sexta-feira, agosto 21, 2015

MARIA CRISTINA SGARIONI



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 8 de agosto de 2015
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: MARIA CRISTINA SGARIONI
Maria Cristina Sagarioni nasceu a18 de abril de 1949, em São Paulo, no antigo Hospital Matarazzo, que já não existe mais, situado no Bairro Bela Vista. Filha de Wilson da Silva Santos e Clara Navarro da Silva Santos, que tiveram também o filho Wilson da Silva Santos Filho.
Qual era a profissão do seu pai?
Nos primeiros anos ele foi alfaiate de alta classe. Moramos em Santana, Pinheiros, na Rua São Sebastião em Santo Amaro, mais propriamente no Bairro Alto da Boa Vista, junto ao Clube Banespa, ali na época eram chácaras. Quando eu tinha 10 anos, meu avô, pai do meu pai, veio conhecer Piracicaba, e meu pai veio visitá-lo. Meu pai encantou-se com Piracicaba. Estudei até os 10 anos em São Paulo, no Educandário Petrópolis. Eu sofria muito bullying, era gordinha,com 10 anos eu pesava 50 quilos. Ganhei troféu de robustez infantil. Hoje não tem graça nenhuma, mas naquele tempo era engraçadinho.
Em que bairro vocês vieram morar em Piracicaba?
Viemos morar no Jardim Elite, depois adquiriram uma casinha na Rua Fernando Febeliano da Costa. Nessa época meu pai já era representante comercial de material escolar. Depois adquiriram uma casa maior situada a Rua João Sampaio onde permaneceram enquanto foram vivos.
Em Piracicaba, aos 10 anos você foi estudar em qual escola?
Fui estudar no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Quando cheguei ao ginásio passei pela fase de “aborrecente”, própria da adolescência, uma das diversões era faltar às aulas e ir aos cinemas, Politeama, Plaza (situado junto ao Edifício Luiz de Queiroz, mais conhecido como Comurba, que ruiu). No Sud Mennucci repeti três anos. Lembro-me do grande mestre professor Benedito de Andrade. O professor Rossini Rolim Dutra queria que eu fizesse curso de canto. O diretor era o Professor Adolfo Basile. Fui jubilada do Sud Mennucci. Fui estudar no Colégio Assunção. Lá fui uma aluna exemplar. Na época estudava piano, fiz curso de música clássica. O uniforme era saia azul marinho, pregueada, gravatinha azul. Formei-me no ginásio no Colégio Assunção. Estudei nessa época com a Claudia “Cacau” Ranzani, seu pai é o Dr. Guido Ranzani ela ia a minha casa para estudarmos juntas. Lembro-me que quando o João Hermann Netto e a Cacau namoravam, o João me chamava de “Aparecida”, nunca me chamou pelo nome correto. Ai eu fui fazer o Curso Normal na Escola Estadual Monsenhor Jerônymo Gallo. Fui muito boa aluna, formei-me professora, mas nunca lecionei. Eu tinha uns 18 a 19 anos. Conheci meu marido quando tinha de 19 a 20 anos. Nunca me esqueço de que uma freira nos ensinou, quando quiséssemos espirrar em público, em uma igreja, em uma reunião, para evitarmos isso, tínhamos que unir as duas pontas dos dedos: indicador e polegar e apertarmos bem as extremidades que passava a vontade. Houve uma época em que comecei a fazer isso e dava certo!
Você o conheceu em Piracicaba?
Eu conheci meu marido, Luiz Carlos Sgarioni, em Piracicaba, embora ele não seja daqui, ele é gaucho e vinha visitar uma irmã que morava próximo a casa dos meus pais.
Em que local você conheceu o seu marido?
Foi no Clube Cristóvão Colombo, situado a Rua Governador Pedro de Toledo, esquina com a Rua Prudente de Moraes, o famoso “Palácio de Cristal”. Desfilei em muitos bailes de carnaval no Clube Coronel Barbosa, na época freqüentado pela elite piracicabana, entrei em concursos, lembro-me de uma fantasia de grega que ficou maravilhosa. Minha mãe era muito caprichosa comigo, vestia-me muito bem. Vestidos longos, você precisava ver os bailes que freqüentei! Na época eu morava na Rua Treze de Maio, entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. Cada serenata que eu ganhava! A janela era baixinha, minha mãe fazia lanches e oferecia aos seresteiros. Eu tinha um fã que se eu fechasse o olho era com estivesse escutando Altemar Dutra. Uma vez participei de um concurso no Cristóvão Colombo, estava noiva do meu marido. A minha juventude passei no Clube de Campo de Piracicaba. Eu sempre me dei bem com pessoas riquíssimas e paupérrimas, nunca fiz diferença de tratamento. Sempre achei que as pessoas têm valor pelo que elas são. Quando o meu marido me viu, aproximou-se, começamos a conversar, e iniciou-se um namoro, embora minha mãe não simpatizasse com a idéia. Namoramos de dois anos e maio a três anos, na época ele era corretor de seguros, estava muito bem estabilizado financeiramente. Depois ele passou a ser representante comercial e permaneceu nessa função. Casamo-nos na Catedral de Santo Antonio, o celebrante foi o Padre Otto Dana, foi a 27 de maio de 1972. Um ano depois tive a minha filha Mariana, depois nasceu meu filho Ricardo. Hoje tenho dois netos.
Após se casar vocês foram morar em que local?
Fomos morar em São Paulo, no Bairro Higienópolis, na Rua Alagoas, próximo a Praça Buenos Aires, onde permanecemos por onze anos, depois fomos para a Rua Albuquerque Lins, também em Higienópolis. Freqüentava a Padaria Barcelona, meus filhos estudaram sempre no Colégio Rio Branco, um dos melhores colégios de São Paulo, tanto que ingressaram na faculdade sem cursinho.
Em São Paulo, com dois filhos, você tinha alguma atividade profissional?
Meu marido achou por bem que eu deveria cuidar dos nossos filhos.
Você é religiosa?
Sou católica. Tenho devoção a Nossa Senhora Rosa Mística e Santo Expedito. Tenho uma devoção muito forte por Jesus Cristo e Nossa Senhora.
Em São Paulo você dirigia?
