domingo, junho 16, 2013

BIGETO - JOSÉ ADROALDO GUIDOLIN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de maio de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: BIGETO - JOSÉ ADROALDO GUIDOLIN




José Adroaldo Guidolin é a pessoa mais indicada para falar de uma figura lendária em Piracicaba há algumas décadas, o seu pai, Bigeto. O escritor, historiador e jornalista Cecílio Elias Netto chegou a experimentar e registrar as delícias gastronômicas do bar do Gigeto. Publicou em 9 de dezembro de 2004 um belo texto sobre elas: “Massas suculentas acompanhadas de caipirinha e cerveja. O inesquecível bar do Gigeto, na Rua Moraes Barros, próximo a Igreja Bom Jesus. Era bar, restaurante, casa de massas, com o inevitável e essencial espaço para jogo de bocha.”- Cecílio prossegue: “ Quem não comeu dos pratos preparados pelo Bigeto perdeu a alegria de saborear, por exemplo, polenta de reis. O Tone Kraide testemunha ocular de nossa história, no seu fulgor octogenário ainda conta com detalhes como foi o grande jantar do Bigeto, aos piracicabanos campeões do mundo de 1958. De Sordi e Mazolla. Duvido, porém, houvesse mulher boba ou inteligente, não importa, que resistisse ao encantamento rústico de um jantar no Bigeto: macarronada com sangria, sabe lá o que é isso madama? E filé com fritas e cerveja? Ou bife a cavalo com caipirinha? Haverá, ainda, quem saiba fazer bife a cavalo?” O autor prossegue: “Sangria do Bigeto, essa foi para poucos”.


Mário Guidolin, o Bigeto, nasceu em Rio das Pedras, a 13 de maio de 1917, exatamente no dia do aparecimento de Nossa Senhora de Fátima aos três pastores em Portugal. Mário casou-se com Leonésia Galesi Guidolin, tiveram os filhos José Adroaldo Guidolin e Creuza Maria Guidolin. A origem da família é Padova, na Itália, José Guidolin e Antonia Pesato Guidolin, tiveram os filhos: Renato, Filipe, Romilda, Angelina, Adele, Paula, Mário (Bigeto), Antonio Durvalino. Imigraram para o Brasil instalando-se em Rio das Pedras. Grande parte da família foi para a cidade de São Caetano do Sul, onde havia muitas fábricas de cerâmicas, porcelanas, a industrialização estava florescendo, foi na época em que havia muitas vagas para trabalhar na General Motors, praticamente todos os seus tios trabalharam na General Motors em São Caetano do Sul, isso foi na década de 40. Quando menino passava as férias em São Caetano do Sul. Permaneceram em Piracicaba os filhos Mário, Paula e Antonio Durvalino.


 

O senhor lembra-se onde morava a sua avó, em Piracicaba?


Após morar inicialmente em Rio das Pedras a família mudou-se para Piracicaba, sendo que a maioria foi trabalhar em São Caetano do Sul. Na minha infância eu ia com freqüência na casa da minha avó, ela morava em uma casinha na Avenida Independência, logo após a curva do Lar Franciscano de Menores. Não era asfaltada, a casa era bem pequena, tinha um banco de pedra na frente e ao lado uma árvore que fazia sombra. Meu avô trabalhava como jardineiro em Piracicaba, ele faleceu em setembro de 1940. Permaneceram em Piracicaba os filhos Mário, Paula e Antonio Durvalino.


Onde o senhor iniciou seus estudos?


Foi no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso, situava-se na Rua São José, onde mais tarde foram as instalações do Café Morro Grande. Depois passou para a Rua Moraes Barros onde permanece até hoje. Minha primeira professora foi Dona Olga Iatauro, mãe do médico Dr. Carmo Iatauro. Outras professoras foram: Dona Lourdes, Dona Belica Canto, Dona Branca Sachs Motta de Toledo. O ginásio eu fiz no Colégio Salesiano Dom Bosco que ainda não era no Bairro Alto, funcionava em um local emprestado que nós chamávamos de “coléginho”, ficava na Paulista, vizinho a Igreja dos Frades. Mais tarde ali funcionou o Grupo Escolar Dr. João Conceição e em seguida o Colégio Dr. Jorge Coury. Eu pegava o ônibus da Viação Marchiori, o Circular, na esquina do Orlando Françoso, na Rua Moraes Barros esquina com a Rua Visconde do Rio Branco descia na esquina da Igreja dos Frades. Entrei no Colégio Dom Bosco em 1951. Eles construíram parcialmente o novo prédio, estudei lá até 1958. Em 1959 prestei vestibular na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Não passei, voltei para Piracicaba. Alguns colegas disseram que era o único ano que estava tendo a segunda chamada na ESALQ, as 80 vagas não tinham sido preenchidas. Prestei vestibular, escrito e oral. A prova oral era constituída por uma banca com três professores, eles chamavam o candidato que retirava um ponto, era um saquinho com números de 1 a 15, por exemplo, eu retirei o número 12, tive que falar sobre o Teorema das Forças Vivas. (Relação entre o trabalho mecânico e a energia cinética, forças vivas era a expressão antiga para energia cinética). Quem deu esse ponto para mim foi um dos professores da banca: Jesus Marden dos Santos. Fui até a lousa demonstrar o teorema. Em 1960 entrei no primeiro ano de agronomia da ESALQ.


O seu pai exerceu diversas atividades, sendo uma pessoa muio conhecida em Piracicaba.


Meu pai foi padeiro por muito tempo, ele não fabricava o pão e sim entregava pela cidade toda, com carrinho de tração animal. Trabalhou na Padaria Bom Jesus, do Juca Monteiro. Nessa época deveia ter seus vinte e cinco a vinte e seis anos. Depois ele trabalhou por longo tempo na Fábrica Aurora como vendedor de macarrão, massas, bolachas e biscoitos de pão de mel. A Fábrica Aurora ficava na hoje Rua Dona Felisbina Monteiro, no Largo do Bom Jesus. A concorrente era a Cacique. Era um concorrente forte, uma empresa dirigida por uma mulher, naquele tempo uma novidade, era Dona Augusta Maicon. Parece que a fábrica Aurora era maior em tamanho e produção. O logotipo da fábrica tinha um galo, por isso se chamava Aurora, o galo cantava na aurora. Meu pai deixou o carrinho de tração animal que entregava o pão e passou a trabalhar com um caminhão. Devia ser um furgão Ford da década de 40. O caminhão era pintado de azul escrito “Macarrão Aurora” Depois tinha uma faixa onde estava escrito: Massas, bolachas, biscoitos e pão de mel. A bolacha Maria era tradicional, havia o macarrão comum, o cortado, o Padre Nosso, o macarrão Ave Maria, usado mais para fazer sopa, não chamava espagueti, chamava macrrão comprido, vinha em uma pacote azul, pesava um quilo. Quando eu estava de férias ia ajudar meu pai, mais por brincadeira. Quanto macarrão comprido meu pai vendeu, ele conhecia os armazéns da cidade inteira, hoje foram sustituidos por quatro ou cinco supermercados.


José, lembra-se de alguns desses armazéns?


Subindo a Rua Moraes Barros havia o Munhoz, era o maior armazém da época, meu pai vendia para ele. No Bairro Alto tinha o Zé de Freitas, depois tinha o Orlando Françoso, em seguida vinha o Luiz Guirado, que era vizinho do Cemitério da Saudade. Na Vila Rezende, no começo era o Luiz Viliotti, no centro, o Dova, na rua Governador tinha o Café Brasil, de propriedade de Lélio Ferrari., proprietário do Armazém Brasil. Na Rua Benjamin Constant tinha a Casa Nê. Um pouco antes do meu pai trabalhar na Aurora ele trabalhou com o Zézinho Hellmeister que tinha uma fábrica de mortadela, onde mais tarde veio a ser o Bar do Bigeto, quase me frente ao Bar Cruzeiro, na Rua Moraes Barros.


O senhor chegou a ver a fabricação de mortadela?


Vi, a carne é picada, moída, ensacada, é um processo entre forno e defumada. Na época de frios só havia a mortadela, salsicha e lingüiça. Era isso que a fábrica produzia. Meu pai trabalhou bastante tempo lá, sempre na área de vendas. Depois ele passou para a fábrica de macarrão, o lugar onde ele permaneceu maior tempo.


O seu pai era um dos grandes nomes do esporte amador de Piracicaba?


Isso foi nos anos 36, 37,38 e 39. Ele era goleiro. Tem gente que diz que naquele tempo não é como hoje, que se for bom de bola ele vai para a linha do time, segundo informações, meu pai chegou a ser um goleiro conhecido, tão bom, que foi convidado para treinar no Ipiranga de São Paulo. Lá já tinha um goleiro chamado Osvaldo. Naquele tempo, só de ser chamado por um time era muito significativo.


O senhor sabe se ele se arrependeu em não ter seguido a carreira esportiva?


