sexta-feira, dezembro 07, 2012

MONSENHOR LUIZ GONZAGA JULIANI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9 de dezembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/




                                                                                                                                  Foto by J.U..Nassif

ENTREVISTADO: MONSENHOR LUIZ GONZAGA JULIANI
Monsenhor Luiz Gonzaga Juliani nasceu em Capivari, a 2 de junho de 1927, filho de Thomaz Juliani e Maria Maschietto Juliani. Seu pai cuidava do sítio situado a uns quatro quilômetros de Capivari de propriedade do seu avô, Miguel Juliani e da sua avó Luiza Armelim Juliani pais de seis filhos, sendo que um deles era filho adotivo. Miguel Juliani, irmão mais velho também se ordenou padre claretiano. Ainda menino, Luiz Gonzaga permanecia a maior parte do tempo na casa de seu avô, em Capivari. Fez a primeira comunhão, foi coroinha na Igreja Matriz São João Batista. O curso primário e o curso preparatório para ingressar no ginásio foram realizados em Capivari na Escola Municipal Augusto Castanho, sua primeira professora foi Dona Judith.


Após fazer o curso preparatório qual foi a etapa seguinte dos estudos do senhor?


Fui fazer o chamado Seminário Menor da Imaculada Conceição de Campinas, diocesano. Aos 13 anos ingressei no seminário.


O que o senhor sentiu ao deixar sua casa e ingressar no seminário?


Fui coroinha, ajudava na igreja, meu irmão mais velho já era padre, incentivado pelos padres da paróquia, meu ingresso no seminário deu-se com naturalidade. Sem dúvidas que sentia saudades de casa, a vida no seminário era de dedicação total. Aos finais de ano tinha férias para passar junto a família. No seminário encontrei colegas, muito trabalho, e com isso acabei me acostumando.


Havia a prática de futebol?


Joguei futebol, geralmente como goleiro.


No seminário menor eram realizados quais cursos?


Eram feitos o ginásio e o colegial. Naquele tempo o estudante do seminário menor não era dispensado de servir o Tiro de Guerra. Tive que fazer o Tiro de Guerra com cursos voltados a ir combater na guerra isso foi em 1945. Estudava, fazia o Tiro de Guerra e Exército juntos. O Brasil estava em guerra, novos contingentes estavam sendo preparados. Os que se encontravam na frente de batalha voltariam e nós íamos ser mandados à frente de combate. Morávamos no seminário em Campinas, no bairro Cambuí e íamos para o quartel, na saída para São Paulo. Sexta feira a noite íamos a um treinamento no mato onde permanecíamos até domingo.


Como religioso qual era seu sentimento em ter que enfrentar uma guerra?


Estávamos sendo preparados para isso.


Havia um conflito de quem passava o dia estudando para amar o próximo e a noite tinha treinamento para matar o próximo?


Éramos muito jovens, estávamos mais preocupados com nossos estudos, nossa vocação. Sequer imaginávamos em combater de fato. Alguns seminaristas mais adiantados e padres já estavam na guerra como capelães. Em 1945 formei-me como atirador. No ano seguinte entrei para o seminário maior onde estudei filosofia e teologia em São Pulo, no bairro Ipiranga. Lá permaneci estudando por sete anos: três de filosofia e quatro de teologia. Fazia apostolado, o Ipiranga era um bairro considerado pobre, ensinávamos catecismo para as crianças de bairros carentes. Assim íamos treinando o exercício de catequese com as crianças da Vila Nair, Vila Gumercindo, Vila Carioca.


Em que ano o senhor ordenou-se padre?


Foi a 8 de dezembro de 1952, na Catedral de Piracicaba pelo primeiro bispo de Piracicaba, Dom Ernesto de Paula No próximo dia 8 de dezembro completarei 60 anos de sacerdócio. Trabalhei com todos os bispos que estiveram em nossa cidade. Após ser ordenado, fiquei um tempo auxiliando monsenhor Rosa (Monsenhor Manoel Francisco Rosa). Santa Bárbara D`Oeste era uma paróquia só, estava crescendo muito, o padre Francisco Michele que estava lá já estava meio cansado, o bispo disse-me que eu iria auxiliá-lo, permaneci lá até o final do ano, quando houve a festa do padroeiro. Trabalhamos em dobro, a paróquia estava crescendo bastante, era uma paróquia só. Trabalhamos muito. O bispo estava providenciando a fundação do seminário menor em Piracicaba, o padre Francisco Michele estava recuperado, ele veio embora eu fiquei sozinho na Paróquia de Santa Bárbara. A primeira construção que administrei foi a construção da Casa Paroquial, até então não existia. Ao concluir as obras da casa paroquial, só faltava a pintura, o bispo mandou-me de volta para o seminário e também ser coadjutor da Igreja Imaculada Conceição, na Vila Rezende. O pároco era monsenhor Romário Pazzianoto. Lá funcionava o seminário, o movimento era muito grande, lecionei quando iniciou em 25 de março de 1954. No início tínhamos uns doze seminaristas, quando deixei o seminário tinha 83 seminaristas residentes. Ficava onde hoje funciona o Centro Pastoral, na esquina. No seminário fui professor, diretor espiritual, reitor, sempre ajudando na paróquia. A Vila Rezende tinha uma única paróquia, era muito grande. Tinha muitas capelas na área rural.


Qual era o meio de transporte utilizado pelo senhor na época?


Usava muito o bonde.


O senhor pagava o bonde ou tinha alguma cortesia?


Naturalmente que pagava. Eu era capelão das Irmãs de Jesus Crucificado, do Dispensário dos Pobres, antigamente elas ficavam na Rua Tiradentes, em uma casa velha, depois foram para o prédio que fica na Rua do Rosário, hoje propriedade da Renovação Carismática; Logo pela manhã, cedinho, eu ia rezar a missa para as irmãs; Depois voltava e ficava na paróquia ajudando o padre, atendendo os fiéis.


Até que ano o senhor permaneceu na Paróquia da Vila Rezende?


Em 1957 o pároco estava cansado, afastou-se e eu fiquei cuidando da paróquia da Vila Rezende. Permaneci lá até 1963. Em 1958 passei a ser reitor do seminário, permaneci por cinco anos e meio como reitor. Coordenei a construção do seminário novo do Bairro Nova Suiça. Foi uma correria danada para levantar aquele prédio. Eu usava uma caminhonete 1946, andava mais no céu do que na terra! Aprendi a dirigir devagarzinho. Era o famoso “queixo-duro”. (sem direção hidráulica).


Quanto tempo demorou a construção do seminário?


Uns dois anos e meio. Não tínhamos recursos, precisei falar com o bispo para realizar um empréstimo na Caixa Econômica Estadual (depois Nossa Caixa Nosso Banco). Foi um belo “nos acuda” para conseguir o empréstimo, na época era aplicada a Tabela Price (A aplicação da Tabela Price impõe excessiva onerosidade). A Caixa Econômica tinha um prédio com 14 andares em São Paulo, o processo tinha que andar nos 14 andares para conseguir o emprestimo.Uma vez por semana ou mais, eu pegava o onibus das 9 horas, chegava ao meio dia, se não atrazasse, Ao meio dia tomva um lanche e ficava na Caixa Econômica até as seis horas da tarde. Empurrando o processo para ver se andava. Adhemar de Barros era o governador, foi um período em que alguns funcionários assinavam o ponto e iam embora. Ensineio-os a trabalhar! Eu cheguei a dizer: “Viajo quase oito horas entre vir e voltar de Piraicaba a São Paulo, e o senhor aqui a assinar o ponto e ir embora! Não senhor! Não sai daqui enquanto não assinar!”


Como o bispo via o seu trabalho?


