sexta-feira, abril 08, 2011

MARLENE ELIAS CHIARINELLI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 09 de abril de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADA: MARLENE ELIAS CHIARINELLI
Marlene Elias Chiarinelli nasceu em Piracicaba no dia 17 de novembro de 1931, filha de Amélia Abrahão Elias e Tuffi Elias, primogênita, sendo seus irmãos: Sally, Cecílio, Gabriel, Elizabeth e Amelinha.
Quando você nasceu o seu pai exercia qual atividade?
Morávamos na Rua Tiradentes entre a Rua Prudente de Moraes e Rua Treze de Maio, meu pai era marceneiro. Meus pais eram brasileiros, sendo que minha mãe era filha de libaneses e meu pai filho de sírios. Na esquina aonde mais tarde veio a ser a lanchonete Daytona e posteriormente o Banco Sudameris, atual Santander, papai montou um bar, o Tuffiniquim, esse nome era o mesmo de um aperitivo criado pelo meu pai e que fez um grande sucesso na época.
Ao mudarem para esse local qual era a sua idade?
De cinco para seis anos, logo passei a estudar e sendo a filha mais velha ajudava nas tarefas domésticas e no estabelecimento comercial da família. Estudei no Colégio Assunção desde o jardim da infância até a minha formatura.
Da sua casa até o colégio qual era a condução que você utilizava?
Ia a pé mesmo! As amigas passavam pela minha casa e nós subíamos pela Rua Boa Morte. Logo cedinho, umas cinco horas da manhã eu já estava em pé, ajudando a minha mãe a fazer sonhos, que eram colocados á venda no bar, havia muitos viajantes hospedados nos hotéis das imediações, antes de embarcarem no trem da Companhia Paulista passavam pelo Tuffiniquim para tomar o café da manhã.
Como era o uniforme escolar do Assunção?
A saia era azul marinho pregueada, a meia do tipo três quartos, blusa branca de manga comprida, sapato preto fechado. Não podia usar anéis, batom, maquiagem. Nessa época passamos por um período de grande luta, dificuldades muito grandes, contudo não foi de sofrimento, os meus pais tinham um grande amor entre eles, era um casal apaixonado, e isso tudo sobrepunha ás dificuldades, era um casal muito unido.
O Bar Tuffiniquim permaneceu por quanto tempo?
Por vários anos, após encerrarmos suas atividades mudamos para a Rua São José, no local onde hoje existe o Poupa Tempo, morávamos em uma casinha muito humilde, foi uma fase muito dura em nossa vida. Papai se estabeleceu ali com frutas, doces finos.
Nessa época como filha mais velha já ajudava no orçamento familiar?
Após estudar piano por nove anos formei-me como professora pelo Conservatório Carlos Gomes de Campinas, viajava pelo trem da Cia. Paulista. Lecionando piano eu sustentei meus estudos e ajudei na composição do orçamento familiar. Essa atração pela música faz parte da nossa família, papai tocava violino, integrava a Turma da Seresta, tocou com grandes músicos de Piracicaba como Olenio Veiga, eu tenho dois filhos músicos. É interessante observar que com todas as lutas, dificuldades, meus pais não exibiam sofrimento pela situação. Minha mãe era uma pessoa muito alegre, mesmo tendo um único vestidinho para usar ela estava sempre bonitinha, arrumadinha. Ela era muito bonita. Meus pais realmente se amavam.
Onde foi a próxima residência da família?
Em uma casa que existia na Rua São José, 681 era um casarão velho cujo inquilino anterior tinha sido a Casa da Lavoura e onde mais tarde foi construído o prédio que atualmente abriga a Procuradoria Federal. Nessa ocasião eu tinha por volta de quarenta alunos de piano, com muita dificuldade tínhamos adquirido um piano modelo armário da marca Bechstein, eu ainda dava aulas particulares de latim e francês.
Ali foi o inicio de novas atividades comerciais de Tuffi Elias?
Em uma das salas ele passou a vender máquinas da marca Olivetti em outra sala eu lecionava piano.
Como você conheceu o seu futuro marido?
Roggero Chiarinelli trabalhava na Rádio Difusora de Piracicaba, sendo inclusive locutor esportivo. Naquele tempo a valsa era um dos ritmos mais tocados, eu tinha composto a valsa “Carol” em memória de uma irmã que tinha sido vitimada por um acidente, isso quando ainda morávamos na casa na Rua São José em frente ao Cine Broadway, ao lado existia o Hotel Lago onde ficou hospedado por um bom tempo o Maestro Lameira que estava apresentando uma peça no Teatro Santo Estevão. Ele ouviu a minha musica, gostou muito. A minha mãe tinha um compadre, Carlos Brasiliense, que compunha, fazia arranjos, ele ouviu a minha música e fez um arranjo. Conheci o meu futuro marido no Teatro Santo Estevão na apresentação da minha valsa pelo Maestro Lamera. Três vezes por semana eu participava de uma apresentação ao vivo no auditório da Rádio Difusora, em beneficio do Tuberculoso Pobre. Naquela época não existia televisão, eu me apresentava com Alcides Righetto que tinha uma voz linda, com Alcides Zagatto ao violino, o programa era das sete ás sete e meia da noite, apresentado pelo Roggero. O Roggero formou-se dentista, exerceu por sete anos a profissão, até que associou ao meu pai no comércio de máquinas, mais tarde ele foi proprietário da Comercial Chiarinelli, voltada para o comércio de máquinas e equipamentos de escritório.
Onde foi celebrado seu casamento?
Após namorarmos por sete anos nosso casamento foi realizado na Catedral de Santo Antonio, á 10 de abril de 1955. A lua de mel foi no Rio de Janeiro, fomos até São Paulo de automóvel de lá para o Rio fomos de avião. Ficamos hospedados em Copacabana, em São Paulo ficamos hospedados no Ibiá Hotel na Avenida São João, a nossa viagem durou vinte dias. O Roggero já tinha se formado em odontologia pela faculdade de Uberaba, e montado o consultório que ficava na Rua São José logo abaixo da Rua Governador. Tivemos cinco filhos: Maria Cristina, Maria Silvia, Maria Regina, Roggero e Renato.
Quando começou a sua atividade com o Clube da Lady?
Há 50 anos! Ou mais! Comecei contra a vontade do Roggero, já tínhamos os cinco filhos. O Clube da Lady já existia, a Dona Maria Figueiredo, proprietária da Rádio Difusora tinha muita amizade com uma senhora de São Paulo chamada Aydee Guimarães que tinha introduzido o Clube da Lady naquela cidade. Ela desejava que em Piracicaba também fosse criado o Clube da Lady, que ficou nas mãos de Dona Otilia Furlan. Algumas senhoras se reuniam, era um grupo muito seleto. Sob a direção da Dona Alzira Maluf houve a participação de um maior numero de mulheres, passando a ser feito uma espécie de chá com as integrantes desse grupo. Zelinda Jardim presidiu por dois anos o Clube da Lady. A Ladice Salgot administrou o Club da Lady por um período de seis meses, quando seu marido Francisco Salgot Castilllon teve seu mandato político cassado pelo governo da época. Eu freqüentava o Clube da Lady, participando com sugestões e idéias, mas fui pega de surpresa quando ao ir a uma das reuniões, realizada no Teatro São José, vi escrito: “Presidente Marlene Chiarinelli”. As minhas amigas conversaram com o Roggero na perspectiva de fazer com ele aceitasse a minha atuação como presidente do Clube da Lady. Houve concordância, eu comandaria, mas de dentro da minha casa, com isso até hoje a sede do Clube da Lady é na minha casa.
O que é o Clube da Lady?
É uma entidade muito séria, está na cidade a aproximadamente 53 anos, nós atendemos a comunidade carente de Piracicaba, sem vínculos políticos ou religiosos. Realizamos promoções e distribuímos á entidades que se responsabilizam em assistir aos necessitados. Organizamos eventos mensais que ocorrem no Teatro São Jose, ali se reúnem cerca de 300 mulheres quando então arrecadamos fundos que serão repassados á 22 entidades assistenciais. Temos umas 500 senhoras de Piracicaba que são as beneméritas. O Clube da Lady é a mulher de Piracicaba, constituído de forma legal, obedecendo a todas as regras que ditam a conduta fiscal de entidades congêneres, assistido por um escritório contábil.
Nessas reuniões mensais do Clube da Lady o que acontece?
Nessas reuniões entre outra atividades temos o melhor buffet da cidade, realizamos um bingo onde as prendas arrecadadas são sorteadas.
Qual é a faixa etária das pessoas participantes?
Já tivemos um período onde a faixa etária era alta. Atualmente temos jovens que participam dos nossos eventos, assim como pessoas das mais diversas classes sociais.
Qualquer pessoa interessada pode participar?
Basta adquirir o ingresso para os chás que promovemos na ultima quarta feira de cada mês a partir das duas horas da tarde.
É permitida a participação masculina no evento do Clube da Lady?
Atualmente é permitida a participação de lordes também! Muitas senhoras levam seus maridos, assim como jovens casais de namorados. Essa participação de pessoas mais jovens é muito importante. O Clube da Lady tem como grande patrimônio a confiabilidade adquirida junto a nossa cidade. Uma entidade que permanece funcionando por mais de cinco décadas adquire uma respeitabilidade notável. A historia do Clube da Lady é muito rica, já ganhamos muitos atestados de reconhecimento, até pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo. Trouxemos artistas de projeção nacional para se apresentarem em nossos eventos: Sérgio Reis, Dick Farney, Elizeth Cardoso, Altemar Dutra, Antonio Marcos, Roberto Carlos que veio por três vezes, gratuitamente, quando fizemos bailes denominados “A Noite do Rei”, fui muito amiga da Nice sua esposa já falecida. Roberto Carlos tinha um rancho na beira do Rio Piracicaba, quando estavam em Piracicaba passavam pela minha casa com suas crianças. Até a Dercy Gonçalves participou de um dos nossos chás. Em determinada época a Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba estava em uma situação financeira muito penosa, precisamos nos mobilizar para socorrê-la. Realizamos um jantar de gala no Grande Hotel de Águas de São Pedro.
O Clube da Lady movimenta o lado feminino das forças vivas de Piracicaba?
Já movimentamos muito, atualmente muitas representantes das forças vivas podem até não freqüentar os nossos chás, mas colaboram muito conosco. Não temos subvenção de nenhum órgão oficial. Não temos vinculo com nenhuma entidade religiosa ou política, temos sim a nossa postura de exercer os nossos direitos de cidadãs. O Clube da Lady é apolítico, mas eu sou uma cidadã.
O Clube da Lady acompanha de perto o trabalho das entidades beneficiadas por ele?
Destinamos recursos para 22 entidades assistenciais de Piracicaba, acompanhamos o desenvolvimento das atuações de cada uma delas, as assistentes sociais nos fornecem os subsídios necessários, acompanhamos o trabalho de cada entidade com muita atenção. Um dos trabalhos mais recentes que conta com o envolvimento do Clube da Lady é o Restaurante Fome Um, que passou por um processo de reestruturação e hoje desenvolve um trabalho muito importante É voltado para assistir aos andarilhos, eles encaminham-se para lá, tomam um banho, recebem novas roupas e almoçam. Esse trabalho visa restaurar a dignidade da pessoa que vagueia pelas ruas.
Bons samaritanos dotados da maior boa vontade, adotam ações isoladas junto á pessoas carentes, como a distribuição de alimentação em logradouros públicos isso pode acarretar mais prejuízo do que benefício?
Alimentamo-nos diariamente, o fato de distribuir uma sopa uma vez por semana não irá atender plenamente a pessoa necessitada. Da mesma forma que ao oferecer um jantar especial na véspera de Natal, é uma ação isolada de impacto pouco representativo no apoio efetivo ao individuo. É necessária uma ação planejada, dentro de um contexto, com uma abordagem feita sob a supervisão de pessoas especializadas. Ao centralizarmos nossos esforços no apoio ao Restaurante Fome Um foi em decorrência do nosso acompanhamento já por mais de cinco anos dessa iniciativa. Acompanhamos passo a passo a trajetória desse trabalho assistencial, no momento apropriado demos o apoio necessário. O resultado tem sido muito gratificante, diariamente são atendidas de 160 a 200 pessoas. Andarilhos que passaram a se alimentar lá estão com outra aparência, um dos que conheço de ver pelas ruas da nossa cidade, é um senhor idoso, que se mostra recuperado fisicamente, simplesmente pelo fato de ter pelo menos uma boa alimentação diária. Às vezes ao encontrá-lo questiono se ele tem ido se alimentar no restaurante Fome Um, ele responde que vai todos os dias. São pessoas que não tem nenhuma perspectiva futura, a não ser esperar pela morte, por isso permanecem jogados nas sarjetas. É só dar um pouco de dignidade á essa pessoa, ela poder sentar á mesa para comer com roupinha limpa.
Isso não é uma obrigação do Estado?
Como o Estado não faz, nós fazemos. Pelo menos com a nossa parte nós contribuímos.
Quais são os propósito das senhoras que participam do Clube da Lady?
A credibilidade que adquirimos no decorrer dessas décadas todas é um fator que atrai as pessoas munidas de bons propósitos. Há o aspecto da interação social durante as realizações dos nossos eventos, outro fator é o desejo de realizar sua colaboração social.
Para quem não conhece as atividades desenvolvidas pelo Clube da Lady ao deparar com esse nome pode cair na tentação de imaginar que se trata de uma entidade de madames?
Se existia essa imagem ela foi extinta. Tive muito trabalho para conscientizar quem nos conhecia de que se o Clube da Lady carrega esse nome é pelo fato de ter sido assim denominado em sua origem, nos Estados Unidos, onde se deu o inicio dessa entidade.
A imprensa de Piracicaba apóia o Clube da Lady?
Ajudam-nos muito, temos o apoio das rádios e jornais de Piracicaba.
Como é a sua relação com informática?
Eu gosto muito, participo do facebook, sou “orkuteira” e “twiteira”! Senti a necessidade de me integrar ás novas tecnologias a partir do momento em que nas reuniões de fim de semana da minha família composta por 15 a 20 pessoas, muitas vezes a conversa girava em tornos desses meios de comunicação digital. Percebi que se não me inteirasse a respeito estaria ficando a margem do assunto em pauta. Senti que poderia ficar analfabeta digital. Já faz um cinco ou seis anos que tenho uma professora particular de informática que está sempre me inteirando das novidades tecnológicas. Coloquei várias musicas no Youtube. Não uso e nem gosto dos sites de bate papo No inicio eu achava que teria muitas dificuldades com a internet, principalmente pela minha idade, sempre digo que o meu passado é grande, mas meu futuro é curto. Hoje qualquer duvida que eu tenha recorro à internet. O Google é o meu santo salvador!






