domingo, setembro 16, 2012

LUIZ CARLOS (LALO) CAZZONATTO, JOSÉ ARALDO BARBOSA E TARCÍSIO ( MINHÃO) CASONATO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 15 de setembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:



ENTREVISTADOS: LUIZ CARLOS (LALO) CAZZONATTO,  JOSÉ ARALDO BARBOSA E TARCÍSIO ( MINHÃO) CASONATO
É comum funcionários que trabalharam em grades empresas, após muitos anos compartilhando o mesmo ambiente de trabalho, continuarem cultivando uma grande amizade entre si. Sempre que podem reúnem-se para compartilharem suas memórias, festejarem o momento presente. Formam uma fraternidade criada ao longo dos anos.
Em Piracicaba existem diversos grupos constituídos espontaneamente e de maneira informal, um desses grupos é formado por funcionários que trabalharam por muitos anos na empresa Dedini, que foi por um grande período o braço forte da indústria em Piracicaba. Era motivo de grande satisfação ser funcionário de tal empresa, um cartão de visita que abria muitas portas. O funcionário da Dedini tinha muito prestígio. Aposentados, periodicamente reúnem-se em locais pré-determinados, geralmente na chácara de alguns deles. Ali conversam, lembram-se de fatos pitorescos, riem do passado muitas vezes difícil, atualizam-se com as notícias mais recentes dos componentes do grupo, juntos divertem-se, jogam cartas, fazem churrascos, reafirmam dessa forma a amizade que os uniu. Três integrantes, representantes desse grupo nos conduzem por uma viagem através do tempo.
Tarcísio Casonato nasceu a 5 de janeiro de 1941 em Piracicaba, filho de João Casonato e Itália Pelissari Casonato. É casado com Cecília Moretti Casonato com quem tem os filhos Márcio Fernando, Alderson e Helen Miriam Tarcísio é tio de Luiz Carlos, irmão do seu pai. Na Dedini era muito comum trabalharem diversos membros de uma mesma família.
Luiz Carlos Cazzonatto é filho de Moacir Casonato e Elydia Baldini Cazzonatto, nascido a 2 de fevereiro de 1949.em Piracicaba na Vila Rezende. Casado com Dirce Lopes Cazzonatto com quem tem os filhos: Marcos, Maurício e Flávia
José Araldo Barbosa nascido a 25 de julho de 1947 em Ipeúna, na época distrito de Rio Claro.é filho de Antonio Pires Barbosa e Alvina Oliveira Barbosa, casado com Alair Alves de Oliveira Barbosa, com quem tem os filhos Michel e Andressa.


Dos três quem foi o primeiro a ser contratado pela Dedini?


Eu, Tarcísio, nascido na Vila Rezende, estudei no Grupo Escolar José Romão, minha primeira professora foi Dona Iná. Eu morava na mesma casa onde moro até hoje, no Largo São Luiz. Não tinha asfalto, embora tivesse bastante casas, é um local onde existe muitas casas antigas. Na direção da Avenida Manoel Conceição era só brejo, pasto, uma grama que quando íamos jogar futebol sentíamos que embaixo só havia água. Era denominado como Nhô Quim. A Bimbóca, hoje São Luiz, começava no sentido de onde moro na direção da Travessa Dona Santina. Hoje já não chamam mais aquela localidade de Bimboca, na época era esse nome que estava escrito no letreiro do ônibus que se dirigia para lá. Meu pai foi lavrador, ele trabalhou no Mário Baronesa (Mário Áreas Vitier, conhecido como Mário da Baronesa).em uma lavoura perto do frigorífico. Ele tinha trabalhado no Engenho Central. Conheci o Mário, quando era pequeno, devia ter uns oito anos, ia levar almoço para o meu pai que trabalhava nas propriedades do Mário cuja esposa se chamava Mercedes, eu perguntava ás filhas do Mário onde meu pai estava trabalhando, me lembro de uma delas chamava-se Ana.


O senhor jogou futebol?


Fui quarto zagueiro no Atlético, joguei com o genro do Mário. Aos 10 anos de idade comecei a trabalhar na fábrica de vassouras “Pagé”, hoje não existe mais. Ficava na Avenida Maria Elisa, encostada com um posto de gasolina que existe até hoje. Estudava, saia da escola unas 10 horas, almoçava e ia trabalhar. Permanecia até as cinco horas da tarde. Ajudava, picava, escolhia palha, cortava barbante.


Pelo fato de começar a trabalhar com essa idade o senhor deixou de aproveitar a sua infância.


Na minha época não. Eu brincava a noite, naquele tempo podia-se sair a noite brincar Tinha uma brincadeira chamada garrafão. É uma brincadeira de “pais”, desenhava-se a boca de um garrafão e um garrafão, só que tinha que entrar pela boca do garrafão. Aos sábados jogávamos bola.


Ainda criança havia brincadeiras com o bonde?


Onde ficava o motorneiro, nós chamávamos de cozinha do bonde. Quando o bonde ia para o centro iam pessoas até no engate do bonde, no lado externo do mesmo. Na época quem morava na Vila Rezende era chamado de “índio” pelos piracicabanos do outro lado do rio Piracicaba. Lembro-me de em certa ocasião, o bonde da Vila Rezende estava subindo a Rua do Rosário, nas imediações da Escola Industrial, um indivíduo gritou da calçada: “-Olha o bonde dos índios!” Desceram do bonde, “os índios”. O que essa pessoa correu!


O bonde que ia para a Vila Rezende tinha um desvio. Ali se encontravam os bondes que ia para a Vila e o bonde que vinha para o Centro. Um aguardava o outro passar e depois seguia, usando a linha do anterior, mas no sentido contrário. Tanto o bonde que ia como o que vinha usavam a mesma linha após cruzarem nesse desvio. Onde ficava esse desvio?


Situava-se na Rua Campos Salles, entre a Rua do Rosário e a Rua Tiradentes. Na Vila o ponto final do bonde era onde hoje é o pronto socorro.


Era comum a criançada fazer brincadeiras com o bonde?


Um dia o bonde não conseguia subir a Barão de Serra Negra para prosseguir pela Avenida Rui Barbosa. Tinham passado graxa nos trilhos. O trem da Sorocabana cortava a Avenida Rui Barbosa onde havia um sinaleiro. Tinha uma criançada que pegava um pedaço da chapinha de metal que envolvia o barril de madeira, e esfregava no ponto certo, disparava o alarme falso de que um trem ia passar. Formava uma fila enorme de carros. Depois íamos todos para o Rio Piracicaba, íamos pescar cascudo. Eu não sabia nadar, mas vivia no rio. Nós íamos muito na ilha, havia a comporta que desviava água que ia para o Engenho Central Quando chegava o fiscal na fábrica de vassoura nós saíamos pela porta do fundo e íamos para o rio. Lembro-me de uma época em que estavam filmando no Rio Piracicaba “Os Garimpeiros”. Nós ficávamos assistindo as filmagens. No Mirante, na curva do então restaurante, tinha uma árvore grossa, estava sendo rodada uma cena em que uma índia estava sendo segurada por um ator, representando o malfeitor. Um artista caracterizado de índio atira uma flecha, o malfeitor desvia e atinge a árvore. O ator errou, perdeu umas quatro ou cinco flechas, caíram todas no rio. O Girdão era um amigo nosso que trabalhou no filme, ele estava em um bote, em determinada cena ele grita de dentro do bote: “ –Abre a porteira”. Eu não assisti ao filme, isso me contaram. Após a sua participação no filme seu apelido deixou de ser Girdão, passou a ser chamado por nós como “Astro”.






ANCORA DENAVIO PRODUZIDA NA DEDINI


Em que ano o senhor passou a trabalhar na Dedini?

Foi a 1 de julho de 1957. Entrei como ajudante de mandrilhador. Mandrilheira é uma máquina de usinagem, quase igual ao torno. No torno a peça vira, na mandrilheira a ferramenta vira, ela faz várias operações na peça. Apareceram uns cursos como leitura e interpretação de desenho, metrologia, mandrlhador e outros, especialização oferecida pela própria Dedini.


O senhor chegou a conhecer o Comendador Mário Dedini?


Conheci. Ele ia. Andava por um corredor, observando. Ia inclusive à noite. Nunca ia sozinho, sempre tinha alguém com ele, às vezes seu filho Armando o acompanhava, o seu genro Dovílio também ia. Uma vez ele adquiriu uma patente para fabricar um equipamento para a Usina São Francisco. Para os funcionários que trabalharam nas peças para essa montagem ele deu um envelopinho, com um valor dentro. Ao funcionário que se aposentava, Mario Dedini oferecia um almoço na sua própria casa. Lembro-me que o funcionário Nhô Finca, pessoa muito brincalhona, foi homenageado com um almoço desses ao aposentar-se. Sai da Dedini no dia 5 de novembro de 1999. Por 42 anos, 4 meses e 4 dias trabalhei lá.


Luiz Carlos como começou essa reunião que vocês fazem periodicamente?


Começamos em seis: eu, Zé Araldo, Rabello, Santo, Orlando Gonçalves de Rio Claro e o Fazzenaro. Mais conhecido como Goiaba. Tudo começou quando decidimos fazer um churrasquinho. Isso foi em 1993, fizemos nesse ano uma quatro reuniões semelhantes.
Fizemos umas quatro reuniões por anos aos domingos. Decidimos fazer aos sábados, ao invés de domingo. O grupo foi aumentando, atualmente a cada 45 a 60 dias realizamos esse encontro. A média de participação é de 35 pessoas.


