domingo, abril 14, 2013

MYLTON JOAO TOMAZINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 de abril de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

                                     ENTREVISTADO: MYLTON JOAO TOMAZINI


Mylton João Tomazini nasceu em Elias Fausto a 21 de fevereiro de 1935, filho de Adolfo Tomazini e Ida Boscolo que tiveram ainda os filhos Luiz Tomazini, Valdemar Tomazini e Miltes Tomazini. Seus pais eram proprietários da Fecularia Brasil em Elias Fausto, uma cidade na época com uns 8.000 habitantes. Realizou o curso primário no Grupo Escolar “General Mascarenhas de Moraes”, sua primeira professora foi Dona Elza. O professor Opoty Camponês do Brasil foi muito importante na vida de Mylton, a sua didática era marcante.Após um curso preparatório, prestou um concurso e foi admitido em um ginásio estadual em Capivari.


Qual era a distância entre Elias Fausto e Capivari?


Eram 18 quilômetros que eu ia de trem pela Estrada de Ferro Sorocabana, tempo em que as locomotivas a vapor soltavam as fagulhas, era movida a lenha, mesmo com calor os vidros ficavam levantados. Eu ia às segundas feiras e voltava aos sábados, morava em pensão.


O senhor era ainda um menino, naquela época era um grande sinal de independência morar em uma pensão?


Sai de casa com 14 anos. Formei-me com 18, em seguida fui embora para São Paulo. Antigamente só se conseguia entrar em uma faculdade em São Paulo, não existiam tantas faculdades. Existiam os cursos intermediários: científico e clássico fiz o clássico na Escola Estadual Pucca, para entrar na faculdade de direito. No início morava em uma pensão na Rua Frederico Steidel. Um dos moradores era Walmor Chagas que estava no início de carreira ele dividia o quarto com dois artistas do Rio Grande do Sul: Rita e Guilherme. Logo depois ele se casou com Cacilda Becker. Ficamos amigos.


O senhor ingressou em qual faculdade?


Entrei no Mackenzie em 1956, me formei em 1960. Morava em república nas imediações da faculdade. Na Rua Maria Antonia já havia a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Dois anos antes de me formar em direito já era solicitador acadêmico e trabalhava no Banco da Lavoura, situado na Rua 24 de Maio, mais tarde passou a ser Banco Real. O banco construiu uma sede nova na Rua Boa Vista, fomos para lá, eu me formei e o banco me aproveitou como advogado. Passei a ser um dos quatro advogados do banco por uns 12 anos até o dia em que fui convidado para ser advogado do Grupo Erling Lorentzen pertencente ao genro do rei da Noruega, ele era proprietário da Companhia Brasileira de Gás – Gasbrás fiquei advogado do grupo.


Advogado de banco é uma atividade exaustiva?


Foi a maior escola que eu tive. Não só profissional como também pessoal. Quando entrei no banco morava na Bela Vista, trabalhava do meio dia às seis horas da tarde estudava a noite no colégio e pela manhã fazia cursinho para vestibular. Fazia esse trajeto a pé. São Paulo sempre foi glamoroso. A Avenida Paulista é exuberante.


Por quanto tempo o senhor permaneceu trabalhando na Gasbrás?


Permaneci por uns quatro anos, a sede era no Rio de Janeiro, a filial de São Paulo ficava no Brás. Nessa época eu já era casado com a professora Célia Baldini. Conheci a minha esposa em um sábado a tarde, sentando-me casualmente ao lado dela no Cine República, que era um cinema muito grande e freqüentado pelos jovens, situava-se na Avenida Ipiranga. Marcamos um encontro, eu tinha dito que era Tomazini e ela disse-me que era Baldini, quando nos encontramos descobrimos que éramos da mesma cidade: Elias Fausto. Nesse ano meu irmão foi candidato a prefeito, tendo o tio dela como adversário. Meu irmão não foi eleito, foi pára São Paulo onde fez a carreira de magistrado. Eu fiquei com meu tio como prefeito. Casamo-nos na Paróquia de São José do Belém. Moramos na Rua Cajuru, próximo ao Largo de São José do Belém. Depois mudamos para o Campo Belo, no Brooklin. Moramos em São Paulo até 1975 aproximadamente. Conheci a Tecelagem Campo Belo em pleno funcionamento.


O senhor chegou a utilizar o bonde que passava pelo trecho que deu origem a Avenida Ibirapuera e a Avenida Vereador José Diniz?


Cheguei a utilizar o bonde, não sei por que foi extinto.


Qual foi outra empresa em que o senhor trabalhou em São Paulo, na área jurídica?


Fui trabalhar para um grupo de judeus oriundos da Alemanha que tinha um complexo têxtil, fui convidado para constituir, formar o departamento jurídico, era uma empresa com 700 a 800 funcionários, permaneci muito tempo trabalhando com eles, chegaram a ter 2.500 funcionários, era a Karibê Indústria e Comércio Ltda, um dos produtos fabricados era o Ban Lon Karibê. A empresa era tão conhecida que ao voltar de uma audiência deparei-me com Yolanda Costa e Silva, esposa do Presidente Costa e Silva, fazendo uma visita à Karibê, adquiriu vários vestidos, eles faziam vestidos muito bonitos, parados em frente a empresa havia uns quatro carros oficiais, com bandeirinha e tudo. Quando cheguei eu já tinha perdido a festa. Só que algo interessante aconteceu. Passou alguém em frente a empresa, viu aquele aparato, deve ter se dirigido à Rua Oriente, julgando ter presenciado alguma fiscalização muito rigorosa, já imaginando que a empresa poderia sofrer conseqüências imprevisíveis. Como importávamos e exportávamos em alta escala, trazíamos máquinas, equipamentos. Recebi um telefonema do representante da Alemanha perguntando o que estava acontecendo, se a empresa estava passando por dificuldades. Fiquei preocupado, levei à diretoria esse fato, chamei um especialista, ele fez uma bela análise do balanço da empresa, fiz um comentário e publicamos uma página inteira nos jornais “O Estado de São Paulo” e “Folha de São Paulo”. No dia seguinte os diretores estavam emocionados, receberam aplausos de muitos clientes, da colônia radicada no Brasil. Conseguimos reverter o quadro. Os proprietários eram quatro irmãos: Arthur, Leopoldo, Enrique e Gustavo e um cunhado, Josef.


Eles revolucionaram o mercado na época?


Foi uma época áurea, o produto Karibê era vendido com muita facilidade.


O senhor fazia muitas viagens para a empresa?


Viajava muito para o Rio de Janeiro, o governo federal era concentrado no Rio. Eu trabalhava com os projetos de desenvolvimento com incentivo governamental. No tempo do Delfim Neto.


Como era o Delfim Neto?


Extraordinário. Ele sentava-se a mesa conosco, rodeado por três ou quatro assessores, ele tinha uma mente privilegiada. Quando discutia em uma reunião com industriais ele mantinha cada um dos assessores especializado em um segmento. Não dava para contestar qualquer pretensão. Ele fechava o cerco.


O senhor viveu o período revolucionário em plena atividade profissional.


No dia da revolução de 1964 eu ainda era superintendente da Gásbras. Tínhamos receio de que os terroristas fizessem algum mal com os nossos reservatórios de gás. Na madrugada do dia 31 de março eu estava no DOPS, por coincidência tínhamos descoberto um desvio de botijões de gás feito por ladrões eventuais. Nunca tive nada com política, estava a trabalho.


Com que idade o senhor radicou-se em São Pedro?


Vim para cá com 41 anos, primeiro parei em Campinas, tinha mais de uma centena de mandados de segurança em andamento, tinha que administrá-los, isso demorou uns três anos.


Como iniciou o hotel?


A princípio foi uma brincadeira, por hobby, não tinha o que fazer.