Meu primeiro carro foi um Vçoyage amarelo, depois tive um Escort azul marinho. Meus filhos faziam muitos cursos paralelos: inglês, natação. Tinha show do Menudo, eu ia leva-los, show do Paulo Ricardo eu levava-os. Eu assistia junto com eles. Eu era uma mãe participativa.
Você e seu marido acharam por bem terminar o casamento?
Nossos filhos já estavam crescidos, decidimos que a separação seria uma decisão boa para nós dois. Temos uma excelente relação, de muito respeito, somos amigos. Ficamos casados até 1990. Ele continua morando em São Paulo e eu moro em Piracicaba. Eu tinha quarenta anos quando nos separamos. Eu nunca tinha trabalhado em nada, embora fosse professora, inclusive de piano, só que não tinha experiência. Tratei de imediatamente arrumar um emprego, não queria ficar dependendo de ninguém. 
Você foi trabalhar no que?
Após uma rápida passagem como atendente em uma gráfica, fui trabalhar em uma clinica de ortopedia na Avenida Angélica. Depois um dos médicos montou outra clinica na Rua Ouvidor Peleja, na Vila Mariana. Fiz curso de auxiliar de fisioterapia. Pelo fato de ter uma boa comunicação, trouxe uma clientela enorme, quando sai foi uma choradeira. Eu acompanhava os pacientes, ficava ao lado deles quando passavam pelo processo de infiltração. Os médicos, meus chefes, eram mais novos, eles tinham uma relação como se eu fosse a uma tia deles. Eu ia no fundo, fazia um chá, chamava todo mundo.
Em que ano você voltou à Piracicaba?
Foi em 2003. Minha mãe estava muito mal. Por cinco anos tratei de ambos. Em 2008 ambos faleceram. Meu pai falou muito: “--Vai conhecer o Lar! Lá é tão bom, tão lindo!”. Em março de 2010 mudei para o Lar dos Velhinhos. Aqui sempre fui muito bem tratada, desde Dr. Jairo Mattos até a Dona Cyonea, todos os funcionários.
Tenho umas amigas que moram ao lado, elas iam confessar na Igreja dos Frades. Eu não me confessava há 50 anos, minha mãe tinha tido uma indisposição com um padre. Logo após eu ter nascido, ela foi confessar, e o padre perguntou: “-Quantos filhos a senhora tem?”.  Ela disse que tinha uma menina só e que pretendia parar por ai. O padre disse-lhe rispidamente: “- A senhora não leu a bíblia? Crescei-vos e multiplicai-vos? A senhora tem que ter mais filhos!” Minha mãe era brava, respondeu-lhe: “- O senhor vai poder sustentá-los? Criá-los?”. Ela saiu brava. Quando eu estava mais mocinha ela me disse: “-Você tem que confessar direto com Deus!” Com isso nunca mais fui confessar Casei, tive filhos, tive toda essa parafernália que aconteceu, separei-me, minha vida virou no avesso. Você estar em baixo e subir é fácil. Você estar lá em cima e descer exige muita estrutura. Eu sei o que é bom, o que custa caro, tanto na alimentação, como no vestir-se, apresentar-me. Tive que mudar tudo radicalmente. Eu freqüentava as boates mais requintadas de São Paulo como Hipopotamus, Gallery. Eu não imaginava que iria ser uma pessoa assalariada. O meu prazer era ir a shopping comprar alguma coisa, um sapato, uma bijuteria. Era uma vida fútil.
Como foi o episódio da sua ida à igreja e a conversa com o frade?
Três amigas que moram aqui no Lar me convidaram para ir até a Igreja dos Frades, fomos, as três se confessaram, eu fiquei por ultimo. Era o Frei Messias, um avozinho. Isso foi um divisor de águas para mim. Ele disse-me: “- Olhe filha, se você achar que é uma conversa, tudo bem, se achar que é uma confissão, tome como quiser. Comecei a chorar. Achei aquilo tão sublime. Contei-lhe a história da mamãe, disse-lhe que fazia 50 anos que não me confessava, não tinha nada muito grave, mas que eu gostaria que ele soubesse um apanhado da minha vida. Eu queria me sentir aliviada. No final ele disse: “-Vou tomar como confissão!” 
Você é uma cozinheira de mão cheia?
A coisa da qual eu mais gosto é cozinhar! Aprendi com a mamãe, ela me preparou para o casamento e para ser do lar. Ela me colocou em tudo que você possa imaginar: aulas de pintura, costura. Quando se tratava de fazer algo gostoso para comer eu queria aprender, toda vida fiz pão em casa, eu tinha cozinheira, tinha tudo, mas quem dava o toque final era eu.
Qual é o seu prato imbatível?
Eu tenho tantos! As tortas são alguns dos pratos preferidos que eu faço. Recebo muitas encomendas dos próprios moradores do Lar dos Velhinhos. Pão caseiro é muito procurado. As quartas e quintas ninguém me vê, eu fico na cozinha. Amo fazer isso! Ponho uma música, minha touca e vou ao trabalho. Não aceito muitos pedidos porque sou eu e Deus. Se você ver a minha cozinha, não é para fazer o que eu faço. Faço milagre. Só cabe eu lá, não cabe mais ninguém comigo. Faço cuscuz paulista, aquele de cortar, que é úmido, faço de frango, sardinha, legumes, palmito.
Se alguém quiser experimentar alguma das delicias que você prepara como pode encomendar?
Basta ligar e encomendar pelo telefone 9 9758 9435. Sempre pedir com antecedência, basta ligar na segunda e eu entrego na quinta ou sexta-feira. A pessoa vem buscar aqui, eu não tenho como entregar. Meus clientes são os moradores do Lar, funcionários, o próprio médico do Lar. Não divulgo essa minha atividade. Minhas coisas são simples, muito caseiras e muito carinhosas. Meu pão não é de máquina, é de sovar e de amassar, tenho um balcão de granito, quando estou batendo a massa dá a impressão de que estou batendo em alguém! Adoro o que faço, cantando, escutando musica. Isso me tirou de um comecinho de depressão. Depressão é falta de ocupação! Sei por mim. Vim para o Lar com a condição de não fazer mais nada, Achei que chegando aqui iria só comer, dormir e passear. Isso é horrível! Acho que se você tem a possibilidade de fazer alguma coisa, faça! A saúde mental depende da ocupação.