O senhor entrou na Dedini com qual idade?


Fiz 14 anos no dia 2 de fevereiro, disse ao meu pai: “-Quero trabalhar na Dedini!” Meu pai trabalhava na Dedini no tempo em a empresa tinha um forninho de 3 toneladas. Ele entrou com 17 anos de idade, como servente de pedreiro. Ele queria trabalhar na fundição, moldar peças. O chefe geral era o “João do Aço”. Ele mandou meu pai trabalhar no forno, que era o pior serviço. Ele acabou sendo encarregado do forno elétrico, quando passava filme no Cine São José o forno não poderia ser ligado, ele roubava energia, não era possível projetar o filme. Quando terminava o filme eles ligavam, usando aqueles telefones com manivela do lado, dizendo: “Pode ligar o forno que terminou o filme!”. Isso por volta de 1940. Aos 19 anos meu pai casou-se indo morar em frente à Escola Industrial, na Rua do Rosário. Minha mãe às 10 horas da noite fazia a cestinha de almoço que ficava aquecida, junto ao fogão a lenha. Um dia minha mãe perdeu hora. Meu pai pegava o bonde às seis horas. Ele disse para a minha mãe: “ Lídia, perdemos hora e não ligaram o forno!” Pela lâmpada ele sabia que não tinham ligado o forno. Pegou a cestinha, um paletó que usava e foi trabalhar a pé. Quando chegou à Rua Mário Dedini, os quatro homens que trabalhavam com ele estavam todos sentados na porta, esperando-o.


Qual é a temperatura para derreter o ferro?


O aço 1380 a 1400 graus. O ferro 1300 graus. Nessa época Leopoldo Dedini morava nas proximidades. Na esquina da Mario Dedini com Santo Estevão. Às nove horas, Tito Ducatti foi chamar meu pai dizendo: “ O Seu Leopoldo quer falar com você”. O meu pai pegou a cestinha, o paletó e disse: “-Pessoal, tchau para vocês. Da roça eu vim, para a roça eu volto”.Chegando lá o Seu Leopoldo perguntou: Moacir, perdeu hora hoje” Ao que ele respondeu: “ Perdi!”O Fabretti era chefe dos pedreiros, a Dedini estava fazendo cinco casas, na Rua Santo Estevão, ao lado do atual posto de saúde. Leopoldo disse: “Moacir, procure o Fabreti diga-lhe que quando terminar a primeira casa para dar a chave para você eu quero que você venha morar aqui”. Meu pai foi morar lá. Começou a nascer a criançada, éramos oito irmãos. Meu pai tinha hora para entrar na Dedini mas não tinha hora para sair. Eu, Airton e minha irmã Maria Elisa chegamos a ficar os três na cama com 40 graus de febre. Dr. Cláudio Mann estava a disposição de qualquer funcionário da Dedini a qualquer hora. Devido a ter oito crianças, meu pai acertou com o Luiz Guarda, dizendo-lhe o seguinte: “- Acertei com a minha esposa, que se der uma dor de barriga em alguma das nossas crianças ela irá acender a luz da área, seu Luiz fazia a ronda o tempo todo. Meu tinha sempre a sua disposição uma caminhonete com motorista para atender as necessidades urgentes, desde buscar algum material até atender algum funcionário necessitado. Um dia minha mãe ficou costurando roupas até a uma hora da manhã. Ao apagar a luz da sala acendeu a luz da área. Seu Luiz Guarda avisou meu pai, que veio e perguntou a minha mãe: “-Eu entrei as seis horas da tarde, estava tudo bem em casa, o que aconteceu?”. Minha mãe o chamava de Macilo. Ela disse-lhe que estava tudo bem, que sem querer ao apagar a luz da sala acendera a luz da área. Meu pai permaneceu trabalhando na Dedini até 1978. Eu entrei como ajudante de um senhor chamado Mário Furlan. Tinha as engrenagens grandes, chamadas de engrenagens volandeiras, não me esqueço nem do modelo era M-10-60. Tirava a engrenagem com 200 a 250 graus, como ajudante colocava duas tábuas, jogava um pouco de água, subia um vapor, Tinha que tirar a areia queimada para fazer tudo de novo, é uma areia fina, que para movimentar com a pá não rende. Esse homem cuspia na mão, dizia “Lalo, vamos lá!’ Jogava uma cinco pás e ia fazer uma das três coisas: ir ao banheiro, tomar café ou tomar água. Quando ele voltava estava tudo limpinho já. Fiquei seis meses ajudando Seu Mário, essas peças eram feitas por empreitada, só que ajudante não ganhava. Meu chefe, Giacobelli colocou-me para trabalhar com Seu José David. Trabalhei por três meses com ele, com ele ganhava um troquinho a mais. Passei a moldar sozinho rodete. Trabalhei na macharia, onde fazia machos. O chefe da macharia era o Barella. Um dia ele disse-me: “-Menino você trabalha muito”. Fui trabalhar na fundição leve, para o cubo da Scania tinha três ou quatro pessoas apenas que moldava. Com o tempo passaram a ser fundidas peças de navios, hidroelétricas, mineração. Após cinco anos sai da empresa. Fui trabalhar em Sumaré, na Soma que era uma empresa de Osasco e fazia tanques de petróleo. Os donos da escola Megatec eram Danilo Sancinetti e Chico Gobbo eu tinha me formado na primeira turma da escola. Chico Gobbo sabendo que eu tinha saído da Dedini, me chamou na escola, dizendo que havia uma vaga na Soma em Sumaré e que cinco ex-alunos da Megatec iriam se candidatar a essa vaga. Fizemos o teste, passei e fui trabalhar lá. Por um mês morei lá, em um hotelzinho.Me casei nesse período. Minha mulher levantava as três horas da madrugada, fazia a comida, eu pegava a minha bicicleta, entre as duas rodoviárias, municipal e intermunicipal havia a garagem da AVA Auto Viação Americana. Eu chegava lá as 4hora e 50 minutos, deixava a bicicleta guardada Eu morava abaixo da Igreja São Luiz, na Rua Dr. Kok. Saia com o primeiro ônibus, ia até Americana, lá eu descia em frente a estação de trem, pegava o trem que vinha de Barretos para São Paulo. O ar carregado do vagão era difícil de suportar. Tinha um ônibus da AVA de numero 83, no dia em que ele fazia o percurso eu perdia a hora. Da estação de trem até a empresa tinha que andar três quilômetros. Fiz isso por um ano e meio, depois não agüentei mais. Estava desempregado, fui trabalhar na Fundição Técnica Nacional. Por uma série de circunstâncias acabei me desligando da empresa. Meu irmão Airton trabalhava na Dedini, ele disse que o Ari Regitano queria conversar conosco. Ele disse-me que queria que eu fosse trabalhar na Dedini, estava sendo implantado o sistema de controle de qualidade, o gerente era Dr. Renato Ramalho. Na terça feira comecei a trabalhar, com muito orgulho fui o primeiro inspetor de qualidade da fundição. Isso foi em 11 de dezembro de 1970. Alberto Vollet Sachs Filho era o chefe do planejamento. Trabalhei como inspetor de qualidade por uns dois anos. Dr. Cinemar Cervelini era o nosso gerente de fundição, ele disse-me que o Manoel Jurado iria se aposentar, precisava por uma pessoa no lugar. E me convidou. Pedi três dias para pensar. Aceitei, e assim trabalhei mais 27 anos na empresa, cheguei a supervisor de tratamento técnico de fundição. Sai no dia 14 de dezembro de 1995. Eu estava aposentado desde 6 de novembro de 1991.


PEÇA FUNDIDA EM UMA ÚNICA VEZ, SEM EMENDAS, PARA GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. OS FUNCIONÁRIOS NO INTERIOR DO CIRCULO DÃO IDÉIA DA DIMENSÃO DA PEÇA.

José Araldo Barbosa o senhor entrou na Dedini com que idade?


Devia ter uns 19 anos, antes eu trabalhava na Usina São Francisco, cortava cana, desde pequeno após ir a escola ficava ajudando a minha mãe que cortava cana. Com 14 anos fui registrado na usina. Em 1968 vim para Piracicaba. Entrei no Senai, morava na pensão do Lugo Mineiro, ficava na Vila Rezende, perto do Posto de Saúde. Trabalhei um tempo como servente de pedreiro nas propriedades da Baronesa de Rezende, quem construiu foi a Doplan, Dovilio Ometo planejamento. Dia 7 de janeiro de 1969 entrei na Dedini, trabalhando como rebarbador, limpando as peças que eram fundidas. Colocavam caçamba de peças para que eu trabalhasse nelas, com o esmeril, o que outros faziam em uma semana eu fazia no dia. Após uns 45 dias me colocaram como ajudante no forno. Fui para ajudante de maçariqueiro. Perguntaram se eu queria aprender a soldar, aceitei na hora, Euclides era o soldador, após uns quinze dias houve um corte de funcionários, o Leone me disse: “O Euclides foi dispensado, a máquina de solda está aqui, pode se virar!”. Trabalhei por 10 anos como soldador. O único qualificado pela Petrobrás dentro da Dedini era eu. Viajei muito, onde a Dedini tinha peça para ser recuperadas eu era enviado. Sai como supervisor de produção. Sai no dia 14 de dezembro de 1995. Já estava aposentado desde 1992.