domingo, abril 03, 2011

Uma dedicação de mais de 50 anos.


Em 1957 o presidente do Lar dos Velhinhos era o Comendador Luciano Guidotti, foi nessa época que o funcionário do Acordo Florestal do Estado de São Paulo, vinculado ao Ministério da Agricultura Dr. Jairo Ribeiro de Mattos passou a conhecer melhor o Lar dos Velhinhos. Com o objetivo de colaborar com a entidade o engenheiro agrônomo propôs que se fizesse um posto de produção de mudas na beira do rio, nas dependências do Lar dos Velhinhos. Vendo na iniciativa uma fonte de renda a mais para o Lar dos Velhinhos, sem que implicasse em investimentos o hábil administrador Luciano Guidotti aprovou a idéia de imediato. Essa iniciativa proporcionou que jovens e crianças aprendessem a formar mudas,  com a participação dos idosos nos canteiros das mesmas, comercializadas elas renderam bons lucros ao caixa da instituição, algumas teses defendidas na ESALQ foram alicerçadas em trabalhos desenvolvidos com essas mudas, como testemunha dessa época restou um gigantesco eucalipto na área próxima á Avenida Centenário. Jairo Mattos sempre teve a proteção e simpatia de pessoas idosas, como o velho João Batista Germano que fora proprietário de uma casa de artigos para pintura e deu ao jovem Jairo algumas aquarelas para que o mesmo as utilizasse, estimulando as habilidades potenciais do futuro artista plástico. No inicio de 1971 Jairo Mattos foi convidado por Aristides Giusti a ser presidente do Lar dos Velhinhos. Tendo como vice-presidente Jorge Cesar Vargas e a participação entre outros dos diretores Waldir Martins Ferreira, Humberto de Campos, Orlando Veneziano, Ciro Otávio Gatti de Toledo, Alfredo de Castro Neves, Valencio Clefes, Rui Azevedo, Alcides Boscariol. Na época no Lar dos Velhinhos havia três pavilhões: Pedro Alexandrino de Almeida, Antonio Correia Ferraz e Luciano Guidotti, um barracão construído por iniciativa do Lions Club, além de algumas pequenas construções precárias, totalizando menos de três mil quadrados de construção, abrigando pouco mais de 100 pessoas. Atualmente residem no Lar dos Velhinhos aproximadamente 500 habitantes que têm 185 funcionários capacitados para atendê-los. Em 1972 foi criada uma nova forma de viver no Lar dos Velhinhos, os chalés, atingindo um público que até então não tinha essa inovadora opção. Idealizado por Jairo Ribeiro de Mattos e construído com seus recursos pessoais, o chalé número 1 mudou o conceito de vida em um lar voltado aos idosos. O conceito básico é de quem habita os chalés proporcionar renda á instituição para subsidiar os abrigados nos pavilhões, cujos recursos pessoais nem sempre atendem suas necessidades básicas de saúde, higiene e alimentação. (Pela Constituição Federal uma obrigação do Estado). Hoje existem 250 chalés e 18 pavilhões, sendo 13 deles construídos na gestão Jairo Mattos. Muitas obras realizadas dentro do Lar dos Velhinhos proporcionam uma qualidade de vida acima das existentes em entidades congêneres, inclusive as reputadas como de alto padrão. O Lar tem até uma Colônia de Férias em Praia Grande com 12 apartamentos e seis casinhas. Atualmente Jairo Mattos dedica muitas horas do seu dia ao Lar dos Velhinhos, dinâmico, de personalidade marcante, impõe seu ritmo de trabalho, líder nato, arrasta voluntários dedicados, de forma democrática recebe as criticas naturais á quem administra uma verdadeira cidade: a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil. O Lar dos Velhinhos de Piracicaba já recebeu delegações de outros países interessados no modelo criado em Piracicaba, de uma dessas visitas resultou em uma instituição similar implantada no Japão. Jairo Ribeiro de Mattos mostra claramente que instituições filantrópicas que não forem dinâmicas estão fadadas a encerrar suas atividades. O amor de Jairo Ribeiro de Mattos pelo Lar dos Velhinhos é uma relação que perdura por mais de 50 anos.