Esse espírito hospitaleiro tem alguma raiz familiar?


Os meus pais me contam que os meus bisavós eram hoteleiros no Tirol, tinham uma hospedaria. Acho a hotelaria muito nobre, há uma carência de hotéis no Brasil. Minha atividade na hotelaria envolve a hospedagem do turista e a realização dos eventos. Hoje temos 18 salas de eventos com uma infra-estrutura que poucos hotéis no Estado de São Paulo têm.


Quantas mil pessoas o hotel pode abrigar simultaneamente?


Comporta 1200 pessoas. Há um hotel nosso que está sendo terminado ao lado com 75 apartamentos, já temos 125 apartamentos, além de contarmos com a colaboração do Hotel São João e do Hotel Avenida de Águas de São Pedro que faz parte do grupo.


A Copa trará algum reflexo?


Irá refletir se os hotéis credenciados forem acionados, irá haver muita procura de hotéis opcionais.


O senhor tem uma atividade de planejamento e não tão operacional?


Uso o meu espaço para criar, planejar. Temos uma equipe maravilhosa de funcionários. Pelo quarto ano estamos incluídos na lista das 100 melhores empresas para trabalhar em pesquisa feita pela revista Época.


Há empresários que centralizam muito as funções?


Nosso hotel é administrado por 15 pessoas, funcionários estabilizados, cada um em seu segmento: manutenção, jurídico, cozinha, restaurante, financeiro, vendas, manutenção, relações humanas.


O senhor é bom cozinheiro?


Não! Minha mulher é uma exímia cozinheira, por causa dela que o hotel cresceu. Crescemos pela qualidade da nossa comida. Desde os primórdios do nosso negócio ela orientava a cozinheira. Tivemos sorte em conhecer uma pessoa que é muito disciplinada, ela está conosco há 33 anos. Ela deixou de ser apenas funcionária, é integrante da nossa família. Essa mulher desenvolveu muito a parte de gastronomia.


Qual é a “Pièce de résistance”, o prato que se destaca na cozinha do hotel?


Arroz e feijão feito na panela de ferro em fogão de lenha. Por incrível que pareça o executivo não come arroz e feijão. Ele não tem essa chance. Quando vem para cá ele entra no arroz e feijão. Em São Paulo você jamais irá pedir arroz e feijão no Fazano. ( Ambiente altamente sofisticado com a cozinha é inspirada nos sabores das diversas regiões da Itália). O nosso trivial é arroz, feijão e carne de panela. Há também hoteleiro que tem vergonha de por arroz e feijão na mesa. Há uma grande empresa que seus executivos estavam no concorrente, um dia vieram conhecer o nosso hotel, não sabiam que tínhamos uma estrutura grande. Perguntaram se podiam almoçar, disse-lhes que seria um prazer, só que a comida não era a que eles estavam acostumados. Sentaram-se a mesa comigo, naquele dia foi servido arroz, feijão e bisteca. Eles comeram muito bem. Ao terminar disseram: “-É isso que precisamos! É disso que o pessoal está reclamando!”. Foram ver a sala, ganhamos um cliente pelo estomago, pela simplicidade, com nossos hábitos próprios, sem artificialismo.


A região é propícia para esse tipo de turismo?


São Pedro é uma cidade que tem um nome muito bonito.


O senhor recebe turistas estrangeiros?


Muitos. Hoje temos dois intérpretes dentro do hotel. Falam inglês, italiano, alemão e castelhano.


Qual é a reação mais expressiva dos turistas estrangeiros?


Ficam maravilhados com a fartura de alimentos. Na Europa isso não existe. No restaurante temos 50 metros quadrados só de alimentos. Para nós faz parte do nosso costume, para eles é motivo de espanto. O Brasil é o melhor país do mundo, posso afirmar com o conhecimento de bastantes lugares. Em lugar nenhum se come melhor do que no Brasil.


Para pessoas que seguem uma dieta especial há alimentos diferenciados?


Na própria mesa existe. Fornecemos alimentos para crianças de 2 anos até adultos com 90 anos.


Quantos anos têm o Hotel Fazenda Fonte Colina Verde?


São 33 anos, nascemos um pouco depois do Hotel São João.


Além da atividade hoteleira o senhor teve incursões em outras áreas?


Fui proprietário da Rádio Onda Livre, funcionava a 50 metros do hotel. Sempre imaginei que a rádio poderia ser uma alavanca para divulgar o turismo de São Pedro. (Atualmente a Rádio Onda Livre AM e FM estão baseadas na cidade de Piracicaba, pertencendo a outro grupo de empreendedores).


O senhor tem quantos filhos?


Três: Lísia, Sérgio e Eduardo. Temos uma nova rádio, a Rádio Pop, FM, situada na cidade de Charqueda.


O senhor edita um jornal interno?


Desde a fundação do hotel temos um jornal interno; “Jornal do Colina”, na coluna Mensagem do Presidente abordo assuntos variados. Normalmente acordo às cinco horas da manhã, ouço rádio, Jovem Pan, Eldorado, CBN através de rádio comum. As sete e pouco, tomo café e assisto o jornal matinal da TV Globo, desligo. Leio a Tribuna, o Jornal de Piracicaba, a Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, entre uma leitura e outra sento com os meus assessores, rimos a vontade. Vivo o meu mundo e sou muito feliz dentro dele. Abro a porta, vejo os passarinhos, são mansos, ficam a dois metros de distância. Estou cercado de mato por todos os lados. À noite no Hotel Colina Verde é muito bonita, temos apresentações de teatro, shows. Contratamos artistas, temos um anfiteatro para 800 pessoas, com ar condicionado. Todos os humoristas mais famosos já estiveram aqui. José Vasconcelos antes de falecer se apresentou aqui. Há um apartamento especial para eles.


Qual foi o artista mais exigente que o senhor teve aqui?


Pedrinho Mattar. Era cheio de manias, quando morei no Campo Belo minha vizinha ao lado era irmã do Pedrinho, era professora de piano, o Pedrinho vivia com ela, da minha casa eu ouvia as apresentações dele ao piano. O saxofonista que toca no Programa do Jô Soares, o Derico, é filho dessa vizinha. Sobrinho do Pedrinho Mattar. Conheço o Derico desde quando ele tinha 3 anos, minha esposa estava fazendo o almoço ele vinha até a cozinha para visitá-la. O Derico é uma pessoa distintíssima, ele vem sempre se hospedar aqui. Ele foi amigo de infância dos meus filhos.








quinta-feira, março 28, 2013

MÁRIO PURGATO – CASA PURGATO - DESDE 1918

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 30 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: MÁRIO PURGATO – CASA PURGATO - DESDE 1918