HILÁRIO LUCCAS



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 1 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/




ENTREVISTADO: HILÁRIO LUCCAS

Hilário Luccas fará 98 anos no próximo dia 30, nasceu a 30 de agosto de 1917, no bairro rural dos Marins, Município de Piracicaba. É um dos 14 filhos de Thomaz Luccas e Maria Corpas, nascida na Espanha, ela veio para o Brasil em decorrência da Guerra Espanhola de 1924. Hilário estudou até a quarta série primária, junto com seu irmão Antonio iam a pé da sua casa até o grupo escolar, uma distância de dois quilômetros. É pai de Cassia Maria Luccas Cruz. Um fato curioso é que por três vezes os pais de Hilário tiveram filhos gêmeos, sendo que Hilário e Antonio eram gêmeos idênticos. Hilário tem três netos e dois bisnetos. Ele faz parte de um recanto chamado Banco da Amizade, é quem limpa, cuida, onde se reúnem os amigos para uma confraternização regular. Sábado pela manhã, ás seis horas da manhã ele está lavando tudo. Fazem churrasco, fritam peixes, ele participa de tudo. Hilário sempre andou muito de bicicleta, uma da marca Philips, que conserva até hoje. O Então presidente do XV de Novembro de Piracicaba, Beltrame, esteve na casa de Hilário na data do seu aniversário, deu-lhe de presente uma camisa o E.C. XV de Novembro com o nome Hilário Luccas.