sábado, abril 02, 2011

Erich Vallim Vicente - Banda MCC (Mazzaropi Contra o Crime)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 02 de abril de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: Erich Vallim Vicente - Banda MCC (Mazzaropi Contra o Crime)
A banda “Mazzaropi Contra o Crime”, também identificada pelas iniciais “MCC”, é uma banda de rock formada em Piracicaba. Seus integrantes são Erich Vallim Vicente (Baixista e Vocalista), Evaldo Augusto Vicente Filho (Guitarrista e Vocalista) e Giuliano da Costa Maestro (Baterista e Vocalista). Ela surgiu em agosto de 1998, os amigos Evaldo (guitarra) e Rafael (bateria) eram integrantes de um grupo que tinha encerrado suas atividades musicais, determinados a continuar a dedicar-se a musica, convidaram Erich, irmão do Evado, para assumir o baixo, nascendo o trio que executou em 8 de agosto de 1998 o primeiro show com a denominação “Mazzaropi Contra o Crime”, ou simplesmente MCC. A apresentação foi no Fest Einstein realizado no Liceu Albert Einstein. No ano 2000 Giuliano da Costa Maestro (Baterista e Vocalista) integrou-se ao grupo que gravou no mês de janeiro do mesmo ano a primeira demo ( CD de apresentação) denominada de “O Jornaleiro”, com seis musicas gravadas. Essa iniciativa alavancou alguns shows onde o grupo se apresentou principalmente em Piracicaba. O grupo encerrou suas apresentações no ano 2000 com um show na Universidade de São Paulo – USP realizado na cidade de São Paulo. Em 2001 a banda gravou seu segundo CD com o título “Deu Branco” colocado a venda a partir do evento realizado no The Garage. Logo a seguir Rafael deixa o grupo, que passou a ser o trio que perdura até hoje. Em 2004 a perfeita integração do grupo proporcionou o lançamento do álbum musical do MCC. A evolução musical da banda juntamente com composições próprias produziu um rock com identidade própria, refletindo as idéias e propostas dos integrantes do grupo. Em 2007 graças a atuação do produtor musical paulistano João Lima com quem juntos delineiam a profissionalização definitiva do grupo, novos rumos foram dados ao trabalho Sem ser exclusivista, a banda executa composições que extasiam os entusiastas do rock, obras de nomes consagrados como Ramones, Bob Marley, Raul Seixas, The Beatles, Jimmy Cliff, Elvis Presley, Johnny Cash, Ozzy Osbourne e uma vasta galeria de outros artistas ou bandas com os quais o grupo se identifica. Essa diversidade de estilos e ritmos imprime um clima contagiante nos shows da banda, oferecendo ao público um ambiente interativo com rock da melhor qualidade.
O jornalista Erich Vallim Vicente nasceu em 6 de junho de 1981, é o filho mais novo do casal de jornalistas Evaldo Augusto Vicente e Astir Vallim Vicente. O casal tem outros dois filhos. Evaldo Augusto Vicente Filho nascido em 27 de abril 1979 e Erika Valim Vicente Maestro nascida em 12 de janeiro de 1978.
Erich como surgiu à inspiração para formar uma banda?
Minha mãe é entusiasta de música, a minha irmã Érica dedicou-se á música clássica, por 11 anos estudou piano. Sua dedicação aos estudos musicais despertou o interesse do meu irmão em tocar guitarra, em especial o rock. Acredito que foi até por sempre me identificar com as iniciativas de ambos passei a tocar contrabaixo, voltado ao rock. Considero que tanto a minha irmã como meu irmão tem um ouvido musical muito superior ao meu.
Seu irmão Evaldo despertou o seu interesse para o rock e jazz?
Desde a minha infância já alimentava o interesse pelas atividades musicais do Evaldo, que juntamente com seus amigos tinham montado a banda “Jeeps in Kombi”, com a qual fizeram alguns shows. Os ensaios eram feitos em casa, eu acompanhava tudo aquilo com muita curiosidade e atenção, pelo fato de ser ainda um menino não havia a menor possibilidade de participar efetivamente do grupo. Passei a estudar no Studio Musical Alexandre Bortoletto (SMAB) com o professor Marcos, o Manguinha, tive aulas de música e contrabaixo, para aprender as técnicas de como cantar, os recursos de respiração, tive aulas com o professor Antonio do mesmo instituto.
Por que escolheu o contrabaixo como instrumento?
Gosto muito de uma banda de rock chamada Rancid, digo que é a minha “banda de cabeceira”, produzem bons discos, boas musicas. Ao contrário de outras bandas de rock punk o baixista do Rancid é um excelente músico. Admiro o seu desempenho musical, isso me estimulou a estudar baixo. Para mim foi uma referência musical.
Onde eram os ensaios da banda?
A primeira banda, onde o meu irmão tocava a, “Jeeps in Kombi” realizava os ensaios em um quartinho no fundo da nossa casa, nessa época havia cinco integrantes. Morávamos na Rua Dr. Alvim esquina coma a Padre Galvão, na divisa entre os bairros Jardim Europa e São Dimas. Nosso vizinho era o senhor Alexandre Alves, ex-vice-prefeito de Piracicaba, ex-secretário de governo, pai de quatro filhos com idades próximas as nossas: Pedro, Ivan, Vitor e Ana, que muitas vezes iam assistir os nossos ensaios, com isso nunca tivemos problemas, mesmo considerando que tocávamos sem isolamento acústico! Tivemos ótimos vizinhos! Os ensaios eram realizados aos sábados e domingos á tarde.
A partir de que período você passou a tocar na banda?
Meu irmão montou uma banda que teve um breve período de existência, ao que consta nem chegaram a dar nome á mesma, dessa iniciativa permaneceu o Rafael (Rafão) Rosolen, para poderem tocar faltava um baixista, era a minha oportunidade, que a principio não foi vista com muita simpatia! Isso foi em 1995, a partir dessa época passamos a tocar formando o grupo que por uma breve etapa chamou-se “De Sarto Arto” e que mais tarde se tornaria a banda MCC - Mazzaropi Contra o Crime,. Ensaiávamos bastante, todos os finais de semana. Tive que me desdobrar para poder acompanhar o Evaldo e o Rafão.
Quem criava esses nomes de bandas?
O Rafão foi quem criou os nomes “De Sarto Arto” e “Mazzaropi Contra o Crime”. São dele essas idéias criativas! (Risos). Em 8 de agosto de 1998 fomos tocar no Fest Einstein, ao chamarem a nossa banda fui surpreendido pelo nome que o Rafão tinha colocado para fazer a inscrição no festival: “Mazzaropi Contra o Crime”.
Que musicas foram gravadas no primeiro CD Demo do grupo?
A nossa demo foi gravada em 2000 no Estúdio Apache com o Celso Rocha, era denominada “O Jornaleiro” consistia em seis musicas de nossa autoria: “Pamonhas de Piracicaba”; “Bem-Te-Vi”; “Tifo – Um Herói Piracicabano”; “Capitães do Piracicaba”; “Terra Natal”. Tínhamos como principio trabalhar com temas referentes a Piracicaba, é um disco regionalista. O nome Mazzaropi acabou por nortear o nosso trabalho de tal forma que uniu o rock que ouvíamos desde garotos com aspectos locais da cidade de Piracicaba, como a música caipira, o peixe na barranca do Rio Piracicaba, pamonha, tudo enfim que é característico da nossa terra. É interessante analisar que o rock é uma musica com fortes vertentes nos Estados Unidos e Inglaterra, e Mazzaropi é quase um sinônimo de aspectos rurais brasileiro. Uma união quase impensável! Estamos tentando somar as diferentes culturas e criar algo em torno desse resultado. Observamos as diferentes posições ocupadas pelos tradicionalistas, progressistas, provincianos, cosmopolitas, antiquados, futurólogos. Vejo que a questão cultural envolve a soma do passado remoto, assim como do recente. Como individuo sou fruto do rock que sempre gostei, ao mesmo tempo sou produto dos aspectos rurais vivenciados pelos meus avós paterno, e mais cosmopolita influenciado pelos meus avós materno residentes em São Paulo. Sofremos influencias do meio que freqüentamos, desde os laços familiares como os locais que freqüentamos. Gosto muito de passear pela Rua do Porto, pela Praça José Bonifácio, o piracicabano valoriza muito as coisas de Piracicaba, o XV de Novembro é um desses exemplos, embora esteja há muito tempo longe da elite do futebol nacional o piracicabano o valoriza e orgulha-se dele. Em minha opinião não se resgata cultura e sim é algo para ser somado, somam-se culturas. O que seria do Ocidente se não existisse a democracia grega e o direito romano? São duas culturas que se somaram.
O segundo disco da banda saiu quando?
Essa pode ser considerada a nossa estréia, isso foi em 2001. Não é uma gravação que eu possa dizer que gosto, penso ser um trabalho muito pasteurizado, não consigo ver uma identidade nesse trabalho que se chama “Deu Branco”. É um CD com 12 músicas. A composição da banda era Erich no baixo e vocal, Juliano na guitarra e vocal, Juliano na guitarra e vocal e Rafael, o Rafão, na bateria. Em 2001 em função dos estudos e trabalho o Rafão deixou a banda, voltamos a sermos três integrantes, com o Juliano na bateria e vocal. Desde essa época permanecemos com a mesma formação. O Rafão casou, é pai de uma menina e mora nos Estados Unidos.
Em Piracicaba a banda se apresenta onde?
Onde somos convidados a tocar, como no Clube Treze de Maio, no Engenho Central, bares mais tradicionais como Garage, no extinto Taberna, The Cave, em chácaras da região, no festival Pirastock, Chaplin, em cidades como Águas de São Pedro, São Pedro, Limeira, Americana, Santa Bárbara, Nova Odessa, São Paulo, Sorocaba, Votorantin.
O cachê é bom?
Apenas do ano passado para cá é que passamos a receber algum cachê! O que nos move é a vontade de tocar, o amor á musica. Entre nós dizemos em tom de brincadeira que somos muito egocêntricos, pagamos para tocar! É o cumulo do egocentrismo!
No momento em que você está executando uma musica há a sensação de sair da realidade?
Posso afirmar que entro em outra realidade, gosto muito de criar, de ver uma letra sendo cantada, há várias formas de um ser humano criar, a musica é uma delas. A música faz parte do meu cotidiano, gosto do rock, assim como de jazz, samba.
O terceiro disco da banda surgiu quando?
Em 2004 surgiu o CD que leva como título o nome da banda, Mazzaropi Contra o Crime. Considero um período muito especial, uma re-fundação da banda, esse disco eu gosto muito. Conseguimos nesse trabalho juntar toda a idéia do regionalismo com uma apresentação universal, ver a identidade das coisas da nossa cidade com situações nas mais diferentes localidades. A música “Mardita Cachaça” tem uma pegada de rock com vocais do cururu que fazemos dentro do rock, já chamaram essa musica de “rock caipira”, “punk roça” eu continuo dizendo que é rock. Esse disco foi gravado e mixado no Estúdio Spalla em Piracicaba por Renato Napty e Roggero Chiarinelli. Desde 2009 estamos com outro trabalho, com um repertório mais amplo.
Quem é o compositor da banda?
Nós três compomos, talvez pelo fato de estar diretamente ligado a redação de jornal acabo de uma forma natural encontrando um volume maior de noticias e informações, proporcionando matéria prima para compor. Ainda criança eu não sabia tocar nem cantar, acabava escrevendo poesia. Sempre gostei muito de escrever.
Quais são os próximos projetos da banda?
Neste ano pretendemos gravar um clip, estamos literalmente trabalhando para isso, juntando recursos financeiros. Possivelmente o clip será com a música “Mardita Cachaça”. Essa musica é de 2001, aborda uma terceira via entre o socialismo cubano que tem entre seus ícones o charuto, e o capitalismo americano, é a “Mardita Cachaça”! Em nosso repertório há uma música com o título “Tudo Que Tem Por Aqui Vale Menos Do Que Um Dólar”, composta em 1999, foi inspirada na valorização do real, em janeiro de 1999.
As mensagens transmitidas nas letras das músicas sensibilizam quem escuta ou funciona mais como um desabafo de quem as compõem e executa?
Pode até ser um desabafo, não são veiculadas com a pretensão de formar nenhuma opinião em quem as escuta. Há muitas mensagens que foram transmitidas em músicas com letras melhores do que as que eu fiz. Acho que a musica faz com que a pessoa sinta a sua realidade de uma forma mais profunda.
No fundo ao compor você estuda uma realidade sua?
Em minha opinião, não falo pela banda e sim por mim, quando vejo alguém buscando uma religião é porque ele descobriu que é insuficiente para ele o que encontra no mundo material, ocorre a busca do entendimento de uma nova existência após a morte, isso transforma a realidade em uma forma mais clara, abre novas perspectivas diante da realidade imediata. Não quero entrar em nenhuma avaliação ou comparação de fé religiosa. Quem escreve sobre algo está indo a fundo na sua própria realidade.
A música traduz sentimentos que não são expressos por palavras?
A música tornou-se uma grande aliada da palavra. Através da música podemos deixar o sentido da palavra mais forte, uma função bem interessante da musica é realçar o sentimento da palavra, pela forma como é cantada. A palavra ao ser cantada toma uma nova dimensão. É triste ver pessoas que não se importam com o sentido das letras que estão cantando, importam-se apenas com o ritmo da musica, da balada.
Somos um país que escuta muitas letras de músicas em inglês sendo o nosso idioma o português.
Falo por mim, já faz alguns anos que estudo e continuo estudando inglês para poder saber o que significam as letras das músicas que escuto. A relação entre a palavra e a sua expressão através da musica ocorre de forma idêntica a que ocorre na nossa língua. A sonoridade da língua inglesa é diferente da portuguesa.
A música composta para ser cantada em inglês contempla a pronúncia própria do idioma?
Eu não gosto de música que passa pelo processo de tradução. Já ouvi versões terríveis em inglês da música Garota de Ipanema. Estava escutando uma banda chamada “No Te Va Gustar” que canta rock em espanhol, nota-se claramente a influência na sonoridade das características próprias de cada idioma. Isso é perceptível no rock em italiano, francês ou alemão. O próprio rock em inglês o britânico é diferente do americano, por conta do sotaque de cada povo, isso ocorre com as bandas canônicas de cada país de língua inglesa.
Mazzaropi Contra o Crime aceita convites para animar qualquer ocasião festiva?
A pessoa interessada pode entrar no nosso site www.wix.com/mazzaropi/mcc, escolher o repertório e agendar a apresentação!

