sexta-feira, outubro 23, 2015

ELIZABELTE CASAGRANDE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de outubro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: ELIZABELTE CASAGRANDE





Elizabelte Casagrande é filha de Orlando Casagrande e Francisca Maria da Silva, nasceu a 8 de outubro de 1936. Seu bisavô paterno era italiano, sua bisavó paterna era austríaca, seus avós paternos eram italianos, da região de Treviso, vieram para o Brasil em uma das primeiras levas de italianos que imigraram logo após a abolição dos escravos.
No Brasil eles moraram inicialmente aonde?
Segundo o meu avô contavam, eles foram morar nas senzalas que era anteriormente ocupada pelos escravos, só caiaram (passaram cal) e colocaram os italianos lá. Alguns escravos permaneceram na fazenda, mesmo após a abolição. Eles vieram da Itália para Tietê, era uma fazenda pertencente a um patrão muito bom, conhecido como Chiquinho Antunes. Meu nono (avô) contava muitas histórias interessantíssimas sobre os negros. Há um aspecto interessante, os italianos e os negros se davam muito bem, os italianos aprenderam muito com os negros sobre a lavoura do café. Não sei se é muito significativo, mas uma das histórias que gravei foi quando meu avô contou sobre um negro com fama de feiticeiro, tinha conhecimento de magia. Era uma pessoa boa, segundo meu nono todo o mundo gostava dele. Esse negro teve um desentendimento com uma pessoa, ele disse: “-Vamos fazer o seguinte, vá até a minha casa amanhã a meia noite!” A pessoa foi ao chegar encontrou o negro estendido sobre uma mesa, com duas velas acesas ao lado e uma coruja sobre seu peito. Ele estava morto. O seu desafeto chegou, olhou, mexeu, ele estava durinho. Ele saiu correndo! No outro dia o negro estava já de manhã trabalhando. Parece ser uma daquelas histórias dos zumbis que eles contam, eles possuem a capacidade de entrar em estado letárgico. Meu avô era um homem muito inteligente, aprendeu a escrever embaixo do pé de café. Meu avô falava conosco em português, em italiano geralmente falava com outros italianos, principalmente com os padres italianos que nos visitavam. Minha avó falava muito em dialeto vêneto. Uma vez fui para a Itália, de lá fui até a Hungria, que na época era comunista, hospedei-me em um hotel cujo proprietário era italiano, falava o mesmo dialeto que a minha avó usava no Brasil! Isso facilitou a nossa comunicação, praticamente me adotaram! Levaram-me para conhecer aqueles jantares com musica, violino. Em Budapeste me levaram a todos os passeios a que foram.
E seus avôs maternos?
Meu avô era português de origem judaica, conhecido como cristão-novo.

Seus bisavós paternos permaneceram em Tietê?
Eles mudaram-se para Palmital, nessa época meu pai era um bebê ainda. As primeiras levas de italianos que vieram para o Brasil não receberam terras do governo, outras que vieram mais tarde, e que em grande parte foram para o sul, o governo brasileiro comprometeu-se a dar uma pequena área de terras para eles. Os italianos que não ganharam terra trabalharam duro durante anos e conseguiram guardar algum dinheirinho. O patrão, Chiquinho Antunes, sabia que eles queriam ter seu pedacinho de terra. Ele tinha um amigo advogado de nome Cardoso que tinha uma fazenda e muita terra em Palmital, que era uma localidade muito pequena, um arraial, era sertão, isso foi por volta de 1920. Com isso meu nono, seu cunhado, irmão da minha nona, mais algumas famílias foram para lá. A terra que eles compraram era mato, derrubaram, o casarão antigo foi construído com boa parte da madeira que eles retiraram do local. Foi um período em que não havia quase granjas, meu nono começou a criar galinhas, mandava para São Paulo, mandava ovos. Meu avô e minha avó tiveram cinco filhos. Uma curiosidade, ele consertava e também fazia sanfonas. Ele mandava vir o material de São João da Boa Vista, onde tinha uma fábrica de sanfonas. Aos poucos foram adquirindo mais terras, até passar a cultivar café também.
                                                        PALMITAL SÃO PAULO
Seu pai continuava em Palmital?  
Meu pai cresceu, esteve na frente de batalha na Revolução Constitucionalista de 1932, ele era da artilharia. Ele ficou na região entre Aparecida do Norte e Rio de Janeiro. De Palmital voltaram ele e um amigo.
Você lembra-se da sua primeira professora em Palmital?
Lembro-me sim! Era Dona Zenaide Badim de Souza. Depois foi Dona Heloisa, que era esposa do Cardoso ou do seu filho. A terceira professora foi Dona Maria Diaz, o pai dela era coletor da receita, a professora seguinte foi Dona Marta. Conclui o Grupo Escolar de Palmital entrei para o Ginásio Estadual de Palmital, o curso normal fiz em Assis, que ficava a uns trinta ou quarenta quilômetros distante de Palmital. Ia e voltava todos os dias pela Estrada de Ferro Sorocabana. Era uma viagem gostosa, íamos em uma pequena turma, cantávamos, dançávamos, naquela época não havia passe de estudante, adquiríamos o bilhete, o chefe de trem passava para picotar o mesmo e anunciava a próxima estação: “-Palmitar!”, outro dizia “-Palmital!” e um terceiro falava “Parmitar!”. Nós ríamos muito!
Naquela época mulher praticava esporte na escola?
Eu jogava basquete, aprendi a jogar no ginásio. O uniforme era um short azul marinho e blusa branca, com, o emblema da escola, tênis e meia. Lembro-me da professora de Educação Física, Areco, foi uma excelente professora. Na época a Escola Normal de Assis era considerada uma das melhores do Estado. Formei-me professora, que era o máximo que se tinha no local. Voltei à Palmital, lecionei na roça por uns três anos. Teve um período em que eu ia e voltava até a escola. Já cheguei a andar dez quilômetros a pé para ir lecionar, isso ocorria em situações especiais, quando chovia muito, aquela lama, não passava carroça, bicicleta, nada. Normalmente eu ficava no sitio, na casa da fazenda onde lecionava. Lembro-me de uma casa onde fiquei da Dona Hermantina, quando eu estava lá nasceu seu décimo filho. Era da família Monteiro. Geralmente no começo da semana eu ia de bicicleta até a fazenda, permanecia lá e voltava de bicicleta no final de semana.
                                                            ASSIS - SÃO PAULO
Você teve o desejo de cursar uma faculdade?
Tinha uns fazendeiros em Palmital cujos filhos estudavam em São Paulo. Minha irmã Therezinha Casagrande gostava muito de escrever, ela começou a escrever sobre a história de Palmital. Foi uma cidade que teve uma história muito conturbada. Houve uma rixa muito grande entre duas famílias, uma que já residia no local e outra que veio morar na cidade. Por razões políticas, houve uma tocaia onde morreram sete pessoas.
Em que cidade você fez a faculdade?
Tinhamos parentes em Londrina, e lá já existia a faculdade que eu pretendia fazer. Fui para lá de ônibus, era ainda estrada de terra, tinha que passar o rio pela balsa, cheguei em Londrina no final da década de 58. A cidade era toda em ruas de terra, acho que nem a Avenida Paraná era calçada. Fiquei no Distrito de Irerê onde tinha uns primos e prima que era da família Ronch.
Quantos idiomas você fala?
Falo o português e o italiano. Mas entendo espanhol, inglês, francês, alemão uma palavra ou outra, como Weltanschauung (termo alemão que se pronuncia "vèltanxauung"), palavra de origem alemã que significa literalmente "visão de mundo".
Na época do ginásio estudávamos latim. Minha prima tinha um armazém no Irerê, foi lá que conheci Alexandre Von Pritzlwitz que doou a FEALQ a Fazenda Figueira, situada em Londrina, com 3.900 hectares de terra.