Naquele tempo futebol não corria dinheiro como hoje, jogava e tinha que pagar, tinha que lavar o uniforme, a bola, não tinha quem pagasse. Acredito que o Zé Tejada e o Toninho Pimenta não pagavam, um era lenhador, outro sapateiro. O Romano naquele tempo acho que ainda não era rico, acho que ele trabalhava em oficina mecânica ainda. O Xoxo mexia com pedra, fazia túmulos e revestia com pedras. O Becari tinha comércio de miudezas.


Quando seu pai abriu o restaurante?


No lugar onde a minha sogra e meu sogro tinham a doceria, na Rua Moraes Barros vizinha ao nosso campeão mundial De Sordi, meu pai acabou montando uma mercearia. Quase toda semana ele ia para São Paulo, o João Carlos Rocha que dirigia para ele, a mercearia para aquele tempo era bem montada, tinha um sortimento grande de frios, começou a vir salaminho, copa, presunto. Começou a sofisticar perto do que existia. Era uma mercearia pequena. Foi até certo ponto, depois parou. Ai ele abriu o restaurante, isso porque meu pai gostava muito de cozinhar nos ranchos, e uma das coisas que ele fazia com freqüência para vários grupos, era a feijoada. A churrascaria acabou quase por ser especializada em feijoada. Segundo um amigo meu, professor da ESALQ, que vinha comprar feijoada, dizia que era a melhor feijoada da cidade servida inclusive em porções generosas. O restaurante do Bigeto foi um dos mais tradicionais da cidade. Era chamado de Churrascaria do Bigeto. A feijoada era feita aos sábados, durante a semana eram feitos churrascos, peixes.


De onde surgiu o nome Bigeto?


Eu já fiz essa pergunta ao meu tio nem ele soube responder. Em certos ambientes se falasse sobre Mário Guidolin ninguém conhecia, mas se falasse sobre o Bigeto, na hora se lembravam. O apelido sobrepujou o nome. Os banheiros eram impecáveis, isso era uma obsessão da minha mãe. Chamava a atenção de quem freqüentava.


Por quantos anos existiu a Churrascaria do Bigeto?


Uns seis anos. Meu pai era uma pessoa muito boa. Délio Lovadini, distribuidor da Brahma em Piracicaba foi um irmão para o meu pai. Ele levou o meu pai para trabalhar com ele, depositando confiança total na honestidade que sempre foi a marca registrada do meu pai. Toda a movimentação de numerário junto aos bancos era feita pelo meu pai. Isso lhe proporcionou uma aposentadoria digna.


Quais eram as bebidas da moda na época?


Água Tonica de Quinino, Gim Tonica, Run, Cuba Libre, Fernet.


O senhor cozinha também?


Sou um colecionador inveterado de receitas, tenho mais de 6.000 receitas catalogadas. Até o momento tenho 92 cadernos de receitas.


Como engenheiro agrônomo em qual empresa foi seu primeiro emprego?


Foi na Nestlé. Quando me formei na ESALQ em 1964, já podíamos escolher o curso optativo, fiz a opção por tecnologia de alimentos, que é uma matéria que eu gosto muito. Dos 86 alunos, 14 ganharam uma viagem de 40 dias para os Estados Unidos. Visitamos as indústrias de alimentos daquele tempo nos Estados Unidos. Um exemplo mais gritante para nós foi a soja, aqui no Brasil não havia nem o cultivo de soja. E lá eles já faziam carne de soja. Cinco professores da ESALQ nos acompanharam nessa viagem. Um dos que colaboraram para que viajássemos foi o Dedini. Meu pai tinha muita amizade com o Jordão, que era professor do Senai e tinha excelente relacionamento com o Comendador Mário Dedini, Meu pai falou com o Jordão sobre a nossa necessidade de complementar recursos para a viagem. O Jordão falou com Mário Dedini, eu e outro colega fomos até a casa do Comendador Mário Dedini que autorizou o seu departamento financeiro a colaborar no complemento de verbas para viajarmos. A estadia foi paga pelos americanos. O ponto alto dessa visita é que cada professor americano era especialista em um assunto, e aqui no Brasil havia professores com conhecimentos genéricos. Os americanos ficaram assombrados em saber que um só professor conhecia tecnologia de óleo, de carne, de frutas, açúcar e álcool. Só que o especialista americano conhecia determinado assunto com profundidade. Quando voltei fui trabalhar na Nestlé em Araras. Permaneci lá por uns quatro anos.


Depois da Nestlé qual foi seu próximo local de trabalho?


Fui para o Instituto Brasileiro do Café, o IBC, onde permaneci por oito anos. Trabalhei em Nova Esperança, a 30 quilômetros e Maringá. Quando cheguei lá tinha 18 milhões de pés de café só na redondeza de Nova Esperança. Setenta por cento da produção mundial do café é Coffea arabica, outros trinta por cento do consumo é do café conilon.


Quantas espécies de café existem?


Umas 18 ou 20. Comercialmente falando no Brasil predomina o Coffea arabica. O Brasil até certo tempo vendia o café commodity, de um tempo para cá, de uns 10 anos para cá, o Brasil acordou para um nicho de cafés especiais. Ai entra um conjunto comerciantes de café americano, produtores de café brasileiro. O café foi deslocado para Minas Gerarais na região do serrado, o diretor da Associação da Indústria Brasileira do Café – ABIC, fez uma comparação do café com a produção do vinho francês, ou seja, agregar valores ao café. Isso está sendo feito.


Quais são os efetos do café no organismo humano?


Há controvérsias. Poucos sabem que a cafeina contida no café é menor do que no chá.


O Brasil depende muito ainda da exportação do café?


Em torno de vinte por cento das exportações brasileiras são de café, parece que não porque a soja cresceu muito. Chegamos a exportar oitenta e oito por cento do café consumido no mundo. Existe um trabalho feito no México onde conclui que o aproveitamento do café ao fazer a infusão (café) o aproveitamento é de apenas seis por cento. Desse resíduo era tudo jogado fora, Hoje estão procurando fazer uma série de indústrias baseadas no resíduo do café.








domingo, junho 02, 2013

LUIZ CARLOS BONZANINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de junho de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: LUIZ CARLOS BONZANINI




Luiz Carlos Bonzanini é a imagem perfeita do profissional que trabalha naquilo que gosta de fazer. Apaixonado por rádio, dono de uma voz marcante, conhece desde a mesa de som até como gerenciar uma emissora, atividades que exerceu. Mestre de cerimônias ancora de jornal, apresentador, narrador de esportes, narrou até mesmo algo inusitado, um sepultamento. Grandes estrelas da comunicação partilharam do seu convívio profissional. Talvez um dos mais conhecidos do grande público seja o apresentador Carlos Nascimento. Nascido na cidade de Dois Córregos a 10 de dezembro de 1952. (É, portanto dois-correguense), na língua indígena Mokoi-Yembú significa Dois Córregos. Luiz Carlos é filho de Luiz Bonzanini e Maria Aurora Quero Bonzanni que tiveram ainda as filhas Aparecida Maria e Maristela. Luiz Carlos Bonzanini hoje apresenta o programa “ONDA CIDADE” das 13 ás 14 horas de segunda a sexta.


Qual eram as atividades dos seus pais?


Minha mãe era do lar e meu pai ferroviário. Ele começou trabalhando o que na época chamavam de “soca”, depois passou para o vagão troley, para a manutenção da caternária (linha aérea de energia), depois ele foi para o vagão solda, que soldava os terminais na linha do trem. Mais tarde ele voltou para o vagão troley como encarregado e aposentou-se como inspetor. Ele trabalhava na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, mais tarde denominada Ferrovias Paulista S/A FEPASA.


Você chegou a morar em casa que a Companhia Paulista oferecia à seus funcionários?


Por um período moramos em casa de nossa propriedade, depois fomos morar na casa oferecida pela Companhia Paulista, era uma casa bem confortável, tinha dois dormitórios, sala, copa, cozinha, como de hábito na maioria das casas da época o banheiro ficava na área externa da casa.


Seus estudos foram realizados em que cidade?


Estudei em Dois Córregos, no Grupo Escolar Francisco Simões. Minha primeira professora foi Dona Leonor Guerreiro, no segundo ano foi Dona Letícia Poletti, no terceiro ano foi uma professora de sobrenome Capuzzi e a professora do quarto ano foi Dona Neide Francisconi. Ao concluir o primário, fiz um curso preparatório e ingressei na Escola Prática de Contabilidade, eu tinha uns 12 anos.


Com que idade você começou a trabalhar em rádio?