quinta-feira, março 31, 2011

Faleceu o professor Guido Ranzani



HOMENAGEM AO CATEDRÁTICO GUIDO RANZANI (1915-2011)
Faleceu ontem, 29 de março, no final da tarde, o professor Guido Ranzani, de 96 anos, formado pela ESALQ, em 1941. Seu corpo está sendo velado no Salão Nobre Professor Helly de Campos Melges, da Câmara de Vereadores de Piracicaba, e será sepultado neste 30 de março, às 16h00, no Cemitério da Saudade.
Em dezembro de 2006, em entrevista ao ESALQ notícias, informativo trimestral elaborado pela Assessoria de Comunicação (ACOM), Guido Ranzani relembrava seus áureos tempos de estudante, depois de docente da Escola e do seu envolvimento com a prática esportiva.
A entrevista na íntegra
“O agrônomo empobrece sorrindo...
...porque é uma profissão dura, mas ela reserva oportunidades que eu não vejo em outras áreas profissionais”. Dessa forma é que o catedrático da ESALQ, Guido Ranzani, faz um balanço de seus muitos anos de trabalho. Ele acredita que todos os profissionais devem, pelo menos uma vez, visitar um outro país para ter um termo de comparação. “Eu fiz isso na minha vida e os meus colegas costumam dizer que eu conheço o Brasil andando”.
Nascido em 1915, Ranzani é natural de Serra Azul (SP), mas foi criado em Santa Rosa do Viterbo (SP), de onde saiu para tentar uma vaga na Politécnica (USP). Não conseguindo, voltou à sua terra, trabalhou na serraria do pai até que um parente sugerisse que ele fizesse o curso de Engenharia Agronômica em Piracicaba. “Eu vim e quem me recebeu foi o professor José de Mello Moraes, diretor da instituição na época. Fiz o coleginho em dois anos e entrei na Agronomia, em 1938”.
Formado em 1941, recorda-se com entusiasmo da época de faculdade. “Minha turma tinha verdadeira adoração pela Escola. Havia realmente motivo para ter muito orgulho, não apenas pela qualidade de professores que nós tínhamos, mas porque possuíamos os melhores atletas disputando campeonatos de vôlei, futebol, remo e outros. Ganhamos uma partida de futebol do XV de Novembro de Piracicaba e fomos carregados até a Praça José Bonifácio”.
Walter Radamés Accorsi, Nicolau Athanassof, Toledo Pizza, Friedrich Gustav Brieger, Mello Moraes foram alguns dos professores de sua turma. Foi a época em que se iniciaram os estudos sobre Genética. “O professor Toledo Pizza dava a entender que o gen não existia, ao passo que Brieger confirmava sua existência e nós, estudantes, colocávamos um contra o outro, mas eles nunca entraram na briga”, relembra o professor.
Santa Rosa, como era seu apelido, iniciou suas atividades profissionais na ESALQ como segundo assistente da Cadeira de Química Agrícola, em 1944. Dois meses depois já era o primeiro assistente da mesma cadeira. Foi substituto do professor Tufi Coury, como assistente de Química Agrícola, em 1956 e, no mesmo ano obteve o título de livre docência em Agricultura Geral. No ano seguinte, tornou-se professor catedrático da 13ª Cadeira de Agricultura Geral.
Ainda na Escola, foi responsável pela criação e direção do Centro de Estudos de Solos da ESALQ (1965 a 1973). Os modelos para análise dos solos foram trazidos por ele, dos E.U.A. . Esse centro tornou-se, então, sede do projeto para caracterização dos solos dos países sul-americanos. Colômbia, Equador, Peru, Chile, Bolívia e Paraguai foram percorridos por uma equipe de pesquisadores para que os estudos pudessem ser desenvolvidos.
Aposentou-se em 1977, mas não parou por aí. No período de 1981 a 2002, foi chefe do departamento de Ciências Agronômicas do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA). Foi assessor do Instituto Interamericano de Ciências Agrárias (IICA). Na Embrapa foi consultor, além de chefe do Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados. Na Universidade do Tocantins foi professor visitante e consultor da Fundação daquela universidade.
Aos 91 anos, o professor que já viajou por este mundão afora participando de congressos, seminários, cursos e realizando pesquisas, continua sorrindo com a profissão. Ele está elaborando um projeto, juntamente com outros três profissionais, para acabar com a devastação da Floresta Amazônica. O projeto gira em torno da criação de núcleos produtivos, os quais extrairão de terras férteis mudas destinadas a cosméticos ou fármacos para serem replantadas em áreas devastadas.
O incansável Guido nos deixa uma lição: quem souber classificar um solo, saberá conservá-lo. É preciso conhecer a história, saber qual a rocha que deu origem a este solo e que tipos de transformações foram observadas nessa passagem. “Quando iniciei minha carreira, a análise era feita‘de ouvido’ ”, finaliza risonho... (Alicia Nascimento Aguiar / MTb 32531 / 06.12.06)