                                               HISTÓRIA DE LONDRINA PARTE 1



HISTÓRIA DE LONDRINA PARTE 2



HISTÓRIA DE LONDRINA PARTE 3



HISTÓRIA DE LONDRINA - PARTE 4
               


                                           IMIGRAÇÃO JAPONESA EM LONDRINA
Você fez faculdade de qual curso?
Comecei estudando história e geografia, mas depois surgiu a pedagogia, eu já era professora, sou da primeira turma de pedagogia, da Faculdade Estadual de Londrina foi em 1965. Fui para Irerê, era a primeira professora formada de Irerê. Vim para Londrina, lecionei e tornei-me diretora dessa escola. Vi uma notícia de que estavam precisando de professores no Amapá. Na época era Território. Encontrei o professor de administração no correio, ele disse-me que o INEP - Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos de São Paulo estava selecionando pessoal para mandar para os estados do Norte e do Nordeste.
Fiz a prova na USP, passados uns 10 dias recebi um telegrama de que havia sido aprovada para participar do programa do INEP. Em janeiro me chamaram para vir para a USP para fazer a preparação de dois a três meses, o José Mário era o coordenador. Fomos preparados para sair para o Norte e Nordeste. Fui para Rondônia. Lá fiquei hospedada em hotel. Isso na época áurea da cassiterita.

Como era a relação dos habitantes locais com vocês?
De forma geral era bem aceita, embora houvesse certa reserva. Fazíamos o planejamento, fazíamos pesquisas, montávamos os planos, era uma beleza. De tudo que fazíamos se 10% eram aproveitados era muito. Entrava o jogo político interferindo. Tinha verba, só não era aplicada em sua finalidade. Íamos dar cursos para professores leigos na redondeza. 

Em Guajará-Mirim demos um curso de 60 dias. Infelizmente havia uma visão de só realizar se fosse uma vantagem política. Depois fui para o Maranhão. Viajávamos naqueles aviõezinhos sem pressurização, saiamos com os ouvidos estourando.  Mais tarde fui para Alagoas. Trabalhamos como camelos, o secretário ia para os Estados Unidos, queria apresentar o projeto, trabalhávamos na época com mimeografo. Ele foi, apresentou o projeto e politicamente destacou-se. Implantar mesmo o projeto que fizemos isso nunca foi feito. Sai do programa, voltei para São Paulo.
Qual foi seu próximo destino?
Minhas colegas da faculdade tinham ido à Brasília, decidi ir também. Comecei a lecionar matemática em uma das escolas do centro. Recebi um telegrama da Indústria e Comércio de Minérios S.A. (ICOMI) 
                                                JK INAUGURA A ICOMI EM 1957