Em Mombuca existe um armazém que é a história viva de décadas de comércio, está nas mãos da família Purgato desde 1918. Funciona no mesmo local, mantém características de um verdadeiro museu do varejo. Para acessar o estabelecimento uma larga escada com 4 degraus dá acesso a um descanso, onde há mais um degrau de uma das três enormes portas de madeira, de duas folhas, com respiros de ferro decorativo sobrepostos Cada detalhe relembra uma época. Mantém os caixotes de venda de produtos a granel, como arroz, feijão, milho, açúcar, trigo, tudo em perfeito estado, com as tampas móveis de madeira, piso em ladrilho hidráulico, o forro é de pranchas largas de madeira, o balcão em uma decoração que lembra um imenso bloco de mármore com tampo de granito. É possível que nem a companhia de cigarros Souza Cruz tenha em seu acervo mobiliário um balcão expositor de cigarros semelhante ao que ela um dia forneceu a Casa Purgato, que o conserva ainda com os nomes dos principais cigarros vendidos pela companhia como “Guanabara”, “Boehmios”, “Rádio”, “Royal Club”. Baleiros com mais de meio século, onde as balas ficam expostas principalmente aos olhos das crianças Ao lado do armazém há um enorme salão onde eram realizadas as festas de casamento, bailes, recepções. No estoque, encontram-se as caixas de madeira para duas dúzias de garrafas, estampando o nome das cervejas Brahma, Antarctica, assim como caixa de madeira para uma dúzia da caninha Capuava, os litros vazios permanecem lá. Há muitos anos essas caixas foram substituídas por caixas plásticas. Uma escrivaninha na área interna ao balcão de atendimento é parte do mobiliário quase centenário. Quem tiver a curiosidade de saber o que era um armazém tradicional, antes da chegada dos supermercados, basta ir até a Casa Purgato. Mário Purgato Júnior, Marinho, é quem administra o estabelecimento, soube inovar os produtos mantendo a tradição do local. Seu pai Mário Purgato nasceu em Mombuca a sete de setembro de 1929, filho de Dante Purgato e Jacira Fonseca Purgato. Cesare Purgato imigrante italiano, avô de Mário adquiriu o armazém em Mombuca em 1918 de um senhor chamado Francisco. Cesare casou-se no Brasil com a também imigrante italiana Adélia. Inicialmente Cesare morou com seu irmão Ângelo em Jundiaí. Na época a linha da Estrada de Ferro Sorocabana passava em frente ao armazém, onde situava a Estação de Mombuca.

                               Vista geral da fachada da Casa Purgato

Além da pequena Mombuca da época de onde eram os clientes do armazém?


Naquele tempo havia umas seis fazendas na região, três pessoas atendendo no balcão não davam conta do trabalho. Vendia-se de tudo, menos arroz e feijão que os clientes plantavam onde residiam. Meu avô além do armazém expandiu o prédio criando também uma loja, minhas tias e tios também atendiam os clientes. Os granjeiros, que negociavam mercadorias com carrinho de tração animal, pelos sítios da região também vinham adquirir produtos aqui. O pão vinha trazido pelo ônibus logo cedo de Rio das Pedras, eram três a quatro sacos de pães.

                                          Casa Purgato um museu vivo do comércio varejista

Existia mais algum armazém em Mombuca?


Existiam mais dois armazéns um de propriedade de Miguel Kalil e outro de Jorge Farah. O primeiro foi o nosso. O Armazém Purgato continua até hoje funcionando, por aqui passaram meu avô, meu tio Henrique Purgato, depois outro tio, Plínio Purgato que faleceu e o armazém voltou a pertencer ao meu tio Henrique Purgato. Eu comecei a trabalhar para o meu tio em 1940. Abria entre as sete ou sete e meia da manhã. Fechava entre seis e sete horas da noite, de segunda a sábado, domingo trabalhava até o meio dia.

                               Balcão com piso em ladrilho hidráulico

Era um ponto de encontro dos moradores dos arredores?


As fazendas tinham 40, 50 famílias que trabalhavam em cada uma. Naquela época era comum cada família ter de 5 a 10 filhos.


Qual a forma de transporte mais utilizada para ir até Piracicaba?


Era o trem. Para entregar as compras nas fazendas meu avô tinha um carroceiro, o Bernardo Meneguetti, que com uma carroça puxada por cinco animais, lotava-a e levava as mercadorias. Isso quando o freguês não tinha condução própria. Os viajantes vinham vender os seus produtos no armazém, o viajante do Matarazzo chamava-se Samataro. Inclusive ele arrumou um serviço para meu irmão no escritório do Matarazzo em São Paulo, meu irmão trabalhou uns 30 anos para o Matarazzo, aposentou como gerente em Bauru.


                               Cigarreira fornecida pela Souza Cruz com o nome dos cigarros da época escrito com letras douradas, deve ter quase um século.

                               Detalhe da cigarreira

O senhor teve quantos filhos?


Sou casado com Iracema, tivemos quatro filhos: Vera, Jacira, Marinho e Regina. Conheci minha esposa quando freqüentava a escola, eu tinha 10 anos ela 8 anos. Quando eu tinha 22 anos nos casamos, em Mombuca mesmo. Continuei trabalhando no armazém e ela passou também a ajudar. Hoje o proprietário é o meu filho Mário.


Quais eram os principais produtos cultivados em Mombuca?


Batata, cebola, algodão, milho. Eram despachados por trem, lotavam os vagões.


A cidade de Mombuca cresceu ou diminuiu?


Estacionou. Agora está melhorando um pouco, já tem duas indústrias na cidade. Mais duas que estão para vir.


O armazém recebeu algum político em campanha?


Muitos políticos passaram por aqui: Adhemar de Barros, Paulo Maluf, Jânio Quadros Um fazendeiro, José Ferraz do Amaral, apelidado por Dr. Juca, ficava conversando com meu avô, bebericavam e conversavam em uma sala mais reservada. No Natal reuníamos toda a família, 20 a 30 pessoas, além de amigos, tínhamos uns amigos que moravam em Mombuca e tinham se mudado para o Rio de Janeiro, no final de ano eles passavam uma semana aqui, ficavam hospedados na casa da nossa família. Quando tinha muita gente iam dormir na casa da família da minha esposa, inclusive eu ia, para dar espaço aos que vinham de fora.


O senhor participou da política?


Participei, fui vereador por duas vezes, duas vezes vice-prefeito. Abrahão José era o prefeito, quando ele ia para São Paulo fazia questão de me levar à sede do governo que ainda era no Palácio dos Campos Elíseos, na Avenida Rio Branco. Adhemar de Barros gostava de Mombuca. A pintora e desenhista Tarsila do Amaral vinha sempre aqui na Casa Purgato, a fazenda do pai dela era em Mombuca, ela tinha muita amizade com as minhas tias. O pai dela era o Dr. Juca. Cheguei a ver os quadros que ela pintava. Ela era bonita, conversava bem. Daqui até a fazenda da sua família são quatro quilômetros de distância.

                                               Tarsila do Amaral frequentou a Casa Purgato
 

Um dos produtos muito comercializados era o fumo de corda?


Vendia-se muito, tem um caixão no meio do balcão onde eram colocados dois rolos de fumo, meu avô adquiria de um sitiante chamado Packer, lá do Bairrinho, local famoso pela qualidade do fumo. Os clientes eram exigentes, gostavam de fumo de boa qualidade. Os cigarros que mais vendi em meu tempo foram “Fulgor”,“Yolanda” “Oceania”. Meu pai fumava “Oceania”. Vendíamos cigarros da Souza Cruz, temos um expositor (cigarreira) dada por eles, acho que deve ter uns 90 anos ! Tenho a impressão que já existia quando meu avô adquiriu o estabelecimento em 1918.

                               Baleiros: os de baixo, maiores, Tem mais de 50 anos


A Casa Purgato funcionou muito tempo sem geladeira?


Naquele tempo não existia geladeira, tomavam cerveja quente mesmo. E como tomavam! Os italianos e espanhóis eram loucos por uma cerveja Antárctica, Hamburguesa. Gostavam muito de vinho, sendo o Vinho Virgem, que vinha do Rio Grande do Sul, o preferido deles. Hoje dispomos de quatro geladeiras cheias de bebidas. Naquela época vendiamos Gengibirra e Itubaina do Limongi de Rio das Pedras, eles também forneciam aguardente que o pessoal gostava de bebericar no balcão. Meu avô sempre comprou do Limongi, nós ainda adquirimos produtos Limongi. Lembro-me das linguiças que vinham conservadas dentro de latas com banha, eram produzidas no Rio Grande do Sul. Nós abatiamos dois porcos por sábado, meu tio e e eu levantávamos as quatro horas da manhã, quando eram sete horas os dois porcos estavam na banca para serem vendidos. Minha avó e eu fazíamos linguiça, era feita com carne de porco, pimenta, sal, alho. Primeiro moia a carne, lavava a tripa e enchia com a carne já moida e temperada. Até hoje existe o varal onde dependurávamos a linguiça. A linguiça geralmente já estava toda encomendada.Muitos levavam para casa, dependuravam, deixavam secar para comer crua.