Quantos funcionários a Dedini chegou a ter?


O grupo inteiro deve ter chegado a ter 12.000 funcionários.





sexta-feira, setembro 07, 2012

MONSENHOR ORIVALDO CASINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de agosto de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADO: ORIVALDO CASINI
Suceder alguém e dar continuidade ao trabalho desenvolvido com excelência por essa pessoa é um enorme desafio. Isso ocorre em todas as áreas profissionais. Empresas são suscetíveis a esse momento de transição e continuidade. Há uma diretriz na Igreja Católica que procura amenizar a carga de trabalho administrativo de um pároco após o mesmo atingir certa idade. Geralmente é convidado outro religioso, mais novo, para assumir oficialmente os atos paroquiais. Isso não diminui a importância do pároco anterior, ele continua exercendo suas atividades religiosas, celebrando missas, casamentos, batizados. Seu carisma é cada dia mais rico. Ao padre que assume a igreja legalmente perante as autoridades religiosas o seu esforço tem que ser muito grande. A comunidade nesse momento é muito observadora, analisa com lente de aumento quem é o sucessor. Faz isso de forma natural, até mesmo de forma inconsciente. Pesa muito a sabedoria do responsável por essa substituição. A Paróquia da Imaculada Conceição, na Vila Rezende, é um ponto de referência para os católicos piracicabanos, e até mesmo da região. Inúmeros casamentos foram celebrados na majestosa igreja, projetada pelo Arquiteto João Chaddad e construída as expensas do Grande Oficial Mário Dedini. Monsenhor Jorge Simão Miguel deu alma àquela paróquia. Carismático, ainda hoje é muito procurado em todas as ocasiões, seja celebrar um casamento, uma missa, um batizado. Muitos são os cristãos que o procuram para serem por ele aconselhados. Monsenhor Orivaldo Casini, que foi batizado pelo Monsenhor Jorge na Capela de Artemis, foi designado para assumir a Paróquia Imaculada Conceição. Conviver com um dos ícones de Piracicaba, Cônego Jorge Simão Miguel (Que muitos até hoje chamam de Padre Jorge, por força do habito) é motivo de muita alegria, mas implica em ter muita humildade diante de um símbolo vivo da Igreja em Piracicaba. Monsenhor Orivaldo Casini assumiu a paróquia com sabedoria, fraternidade e muita determinação. Nascido a 11 de julho de 1958, em Piracicaba no Distrito de Artemis, filho de Guerino Casini e Cecília Scarpelin Casini.


Isso em uma época em que Artemis era um local provido de mais recursos?


Minha mãe morava em São Pedro e segundo ela conta, meu bisavô tinha uma fazenda com plantação de café, em São Pedro. Naquele período da quebra do café eles fizeram empréstimos, a hipoteca foi executada e eles perderam tudo. Vieram para o Bairro Água Branca para cortar cana, não deu certo, mudaram-se para Artemis. Minha mãe conta que em Artemis tinha de tudo: estação de trem, cinema, cartório. Meus pais trabalhavam no corte de cana-de-açúcar. Quando eu tinha dois anos de idade meus pais mudaram-se para a cidade de Piracicaba, sou o mais velho de quatro filhos: eu, Sueli, Roseli e Claudinei. Aqui sempre moramos na Vila Rezende, o primeiro local onde moramos foi no Nhô- Quim, no Paiero. Meu pai passou a trabalhar em indústria, chegou a trabalhar no Dedini. Trabalhou no frigorífico próximo ao bairro Santa Terezinha. Meu pai faleceu com 28 anos de idade. Ele era um exímio pescador. Quando menino, com us cinco anos de idade, ele me levava junto, deixava-me sentado na barranca do rio, mergulhava e só voltava do rio com dois peixes cascudos na mão. Ia buscá-los na toca, no fundo do rio. Um domingo, após o almoço ele foi pescar com o meu tio. Aonde tem a Ponte do Caixão ele atravessou o rio com a tarrafa amarrada no peito, chegou até a outra margem e depois quis voltar, na volta, sentiu-se mal e faleceu no local. Minha mãe tinha 24 anos de idade, analfabeta, com três filhos e grávida de três meses do quarto filho. Morávamos em uma casa em frente onde hoje é o Quartel da Polícia Militar. Eu tinha sete anos de idade. A princípio fomos morar na casa dos meus avôs, Ela foi trabalhar, teve que aprender pelo menos a assinar o seu nome, para poder tirar sua documentação. Ela lançou-se a luta, trabalhando. Com 10 anos de idade eu estava na rua vendendo pipoca, vendendo doces. Dona Gertrudes, mais conhecida como Dona Tudinha, era vendedora de doces, tinha um carrinho de pipoca, eu fui ajudá-la. Ganhava alguma moedinha por dia. Os outros três filhos minha mãe levava para a creche. Onde foi construída a Biblioteca Municipal havia uma creche. Minha mãe saía a pé do bairro Paiero atravessava a ponte sobre o rio Piracicaba, caminhava até o centro onde trabalhava na casa de uma família. Ela fez isso por muitos anos.


Monumento á Mário Dedini, no centro o indústrial, a seu lado direito o metalúrgico e ao lado esquerdo o agricultor. Esse monumento a princípio foi instalado na Praça José Bonifácio, no centro de Piracicaba. Por questões políticas, foi transferido para a praça em frente a Igreja Imaculada Conceiçãom construída as expensas de Mário Dedini

O senhor estudou aonde?


Na Avenida Conceição, tinha uma escola que funcionava em uma casa, ensinava do primeiro ao terceiro ano primário. Minha primeira professora foi Dona Juracy Neves de Mello Ferracciú. A do segundo ano se chamava Maura. Do terceiro ano era Dona Elza. O quarto ano primário eu estudei no Grupo Escolar José Romão. Surgiu a oportunidade de fazer o curso preparatório no Instituto Baronesa de Rezende. para ingressar no ginásio. Fui fazer o ginásio ao lado da minha casa, nessa época morava na Rua João Teodoro, onde hoje funciona a Escola Abigail Grillo, durante o dia era Escola Abigail Grillo e á noite era Escola Dr. João Sampaio. Estudei a noite. E durante o dia vendia as pipocas, os doces. Concluindo o ginásio fui fazer o curso de Técnico em Mecânica na Rua do Rosário, no antigo Colégio Técnico, que hoje é a Escola Técnica Coronel Fernando Febeliano da Costa, tinha os cursos de mecânica e eletrotécnica. Conheci os professores Danilo Sancinetti, Professor Zocante. Meu primeiro emprego foi em uma granja, hoje seria talvez chamada de agropecuária, o proprietário era Dr. Isidoro, oficial de justiça. Tinhamos todos os tipos de rações para pássaros, galinhas, cachorros. Ele fechou a granja. Fui trabalhar como balconistaa em um supermercardo no Jardim Baronesa.Dali fui trabalhar na fábrica de vasssouras do Virgílio Naléssio, na Vila Boyes, fui vassoureiro, fabricava vassouras. Eu tinha de 18 para 19 anos. Fazia o percurso do Nhô Quim até lá de bicicleta, eu a tinha adquirido usada, de um parente próximo. Por um período recebia um valor fixo por mês, depois que aprendi a fabricar vassouras, que eram de boa qualidade, pintadas em várias cores, feitas com palha de vassoura, passei a ganhar pela produção realizada. Chamava-se Vassoura Pluma. Tinhamos um campinho de futebol, onde a bola estava eu ia junto. Tinhamos os cines Polyteama, Broadway e Colonial Eram os cinremas que eu frequentava por sinal os mais baratos. Nessa fábrica de vassouras trabalhei mais de quatro anos. Nessse período eu estava concluindo o curso de técnico em mecânica, veja como as coisas são por Deus. O nosso vizinho era do departamento de relações humanas da Dedini, disse que ia trazer uma ficha para preencher, ele iria levar ao seu departamento. Preenchi a ficha, ele me levou junto com a ficha. Lá fui encaminhado ao controle de qualidade da fundição, cujo diretor era Ari Regitano. Fui bem acolhido, sentei-me em sua sala, deu-me um modelo de madeira, um retângulo com um cubo em cima, e disse-me: “-Você faça planta, elevação e perfil desse modelo”. Eu não era bom desenhista, nunca gotei. Passei a tarde toda para fazer aquele desenho e saiu péssimo. Os desenhistas perguntavam : - Quer ajuda aí?” Ëu respondia:”- Estou terminando!”Chegou a hora de fechar o esritório e eu lá, tentando desenhar. Fui embora, voltei no outro dia, Regitano disse-me “- Você desenha mal. Só que é perseverante. Seu salário onde trabalha é muito baixo. Vou dar o serviço para você¨. A minha experiência na Dedini foi muito rica, um pessoal fantástico. Iniciei trabalhando como inspetor de qualidade, verificando as peças fundidas.


A vida do senhor melhorou bastante.


Melhorou, passei a ganhar razoavelmente bem. Minha mãe que desde a morte do meu pai teve que trabalhar para sustentar a família parou de trabalhar. A filha mais nova tinha se casado, a mais velha trabalhava, o menino estava na escola. Tudo foi-se encaminhando. Aquele desejo que estava em meu coração, de ser padre, voltou mais forte.