ICOMI


                                                         SERRA DO NAVIO



                                                        DR. ANTUNES - ICOMI/ CAEMI
e explorava minério de manganês na Serra do Navio, Amapá.  Depois passou a chamar-se Caemi e se uniu a Bethlehem Steel, americana. Não dei atenção ao telegrama. Um dia bateram na porta da minha casa, um representante da ICOMI que morava em Brasília perguntou se eu não tinha recebido o telegrama, que eles gostaria que eu participasse. Eles queriam implantar o curso de ginásio voltado para o trabalho, na Serra do Navio.  Eles tinham uma vila maravilhosa. A parte dos operários era uma beleza, na época os melhores recursos hospitalares eram deles. O lazer era dançar e o cinema. Quando saiu o filme “Uma Odisséia no Espaço” levei todos os meus alunos para assistirem. Só se entrava lá no trem pertencente a companhia. Ia de avião, descia no aeroporto, ficava hospedada no melhor hotel de primeiríssima, ai eles vinham de carro me buscar, levavam-me para o trem e ai íamos até a Serra do Navio. Tinham construído uma vila em Macapá, viajávamos no trem de minério, no final eles tinham um ou dois vagões destinados aos passageiros. Permaneci lá por três anos. Em 1969 quando o homem foi à lua eu estava lá! Só tinha um engenheiro que tinha uma televisão, a Eliete Covas era Secretária da Educação, tinha amizade com eles, ela que me levou ao Amapá. 
Após três anos você decidiu sair de lá?
                                                                 BRASILIA
                                          


                                                                        BRASILIA                                          No período em que estive trabalhando lá procurava me atualizar indo a congressos em Belém, São Paulo. Quando pedi para sair ofereceram diversas vantagens, inclusive financeiras. Eu tinha decido sair voltei para São Paulo. Passei a trabalhar com o grupo que ia realizar a descentralização do ensino. São Paulo já estava uma cidade cuja qualidade de vida tinha deteriorado. Recebi através de uma amiga a notícia de que haveria um concurso de Alto Nível para a Secretaria do Distrito Federal, em Brasília.
 Voltei a Brasília. Fiz dois meses de curso, passei. Entrei como Especialista em Educação. Permaneci lá por 15 anos. Nesse meio de tempo fui ao Acre dar um curso, veio o reitor da Universidade do Acre convidou-me para ministrar esse curso. Permaneci lá por seis meses. Em Brasília eu trabalhava muito com a parte de currículo, planejamento e supervisão Fizeram a programação introduzindo arte nos currículos, fui para a Itália onde fiquei um ano, fiz o curso de História da Arte. Voltei ao Brasil. Como tinha uma licença premio, férias, fui de novo para a Itália onde estudei Gemologia.
O que é Gemologia?
É o estudo das pedras preciosas, das gemas. É um ramo da mineralogia.
Você chegou a estudar o diamante?
Estudei! Diamante é a pedra mais preciosa por ser a pedra mais dura. E que dá mais brilho. Temos no Brasil a famosa pedra de diamante conhecida como Getulio Vargas.


Das pedras tipicamente brasileiras qual é a considerada de grande valor?
As turmalinas. Também tem as esmeraldas, mas as esmeraldas colombianas são melhores do que a nossa. Temos algumas boas, as melhores são as da Bahia. Encontram-se algumas muito boas, mas é muito pouco.
                        TURMALINA

Se trouxerem uma pedra você consegue identificar seu valor?A primeira coisa que aprendemos no curso de gemologia é nunca dizer o que é uma pedra sem antes passar por todos os exames. Temos pedras sintéticas que imitam quase todas elas. Tem pedras que tem características uma da outra, mas é de outra família. Você trabalha com cinco ou seis instrumentos para reconhecer a pedra. A balança, o epidiascópio (aparelho para projetar imagens de corpos opacos na luz refletida ou transmitida), ácidos, balança.
O que a levou a gostar da gemologia?
Isso começou quando eu estava em Rondônia tinha um topógrafo que gostava de pedras, uma vez ele veio com algumas pedras, eram granadas, é uma pedrinha vermelha, preciosa também, está entre as gemas. Não compensa fabricar o diamante, o maior uso é na indústria, ele não precisa ser especial. O diamante é formado em altíssima pressão e por volta de 1.000 graus de calor. Ai depois vem a família dos coríndo: a safira e o rubi. O rubi está em extinção. Há diamantes azuis, verdes, mas são raridades.
A senhora aprecia essas pedras pela sua beleza?
Exatamente! Só que para ser possuidor de uma dessas pedras envolve uma quantia de valor que é privilégio de poucos. Ou seja, gosto, entendo, mas não tenho posse de nenhuma delas. Conhecê-las é um hobby.
Quais são os países que são mais meticulosos quanto a qualidade das pedras?
Acho que é a França, a Itália. Os americanos também são exigentes. Só um gemolista pode dar atestado de autenticidade de uma pedra. Uma conhecida um dia disse ter adquirido um topázio para presentear uma pessoa querida, ela adquiriu no exterior, disse: “- Vou lhe mostrar!”. Peguei, pelo peso já vi que não era, disse-lhe: “-Estou achando que está muito leve. Quanto você pagou?” Ela disse-me o valor pago, eu disse-lhe que era mais uma razão, se fosse um topázio de verdade valeria muito mais. Ela levou no joalheiro era um citrino! De um valor bem abaixo.
A senhora é dançarina?
Sou apenas uma principiante. Hoje faço parte de um grupo da Ana Paula Minari, professora formada pela Unicamp. Somos a primeira turma dela da terceira idade de dança flamenca. 