sexta-feira, março 25, 2011

O possível neto de Getúlio Vargas

                      Moisés José Maria da Silva o possível neto piracicabano de Getúlio Vargas
Moisés José Maria da Silva é um neto piracicabano de Getúlio Vargas? Depoimento de Gustavo Augusto da Silva.
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882 na cidade de São Borja, Rio Grande do Sul, foi o presidente que mais tempo governou o Brasil, durante dois mandatos: o primeiro de 1930 a 1945 (Entre 1937 e 1945 instalou a fase de ditadura, o chamado Estado Novo), o segundo mandato foi de 1951 a 1954. Suicidou-se em meio à crise política, com um tiro no peito, na madrugada de 24 de agosto de 1954, dentro do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Criou a Justiça do Trabalho em 1939 instituiu o salário mínimo, a Consolidação das Leis do Trabalho, também conhecida por CLT. Os direitos trabalhistas são frutos de seu governo: carteira profissional, semana de trabalho de 48 horas e as férias remuneradas. Investiu muito na área de infra-estrutura, criando a Companhia Siderúrgica Nacional em 1940, a Vale do Rio Doce em 1942, e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco em 1945. Em 1938, criou o IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sob seu governo foi promulgada a Constituição de 1934, fechou o Congresso Nacional em 1937, instalou o Estado Novo e passou a governar com poderes ditatoriais. Sua forma de governo foi centralizadora e controladora. Criou o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) para controlar e censurar manifestações contrárias ao seu governo. Criou a campanha "O Petróleo é Nosso" que resultaria na criação da Petrobrás. Getulio casou-se com Darcy Sarmanho Vargas, com quem teve os filhos Lutero (1912), Jandira (1913), Alzira (1914), Manuel Antônio (1916) e Getúlio Filho (1917). Manoel Antonio Sarmanho Vargas nasceu no dia 17 de fevereiro de 1917, em São Borja, foi o último filho do ex-presidente a morrer. Aos 79 anos ele se matou com um tiro no coração, como seu pai, no dia 15 de janeiro de 1997 em Itaqui, Rio Grande do Sul. Manoel Antonio Sarmanho Vargas era conhecido como Maneco, em 1936 formou-se engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, tendo entre seus colegas de turma Fernando Penteado Cardoso, João Pacheco Chaves, Romano Coury. Fernando Penteado Cardoso entrou na Esalq em 1933, logo após a Revolução Constitucionalista de 1932, movimento armado que pretendia derrubar o governo de Getúlio Vargas. A respeito de Manoel Antônio Vargas ele afirmou: “Estávamos ressentidos com o governo, Manoel poderia ter sido discriminado, mas ele soube nos cativar.” Em 1934, a turma comemorou o ingresso da Esalq na recém-criada Universidade de São Paulo (USP), motivo de orgulho para alunos e professores. Manoel Antonio Sarmanho Vargas ao longo de sua carreira foi secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, presidente da empresa Campal S.A. e prefeito da cidade de Porto Alegre de 1958 a 1960. Deixou a vida pública para dedicar-se à administração de sua fazenda, a Estância Cerrito, em Itaqui. Moisés José Maria da Silva foi um piracicabano que se dizia neto de Getulio Vargas, sendo seu pai Manoel (Maneco) Antonio Sarmanho Vargas e sua mãe uma funcionária da ESALQ. Para entender um pouco melhor, o possível neto de Maneco e bisneto de Getúlio Vargas, Gustavo Augusto da Silva concedeu a seguinte entrevista.
                          Gustavo Augusto da Silva, possível bisneto de Getulio Vargas
Quem são os seus pais Gustavo Augusto da Silva?
Moisés José Maria da Silva e Ana Maria Vancetto da Silva, eu nasci em Piracicaba no dia 18 de outubro de 1978. Meus avôs paternos são Benedita Bueno de Godói e José Benedito de Godói. O meu pai foi adotado pela minha avó. Há relatos de que Manoel (Maneco) Antonio Sarmanho Vargas teve um romance com uma moça que trabalhava na ESALQ, cujo nome foi mantido em sigilo, desse idílio nasceu o meu pai Moisés José Maria da Silva que só tomou conhecimento dessa história quando a sua mãe adotiva estava para falecer e contou-lhe a verdade. Ele já tinha 52 anos de idade. Pelos fatos narrados, no contexto daquele momento, para Maneco assumir a paternidade teria um alto custo moral e político, ele era filho do homem mais poderoso do país.


          Moisés José Maria da Silva e Ana Maria Vancetto da Silva no saguão do Cine Plaza
Ao saber que era filho adotivo, sendo que o seu possível avô poderia ser ninguém menos do que Getulio Vargas, qual foi a reação do seu pai?
Ficou muito surpreso, foi difícil acreditar, até que reunindo algumas informações concluiu que de fato aquilo poderia ter acontecido.
Em que ano Moisés José Maria da Silva faleceu?
Meu pai nasceu em 24 de maio de 1936 e faleceu em 25 de janeiro de 2004.
Com quantos meses ele foi adotado?
Após quatro meses de vida ele foi deixado dentro de uma cesta, na porta do Lar Escola Maria Nossa Mãe, na Rua da Boa Morte, foi quando Benedita Bueno de Godói deparou com aquela criança e imediatamente o adotou, era filho único do casal, o nome dado a ele, Moisés, é justamente por estar abandonado dentro de um cesto.
Como a sua avó descobriu quem era a mãe que havia abandonado o filho?
Com o passar do tempo alguém que tinha visto comentou com ela quem era a verdadeira mãe, a minha avó e ela se encontraram, sendo que a mãe biológica pediu que guardasse segredo a respeito da origem da criança, segundo consta esse foi um desejo também do pai da criança. Os documentos do meu pai trazem como a filiação sendo dos pais adotivos. Legalmente não nada que comprove outra filiação que não seja essa.
Seu pai José Maria da Silva trabalhou em quais atividades?
Entre outras coisas por 15 anos foi operador de projetores de cinemas de Piracicaba, trabalhou no Politeama, no Plaza que se situava abaixo do Edifício Luiz de Queiroz, mais conhecido como Comurba. Na Faculdade de Odontologia de Piracicaba, a FOP, ele trabalhou por 25 anos.
Ao saber que Maneco Vargas possivelmente fosse o seu pai, ele trabalhava na FOP?
Exatamente, na época a noticia foi motivo de surpresa geral, inclusive havia um amigo que conhecia toda a história e atestou a veracidade da mesma.
Moisés José Maria da Silva tinha como provar quem era o seu pai?
Só tinha o depoimento oral de quem sabia dos fatos. Uma emissora de televisão, de rede nacional, quis levar o meu pai para realizar os testes de paternidade mais ele não quis. Além do fato de não querer veicular um assunto pessoal em um programa popular, ele tinha um misto de temor e respeito com relação á família Vargas.
Antes de saber que poderia vir a ser neto de Getulio Vargas seu pai se interessava por política?
Ele se interessava muito pelos fatos que envolviam política. Era fã de Getulio Vargas.
Você e seus irmãos têm o desejo de entrar em contato com os familiares de Maneco Vargas?
Gostaríamos de conhecê-los, saber como são, fazer uma aproximação.
Quantos filhos seus pais tiveram?
Quatro filhos: Alfredo, Mauro, Marcelo e Gustavo.
No seu trabalho como o chamam?
Trabalho no Clube de Campo de Piracicaba, lá a maioria me chama de Getulio, dizem que sou muito parecido com o meu pai, que tinha traços fisionômicos semelhantes á Getulio Vargas.
Quando você tinha 10 anos de idade a sua avó adotiva revelou a possível filiação do seu pai, isso de alguma forma refletiu em você?
Senti um impacto, um orgulho muito grande. Cheguei até a ser assediado para entrar na política!
Houve assédio da imprensa?
O jornal “O Estado de São Paulo” procurou o meu pai, em 1987 publicou uma matéria a respeito. O apresentador de televisão João Kleber queria levar o meu pai ao seu programa. Após a revelação feita pela minha avó em seu leito de morte o meu pai passou ser uma pessoa preocupada com relação a sua paternidade. Ao mesmo tempo em que tinha vontade de conhecer seus possíveis meio-irmãos, tinha receio da reação deles. Ele comentava como seria bom ter conhecido o seu pai biológico, gostaria muito de abraçá-lo! Esse sentimento era mais acentuado principalmente por ocasião do Natal.
No seu local de trabalho, a FOP Faculdade de Odontologia de Piracicaba qual foi a reação das pessoas ao saberem que poderiam estar trabalhando com o neto de Getulio Vargas?
Foi muito interessante, ele sentiu-se valorizado, chegou a ser eleito presidente da Associação dos Funcionários da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (ASFOP) O meu pai queria acrescentar o sobrenome Vargas ao nosso nome, mas foi contido por certo receio.
Vocês pensam em fazer o resgate dessas memórias, estabelecerem laços com possíveis parentes?
Temos esse desejo.
Vocês gostam de chimarrão?
Não! Nem de charuto!
E churrasco?
Adoramos!
Em algum momento o seu pai buscou os meios legais para determinar de fato a paternidade?
Ao que consta um advogado de São Paulo realizou algum tipo de prospecção, parece que até com algum sucesso, mas sem maiores explicações ele deixou meu pai sem nenhuma noticia, tomando paradeiro incerto.
O Maneco foi informado da possível paternidade?
Pelas informações que nos foram dadas ele sabia. Houve algum comentário de que ele poderia ter dado assistência material quando minha avó engravidou dando a luz ao meu pai.
Você sabe se o Maneco poderia ter tido envolvimento com mais alguma jovem na cidade?
Conheço um ilustre cidadão de Piracicaba que diz ter sido contemporâneo do Maneco e que o conheceu de perto, pelo que ele diz o Maneco não teve envolvimento desse nível com mais nenhuma jovem da cidade.
Seu pai procurou ter contato com a mãe biológica?
Na época ele buscou por diversos lugares, até disseram que ela estava no Lar dos Velhinhos, ao chegar lá não mais a encontrou.
Seus avôs adotivos moravam em que bairro de Piracicaba?
Moravam na Rua Fernando Souza Costa, 2399 na Paulista. Isso significa que o possível neto de Getulio Vargas viveu na Paulista, no anonimato, por mais de 50 anos, estudou no Grupo Escolar João Conceição.
Como o jornal “O Estado de São Paulo” soube da existência do seu pai e veio á Piracicaba para entrevistá-lo?
Acredito que tenha sido através de informações passadas pelo advogado que estava procurando realizar contatos com familiares de Maneco Vargas.
Quando algumas emissoras de televisão procuraram o seu pai para mostrar ao Brasil o possível neto de Getulio Vargas a idéia era um pouco sensacionalista?
Ele queria uma aproximação com a família Vargas, mas de uma forma mais natural, sem estardalhaço. Mantemos a mesma postura.
Qual era a altura do seu pai?
Media 1 metro e 69 centímetros, embora não fosse alto jogava como goleiro no time dos funcionários da FOP.
A conclusão que se chega é de que para documentar a possível paternidade bastaria realizar os exames de DNA de Maneco Vargas e Moisés José Maria da Silva sendo que para isso ser feito os corpos teriam que ser exumados. Implica em determinação judicial, concordância familiar. Pode ser um novo capítulo nessa autentica história de amor e poder.