Como surgiu esse desejo em ser padre?


Eu o tinha desde criança. Admirava a figura do sacerdote, e essa figura era o Monsenhor Jorge, que está aqui na paróquia até hoje. No período em que trabalhei no supermercado, trabalhava inclusive aos domingos. Mas antes de entrar no trabalho, entre sete e sete e meia, vinha a missa das seis horas da manhã aqui, na Igreja Imaculada Conceição. Sozinho.


O senhor chegou a ser coroinha?


Na minha adolescência ajudava um grande sacerdote: Monsenhor Cecílio Coury. Participava do grupo de jovens, nossa paróquia era muito grande, a Paróquia São Pedro era capela pertencente a nossa paróquia, eu participava de um grupo de jovens denominado DDV, Frei Afonso era o nosso diretor espiritual.


A mãe do senhor teve influência na sua devoção?


Educação nesse sentido acredito que sim, ela sempre foi devota de Nossa Senhora Aparecida. A família não tinha o costume de participação na igreja. Naquela época o sonho de grande parte dos trabalhadores era ser funcionário da Dedini. Eu estava estabilizado, ganhando um bom salário. Isso foi em 1989, chegou um novo pároco á Paróquia São Pedro. Vieram dois padres da Itália: Padre Salvador Paruzzo da Província de Caltanissetta e Padre Giovanni Giglio veio de Ragusa, vieram a pedido do Bispo Dom Aniger. Giovanni foi ser pároco no Jardim Primavera e Salvador na Paróquia de São Pedro, sabendo do meu desejo ele me incentivou a ir pra o seminário.


Foi uma decisão muito difícil?


Muito difícil. Eu tinha o desejo de experimentar o seminário. Ao mesmo tempo tinha o meu emprego, o meu salário que ajudava a manter a minha família. Eu ficava em um dilema. Fui falar com o bispo da época. Disse-lhe que desejava ir para o seminário, tinha irmãos menores, minha mãe, se acontecesse alguma coisa com eles, uma necessidade, a diocese socorre? Ele disse-me que isso não era possível. Tomei a decisão de não ir para o seminário naquele ano. No ano seguinte mudou o bispo, chegou Dom Eduardo Koiak, sabendo da minha história mandou-me chamar. Conversamos, fiz a mesma pergunta a ele. Sua resposta foi: “- Você vá tranqüilo para o seminário, qualquer problema com a sua família nós estaremos aqui para resolver”. No ano seguinte, 1982, fui para o seminário em Aparecida do Norte, da ordem diocesana, conhecidos como padres seculares. Meu primeiro ano de filosofia foi no Seminário Bom Jesus, mais conhecido como “colegião”.Éramos em 97 seminaristas oriundos de todas as partes do Brasil. Esse seminário foi construído pelo Cardeal Arcoverde, o projeto inicial era em forma de “U”, não conseguiram construir, ficou em forma de “L”. São três andares. O grupo de Piracicaba era composto por uns 8 a 10 seminaristas. Permanecemos lá por um ano. O bispo nos transferiu para a PUC de Campinas, onde fizemos Filosofia, o único de Piracicaba que permaneceu lá foi o Monsenhor Rubens, atualmente capelão no Lar dos Velhinhos.


Em que local esse grupo de seminaristas se hospedava?


O bispo já tinha construído o seminário de Santa Bárbara D`Oeste. Fomos morar em nove, todos os dias íamos para Campinas, em uma Kombi. Fiz filosofia e depois teologia, completando nesses dois cursos oito anos de estudos. Enquanto se estuda teologia, aos finais de semana o estudante vai para as paróquias, aprender com os padres. Ele faz o chamado “estagio pastoral”. Ele é apresentado como seminarista. De segunda a sexta nossa vida era ir até a PUC, voltar para o almoço, e a cada dia tinha uma atividade: limpeza da casa, compras para a nossa manutenção. José Maria de Almeida foi nosso reitor, era fantástico. Ele foi pároco na catedral de Santo Antonio em Piracicaba. Quando o aluno conclui o curso de teologia é feita uma consulta para os leigos, padres, daquela paróquia. Se nada vai contra a ordenação desse menino, se ele pode se ordenar padre, ou não.


O senhor foi ordenado em que dia?


Fui ordenado diácono a 11 de maio de 1988 em Santa Bárbara D`Oeste e sacerdote no dia 6 de janeiro de 1989 na Paróquia São Pedro, aqui no Paiero. No meu tempo de estágio pastoral trabalhei no bairro Jardim Europa, uma comunidade muito pobre. Não havia padre, apenas a freira Irmã Celeste, que admiro muito. Ela perguntou-me se não queria ajudá-la naquela paróquia, o padre vinha de Americana, que pertencia a outra diocese.


O senhor como padre passou a trabalhar em que local?


Entusiasmado pelo padroeiro da comunidade, São Sebastião, quando aceitei trabalhar lá, o padre que vinha de outra diocese deixou de vir e a irmã precisou ir embora. Acabei ficando com a paróquia. Isso no inicio do ano, no final desse mesmo ano Dom Eduardo disse-me: “Você será ordenado padre, irá para Piracicaba, para a paróquia Santa Catarina”. Expus ao bispo a necessidade de um padre na comunidade Jardim Europa, em Santa Bárbara. Acabei permanecendo lá como o seu primeiro pároco. Era tudo muito pobre, não tinha igreja, não tinha casa paroquial, tinham feito um porão onde sábado a noite era feito um baile para arrecadar fundos e domingo a noite era a missa. O bispo disse que estava com problema do outro lado da pista, no bairro Jardim Molon. ¨-¨-Estou sem padre lá, você irá assumir também aquela comunidade¨. Ele me deu uma Kombi velha, não havia igreja, fiquei com essas duas paróquias. A igreja do Molon ficava em uma comunidade com pessoas com maiores recursos, o Padre João Rodrigues, claretiano, que tinha saído, era um padre fantástico. Tinha deixado tudo encaminhado, as colunas da igreja levantadas, a estrutura metálica já estava paga, telhado pago, fechei a igreja, e já pudemos entrar na Igreja São João Batista. No Jardim Europa levantamos a igreja, lá foi a minha ordenação diaconal. Fazíamos mutirão aos sábados, os homens faziam e colocavam o concreto, tinha um pedreiro contratado que durante a semana fazia as caixas para concretagem, ia deixando tudo pronto para o mutirão ser realizado. As mulheres faziam lanches, café, sucos. Era fantástico, tínhamos 50,60, 100 pessoas fazendo o mutirão. O bispo determinou que eu fosse para o centro de Santa Bárbara, na Paróquia São José e ser o reitor do seminário. Continuei também como pároco no Jardim Europa. Em um ano conseguimos fazer a casa paroquial nessa comunidade, a igreja católica alemã mandou recursos, isso foi no final de 1990. Ao terminar a casa paroquial o bispo mandou um padre para lá, eu nem cheguei a usá-la. No meu tempo eu era reitor da filosofia e da teologia. Após três anos e meio no seminário e quatro anos e meio em Santa Bárbara o bispo disse: “Você vai para São Pedro!”. Aos 74 anos tinha falecido o padre Floriano Colombi, após 37 anos de trabalho naquela paróquia, a única para a cidade inteira. Muitos fiéis nunca tinham visto outro padre a não ser o padre Floriano. Quando cheguei foi uma novidade, eu andava de bicicleta, foi notícia até no jornal da cidade. Após um período de observação passei a propor mudanças. Adquirimos terrenos na periferia para construir as capelas. Após dois a três anos tínhamos na cidade sete comunidades, e na zona rural 14 comunidades, a zona rural é muito grande, São Pedro tem 600 quilômetros de município. Tive a graça de logo que cheguei lá, um padre já com certa idade, se apresentou: “Sou o Padre Orlando, tenho setenta e poucos anos, estou hospedado em Águas de São Pedro no Hotel do Dr. Villa que é muito meu amigo, faço tratamento nas águas. O Dr. Villa está arrendando o hotel, tenho que sair de lá”. Disse-lhe: “-O senhor vem morar comigo, ficamos 12 anos juntos”. Hoje ele deve estar com 87 a 90 anos, mora em Rio Claro. Todo padre recém ordenado Dom Eduardo mandava passar um ano comigo. Conseguimos fazer muita coisa em São Pedro. Permaneci em São Pedro por 12 anos. Teve ano em que a paróquia tocou cinco obras ao mesmo tempo.


O senhor é um tocador de obras?


Penso que patrimônio tem que ser cuidado. Todo dinheiro que entra deve ser imediatamente aplicado.


Após permanecer em São Pedro o senhor assumiu qual paróquia?


Houve a troca de bispo, assumiu o atual, Dom Fernando Mason. Segundo o Código de Direito Canônico, todo padre ao completar 75 anos de vida entrega a paróquia ao bispo. Dom Fernando recebeu a paróquia de São José, do Monsenhor Luiz Gonzaga Juliani e da Imaculada Conceição do Monsenhor Jorge Simão Miguel. Imagino que até mesmo consultando outros padres, o bispo decidiu pela minha vinda para assumir a paróquia Imaculada Conceição. Assumi em 26 de fevereiro de 2006.