Há quanto tempo a senhora dança flamenco?

Há cinco anos. Não podemos ficar presos, precisamos de desafios e caminhar pelo lado positivo. Fiz um curso de Bio Ética quando mudei na ultima vez para Londrina. Faz 16 anos. É uma disciplina que está em alta, a preocupação é preservação da vida e do planeta. Não só a vida animal e vegetal como a natureza. Um dos Bio Eticistas é da Corrente da Ética da Responsabilidade, ele diz: “- Age de tal maneira que as conseqüências das suas ações possibilitam a permanência de uma vida  verdadeiramente humana na face da Terra” .Seu nome é Hans Jonas. 


O diamante Presidente Vargas

Foi no Rio Santo Antônio do Bonito que, no dia 13 de agosto de 1938, foi encontrado o maior diamante já formado no solo do Brasil. A pedra de 726,6 quilates foi batizada com o nome de Presidente Vargas, em homenagem ao então presidente da República, Getúlio Dornelles Vargas. Por algum tempo, ele ocupou o posto de quarto maior diamante do mundo. Hoje, está em sexto lugar na lista dos maiores. Os garimpeiros Joaquim Venâncio Tiago e Manuel Domingues venderam o diamante por US$56 mil para um corretor, que, logo em seguida, o revendeu por US$235 mil. Algum tempo depois, ele foi negociado com o banco Dutch Union Bank, de Amsterdã (Holanda).Enquanto o diamante estava guardado nos cofres do banco holandês, o famoso lapidador Harry Winston - responsável pela clivagem do diamante Jonker - tomou conhecimento da existência do magnífico diamante brasileiro. Winston viajou para Amsterdã e comprou essa pedra preciosa. O preço pago não veio a público, mas se sabe que Harry Winston adquiriu um seguro no valor de US$750 mil.O jornal O Imparcial, de 11 de junho de 1939, anunciou: O diamante "Presidente Vargas" vendido por 2.550 contos adquirido pelo industrial norte-americano Harry Winston, o célebre diamante "Getúlio Vargas", achado no rio Santo Antônio em Minas, levantou grande celeuma, não só devido à avaliação então feita pela Casa da Moeda, como ainda pelo seu tamanho, considerado, acertadamente, o quarto do mundo.O Imparcial, aliás, em tempo, occupou-se pormenorizadamente do assumpto, referindo-se à classificação fita a 7 de outubro de 1938 pela Casa da Moeda, de 871:920$ para efeitos de exportação, muito aquém do seu valor.O diamante "Getúlio Vargas", como "specultivestone", foi, então, exportado pelo Correio Geral, via marítima, a 26 de outubro para Amsterdam, na Holanda, o maior centro de pedras preciosas do mundo.Segundo notícias agora chegadas ao nosso conhecimento, a preciosa pedra foi adquirida a 23 de maio último, pelo grande industrial norte-americano sr. Harry Wisnton, antigo amigo do Brasil, que já aqui esteve algumas vezes, e um incansável propagandista das nossas riquezas minerais, aproximadamente pela importância de 2.500 contos de réis, ou seja, o triplo da avaliação feita pela Casa da Moeda."Notícias sobre a questão da venda também ocuparam as páginas dos jornais.A Noite - 4 de novembro de 1940 Agita o Fôro Mineiro o diamante "Getúlio Vargas e Patos a Patrocínio e de Patrocínio a Nova York - Dois garimpeiros e um lavrado discutem por causa de seiscentos e cinquenta contos - E a preciosa gema já está avaliada em 20.000 contos de réis.Belo Horizonte, 4 (da sucursal de A Noite) - O famoso diamante "Getúlio Vargas", que ora agita os tribunais de Londres e Nova York, repercutindo na imprensa mundial, continua a movimentar também os tribunais de Minas, sua terra de origem.O litígio despertado no fôro mineiro pela preciosa gema remonta à data da sua descoberta e resume-se no seguinte: É hábito dos garimpeiros e faiscadores que exploram a fortuna em terras alheias dividirem com o proprietário desta o produto de sua descoberta. Os felizardos garimpeiros que encontraram o "Getúlio Vargas", Manoel Miguel Domingues e Joaquim Venâncio Thiago, alegando que o venderam a Oswaldo Dantes Reis, por 700 contos, depositaram a metade dessa quantia num banco, a favor do dono das terras, Sebastião Rodrigues Amorim.Este, sabedor de que a primeira venda do diamante rendeu não setecentos, mas dois mil contos, protestou que tinha direito a mais seiscentos e cinquenta contos e intentou imediatamente uma ação judicial para a cobrança dessa importância...Diário da Noite - 11 de novembro de 1940O diamante "Getúlio Vargas" vale vinte mil contos será dividida em doze partes, a famosa pedra Nova York, 11 (Reuter) - Segundo declarações da firma proprietária do famoso diamante brasileiro, conhecido como Getúlio Vargas, terminou a controvérsia judicial em torno da propriedade da mesma pedra. O bello diamante, avaliado em um milhão de dólares, será cortado em doze partes.O diamante Presidente Vargas foi, então, clivado e lapidado. O diamante bruto deu origem a 29 diamantes menores. Entre eles, havia 16 com lapidação esmeralda, um com lapidação pear ou gota, um marquise, e, entre as gemas menores, 10 trillions e uma baguete.Após a clivagem, a maior pedra, um diamante corte esmeralda de 48,26 quilates, foi denominada Presidente Vargas. Acredita-se que hoje ele pertença ao joalheiro Robert Mouawad, de Beirute.As gemas trocaram de mãos com o passar dos anos. No entanto, nas últimas décadas, alguns pedaços reapareceram em leilões da Sotheby's. Em abril de 1989, o Presidente Vargas IV, com 28,03 quilates, foi vendido por US$781 mil, e o Presidente Vargas VI, com 25,4 quilates, por US396 mil, em 1992.