Para assistir o filme da entrevista clique abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=mWuhDkd3whI












segunda-feira, março 21, 2011

ÉRICO SAN JUAN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADO: ÉRICO SAN JUAN
A riqueza cultural de Piracicaba é uma característica que a destaca no cenário nacional, a ponto de ter sido cognominada de “Ateneu Paulista”. Talvez inspirados nas belezas naturais da cidade um grande número de poetas surgiu na cidade, a ponto de se dizer a boca pequena que é a localidade onde há o maior número de poetas por metro quadrado! Há também um grande número de artistas plásticos. O memorável Edson Rontani tornou-se um guru para muitos cartunistas e ilustradores, pode-se dizer que foi um artista com obras além do seu tempo, introdutor de uma nova forma de comunicação Mais tarde, principalmente com o advento do Salão do Humor em nossa cidade, essa forma de expressão ganhou reconhecimento e valorização. Entre muitos admiradores de Edson Rontani, destaca-se o cartunista Érico San Juan, que aos 10 anos de idade fez um gibi completo. Ele criou o enredo, diagramou, ilustrou e encadernou. Aos 12 anos já colaborava com tirinhas de sua autoria, impressas periodicamente pelo Jornal de Piracicaba. Aos 15 anos já era ilustrador infantil do Jornal de Piracicaba. Dotado de refinada sensibilidade artística ele coloca suas impressões em seus traços, hábil caricaturista, em apenas dois minutos traduz para o papel os traços característicos do retratado, habilidade que exerceu como “caricaturista ao vivo” em eventos promovidos pela Caixa Econômica Federal, CCR Autoban, Caterpillar Brasil e McDonald`s. È autor do projeto gráfico do CD Amanhã do Trio Sá, Rodrix e Guarabyra. Editor do jornal Caricaras. Teve obras selecionadas para os salões de humor de Piracicaba e Paraguaçu Paulista. Premiado em Santos com a tira em quadrinhos denominada “Um Pamonha de Piracicaba”. Jurado de seleção de salões internacionais e universitários. Ministrou oficinas de humor gráfico para o SESC, Senac e Oficina Cultural do Estado de São Paulo. Publicou quadrinhos e textos de humor nas revistas Mad e Monet. Autor das tiras Dito, o Bendito. Compositor e interprete da “Canção do Mensalão” lançada no site My Space e no You Tube. Realizou exposição de caricaturas no projeto SESC Verão 2011 com caricaturas em tamanho natural dos notáveis Oscar e Magic Paula, Gustavo (Guga) Kuerten, João do Pulo, Robert Scheidt, Ayrton Senna, Maguila e outros. Tem caricaturas da MPB – Musica Popular Brasileira no livro “Noel é 100”, editado pela Imprensa Oficial do Rio de Janeiro. É um dos 40 caricaturistas brasileiros que tiveram suas obras selecionadas e publicadas em um livro. Foi convidado pelo jornalista João Carlos Rodrigues para realizar caricatura para a o livro sobre Johnny Alf, precursor da bossa nova, impressa pela Imprensa Oficial de São Paulo. Érico San Juan é artista gráfico, piracicabano, nasceu em 3 de janeiro de 1976, é um dos três filhos de Antonio Monteiro de San Juan, funcionário público municipal, e Maria José Gaspar de San Juan funcionária pública federal.
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Estudei no “Honorato Faustino” e no “Colégio Melo Ayres”. Sou radialista certificado pelo SENAC. Fiz cursos voltados à comunicação jornalística.
Em que período da sua vida você se descobriu como artista?
A lembrança que guardo dos meus primeiros “rabiscos” é de quando eu tinha seis anos, estava ainda no pré-primário. Era consumidor de revistas de Walt Disney, como o gibi do Tio Patinhas, Pato Donald, e passava a desenhar na mesa da cozinha da nossa casa, juntamente com o meu irmão Fábio, que também é artista gráfico.
Pode-se dizer que você e seu irmão formam uma “família de cartunistas”?
Pode-se dizer que em nossa cidade, essa atividade exercida como profissão é recente, o Salão de Humor foi um incentivador desde os anos 70. Tivemos o Edson Rontani, cuja persistência nessa atividade foi marcante seu inicio deu-se nos anos 50, a atividade de cartunista até hoje não existe como profissão.
Quais recursos materiais você utilizava em suas primeiras ilustrações?
Ainda criança usava o tradicional lápis de cor, atualmente com os recursos da informática tornou-se muito fácil a reprodução de desenhos em blogs. Eu fazia a reprodução dos desenhos como um legítimo gibi. Um dos meus primeiros gibis caseiros foi com a turma do Lup Lup. A origem é de uma revista Disney. Além dos gibis eu brincava com o meu irmão, era uma brincadeira que envolvia os personagens criados por mim, transportava para o mundo real.
Você colecionou muitos gibis?
Muitos! Infelizmente ao atingir a adolescência acabei descartando-os, como um desligamento da infância, própria da fase adolescente. Nós líamos a Coleção Vagalume, “O Cachorrinho Samba, de autoria da Sra. Leandro Dupret.
Desenhar é uma válvula de escape?
Essa é uma conclusão que só tiramos quando adultos. De uma forma geral o desenhista deixa de realizar atividades próprias da infância e adolescência, como por exemplo, jogar futebol ou outra brincadeira que envolva alguma atividade física para dedicar-se ao desenho. Isso não implica que só desenhe, ele pode praticar esportes, mas faz essas atividades de uma forma menos intensa..
Como seus pais viam a sua vocação para desenhar?
O interessante na criança é que ocupada em desenhar ela permanece quieta., os pais geralmente pesam: “-Que bom, meu filho está desenhando, deixa ele!” Em 1986 a Secretaria da Educação realizou um concurso de desenho, eu fiz um gibi contando a história do XV de Novembro de Piracicaba, baseado nas publicações realizadas pelo Rocha Neto. O meu irmão fez outro trabalho gráfico. Ganhamos o premio: um livro para cada um.
Qual é a diferença entre cartunista e chargista?
O cartunista faz cartun, que é relativo a um fato independente da época. O chargista utiliza o fato do momento, pode ser político, social. A charge dá margem para ser reflexiva. Há situações que ao serem abordadas requerem muito tato por parte do artista.
Os políticos têm espaço garantido em cartuns e charges?
O alvo pode ser o político e a política do dia a dia. Há chargistas que costumam abordar mais os aspectos sociais. Há artistas gráficos que fazem a chamada charge de gabinete, é aquelas que só são entendidas pelo circulo de relações do criticado.
Você foi fã do Edson Rontani?
Quando era criança, as referencias que eu tinha de desenhista piracicabano era do Edson Rontani, que publicava no caderno de “O Diário”, o “Diarinho”, no rodapé havia o “Você sabia?”
Quando você passou a fazer trabalhos por encomenda?
O embrião foram as revistas em quadrinhos que eu tinha criado, de forma espontânea, eu não pensava em fazer uma carreira, embora me dedicasse. Por gostar do que estava fazendo. Usava caneta esferográfica preta para desenhar, fiz uma tira de peixe, sem me tocar que na cidade havia um rio, acho que está no inconsciente, por um ano enviei material para ser publicado. Em 1989 Cecílio Elias Neto transformou a pagina infantil em um suplemento feito por crianças, uma idéia excelente, nesse ano o Salão de Humor fez uma oficina de histórias em quadrinhos com JAL e Gualberto, o GUAL, nessa oportunidade conheci Eduardo Grosso, atualmente diretor do salão de humor. Meu irmão e eu participamos dessa oficina do JAL e do GUAL, éramos muito jovens na época. Foi o primeiro espaço que encontramos, chegamos a fazer um gibi e um núcleo de quadrinhos, o gibi tinha esse nome. Núcleo de Quadrinhos de Piracicaba. Em 1990 passei a publicar as tiras do peixe no Jornal de Piracicaba. Certo dia eu fui até o balcão de anúncios do JP para publicar um anuncio quando a coordenadora do jornalzinho do suplemento infantil, Viviani Laurelli convidou-me para ser o ilustrador, eu tinha 15 anos! Os suplementos infantis eram á semelhança da Folhinha, caderno da Folha de São Paulo, feito por Mauricio de Souza, havia apenas um ilustrador para a publicação toda. Permaneci como funcionário do Jornal de Piracicaba de 1991 a 1997, continuei como colaborador remunerado até o ano passado.
Qual personagem criado por você que se mostrou popular nessa época?
Foi o Leco, que era um peixe.
Como seus colegas o viam nessa época?
Achavam-me o maio chato! Eu era muito tímido, travado. Embora a arte gráfica seja uma forma de expressão ela não trazia popularidade junto aos meus colegas de escola, é um fenômeno que ocorre com boa parte dos desenhistas, são pessoas introvertidas que canalizam para o trabalho. Os professores adoravam, incentivavam.
A sua formação em rádio se deu com a finalidade de se soltar?
Deu para destravar um pouco!
Todo cartunista é irônico?
Depende do cartunista, uns são mais outros menos.
O que é fanzine?
Edson Rontani é o autor do primeiro fanzine brasileiro, isso nos anos 60. É uma revista amadora de fã. Se você gosta do Batman, caso faça uma revista amadora sobre ele, dá suas impressões sobre o herói, troca impressões com outros fãs, é uma publicação feita por amadores sobre o objeto da paixão.
Uma das suas atividades atualmente é caricatura ao vivo, pode falar um pouco mais sobre ela?
Geralmente é feita em eventos, permaneço em uma mesa, em local apropriado e atendo a todas as pessoas que me procuram. Os participantes do evento são comunicados da presença de um desenhista á disposição, a pessoa senta-se a minha frente e eu desenvolvo a sua caricatura.
Grandes artistas do passado ao retratar alguém da nobreza eram induzidos a aperfeiçoar o perfil da pessoa retratada, sob o risco de sofrer pesadas penas se o resultado não agradasse plenamente, o cartunista sofre pressão nesse sentido?
A caricatura não obriga que o chamado alvo seja respeitado, o principio do processo é o exagero. Eu chamo a caricatura de “retrato bem humorado”. A ênfase dada ao exagero depende de cada artista, do seu temperamento. Os leigos acham que as caricaturas só podem ser feitas de pessoas com características muito evidentes, como orelha, nariz avantajados. Só que ao realizar uma sessão de caricaturas em um evento todas as pessoas que se apresentam têm que ser desenhadas, ocorre a necessidade de ter que achar as características que possam resultar em uma boa caricatura. Se a pessoa tem olhos expressivos, na caricatura sairá com os olhos arregalados. É muito importante sentir a razão pela qual a pessoa se dispôs a ser retratada.
Em quanto tempo você faz uma caricatura?
Faço rápido, em dois minutos, essa é uma das minhas características que os colegas ressaltam.
Em um evento, qual foi o maior números de pessoas que você retratou?
Em um evento sob o patrocínio da Autoban, versando sobre a segurança, em dois meses elaborei 1.200 caricaturas, o tempo em que permaneço no espaço da exposição gira em torno de quatro horas, por ser uma freqüência muito variável houve um dia em que devo ter realizado umas 100 caricaturas.
É possível realizar uma caricatura usando apenas a fotografia da pessoa?
Sim é possível, trata-se de um serviço mais elaborado.
Atualmente você tem realizado trabalhos para diversas cidades e até outros estados?
Fiz para um livro de cartuns referentes a telefone celular, feito por uma editora de São Caetano, é realizado por um jornalista que faz livros cooperativos, nele estão cartunistas de diversas regiões do Brasil. Em outro livro coloco Dito, o Bendito, um personagem que criei e por 10 anos esteve presente nas páginas de jornal de Piracicaba. Dito, O Bendito é um Zé Carioca sem o bico de papagaio, eu gostava do estereotipo do malandro carioca, criei o Dito baseado nisso, com o tempo ele virou um aposentado romântico. Ele é um velhinho saliente com um filho conservador. Por um ano fiz texto para a revista MAD.
Qual é a relação do humor com as instituições?
As instituições querem ser levadas a sério, a abordagem feita pelo humor se for mais ou menos ácida depende de quem faz esse humor.
A sua criatividade tem alguma origem definida?
Acredito que é importante não só a visão profissional, mas também a visão do mundo.