                                          Mário Purgato Júnior e Mário Purgato

Havia compras que eram marcadas em cadernetas?


O fregues no final da lavoura, após vender a safra vinha para acertar a conta. As vezes demorava um ano ou menos para receber, conforme o produto que o freguês tinha plantado. Chegamos a ter mais de 200 cadernetas. Geralmente vinham fazer compras aos sábados. Temos fregueses que a vida inteira compraram conosco, suas famílias continuam comprando.


As mulheres adquiriam tecidos para suas roupas na Casa Purgato?


Compravam, as vezes algumas compravam uma peça de tecido e fazia a roupa na mesma estampa para a família toda.


O senhor tinha algum animal de montaria?


Tinha um cavalo chamado Pinhão. Saia com ele só para passear. Tinhamos vacas leiteiras, o leite era para o consumo da família.


Havia festas, bailes?


Quase todo mês tinha baile, era feito no salão grande que temos ao lado. Alguém queria fazer um baile de aniversário nós cedíamos gratuitamente o salão. Assim como festas de casamentos. Os bailes de carnaval eram realizados nesse salão. Naquele tempo não havia asfalto, onde hoje há uma escada em frente ao armazém era um barranco, subia-se por um trechinho de terra.. Meu avô que fez essa escada.

                                          Em cada compartimento destes eram colocados alimentos a granel para serem vendidos por quilo.


Quando os trens paravam na estação em frente ao armazém, os maquinistas vinham tomar uma àgua?


Os maquinistas, chefe de trem que era quem cobrava a passagem, vinham tomar àgua, outros tomavam um aperitivo. O meu tio Angelo Carelli era chefe de estação. Eu ia à Rio das Pedras, Piracicaba, Capivari de trem, até Capivari levava meia hora para chegar. Até Piracicaba levava quase uma hora. Tinha as turmas, que eram funcionários que conservavam a linha, geralmente eram cinco trabalhadores e um chefe. Até Rio das Pedras tinha uma turma, até Capivari tinha outra turma.


                               As bedidas eram transportadas em caixas de madeira

Qual rádio o senhor costumava ouvir?


A Rádio Tupi de São Paulo, gostava de ouvir as músicas de Vicente Celestino, Francisco Alves. O primeiro rádio de Mombuca foi comprado pelo meu avô, ele adquiriu antes da guerra, teve um período durante a gerra em que italianos não podiam ter rádio em casa. Nessa época meu avô para vir de São Paulo a Mombuca tinha que ter salvo-conduto.(Documento emitido por autoridades de um Estado que permite a seu portador transitar por um determinado território). Quando morreu meu tio meu avô morava em São Paulo, foi uma dificuldade para ele vir até Mombuca, chegou aqui quase na hora do enterro. Na revolução de 1932 alguns cidadãos foram convocados, inclusive um negro conhecido como Campineiro, que era muito amigo da nossa família. Durante a segunda guerra houve racionamento de certos produtos, o querosene era racionado conforme o número de pessoas da família. Não era vendido a vontade. Nós vendíamos óleo comestível a granel, era um tambor de 200 litros colocava-se uma bomba manual que fornecia a quantia desejada pelo cliente. Arroz e feijão não havia racionamento, mas sal também era racionado, cada família tinha uma determinada quantia que podia adquirir por mês. A Casa Purgato já funcionava quando ainda não havia energia elétrica, ainda têm os lugares onde eram colocados os lampiões a querosene. A energia elétrica chegou primeiro em Capivari, depois veio para Mombuca, na época o prefeito de Capivari era nascido em Mombuca, foi ele quem trouxe a àgua encanada. Nós tinhamos àgua de poço, uma bomba puxava àgua para um reservatório de 500 litros.


O senhor gostava do trabalho no balcão?


Gostava e gosto até hoje, trabalhei muito. Gostava das amizades que tinhamos, todo mundo gostava de mim, me chamavam: “- Marinho! Marinho!”.


O senhor é religioso?


Sou católico, fui cursilhista. Padre Adélio foi um dos grandes sacerdotes que trabalhou em Mombuca.


O senhor torce por algum time de futebol?


Para o Palmeiras! Palestra! Tenho uns primos que são corintianos, mas o restante da família são todos palmeirenses. Aqui tinha o Mombuca Futebol Clube, eu era lateral direito, dos bons. O uniforme era roxo e branco, chuteiras com cravinho. Jogavamos contra times de Rafard, Rio das Pedras. As vezes saia algum “peguinha”, uma discussão mais acalorada. Quando menino fui escoteiro, fazia marcha, desfilava no dia de aniversário da cidade, assim como em 7 de Setembro, 15 de Novembro, Dia da Bandeira. O terreno onde hoje está o grupo escolar foi doado pelo meu avô, são 10.000 metros quadrados. O terreno onde está o cemitério de Mombuca foi doado pelo meu avô. Anstes sepultavam os falecidos em Mombuca nas cidades de Rio das Pedras, Capivari, Rafard. Os corpos eram levados em cavalos, carroças. Mais tarde as casas funerárias de Capivari vinham buscar de automóvel. O acompanhamento do enterro era feito pelo pessoal a cavalo. Quando falecia uma pessoa da família usava-se por um ano inteiro uma faixa preta na camisa.








sábado, março 23, 2013

GILMAR ROTTA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 23 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: GILMAR ROTTA

Gilmar Rotta nasceu em Piracicaba a 29 de julho de 1966, filho de José Antonio Rotta, mecânico de automóveis, e Diva Vazatti Rotta, costureira, que tiveram ainda os filhos Jaqueline Aparecida Rotta e Carlos Alberto Rotta (já falecido). Gilmar Rotta é casado com Andréia com quem tem o filho Felipe. A cerimônia foi realizada pelo Monsenhor Jorge a quatro de setembro de 1999.


Seus pais sempre residiram em Piracicaba?


Eles moravam na cidade de São Pedro. Meu pai começou a sua carreira de mecânico trabalhando no Aeroclube de São Pedro. ( Dutra em 30 de abril de 1946 mandou fechar todos os cassinos, inclusive do Grande Hotel de Águas de São Pedro). Havia um fluxo razoável de aviões que pousavam em São Pedro. Já em tempos mais recentes o cantor Roberto Carlos descia de avião em São Pedro e dirigia-se à Águas de São Pedro.


Em que bairro de Piracicaba o senhor nasceu?


Nasci na Vila Independência, meus pais tinham uma casinha próxima ao atual Teatro Municipal, na Avenida Independência, essa casa existe até hoje. Algum tempo após meu nascimento meus pais mudaram-se para o final da Rua Dr. Otávio Teixeira Mendes, acima do Colégio Salesiano Dom Bosco. Estudei na Escola Estadual de Primeiro Grau Prof. Augusto Saes situada na Rua D. Pedro I. Lembro-me do professor Mezzacapa que deu aula de educação física, Dona Zoride Carboni que deu aula de ciências. Dona Maria Dinei, professora de história. No Augusto Saes estudei até a oitava série. O primeiro colegial estudei no Sud Mennucci, cuja diretora era Dona Flordelis. O segundo e terceiro colegial estudei no Colégio Piracicabano, onde fiz o curso de Tecnólogo em Processamento de Dados, tínhamos matérias complementares como matemática, contabilidade, biologia, química. Prestei vestibular na Unimep e fui aprovado em Ciências Matemática. Embora não exerça a função já faz tempo, sou professor de matemática, lecionei no Sud Mennucci á noite. Era um ambiente de alunos com todas as atividades profissionais, trabalhavam durante o dia e estudavam a noite. Recém formado, com uma bagagem enorme, uma grade curricular a seguir para lecionar, cobrança da direção da escola, da Secretaria Estadual da Educação, encontrava muitos alunos exaustos do trabalho exercido durante o dia, mas que sabiam que tinham que estudar para progredir em suas vidas. Matemática é uma ciência que exige a atenção do aluno em classe. Fiz um processo de conversar com cada aluno, entender seus objetivos, e assim adaptando as minhas aulas para serem mais prazerosas para os alunos. Que houvesse o envolvimento deles nas aulas.