Dom Aniger Francisco Maria Melillo era o bispo diocesano. Ele via que eu estava trabalhando na construção do seminário, na pastoral vocacional como reitor e ainda cuidava de duas capelas rurais: Tanquinho e Usina Costa Pinto além da quase paróquia da Usina Monte Alegre. Infelizmente quando venderam a usina deram a capela também. (Seu interior é decorado com afrescos pintado por Alfredo Volpi ). Foi uma injustiça muito grande o fato da capela ter sido vendida. Onde foi construído o seminário anteriormente havia apenas uma casa, que era utilizada no período de férias dos alunos que estudavam no seminário da Vila Rezende. Era uma região rural, sem energia elétrica, era utilizado lampião, não havia agua encanada como é hoje, ela era puxada de um córrego que passava perto, com um motor a gasolina trazia água para o seminário. Para providenciar a luz elétrica fui até a empresa responsável, era a Light, ficava em Campinas, São Paulo. Tive também uma ajuda de Dom Ernesto de Paula, que nessa época tinha renunciado e estava em São Paulo. A eletrificação rural deve-se a diocese e ao seminário. Naquele tempo além de não ter eletricidade na área rural, ela estava racionada nas indústrias, elas paravam as cinco horas da tarde. Imagine como foi difícil conseguir a eletrificação rural. Dom Ernesto tinha consagrado a chacara a São José, tudo foi conseguido com muito poder da oração. O dinheiro destinado a construção tive que gastar para levar a luz até o seminário. Os vizinhos ajudaram muito. A eletrificação rural não foi levada pela prefeitura, foi o seminário que levou. Isso foi em 1962. O tronco que fornecia energia era do seminário da diocese. Os políticos me procuraravam, a prefeitura não tinha licença para levar energia elétrica aos sítios. Na ocasião eu assinei como responsável junto a empresa de energia elétrica. A diocese estava sem bispo, depois que Dom Aniger foi eleito. A prefeitura precisava da minha autorização para levar a luz aos sítios por onde passava a rede. Quando pedi ajuda para levar a energia tive muita dificuldade, depois muitos queriam partilhar da energia. Fiz um contrato com a prefeitura, na condição de que colocassem telefone automático, pedi uma estrada para entrar no seminário, tinha que dar uma volta enorme, em dias de chuva era muito difícil chegar ao seminário. O vizinho da frente, cujo terreno foi cedido para a entrada ao seminário, era o Dito Gica, pai do Frei Tito. Coloquei no contrato que a preeitura deveria zelar pela conservação da estrada. A água resolvi montando uma estação de tratamento de água. O Dr. Serra fez o projeto para nós. Puxava água do córrego, mandei fazer dois tanques com capacidade para 10.000 litros cada um, coloquei filtro e tinha que fazer tratamento. Nos últimos anos a prefeitura ligou a água da cidade.


Para ir a esses locais como o senhor fazia?


Ia de onibus, quando chovia ficava na estrada, era tudo terra.


Em que ano o senhor assumiu a Paróquia São José?


Foi no dia primeiro de janeiro de 1964. Aqui era como um sítio, subia da barroca vaca, cabrito, as cabras tinham uma predileção pelas toalhas da igreja, que na época era composta pelas paredes e cobertura. Porta de madeira de construção com cadeado. Cada vez que dava uma ventania arrancava a porta. Era tudo terra, inclusive ao redor da igreja. O mato crescia bastante, a terra é roxa, de boa qualidade, só que não precisava mandar cortar, as cabras e vacas comiam tudo.


Foi o bispo que pediu para que o senhor assumise a paróquia?


Ele que pediu o sacrifício de assumir mais esse desafio.


Ao chegar aqui, ver o estado das coisas, qual foi a sua reação?


Eu estava acostumado a trabalhar, em Santa Bárbara trabalhei bastante, não havia casa paroquial, morava no asilo de idosos. A escola no tempo do seminario foi muito boa para aprender a viver na pobreza como em uma situação melhor. Quando vim para Igreeja São José não tinha um lugar para morar. Fiquei seis meses na casa do padre Jorge. Aluguei uma casa na Rua Sud Mennucci esquina com Avenida Dr. Edgar Conceição, onde permaneci por quatro anos e meio. Nesse período, no início eu tinha uma Kombi, velha, caindo aos pedaços.


Como era a religiosidade do povo do bairro?


A população frequentava a Igreja dos Frades. Após instalar aqui a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, incluindo a instalação de um quadro vindo da Espanha, começou a haver uma mudança de comportamento dos paroquianos. Esse quadro foi instalado em setembro de 1964. Com a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, aumentou a frequencia de fiéis. O povo da paróquia é muito bom, muito religioso. Logo que assumi a Paróquia de São José, o Comurba caiu, em 6 de novembro de 1964, da maioria dos que faleceram 47 eram da paróquia, tive que socorrer as famílias dando-lhes conforto espiritual e providenciando alimentos, muitos tinham perdido o provedor do seu sustento. Foi feita uma cooérativa, todo o mundo ajudou, da paróquia, da cidade. Foi triste, trabalhoso e preocupante.


O senhor realizou muitas ações para atrair fiéis, inclusive apreentando um programa em uma emissora de rádio?


Até hoje mantenho a participação na programação da Rádio Difusora. O CESAC - Centro Social de Assistência e Cultura foi uma forma de enfrentar a pobreza que era muito grande. Antigamente onde é a Vila Cristina era mais conhecido como Risca-Faca, uma enorme pobreza, casas feitas de tábua. Para aquele povo todo tinha apenas um bico de luz e uma torneira de água, a prefeitura tentou instalar um poço artesiano, não deu certo, deixaram a torneira para fornecer água ao povo daquela região.


No alto da Avenida Raposo Tavares existe uma cruz que é vista de longe.


É um marco em homenagem as missões realizadas pelos missionários redentoristas, eu os trouxe para dar uma mexida em toda a paróquia. Sozinho eu não estava dando conta, a paróquia tinha se tornado muito grande. Além da Igreja São José eu tinha 26 a 27 capelas. A paróquia ia até o Rio Tietê, vizinho a Anhembi. Era quase uma mini diocese. Consgui que os missionários redentoristas realizassem um trabalho muito bom por três meses. O encerramento das missões foi com essa cruz, que eu pedi no Dedini. Foi uma cruz tão pesada que os homens que subiram com ela no morro tiveram dificuldade em caregá-la. Foi instalada em 19 de março de 1979. Dia de São José. Todo ano, como penitência na via sacra vamos até lá. Nunca medi a distância, deve ser de uns dois quilômetros, tem uma subida bem acentuada. Para evangelizar o povo, consegui com os missionários estigmatinos que a cada ano eles ficassem uma semana em cada capela. A capela situada no Barreiro Rico era muito longe, pertencia ao municipio de Anhembi, a divisão da diocese não era por municipio e sim por acidente geográfico. Pedimos a Santa Sé que estabelecesse o limite por municipio, o que foi autorizado. Essa capela passou para a diocese de Botucatu, isso depois de eu ter assistido por mais de vinte anos aquela localidade, a estrada era de terra.


O senhor esteve com o Papa?


Estive com o Papa João Paulo II várias vezes. Em uma dessas ocasiões concelebrei a missa com ele em sua capela particular. Toda quarta feira o Papa dá audiência pública. Em algumas dessas ocasiões pude comprimentá-lo. No jubileu, 50 anos de sacerdócio, em 2002, viajei para Roma e também estive com o Papa. Ele me acolheu, abençoou.


Como ele o chamava?


Dizia: “ Brasiliano! Brasiliano!”; sempre dava um terço como presente. Com Bento XVI estive apenas próximo dele, na Itália.


O senhor está completando 60 anos de sacerdócio, como é denominado esse marco histórico?