sábado, março 12, 2011

GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM, Vice-Reitor da UNIMEP

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM, Vice-Reitor da UNIMEP.
O ensino ministrado por entidades metodistas trouxe enormes benefícios á Piracicaba, além do ensino básico foi criada uma universidade, a UNIMEP, fator decisivo para a implantação de importantes indústrias em Piracicaba, entre elas a Caterpillar. Após essa etapa a cidade teve um progresso vertiginoso proporcionando infra-estrutura para a vinda de novas e importantes indústrias com tecnologia de ponta. Profissionais formados pela UNIMEP contribuíram com a sustentação necessária ao desenvolvimento de Piracicaba. Um dos grandes nomes do ensino metodista, e que sempre realizou muito em benefício de Piracicaba é Gustavo Jacques Dias Alvim, natural de Vera Cruz, estado de São Paulo, filho de Candido de Faria Alvim e Nair Dias Alvim. Cidadão Piracicabano por decreto municipal, Dr. Gustavo é uma pessoa de personalidade marcante. Bacharel em sociologia pela Escola de Sociologia e Política, em 1959, em direito pela Universidade Mackenzie em 1962, em administração pela Universidade São Francisco, em 1975, em Jornalismo pela UNIMEP em 1988, diplomado em Publicidade e Propaganda em 1963 pela escola denominada atualmente de ESPM. Mestre em Filosofia da Educação pela UNIMEP em 1992, Doutor em Comunicação e Semiótica em 1998. Fez especialização em Administração Universitária no Instituto de Gestão e Liderança Universitária com sede no Canadá. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Piracicaba, presidente do XV de Novembro de Piracicaba, é membro do Rotary Clube Piracicaba, do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, da Academia Piracicabana de Letras, da Academia Ferroviária de Letras (Rio de Janeiro). Recebeu a medalha Prudente de Moraes concedida pelo IHGP em 1993. Participou como dirigente do Panathlon Clube de Piracicaba, Sociedade Hípica de Piracicaba, Clube de Campo de Piracicaba, E.C. Rezende, Bela Vista Nauti Clube, Federação Paulista de Basquetebol, Lar dos Velhinhos de Piracicaba, Associação dos Amigos do Basquete de Piracicaba. Autor de dois livros: “Autonomia e Confessionalidade” e “O Diário, a saga de um jornal de causas”. Têm mais de 500 artigos publicados. O que fascina na trajetória de Gustavo Jacques Dias Alvim é a sua visão multidisciplinar. O seu intenso relacionamento profissional, com clubes de serviços e entidades sociais, institutos e academias culturais ou agremiações esportivas, são pautados pela nobreza de atitudes e claro discernimento de objetivos sempre em um dinamismo sereno e constante. Com isso ele acumulou uma vivência riquíssima em todos os setores da sociedade. Bom observador, extremamente organizado, coleciona amigos e um interminável número de fatos acontecidos, que com sua pedagogia se transformam em saborosas narrativas. Dr. Gustavo já atuou como vice-reitor da UNIMEP nas gestões de 1991 a 1994, 1995 a 1998 e de 1999 a 2002. De 2003 a 2006 foi o magnífico reitor da UNIMEP No próximo dia 16 deste mês, 4ª feira, às 19h, no teatro da UNIMEP, Gustavo Jacques Dias Alvim assume novamente a vice-reitoria, ocupando um cargo que oferece não só a pompa do mesmo, mas que exige muito do seu ocupante, principalmente em um momento em que o ensino em nosso país mostra ser o verdadeiro Calcanhar de Aquiles da nação.
Dr. Gustavo quais eram as atividades profissionais dos seus pais?
Meu pai era médico e a minha mãe professora primária, ela foi a minha primeira professora, quem me alfabetizou, um grande privilégio, inclusive porque a primeira professora a gente nunca esquece! Estudei no Grupo Escolar Castro Alves, em Vera Cruz. Quando terminei o primário surgiu um problema, Vera Cruz era uma cidade muito pequena, não havia o curso ginasial, uma opção seria viajar diariamente de trem á Marília, distante uns nove ou dez quilômetros. Meus pais julgaram que para uma criança de 10 a 11 onze anos não era uma situação apropriada. Nessa época a minha mãe já manifestava o desejo de vir morar em Piracicaba, meus avós maternos moravam aqui, assim como outros parentes. Meu avô era professor primário, foi diretor de grupo, seu nome era Benedito Cotrim Dias.
O senhor passou a estudar em que escola?
Vim para o internato do Colégio Piracicabano, que funcionava na Rua do Rosário, naquela região onde hoje é ocupada pelo Hotel Nacional e prédios ali existentes, uma vasta extensão de área circunvizinha era de propriedade do Colégio Piracicabano. O internato feminino funcionava na Rua D.Pedro II. No internato tínhamos a praça esportiva, piscina, quadra de basquete, campo de futebol. Na baixada do bairro está canalizado o Itapevinha, afluente do Itapeva. As aulas eram no prédio da Rua Boa Morte. Eu não conseguia entender porque tendo avós e tios morando em Piracicaba os meus pais haviam me matriculado no internato. No inicio reagia um pouco contra essa decisão. Meus pais disseram que “Avós e tios estragam os filhos dos outros”, preferiam que eu ficasse em internato. Permaneci interno por apenas um semestre. Em julho de 1948 meus pais mudaram para Piracicaba.
Como interno o senhor adquiriu muita disciplina?
Foi uma grande escola, depois os meus pais queriam me tirar do internato e eu não queria sair. Estava tão enturmado, tinha horário para tudo, para esportes, estudos, eu tinha que cuidar da própria roupa arrumava a minha cama. Fiz o Tiro de Guerra e assim como no internato acredito que ambos foram muito úteis em minha vida, bem como o período em que morei em pensão, na cidade de São Paulo. São situações que preparam o individuo para a vida, esse período longe da família serve para valorizá-la, dá uma nova visão.
Houve um período em que o senhor estudou em escola estadual?
Conclui o ginásio e o colégio no Sud Mennucci, minha família morava inicialmente em uma casa situada na Rua Treze de Maio entre a Rua Santo Antonio e Alferes, depois passamos a morar em uma casa na Rua Alferes entre a Rua Treze de Maio e a Rua Voluntários, em frente ao Grupo Escolar Moraes Barros. Um fato interessante é que no período em que eu estudava o Curso Científico no Sud Mennucci, iniciou-se o Curso Normal, com a finalidade de formar professores, as aulas eram dadas inclusive à noite. Passei a fazer esse curso também, assim estudava a tarde e a noite na Escola Sud Mennucci. Acabei por desistir do Curso Normal.
Qual foi a sua opção pela carreira profissional?
Eu tinha uma dúvida muito grande sobre qual carreira seguir. Alguns anos antes eu manifestei a vontade de fazer uma escola militar, propriamente o curso de aeronáutica, a aviação foi uma coisa que sempre gostei, por duas vezes iniciei o curso de pilotagem. Ainda criança eu tinha sofrido algum tipo de influência decorrente do clima militarista que havia no período após a Segunda Guerra Mundial, cheguei a optar em cursar o ITA, que é até hoje um dos melhores cursos de engenharia do Brasil, só que eu tinha um problema muito sério com a disciplina de química, havia um pouco de incompatibilidade da minha parte com a matéria. Nessa época fui convocado para servir o Tiro de Guerra na época situado na área denominada “Isolamento”, onde hoje há uma escola estadual na Rua São João, próximo a ESALQ havia uma plantação grande de eucalipto, fazíamos os exercícios de marcha pelo loteamento do bairro Jardim Europa, o estande de tiro era dentro da ESALQ nas proximidades do local onde hoje é o restaurante da escola. Tive uma forte inclinação para cursar Direito, mas tinha também alguns receios.