Comecei novo no rádio! Naquela época havia os comitês políticos, colocavam uma vara de eucalipto e a corneta (alto-falante) lá na ponta. Era montado um estúdio, como se fosse um estúdio de rádio. Com toca discos, microfone, eu tinha nove anos quando falei pela primeira vez em um microfone. Aos nove anos ia até o comitê, ficava ali por curiosidade e prazer, não ganhava nada. Era o comitê do Osvaldo Cazzonato candidato a prefeito e do Clineu Alves de Lima candidato a vice-prefeito. Eu tinha muita amizade com um locutor da Rádio Cultura de Dois Córregos, eu ficava ali, ele dizia: “- Fale um pouquinho!”. Fiz até um slogan para um vereador: “Vote bem, votando assim: para vereador Pedro Burin”. Eu tinha apenas nove anos. Foi um mandato “tampão” que eles cumpriram. Eu não tinha nenhuma remuneração era apenas o prazer de estar lá. Dalí a dois anos veio outra campanha, ai eu voltei com tudo. Tinha uns treze anos de idade, nessa ocasião ancorei mesmo o comitê político. Eu já estava lá, o outro apresentador disse-me: “Durante o dia você comanda”, a noite eu não podia ficar em função da idade, não era permitido.


Você continuou trabalhando sem nenhuma remuneração?


Não ganhava nada. Sempre diziam o seguinte: “Quem nasceu em Dois Córregos e não trabalhou na Rádio Cultura não é dois-correguense” Todos os jovens da cidade tinham o sonho de trabalhar na Rádio Cultura, a única que havia na cidade, 100 watts de potência, “ZYR-54 Rádio Cultura de Dois Córregos”. A freqüência era boa 650 khertz. No “dial” (mostrador de rádio) você encontrava um número pequeno de emissoras, não era congestionado como hoje. O que eu fazia na rádio do comitê já era o caminho que eu havia encontrado, já fui me preparando. Colocava músicas do Tonico e Tinoco, Tião Carreiro, Teixeirinha, Zilo e Zalo, Nelson Ned e fazia a campanha do candidato.


Já trabalhando na rádio você era procurado por artistas querendo divulgar suas músicas?


Nelson Ned gravou um compacto simples e ele foi até a emissora para promover a música “Será, Será” e na outra face do compacto era a música “Domingo a Tarde”, essa música estourou nas vendas. Nelson Gonçalves esteve lá divulgando seu trabalho, era de fato gago.


Você formou-se no curso de contabilidade?


Formei-me, mas não exerci. Nasci para o rádio. O candidato a vice-prefeito era o gerente da rádio, o Clineu, o meu sonho era conversar com o Clineu, pedir uma oportunidade na rádio. Uma determinada tarde eu estava fazendo a locução no comitê quando um cidadão parou logo atrás de mim, com o queixo apoiado em sua mão, ficou olhando. Perguntou-me se eu tinha a intenção de trabalhar na Rádio de Dois Córregos. Quase cai da cadeira. Respondi-lhe: “É o meu maior sonho”. Ele perguntou-me por que eu não ia. Disse que era por não conhecer o Seu Clineu. Ele disse-me: “Seu Clineu sou eu! Amanhã ás seis horas da manhã você vai até a emissora, estará lá o Compadre Vadô que apresenta o programa Aurora Sertaneja. As 5 horas e quinze minutos da manhã eu já estava na porta da rádio. O Sergio Cazonato era o técnico dele, eles entraram , entrei junto, já sabiam da minha ida. Como eu já tinha experiência na mesa de operação do comitê, com dois pick-up, fui para a mesa, o Cesar deu-me uma explicação, foi fácil para desenvolver. No dia seguinte o Sérgio que era o técnico não apareceu para trabalhar, passei a ser o técnico de som. Era para que eu praticasse a mesa para depois ganhar um horário. Nesse meio tempo se aprendia a “Humildade” que o Seu Clineu falava: varrer o salão da rádio. Tinha que fazer cobrança também para a emissora. Depois aprendemos como um transmissor trabalhava. Tinha um programa chamado “Variedades Musicais”, composto por uma música nacional, uma internacional e uma executada por uma orquestra. Era um programa para formar locutores, fui então fazer o “Variedades Musicais”, começava as nove horas da manhã e ia até as onze horas. As onze horas tinha um programa chamado “Instante Social”, era o clímax da programação da emissora. Eram noticiados os aniversários, batizados, comunicados, festas diversas , bailes. O locutor que fosse apresentá-lo era tido como o melhor locutor da rádio. Tive o prazer de apresentar esse programa durante dois anos, isso com quinze anos de idade. Passei a ser funcionário, ganhava 600 cruzeiros. Na época era um valor significativo, além disso tínhamos o livre acesso a cinema, clubes, carnaval. Bastava apresentar a carteirinha da emissora.


Por quanto tempo você permaneceu na Rádio Cultura?


Permaneci na rádio até os 18 anos, nesse meio tempo meu pai adquiriu um escritório de contabilidade e despachante policial. Eu e um colega que tinha sido técnico de som meu, o Carlos Alberto Soriano do Nascimento, que é o Carlos Nascimento hoje no SBT, ele foi operador de som em um programa que eu apresentava, chamava-se “O Comando é dos Brotos”, o prefixo era “Tijuana” com “The Clevers” e o fundo musical era “O Milionário” com os “ Os Incríveis”


O Carlos Nascimento é de Dois Córregos também?


Ele é nascido em Jaú só que cresceu em Dois Córregos, o pai dele é o Lalito, que faleceu em Piracicaba. A mãe dele é da família Soriano de Jaú, ela foi professora em Dois Córregos. O Nascimento tem uns dois anos a menos do que eu. O Nascimento tinha um trauma, o sotaque dele era piracicabano, ele não queria falar em rádio de jeito nenhum. Foi difícil. Eu apresentava o programa, animava e ele lia os comerciais. Um dos comerciais era da “Biga, Calçados de Pneus Ltda.” Era uma fábrica que havia em Dois Córregos. Outra empresa que anunciava era a “Distribuidora de Bebidas Santana” que era do Osvaldo Casonato. Fomos para um teste na emissora Jauense, emissora coligada. Fizemos o teste, após dois dias cheguei a minha casa e a minha mãe me entregou uma chave, dizendo: “É para você ir para o escritório que o seu pai comprou em sociedade”. Disse-lhe que não queria, estava esperando a Rádio Jauense me chamar! Meu pai era duro na queda, com isso fui contrariado para o escritório. Naquele dia o Seu Alides Fabris que era o gerente da Rádio Jauense me procurou, expliquei-lhe que estava comprometido com o escritório. Ele levou o Nascimento, só que a mãe dele era contraria a ele fazer rádio. Na época havia discriminação com quem fazia rádio não era considerada uma profissão. O Nascimento acabou não indo para a Jauense. Logo em seguida ele foi para São Paulo para estudar, foi quando ele ingressou na Rádio ABC do falecido Lombardi que trabalhava com o Silvio Santos. O Nascimento trabalhou muito tempo na Rádio Nacional, hoje Globo, ele cobria noticias do aeroporto. Depois ele foi para a TV Globo. Eu fiquei no escritório um ano. Abandonei, disse que ali não ficava. Vendi o escritório e fui trabalhar no escritório da Usina Santa Adelaide em Dois Córregos, Fazia dois meses que eu estava trabalhando, naquela época havia o jornal Gazeta Esportiva, o chefe da seção após o almoço abriu a Gazeta, foi quando vi escrito: “Campeonato Paulista Começa Domingo”. Bateu-me um desespero danado, pedi demissão na usina. Meu tio Eduardo Quero teve gráfica na Rua Alferes José Caetano disse que a Dedini estava contratando para o almoxarifado. Decidi vir para Piracicaba, isso foi no período entre 75 e 76. Passei nas provas, a tarde tinha entrevista no almoxarifado da Dedini. Quando entrei na sala assustei, pensei: “Agnaldo Rayol!”. Era Erotides Gil, idêntico a Agnaldo Rayol. Conversando ele me perguntou se eu era locutor de rádio, disse-lhe que era. Ele me disse: “-Então o que você veio fazer aqui?”. Mandou que fosse esperá-lo em frente à Rádio Difusora de Piracicaba as 17:50 horas. Entramos, ele me apresentou para o Luiz Hercoton, José Suave, pediram para que eu fizesse um teste, o operador era Claudinei Vaz. Gravei, ouviram e eu fui contratado pela Rádio Difusora de Piracicaba. Na Dedini eu ia ganhar um valor que na moeda da época era de cinco unidades, na Difusora passaria a ganhar cinco e meio. Nessa época eu já estava casado, casei-me aos 18 anos, eu já tinha meu filho. Naquela época tínhamos as taças Ouro, Prata e Bronze. A nossa equipe era composta pelos narradores: Ary Pedroso, Erotides Gil, repórteres de campo era Orlando Murilo e eu. O saudoso Luiz de Oliveira era o plantão. Recebi um convite dentro do Estádio Barão de Serra Negra em um jogo entre XV de Novembro e Vasco da Gama para me transferir para a Rádio Piratininga de Jaú, acabei indo para Jaú. Em Jaú permaneci por 15 anos, trabalhando ora na Rádio Piratininga de Jaú ora na Jauense.