É o Jubileu de Diamante. A comemoração maior foi no Jubileu de Ouro, com uma semana vocacional, chamando os jovens para a vocação sacerdotal. Agora teremos o Tríduo vocacional preparatório do Jubileu,nos dias 5,6 e 7 na nossa matriz. São tres dias preparatórios vocacional. Dia 8 de dezembro de 2012 será a festa de Jubileu de Diamante, com missa festiva, as 10 horas da manhã. O bispo estará presente, assim como os padres da diocese os amigos e familiares.










domingo, dezembro 02, 2012

Ana Marly de Oliveira Jacobino

Escrevi uma carta para agraciar a coluna em que João Umberto Nassif me presenteia toda semana, através da Tribuna Piracicabana (eu, uma ávida leitora). Está no anexo e gostaria muito que vocês a publicassem. Obrigada!
Ana Marly de Oliveira Jacobino



Carta para João Umberto Nassif



Ler é uma fonte de prazer! Boas leituras, então, abrem portas para o discernimento, além de... nos fazer viajar na máquina do tempo da nossa memória. Fui convidada a prefaciar o livro de uma escritora, eu, a conheci num momento inusitado, enquanto, descascava maçãs para um evento solidário. Ela, ali quieta, e, eu, ao seu lado descascando caixas de maçãs. Silêncio! Perguntei o seu nome. Ela me responde em castelhano. Para que, a conversa fluísse, questiono se nasceu na Argentina. Delicada me conta que é nicaragüense. Confesso para ela a minha grande admiração por um poeta da sua terra Ernesto Cardenal Martinez, pela sua participação junto à resistência à ditadura feroz de Somoza. Conversa vem, conversa vai ... o mundo literário nos envolvendo... declaro amor a outros poetas da sua terra... Ruben Dario, leitor de Machado de Assis, a quem Dario conheceu pessoalmente, e, por conseqüência, escreveu um lindo poema-homenagem ao nosso Bruxo do Cosme Velho. Enfim, conto de como, muito jovem tomei uma forte admiração pelo “Movimento Revolucionário da Nicarágua”. A coragem dos seus membros de lutar contra uma ditadura sangrenta explorava o meu ideal juvenil.

Bem! Abri o boneco do seu livro... impactante! Não parei de ler! Ali estava a história moderna da Nicarágua, desde a ocupação britânica até as ditaduras que mancharam o seu solo, com o sangue do seu povo, marcado a ferro e fogo e catástrofes... as mortes aumentaram com o terremoto de 1970... Eu tinha uma preciosidade diante dos meus olhos... um livro pronto para tornar-se um filme cinematográfico. E, a escritora, agora, uma grande amiga foi personagem de toda essa história.

Na Tribuna de 01 de Dezembro de 2012 (sábado) encontro um pouco desta história escrita por João Umberto Nassif, e, como ele foi feliz ao contá-la. Detalhes preciosos da vida de uma mulher de coragem, abraçada a causa solidária do seu povo, massacrado por ditadores... “Lágrimas e Risos”, o seu livro foi marcado na sua coluna com competência de quem sabe a importância da história da América Latina forjada por Golpes e Ditaduras ferozes, alimentadas muitas vezes pelas mãos da CIA (Serviço Secreto Americano). Parabéns, João Umberto pela sua entrevista com Minia de Los Angeles Reyes Ramires, a nossa Angelita, uma heroína de carne e osso... nos dando a honra de residir aqui na nossa Piracicaba! Parabéns, a Tribuna Piracicabana por publicar a cada semana as histórias desses heróis da modernidade, que vivem tão perto de nós. Parabéns, João Nassif e Tribuna por estes valiosos resgates históricos!





ANGELA REYES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de dezembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADA : ANGELA REYES
Minia de Los Angeles Reyes Ramirez sempre foi conhecida como Ângela ou Angelita. Uma forma carinhosa de tratá-la bem como mais prática do que a chamar pelo seu nome civil completo. Angela Reyes escreveu a obra “Lágrimas e Risos”, um livro que prende a atenção do leitor do começo ao fim. O que aparenta ficção foi parte da sua realidade. Com habilidade descreve fatos, lugares e pessoas algumas vezes preservando a identidade com a simples troca de nome ou localização. Angela Reyes foi interna em um colégio de freiras até sua mocidade, quando desafiou conceitos ultraconservadores, enraizados na sociedade de então. Foi combatente na linha de frente contra o regime ditatorial de Anastasio (Tacho) Somoza García presidente do seu país, Nicaraguá. Uma luta sangrenta, onde Angela prestou serviços voluntários na Cruz Vermelha Internacional. Foi colaboradora ativa do grupo contrário a Somoza. Considerada de grande importância para a guerrilha que lutou e depôs o regime de Somoza. Nascida a 2 de agosto de 1938 em Acoiapa (município) , no departamnto (esatado) de Chontales na Nicaragua. Filha de João Dolores Reyes e Gregoriana Ramirez. João Dolores Reyes contraiu o seu primeiro matimônio com Gregoriana, tiveram quatorze filhos, sendo que cinco faleceram logo ao nascer, permanecendo oito filhos homens e Angêla a única filha. Sua mãe morreu de parto. Seu pai se casou novamente, sem que tivesse nascido nenhum filho desse matrimônio. João Dolores Reyes casou-se pela terceira vez, tornando-se pai de mais dois filhos. Em seu quarto matrimônio teve mais quatro filhos, totalizando vivos, 15 filhos.







Qual era a atividade do pai da senhora?


Ele tinha fazenda de gado de corte. Era tudo muito rústico, onde morávamos não havia energia elétrica, não tinha água potável, não tinham estradas. Eram vários municípios do departamento de Chontales, isso há 74 anos. Era uma vida muito tranqüila, os habitantes eram parentes ou amigos. Havia muita paz, são lembranças lindas, na minha infância tomava-se banho no rio, meu pai armazenava água em alguns tonéis, dali pegávamos água para tomar banho. Era tudo muito simples. A comida tinha como matéria prima o milho e o leite. As receitas caseiras além desses dois ingredientes incluíam arroz e feijão. Éramos uma comunidade onde havia ajuda mútua, éramos solidários. Na última vez em que estive na minha terra natal senti muita tristeza, o chamado progresso, civilização, acabou com tudo isto faz tempo. Foram construídas estradas, vieram muitas pessoas de outras localidades que passaram a tratar os nativos da terra como inferiores.









A senhora estudou onde?


Eu vivia no povoado, viajava para a fazenda nas férias. Minha mãe faleceu quando eu tinha 3 anos. Tive uma infância solitária, minha grande amiga era a Idália, que mais tarde foi morar nos Estados Unidos. A mãe dela era costureira, sempre nós duas estávamos embaixo da mesa onde ela cortava o tecido, com os pedacinhos fazíamos vestidinhos para as bonecas. O Lago Nicarágua (ou Lago Cocibolca ou ainda Mar Dulce) é um lago com uma área de 8.624 km² da Nicarágua. É o maior lago da América Central e o segundo maior da América Latina, um pouco menor que o Titicaca. Para ir da minha cidade até Granada não existiam estradas, a travessia era feita em um barco enorme, meu pai levava o gado no barco para vender em Granada; quando eu era pequen ia cm meu pai. A travessia era linda. Eu me enamorei da lua, da água, do vento, da natureza. Aquels noites iluminadas só pela lua Eram barcos a vapor que dixavam uma esteira na água onde passavam, Quando completei 10 a11 anos meu pai internou-me em um colégio de freiras da ordem salesiana, filhas de Maria Auxiliadora, na cidade de Granada, uma cidade muito linda, turística existente na Nicarágua. Foi fundada pelos espanhóis. Ali vivi por oito anos, saí com dezoito anos.


Qual foi a sensação da senhora logo que foi para o colégio interno?


Chorei e vi meu pai com as lagrimas escorrendo em seu rosto. Sou grata ao meu pai por ele ter me levado a esse colégio, ali eu estava protegida, as freiras deram-me uma boa educação. O internato era muito rígido. Usávamos um uniforme de manga comprida, A blusa era branca e a saia era azul. Havia uma golinha e um lacinho azul. Havia o uniforme de gala, sempre azul. Era mais elegante, de outro tecido,usávamos uma boina, para a festa da pátria, para desfilar. No dia da diretora encenávamos peças de teatro, eu adorava o teatro. A formação nesse colégio era integral. Além das matérias básicas como matemática, geografia, gramática, história, ciências naturais. Uma vez ao ano nos mandava a lavanderia, e não existia máquina de lavar roupas. Naquela época a intenção era formar uma mulher completa para que no futuro fosse uma perfeita mulher do seu lar. Formar a futura dona de casa.


Quantas internas havia naquela época?


Havia três grupos eu estive nos três. Quando entrei fiquei nos grupo das pequenas, todas com no máximo 11 a 12 anos. Depois passei ao grupo das que tinham meninas de 12 a 15,16 anos. Passei ao grupo das que faziam o colegial.


Dormiam todas juntas?


Cada grupo, tinha seu dormitório, dormíamos com mosqueteiros, camisolas de dormir cumpridos, não podíamos comunicar-nos com a companheira ao lado. No dormitório era proibido falar. Uma freira, assistente do grupo, caminhava entre as internas calculava até que todas estavam dormindo, Ela então fechava uma cortina, onde ficava seus aposentos.