Antes de ser professor o senhor chegou a trabalhar em outra atividade?


Meu primeiro emprego foi com o meu pai, em sua oficina mecânica. Meu trabalho era lavar peças. Na época ele era sócio do Libório, que trabalha com cabeçotes de motores, a oficina deles era na Chácara Nazareth, logo acima do SESC.Ali eles faziam a retífica de motores de caminhonete, o chamado “Misto Quente”. A parte de cima era de um tipo de motor, a parte de baixo era do motor a diesel. Eles juntavam partes dos dois motores e faziam funcionar a diesel, o chamado “Misto Quente”. Dava uma compressão maior e funcionava com óleo diesel. Minha função com uns treze anos era quando tiravam esse motor de uma caminhonete, por fora ele estava com uma mistura de óleo, barro, terra. Era tirado com o guincho, levado para a caixa de lavagem, eu com um par tênis da marca conga nos pés, calça jeans, um pincel na mão, lavava o motor com óleo diesel, usava uma lamina de serra para raspar os locais mais resistentes. Deixava limpinho. Depois meu pai desmontava para iniciar o conserto. Trabalhei ali até meus dezesseis anos.


O senhor foi trabalhar onde depois da oficina?


De quem olha de frente para a Catedral de Santo Antonio, do lado direito ao lado do atual Bistecão, havia um barzinho de um árabe que fazia quitutes típicos. Passei a trabalhar como balconista. Servia um pingado, um quibe. Quando sai dali fui trabalhar na Rações Ceres, que nessa época já estava na Avenida Carlos Martins Sodero, 77. A fábrica já estava instalada na Unileste. O proprietário era o Paco Munhoz, seu filho Angi Munhoz e a Dona Sílvia.


Qual era a sua atividade na Rações Ceres?


Eu trabalhava na parte administrativa voltada mais para a parte financeira como contas a pagar e a receber. Era a época dos borderôs. (Documento onde são relacionados os cheques pré-datados e/ou duplicatas negociados). Permaneci ali até 1986, quando o marido da ex-vereadora Adeli Bacchi, que era engenheiro de nutrição da Rações Ceres disse que Adeli Bacchi precisava de um ajudante, naquela época não existiam assessores na Câmara Municipal. Ela era presidente do Centro de Defesa do Consumidor- CEDECON. Não existia o Procon. Sai da Rações Ceres e vim para a Câmara de Vereadores. A minha função no CEDECON era atender as reclamações. Chegavam inúmeras reclamações, umas das que se destacavam era com relação ao peso do filãozinho. Eram vendidos individualmente, tinham que pesar 25 ou 50 gramas. A Adeli Bacchi sempre foi rígida nessa questão, ela comunicava-se com o IPEM Instituto de Pesos e Medidas de Campinas que vinha fazer as vistorias em Piracicaba, acompanhados pela vereadora. Isso foi em 1986, quando entrei na Câmara, através de cargo nomeado. O presidente na época era Braz Rosilho, já falecido. A vereadora Adeli Bacchi não foi reeleita, fui então convidado pelo vereador Irineu Ulisses Bonazzi que se reelegeu e tornou-se presidente da Câmara. Ele me levou para o gabinete da presidência. Na época eram 21 vereadores, passei a assessorar todos os vereadores. Não havia assessores, era apenas eu. Eu tinha uma máquina de escrever Remington, usava papel sulfite com papel carbono. Um fato peculiar, o ex-vereador Tenente Elias, o Sub-Elias, era o primeiro a chegar à Câmara, trazia escrito em um papel o que desejava, uma indicação, tapar um buraco, só que o papel era aquele em que se embrulhava o pão chamado de “bengala”, que precedeu o filãozinho. Era o famoso papel de pão.


O senhor era o homem que mais entendia de leis relativas a Câmara?


Tudo passava pela presidência do Bonazzi e vinha até as minhas mãos. Chegou um momento em que o Bonazzi percebeu que eu não tinha mais condições de assessorar tudo sozinho, foi então que ele trouxe mais duas pessoas. A Câmara tinha um diretor geral, o Dr. Rolim, professor de Direito Romano na UNIMEP. A diretora da Câmara na época era Dona Maria Inês. Eduardo Rufino, já falecido, era o diretor do departamento legislativo da Câmara. Meu cargo era de Auxiliar Técnico Legislativo. Naquela época ajudei vereador do PT Isaac Jorge Roston Junior, Laerte Zitelli, Rogério Vidal, Helly Melges, José Inácio Mugão Sleiman, José Coral, tínhamos uma Câmara forte em discutir as leis, os vereadores brigavam em cima da lei. Naquela época somando todos os funcionários não chegava a cinqüenta. Eram 21 vereadores. Depois caiu para 19, 16 e voltou para 23 vereadores.


Como se deu a informatização da Câmara Municipal?


Irineu Ulisses Bonazzi sempre gostou muito de ler os jornais “O Estado de São Paulo”, a “Folha de São Paulo”, ele via os encartes de informática que na época estava despontando. Ele me disse: “Tem-se que informatizar esta Câmara”. Fiz uma pesquisa, até conseguir a informação de que a Câmara Municipal de São Sebastião, Litoral Norte do Estado de São Paulo, estava iniciando o processo de informatização. A Maria Inês, a Ângela e eu fomos até São Sebastião conhecer o sistema. Gostamos. Dissemos a nossa impressão ao Bonazzi.


Qual foi o primeiro equipamento utilizado na implantação do sistema em Piracicaba?


A marca eu não me recordo, mas foi um AT-286, era o único que tínhamos, ligados a ele havia cinco computadores chamados de “terminais burros composto por teclado e monitor”, usava o World. Impressora matricial. Quando instalamos, a empresa estava fazendo a demonstração, eu estava presente, o Bonazzi, que chamou o então vereador Barjas Negri para ver o sistema funcionando. Acabamos adquirindo o sistema que se chamava PICK. Foi nessa época em que o Luiz (Luizão) criou um sistema de filmagem das sessões facilitando muito o trabalho dos secretários. A primeira Lei Orgânica da Câmara de Piracicaba foi feita nesse sistema. Gravado em disquete, separado por temas: Saúde, Educação, Meio Ambiente. Após o Bonazzi deixar a presidência, o Vanderlei Dionísio se elegeu vereador, assessorei Eduardo Pereira também. A Câmara passou a evoluir, hoje está uma maravilha o sistema de informática. No início fazíamos os back-ups em disquetes 5 e ¼, de polegadas, eram 8 a 10 disquetes por dia, no final do mês havia uma pilha enorme de disquetes. Hoje dominam novas tecnologias, como por exemplo, Pen Drive. Vanderlei Dionisio fez uma reforma administrativa, abriram-se os cargos para vereadores, dois ou três assessores para cada vereador. Fui ser assessor do vereador Laerte Zitelli, após o seu mandato, ele não se reelegeu, eu trabalhei com o vereador Dr. João Pauli. Quando ele foi ser vice-prefeito de José Machado, de 2001 a 2004 fui diretor da Secretaria da Saúde junto ao Secretário Dr. João Pauli. Em 2005 Walter Ferreira da Silva, o “Pira”, me chamou para trabalhar com ele na Câmara. Ele cumpriu seu mandato, foi reeleito, após dois anos veio a falecer. O vereador Dirceu Alves da Silva assumiu a suplência. Muitas pessoas ligadas ao Pira, da minha família, questionaram o porque eu não saia candidato a vereador. Até então eu nem era filiado a nenhum partido. Optei por filiar-me ao PMDB.