Cassia , a senhora e seu marido foram fazer uma visita ao cemitério e ocorreu um fato diferente?
Ao chegarmos, tinha um senhor limpando um túmulo em frente ao túmulo da nossa família. Ele então narrou um fato que havia ocorrido com ele e que o deixou muito chocado. Segundo narrou: “Eu estava fazendo uma visitinha ao túmulo desse senhor, acho uma gracinha ele com seu chapeuzinho, fazendo minha oração por ele, percebi que chegou ao meu lado uma pessoa, quando olhei era a mesma pessoa que estava sepultada, levei um grande susto, achei que era o próprio falecido”. Era Hilário, seu irmão gêmeo! Isso ocorreu há uns dois ou três anos.
O senhor tinha parente residindo no bairro dos Marins?
Nós morávamos em uma casa pequena, meu tio Nicolau, era casado com a irmã do meu pai, chamava-se Dona Emília. Eles tinham uma casa maior, na frente, ali foram realizados muitos casamentos da família. Depois viemos morar na cidade de Piracicaba
no Bairro Alto, na Rua São João, perto do campo do União São João. Dali fomos morar em frente ao Campo do Palmeirinha.
Com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
A partir de uns dez anos eu sempre trabalhei. Vendia banana, vendia tudo que aparecia pela frente. O dinheiro que resultava das vendas eu entregava para a minha mãe. Naquele tempo tinha muitas frutas para comprar e vender pelas ruas. Tinha muitas feiras pelas ruas, hoje não existe mais, atualmente há os feirões. De lá da “Capelinha”, situada lá em cima, no Bairro Alto, viemos morar na Rua Vergueiro. Ali morava Benedito Teixeira, advogado, excelente pessoa. Aos treze anos fui trabalhar com o Miro Pinassi, ele era sapateiro, tinha um estabelecimento em frente a Fábrica de Tecido Boyes, Naquela época sapateiro não trabalhava no dia de São Crispim. Eu estava parado, na porta da sapataria, o gerente da Fábrica Boyes, Seu Ernesto, convidou-me para trabalhar na Boyes. Isso foi em 1932, tempo em que Getulio Vargas estava no poder. Naquele tempo ao redor da Ponte do Mirante era só mato. Chico Campeiro era o contramestre da seção. José Tosello era enfermeiro da fábrica. Fui trabalhar como servente de pedreiro, dentro da Fábrica Boyes. Trabalhei como servente de pedreiro na construção das casas da Vila Boyes. Trabalhava com carroça e burro. Eu era mocinho, devia ter uns vinte anos. Quando concluímos as casas voltamos para a fábrica onde construímos o terceiro prédio. Trabalhávamos com carroça e burro. Aonde eu ia o burro “Pinhão” ia atrás de mim. Eu tratava bem dele.
Há um desvio de água do Rio Piracicaba junto a Fábrica Boyes, já havia naquela época?
Aquele córrego eu ajudei a fazer o alicerce, da fábrica até a comporta. Fazia a caixa de madeira dos dois lados e depois enchia de cimento. Sempre fui trabalhador, não parava de trabalhar. Depois fui trabalhar na fábrica, na sala de pano.

Quem era o chefe geral da fábrica?
Era o Boyes! Inclusive quando estourou uma guerra seu filho queria ir servir, era piloto de avião de guerra. No segundo dia em que ele estava na frente de combate foi morto.
Quantos funcionários trabalhavam na Boyes?
Quando entrei na fábrica tinha 40 operários. A medida que foi ampliando o prédio também aumentou o número de funcionários, chegando a ter mais de 1.000. Esse canal que desviava água movia uma usina de energia que distribuía para a fábrica inteira.
Quanto tempo o senhor trabalhou na Boyes?
Fiquei 43 anos. A Boyes recebia o algodão com caroço, em frente à fábrica tinha um depósito, ali ficavam os fardos de algodão bruto. A máquina tirava o caroço, que era vendido, com o algodão, fazia o fio.
O senhor morava em que local nessa época?
Contando  local onde eu resido atualmente morei em cinco lugares diferentes. Minha esposa já é falecida, seu nome é Leonilda Lazaretto, eu a conhecia desde criança, é filha de Romeu Lazaretto. Casamo-nos na Igreja Imaculada Conceição, o celebrante foi o Monsenhor Gallo.
                                                        LEONILDA E HILÁRIO
O senhor gostava de jogar futebol?
Joguei no Infantil XV de Novembro, no Juvenil XV de Novembro e depois vim jogar no Sucrerie. Eu era bom de futebol, o Baltazar, “Cabecinha de Ouro”, dizia que era um absurdo eu jogar bola como jogava e muitos ganhando um dinheirão enquanto eu precisava pagar para jogar. (Despesas normais com uniforme). Eu jogava como meia-direita.
Passava boi por aqui?
Naquele tempo passava muita boiada, o cavaleiro ia com o berrante tocando, e a boiada ia toda atrás. Ia para o matadouro.
O Mirante do Rio Piracicaba era diferente?
Quem remodelou o Mirante foi o prefeito Dr. Francisco Salgot Castillon. Antigamente existia um varão de ferro que ia do inicio do Mirante até o Engenho Central, na Rua Maria Maniero.
O senhor atravessou o Rio Piracicaba?
Eu tinha dois botes e um motor, aos sábados meu irmão Thomaz e eu pegávamos o bote que ficava no Asylo ( Lar dos Velhinhos), ia até Caiuby depois as 4 e meia, cinco horas da tarde descíamos pescando. Usávamos um motor 7e 1/2, Johnson. Naquele tempo trazíamos o motor nas costas, do Lar dos Velhinhos até as imediações do Mirante, onde se situava nossa casa. Hoje só jogo um truque (ou truco) com os amigos, tenho sete medalhas de campeão de truco. 