Como era o banho?


Era uma fila enorme para tomar banhos. Cada grupo tinha seu lugar de banho, vestidas com uma camisola com mangas. Havia uma chave central para abrir a água, a freira abria a água, tínhamos que estarmos prontas para molhar-nos. Ela então fechava a chave um pouco, para esfregarmo-nos. Depois abria para enxaguar e aquilo era muito rápido. No internato tudo era comandado com toque de sino. E com horário. As vezes acontecia de sairmos ser ter tido tempo de molhar a camisola.


Não tiravam a camisola para banhar-se?


Não! Não! Tínhamos uma bata para sair dali, a porta onde ficava o chuveiro individual não podia ser trancada. Não havia nem tranca. Era a mentalidade da época. Íamos a missa todos os dias, acordávamos as cinco e meia da manhã, As seis e meia estávamos assistindo. a missa. Depois da missa íamos tomar café. O café era composto por leite, com u pouquinho de feijão fritos;. Na Nicarágua se come. de manhã. Havia pessoas que comiam arroz e feijão pela manhã. Quando vim morar no Brasil, no inicio sentia falta do feijão no café da manhã; tínhamos ainda uma banana e dois pães, que não eram grandes,. Algumas meninas cujos pais residiam próximos em suas visitas levavam manteiga, geléia. Passei oito natais sem presentes, sem festas. Havia a missa com cantos, corais, nós íamos a missa da meia noite, depois íamos jantar, onda Havia uma comida típica da Nicarágua, o nacatamal. É de origen indígena, com farinha de milho, diferente da processada no Brasil.


Ao sair do internato qual foi sua próxima atividade?


Sai com o curso colegial completo. Fui para a mina terra, meu pai era super-ciumento., não podía sair a rua, não tinha amigas e muito menos amigos; ele dizia que não existía amizades entre homens e mulheres.

Atuamente o que a senhora pensa a respeito?
Acho que existe! Acho que o amigo homem para mulher é melhor do que a amizade entre duas mulheres, porque não há competição. Meu pai não permitiu que eu freqüentasse uma universidade. A universidade estava na capital, era frequentada também por elementos do sexo masculino; Ele dizia que eu estava preparada para casar-me. Ser doce para meu marido. E para ter filhos; Interiormente eu era rebelde. A cultura da época era o chefe da família jamais ser contestado; minha ilusão era estudar jornalismo na universidade. Ou literatura. Eu disse-lhe que queria ser independente, ele montou-me uma lojinha voltada a mulheres. Eu mão me sentia realizada como pessoa Ele quis me casar por duas vezes com filhos de amigos do mesmo partido político: conservadores. Nas últimas férias eu estava na capital, na casa de umas amigas da minha madrasta, conheci um jovem que estava na casa de cima. Eu gostava de chineses, sua cultura, quadros, pinturas. Chamava-se Ramon Lai. Apaixonamos-nos, tivemos que lutar muito para romper as barreiras existentes na época, dede a aceitação do meu pai até cenas descritas em meu livro “Lágrimas e Risos”. Em de janeiro de 1959 casamo-nos. Ramon Lai faleceu em 28 de novembro de 1996. Tivemos cinco filhos: Ramon que mora no Rio Grande do Sul. Dulce Maria que mora em Miami. Andrés formado pela Esalq e mora comigo em Piracicaba. Meying e Lucien.










Quantos livros a senhora já escreveu?


Na Nicarágua publicar um livro tem um custo muito alto. Porém escrevi muitos artigos para jornais, fiz muito crítica contra a ditadura de Somoza.


A senhora participou da revolução que depôs Somoza?


Participei, nunca matei, nunca peguei em armas. Escondi muita gente procurada. Fui militante de esquerda.Meu marido não se metia em política.


Como ocorreu a vinda da senhora ao Brasil?


Meu filho mais velho, Ramon havia concluído o colegial. Todos os meus filhos tinham sentimento revolucionário como a mamãe. Eu tinha medo que o meu filho fosse para as montanhas com os guerrilheiros. Também a guarda repressora da ditadura obrigava a lutar com eles. Eu estava como se diz no Brasil: “Se parar o bicho come, se correr o bicho pega”. Uma das minhas filhas treinou na guerrilha. Eu era membro da Cruz Vermelha, dava apoio logístico. O primeiro movimento revolucionário começou em 1964. Era um movimento de muita conversa e atentados onde nada acontecia a Somoza. O forte da guerra iniciou em 1977 para triunfar em 1979.


Em que ano a senhora chegou ao Brasil?


Foi em 2001. Quando o governo revolucionário venceu, principiou a alfabetização do povo. Meu filho Andrés esteve ensinando na selva. E Dulce Maria também. Ele não podia sair do país se não constasse que ele havia alfabetizado. Andrés veio estudar na Esalq em Piracicaba.


Quanto tempo a senhora foi militante?


Sempre.









Qual foi a ação mais arriscada que a senhora vivenciou?


Estávamos preparando na capital, Manágua para combate. Estávamos formando centros de pronto socorro. Preparávamos em bairros, esses centros. Tínhamos códigos para telegrafo e para bater na porta de outro militante. Com firmeza, Angelita mostra a seqüência de golpes com os nós dos dedos. Trocávamos esses códigos de um dia para outro. Uma noite chegou um companheiro e me disse: “-Companheira, a senhora pode levar uma caixa de medicamentos ao Bairro Lomalinda?”. Respondi que sim, era só colocar no porta malas do carro. Havia barreiras com guardas que vistoriavam os veículos. Chamei uma amiga, sempre com código, Não podíamos viajar a noite porque havia toque de recolher. Na manhã seguinte, umas oito horas da manhã, saímos, quando chegamos ao centro cívico onde se situavam diversos ministérios, estavam os militares. Com aspectos de quem passou a noite em claro. Eu sempre carregava no porta-luvas, cigarros, fósforos, balas, bolachas, doces. E uma garrafa térmica com café.
Quando chegamos ali disse “Oh muchacho! ( Oi moço!). como vocês estão?” Um deles disse: “Aqui estamos a noite toda, não vieram nos render, ou seja fazer a troca da guarda, Estamos com fome”. Disse-lhes: “Não se preocupem! Tenho bolachas, querem um cafezinho!?” Desci do carro e os servi. Olharam o porta luvas, viram a bolacha se alegraram.Dei-lhes cigarros. Disseram-me: “A senhora vai abrir o porta malas!” Respondi: “-Claro, mas toma antes o cafezinho, fuma o cigarrinho!” assim se passou, eles não pediram para que eu abrisse o porta malas. Se abrisse iriam ver muitos produtos médicos e sabiam para onde iriam. Perguntaram para onde eu estava indo, respondi que ia para Lomalinda, levar pãeszinhos torrados para onde estavam as crianças. Quando cheguei, bati no portão, uma voz me perguntou seu eu trazia tortilhas, disse-lhe que não, estava levando pão torrado. Entramos, sentamos, conversamos, Alguém disse vamos tirar os produtos médicos do automóvel. Eram munições e armas! Eu poderia ter sido morta no carro. Sempre Deus me protegeu.










sábado, novembro 24, 2012

JOSÉ ADEMIR CARLONI (MIKA)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: JOSÉ ADEMIR CARLONI (MIKA)


José Ademir Carloni, o Mika é proprietário de um estabelecimento comercial onde além dos produtos que comercializa, destaca-se numerosas fotos do XV de Novembro de Piracicaba. A princípio pode-se imaginar que é mais um apaixonado pelo time. De fato é e inclusive por anos a fio defendeu no gramado a camisa do “Nhô Quim”. Mika foi uma das estrelas do Corinthians, jogou ao lado de grandes astros como Rivelino, na época em que o folclórico e estimado presidente era Vicente Matheus. Tem a sabedoria daqueles que tratam o estrelato do passado com a dignidade que merece. Jogou nos maiores estádios do país, com milhares de torcedores observando cada detalhe. Soube reconhecer o momento em que deveria deixar o futebol profissional. Muitos esportistas ao apagarem-se as luzes da fama não sabem como trabalhar com a situação. José Ademir Carloni com muita determinação iniciou-se na área comercial, obtendo sucesso e reconhecimento. Nascido em Jaú a 29 de janeiro de 1953, é um dos nove filhos de Luiz Carloni e Emília Grava Carloni.