Você jogava futebol?


Joguei no time Associação Atlética Mokoi-Yembú ( Dois Córregos) como lateral esquerdo, volante e ponta esquerda.


Em que ano você voltou para Piracicaba?


Em 1983 voltei para a Rádio Educadora de Piracicaba, quando o XV de Novembro subiu em uma partida contra o Bandeirantes de Birigui. Ainda na Educadora fui contratado por Adhemarzinho de Barros( Filho de Adhemar de Barros), ele havia instalado uma rádio em Bariri. Fui para gerenciar a emissora, permaneci lá por uns seis ou sete anos. Voltei para Jaú. De lá fui para a Rádio Gazeta em São Paulo, Tony José me levou, a família não se adaptava em São Paulo. Voltei para Jaú. Ao todo passei por 19 emissoras de rádio. Inclusive fiquei por algum tempo na Bandeirantes em Salvador, Bahia. Acabei indo para Igaraçu do Tietê onde gerenciei a rádio por 10 anos. Em 1998 o radialista Roberto de Moraes ne buscou, voltei para a Rádio Difusora de Piracicaba, fui para a Rádio Educadora, passei pela MIX de Limeira,


Você atualmente está na Rádio Onda Livre, já ha quantos anos?


Já estou ha quatro anos. Vim convidado pelo Roberto de Moraes e pelo Edirley Rodrigues.


Qual foi o primeiro jogo profissional que você narrou?


Foi do XV de Jaú contra o São Bento de Sorocaba. Jaú tinha uma dificuldade muito grande para ter narradores de partidas de futebol, o gerente da Piratininga na época Angenor Zago, perguntou-me se eu conhecia alguém, disse-lhe que sim, um amigo meu. O falecido Jamil Netto que morava em Piracicaba. No jogo XV de Jaú e São Bento de Sorocaba o Jamil teve um problema de saúde, fui comunicado pela sua esposa, avisei o gerente que perguntou quem indicou o homem. Disse-lhe que fui eu, ele então me disse: “-Então você se vira, você vai narrar esse jogo!” Narrei. Fui bem. Fiquei como narrador.


Qual é a maior dificuldade que um narrador de futebol enfrenta?


Nos dias atuais é o número da camisa. A confecção delas impossibilita o narrador enxergar o número da camisa. Esse número dourado é de difícil visualização à noite. O narrador em pouco tempo memoriza os nomes e posições de cada jogador. Cada jogador tem algo que diferencia de outro jogador.


Uma partida que envolva jogadores de um país estrangeiro com idioma muito diferente do nosso dá mais trabalho na hora de narrar?


O bom narrador consegue fazer isso de forma natural, existe algumas técnicas que ajudam. Temos casos de narrador que em um jogo ele utilizou apenas quatro nomes do time adversário. Geralmente isso pode ocorrer se ele tiver dificuldade na escalação, sem tempo de deixá-la correta.


Qual foi o primeiro jogo que você narrou?


Narrei muitos jogos amadores, o primeiro foi um jogo do "Scratch do Rádio", da Rádio Bandeirantes onde estavam jogando entre outros: Fiori Giglioti, Oslain Galvão, em um jogo contra o Barra Funda Futebol Clube. O melhor narrador do futebol esportivo estava ali, Fiori Giglioti, deu para tremer. Mas narrei, no final ele veio, me abraçou.


Narrar futebol é uma característica profissional muito pessoal?


Ser narrador é um dom. Não se aprende a narrar, quantos querem e não conseguem.


Você já foi mestre de cerimônia?


Muitas vezes.


São atividades que grandes nomes do rádio não exercem.


Existem locutores de um potencial incrível dentro do estúdio, inclusive alguns trabalharam comigo, se for expô-lo em público, subir em um palco ou algo que o valha, ele trava. Assim como existem locutores famosos que não tem a menor intimidade com a mesa de operações. Isso está mudando, o rádio com a mania de contenção faz com que o locutor passe a operar a mesa de som. Sempre houve o técnico de som e o locutor, hoje o estúdio é um ambiente só. Não tem mais a divisória entre estúdio e técnica.


Você narra outros esportes?


Gosto de narrar basquete, vôlei, futsal.


A célebre história de microfone aberto e conversa informal já aconteceu alguma vez?


Isso acontece. Ouvi certa vez uma frase que memorizei: “Antes de abrir a boca ligue o cérebro”. Às vezes entra em um estúdio pessoas que não são do ramo, algum convidado e no bate papo solta até alguma palavra mais forte.


Luiz Caarlos Bonzanini você construiu um nome forte no rádio.


Isso não me preocupa, considero mais as amizades que fiz. Gosto dos amigos. Fora do rádio tenho uma relação bastante simples com as pessoas que conheço. Conheci muitas personalidades esportivas, grandes astros, guardo algumas fotos de alguns desses momentos, narrei jogos com Zé Carlos que jogou no Cruzeiro, Sócrates, Rivelino, Clodoado, Airton Lira, Pedro Rocha, Zenon.


Hoje a tecnologia mudou, mas até pouco tempo narrar uma partida de futebol exigia uma logística que jamais o leigo poderia imaginar?


Para você ter uma idéia, quando narrávamos futebol na Rádio Cultura, você ia para Bariri transmitir o jogo, ao chegar ao campo tinha um rapaz da telefônica lá, nos identificávamos e perguntávamos onde estava a nossa linha. Ele respondia: “-Está lá naquele poste”. O locutor tinha que arrumar uma escada, subir, puxar o fio, engatava em uma maleta, era telefone magnético naquela época, girava uma manivela, falava com a telefonista: “ – Telefonista, é da Rádio de Dois Córregos, me liga no 18”. Era o número da rádio. Ligava, falava com a técnica, dizia que estava tudo em ordem. O gerente perguntava se os times estavam em campo, se estivessem, contava até cinco e mandava bala, passava a transmitir o jogo. Naquela época não tinha retorno. Não sabia se estava no ar ou não. Era como navegar no escuro. Com o tempo houve a evolução, apareceu o retorno, na Rádio Difusora, Arildo José, um grande técnico, nos dava condições de retorno no gramado.


Você trabalhou com Benedito Hilário?


Em 1983 ele apresentava comigo um jornal falado na Rádio Educadora. Atinilo José foi uma pessoa memorável. Apresentei muitos anos Jornal da Difusora, Segunda Edição, com Atinilo José. Desde que passamos a apresentar o jornal nunca fechamos de forma séria, sempre tinha algo pra sair rindo, tanto ele como eu. Sinto saudades das apresentações feitas com Atinilo José. Ele dizia “Dezooooiiito horas!”. Ele tinha um programa chamado “Show das Três e Meia” em nome do Arroz Fortuna, pedia para levar alguma coisa inusitada até a rádio, quem levasse dentro do horário pré-estabelecido ganhava um prêmio. Em 1976 quando trabalhei na Difusora trabalhavam: Nhô Serra, que abria a rádio, depois eu e J. Roberto cujo nome completo é José Roberto de Souza, apresentávamos o “Jornal da Difusora Primeira Edição” às sete horas da manhã, vinha o Ary Pedroso, terminado o programa do Ary vinha o esporte, que eu, Orlando Murilo, Ary, Gil, Luiz de Oliveira, apresentávamos. Depois vinha eu e o J. Roberto com o Jornal Falado, na seqüência do esporte, das onze e meia até o meio dia. Ai entrava o programa do saudoso Waldemar Billia, depois voltava o J. Roberto com o programa “Difusora, Rádio Tudo Bem”. Em seguida vinha o Atinilo com o programa “Varandão da Casa Verde”. À tarde J.Roberto e Atinilo apresentavam o jornal, em seguida vinha o esporte. A noite tinha o programa do Craveiro e Cravinho, e o Edirley Rodrigues que tinha o programa dele da noite. Em 2004 fui narrador esportivo na Rádio Brasil de Santa Bárbara D`Oeste, o Paulo Edison era o plantão esportivo. Edvaldo Tietz deu seus primeiros passos como repórter ali conosco. Outro foi Luiz Adalberto Nascimento, o Beto Pastor. Fui eu quem o apelidou. Foi em um jogo no Estádio Barão de Serra Negra, eu estava narrando e ele estava estreando, achei que chamar “Luiz Adalberto” era estranho, como ele era ligado a uma determinada religião eu chamei: “- Agora o destaque do repórter Beto Pastor!”. Se ele pudesse vir pela linha ele viria, ficou bravo, pegou o apelido. Um profissional que tem tudo para estar no rádio mas que fez a opção de trabalhar com publicidade.


Rádio dá dinheiro?


Deu. Ganhei dinheiro em rádio, mesmo no interiorzão. Na época combinava-se: “Quero você na minha equipe”. Hoje dizem: “Eu pago o piso salarial”. Nunca fiz só uma coisa no rádio, apresentava o esporte, tinha o meu programa musical, e fazia jornalismo.