O senhor lembra-se do bonde?
Lembro-me sim! O meu cunhado Luiz Angelocci era chefe de bonde. No sentido centro-bairro, o bonde quando chegava ao final da ponte sobre o Rio Piracicaba virava a direita, ao lado direito havia uma farmácia, a esquina era do Chico D`Abronzo, ele tinha uma venda, mais abaixo era do filho dele, o Xandrico e ao lado esquerdo um sobrado.
O senhor chegou a conhecer a fábrica de aguardente Tatuzinho?
Bem em frente a fabrica da Tatuzinho, o Humberto D`Abronzo fez um túnel atravessando a Avenida Rui Barbosa, o vasilhame vazio passava pelo túnel, enchia de aguardente e depois voltava para a expedição, onde estacionavam os caminhões já aguardando as garrafas cheias.
O senhor conheceu a Dra. Ana D` Àbronzo?
Gente queridíssima! Eu ia Restaurante do Papini, comer frango com polenta. Jogava boche. Nós jogávamos disputando frango mandava o Papini fazer e comíamos. O dono dos frangos junto conosco. Acabávamos de comer, dizíamos: “-Você sabe de uma coisa? Esse frango tem um gosto de fulano, que era o dono do frango!”. Os frangos eram todos da casa dele. A turma do boche tinha trazido os frangos de lá. Cozinharam o frango, convidaram ele para vir comer e ele veio.
O senhor conheceu Dona Gigeta, do Restaurante Papini?
Conheci, fazia pastéis que eram uma maravilha! Conheci muito o “Joane Vassoureiro”, Giovanni Ferrazzo que mais tarde mudou-se para a Paulista onde passou a fabricar as vasouras “Cantagalo”. Na Vila ele fabricava as vassouras de marca “Elefante”. Onde é o hospital dos Plantadores de Cana, antigamente o terreno era encharcado. O pessoal do Engenho Central ia plantar cana de açúcar, Ali tinha muitos pintassilgos, paca capim.
Havia uma rivalidade entre o os jovens moradores na Vila Rezende e os moradores de outros bairros além da ponte?
Havia e era levada a sério! O pessoal da Vila Rezende não podia ir para a “cidade” e o pessoal da “cidade” não podia vir até a Vila Rezende. Eu tinha uma grande vantagem, pelo fato de ser bom jogador de futebol peguei muita amizade com essa turma da cidade. Havia um cartório logo no inicio da Avenida Rui Barbosa, eles me disseram que iriam me apresentar ao pessoal da Sucrerie para jogar pelo time deles. Foi assim que passei a jogar defendendo as cores do Sucrerie. Onde hoje há um posto de gasolina, na Rua Maria Maniero, esquina com a Avenida Barão de Serra Negra, havia um moinho de fubá. Existiam duas linhas de trem, a da Estrada de Ferro Sorocabana e a do Engenho Central, que transportava cana de açúcar. Quando o trem cruzava a Avenida Barão de Serra Negra, na cabeceira da ponte tinha uma cancela com uma tabuleta que impedia o transito de veículos dando passagem ao trem. As locomotivas do Engenho Central eram fabricadas em Piracicaba pelo gênio da mecânica João Bottene.
O senhor conheceu o Dr. Samuel Neves?
Conheci muito. Uma ocasião fomos mordidos por cachorro louco, ele que nos tratou. Naquele tempo havia muitos cães pelas ruas, era o tempo em que a Prefeitura Municipal pegava cachorro com rede pelas vias publicas.
Além de esporte o que mais o senhor gostava de fazer como diversão?
Gostava muito de dançar, onde tivesse baile eu ia. Na Vila Rezende tinha bailes no Clube Atlético, no Grêmio da Cooperativa.
                        ENCHENTE RUA DO PORTO DIA 24 DE FEVEREIRO DE 1970
Quando falecia alguém onde era o sepultamento?
Era no Cemitério da Saudade. O caixão com o corpo era levado a pé, da Vila Rezende até o cemitério. Subia-se a Rua Moraes Barros, o comércio fechava as suas portas em sinal de respeito quando passava o féretro. Os acompanhantes iam de terno, com o calor, o peso. Não era fácil. Andava um quarteirão e ia trocando quem carregava a urna com o falecido. Um enterro levava no mínimo três horas de percurso.
A Avenida Rui Barbosa era bem diferente?
Quando vim morar na Vila Rezende a Avenida Rui Barbosa era chão de terra.
O senhor conheceu Mário Areas Witier, o Mário da Baronesa?
Conheci! Brincava com o Mário, com sua mãe, tinha uns negros que trabalhavam lá também. Conheci a Baronesa de Rezende, era uma boa mulher. Naquele tempo meu pai conseguiu terreno para plantar batatinha em uma parte do terreno pertencente a Baronesa. A casa da Baronesa era em frente ao Engenho Central. Nós íamos até apanhar frutas lá, lembro-me que tinha uns pés de jaca. Aqui era tudo chão de terra, do Engenho Central adiante era plantação de algodão. Em frente ao jardim da Vila Rezende havia um cinema, pertencia ao Atlético Clube.