Qual era a atividade do seu pai em Jaú?


Meu pai era exímio comerciante, ele tinha uma loja com dois toldos e quatro portas, um sinal de prosperidade se comparado a muitos estabelecimentos mais acanhados, típicos da época. Ele tinha uma forma peculiar de apresentar os produtos, ficavam expostos em frente a loja, dependurados nos toldos. Naquela época os cavaleiros vinham do sítio para comprar sapatões, botas, que ele fabricava no fundo da loja, auxiliado por um funcionário. Morávamos no mesmo prédio em que havia a loja, e em função de dar espaço para a loja, a área residencial era pequena para família tão numerosa, sempre fomos muito unidos, até hoje.


Você ajudava na loja também?


Todos os irmãos ajudavam. Em Jaú tinha uma quadra de futebol de salão. Todos os dias Jonas Eduardo Américo, o Edu ponta esquerda do Santos, que é cerca de dois anos mais velho do que eu, jogávamos. O seu pai, que chamávamos de Seu General, formava um time para jogarmos Eu jogava na defesa, ele jogava mais na frente. A nossa infância inteira jogamos futebol.. O tempo que sobrava nós jogávamos, na hora do almoço, a tarde. Jogava descalço. Quando meu pai passou a fazer sapatão, eu era um jogador magrinho, tinha mais agilidade. Jogávamos com sapatão de sola de pneu, na quadra. Com 14 anos eu já tinha carteira de trabalho assinada, trabalhava em uma loja de tecidos,o proprietário era Felix Letaif, família tradicional de Jaú. A nossa família era muito grande, trabalhando em outro emprego eu complementava a renda.




Era comum a prática de esporte na família?

Todos os meus irmãos jogavam muito bem futebol, principalmente os dois irmãos mais velhos. Eu ia sempre “na cola” do meu irmão Jorge Roberto Carloni, que era uma estrela do futebol em Jaú. Na época o XV de Jaú havia paralisado suas atividades, as equipes de futebol amador ganharam destaque. Meu irmão era capitão do Torino Futebol Clube. Foi nesse time que me consagrei campeão da cidade, do Estado, no futebol amador.


Quem o convidou para ir jogar no Sport Club Corinthians Paulista?
Foi o Dr. Geraldo Jabur, na época ele já era um influente conselheiro do Corinthians. Ele tinha me conhecido na partida final do Estado. Eu estava jogando na Rua Javari, no campo do Juventus, contra a equipe da Máquinas Piratininga. Foi um jogo difícil, nós ganhamos de 3 a 1, sendo que eu fiz dois gols. Tinha um “olheiro” do Corinthians, logo fui levado para o Corinthians. Na época eu tinha 18 anos, em 1970. O Corinthians tinha Rivelino, Zé Maria, Vaguinho, Aladim, Tião, Buião. Adãozinho. Já fui morando no alojamento, dentro do Parque São Jorge, onde inclusive havia um restaurante. Vivi ali uns cinco anos.







Como era o presidente Vicente Matheus?


Foi um grande trabalhador para o Corinthians, seu irmão Isidoro Matheus o assessorava. Além do notável advogado Dr. Geraldo Jabur, tenho-o como um grande amigo, ele me ajudou bastante no Corinthians. Criou-se certo folclore em torno da forma simples de Vicente Matheus se expressar, fruto da sua personalidade. Ele era um apaixonado pelo Corinthians.


Como você era conhecido no Corinthians?


Chamavam-me pelo meu nome, Ademir. Eu jogava com a camisa número 5 ou 4.


Quando você entrou pela primeira vez no campo para disputar uma partida jogando pelo Corinthians qual foi a sua sensação?


Sou corinthiano, minha família toda sempre foi corinthiana. Em Jaú me mandaram entrar em um carrão dizendo que eu estava contratado pelo Corinthians e á noite já joguei contra o Nacional de Água Rasa, com todas aquelas estrelas do futebol. Saí de Jaú, tinha aqueles jogadores como ídolos, personagens de álbum de figurinhas e já a noite estava jogando com eles. Foi muito repentino, quase inacreditável. Entrei jogando no quadro principal.










Como era conviver com Rivelino?


Rivelino é uma pessoa muito doce, brincalhão. Amável, ele que era a estrela principal. Ele tinha um chute muito forte, era a chamada “Patada Atômica”










O salário atingia cifras elevadas?


Como fui sem empresário, assim como outros jogadores, quem fazia o salário eram os presidentes do clube. É muito diferente do que é hoje. O jogador de futebol treina cedo e a tarde, recebe ordens como um funcionário. Não é como treinar em uma academia, ao sentir-se cansado simplesmente para. Não pode parar, o preparador físico ganha para aquilo. Ele tem que mostrar serviço, para que dentro do campo o jogador renda e que fique claro que pelo menos na preparação física o jogador foi devidamente trabalhado.







Lá você estranhou o fato de ter roupeiro e outras facilidades?


Era tudo muito bem organizado. Em determinada época chegou um treinador polêmico, o Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, ele queria que estivessemos as sete horas da manhã dentro do campo. As seis e meia da manhã íamos tomar o café, era uma mesa que eu nunca tinha visto, Tinha de tudo, todas as espécies de frutas, achocolatados, biscoitos, bolachas, lanches diversos. Eu pensei que se o jogador igerisse aquela quantidade e varedade de alimentos como iriaa entrar no campo. Ele afirmava á todos que tinham que se alimentarem muito bem porque o treinamento iria ser duro. Ele fazia um verdadeiro banquete. Só que não deu certo por muito tempo, tinha uns que ficavam um pouco mais na mesa. Não cheguei a excursionar fora do país. Eu estava relacionado na delegação que iria para o Japão, o Eurico iria ser cortado, o que não aconteceu. Eu estava com o terno preparado, acabei não indo. Quem tinha feito o terno foi o grande estilista Thomazin, que se tornou meu amigo e sempre que posso converso com ele. Na época os jogadores que não estavam relacionados para jogar no time principal jogavam no time dos aspirantes. Todos os times grandes faziam esse campeonato dos aspirantes. Uma espécie de segundo quadro, onde havia muita fera. Joguei um bom tempo nesse segundo quadro, todo ano saia uma peneira dali. Jogadores que vinham com um sonho muitas vezes nem chegavam a jogar. Cada treinador tinha um estilo próprio, era difícil jogar em um time grande.


Você jogou contra grandes nomes do futebol brasileiro?


Joguei contra praticamente todas as feras do futebol. No São Paulo tinha o Chicão, Edson, Terto, jogamos muitas vezes contra o Murici. No Palmeiras tinha Alfredo, Luiz Pereira, Zeca, Eurico, Leivinha. Essa rivalidade entre Corinthians e Palmeiras sempre houve.


Qual é a sensação de estar em um campo de futebol, você com uma bola no pé, milhares de pessoas observando, uma responsabilidade muito grande?


É uma questão muito interessante. Muitos torcedores não sabem, mas os grandes atletas já estão jogando desde os 12 anos, em nenhum momento ele irá sentir-se estreiando, ou irá tremer diante de um público enorme. Ele já tem a vivência de seis a sete anos de clube, já se acostumou faz parte da vida dele. Se você quer ser juiz de direito, mesmo que leve 100 anos, um dia será juiz de direito. Se quiser ser médico, mesmo que demore 100 anos um da será médico. Ser um artista como jogador de futebol é um dom. Não adianta querer ensinar um garoto a ser jogador de futebol. Se ele não tiver a aptidão natural, o dom, ele nunca será um bom jogador de futebol. Nem que ele frequente a escola do Zico. Nos dias atuais quem não gostaria de ter em sua família um jogador de futebol? Todo mundo queria.


Você pegou uma época boa?


No aspecto financeiro não. Nunca cheguei a fazer publicidade de algum produto, o marketing com jogador de futebol era muito raro. Por isso digo que os jogadores merecem o que ganham, são os empresários que fazem o salário deles. Valorizam. Antigamente o jogador sentava-se a mesa com o presidente de um clube para fazer o seu salário, ele estava sozinho. Os presidentes sempre tiveram muita habilidade em manipular, com isso o jogador acabava se iludindo com o que estava sendo oferecido e assinava o contrato. Hoje o jogador nem participa da negociação, só vai para assinar o contrato. Ficou mais profissional. O Neymar que é a estrela principal do futebol mundial, tem atrás dele Ronaldo Fenômeno que sabe de tudo e tem uma grande equipe dando-lhe suporte.