Você ajudou a promover muitos nomes que hoje são estrelas no cenário nacional?


Na Rádio Canoa Grande de Igaraçu do Tietê Daniel e João Paulo com frequencia estavam lá, estavam começando. Sou da época em que os artistas e cantores apresentavam espetáculos em circo. Tinham que apresentar um drama. Lembro-me de Zé Fortuna e Pitangueira com o drama “O Punhal da Vingança”. Tinham que apresentar o show deles e um drama. Havia o Circo e Teatro Ascope.


Se você não fosse radialista o que faria?


Se não fosse radialista gostaria de ter trabalhado na FEPASA Ferrovias Paulista S/A. Meu pai dizia: “Onde o pai trabalha o filho não pode trabalhar”. Para não haver protecionismo.


Como radialista você cobriu noticias policiais?


Em Piracicaba eu fiz. É uma área em que se tem que ter jogo de cintura. Às vezes tinha que entrevistar o contraventor, mas tem que pesar muito, senti-lo, saber como ele está. Fiz a cobertura policial por muito tempo, nunca tive nenhum problema, mas sempre procurei trabalhar de forma a não ofender quem quer que fosse.


Como você vê o rádio atualmente?


É difícil falar. Hoje funciona da seguinte maneira, não importa quantos anos você tenha de rádio ou a sua audiência, você tem que vender. Se você não tiver sua carteira de clientes, amanhã vem um moleque que está começando no rádio, vem com R$ 10.000,00 de vendas, pede o seu horário, dão o seu horário para ele porque o dele é rentável e o seu não.


Baixou o nível do rádio?


Baixou! Hoje o rádio é comercial. Totalmente comercial.


Você fez televisão?


Trabalhei na TV do Silvio Santos, tinha um estúdio em Jaú. Era São Paulo, Jaú. Depois abriu outro estúdio em Ribeirão Preto. Eu gravava os créditos da televisão. E apresentei um jornal falado, entrava na rede. Tive uma rápida passagem pela MIX mineira, eu, Rogério Achiles. Gosto mais de rádio.


O ouvinte usa muito a imaginação ao ouvir o rádio?


Pela voz ele começa a imaginar o locutor, às vezes ele pensa que você é um cara de um metro e oitenta de altura, atlético, olho verde, quando ele vai ver não tem nada disso. Houve uma época em que o público feminino criava ilusões sobre um locutor de voz marcante. Atualmente isso mudou.


Você transmitiu de tudo, por acaso algum sepultamento?


Transmiti o sepultamento do jogador “Chicão”, Francisco Jesuino Avanzi, transmiti pela Rádio Onda Livre. Eu e Edirley Rodrigues fomos acompanhando o féretro até o Parque da Ressurreição. Narrava “Agora pela Avenida Independência nos aproximamos do Campo Santo, onde será sepultado...”. A transmissão foi feita por etapas. No ato do sepultamento narrei: “Acaba de ser sepultado...” Ai tinha diversos jogadores como o Careca, o Almeida., completamos com as entrevistas.








HÉLIO DE SOUZA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 25 de maio de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: HÉLIO DE SOUZA




Hélio de Souza nasceu a 31 de março de 1940, no município de São Pedro. Filho de Oscar de Souza e Rosa Barganholo de Souza. O casal teve os filhos: João, Julia, Luzia, Irene, Hélio, Antonio, José, Maria Rosário. Tiveram ainda um filho falecido aos 11 anos de idade, em 1936. Oscar e Rosa eram lavradores trabalharam no plantio de arroz, feijão, milho para sua subsistência, e trabalhavam como meeiros de café. Havia muitas fazendas de café, como Santa Júlia, Capim Fino, Monte Roxo, Macuco. Hélio de Souza, agricultor, sindicalista, político, é uma referência de idoneidade e integridade em todo o seu percurso nessas áreas. Assumiu muito jovem a responsabilidade de arrimo de família.


O senhor começou a trabalhar muito jovem na lavoura?


Comecei a trabalhar na Fazenda Santa Maria das Pedreiras, hoje denominada Santa Maria da Ponte do Meio, na época propriedade de Ernesto Piedade. Da fazenda eu vinha até a escola onde estudei até terminar o quarto ano. A fazenda tinha como atividade principal a criação de gado, na época havia umas oito casas na fazenda, sendo que em cada uma havia uma família com no mínimo cinco pessoas. Comecei a estudar com sete anos, na Fazenda Suíça, região de Marília. Meu pai caiu na ilusão contada por um senhor que dizia que em Marília alface dava do tamanho de uma pedra grande, porte equivalente a um saco de arroz. Com essa história ele levou daqui para lá cinco famílias. A fazenda lá era bem estruturada, com terreiro de café, escola, armazém. Quando chegamos lá vimos que a história era bem diferente, o cultivo era só de café. O salário era destinado a fazer a compra do que se consumia em casa. Se o alimento fosse suficiente para passar o mês tudo bem, senão se virasse. Com isso o trabalhador estava sempre devendo, era uma escravidão. Para sairmos de lá tivemos que sair fugidos, meu pai deu uma desculpa de que tinha uma tia passando mal em Jaú, tinha que vir embora. Tomamos o ônibus que passava na fazenda, a famosa jardineira, até Garça. De lá seguimos de trem até Torrinha. Chegamos a Torrinha à uma hora da madrugada, minha mãe estava grávida de oito meses, não tinha onde posar, lembro-me de que havia um bar aberto ainda, arrumaram uns colchões para nós passarmos a noite no armazém da estação. No dia seguinte, às sete e meia voltamos para casa. Viemos morar em frente ao antigo armazém de Vitório Longhi, era a casa onde morava a minha tia, irmã do meu pai. Permanecemos ali por uns quinze dias, depois mudamos para uma casa situada na Rua Veríssimo Prado, onde hoje é o Posto Serrano.


Morando na cidade qual atividade o pai do senhor exercia?


Sempre lavrador. Saia ia até as fazendas, cortava lenha, trabalhava por dia. Sempre existia uma condução que passava e o levava até o trabalho.


Os filhos ajudavam?


Meu irmão mais velho aos 18 anos foi servir o exército, quando terminou foi embora para São Bernardo do Campo. Ficou a Julia que era empregada doméstica; a Luzia e a Irene trabalhavam com bordado.


O senhor reiniciou o primário em São Pedro?


Como tínhamos ficado apenas sete meses em Marília não cheguei a concluir o primeiro ano do curso primário. Comecei o primeiro ano no Grupo Escolar Gustavo Teixeira, minha primeira professora foi Dona Lili Capeletti, a segunda professora foi Dona Mirtes, a terceira foi Dona Lela, a quarta foi Dona Lurdinha. Nessa época eu saia da escola e ia trabalhar na roça. Tinha um caminhão que nos levava para colher algodão na hoje Fazenda São Pedro do antigo Berge, e na Fazenda Altão. Eu tinha uns treze ou quatorze anos, íamos bastantes crianças. Na época usava alpargatas. Em novembro de 1955 meu pai faleceu. Fiquei com três irmãos menores e com a minha mãe. Eu tinha treze anos, José com nove anos, o Antonio tinha onze anos e a menorzinha com sete anos. Costumo dizer que ampliei meus conhecimentos na USP – Usina São Pedro.


Como foi a sobrevivência de vocês?


Minha mãe lavava roupa para outras famílias, meu pai morreu em uma terça feira, fizemos seu enterro na quarta feira, na segunda-feira seguinte eu comecei a trabalhar na lavoura como diarista. Fui trabalhar na Várzea do Araquá, no plantio de arroz, alho e cebola. Eu ia com o caminhão de turma, era um Chevrolet V-8. Comecei a trabalhar no Fazendão, na turma de Luiz Albino, já na lavoura de cana-de-açúcar. Trabalhei em toda a região de São Pedro, plantando e colhendo cana.


O senhor era bom no corte de cana-de-açúcar?


Acredito que era, tinha que ser para sustentar meus irmãos e minha mãe.


Cana queimada ou sem queimar?


Cana queimada. Naquele tempo tinha que cortar, amarrar em feixes de 12, 15, 18 unidades conforme a cana. O Fazendão era da antiga Usina Paraíso.


Qual era a melhor marca de podão?


Era o Santa Bárbara, dava para fazer a barba de tão afiado. Na época havia a enxada Duas Caras, mas eu gostava da Dragão, e lima era a KF.


Que horas era o almoço?


Saia daqui às seis horas chegava cedo, antes da sete horas tinha que comer um pouquinho, almoçava ás nove horas da manhã, voltava ao serviço ás nove e meia, o almoço era composto por feijão, arroz, ovo e batatinha cozida. Não esquentava a marmita, por isso surgiu o nome “bóia-fria”. Cada um levava o seu corote ou garrafão de água. À uma hora da tarde tomava café, que era o resto da comida que sobrava do almoço, café. Tinha uma hora de descanso e parava às cinco horas da tarde, de segunda a sábado. Chegava em casa, tomava banho e ia dormir. Naquele tempo não tinha televisão, quem tinha posses adquiria um rádio.