Quais receios?
Algumas pessoas passavam a idéia de que advocacia era uma atividade em que o bom advogado tinha que ferir alguns princípios éticos. É um conceito equivocado, mas existe, isso não é inerente a profissão e sim a própria pessoa. O fato de ser advogado não significa que será necessariamente um advogado antiético, você pode ser um advogado ético. Isso ocorre em qualquer profissão. No fundo eu desejava fazer direito para depois cursar diplomacia, no Instituto Rio Branco. Conversando com um diretor do Colégio Piracicabano, Norman Kerr Jorge, ele disse que havia uma escola muito boa, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, era uma fundação ligada a USP e que após concluir o curso eu poderia ingressar no Instituto Rio Branco onde era tido como pré-requisito ter feito um curso superior. Prestei o vestibular, entrei e passei a cursar, quando estava no terceiro ano prestei vestibular para Direito no Mackenzie e entrei. Cursei as duas faculdades. Na época freqüentava a ACM, Associação Cristã de Moços, onde jogava muito basquete. Sempre morei nas proximidades das escolas. Fui um dos primeiros estudantes a morar no prédio recém construído da ACM da Rua Nestor Pestana.
Na época o senhor já tinha carro próprio?
A minha loucura era ter uma lambreta, a muito custo consegui convencer a minha mãe a aceitar a idéia, e que ela fizesse um empréstimo na Caixa Econômica para dar a entrada na compra da lambreta. Logo percebi que os motoristas de ônibus da CMTC não respeitavam muito, vendi a lambreta e comprei um Ford 1934, mais velho do que eu! Era um azul tendendo para roxo, o marcador de gasolina era um cabo de vassoura que enfiava no tanque para ver o nível do combustível. Eu já trabalhava em São Paulo na revista Cruz de Malta com tiragem de 18.000 exemplares, ingressei como revisor e terminei como diretor,. Em 1959 prestei concurso para ingressar no Banco do Brasil, após aprovado passei a trabalhar das 13 horas ás 19 horas e continuava meus estudos na parte da manhã. Era uma vidinha puxada, tinha também que jogar basquete, namorar!
Quando o basquete entrou na sua vida?
Quando fui estudar no Sud Mennucci o professor de educação física Mané Bortolotti resolveu formar uma equipe nova do Grêmio Normalista e selecionou alguns meninos, eu era alto, jogava de pivô. Joguei basquete por muitos anos, com 1,83 metros de altura eu me destacava, atualmente um atleta de qualquer time amador tem mais de 1,90 metros. No basquete não é apenas a altura que influi, a envergadura conta muito. Atualmente ás terças-feiras e quintas-feiras eu participo de um “rachão” com os amigos.
Em que bairro de São Paulo ficava a agencia bancaria que o senhor trabalhou?
Era o Banco do Brasil situado na Lapa, escolhi ali por ser a saída para Piracicaba, o ônibus passava a 100 metros do banco. Com o tempo transferi-me para o Banco do Brasil de Piracicaba.
O senhor criou o sistema de consórcio para carros no Brasil?
Você deve ter ouvido falar que o consórcio foi criado dentro do Banco do Brasil, por funcionários, fui o primeiro gerente do que na época chamávamos de cooperativa. Com mais um ou dois colegas de banco criei o consórcio, sistema que mais tarde proliferou pelo país todo. Tenho a história toda de como ele ocorreu, como foi parar no mundo comercial. O primeiro grupo de consórcio tinha 21 participantes, chamava-se Cooperativa Lapa, a garantia de entrega do carro era dada através da entrega de uma nota promissória. O veículo consorciado era um Volkswagen. Quando os carros começaram a ser entregues ao consorciado, outras pessoas quiseram participar. O segundo consórcio que montamos chamava-se Laluz, era entre funcionários do Banco do Brasil da Lapa e da Luz. O automóvel consorciado era um Gordini. Quando vim á Piracicaba fiz um grupo dentro do Banco do Brasil, depois fui trabalhar no Dedini, fiz um grupo dentro da empresa. Conservo essa documentação até hoje nos meus arquivos.
A sua permanência no Banco do Brasil em São Paulo foi até que ano?
Foi até 1963, ano em que me casei, a minha esposa, Vera, morava no Rio de Janeiro, era nascida em Minas Gerais e nos conhecemos em Porto Alegre em 1956! Eu tinha um envolvimento com o trabalho da Igreja Metodista, fui líder da mocidade metodista da época, liderava uma região, tínhamos congressos regionais, nacionais, onde conhecia pessoas de outros lugares, eu já tinha conhecido irmãs da Vera em outro congresso em que ela não estava presente. Namoramos por seis anos, ela morando no Rio de Janeiro e eu em São Paulo. Trocávamos muitas cartas, que conservamos até hoje. Casamos na Igreja Metodista do Catete, em casamento religioso com validade no casamento civil, uma novidade da época. Eu consegui transferência para trabalhar na agencia do Banco do Brasil de Piracicaba, meu desejo era advogar. Ao chegar à cidade comentei com Jair de Toledo Veiga sobre a minha vontade de atuar na área, na época a cidade deveria ter duas dezenas de advogados. O Jair disse que o Dr. João Fleury estava procurando um advogado para trabalhar com ele, o Luiz Abrahão que tinha trabalhado com ele estava saindo para montar seu próprio escritório. Passei a trabalhar no Banco do Brasil do meio dia até as dezoito horas e de manhã trabalhava no escritório de advocacia. Por volta de 1964 pedi minha demissão do Banco do Brasil. Nessa época surgiu a primeira faculdade montada pelo Instituto Educacional Piracicabano, a Faculdade de Ciências Contábeis e Administração de Empresas, a famosa ECA. Era muito difícil encontrar professores de sociologia, pelo que eu saiba havia três pessoas habilitadas na cidade, eu era uma dessas pessoas. Fui convidado para lecionar, aceitei, assumi também a direção da faculdade, sendo o seu primeiro diretor.
A ECA iniciou-se em plena revolução de 1964?
A história da ECA é muito interessante, o primeiro vestibular dela foi a primeiro de abril de 1964. Havia duvida se deveria ou não se realizar o vestibular, os boatos diziam que os postos de gasolina estavam fechados. Tomamos uma decisão, se não faltasse nenhum dos 200 inscritos realizaríamos o vestibular. Não faltou ninguém. A prova foi realizada no salão nobre do Colégio Piracicabano. Começamos a faculdade com duas turmas de oitenta alunos. Por um determinado período de tempo eu ficava de manhã no escritório de advocacia, à tarde no Banco do Brasil e a noite na faculdade. Em 1966 foi constituída a segunda faculdade, a de pedagogia. Em 1970 foi organizada a terceira faculdade, da qual fui ser o seu diretor, a faculdade de direito. Em todas elas eu também lecionava sociologia.
Como se deu o seu ingresso na empresa Dedini?
Foi através do escritório do Dr. João Fleury que atendia grandes empresas de Piracicaba. Houve um momento em que o Sr. Mario Dedini quis que um advogado desse expediente por umas três horas diárias. Dr. João Fleury em função de uma série de compromissos pediu que eu o substituísse nessa atividade. Um dia o Sr. Mario me chamou e convidou-me para trabalhar em expediente integral. Em 1972 eu estava trabalhando na Dedini, realizando muitas viagens, acabei me afastando das faculdades, permaneci na Dedini até 1982, quando retornei as atividades acadêmicas na UNIMEP, exercendo as funções e atividades já citadas.
Haveria muito mais para contar. O papo com o entrevistado foi longo e agradável, porém, infelizmente, o espaço no jornal é limitado. Quem sabe, em outra oportunidade a gente continua. Parabéns, amigo Gustavo, Desejo-lhe feliz gestão.



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