O Ronaldo têm se revelado um grande empresário do esporte?


Ele foi muito feliz em ser o grande craque que conhecemos. Um dom que Deus lhe deu, ser um matador, com uma velocidade impressionante. Como empresário torcemos para que tenha bons resultados dos seus investimentos.


Todo atleta tem uma característica própria, qual era a sua?


As minhas características eram a velocidade e impulsão. Por ser um jogador de baixa estatura eu era bastante explosivo. Tinha uma impulsão muito grande, fora do comum. Os jogadores laterais tinham que ser muito rápidos. O time que não tiver dois bons laterais não irá chegar ao ataque nunca. Eles desafogam o meio de campo, desafogam os pontas de lança que jogam na frente do time.


Quando você jogava no Corinthians em alguma partida sentiu que arbitragem interferia contra o time?


No caso do Corinthians não prejudicava. Como todos os outros times grandes, se houve alguma interferência foi a favor desses times. O famoso caso da “Máfia do Apito” revelou fatos que já ocorriam há muito tempo. A presença da televisão inibiu bastante as distorções. No Brasil é muito difícil enganar um torcedor, todo mundo conhece futebol, tem o dom de ser treinador.


Recentemente o Neymar chutou um pênalti que lhe valeu muita critica, qual é o seu diagnóstico a respeito?


É muito difícil falar sobre pênalti. Todos os grandes batedores de pênalti acabam errando. Isso não ira tirar a credibilidade dele, às vezes basta bater mal na bola. Quem tem que bater o pênalti é o diretor do clube de futebol, é uma responsabilidade muito grande. Se ele marcar o gol não terá muito mérito, mas se errar a cobrança é alta.


Você chutou muitos pênaltis?


Eu batia pênalti, nunca cheguei a errar nenhum. Batia bem na bola e batia forte. Nunca fui um batedor muito clássico, daqueles que sabem deslocar o goleiro. Eu visava um canto e chutava bem forte. Tem jogador que tem uma visão maior, bate, dá paradinha, deixa o goleiro se deslocar primeiro para depois ele bater. O goleiro é o único que ganha com o pênalti. Se ele não pegar ninguém irá falar nada, mas se ele defender estará consagrado. Grandes goleiros se consagram defendendo pênalti.


Chegou a estudar o comportamento de goleiros?


Não. Estudava as gravações do jogo de um ponta. Via que ele fintava pelo fundo e saia para dentro, outro fintava para dentro e saia pelo fundo. Naquele tempo já se estudava. Hoje os treinadores dispõem de muitos recursos tecnológicos para suas análises. Atualmente o futebol é muito mais tabelado, antigamente era mais cruzamento,
Linha de fundo e cruzamento. Hoje os jogadores são mais habilidosos em termos de espaço, antigamente éramos mais habilidosos em termos de campo, geralmente o meia-esquerda era mais habilidosos. Os outros praticamente só carregavam o piano. Hoje cada jogador é especialista em sua posição e o espaço diminuiu bastante, é uma correria muito grande, mas todo jogador habilidoso desequilibra. Tem que proteger bem a bola e tocar rápido.


Qual foi o jogo onde ganharam com a goleada mais expressiva?


Foi um jogo onde o Corinthians ganhou de 7 a 0 do Ribeirão Preto. Saimos consagrados até pela torcida adversária. O Corinthians só saia escoltado quando perdia dentro do Pacaembu.


Em que ano você saiu do Corinthians?


Fiquei até 1975, foi quando vim jogar no XV de Novembro de Piracicaba, o presidente era Romeu Ítalo Ripoli, uma pessoa muito inteligente, de raciocínio rápido, brigava pelo XV. A estrela principal do time era ele. Tínhamos um time muito bom. Nos campeonatos nacional, quando chegávamos a grandes estádios, de grandes capitais, notava-se uma aglomeração, parecia que estava ocorrendo alguma briga, era todo mundo aplaudindo o Rípoli, ele brigava contra a federação em nome dos times menores. A federação fazia resultados, prejudicando os times pequenos. Hoje melhorou muito em função da presença da televisão nos estádios.







No XV você permaneceu até que ano?


A primeira vez que joguei no XV foi em 1972, o time estava mal das pernas, foram me buscar no Corinthians. Fui muito bem sucedido aqui, fiz uma ótima campanha, o XV estava para cair, conseguimos nos classificarmos. Eles não conseguiram comprar o meu passe eu voltei para o Corinthians. Em 1975 vim em definitivo para o XV, onde joguei até 1981, como lateral direito. Disputei três campeonatos nacional. Joguei de quarto zagueiro, em um campeonato nacional ficamos em oitavo lugar com todo assalto que havia em cima de nós. Era um roubo descomunal em cima da gente. Ganhamos de todos os times grandes, ficamos invictos em treze partidas, acho que nenhum time faria isso hoje.













O Rípoli costumava dar um bom bicho aos jogadores?


Ele foi excelente, tinha jogos em que ele via que o juiz tinha favorecido nosso adversário, ele dizia em frente a toda imprensa, que daria o bicho para nós, pois nós éramos de fato os vencedores, a parcialidade do juiz tinha favorecido o resultado para o adversário. O Rípoli explicitava a toda imprensa quando o XV era prejudicado pela arbitragem. Uma vez empatamos com o Palmeiras no Parque Antártica, Ele nos disse que não teríamos bicho, dizia que tínhamos empatado com um time medíocre. Aquilo deu uma repercussão enorme na imprensa. Ele reafirmou que seus jogadores não podiam empatar com aquele timinho. Já em Piracicaba ele nos deu o bicho. Na história do futebol “bicho molhado” você recebe logo após a partida, quando o jogador está embaixo do chuveiro. Nosso bicho era sempre molhado. Muitos times prometem um bicho bom e não pagam, levam 90 dias para pagar. O Ripoli quando acabava o jogo já nos pagava o bicho, não tinha que passar na sede.


Qual é o aspecto ruim da concentração?


É ter que deixar a família. Em 1979 me casei com uma piracicabana, Sonia Regina de Paula Carloni, temos três filhos: Matheus de Paula Carloni, Eloah Roberta Carloni e Renan de Paula Carloni. Eu a conheci quando morava na Rua Riachuelo. Naquele tempo jogador de futebol não era visto com bons olhos, principalmente para contrair matrimônio. Como chefe da concentração eu impunha algumas regras de disciplina dos jogadores com o pessoal do bairro. Eu era querido por todo mundo. Com o passar do tempos nos conhecendo melhor. Para começar a namorar eu tinha que ir primeiro muitos domingos a missa. Eu sempre fui de ir a missa, mesmo nas concentrações, aos domingos ia a missa. Fui coroinha por três anos, na Igreja São Sebastião em Jaú. A concentração é boa, você se enturma com o pessoal, conversa o que tem que conversar, quem gosta de jogar um baralhinho joga, quem gosta de ping-pong joga, quem gosta de música, ou algum pesqueiro de pesque e pague.


Alguns jogadores, inclusive falecidos, chegaram a perder somas representativas em carteado de concentração.


São jogadores viciados em jogo, isso pode ocorrer inclusive em times grandes, pelo fato de ganhar um salário bem mais alto ele já não se empolga em jogar apenas por brincadeira. No XV praticamente nunca teve essa situação de jogar a dinheiro. Um fato perigoso é que o perdedor pode nutrir raiva contra o companheiro por ter perdido dinheiro para ele no jogo. Ao invés de lazer cria-se uma bronca da pessoa. O baralho quando foge do controle, sai da normalidade, pode destruir famílias, vidas. Nas concentrações sempre tivemos passatempos inocentes e amigáveis, passamos mais tempo juntos do que com nossas próprias famílias. Vivemos todos os dias juntos, viajamos, concentramos.


Em seu estabelecimento há muitas fotos ampliadas referentes ao XV de Piracicaba.


