma vez o guidão da bicicleta ficou enroscado pelo lado interno da cerca de tela, a pessoa responsável pelas instalações, uma espécie de caseiro, naquele dia brigou muito comigo. Nas férias enquanto meus colegas da escola viajavam e eu permanecia treinando. Gostava muito de treinar. No Clube Regatas muitas vezes jogava com meu irmão e seus amigos, inclusive debaixo de chuva.

A equipe formada em Piracicaba nessa época era a UNIMEP?

Tivemos muitos patrocinadores, a Pirapel, a Tobler, BCN-Unimep. Lembro-me de que jogávamos Chocolates Toblerone para os torcedores. Tínhamos muitos convites para jogarmos em outras equipes, cheguei a ter em um ano sete convites para transferir-me. Eu tinha 23 anos quando recebi um convite para ir jogar em outra equipe, foi em um período em que a Paula estava em Jundiaí, a Hortência em Sorocaba, as duas Vanias em Salto, a Maria Helena me procurou e disse-me que se eu saísse possivelmente o BCN deixaria de ser o patrocinador, e essas jogadoras de categoria de base ficariam sem patrocínio. Disse-me ainda: “-É uma boa hora para você mostrar o seu valor!”. Fomos consideradas aquele ano como a quarta força do basquete feminino. Com o importante trabalho em equipe, que é necessário a todas as atividades do ser humano, fomos disputar a final do campeonato brasileiro, chegaando a final contra a equipe de Sorocaba, onde jogava a Hortência, Branca, jogadoras americanas. Faltando 4 minutos para terminar a partida estávamos perdendo por 11 pontos. A Maria Helena pediu um tempo, e disse-nos que se tivéssemos jogando tudo o que sabíamos, ela estaria contente com o vice-campeonato, completou dizendo: “-Vocês estão jogando 50% do que são capazes, e só estão perdendo por 11 pontos, a partir de agora vamos jogar aquilo que treinamos, vamos fazer o melhor!”. Voltamos á quadra, a bola veio na minha mão, arremessei, acertei, marcando 3 pontos, a diferença caiu para 8 pontos, a equipe animou, viramos o jogo e vencemos. Fomos campões brasileiros! Esse jogo marcou a minha vida, nunca mais me esqueci.

Já sonhou com bola de basquete?

Muitas vezes! Já sonhei com campeonato, olimpíada. O ser humano por mais que seja excepcional está aquém de conhecer o seu próprio limite.

Você é religiosa?

Faz 15 anos que sou da Congregação Cristã no Brasil.

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