sexta-feira, outubro 09, 2015

ARLET MARIA DE ALMEIDA

Entrevista realizada a 7 de outubro de 2015
PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 10 de outubro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADA: ARLET MARIA DE ALMEIDA
A Engenheira Florestal Arlet Maria de Almeida é natural de Piracicaba onde nasceu a 20 de abril de 1949, no Bairro Alto. É filha de João Cassemiro de Almeida Filho e  Maria Fantazia de Almeida, que tiveram ainda os filhos Aracy e João Marcos. Arlet Maria de Almeida foi eleita pela Associação Paulista de Engenheiros Florestais –APAEF como a Engenheira Florestal do Ano de 2015.
Você iniciou seus estudos em qual escola?
Foi no Grupo Escolar Alfredo Cardoso. Quando iniciei tinha menos de sete anos, por dois meses, até completar os sete anos, o corpo docente da escola tinha muito cuidado para evitar que eu fosse notada nas visitas feitas por representantes da Delegacia de Ensino. Era uma exigência que o aluno só a partir dos sete anos freqüentasse a escola.
Você lembra-se do nome da sua primeira professora?
Foi Sabina Barbosa. Talvez a professora mais exigente, mais brava da escola, mas era uma grande professora. No segundo ano tive aula com outra professora, cuja fisionomia lembro-me perfeitamente, apenas o nome não me recordo no momento. No terceiro ano tive aulas com Da. Lourdes.
Após concluir o primário onde você estudou o curso ginasial?
Lá só havia o curso primário, fui estudar no Ginásio José Romão, na Vila Rezende. Eu morava na Rua Alfredo Guedes, atrás da Igreja Bom Jesus.
É uma distância considerável entre a sua casa e a escola José Romão, como você ia até lá?
Ia até o centro, a pé, lá pegava o bonde. Na volta fazia o percurso contrário, vinha de bonde até o centro e depois ia a pé até a minha casa. Minha irmã Aracy e eu fazíamos esse mesmo percurso, juntas. Era ótimo, não havia perigo nenhum. Estudávamos na parte da tarde. Levávamos a merenda. Lá estudei dois anos. Ai passei a estudar no Colégio Piracicabano, na Rua Boa Morte. No Colégio Piracicabano estudei até a oitava série, ou seja conclui o ginásio lá.
De lá você foi estudar em qual escola?
Fui estudar na Escola Normal Rural que funcionava nas dependências da ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ficava próxima ao prédio da Zootecnia.  Era uma escola do Estado. O objetivo era formar professoras para lecionar na zona rural. Acredito que já nessa época minha veia do lado rural, ambiental, estava se manifestando. Conclui a Escola Normal Rural, mas não me senti atraída em lecionar.
Você continuava morando no mesmo lugar?
Morava na mesma casa, ia de bonde para a Escola de Agronomia, naquela época não havia essa história de pai ou mãe levar seu filho até a escola.
Nessa convivência você acabou se encantando com a ESALQ?
A Escola é encantadora! Esses três anos em que freqüentei a Escola Normal Rural fez-me decidir, pensava: “Quero estudar aqui!”

Fui fazer cursinho preparatório para o vestibular, no CLQ.Foi em seu inicio, começamos a ter aulas no antigo prédio da Zoologia, logo na entrada da ESALQ. Depois passou para o prédio da Mecânica, que costumamos chamar de “Maracanã”. Tínhamos aulas a noite.
No início do anos 60, no Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, começou a funcionar um Curso Preparatório para o vestibular da Esalq. Era o cursinho do Calq


Naquela época, a Esalq fazia o seu próprio processo seletivo. Entretanto, alguns cursos da área de Biológicas tinham o seu vestibular unificado pelo CESCEM, cujas provas eram elaboradas pela Fundação Carlos Chagas. Politécnica, Mauá e FEI, estas duas últimas particulares, porém, todas elas com cursos de engenharia, integravam o vestibular produzido pela MAPOFEI que, posteriormente, englobaria também a seleção de todos os alunos para as faculdades públicas do Estado de São Paulo da área de exatas. Nas humanas, os cursos passaram a integrar o vestibular unificado pelo CESCEA.
Você lembra-e do nome de alguns professores da época?
Lembro-me. Foi Fundado em 1961 pelo diretor professor Shunhiti Torigoi que ensinava física, José Arthur de Andrade lecionava Biologia, Antonio Carlos de Mendes Thame,  lecionava português, Newman Ribeiro Simões, ensinava matemática, Juan Sebastianes lecionava química. Wilson Saito que no inicio trabalhava na secretaria. Eles eram engenheiros agrônomos, talvez alguns ainda estudavam na ESALQ.
Era um cursinho difícil?
Era puxadíssimo! Principalmente para mim e para uma amiga a Astrid, nós não tínhamos tido aulas de química, física, matemática. Tínhamos que aprender em um ano o que todos que fizeram o curso colegial aprenderam em três anos. Estudamos muito, muito mesmo. E entramos na ESALQ no curso de Agronomia. A minha amiga formou-se em Agronomia. Quem desejar pode fazer uma especialização em uma área que escolher. A pessoa irá fazer um curso de pó-graduação. O que aconteceu comigo foi que eu estava passando do segundo para o terceiro ano de Agronomia e eu queria fazer Silvicultura. Na época era matéria optativa.
A Silvicultura aborda qual área?
Silvicultura é a cultura de árvores. Na época tinha a Silvicultura I,II e III. Quando fui fazer a matricula, pelo fato de ter sido criado o curso de Engenharia Florestal, os alunos de Agronomia não podiam mais fazer Silvicultura. Se eu quisesse fazer Silvicultura tinha que passar para Engenharia Florestal. Mudei. Foi assim que entrei em Agronomia e sai como Engenheira Florestal. Hoje você faz o vestibular para Engenharia Florestal.
Foi um ato de coragem da sua parte em decidir por uma área totalmente nova.
Foi. Eu tinha muita segurança de que queria fazer essa parte de árvores.