O senhor tem tido uma postura cristã e sábia, mantendo a figura do Padre Jorge em primeiro plano carismático.


Eu o respeito muito, acho que ele tem uma história em Piracicaba, sempre atendeu ao povo com muito carinho, não negava nada.


O senhor deve ter tido muita satisfação ao assumir a Paróquia Imaculada Conceição, particularmente pelo seu histórico de vida.


Eu vivi aqui, participei do grupo de jovens, nossas reuniões eram na sexta feira às 23 horas, não tínhamos outro horário, eram feitas no prédio em que estamos neste exato momento. É uma satisfação muito grande poder estar aqui ajudando a comunidade, encontrando meus amigos do grupo de jovens, da Dedini. Sinto-me em casa. Há pouco tempo celebrei o casamento de um filho de um amigo que trabalhamos juntos na Dedini. Faço batizados dos netos dos amigos que trabalharam comigo. Temos duas comunidades apenas: a Capela São Luiz e quando cheguei depois das missões Redentoristas, nasceu outra comunidade, próxima a Praça Parafuso, que é a Santo Frei Galvão, primeiro santo brasileiro. È interessante observar que na Paróquia Imaculada Conceição temos participantes da cidade inteira. Outra observação é que maio deixou de ser o mês das noivas, embora haja celebrações. Mas de setembro até dezembro não temos mais vagas. Realizamos todos os sábados três a quatro casamentos. Há casamentos ás sestas-feira.


Como anda a religiosidade do católico?


Os que são conscientes de sua fé estão muito firmes. O católico só de nome ainda busca alguma coisa, seja para atender suas necessidades materiais, físicas. Ele exige uma resposta imediata ao seu problema. Pela minha experiência na Imaculada temos uma participação muito grande de fiéis conscientes.


Qual é a posição do Monsenhor Jorge hoje?


Ele é pároco emérito, isso significa que ele só não responde legalmente pela paróquia, mas tem todas as atividades que sempre exerceu.


Monsenhor Jorge é um corinthiano fervoroso, o senhor também o é?


Sou palmeirense! Há pouco tempo ele fez uma aposta com uns amigos, perdeu e teve que vestir a camisa do Palmeiras.






MARIA HELENA AGUIAR CORAZZA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 01 de setembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADA: MARIA HELENA AGUIAR CORAZZA
Maria Helena Aguiar Corazza nasceu em Piracicaba, no dia 12 de agosto de 1937, na casa situada a Rua Governador Pedro de Toledo, 673, centro, Piracicaba, a casa existe até os dias atuais e é ocupada pelo Yázigi. Filha de Jorge Aguiar e Maria Aparecida Vieira Aguiar, que está com 99 anos, Maria Helena tem os irmãos Maria Lúcia e Jorge Roberto. Aos dois anos mudou-se com seus pais para São Paulo, foram morar no bairro Aclimação, de onde retornou aos 18 anos quando contraiu seu primeiro matrimônio com Antonio Corazza Júnior, com quem permaneceu casada por 51 anos, quando ele faleceu. Tiveram quatro filhos. Jorge Aguiar tinha comércio calçadista no então elegante centro de São Paulo, na Rua José Bonifácio, Rua Benjamin Constant. Mais tarde foi proprietário da Casa Marabá, em Piracicaba. Sócia fundadora do Clube da Lady, Presidente da Academia Piracicabana de Letras, lançou seu quinto livro, onde reúne uma pequena parcela das inúmeras crônicas publicadas anos a fio. Trata-se do livro “Crônicas de Maria Helena”.


Quando a senhora se casou e retornou a Piracicaba estranhou o ritmo de vida com relação a São Paulo?


Mesmo morando em São Paulo mantinha laços estreitos com Piracicaba, era aqui que eu passava as minhas férias. A família Aguiar Jorge era muito conhecida em Piracicaba, meus tios, minha avó Francisca de Aguiar Jorge ( Avó Chiquinha), o avô era José Jorge. O nome do meu pai deveria permanecer como era: Jorge Aguiar Jorge, só que ele, talvez por razões de ordem prática, suprimiu a repetição do Jorge no fim do seu nome, ficando Jorge Aguiar. Com isso não tenho em meu nome o sobrenome Jorge que minhas primas carregam em seus nomes. Eu me formei como professora na turma de 1956, no Colégio Assunção, depois de casada, fui a primeira aluna casada a terminar o curso no Colégio Assunção. Depois veio Terezinha Ferraz Leite, transferida de outra cidade, também casada. Éramos como se fossemos uma atração, tanto para as freiras como para as meninas.


Qual é a origem do sobrenome Jorge?


Meus antepassados vieram de Damasco, capital da Síria. Todos os povos e países têm seus encantos e desencantos.


A senhora é religiosa?


Muito. Sou devota de Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Santa
Paulina a Primeira Santa Brasileira. Estudei no colégio em que ela viveu no
Ipiranga, minha mestra Irmã Célia Cadorin foi quem fez o processo de beatificação
e santificação de Santa Paulina. Escrevi muito, sobre a vida toda de Madre Paulina, publiquei ainda no tempo em que o editor do Jornal de Piracicaba era Joacyr Coury . Escrevi muito sobre o Padre Galvão.


Como surgiu essa inspiração para a senhora escrever?


Não sei precisar. Ainda criança, com nove a dez anos já tinha muita facilidade em escrever, nessa época fiz uma redação cujo título era “Uma Gota da Água”. No final, encerro o conto comparando a gota d’água com uma lágrima. Leio muito, li clássicos, obras de Jorge Amado. Comecei a fazer Yoga, mas tenho um temperamento irrequieto demais. Uma vez arrisquei a participar de uma aula, isso há muitos anos, fui constantemente abordada por um pernilongo. Como poderia fazer Yoga sendo atacada por pernilongo? Sou a mais agitada em casa, mais do que meus filho, netos.


Como Presidente da Academia Piracicabana de Letras a senhora sabe por que o brasileiro ainda lê pouco?


O fator principal é o custo das obras.


Então como escritora a senhora teve bons rendimentos financeiros?


(Após uma boa risada Maria Helena volta a abordar o tema). Conheço pessoas que ocupam funções braçais, mas que gostam muito de ler. Como essas pessoas de poder aquisitivo restrito pode adquirir obras que custam 30, 40, 60 reais? Há a facilidade do livro eletrônico, eu não gosto, para mim tem que ser escrito no papel. Quando encontro algo que me interesso no computador, eu imprimo. Atualmente estou na fase de ler autores hindus.


Frases de efeito, motivadoras despertam seu interesse?


Posso até eventualmente citar alguma frase em algum livro que escrevi. Nunca irei contestar. “Quem espera sempre alcança”, que a pessoa vá atrás então, se não for nunca irá alcançar. Sem luta você não consegue nada. A pessoa tem que agradecer a sua saúde, que já vem naturalmente. Tenho horror a frase: “Era feliz e não sabia.” Quando estou feliz, digo: “Estou mesmo muito feliz, que coisa boa!”. E espero estar sempre muito bem, pois se pensar ao contrário a pessoa fica mau de verdade. Meu primeiro marido Antonio (Toninho) Corazza Júnior aos 41 anos foi acometido de uma doença que abalou, tirou o sossego, mas prosseguimos por décadas, persistindo, acreditando, com muita fé, trabalhando muito. Após a descoberta da sua doença ele viveu mais 31 anos.


Alguns anos após o falecimento do seu marido a senhora contraiu segundas núpcias?


Sou casada com o Dr. Luiz Antonio Abrahão, tem 55 anos de participação na OAB de Piracicaba. Parte da sociedade acha que uma viúva deve ficar em seu canto, recolhida, em seu luto. Conheci pessoa que por 10 a 11 anos ficou de luto, usando só roupas pretas. Na minha opinião isso é fraqueza. Não é fácil enfrentar isso. No dia anterior ao falecimento do meu primeiro marido, fui até a capela do hospital, descarreguei toda a minha dor, a ponto de fecharaem a porta da capela para evitarem que outras pessoas me vissem tomada por um sentimento de muita dor, minha manifestação escandalosa de sentimento de perda.


A senhora acredita que ao enviuvar-se, a pessoa não de ve se isolar?


Não pode se isolar. Essa é a grande mensagem que passo em um dos meus livros, que não é uma obra de auto-ajuda e sim de alto astral. Há pessoas que nasceram com o estigma de serem vítimas. Gostam de viver da comiseração (compaixão) dos outros. Quem irá suportar uma pessoa choramingando em um canto? Talvez isso suceda por dois ou três meses, depois ninguém mais vai tolerar. Você tem que usar a sua própria força. O processo de fé é muito importante, não é ser piegas, ser ingênua. Não se pode questionar Deus. Nós estamos neste mundo, mas existem milhões de galáxias. É melhor não questionar Deus e sim Tê-lo como uma energia. Há em cada um de nós uma força muito grande e que veio de algum lugar. Observe, quando você tem um pensamento muito forte você consegue. Eu estava revendo um livro “Santa Teresa de Ávila”, eu estive em Avila, ela conseguia ganhar as coisas com os mantras (orações repetidas) que ela fazia: “ Vou conseguir, vou conseguir, vou conseguir...) É lógico que existem limites, se a pessoa estiver falecendo, no fim de sua vida, atingiu o seu limite. Você não tem essa força.