O senhor inicia o seu expediente a que horas?


Na Câmara chego por volta das oito e meia. Não tenho horário para sair, permaneço pelo tempo que for necessário. Faço visitas a bairros da cidade. Entidades filantrópicas e beneficentes. Percorro a cidade inteira. Zona rural.


Qual é o maior problema existente em Piracicaba?


Infelizmente é a saúde. A solução é procurar dar o melhor atendimento ao paciente. O paciente deve fazer sua entrada através do posto de saúde. A entrada para o tratamento é através do posto de saúde. No posto de saúde irá passar por uma consulta com um clínico, irá ver se a pressão está boa ou não, ele ira pedir exames de fezes, sangue, urina. Esse atendimento é preventivo. Se necessário será encaminhado a um especialista: cardiologista, oncologista. O que ocorre é que a população não procura um posto de saúde para fazer exames preventivos. Ela procura de imediato o pronto-socorro. Porque ela procura o pronto socorro sem passar pelo posto de saúde? Por haver alguma falha no meio desse processo. Ela procura o pronto socorro por estar com dor e por encontrar médico disponível 24 horas. Pronto socorro é para casos de urgência e emergência. Para cólica renal grave, apêndicite, esfaqueado, baleado., com convulsão, AVC. Essa é a função de atendimento do pronto socorro. Um paciente com enxaqueca, dor na perna, vai ao pronto socorro para passar pelo médico, ele é atendido, toma a medicação, vai para casa. Só que ele não vai ao posto, deixa de pedir uma consulta com o clínico para averiguar o porquê teve essa dor que o levou ao pronto socorro.


Se a pessoa acha que deve ir ao médico para onde ela de se dirigir?


Ela deve procurar o posto de saúde para marcar uma consulta com o clínico. Todos os bairros da cidade tem posto de saúde, Piracicaba tem em torno de 55 postos de saúde. E PSF que é Programa de Saúde da Família está chegando em torno de 60.


Quem estará disponível em um Posto de Saúde?


Irá encontrar a atendente, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, um clínico, uma pediatra, um ginecologista, um dentista. Isso no Posto de Saúde. Não estarão todos ao mesmo tempo lá, disponíveis, há a data de agendamento. A pediatra atende de segunda e quarta feira. O clinico atende terça, quinta e sexta feira. O dentista atende as sexta feiras.


No caso de uma dor de dente, um canal, por exemplo?


Existe o pronto atendimento odontológico de Piracicaba, que fica na Rua Tiradentes. É o Centro de Especialidades Odontológicas.


Para usufruir desses recursos o que é necessário?


Ter a carteira do posto de saúde, basta ir a um posto de saúde com o CIC, RG e comprovante de residência que irá tirar a carteira.


Vereador se aposenta com quantos anos de mandato?


Não se aposenta! Existiu uma época, há muito tempo, em que vereador se aposentava com três mandatos. Essa lenda corre até hoje, são fomentos negativos. Não recebe décimo terceiro e nem décimo quarto salário. Não recebe auxilio combustível,


Quantos veículos estão disponíveis para os vereadores?


A Câmara dispõe de seis veículos, sendo que um veículo é para trabalhar para a parte administrativa da Câmara, os outros cinco veículos são distribuídos para os 23 vereadores divididos por escala. Eu uso o carro amanhã, só daqui a 20 dias irei utilizá-lo novamente. Nesse meio tempo uso meu carro pessoal sem reembolso algum. Muitas informações chegam de forma errônea, a presidência da Casa, João Manoel, e os demais vereadores sempre deixam isso claro, usando a tribuna ou em entrevistas junto a mídia. Infelizmente existe a oposição que gosta de fomentar ao contrário. A Câmara não tem um carro para cada vereador. Não paga taxi, ônibus para nenhum vereador.


Vereador tem férias?


Não tem férias, ele tem recesso administrativo, em julho e no final do ano. É um período onde não acontecem as reuniões camararias, isso no país todo, o vereador nesse período continua vindo à Câmara, dá expediente normal. Só não há sessão.


Quantos dias por semana o senhor trabalha?


Trabalho de segunda a segunda. Se eu não estiver na Câmara estou em visita a bairros. Sábado, domingo, sou procurado em minha casa. São pessoas com necessidades urgentes de serem resolvidas. Domingo passado às oito e meia da manhã fui procurado por uma pessoa que estava com sua filha pequena muito doente e ela não sabia o que fazer.


Isso é um pouco de assistencialismo?


Não sei se seria o termo certo. O papel do vereador pela constituição, pelo ordenamento jurídico é fiscalizar o executivo e fazer a legislação. Só que há uma carência da população. Alguém não está fazendo o seu papel direito. À esse cidadão falta informação, falta procurar o caminho certo. A população em seu desespero em resolver um problema procura o vereador porque imagina que ali terá ajuda para resolver o seu problema. Nós, vereadores, somos quem estamos mais próximos do executivo. A população não tem o acesso ao prefeito, ao secretário municipal, da mesma forma que aos vereadores. A porta da Câmara está aberta, há um controle de entrada por questões de segurança. Eu acho que assistencialismo é pagar uma conta de luz, um botijão de gás. Isso, nem eu e nenhum vereador faz. A Câmara ajuda nos encaminhamentos em questões de saúde. Falta de vaga em creche, vamos ver o que está ocorrendo. Procuramos orientar a pessoa para o caminho mais correto. Um exemplo prático, uma senhora de um bairro distante, precisa resolver algum problema na Secretaria de Finanças da Prefeitura. No prédio cívico de onze andares, quatro andares são de setores da Secretaria de Finanças. A dúvida dela é em qual deles irá? Quem será a pessoa que poderá procurar para expor seu problema. A Câmara de Vereadores sabe onde está a solução para cada problema.


Porque nomes de ruas ou logradouros públicos que já têm seus nomes popularmente conhecidos recebem nomes de pessoas que muitas vezes são desconhecidas por grande parte da população. Para citar um exemplo fora de Piracicaba, a Ponte Cidade Jardim recebeu um nome ilustre, mas a população continua chamando de Ponte Cidade Jardim O mesmo quase ocorreu com o Viaduto Nove de Julho em São Paulo.


Não é permitido mudar nome de rua, a legislação proíbe que se mude a denominação de via pública.


Moção de aplauso é importante para o cidadão e para a Câmara?


Ela é importante pelo fato acontecido. Se contribuir para o engrandecimento da população.


Quantos títulos de cidadão piracicabano um vereador pode conceder por ano?


São quatro títulos de Cidadão Piracicabano, dois títulos de Cidadão Piracicabanus Praeclarus, duas medalhas de Mérito Legislativo e dois Lideres Comunitário por mandato.


Qualquer cidadão pode usar a tribuna em uma sessão da Câmara?


Para usar a tribuna ele tem que se inscrever com antecedência, onde ele cita o dia e o tema em que irá falar, junto a esse pedido deve coletar trinta assinaturas. Ele irá representar alguém.