É o time da cidade, foi onde permaneci por mais tempo jogando. É um time pelo qual tenho grande amor. Joguei oito anos defendendo o XV.


Conseguiu ficar rico?


Infelizmente não. Se na época tivéssemos um orientador financeiro possivelmente o dinheiro aplicado em automóveis de luxo poderia ter sido aplicado em um bem durável, como terrenos por exemplo.


Até que ano você permaneceu no XV?


Fiquei até 1982, depois montamos um time muito bom. O Dracena Futebol Clube queria montar um time para ser campeão da Segunda Divisão, o Rípoli acabou me cedendo, fui capitanear aquele time com 18 jogadores contratados de times que disputavam a divisão especial. Fizemos uma campanha muito boa, Dracena nunca irá esquecer. Montamos um timão, perdemos apenas duas partidas no ano inteiro, só que não deixaram que nós subíssemos. Era ano político. Fizeram um jogo de apagão em Araçatuba, onde fizeram com que perdêssemos os pontos.


Política influencia no futebol?


Dracena era uma cidade de seis a sete vezes menor do que Araçatuba. A renda maior se dá em cidade maior. No ano seguinte fui para a cidade de Novo Horizonte no Novorizontino.Depois fui jogar no União Agrícola Barbarense Futebol Clube, fizemos uma campanha extraordinária, quando chegou no quadrangular final eu me machuquei, não pude disputar o quadrangular final. Tive que fazer uma cirurgia de reconstrução total dos ligamentos. Operei por três vezes o joelho esquerdo. Depois voltei a brincar nos clubes de Piracicaba, não tive mais nada.


Hoje você ainda joga um pouco?


Hoje já não jogo mais porque está dando artrose no joelho. (risos).


Como surgiu o nome Mika?


Mika era o meu apelido em Jaú. Não sei direito o porquê desse apelido, o que sei é que mica era a resistência de ferro de passar roupa. Quando vim jogar no XV, era conhecido como Ademir, de vez em quando ouvia na torcida alguém gritar: Mika! Imaginava que poderia ser meus primos de Jaú que tinham vindo para trabalhar na Caterpillar, os Pracucho, entre eles o João Batista.


Como é a relação do jogador de futebol com a imprensa?


Nunca fui um jogador com nota abaixo de sete, com isso eu estava sempre bem com a imprensa. Um jogador de altos e baixos será criticado, isso é normal. O profissional da imprensa está ali para fazer o seu trabalho, se o desempenho foi sofrível ele tem que falar.






sexta-feira, novembro 16, 2012

DARIO CORREA DE ANDRADE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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                                Dario Correa e sua esposa Maria Idalina


ENTREVISTADO: DARIO CORREA DE ANDRADE
Possivelmente o programa apresentado em rádio, dedicado a música e costumes mexicanos, com maior longevidade no mundo, 50 anos, é apresentado por um brasileiro, em Piracicaba, pelo radialista Dario Correa de Andrade, tenente reformado da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O programa de Dom Dario Correa é digno de reconhecimento e um verdadeiro caso a ser estudado por analistas em comunicação. Como um programa se mantém por meio século no ar apresentando músicas mexicanas? A explicação mais evidente é a paixão que Dario Correa tem pelo México. Dom Dario Correa é um cônsul não oficial daquele país. Esteve inúmeras vezes em visita ao México, tanto ao pousar o avião que o conduz, ou levantar vôo, a emoção transborda em seus olhos. Piracicaba tem raros mexicanos que residem nela. O próprio país, só recentemente passou a ter laços comerciais mais significativos com o México. Nascido na cidade de Cerqueira Cesar a 1 de novembro de 1936, é um dos 9 filhos de Cantídio Correa de Andrade e Olimpia Cornélio. Seu pai trabalhava com vendas. Dario frisa que sua origem é bem modesta. Dario Correa é casado com Maria Idalina Rossini Pompermayer Correa de Andrade, que já foi ao México com Dario Correa e fez várias observações sobre hábitos e costumes que conheceu naquele país.


Com qual idade o senhor começou a freqüentar a escola?


Nossa família tinha passado a residir em Botucatu. Com oito anos passei a estudar na Escola Rafael de Moura Campos. Fazer o curso ginasial era privilégio de pessoas cuja família tinha um poder aquisitivo elevado. Durante a semana eu andava descalço, tinha apenas um sapato que era utilizado aos fins de semana. A minha paixão não era ser rico, mas estudar. Fui até o Ginásio Diocesano de Botucatu, cujo diretor era um bispo. Ele me atendeu, perguntou-me qual era a minha necessidade. Disse-lhe que gostaria de cursar o ginásio. Na época não existia ginásio no período noturno. O bispo me arrumou uma bolsa de estudos, deu-me uma botina preta e uma roupa cáqui. Consegui cursar o ginásio na cidade de Botucatu. Um padre da Igreja de São Benedito, em Botucatu, arrumou-me um emprego no Campo de Aviação. Eu tinha uns 15 anos e fui trabalhar lá.


Qual era a sua função no Campo de Aviação?


Era almoxarife. Após concluir o ginásio fui para São Paulo, trabalhar no Campo de Marte. O hangar onde eu trabalhava tinha vários proprietários de aviões. Um senhor, Rufino Lomba, arrumou um quarto para que eu pudesse dormir no Campo de Marte. Ele também me arrumou um curso preparatório, ficava na Rua São Bento no vigésimo primeiro andar. Era um curso para ingressar na escola de aviação de Guaratinguetá. Permaneci por um ano em Guaratinguetá. Voltei para São Paulo onde ingressei na Guarda Civil, isso foi em 1956. A Guarda Civil de São Paulo tinha uma escola na Rua São Joaquim, 580, na Liberdade. Era uma corporação de elite. Os guardas civis trabalhavam com espadins, em cinemas, festividades, nos aeroportos, nas grandes agências como Cometa e Expresso Brasileiro. Como guarda civil fiz no Pátio do Colégio em São Paulo, um curso de espanhol e outro de italiano. Era um requisito necessário para trabalhar em aeroporto, agencias de ônibus. Fiz o curso cientifico, a noite, em uma escola próxima a Praça da República.


Nessa época o senhor morava em que bairro?


Eu era ainda solteiro, morava na Rua Visconde de Parnaíba, no Brás. Depois fui para a Rua Campos Salles.


Em que ano o senhor chegou a Piracicaba?


Foi no final de 1962. No dia 30 de janeiro de 1963 foi inaugurada a Guarda Civil de Piracicaba, na Rua Moraes Barros. No finalzinho de 1962 eu já estava trabalhando na rádio “A Voz Agrícola do Brasil”.


Como surgiu o rádio na vida do senhor?


Comecei na cidade de Botucatu, no “Serviço de Auto Falante do Venceslau” Era um serviço de auto falante com as características de uma emissora de rádio. Era instalado em um automóvel, parava em uma esquina fazia publicidade, como uma emissora de rádio, anunciava os filmes que seriam projetados nos cinemas da cidade, anunciava notas de falecimento e tocava músicas. Fiquei lá alguns meses, em seguida fui chamado pela PRF-8 - Rádio Emissora de Botucatu, cujo diretor era Plínio Paganini. Comecei a fazer um programa das 3 às 5 horas da tarde. O programa chamava-se: “Peça o Que Quiser e Ouça o Que Pediu” Tinha um companheiro que trabalhava lá e foi para a Rádio Record em São Paulo, ele me ajudou a ir trabalhar na Rádio Hora Certa de Guarulhos. Fui contratado pela Rede Piratininga, com emissoras em muitas cidades. Quando vim para Piracicaba a Rádio A Voz Agrícola do Brasil pertencia a Rede Piratininga. No finalzinho de 1962 passei a apresentar um programa onde tocava música mexicana. Muitos ouvintes ligavam perguntando por que eu não criava um programa mexicano. Em 1963 passei a apresentar o programa “México Canta”, na Rádio “A Voz Agrícola do Brasil”. Por 7 meses trabalhei também na Rádio Difusora de Piracicaba.


Em que ano o senhor passou a trabalhar na Rádio Educadora de Piracicaba?