domingo, julho 26, 2015

INÊS APARECIDA DE ANDRADE RIOTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de julho de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: INÊS APARECIDA DE ANDRADE RIOTO

Nascida a 10 de novembro de 1952, em Santo André, o grupo escolar estudou no Colégio São José, o ginásio e o normal no Colégio Américo Brasiliense, era atleta pela escola, jogava handball e nadava.
Após concluir o curso normal você tornou-se professora?
Após concluir o normal, prestei o vestibular e entrei na faculdade de educação física. A professora do colégio onde estudei adoeceu, fui convidada a lecionar educação física em substituição a ela. Quando dei aula eu tinha dezessete a dezoito anos e meus alunos a minha idade. Formei-me na FEFISA- Faculdade de Educação Física de Santo André. Naquela época o professor de educação física podia lecionar educação física, lecionar em clube, exercer o esporte profissional. Hoje é diferente, na faculdade o aluno direciona para que área vai atuar.
Como atleta, você disputava campeonatos em que área?
Disputei pela natação vários campeonatos. Eram campeonatos muito famosos, disputados. Havia uma valorização muito grande do esporte pela escola e a própria escola era muito valorizada. Naquela época independente da sua condição financeira ou social, todos queriam ser aluno da escola publica estadual. O nível dos professores era elevado. Essa escola em que estudei era a maior escola, tinha por volta de três mil alunos. É uma escola muito grande e muito tradicional, tanto para alunos como para professores. Ao formar-me professora queria prestar um concurso, ter uma boa nota para lecionar nessa escola. Foi o que aconteceu, anos depois prestei concurso, ingressei e permaneci nessa escola até me aposentar. Aposentei-me em 1983, Permaneci mais três  anos como professora eventual, quando faltava o professor efetivo a professora eventual substitui para os alunos não ficarem sem aula.


Nesse meio tempo você fez algum curso de especialização?
Fiz quatro cursos de pós-graduação: Natação, Ginástica Rítmica, Handebol e Recreação.
Você se interessou por uma área específica?
Quando eu estava para me aposentar, sabia que não poderia parar. Quando pensamos na aposentadoria achamos que será uma delícia, só vamos passar o tempo viajando. Como se tivéssemos dinheiro para isso! Só que como funcionário público não temos. O professor continua com o salário, e geralmente diminui as horas de planejamento de aula, acabamos perdendo. Fiquei sabendo que havia um curso de Gerontologia, que é o estudo do envelhecimento, na Faculdade de Medicina da USP,
Você então fez a sua quinta pós-graduação, em Gerontologia? Qual foi o tempo de duração do curso?
Fiz a quinta pós-graduação, a duração do curso é de um ano. A partir desse ano ele passou a ser de atualização, no ano seguinte criou-se o curso regular, de graduação, em Gerontologia. A Faculdade de Medicina da USP está formando Gerontólogos, são quatro anos para estudar o envelhecimento.
Como surgiu sua vocação para estudar o envelhecimento?
As pessoas programam sua aposentadoria sob o aspecto financeiro, mas não programam o que irão fazer. Ninguém é preparado para com o que vai utilizar o seu tempo. “Há a ilusão de que irá sair viajando, ou ficar no ‘Dolce Far Niente”, ou seja, o doce fazer nada.