A senhora freqüenta regularmente a igreja?


Tanto eu como o Luiz freqüentamos aos domingos.


Com sua experiência de vida, passando por muitas mudanças ocorridas nesses anos todos, sob o seu ponto de vista isso foi bom ou tornou as pessoas mais individualistas?


Contra o tempo não se pode ir. Hoje tudo que acontece é sinal dos tempos atuais. Houve uma inversão de valores, de disciplina, hoje os pais muitas vezes temem em dizer algo a seus filhos, os filhos em contrapartida dizem o que querem à seus pais. Desafiam professores, afirmando que são eles, alunos, que pagam o salário do professor. Há algumas décadas os pais controlavam os filhos apenas com o olhar. Pedia-se a benção aos pais, tios, padrinhos, avós. Existia o respeito pelos mais velhos, atitudes cordiais e respeitosas, como levantar-se e dar o assento aos idosos, grávidas. Hoje se tiver uma idosa quase sem forças, homens fortes, meninos grandes e sadios, ignoram. Ninguém liga para mais nada. Do rigor extremo passou-se a liberdade sem responsabilidade, sem limites. São atitudes inadmissíveis, qualquer ser humano é merecedor de respeito.


A senhora vive de bem com a vida?


Vivo. Tenho um processo de fé. Se perder o sono na madrugada, o que raramente acontece, eu rezo o terço. Tenho a certeza absoluta de que quando terminar de rezar o terço já estarei dormindo. O terço é uma arma. As orações funcionam como mantras.


A humanidade necessita de uma higienização mental?


Está faltando esse “voltar ao outro”. Ontem estivemos em São Paulo, no trânsito percebemos a agressividade das pessoas, uns contra os outros, independente de idade, sexo ou condição social, há uma violência gratuita.


São pessoas mal amadas?


Mal amadas, mal resolvidas consigo mesmas. Uma pequena contrariedade é motivo de reações violentas. São pessoas que não se realizam de nenhuma forma. O ser humano está estressadíssimo, completamente sem paciência. Egocêntricos. Colocam todas as fichas em uma determinada direção. Isso amesquinha a pessoa. Não acrescenta. Isso o leva a fazer uso de subterfúgios. Aos totalmente desprovidos de elementos necessários a sua sobrevivência o caminho das drogas é uma fuga, aqueles que mesmo tendo recursos necessários e entram nessa situação são pessoas carentes de carinho, atenção. Eu distribuo sorrisos, tapinhas afetuosos, abraços, atenção. Com a Dona Madalena Salati e mais 25 pessoas eu tomava conta da Casa do Bom Menino, eu passava a mão na cabeça de uma criança, dava-lhe atenção. Se um dia ele se tornasse um marginalizado, iria lembrar-se de que um dia havia recebido atenção e carinho de alguém. Isso poderá fazer com que ele imagine que existe pelo menos uma pessoa boa. Carinho é tudo. Toque é tudo. Existem muitos estudos e literatura sobre o poder do toque. Até os muito idosos sentem essa necessidade de afeto, quando vou a uma determinada casa de idosos procuro dar-lhes meu melhor sorriso. Confortá-los. Conheci e pratiquei o método Reiki que é uma prática espiritual esotérica baseada na canalização da energia universal através da imposição de mãos com o objetivo de restabelecer o equilíbrio energético vital.


A senhora considera-se uma pessoa extremamente ativa?


Sou. Até mesmo em reunião de condomínio, onde sou presidente da mesa, as medidas a serem tomadas procuro decidir de forma prática e objetiva. Sem muitas delongas.


Na cozinha como é a Maria Helena?


Se precisar ninguém passa fome. Criei meus filhos, cozinhava, dava aulas de piano. Da cozinha muitas vezes corrigia “– Fá sustenido!” ou -Si Bemol” Faço um bife muito bom, dizem que é melhor do que os outros, quando chega um neto, se não tenho nada pronto faço o “Arroz de Vó”. Tenho todos os molhos em pote assim como caldos de sopa, tudo natural. Atualmente consumimos muitas saladas e frutas. Mas já fiz muito quibe, principalmente o quibe cru, um dos pratos preferidos em casa. Um prato que faz muito sucesso é o mafufo que são charutinhos com folha de uva. Coalhada, homus, homus tahine, babaganuche, adoro halawi (doce árabe com pasta de gergelim).


A senhora tem o hábito de usar o Masbaha (Terço árabe)?


Não uso esse terço em particular, embora o tenha.


As pessoas não dizem que a sua vida são só rosas?


(Maria Helena ri.) Não existe isso! Eu sempre penso, mesmo nas piores situações: “- O melhor ainda está por vir!”


A mulher é cerne da família?


Com certeza! Uma mulher forte é um baluarte. Leva o marido, leva a família. O retorno sempre vem, e muito mais forte. Quando sinto alguma dificuldade com alguém peço a Nossa Senhora que toque o coração dessa pessoa. Isso dá certo.


Como a escritora Maria Helena vê o crescimento de Piracicaba?


É irreversível, o contrário seria dizer que Piracicaba deveria ficar presa, sem caminhar. Piracicaba cresceu de forma encantadora. Lembro-me da minha terra maravilhosa, com ruas ainda de terra, havia ribeirão a céu aberto, com suas pequenas pontes. Hoje ela cresceu, com um trânsito intenso, do bairro São Dimas até o bairro da Paulista pode-se levar quarenta minutos no percurso. Mas Piracicaba é uma cidade linda, muito bem tratada, nos dois últimos governos trabalhou-se muito nesse sentido. Há necessidades a serem resolvidas na saúde, na educação, só que essas necessidades só são quase inexistentes em países com alto grau de desenvolvimento. Mesmo nesses países há alto grau de suicídios, desgraças. Nesses países deveriam trabalhar mais a espiritualidade, isso no meu ponto de vista.


Suas memórias ruins, problemas, vão para o lixo?


Lembro-me de que devo confiar no Senhor de todo meu coração. Entrego a ele todos os meus problemas. Aplico isso. Converso com Deus. Não estou questionando onde ele está. As pessoas que deixam esta vida deixam também suas energias, e isso ajuda muito. Acho que essa energia não acaba nunca. Como disse São Agostinho: “-Eu apenas estou do outro lado do caminho!”.