EDIRLEY RODRIGUES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de março de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: EDIRLEY RODRIGUES

Edirley Tereziano Duarte Rodrigues é conhecido nos meios de comunicação de Piracicaba e região como Edirley Rodrigues. Nascido a 28 de maio de 1950 em Piracicaba na Rua XV de Novembro a um quarteirão e meio da Rua do Porto. Do lado direito no sentido do centro para a Rua do Porto. Filho primogênito de Teresiano (com “s”) Rodrigues Pereira e Margarida Maria Duarte Pereira que ainda tiveram os filhos Fátima, que por muitos anos trabalhou em “O Diário” e era carinhosamente chamada por “Fátinha”, Flávio e Hilda. O pai de Edirley era motorista, trabalhou com ônibus, foi funcionário do Frigorífico Piracicaba, ele se aposentou como motorista da linha de ônibus circular de Piracicaba. Edirley é casado com Rosa Maria Municelli Rodrigues, Depois que se casou foi morar na Vila Resende. Quando menor, estudava e foi gráfico. Naquela época existiam em Piracicaba muitas tipografias famosas e o profissional era muito requisitado e valorizado. Já adulto conciliou no início da sua vida como jornalista (Diário de Piracicaba) e o trabalho como bancário. Nos anos 70, foi levado pelo amigo, jornalista e quinzista Delphin Ferreira da Rocha Netto, para a A Gazeta Esportiva e Rádio Pan Americana (Jovem Pan). Fez teste como redator e produtor, foi aprovado. Na Gazeta foi correspondente credenciado durante quatro anos. Não quis naquela época residir em São Paulo por razões familiares. Sua dedicação era pelo Diário de Piracicaba e Difusora. Duarte Filho lhe abriu as portas da vida profissional (rádio e jornal) e Sebastião Ferraz (diretor do Diário de Piracicaba) aconselhado por Duarte Filho e lhe deu o primeiro emprego como jornalista.


Você se lembra de ainda menino ter acompanhando seu pai no trabalho com o ônibus ou com o caminhão frigorífico?


Nunca. Naquela época os procedimentos eram mais rígidos, o meu pai era extremamente profissional. Ele entregava carne nos açougues de Piracicaba e região, nunca ele me convidou para acompanhá-lo nas entregas. Era comum o filho querer estar com o pai na cabine do caminhão. Ele sempre me ensinou a separar a vida profissional da vida pessoal. Minha mãe sempre foi do lar, está viva até hoje, com 88 anos, em suas plenas faculdades. Ela lembra-se de todas as datas, quando surge alguma dúvida sobre aniversário de alguém, seja quem for, da família, vizinhos.


O curso primário você realizou onde?


Estudei ao lado de onde nasci no Grupo Escolar "Francisca de Castro". (O Decreto 36.183,de 27 de janeiro de 1960 dá o nome de "Francisca Elisa da Silva" ao Grupo Escolar "Francisca de Castro"). Minha primeira professora foi Da. Maria Rodrigues Alves, meu primeiro diretor foi o Professor Joaquim Mello de Lara, ele morava na Rua Ipiranga. Tive as ainda as professoras Da. Alice, Da. Zaira Jordão e no quarto ano a professora Da. Elza Romano, falecida recentemente, ela morava na Rua São José esquina com a Avenida Armando Salles de Oliveira. Eu tinha o habito de todo dia 15 de outubro, Dia do Professor, telefonar-lhe ou visitá-la. Ela frequentava a Catedral de Santo Antonio.


Em que escola você prosseguiu seus estudos?


Estudei no curso preparatório para exame de admissão situado no Largo Santa Cruz, ministrado pela Dona Falzoni. Cursava de manhã o quarto ano no Grupo Escolar Barão do Rio Branco com o professor Izar. A tarde estudava no curso preparatório. Enquanto morei com meus pais sempre residi na região da Rua do Porto, a minha infância foi na Rua do Porto, embora não saiba nadar, nunca entrei nas águas do Rio Piracicaba, foi no Rio Piracicaba, no Clube de Regatas de Piracicaba, no Jardim da Cadeia, também chamado de Praça do Gavião, onde se situa a Pinacoteca Municipal Depois fui morar na Rua Moraes Barros. Já mais adulto morei com os meus pais na Rua Madre Cecília, próximo a Igreja dos Frades. Fui estudar no Colégio Estadual Monsenhor Jerônimo Gallo quando ele foi inaugurado. O prédio do Jerônimo Gallo não estava pronto, por uns seis meses nós ficamos nas instalações do Grupo Escola José Romão. O professor Helly de Campos Melges era o nosso diretor, um amigo, educador, pai, era tudo isso para o aluno. Criou a famosa fanfarra do Jerônimo Gallo, fez questão que todos nós desfilássemos usando traje banco. Tivemos as famosas fanfarras do: Jerônimo Gallo, Dom Bosco e a do Colégio Industrial que se tornou um modelo e tinha o comando do professor Danilo Sancinetti. Fiz o curso colegial na Escola Industrial "Coronel Fernando Febeliano da Costa”. Um dos professores com quem me identifiquei muito foi o professor Faganello, assim como o professor Lineu Cardoso. A professora Joana Falanghe, de matemática. O sonho de muitos garotos era sair de um curso primário e ingressar em uma escola como Jerônimo Gallo, Sud Menucci, Dom Bosco. Era difícil, o ensino era de primeiríssima qualidade. Lembro-me que morava na Rua Madre Cecília e fui a pé até o Jerônimo Gallo para ver se o meu nome estava na lista dos aprovados. Não havia a publicação dos aprovados em jornais, rádio, internet.Quando vi que o meu nome constava da lista dos aprovados fui em um cantinho e chorei muito.


Você participa de alguma religião?


Sou católico, apostólico, romano, praticante, com muito orgulho. Apesar de não freqüentar muito a Igreja dos Frades, eu gostava de ir lá, havia as festas, o futebol de salão. Freqüentávamos as quadras do Colégio Piracicabano que ficava na Rua do Rosário com entrada em frente a Rua Dom.Pedro II. Aonde mais convivi, fiz a minha primeira comunhão onde segui a minha educação religiosa, foi na catedral, tempo do monsenhor Francisco Michele. Em minha vida sempre gostei de participar de tudo, era curioso. Gostava muito de jogar bola e ver jogo de futebol. Eu gostava muito de cinema, ia durante a semana, sábado, domingo. Na época havia os cinemas: Palácio (Mais tarde Rívoli, ficava entre a Rua XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana, onde hoje há uma igreja, Colonial, na Rua Benjamin Constant quase esquina com a Rua Prudente de Moraes, onde atualmente funciona uma igreja, Politeama que ficava na Praça José Bonifácio, onde hoje é parte do estacionamento do Bradesco, o Broadway, na Rua São José entre a Rua Alferes José Caetano e Praça José Bonifácio, o São José situado na Rua São José entre a Praça José Bonifácio e Rua Governador Pedro de Toledo, no bairro da Paulista, na Rua Benjamin Constant havia o Paulistinha, em cujo prédio funciona uma oficina de freios de automóveis. Assisti filmes inclusive no Plaza que ficava no Comurba (Edifício Luiz de Queiroz) que desabou, era um cinema luxuoso, glamoroso.Até hoje gosto de assistir filmes, só que com a facilidade de assistir filmes em casa acaba se acomodando. Acho importante ir ao cinema, quebra-se a rotina.


A sua vocação pela área de comunicação quando se manifestou?