Aos domingos quais eram as atividades?


Assistia a missa das sete e meia da manhã, aqui em São Pedro passaram muitos padres, um dos que lembro era o padre Floriano Colombi que permaneceu por muito tempo em São Pedro. Ele que celebrou o meu casamento. A devoção da cidade é São Pedro, mas sempre fui muito devoto de São Benedito. O Roque Ferraz era fiscal da turma do Seu Luiz Albino, além de ser o motorista que nos levava. Eu tinha 17 anos, estava cortando cana perto de Artemis, antigamente denominado de Porto João Alfredo, foi uma semana difícil, ruim de cortar cana, estava chovendo muito. Em São Pedro havia a festa de São Benedito, era uma festa bonita, vim até a festa, fui até a igreja, naquele tempo havia a reza, pedi com tanta devoção, que me desse um serviço melhor, naquela semana não havia ganhado para pagar o armazém do Chiquinho da Venda. Quando retornei para casa, isso foi em uma sexta feira, meu tio estava me esperando em casa. Naquele tempo havia o preço pago para homem, para mulher e para criança. Uma criança poderia trabalhar melhor do que um homem, o salário seria sempre o de uma criança. A mulher, era a mesma coisa, dava um ‘couro” em homem na enxada, mas não ganhava igual a ele. Meu tio disse que ia abrir um serviço na Fazenda São Pedro, segunda feira: “-Você começa a trabalhar conosco, irá ganhar o preço pago a um homem”. Eu tinha 17 anos. Não sai mais da fazenda. Lá plantamos a primeira cana. Meu tio José Marciliano era o fiscal. Pedi ao meu pai, que já tinha falecido, e à São Benedito, com tanta fé, ele me deu luz e me protegeu.


Qual é o nome da sua esposa?


Maria Alves Batista de Souza, ela era empregada doméstica, nos conhecemos no centro de São Pedro, quadrando jardim. Casamos em 24 de dezembro de 1960. Tivemos quatro filhos: Aparecida de Lourdes, Lazara Bernadete, Francisco Valentim e Cláudia Helena. Tenho os netos Alessandra Cristina, Hélio Neto, Rodrigo, Renan, Letícia e Renata, os bisnetos Kaik e Matheus. Com 17 anos entrei no Engenho São Pedro na beira do Rio Piracicaba. Quem construiu o engenho foram o Dr. Celso Silveira Mello e o Dr. Leo Silveira Mello. Da. Isaltina Silveira Mello era irmã deles. Na época havia a Fazenda Samambaia que era do grupo. Tinha seis casas de colonos na Fazenda Samambaia , e na Fazenda São Pedro dez casas Ali era produzida pinga que era vendida a granel. Naquela época o trabalhador rural não tinha décimo terceiro salário, trabalhava de segunda a sábado, não tinha férias. Foi quando surgiu o movimento sindical no Brasil. Isso foi em 1962. Posso afirmar que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Pedro nasceu no Engenho São Pedro. Participaram Adolfo Bonifácio Bragaia que era pequeno produtor rural, Sebastião Mengatto, eu participava, assim como outros, formando um grupo. Primeiro foi fundada a Associação Profissional dos Trabalhadores Rurais, em março de 1962, em um domingo de páscoa. Em junho do mesmo ano formamos o sindicato, não tinha sede, funcionava aos domingos a tarde na Câmara Municipal. Isso foi até a Revolução de 1964.


Mesmo em uma cidade pacata como São Pedro ser sindicalista em 1964 não era muito confortável?


Era perigoso. Na época o sindicato que tinha muita força era o dos ferroviários. Nós tínhamos um advogado, Dr. Pompilho Rafael Flores, naquele tempo não havia juntas trabalhistas as questões trabalhistas eram resolvidas no fórum pelo juiz de direito. Dr. Pedro Capellari foi um dos que nos ajudou muito na fundação e na continuidade de propósitos. Outro que nos ajudou muito foi João de Brito.


Em que ano o senhor assumiu como Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Pedro?


Foi em 1967. A partir de 1970, 1973 Dr. Winston Sebe nos deu uma grande força. Em 1973 me licenciei do Engenho São Pedro e vim para o sindicato.


O senhor atuou na política?


Em 1976 fui candidato a vereador, no meus dois primeiros mandatos não existia essa história de subsidio politico, vereador não tinha salário, era voluntário. Tinha que trabalhar para a cidade de São Pedro e ter mais força para lutar pela nossa categoria. Eu não tinha nem automóvel, tinha uma bicicleta Monark Barra Forte. No segundo mandato surgiu a aposentadoria do político. Em São Pedro o prefeito mandou para a Camara o projeto para que o político, prefeito ou vereador, com oito anos de mandato passaria a ter o benefício da aposentadoria. Eu e os companheiros do antigo MDB não aceitamos. Em 1973 o trabalhador rural aposentava-se com meio salário mínimo, foi o primeiro benefício que conseguimos para o trabalhador rural, além da assistência médica, dentária, hospitalar, através do sindicato. Eu achava um absurdo o trabalhador rural aposentar-se com 65 anos e receber meio salário mínimo. Não aprovamos a lei para o político se aposentar em São Pedro com oito anos de mandato.


Quando o senhor foi eleito pela primeira vez quem era o prefeito de São Pedro?


Era Walmy Modesto. No meu segundo mandato foi Antonieta Eliza Ghirotti Antonelli, fui presidente da câmara quatro vezes. Fui eleito cinco vezes como vereador. Fui uma vez vice-prefeito da Antonieta.


O que a política trouxe de ensinamentos para o senhor?


É gostoso ser político, embora sempre deixe algumas mágoas. Nem tudo sai da forma como se deseja. Tenho orgulho em dizer que fui vereador por cinco mandatos, vice-prefeito, Presidente da Assembléia Municipal Constituinte na mudança da Constituição de 1988. Sempre fui filiado ao MDB depois PMDB.


Quais são os projetos do sindicato atualmente?


Hoje são mais dedicados á agricultura familiar. Representamos quatro categorias: o corte de lenha, a lavoura diversificada, a cana-de-açúcar e a laranja. De uns quatro anos para cá até junto ao pé da serra tem eucalipto plantado. Uma parte do Alto da Serra de São Pedro pertence ao município de São Pedro, outras partes pertencem a Itirapina, Brotas, Torrinha.


Qual é a vocação do município de São Pedro?


Eu falo que a agricultura é a vocação, mas o turismo está muito forte. Há muitos loteamentos, muitas chácaras, aos finais de semana prolongados a cidade fica muito movimentada. No censo São Pedro tem pouco mais de 33.000 habitantes, nesses feriados a cidade passa a ter mais de 50.000 pessoas. O Alto da Serra era o celeiro do município, hoje está tomado pelo plantio de cana-de-açúcar. Ainda tem um pessoal que cultiva verduras e legumes. Temos a Feira do Produtor Rural, a qual fui idealizador, atualmente aos sábados a Feira do Produtor Rural é muito freqüentada, é a venda do produtor para o consumidor. O nosso sindicato tem 51 anos de existência. Damos assistência médica, hospitalar, jurídica e previdenciária.







quinta-feira, maio 30, 2013

IRMÃ LUIZA BERTAZZONI

IRMÃ: LUIZA BERTAZZONI
Faleceu na cidade de Piracicaba aos 68 anos de idade e era filha do Sr. Ferrucio Bertazzoni e da Sra. Angelina Chinelatto, ambos falecidos.
Falecimento: 29/5/2013  Velório: R. BOA MORTE - 1.955 - CENTRO
Sepultamento: 30/5/2013 - 15:00:00
Local: CEMITERIO DA SAUDADE

EM SUA HOMENAGEM PUBLICAMOS ENTREVISTA REALIZADA EM 2008 NOS ESTÚDIOS DA RÁDIO EDUCADORA DE PIRACICABA 1060 KHERTZ.




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Produção e apresentação Jornalista e Radialista JOÃO UMBERTO NASSIF
Transmitido pela RÁDIO EDUCADORA DE PIRACICABA AM 1060KHERTZ
aos sábados das 10:00 ás 11:00 horas da manhã.
Contato com João Umberto Nassif :e-mail:joao.nassif@ig.com.br
Este programa está também transcrito no site www.teleresponde.com.br
O Primeiro Setor corresponde à manifestação popular, que pelo voto confere poder ao governo. É o Estado. O Segundo Setor corresponde à livre iniciativa, que opera a agenda econômica, utilizando-se do lucro. É o mercado. O Terceiro Setor corresponde às instituições com preocupações e práticas sociais, sem fins lucrativos, que geram bens e serviços de caráter público, tais como: ONGs, instituições religiosas, entidades beneficentes etc.






ENTREVISTADA: IRMÃ LUIZA BERTAZZONI DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS FRANCISCANAS DO CORAÇÃO DE MARIA.