Esse seu interesse pelas árvores surgiu como?
Não sei. Acho que foi dentro da própria ESALQ. Não sei explicar muito bem esse meu interesse pelas árvores, pelo ciclo, como acontece. Se é através de semente. Como é a polinização. Como é a florada. Entrei na ESAQ em 1970, essa minha decisão foi em 1972. Faz mais de quarenta anos.
Hoje às vezes chega a ser até um modismo essa demonstração exacerbada, algumas vezes sem nenhum fundamento científico, a pessoa dizer-se defensora do verde, das árvores.
Naquela época não era. Hoje é meio moda, embora seja uma moda necessária, as pessoas estão mais sensíveis, mais conscientes, com relação a esse assunto. Até mesmo em função da necessidade que estamos vendo. Eu queria estudar esse assunto, na época achava interessante. Na época o curso tinha a duração de quatro anos, atualmente são cinco anos. Formei-me na turma de 1973.
Ao concluir seu curso qual foi seu primeiro emprego?
Fui trabalhar na Prefeitura de São Paulo, na Regional de Vila Prudente. Aprendi muito lá, foi uma grande experiência. Na época Vila Prudente tinha 400.000 habitantes, maior do que é Piracicaba hoje.
                                              História da Vila Prudente - São Paulo 
Quais eram os maiores problemas que você encontrava dentro da sua área?
Vila Prudente na época era periferia de São Paulo, era uma região muito carente de sistemas de lazer, de áreas verdes, de arborização urbana.
A sua área não envolve apenas a árvore, mas o conjunto árvore, meio ambiente, o homem.
Essa parte da Engenharia Florestal dentro da cidade é chamada de Silvicultura Urbana. É um termo bem consagrado. É a cultura de árvores nas zonas urbanas. Isso é um problema muito sério digamos em 99,9 % dos municípios do nosso país. Infelizmente.
Você permaneceu em São Paulo quanto tempo?
Eu fiquei lá quase três anos. Vim trabalhar na Prefeitura de Piracicaba onde permaneci até me aposentar.
Aqui você se casou?
Casei-me, tive dois filhos João e Ricardo.
Entre as suas realizações uma delas é a arborização do Teatro Municipal Losso Netto?
Na época consegui fazer um trabalho muito bom, conseguimos comprar plantas boas, o que não era habitual na prefeitura. Hoje infelizmente foi muito mutilado. Aquela estrutura verde, arbórea ainda permanece. Muita coisa foi tirada, cortada. Houve muitas intervenções que descaracterizaram o projeto original.
Você tem outros projetos marcantes?
Fiz muitos projetos na prefeitura, cuidávamos muito da manutenção da cidade. Dentro da Secretaria de Meio Ambiente se cuida muito da manutenção das áreas. È um dia-a-dia de limpar, cortar, arrumar, plantar, podar. È quase um serviço de dona de casa na cidade, não tem fim. Não aparece, é com um grão de areia em uma praia. A necessidade é tão grande e se tem tão pouco. Diga-se de passagem, que em Piracicaba conseguimos fazer muita coisa.  Quando entrei na prefeitura nem existia a Secretaria de Meio Ambiente. Era um setor dentro da Secretaria de Obras. Com muita conversa muita discussão, conseguimos criar a Secretaria de Serviços Públicos que depois passou a ser a Secretaria de Meio Ambiente. Mas tudo isso tem um tempo, um processo de maturação. Um processo de convencimento.
Você chegou a ser Secretária?
Fui Secretária em um momento em que a Secretária da época se afastou para ser candidata a um cargo eletivo, eu a substitui por quarenta dias. Foi em um período em que a prefeitura estava em greve, foram quarenta dias extremamente difíceis.
O viveiro que você implantou comportava quantas mil mudas?
Uma coisa é o que ele produz, outra é a capacidade que ele tem para produzir. É um viveiro com capacidade para 500.000 mudas. Para viveiro não é muito para uma cidade do tamanho de Piracicaba. Tanto é que ele não consegue atender a demanda.
Quem planta essas mudas, o particular ou a prefeitura?
Quem deve plantar é a prefeitura. Muitas vezes as pessoas vão lá pegar uma muda e querem plantar.
Com relação ao plantio de árvores deve haver uma orientação técnica? É como cachorro de grande porte que é muito bonitinho enquanto é novo, mas impossível de se manter em um ambiente pequeno?
È o caso de uma seringueira em área urbana, nem pode se pensar em plantar. 