sábado, agosto 25, 2012

JOÃO CARLOS TEIXEIRA GONÇALVES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 25 de julho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: JOÃO CARLOS TEIXEIRA GONÇALVES
Professor universitário leciona marketing e propaganda na UNIMEP, jornalista, profissional de marketing, promotor de eventos, assessor empresarial e político, João Carlos Teixeira Gonçalves vivenciou e participou de grandes eventos culturais e artísticos ocorridos nas ultimas décadas em Piracicaba. Carlinhos Gonçalves como é popularmente conhecido, transitou pelas diversas mídias da nossa cidade, em períodos de grande efervescência cultural, onde as mudanças ocorridas no planeta refletiam em nossa cidade. Pode-se dizer que foi um período único e memorável, um divisor de águas no aspecto de hábitos e costumes. João Carlos é piracicabano, nascido a 24 de outubro de 1951, casado com a jornalista Eliana de Fátima Caro Gonçalves, que administra o Sebo 33 situado na Avenida 31 de Março, 812. Tiveram duas filhas, Vanessa e Ohana. fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Moraes Barros, sua primeira professora foi Ângela Maria Consolmagno. Morou junto a Escola Industrial (Escola Técnica Estadual “Cel. Fernando Febeliano da Costa) onde ocorriam os maiores jogos de basquete do interior do estado, as grandes estrelas do baquete nacional Maria Helena, Heleninha eram de Piracicaba. Em frente a escola havia o popular bar do Seu Moretti, era ponto de parada do bonde.
Você lembra-se de uma história envolvendo um professor e o bonde?
Diz a lenda, que o Professor Zocante, pessoa de estatura avantajada, quase dois metros de altura e forte como um touro, pilotando uma motocicleta possante, ao que dizem uma Harley Davidson, chocou-se contra o bonde descarrilando-o. A linha do bonde é diferente da linha de trem, a superfície de contato é menor, a roda do bonde descarrila mais facilmente.
Onde foi o seu primeiro emprego?
Com sete a oito anos, comecei trabalhar no armazém de Romeu Meira Barros, situado na Rua Alferes José Caetano entre a Rua Monsenhor Rosa e Rua Regente Feijó. Ele foi um dos primeiros proprietários em Piracicaba da lendária motocicleta Vespa. Ele era janista “roxo”, fazia campanha política para Jânio Quadros, colocava várias crianças na Vespa, cada uma com uma vassoura na mão. A vassoura era o símbolo adotado por Jânio. Romeu teve também a famosa Lambreta, as entregas do armazém eram feitas por essas motocicletas. Trabalhei por alguns anos nesse armazém. Decidi estudar na Escola Indústrial, isso foi em 1968, montamos o Grêmio Estudantil da Escola Indústrial. Um dia fui levar material do Grêmio Estudantil para ser publicado no “O Diário”. Entrei, foi paixão a primeira vista, conheci a clicheria, o funcionamento do jornal, conheci seu proprietário, Cecílio Elias Neto. A partir de então não saí mais de dentro de “O Diário”. Nesse mesmo período fui levar uma nota para ser divulgada pela Rádio Educadora de Piracicaba, lá conheci Pantaleão Perillo Júnior, que tinha vindo da Rádio Tupi, tinha sido uma das primeiras vozes a falar na televisão brasileira. Na Educadora também estava Roberto de Moraes Sarmento. Junto com Fausto Guilherme Longo montamos o programa “Postal Sonoro do Brasil” criado por Moraes Sarmento, por duas horas enfocávamos regiões do Brasil. Os tipos de música de cada região. No primeiro ano Moraes Sarmento juntamente conosco apresentava o programa. Foi ele que nos ensinou a fazer o roteiro, apresentação e toda produção de um programa de rádio. Após esse período ele saiu e deixou Fausto e eu apresentando o programa. Permancemos por mais de três anos na rádio.
Nesssa época onde funcionava “O Diário”?
Ficava na Rua Prudente de Moraes, no local onde hoje é o banco HSBC. Ao lado existia em um sobrado o escritório do famoso advogado Dr. Cunha, onde muitos profissionais foram seus assistentes. No outro lado do prédio de “O Diário” ficava a residência e consultório do Dr. Samuel de Castro Neves. Na época de “O Diário” um fato que nos marcou, foi um menino que lá chegou e em pouco tempo tornou-se o redator chefe de “O Diário”, era Evaldo Vicente. Mais tarde esse menino passou a ter o seu próprio jornal, “A Tribunade Piracicaba” que depois passou a se chamar Tribuna Piracicabana. Evaldo é um dos patrimônios que ajudaram a fazer a imprensa piracicabana.
Quais foram suas primeiras atividades no “O Diário” ?
Iniciei trabalhando na revisão, começava as 22 horas e ia até o fechamento do jornal, 3, 4, 4 horas e 30 minutos. Fatos que aconteciam as 2 horas da manhã, no outro dia eram notícias publicadas. Isso no tempo do linotipo e da clicheria, gravava-se em zinco. (Clichê nada mais é de que um carimbo muito usado no ramo gráfico. Ele pode ser confeccionado nos seguintes materiais: Zinco, com espessura 1.5mm ou 3mm, Nylon, Cyrel, Silicone dependendo de como for a impressão). Com chumbo eram feitas as letras, no zinco as fotografias. Tempo de José Maria Ferreira, Padre José Maria de Almeida, Alceu Marozzi Righetto, Adolpho Queiroz, Carlos Colonnezzi que é um grande produtor de televisão, produziu Silvia Popovic, Globo Reporter, Araken Martins, Zago, Edicel Clemente, Carlos Moraes Júnior, Manoel Sampaio Mattos (Mané Cambito) ele tocou no conjunto “Os Cambitos”. Os grandes políticos freqüentavam “O Diário”. Ali conheci todos aqueles que de certa forma influenciaram politicamente os destinos de Piracicaba. “O Diário” foi um celeiro intelectual, por ali passavam os intelectuais e políticos da cidade. João Chiarini conheci quando eu era ainda menino, ajudei-o a fazer a mudança dos seus livros, demoramos uma semana. Ele mudou da Rua Regente Feijó esquina com a Rua Alferes e foi para a Rua Santo Antonio esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, onde hoje há um edifício. Transportamos os livros em uma carriola, lotando duas garagens e prateleiras até no banheiro. Não tinha onde colocar livros, mais tarde ele foi acomodando em seu devido lugar. Conheci no “O Diário” o grande presidente do XV de Piracicaba. Romeu Ítalo Rípoli, assim como o Comendador Humberto D`Abronzo que era concunhado de Romeu Meira Barros.
Suas atividades nos meios de comunicação começaram com o Grêmio Estudantil?
O Grêmio foi o ponto de partida para mim e para Arari Sanches Correia, hoje ele tem uma clínica de fisioterapia no Vale do Paraíba. Eramos empreendedores, ele foi presidente e eu diretor social, depois fomos diretores do Clube Cistóvão Colombo. Alguns anos mais tarde montamos uma empresa, a Aracar Produções Artísticas, foi a primeira empresa a trazer o circuito universitário para o interior paulista. Marcos Lázaro foi o empresário que lançou grandes artistas brasileiros, quando ele pensou em criar o circuito universitário fomos trabalhar com Marcos Lázaro. Arari e eu fomos à São Paulo, apenas com nossa determinação, sem recursos.financeiros. Marcos Lázaro deu sua autorização para trabalhar com o circuito universitário, que era uma forma de trazer os grandes artistas para o interior do estado, espetáculos que o interior nunca tinha visto. Trouxemos á Piracicaba espetáculos só vistos em grandes centros, eram apresentados no Teatro São Jose, vinculado ao Clube Coronel Barbosa. O diretor social era Mário Monteiro Terra,sempre foi muito receptivo às nossas iniciativas, ele tinha entre suas atividades a de cronista social, foi Secretário de Turismo. Outra pessoa que foi fundamental nesse processo de trazer grandes artistas e espetáculos á Piracicaba é o Fagundinho, Luiz Antonio Lopes Fagundes, também conhecido como “Touché”, ele foi Secretário do Turismo, sempre teve uma visão aberta ao crescimento de Piracicaba.
Você trouxe nome e espetáculos famosos.
Trouxemos Tom Zé, Dzi Croquettes, Rita Lee, Toquinho e Vinicius, Maria Creuza, Gal Costa, Taiguara, Elis Regina, Secos e Molhados, Pepita Rodrigues e Dolabela, Martinho da Vila através do Mario Terra que tinha a coluna “Quem é Quem”. Ele fazia um baile no final do ano, eu era produtor e estava junto com o Mário, trouxemos Pedrinho Mattar ao piano, Sandra Brea cantando e dançando, Miele contando piadas, cantando e dançando. Fizemos o show no Teatro São José, estavam presentes 2.500 pessoas, o início do show seria no domingo as 19 horas e 30 minutos, eles não tinham chegado, e nem telefonado, não existia telefone celular na época. Cecílio Elias Neto perguntou-me: “Você tem certeza de que contratou esse show?” As 20 horas e 45 minutos chegaram Miele e Pedrinho Mattar. A Sandra Brea chegou a 21 horas e 30 minutos. O Tatão Galdino era produtor de arte do MASP, eu trabalhei com ele, produzíndo shows domingo a tarde, no vão do MASP, lembro-me de alguns artistas como Jorge Mautner, Made in Brazil, Joelho de Porco, David Gordon, Taiguara. Através do Tatão Galdino é que conheci Ney Matogrosso, ambos dividiam um apartamento. Trouxemos peças como Jesus Cristo SuperStar, Hair, eram peças de sucesso na Broadway, foram espetáculos revolucionários. Fui diretor de teatro do Teatro Universitário ´ Luiz de Queiroz´ (TULQ). Fernando Muralha era diretor de teatro do TULQ, quando ele saiu o grande diretor de novelas da Globo, Silvio de Abreu dirigiu uma peça de teatro no TULQ em Piracicaba. “Metamorfose” de Kafka foi dirigida por Francisco Ferreira, irmão de José Maria Ferreira. Trazíamos esses artistas à Piracicaba, geralmente quando terminava o show íamos jantar, conversar, a própria Gal Costa depois do show levamos para conhecer a Rua do Porto, o Bar do Tanaka, ela adorou. Ronaldo Ciambroni é um autor, diretor e ator foi premio de teatro infantil, quando vinha a Piracicaba ficava na minha casa. Eu trouxe várias peças infantis para o Teatro São José. Alceu Righetto foi o primeiro secretário da Ação Cultural de Piracicaba, correu pedaço por pedaço do Teatro Municipal, para concluir o teatro, eu o acompanhei, fui seu braço direito conheço cada palmo daquele teatro.
Você era um agitador cultural?