Nosso objetivo principal é dar uma pequena imagem de quem foi Irmã Cecília, que muitos piracicabanos conhecem como nome de rua, Rua Madre Cecília muitos sem saberem da importância dessa religiosa. Madre Cecília, ou Mamãe Cecília como é carinhosamente chamada, nasceu em Piracicaba aos 7 dias do mês de julho de 1852, filha de Pedro Liberato Macedo e Rosa Martins Bonilha, foi batizada com o nome de Antonia. No dia 11 de fevereiro de 1888, na presença do Padre Francisco Galvão Pais de Barros, por imposição paterna, casou-se com Francisco José Borges Ferreira, português, com quem teve três filhos: João, Antonio e Rosa. Seis anos após, ficou viúva e foi com seu trabalho de costureira que conseguiu criá-los. Piracicaba contava com 10.540 habitantes em 1888. Em 1895 ingressou na Ordem Terceira Franciscana, recebendo o nome de Irmã Cecília do Coração de Maria Aos 6 de janeiro de 1896, sentiu uma inspiração de Deus, que expressou às suas companheiras de trabalho e ao Diretor Espiritual da Ordem Terceira Franciscana - Frei Luiz Maria de São Tiago: “desejava arranjar uma casa, onde, junto com outras Irmãs Terceiras, pudéssemos viver a oração, o trabalho, ajudando os Capuchinhos em suas missões”. dizendo que essa casa seria “um asilo para as meninas órfãs”. As Irmãs Terceiras, confiantes no Coração de Maria, começaram a pedir ajuda ao povo para essa construção que foi inaugurada aos 2 de fevereiro de 1898. No dia 30 de setembro de 1900, sete Irmãs Terceiras por graça de Deus, davam início à Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria. Madre Cecília era a superiora geral da nova Congregação. Transcrevemos na integra, texto publicado na época: “Estracto para publicação dos estatutos da Asylo de Nossa Mãe Artigo 1o – Com denominação de Asylo “de Nossa Mãe”, fica fundado com sede e estabelecimento na cidade de Piracicaba, um instituto destinado a educar e sustentar meninas desvalidas, orphams ou não,sem distinção de cor ou classe. Artigo 7o – O asylo será representado activa e passivamente em Juízo e em geral nas suas relações para com terceiros pela Directora, que poderá outhorgar mandato em delegação de poderes. Artigo 8o - A administração fica a cargo exclusivo da Directora, com as restrições expressamente consignadas nestes estatutos. (Essas restrições só dizem respeito à admissão ou retirada de algumma aluna,benfeitora ou mestra.) Artigo 3o – Os membros do Asylo não respondem subsidiáriamente pelas obrigações que os seus representantes comtrhirem expressa ou intencionalmente em nome della. Artigo 6o das disposições transitórias. Fica a directora auctorizada a fazer inscrever estes estatutos e a fazel-os publicar no jornal official do estado, na forma da legislação em vigor. Pelo Art. 9o das mesmas disposições foi declarada directora a sra. D. Antonia Martins de Macedo. Piracicaba, 27 de outubro de 1896 – Antonia Martins de Macedo”. A primeira pedra ficou bem embaixo de onde se vê , até hoje , o quadro de Coração de Maria. No dia 2 de fevereiro de 1898, mesmo sem estar feita a instalação da água, o Asilo foi inaugurado.


Existe um quadro do Coração de Maria exposto em uma das janelas, de tal forma que todo transeunte pode vê-lo?


Esse quadro tem um significado muito grande para nós. Frei Luiz Maria de São Tiago, no dia 21 de setembro, aos 22 anos de idade, recebeu o hábito dos capuchinhos, no noviciado da Província de Trento, Itália, no convento de Ala. Ele era colaborador de Irmã Cecília. Quando foi enviado da Itália para o Brasil, ao receber um quadro do Coração de Jesus do Papa Leão XIII , com a incumbência de propagar a devoção ao Coração de Jesus, por isso a Igreja dos Frades é Igreja do Sagrado Coração de Jesus, ele decidiu propagar também a devoção ao Coração de Maria. Quando foi construído o Lar Escola, foi ele quem esboçou aquele espaço para que um quadro sempre iluminasse a vida daqueles que passam à frente do Lar Escola. Na fachada lia-se: “Asilo Coração de Maria nossa Mãe” e um quadro do Coração de Maria, sempre iluminado ocupa a janela mais alta até os dias de hoje. Já são mais de 20 quadros utilizados nesses mais de 100 anos. De tempos em tempos temos que mudar por causa do efeito do sol que incide sobre o quadro. O sol queima a pintura.


Existe um espaço de relíquia da Mamãe Cecília no Lar Escola?


Costumamos dizer que é um espaço de relíquia. Tem as últimas coisas que ela usou, que pudemos guardar e conservar até hoje. Inclusive coisas que se desgastam rapidamente como tecidos por exemplo. Estamos conseguindo conservar um pouco.


Como é a história da construção do Asilo?


Mamãe Cecília, como sabemos, foi casada, e teve três filhos, sendo que a sua filha Rosa era portadora de deficiência múltipla, dando bastante trabalho. (Rosa era cega e deficiente mental). Viveu por 65 anos. Seu marido Francisco José Borges Ferreira faleceu no dia 7 de dezembro aos 43 anos de idade. Antoninha tinha 41. O pai de Antoninha Pedro Liberato de Macedo morreu aos 88 anos de idade e sua mãe Rosa Maria Bonilha faleceu três meses depois no dia 5 de março de 1894. Antonia completou 42 anos de idade em 7 de julho de 1894. No ano de 1895 os capuchinhos inauguraram a Igreja do Coração de Jesus em Piracicaba. A Ordem Terceira Franciscana é constituída de homens e mulheres que não deixam suas famílias nem seus trabalhos. Muitas fraternidades da Ordem Terceira do Brasil Imperial eram verdadeiros clubes que reuniam pessoas influentes e poderosas, como um sinal de prestígio e para garantir algumas vantagens como...jazigos em cemitérios! O Papa Leão XIII enfrentou uma corajosa reforma para que a Ordem Terceira voltasse à suas origens. Irmã Cecília foi nomeada conselheira da Ordem Terceira. Constam ainda como terceiras Dona Maria das Dores Morato (Da. Mariquinha) e Dona Luiza Josefina de Matos (Da. Luizinha). Um dia passando pela Rua Boa Morte com sua amiga, Da.Mariquinha Morato na altura onde ficava nesse tempo a casa provisória dos capuchinhos, Da. Antonia ficou encantada com uma bela paineira em flor, do outro lado da rua, e manifestou que aquele poderia ser um bom lugar para construir o Asilo. Disse então: - Eu gostaria tanto que a casa fosse construída no lugar dessa paineira. Mas aonde vamos arrumar o dinheiro necessário para adquirir esse terreno? Dona Mariquinha disse: Já é seu! Esse terreno é a minha herança de família! Foi a mais forte manifestação de que Deus queria que essa casa fosse erguida! Muitas crianças nesses mais de 100 anos já tiveram seu aconchego, seu descanso, seu alimento.


Como funciona hoje o Lar Escola?


Funciona como creche. Até a década de 1980 era internato, abrigo para meninas, ali eram abrigadas até 130 meninas abandonadas, órfãs, que não tinha com quem ficar. A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente veio a proposta do desinternamento. Foi um longo processo que fizemos para que nenhuma criança ficasse abandonada, na rua. A partir daí passou a funcionar como creche e educação complementar. Hoje temos cerca de 250 crianças de 2 a 11 anos. Nota do Jornalista: Em 20 de novembro de 1989, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprofundando a Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança (uma carta magna para as crianças de todo o mundo). No ano seguinte, o documento foi oficializado como lei internacional. Hoje, a Convenção é ratificada por praticamente todos os países do mundo, excetuados Somália e Estados Unidos. No Brasil regulamentamos a CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. 5198 :: Profissionais do sexo. Por questão de bom senso, deixo para os legisladores e estudiosos do assunto analisarem e detalharem a matéria.


Aonde a senhora acredita que estão as possíveis 130 meninas que poderiam estar abrigadas aqui no Lar?


Hoje, se olharmos tantas unidades da Febem com situações sérias, é possível que não teríamos o passo do desinternamento. Não seria uma Febem, mas seria um abrigo com crianças com encaminhamento, saem aos 18 anos já com emprego. Algumas das meninas bem adiantadas em seus estudos.


O mesmo acontece com o Lar Franciscano de Menores?


Também! Um dos serviços que eles prestavam à comunidade era o de encadernação. Um trabalho de muito boa qualidade.


Hoje o Lar dos Velhinhos de Piracicaba recebe uma importantíssima atuação das irmãs?


A partir de 1917 nossas irmãs começaram a trabalhar lá. São quase 90 anos de serviços prestados aos idosos. E de serviço à saúde. No ano passado completamos 90 anos cuidando de doentes na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba.


O começo do Lar Escola foi difícil?