Desde criança, aos oito ou deis anos meu sonho era ser jornalista e radialista. Não passava em meus anseios nenhuma outra profissão. Duas tias, a Josefa, conhecida como Zezé, já falecida e a Benedita que está viva, ambas quando me encontravam diziam que eu iria ser radialista. Eu brincava de narrar futebol, achava bonita a magia do rádio. Eu admirava como aquela voz que saía do rádio na época usava válvulas para funcionar. Eu achava um encanto aquilo ali. Ser radialista era um sonho que eu tinha. O jornalismo era uma vocação que eu tinha. Aos 10 para 12 anos passei a entregar “O Diário de Piracicaba”, cujo diretor era Sebastião Ferraz. O chefe da seção de entrega era o Seu Antonio. Quem me trouxe ao “O Diário” foi um primo, o Moisés Aparecido Romano. Eu chegava às 4 horas da madrugada para iniciar a entrega do jornal, meu objetivo era estar junto ao jornal, começar, entregar jornal para mim era um detalhe. Eu estava junto com o pessoal que fazia o jornal, encontrava um pretexto para estar ali. Eu trabalhava no Diário, era um “faz de tudo”, tinha um determinado salário, aos 19 a 20 anos eu já estava dentro da redação. Um dia eu estava sozinho na redação do Diário, era o horário de transmissão do programa “A Voz do Brasil”, dás 19 ás 20 horas. Os que iam jantar já tinham ido embora, quem viria a noite iria chegar as 19:30 a 20 horas. Eu ficava sozinho, para receber anúncios, notícias, atender telefones. Um dia Pedro Natividade, que fazia seleção de funcionários para o Lélio Ferrari, entregou um anúncio, o Supermercados Brasil precisava de um gerente. Começamos a conversar, o Pedro disse-me que eu parecia ser um menino inteligente, vivo, se não queria me candidatar ao cargo. Quando ele me falou o salário no dia seguinte fui até o Supermercados Brasil, onde permaneci por uns bons anos. Comecei no Supermercados Brasil da Rua Governador, situado entre a Rua XV de Novembro e Rua Moraes Barros, fui gerente ali. Depois inauguramos a loja no bairro São Dimas, cheguei a ser gerente geral. Em minha passagem pela Rede de Supermercados Brasil, como gerente eu cresci pessoalmente e profissionalmente graças ao relacionamento com o público e funcionários. Aprendi o valor da palavra paciência e a administrar crises e egos. Foi na Rede de Supermercados Brasil que conheci Luiz Antonio Bandeira na época gerente geral, pai do vereador André Bandeira. Lélio Ferrari faleceu, em uma quarta feira de manhã eu deixei de trabalhar no Supermercados Brasil, disse para a minha mãe que iria descansar um pouco e ver o que iria fazer. Fui para Santos, me hospedei no Hotel Avenida, aprendi a ficar ali por ser o lugar onde o XV de Novembro concentrava. Fui para ficar uma semana. A noite tinha um recado, Ary Pedroso da Rádio Difusora, conseguiu saber com a minha mãe onde eu estava. Telefonei-lhe, foi quando ele me disse: “- Retorne que você irá trabalhar conosco na Rádio Difusora”. Fiquei mais uns dois ou três dias em Santos. Voltei, foi quando nasceu a minha vida no rádio.


Você conviveu e convive com profissionais de peso na mídia de Piracicaba.


Sempre tive o privilégio de trabalhar com grandes nomes do rádio e jornal piracicabanos. Pessoas que eram consideradas referências em suas atividades. Minha referência no comércio foi Lélio Ferrari. No esporte foi Romeu Ítalo Rípoli, de quem guardo uma frase: “Valorize sempre o lado positivo da pessoa”. No jornalismo Sebastião Ferraz que me ensinou o profissionalismo de um jornalista, Cecílio Elias Neto com quem aprendi muito. Lembro-me que Sebastião Ferraz alertou-me da importância da dedicação incondicional ao jornalismo. A notícia não tem hora. Quem me levou para a redação de “O Diário” foi Nadir Blumer Pereira que me apresentou à Miguel Célio Hipólito cujo pseudônimo era Duarte Filho, era chefe do departamento de esportes de ”O Diário”, trabalhava como radialista na Rádio A Voz Agrícola e era funcionário da ESALQ. Naquela época todos nós tínhamos dois ou três empregos. À noite dedicávamos ao rádio ou ao jornal. Trabalhei no comércio, fui bancário, trabalhei no Banco Auxiliar, funcionava ao lado da catedral, onde hoje é um restaurante. Prestei um concurso e entrei no Banco da América que ficava na Rua Governador esquina com a Rua Moraes Barros. Pouco depois o Banco Itaú comprou o Banco da América, ficou banco Itaú-América. O Duarte Filho deixou a redação para se candidatar a vereador e me indicou para assumir sua função em O Diário. Sebastião Ferraz a principio me achava muito jovem para ocupar a função, mas acabou aceitando. Permaneci no Diário por muitos anos, fazia toda a parte de esporte, de todas as modalidades de esportes. Os jornais de Piracicaba sempre deram destaque para o XV de Piracicaba, o basquete naquela época era fortíssimo, o futebol amador era muito forte, muito bom, competitivo. Eu gostava de entrevistar todo mundo. Queria saber para que time o Comendador Mário Dedini torcia, entrevistei o Comendador Antonio Romano, Comendador Humberto D’ Abronzo. Eu queria conhecer as pessoas que se destacavam em suas atividades. Com isso conheci muitas pessoas.


O que você começou fazendo na Rádio Difusora?


Na Difusora aprendi muito com muitos (como na redação do Diário de Piracicaba. Devo minha entrada na emissora a: José Roberto Soave, Luiz Gonzaga Hercoton e Ary de Camargo Pedroso. Posso dizer que lá fui muito feliz.


Você chegou a ter programas na Rádio Difusora?


Tive entre eles o “Prefixo Jovem” das 23 horas até a 1 hora da manhã. Era a época da Jovem Guarda, tinha uma grande audiência, até hoje encontro com casais que nem conheço, eles param perto de mim e começam a cantar musicas que foram prefixos do programa dizendo: “Naquela época namorávamos e ouvíamos o seu programa”. Era um tempo em que não havia rádio FM. Quando escolhi esse horário o José Roberto Soave e o Luiz Hercotom me questionaram. Disse-lhes que nesse horário os estudantes estavam saindo das aulas, iria fazer rádio para a jovem guarda.


Como você conheceu Roberto Morais?


Vi Roberto Morais iniciar carreira de radialista e depois político. Um radialista apaixonado pelo que faz. Pensávamos exatamente iguais, por isso deu certo. Um político consciente da sua responsabilidade. A sua seriedade com o trabalho e a lealdade com o eleitor, mais carisma e humildade o levou a sucessivos mandatos. Hoje, um político admirado e respeitado. Eu e o Roberto Morais trabalhos juntos há mais de 30 anos. Construímos uma amizade baseada em lealdade na Difusora e por isso encaramos o desafio da Onda Livre AM deixando a Difusora em 2008 depois de três décadas. Meu grande desafio profissional foi aceitar ir para a Rádio Onda Livre AM. Lourenço Tayar convidou Roberto Morais que me levou junto.


Como explicar o prestígio e a audiência da Rádio Onda Livre AM ?


Uma meta foi traçada. Um objetivo foi definido. Meta: uma empresa sólida alicerçada pela credibilidade. Objetivo: audiência indiscutível baseada na qualidade. Lourenço Tayar é um mestre. Basta observar o que ele fez com a Onda Livre FM e a Gazeta de Piracicaba colocando-os na liderança. Um empresário com habilidade diferenciada. Sabe selecionar gente, montar equipes e as deixa agir com absoluta independência. Tínhamos a certeza de que não seria diferente com a rádio AM.


Mas, o sucesso foi rápido


Observamos prioridades. Havia necessidade de deixar claro o nosso compromisso com o ouvinte, oferecendo-lhe muita informação e prestação de serviço. Priorizamos esporte e jornalismo. Precisávamos recuperar a imagem do rádio AM, desgastado por causa da sua estagnação. Terceira prioridade: valorização do produto. Você encontra camisa por vários preços, só que uma é completamente diferente da outra. A diferença está na qualidade. Nosso compromisso com o cliente é exatamente a relação de confiabilidade. Ele precisa acreditar que seu dinheiro é bem aplicado. Temos a obrigação de lhe dar retorno.
















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