                                         SERINGUEIRAS FORDLANDIA
Sobre essa parte de plantas ornamentais não existe muitos estudos. Pode-se dizer que não existem estudos do comportamento dessas árvores. O que existe muito mais são observações. Teve uma época em que se plantou muito e foi plantado o que tinha. Você irá encontrar seringueiras, flamboyant, hoje não se planta mais esse tipo de coisa. Do ponto de vista ambiental, as cidades precisam de uma arborização de grande porte. Isso se você quiser ter resultado do ponto de vista da temperatura ambiente. Uma árvore com um ou dois metros não irá proporcionar uma copa que interfira em tudo isso. A relação do verde com as áreas de concreto, as áreas impermeabilizadas é absolutamente desproporcional. Essas áreas de cimento, concreto, asfalto, durante o dia retêm o calor. Quando chega a noite esse calor irá ser emanado. Teríamos que ter uma arborização intensa para ter influência no clima da cidade.
E as árvores plantadas em calçadas?
A pessoa faz a calçada, aí faz uma caixinha de quarenta centímetros de largura por quarenta centímetros de comprimento e quer colocar uma árvore lá dentro! E não quer que estoure a calçada! Não é a árvore que está errada! Você tinha que ter um espaço maior para a árvore poder se desenvolver. Isso é um lado da questão. Outro lado é a fiação elétrica. Por que nós temos que ter essa fiação que é uma poluição visual absurda? O que sempre escutamos é que não dá para embutir porque o custo é muito alto. Hoje esse custo é muito menor, mas se não quer embutir, vamos pelo menos compactar. Existem técnicas e existem cidades que fazem isso, sobretudo no Estado de Minas Gerais, eles compactam aquela profusão de fios, transformando em um cabo.
Uma curiosidade: alegam que a fiação embutida é cara, mas tanto a água encanada como o esgoto são embutidos há muitos anos.
Há sempre a desculpa. Ainda penso, se não querem embutir vamos pelo menos compactar. Não deixar essa profusão de fios, essa poluição visual que é a cidade. E não existe nenhuma ação para que isso mude.
Qual é a relação da árvore com as nascentes de água?
Só existe relação! Em termos de ciências florestais podemos dizer que nós temos ecossistemas florestais. Há três grandes linhas dentro das ciências florestais que estudamos. São os Ecossistemas Florestais, a Silvicultura e o Manejo Florestal e a Tecnologia de Produtos Florestais. Quando você pega uma bacia hidrográfica deve identificar onde você tem que conservar. Uma bacia hidrográfica é onde você tem o córrego principal e toda a área em seu entorno que jorra para aquele córrego. O engenheiro florestal vai olhar o que deve ser preservado, onde houver uma nascente tem que ter árvore, se mais adiante eu tiver uma área degradada posso fazer determinado tipo de cultivo. Se nas proximidades tiver um solo de boa qualidade posso plantar milho, soja. Isso é olhar para esse ecossistema e planejar o uso.
Na pratica isso é feito?
Uma boa pergunta. Deveria ser feito.
Uma usina de cana-de-açúcar, que planta grandes extensões,  faz isso?
Infelizmente ela não faz, mas deveria fazer. Quando esses ecossistemas funcionam você não terá problema de falta de água. Sem água você não terá nada. A relação floresta-água é diretamente proporcional. Se não existir um sistema florestal adequado, não haverá polinização. Sem polinização não há cultura. Não irão ter a abelha, insetos, borboletas. O ecossistema florestal precisa funcionar. Basta você ver a situação que estamos com relação a água.
É uma conseqüência desse descaso com a proteção das nascentes?
Claro! Com certeza! A falta de água é uma conseqüência do mau uso do solo. Se você, mesmo pela televisão ver a Represa Cantareira não verá uma árvore em volta do Cantareira.
O que faltou? Planejamento?
Claro! Planejamento e as autoridades competentes investir nisso. Quando você fala em tecnologia de produtos florestais o que estudamos nisso? O que a gente trabalha? Trabalhamos com madeira para construção, com produção de resina, celulose. O Brasil é o país que mais exporta celulose. As florestas plantadas protegem as florestas nativas. A necessidade de madeira é uma realidade, não há como negar. A população cresce, precisamos desses produtos. Quando ocorre o plantio de eucalipto você não está mexendo nas florestas nativas. A floresta nativa tem que estar em pé e nós entendermos que ela pode nos fornecer inúmeros produtos. E isso ser rentável pára o país.
Mito ou verdade há afirmações de que o eucalipto “puxa” a água do solo.
O eucalipto tem um crescimento rápido, existem estudos que afirmam que quando há um sistema equilibrado essa água não irá diminuir. O problema é que as pessoas não plantam, não conservam as nascentes, depois plantam o eucalipto ele passa a ser o culpado.
Estou falando com uma Engenheira Florestal e o assunto está se encaminhando para a água, são temas que tem muita relação?
Tem total relação. Sugiro que vejam o vídeo “A Lei da Água”. È muito interessante. No antigo código florestal, em volta de cada nascente tinha que ter 50 metros arborizados para proteger a nascente. O novo código baixou para 15 metros arborizados para proteger a nascente. Ai entra o poder econômico. Com isso a água irá diminuir.