Como muitos de nossos avós fizeram, quando era outra realidade?
Sim a realidade era diferente.
Percebi que nos aposentamos cedo, e nos aposentamos bem de saúde, não dava para ficar parado, e ao fazer esse curso de Gerontologia, tive aula com uma profissional sensacional a Dra. Marisa Accioly R.C. Domingues, foi a coordenadora que criou o curso de Gerontologia para a USP.-Leste em São Paulo. Após fazer o curso conheci o Dr. Alexandre Kalache, um médico que mora no Rio de Janeiro, que tinha feito pós-graduação em Londres. Foi convidado a ir para a Organização Mundial da Saúde onde foi diretor por 12 anos. Ele criou um programa chamado “Copacabana, Amiga do Idoso”. Ele nasceu e cresceu ali, era um lugar de muitos idosos. Ele levou esse projeto para a Organização Mundial de Saúde, eles acharam muito interessante, o Canadá achou mais interessante ainda. Começaram a criar um protocolo de como criar o programa  “Cidade Amiga do Idoso”.
 O que é Cidade Amiga do Idoso?
Quando você prepara uma cidade para receber o idoso, você recebe pessoas de qualquer idade. É promover acessibilidade. Toda e qualquer cidade deve ter essas características. As cidades foram construías de forma aleatória, nem todas eram programadas. Claro que tem alguns bairros que se tornam mais difíceis pela topografia. O inicio pode ser no centro da cidade ou nos prédios públicos. Nos hospitais, nas UPAs, nas Unidades de Saúde, para promover  a facilidade de acesso dessas pessoas a esses lugares. 
Você chegou a frequentar hospitais?
Alguns, porque não era o meu foco, na verdade, a parte médica, interna aos hospitais liga-se a Geriatria. São os médicos especializados em Geriatria que cuidam da saúde dos idosos.
Qual são as diferenças entre Gerontologia e Geriatria?
A Geriatria cuida da parte médica, é constituída por médicos especializados nessa área. A Gerontologia abrange toda a parte social, o convívio, Como o idoso vai interagir socialmente.
O fator social influi muito na saúde do idoso?
Influi, tanto na parte mental como física. O idoso com melhores condições financeiras com o tempo ele tem possibilidades de orientações sobre uma alimentação melhor, atividades físicas, Isso já vem desde a sua infância. Hoje graças a mídia, a internet, a medicina, é possível à todas pessoas terem acesso a muitas informações.Antigamente só as pessoas em condições melhores podiam ir a um nutricionista. Quando estavam envelhecendo iam a um geriatra. Hoje na rede pública não temos geriatras suficientes. Tanto é que as LPIs, que são as instituições de Longa Permanência para Idosos, os antigos asilos, clínicas existem médicos que atendem, mas nem todos são geriatras. É muito difícil, ainda é muito novo. O Brasil envelheceu, mas não enriqueceu, nem na cultura de atividades para idosos, nem enriqueceu financeiramente para sustentar esses idosos.
Você diria que o país está despreparado para a “nova” geração de idosos?
Está! Em 2040, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, teremos mais idosos do que crianças e adolescentes. Nos países desenvolvidos, chamados Primeiro Mundo, idoso é quem tem 65 anos ou mais. No Brasil, assim como nos países em desenvolvimento, é considerado idoso a partir dos 60 anos. Nos países desenvolvidos há toda essa cultura no cuidado para envelhecer. São preparados não só na questão financeira, mas também na questão do tempo. O que eu vou fazer? Como vou ocupar o meu tempo após me aposentar? Essa é a grande mudança. No Brasil começa a surgir uma movimentação nesse sentido, pois é gritante no mundo inteiro. Com a internet que nos liga a diversos países á mais fácil receber informações, também é mais fácil fazer programas e trabalhos com relação ao envelhecimento
A voracidade da mídia sobre esse novo filão que é o idoso, já despertou?
Em alguns aspectos sim. Todos nós que trabalhamos na área acabamos cobrando não só do poder público como também da mídia. Se você observar, as novelas nem sempre nos trazem boas influências, nem sempre são “boas companheiras”. Mas em alguns momentos elas são importantes, porque traz a tona o envelhecimento. Se você pegar todas as questões, inclusive a LGBT, que são gays, lésbicas, bissexuais e travestis, eles sempre existiram, mas nunca se falou que eles envelheciam. A última novela, a pedido até de algumas áreas da gerontologia, realizaram essa novela para mostrar que as pessoas envelhecem. Independente de gênero, independente da sua escolha de afetividade.
O mercado de consumo, os políticos, já descobriram que há um número cada vez maior de idosos com poder de decisão e até mesmo capaz de influenciar na tomada de decisões de outras faixas etárias mais jovens?
Acredito que já estão descobrindo! Por que de fato o idoso tem esse poder. Para o mercado de consumo, aqueles que se prepararam financeiramente, formaram seu patrimônio e se programaram o idoso é um foco bem interessante: as viagens, a boa alimentação, as academias, teatro. Por força da lei quem tem a partir de 60 anos paga metade, na área da cultura, do lazer.
No Brasil o governo está dando a devida importância ao idoso?