De 1898 a 1900 apenas era o Lar Escola. Cuidando de crianças. No dia 2 de fevereiro de 1898 , mesmo sem estar feita a instalação de água, o Asilo foi inaugurado. Era um edifício muito simples e pobre, que existe até hoje. Tinha três andares para economizar terreno. Naquele dia instalaram-se D. Antonia com quatro companheiras da Ordem Terceira Franciscana., seus três filhos, e as duas órfãs. Elas porém não eram freiras. Simplesmente moravam juntas, viviam uma vida religiosa. A casa era tão pobre que elas, quase sempre trabalhavam descalças. Alguém lhes doou doze latas de marmelada, abriam uma lata cada vez que entrava uma órfã: a lata vazia servia de prato. Até que Luiz de Toledo, um comerciante, visitou a casa e , e vendo aquela pobreza mandou um bom donativo de talhas, pratos, jarras e outros utensílios. Em 1900 foi fundada a Congregação. Com sete irmãs. Logo no início, ficando com sua filha Rosa, de oito anos de idade, mandou os filhos João, com sete anos e Antonio com cinco anos , para o Liceu Coração de Jesus, mantido pelos padres salesianos em São Paulo, sendo que as despesas correram por conta do Sr. José Estanislau do Amaral e segundo dizem, também Da. Tereza de Jesus Aguirre auxiliou. Mamãe (Madre) durante doze anos abriu novas casas, e cresceu o número de irmãs.


A senhora sente alguma diferença da criança de hoje com relação à criança de alguns anos passados?


Existem grande diferenças. Trabalho na educação há quase 40 anos. Os meios de comunicação toda à parte da mídia, liberam instintos, que não são bem direcionados. Hoje sentimos as crianças muito mais liberais, mais questionadoras, mais atrevidas. Não se conformam com certas coisas. São princípios da educação que tentamos passar mas encontramos resistência. Porque? Porque existe uma babá eletrônica, que é a televisão, aonde aprende a responder para o pai, para a mãe, para as autoridades.


Quanto à história do chalé?


Madre Cecília recebeu uma carta do Bispo Diocesano de Campinas, Dom João Batista Correa Nery, aonde dizia: “Madre,[...] cumprimentos. Se a senhora puder conservar os seus filhos do locutório para fora (Locutório é o compartimento separado por grades, donde falam as pessoas recolhidas em conventos, prisões etc. com as de fora que as procuram) poderá ficar em qualquer casa.; do contrário, ficará dispensada da Comunidade, em lugar onde possa recebe-los e cuidar deles”. Pouco tempo antes, uma sua benfeitora, tinha comprado para a Congregação uma casa vizinha ao Asilo, com um lote intermediário. Pertencia a uma tal de “Nhá Eva” e de lá vinha sempre muito barulho. Mamãe Cecília, brincando, chamava o lugar de “urupuca da cabocla”. Era um sobradinho a que as irmãs apelidaram de “o chalé”. Quando o bispo perguntou se não tinha aonde alojar a fundadora, essa foi à casa indicada. Teve de ir para lá, com sua filha Rosa, cada vez mais insuportável por causa dos seus gritos, e com a dedicada Irmã Maria do Carmo que lhe fez companhia até o fim. Esse chalé foi adquirido em nome do Asylo Coração de Maria em 1910, seus proprietários eram: Sr. Veridiano Rolim Barbosa e Sra. Maria Joaquina Barbosa, ficava na Rua Saldanha Marinho, 13 atual Rua São Francisco. Madre Cecília morou nessa casa por 31 anos. Esse chalé foi derrubado e foram construídas algumas casas para sustento do Lar.


O chalé está sendo reconstruído?


Hoje está sendo reconstruído não o chalé, mas um pequeno espaço de oração. Onde as pessoas podem ir lá, rezarem, se encontrarem, bem nas costas aonde era o chalé. Existe a maquete do chalé na sala de lembranças.


Tem uma fotografia mostrando religiosos ajoelhados na porta do chalé, simboliza o que?


Todos os anos, ela enfeitava a sacada do chalé, eram dois pavimentos, a parte de baixo com belas flores, e era um dos lugares aonde o Santíssimo parava e todo o povo rezava naquele momento de uma maneira especial. O chalé era mesmo a casa da Mamãe Cecília. Um lugar da Eucaristia. Mamãe Cecília tinha um amor muito grande por Jesus.E a noite quando ela acordava,ela visitava em pensamento todas as igrejas de Piracicaba. A gente sente em Mamãe Cecília uma pessoa muito envolvida com a comunidade, com a sociedade, com a pobreza, com os necessitados.


Quando a catedral sofreu um incêndio ela fez um apelo pelo jornal aos piracicabanos, dizendo que ela conhecia a generosidade deles e tinha a certeza de que todos iam doar se não me engano, 2 reais para a reconstrução da Catedral.


A documentação para a canonização de Madre Cecília foi reunida, tendo inclusive o Monsenhor Luiz Giuliani como secretário da causa. São aproximadamente trinta volumes que foram enviados a Roma. Acompanhei de perto. Hoje em Roma o processo já está se encaminhando, a questão das virtudes heróicas. Existe um sumário, onde se colocam as virtudes heróicas de Madre Cecília. São elas: a dedicação ao pobre, a disponibilidade, a obediência, o carinho e a dedicação para o doente, para o velhinho, para a criança. A fé que ela tinha. O cuidado com as crianças. Isso praticamente está pronto. Foi tudo traduzido para a língua italiana, hoje está se fazendo uma outra biografia documentada, Irmã Armanda Franco Gomes de Camargo é a responsável na Congregação pelo processo. Estamos já na fase dos milagres. Por isso todos aqueles que alcançam graças por interseção de Madre Cecília devem se comunicar com a Congregação descrevendo. Às vezes são verdadeiros milagres que acontecem, e não apenas pequenas graças. O telefone para comunicar-se é (19) 32329922 em Campinas, com a Irmã Cristina. Ou então escrevendo para a Rua Barão de Jaguara,140 Campinas. Ou ainda aqui em Piracicaba, a Rua Boa Morte 1955. Nós podemos ajudar na redação do texto. Pode ser encaminhado ao Lar Escola através do E-mail : larecmnm@terra.com.br. (É fácil guardar o endereço eletrônico são as iniciais de: lar escola coração Maria nossa mãe). Mamãe Cecília durante esse tempo em que ela ficou no chalé ela dava muitas bênçãos. Era chamada “Mulher das Bênçãos”. Essas bênçãos eram de acordo com a conversa que ela tinha com as pessoas. Hoje somos aproximadamente 200 irmãs, espalhadas em 8 estados do Brasil. Temos a Irmã Celina, missionária na África. Queremos no próximo ano se Deus quiser iniciar uma tramitação para que a força do carisma de Irmã Cecília também vá para a África. Esse carisma é ter o coração de mãe como Nossa Senhora. Nossas irmãs hoje trabalham na saúde, em hospitais, com crianças, em várias creches, na educação em colégios, com lares de velhinhos e na pastoral. Estamos abrindo também um novo ramo na Congregação, que é para os leigos Franciscanos do Coração de Maria. Pessoas casadas, que queiram ter esse coração como o de Nossa Senhora. Viver o carisma. Temos uma reunião por mês, de formação, e a expressão do carisma é onde você estiver, aonde você trabalha. O nosso encontra é todo segundo sábado do mês, a partir das 3 horas da tarde até as 4 horas aproximadamente. É um momento de formação para aquelas pessoas que querem viver como nós, que vivemos esse carisma de ter um coração como o de nossa senhora. Isso é para jovens, casados, solteiros, para todas as situações da vida. Todo ano no primeiro domingo de setembro fazemos uma peregrinação. Tem pessoas que vêm do Rio de Janeiro, do Paraná, da Bahia, Minas Gerais. Passam o dia em oração e reflexão, em convívio com Mamãe Cecília. Visitam o quarto, conhecem a sua história. O encontro se dá das oito e meia da manhã ás quatro horas da tarde. No próximo dia 3 de setembro a comunidade toda de Piracicaba e região está convidada. Entrem em contato conosco, dando sua adesão, para termos uma idéia se temos que colocar mais água no feijão! (risos). No último encontro participaram aproximadamente 450 pessoas. Pouco adianta as palavras. O exemplo arrasta. É marcante que fundada a Congregação em 1900, em 1904 ela vai para Descalvado, em 1905 em Descalvado mesmo ela inicia outra obra o Externato Imaculada Conceição.Logo depois em 1906 vem o Hospital de Jundiaí. Em 1914 a Santa Casa de Limeira. Mamãe Cecília tinha o coração voltado para quem sofria ! Hoje temos aproximadamente 34 casas. Mas se formos olhar quantas abrimos e saímos, porque o nosso carisma é de peregrinas, como São Francisco, esse número atinge cerca de 80 e poucas casas! Inclusive no Amazonas! Já estive lá várias vezes.








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