Era! A Galeria Colombo foi criada por mim. Um dia disse ao presidente do clube, Domingos Cristofoletti, como o nome do clube era Clube Cultural e Recreativo Cristóvão Colombo, se tinha apenas a parte recreativa. Eu era Diretor Cultural do Cristóvão, criei uma biblioteca onde recebia mais de 30 best sellers por semana, além dos clássicos que fui adquirindo e incorporando, transformando-a em uma excelente biblioteca. No porão do clube, na Rua Governador Pedro de Toledo havia uma sauna, a sede campestre já estava sendo construída, Dividimos a sauna pela metade, contratei um arquiteto, fizemos uma grande reforma, transformando aquele espaço em galeria de arte. Através de uma conexão com o médico Humberto Consentino, que residia no Rio de Janeiro, conseguimos trazer grandes nomes da arte plástica do Brasil, muitas exposições deitas aqui eram noticiadas no Rio de Janeiro. Grandes nomes de Piracicaba como Ermelindo Nardin, Joca Adamoli, Irmãos Dutra, Olavo Ferreira, Manoel Rodrigues Lourenço, Roberto Wagner, além de muitos outros artistas expuseram suas obras ali. Criei o Cine Colombo, fui á São Paulo e comprei o telão móvel logo que foi lançado. Fazíamos projeção de filmes uma vez por semana. O telão era acoplado a um carrinho com o projetor. A frequencia de pessoas era muito significativa.
Você viu o Salão de Humor de Piracicaba ser criado?
Sou testemunha do nascimento do Salão de Humor, ele nasceu no “O Diário” em conversa entre Adolpho Queiroz, Carlos Colonnesi, com a idéia do Cera (Antonio Roberto Cera), o pessoal queria montar um salão de história em quadrinhos. Juntamente com Alceu Marozzi Righetto decdiram montar o Salão de Humor, o primeiro foi montado nas instalações vazias do Banco Português.
Além de professor você exerce outras atividades?
Dou assessoria a várias empresas de transportes, metalúrgicas. Trabalhei muitos anos assessorando políticos, prefeitos da região de Piracicaba.
Você é uma versão cabocla de Duda Mendonça?
Não sei dizer, posso apenas afirmar que se for não incluo rinhas de galo e nunca tive mensalão, atualmente não atuo nessa área. Fui o primeiro assessor de marketing de Piracicaba. O Boscariol foi asessor de imprensa na Prefeitura. Comecei na Prefeitura com João Hermann Netto. Depois espalhei pela região toda a promoção da imagem do prefeito na mídia da capital. Não se restringia a uma assessoria de imprensa. Era o marketing político Trabalhei em Santa Bárbara D`Oeste, Rio das Pedras, Charqueada.
É um trabalho difícil?
É complexo, só quem faz sabe como agir, tem que conhecer o pensamento do prefeito, da população, qual é a forma de agir da mesma, o que a Camara dos Vereadores irá falar a respeito do assunto. Assessoria não é apenas acompanhar o político, ajudar a cumprimentar as pessoas. Hoje trabalho com empresas, tenho que saber o que o dono da empresa pensa, quais os canones (regras) da empresa, hoje já existe até disciplina estudando essas regras de empresas, chama-se Cultura Organizacional.
As empresas estão mais preocupadas em criar e manter uma imagem pública?
Muitas ainda não, as multinacionais já trazem essa cultura do seu país de origem. Existe algumas empresas de capital nacional que trabalham sua imagem. A empresa de médio porte está começando a exercer esse trabalho. Ela não é só tomadora da comunidade, tem que trazer algo de volta para a comunidade. É a contrapártida. Essa ajuda pode ser de várias formas e não pode passar desapercebida. Ela pode ajudar no meio ambiente, ou patrocinando uma orquestra sinfônica, orquestra de câmara, um grupo de teatro, são fomas que ajudam a comunidade a se desenvolver.
Um fato muito comum nos Estados Unidos são as grandes somas doadas ou deixadas em herança para universidades, fundações, instituições beneficentes. Isso ocorre no Brasil?
Ja vi coisas assim mas muito pouco, é da nossa cultura. Já vi até fatos inversos, da pessoa deixar algo em benefício a uma instituição e terceiros ligados a família depois dizerem que ele estava fora da sua razão quando doou aquilo. Nos Estados Unidos a pessoa deixa em testamento fundos por exemplo, para o Instituto de Pesquisa do Cancer.
Como anda a cultura em Piracicaba?
Estou vendo muitos mesmos, sempre. Deveriam surgirem outros, movimentos culturais, intelectuais. O SESC, SENAC, SESI ajudam a fomentar a cultura. Do que Piracicaba já teve o que existe hoje é muito pouco. Atualmente o individualismo prevalece. Em “O Diário” criei o Prêmio Sérgio Cardoso para os atores de teatro que se destacavam naquele ano. Esse prêmio durou quatro anos, depois acabou. Por dois anos fiz o concurso “A Mais Bela Voz Estudantil”, para revelar cantores.
O que foi o Jardim da Cerveja?
Foi a maior casa show do interior paulista. Uma das maiores casas show do Brasil. O gerente era Cláudio de Brito, tinha a experiência de ter administrado grandes casas show de São Paulo. Pelos próximos 20 anos acredito que Piracicaba não irá ver uma casa com essa mesma estrutura. Tinha a capacidade para 2.000 pessoas. Onde hoje é o CLQ-Objetivo era o Jardim da Cerveja. Tinha dois salões, o salão de baixo era frequentado por casais, dentro do salão havia barricas nas laterais, como se fossem quiosques, com mesas, as mesas eram nas barrica de cerveja, no centro havia mesas também. Havia um palco enorme, uma loja de souvenirs alusivos ao Jardim da Cerveja, vendiam bonecas e bonecos de 30 centímetros, caracterizados como alemães. Canecas á semelhança de um bagaço de cana de açucar, cinzeiros. Havia um marketing muito bem feito. Todos os funcionários, garçonetes, garçons, caracterizados com trajes tipicos da Alemanha. Como conjunto quem inaugurou o Jardim da Cerveja foi “Os Cambitos”: Manoel Carlos Sampaio Mattos,o Mané, Abdo Germano Maluf, Artur Rebocho e José Roberto Rebello. Para dar suporte a banda foram contratados músicos de alto nível. Usberti era um deles, tocava saxofone. João Francisco de Mattos tocava xilofone, piano. Traziam grandes sucessos para se apresentarem no Jardim da Cerveja. Havia show até de patinadores profissionais. Sérgio Reis no auge do sucesso com “Coração de Papel” veio se apresentar. Grandes bandas se apresentaram no Jardim da Cerveja. O salão de cima era para os mais jovens, o casal ia com os filhos, se os filhos não quizessem ficar naquele ambiente mais clássico, iam para esse salão de cima onde tocavam os conjuntos mais modernos. Anexo ao prédio,na esquina com a Avenida Independência, havia uma casa muito bonita, essa casa era uma época o Chick-Inn, montaram no andar superior uma boate chamada Barbarella, baseada no filme com esse nome, estrelado pela Jane Fonda. Era uma boate com nível de São Paulo.
O Jardim da Cerveja teve algum concorrete?
Depois do Jardim da Cerveja criou-se o Jequibau, ficava ao lado do Clube 13 de Maio, era de propiedade de Pedro Fúlvio Morganti, sobrinho de Lino Morganti, proprietário da Usina Monte Alegre. O Pedro Fúlvio criou o Jequibau para concorrer com o Jardim da Cerveja. Ele trouxe do Jardim da Cerveja o Cláudio de Brito. Foi uma casa que trouxe a Banda do Canecão, Chris Montez, Ronald Golias. Todo fim de semana tinha um artista de renome nacional ou internacional. Era frequentado pela elite de Piracicaba. Quando Pedro Fúlvio vendeu passou a ser Zimbaloo.
Qual é o motivo de ter cessado esses shows?
O que posso dizer é que foram épocas em que Piracicaba tinha uma vida noturna equivalente a da capital, guardada as devidas proporções. Francisco Ferreira em seu livro “Noites de Pira”, narra que tinha conjuntos musicais fervilhando em Piracicaba. No Jequibau vinha os Brazões, Papel Carbono, Fry Bananass que tinha entre seus integrantes o arquiteto Celso que se radicou em Piracicaba.
Como surgiram as gincanas em Piracicaba?
A Rádio Difusora de Piracicaba, “A Emissora das Grandes Realizações”, criou essas gincanas, em uma época abençoada pelos deuses. A gingana era feita passando uma lista com várias tarefas, que teriam que ser cumpridas pelas equipes. Por exemplo: trazer um corvo, iam todos ao matadouro buscar um corvo. Trazer uma caixa de fósforo de papel de 1962 com a estampa do Hilton Hotel. A equipe vencedora ganhava bons prêmios, tinha até automóvel como prêmio. Começava de manhã e durava o dia todo, era uma correria em Piracicaba. Comecei com a Eky-Pé-Chato, o Peru era o chefão da equipe. Fui para a Equype-Lanka quem tomava conta era o Seu Ito Marcon. Paulo Markun veio depois para trabalhar no jornal de João Hermann. As gincanas acabaram, essas equipes transformaram-se em escolas de samba. Décio Picinini vinha participar do carnaval em Piracicaba, saíamos juntos na escola de samba, eu tocava caxeta, agogô. Ele fazia parte do jurado do Programa Silvio Santos. Quando alguém daquele grupo nosso falece o Décio vem a Piracicaba. Quando fui Secretário de Turismo em Santa Bárbara D`Oeste, o prefeito era Hermínio Romano e seu braço direito era Maurício Cardoso, que escrevia Mini-Notas, promovi o primeiro carnaval com decoração de rua naquela cidade, que teve um jurado profissional.
Você participou da Banda do Bule?
Fui um dos fundadores da Banda do Bule. Embaixo da Rádio Difusora tinha um bar de propriedade do Balancini, chamava-se Café do Bule. Ali nos reuníamos, com Alceu Marozzi Righetto, Idico Peligrinotti, Paulinho que trabalhava na Secretaria do Turismo, Leopoldo que esculpia em pedaços de tábua, e outras pessoas que passavam por lá. Pelo fato de trabalhar a noite toda no “O Diário” frequentávamos muito o Café do Bule.
Se voce estivese morando em uma capital, estaria possivelmente comandando alguma estrutura de grande porte?
Acredito que se morase no Rio de Janeiro ou São Paulo, seria quase um fato natural estar inserido no meio cultural dessas cidade. Mesmo morando em Piracicaba, que é o lugar que amo, conseguia ter conexões com pessoas de grande visibilidade nacional. Recebi diversos convites para ir trabalhar em Ssão Paulo, eu era arrimo de família, não tinha coragem de deixar meus pais que já estavam com idade avançada.
Você tem um hobby?
Sou filatelista, numismata. Além de trabalhar com livros, gosto de livros. Tenho um livro sobre relações públicas. Publicado. Estou elaborando outros dois.



























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