A importância do idoso, no Brasil, eu acredito que começa no meio acadêmico. Pela possibilidade de fazer intercâmbio, termos expressões mundiais como o Dr. Alexandre Kalache, um brasileiro, que ao aposentar na Organização Mundial voltou ao Brasil e ele está ligado a projetos no mundo inteiro. A UNICAMP, a PUC SÃO PAULO, que já têm a Gerontologia como mestrado e doutorado. Estava mais avançado no meio acadêmico, chegou-se a um ponto em que descobrimos que tínhamos muitas pesquisas, muitos números, mas pouca prática. Ai começa a se despertar. Em São Paulo o Dr. Kalache foi consultor do Governo do Estado e lançou em São Paulo o programa Estado Amigo do Idoso que possui vários projetos, inclusive da área que eu pesquiso que é a Vila Dignidade, área sobre Moradias para Pessoas Idosas. Os antigos asilos e clinicas. Vila Dignidade é um projeto em que a cidade cede um terreno, o Governo do Estado constrói uma média de 20 casas, Essas casas vão ser direcionadas para pessoas de baixa renda, que recebem no máximo dois salários mínimos. O governo constrói, monta, mobília a casa, ai o Departamento de Assistência Social da Prefeitura é que cuida das casas.
Até alguns anos o idoso ou ficava com a família ou ia para o então denominado asilo.
Hoje o nome é mais bonito: Instituição de Longa Permanência para Idosos.
Sua pesquisa delimitou alguma área geográfica?
Iniciei pela cidade onde moro: Santo André. O que se vai notando é que conforme o nível social e a condição financeira eles são bem diferenciados. Tem o residencial do Einstein, o Santa Catarina. Pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) a pessoa a partir de 65 anos tem direito a receber um salário mínimo. Quando ela vai para uma instituição 70% do valor desse salário ela usa para pagar a instituição e 30%, por lei, fica com o idoso.
Até o momento em quantas instituições você já fez esse levantamento?
Em instituições filantrópicas já estive em muitas. Com essa facilidade da internet, entrando em contato com amigos que fazem esse mesmo serviço em outros países, começamos a perceber que havia modelos diferentes. Os Estados Unidos está mais avançado nessa questão do idoso, eles tem residenciais, condomínios, que vão desde as pessoas mais simples, são condomínios feitos e mantidos pelo governo, geralmente são prédios de três andares. Apartamentos, só que com toda infraestrutura: lazer, esporte, um posto médico, com enfermeiras. Cuidadores. Tudo isso mantido pelo governo. Há até condomínios em que ao abrir a sua porta você está dentro de um campo de golfe. Nesse nível, só na Florida existe cerca de 60 a 70 condomínios.
No Brasil temos algo parecido?
Temos em São José do Rio Preto, que tem um condomínio em que eles fizeram uma espécie de clube, um família adquiriu terras com essa intenção, lotearam, o interessado compra o terreno, constrói sua casa, eles fizeram ai um clube. A pessoa torna-se sócia daquele clube, com toda infraestrutura de esporte, lazer e cuidados da saúde, também dentro do clube. Se não me engano também é aberta para a cidade, as pessoas da cidade que tenham 60 anos ou mais podem ir, passar o dia, pagam separadamente, mas tem os esportes com profissionais habilitados   e voltados para essas áreas.
Você chegou a ir á essas casas de repouso?
Só nas filantrópicas que nos fomos.
Existe uma oscilação muito grande entre elas com relação ao tratamento ao idoso?
Existe! Isso porque também existem diferentes níveis de demência. Costumamos dizer que existem diferentes velhices.
O idoso não é obrigatoriamente demente.
 Não. Existe senilidade e senescência. Senescência é o envelhecimento normal, onde a gente esquece normalmente uma chave, vamos fazer duas três coisas ao mesmo tempo, alguma coisa fica sem ser feita. Isso é o normal. Tem o outro caso que é a senilidade, que são as demências. O nome demência ficou um paradigma muito forte. As pessoas se  incomodam com esse nome. Demente se ligava ao louco. E não é isso, é simplesmente o fato de você não estar com todo seu potencial cognitivo. Não fazer  todas as funções que você gostaria de fazer. E depois começou vir tanto a tona sobre Alzheimer, hoje em dia quando alguém esquece alguma, até por brincadeira costuma-se dizer que a pessoa tem Alzheimer. Alzheimer é uma das demências. Ficou um nome genérico, todo mundo que esquece alguma coisa já é tachado como portador da doença.
Qual é o seu objetivo com suas pesquisas?
Já que estamos envelhecendo cada vez mais, precisamos acomodar as pessoas, no local onde ela encontre mais facilidade e possa estar melhor instalada, tenha um direcionamento melhor. Tanto alimentação, como atividade física. Uma pessoa que mora sozinha, dificilmente irá chegar ao longo da vida sozinha. Ela pode ter autonomia e ser independente, mas a qualquer momento ela poderá tornar-se dependente. Dentro da Gerontologia costumamos dizer que  o que mais tentamos preservar nas pessoas, quando vamos envelhecendo, como diz o Dr. Kalache, na minha faixa de idade, 62 anos, somos gerontolescentes, preservamos autonomia e independência. Autonomia é o poder que eu tenho de conseguir o que eu quero. Independência é a minha capacidade de locomover-me sem depender de ninguém. Posso cair e ter uma fratura, ser obrigada a ficar em uma cadeira de rodas, mas posso ter autonomia de dizer: “Me leve para lá, me leve para cá”. “Desejo almoçar isso”. “Quero por aquela blusa”. Isso é autonomia. A demência ocorre quando ao longo do tempo vai se perdendo a independência e a autonomia.
Você pretende publicar algum trabalho sobre suas pesquisas?
Eu já estava com o meu mestrado todo planejado quando comecei a ver a questão da moradia, vi que é uma coisa séria e não tinha estudo no país a respeito, quando outros países estão tão avançados.
Pode-se dizer que você é uma pesquisadora pioneira nesse assunto moradia?

Não sei se sou pioneira, o Brasil é muito grande, não existe ainda uma integração entre todas as universidades para tomarmos conhecimento de tudo que é feito. O que acontece às vezes é que a pessoa foca em um determinado local. A minha pesquisa optei em fazer em moradias diferentes, já que teremos velhices diferentes. 

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