Em 1968 fui contratado pela Rádio Educadora, o programa “México Canta” passou a ser “Noites do México”. Dr. Nelson Meirelles que me contratou. Ele era médico, diretor do INSS, da Santa Casa de Misericórdia. Mais tarde quem assumiu a direção da rádio foi sua filha Dona Ana Maria Meirelles de Mattos. Dr. Nelson Meirelles me ajudou muito, ele me aconselhava muito. Sua residência era na Rua XV de Novembro próxima a Rua Boa Morte. Ele me chamava de menino. Dizia-me para que estudasse. Fiz o curso de Administração de Empresas formei-me em 1978 e mais tarde em 1984 o de Jornalismo. Fiz a Academia de Polícia Militar do Barro Branco em São Paulo.


O programa “Noites do México” irá completar quantos anos?


Comecei no finalzinho de 1962, apresentado música mexicana, depois é que coloquei os nomes dos programas, considero que no final de outubro de 2012 completei 50 anos de apresentação de músicas mexicanas. Na Voz Agrícola do Brasil eu fazia também um programa chamado “Manhãs da Roça”. Na Rádio Educadora fiz muitos programas: “Eu, Você e a Música”, “Só Música Romântica”, com poesias, crônicas. Fiz um programa chamado “Sempre é Bom Recordar”, outro foi “Domingo em Alta Fidelidade”. Fiz o programa “Polícia Militar em Marcha”. Fui assessor de imprensa do quartel.


No quartel existe uma sala de imprensa?


É a “Sala de Imprensa Tenente Dario Correa”. Trabalhei no gabinete de vários prefeitos: Francisco Salgot Castillon, Cássio Paschoal Padovani, Adilson Benedito Maluf, João Hermann Netto.. Trabalhei com o Presidente da Câmara Municipal Homero Anéfalos. Por 10 anos fui oficial de gabinete do prefeito municipal.


Quantas vezes o senhor foi ao México?


A primeira viagem foi para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 1986. Depois fui muitas vezes. Mantenho fortes laços de amizade com mexicanos, de certa forma me considero representante diplomático daquele país em Piracicaba. Existe a Escola de Agronomia em Chapingo, próxima a cidade de Texcoco, Essa escola quando mandava seus alunos para fazer pós-graduação, doutorado na Esalq, mandavam que essas pessoas me procurassem aqui. Eu me tornava um padrinho dessa pessoa. Orientava-a em muitos aspectos.


                                                                   CANTINFLAS

O senhor foi convidado a participar de um programa de televisão no México?


Eu estava hospedado na casa de Juan Pitalua, ele disse-me que tinha um irmão que era diretor do Clube de Futebol America. Decidiram me levar á Televisa, para participar do programa de Juan Calderon. Na época meu programa estava a 28 anos no ar. Fui até e Televisa, para ser entrevistado e homenageado. Fui entrevistado também na Rádio Mundo, que naquele tempo tinha 200.000 watts na antena. Fui recebido pelo presidente do México Vicente Fox Quesada, de quem recebi um diploma de gratidão. Conheci muitas cidades: Vera Cruz, Guadalajara, Puebla uma cidade com muitas igrejas cujo teto e revestido em ouro. Em Puebla tem a fabrica Volkswagen. Estive em Guadalajara onde surgiram os mariachis.Mediante um determinado valor, um casal por exemplo, pode pagar para ouví-los a tocar e cantar musicas tipicas mexicanas.

                               Dario Correa em trajes típicos mexicano

O senhor está ha 50 anos apresentando um programa mexicano em Piracicaba, uma cidade que praticamente não tem laços culturais com o México, isso é um fenômeno?


O programa atualmente tem a participação de dois mexicanos, que acompanham do México o programa, via internet. O programa sempre foi apresentado as sexta feiras das oito as 10 horas da noite. Apresento outro programa diário das 4 ás 6 hras da tarde, é o programa “Chapéu de Palha” com música sertaneja de raiz, esse programa está ha 27 anos no ar.


Como é o programa “Noites do México”?


Apresento músicas mexicanas e aspectos de toda cultura do México. É um programa que requer conhecimento sobre a cultura mexicana. Tenho em um local um acervo muito significativo sobre o México. Objetos típicos de cada região, material fonográfico, fotográfico, documentação, certificados e diplomas que recebi. Tenho inclusive a imagem da padroeira da América Latina Nossa Senhora de Guadalupe.


No seu ponto de vista qual o motivo de identificação do piracicabano com a música mexicana?


As músicas mais tocadas no programa são corridos mexicanos. É próxima da música sertaneja brasileira. Muitos ouvintes são apaixonados pelo programa.


Cantinflas foi um grande artista mexicano?


Quando me perguntam como nasceu a minha paixão pela música mexicana, digo que quando era jovem ia assistir os filmes de Cantinflas, nome artístico de Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes, ou simplesmente Mário Moreno. Ele trazia os mariachis que surgiram em Guadalajara. Interpretavam músicas lindíssimas do México.Como adolescente me apaixonei pela musica mexicana. Quando fui trabalhar na rádio “A Voz Agricola do Brasil” fui a discoteca e passei a tocar a musica que eu gostava, a mexicana, os ouvintes pediram que eu montassem um programa nessa linha. No dia em que fui ao programa de Juan Calderon, Cantinflas estava assistindo-o. Quando contei essa história, ele telefonou dizendo que ia para o programa imediatamente. Era um programa extenso, deu tempo de ele chegar a Televisa. Os mariachis cantaram, dançaram, fizeram homenagens ao brasileiro Dom Dario Correa. Na tela aparecia a legenda Ciudad de Piracicaba.


Sua paixão pelo México é enraizada, muito forte.


Tanto que quando vou ao México, o avião sobrevoando a capital, começam a cair lágrimas, o mesmo corre na minha volta ao Brasil. Tenho dois países: Brasil e México.


Como é a culinária mexicana?


O taco assemelha-se a uma panqueca, mais mole. A tortilha é uma massa mais crocante. guaca mole é puré de abacate bem temperado, que funciona como um complemento da salada. Os mexicanos são loucos por feijoada brasileira.


É um povo que cultiva o habito de adicionar muita pimenta a comida?


A pimenta é opcional. Uma criança de dois a três anos já se acostuma a consumir pimenta, os “chilis”. Antigamente no Brasil eram vendidos salsichas que ficavam de molho em um vidro. Geralmente em bares e restaurantes pricipalmente á beira de estradas. No México ao invés de salsicha usam pimenta ao molho. Tudo depende da vontade da pessoa, ela pode comer sem pimenta. Barbacoa é um dos pratos mais caros do México. Colocam pedaços de carneiro em uma vala, onde há uma espécie de prateleira. A barbacoa, ou carneiro como é chamado no Brasil é um dos pratos prediletos deles.


Como o senhor se sente, sendo dono de um patrimônio histórico, acumulado ao longo de 50 anos de apresentação de programa mexicano? Sabemos que será muito difícil existir outra pessoa que venha a acumlar tanto conhecimento sobre esse tema.


Tem que saber falar o idioma, conhecer a cultura e manter as amizades que possuo no México. É impressionante como em todos os locais onde vou ao invés de me chamarem pelo meu nome, me chamam por “Noites do México”. Isso ocorre também qundo ando pelas ruas da cidade. Observo também que intelectuais acompanham o programa. Tem muitos jovens apaixonados pela musica mexicana.


O senhor é religioso?


Bastante, quando fomos ao México visitamos a igreja matriz de Nossa Senhora de Guadalupe. É deslumbrante. Tanto ao subir como ao descer as escadarias é impressionante a ornamentação com flores. Em qualquer lugar onde se anda há abundância de flores. É muito comum o mexicano comprar um buque de flores e levar para sua casa, onde é quase unanimidade a existência de uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.


Alguns habitos e costumes são bem diferentes da nossa cultura?


É um povo com grande epírito cívico, comemoram o dia da pátria com enorme devoção. Os festejos podem durar até uma semana. No natal consomem muito bacalhau, ao invés de peru ou suinos. O Dia de Finados é complétamente diferente do que se realiza no Brasil. Não há pessoas chorando no cemitério, Na noite da véspera de finados eles costumam ir aos cemitérios, tocam música mexicana, comem pratos típicos, isso se dá também no dia de finados. Eles acreditam que o espírito dos mortos vem até a família para visitá-los, e são recebidos com festas e alegria. Quem não for ao cemitério faz uma festa na residência.






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