Com relação a dessalinização da água, é uma saída viável?
O que sabemos é que é um processo muito caro. Isso é relativo, porque poderá chegar a hora em que a necessidade da água será primordial. O que de fato não podíamos é em um pais como o nosso que tem uma rede hidrográfica maravilhosa, deixar acontecer isso. Poluir os rios. Os rios da Bacia do Rio Piracicaba estão piorando em quantidade e em qualidade.
O próprio Rio Tietê, em São Paulo, há 60 anos era utilizado por nadadores. Hoje se cair no Rio Tietê o risco de contaminação é elevado.
Pode até mesmo correr o risco de morte por contaminação. A natureza sempre foi muito desrespeitada. Ela retribui, com certeza. Estou sempre falando em plantios homogêneos, ou seja, de uma espécie só. São plantios que vou fazer para colher. Não é a floresta nativa, que tem várias espécies. Outro fator dos sistemas é a biodiversidade. Nesse aspecto já perdemos muita coisa. Perdemos coisas que nem soubemos que existia.
O que é Manejo Florestal?
Por exemplo, planto eucalipto com a finalidade de fazer postes para a rede elétrica, vou manejar de tal forma aquilo, que tenham diâmetro, terá adubação controlada, a plantação é mais espaçada entre as arvores, isso é que é o manejo. Controlar formigas, pragas, doenças. Isso tudo é manejar a floresta. Estamos falando de floresta cultivada. Existe também o manejo de floresta nativa.
Existem os defensores da fauna e da flora que se atém ao discurso? Pelo glamour ou status?
As vezes a pessoa abraça uma causa que ela sabe que é importante, mas ela não tem o embasamento científico.
A seu ver, já nas escolas primarias deveria ser dada a noção de responsabilidade com a natureza?

Sem dúvida! Acredito que já é dada alguma coisa. Já foi muito pior. Isso precisava ser mais prático, levar a criançada para ver. Nós fizemos em uma época um trabalho no viveiro de mudas da prefeitura, recebíamos todo dia os alunos de uma classe de uma escola. Houve uma época em que até recebíamos duas, uma pela manhã e outra a tarde. Foi um trabalho maravilhoso, chegamos a receber 10.000 alunos por ano. Mostrávamos ao aluno desde a semente, todas as fases da muda, e depois mostrávamos no viveiro mesmo algumas árvores adultas. Eles ficavam absolutamente encantados. Ver uma sementinha de uma paineira depois olhava para aquela paineira. Dizíamos que dentro daquela sementinha existia aquela árvore.  
A árvore pode ser plantada e conservada eternamente?
Precisamos entender, que como nós, a árvore tem um tempo de vida. Nós não vivemos 70,80, 90 anos? Claro, tem alguns que vivem 120 anos! Nós temos um tempo de validade!
E essas árvores que vivem séculos?
São algumas espécies! A sequóia, por exemplo! No Brasil temos o jequitibá. São árvores de longevidade enorme. São árvores imensas, deve tomar-se cuidado em que local irá plantar. Cai no que? No planejamento! Da mesma forma que você planeja os ecos-sistemas florestais, você tem que planejar o plantio na área urbana. Não pode se plantar o que a pessoa quer. Quantas vezes você passa em alguma rua e vê palmeiras plantadas na frente da casa? Se olhar para cima verá a fiação elétrica ou telefônica! Irá dar problema! Por isso dizemos que quem tem que plantar é o município!
O interessado em plantar uma árvore pode realizar uma consulta junto aos especialistas da ESALQ, de uma cooperativa agrícola?
Isso poderá ser feito na prefeitura mesmo, na própria Secretaria de Meio Ambiente. Eles se encarregam de ir até o local e plantar sem custo nenhum aos solicitantes.
É muito comum o condutor de algum veículo procurar estacionar o mesmo sob a sombra de uma árvore. Mas em frente a sua casa ele não quer que se plante nenhuma árvore, por diversos motivos. Um deles é varrer e colher as folhas que caem.
É a famosa Lei de Gerson (Onde todos querem levar apenas as vantagens). Falta a cultura de entendermos a necessidade de uma arborização maciça na cidade. A forma como a cidade é feita cabe tudo: postes, fios, sinalização de trânsito, só não há espaço para a árvore. E quando tem que tirar alguma coisa, a primeira coisa que se diz é:  “ –Tem que tirar essa árvore!”
Até alguns anos a maioria dos calçamentos das vias públicas nas grandes cidades era feito com paralelepípedos. Para suavizar o andar dos veículos em muitas vias foi lançada sobre o mesmo uma camada de asfalto. Qual é o impacto da mesma em relação a penetração da água das chuvas?
Eu não conheço nenhum estudo que diga que com paralelepípedo o solo terá uma absorção de água de “x” milímetros por metro quadrado. É evidente que com o asfalto a absorção será nula.
Em Paris as calçadas são em terra nua para melhor absorção de água?
Paris tem 400.00 árvores. Toda árvore de Paris tem um chip! O técnico chega com um aparelho, encosta e mede. Pude ver que em volta de algumas árvores são terra nua com pedrisco. Ou então fazem grades enormes no mesmo nível da caçada, o que dá segurança ao pedestre, só que essas grades permitem que a árvore receba água.  A água chega até as raízes da árvore. Infelizmente em nosso país há uma covinha para a árvore e em torno dela tudo impermeabilizado. A árvore dessa forma irá cair mesmo! Existem inúmeras soluções técnicas. È que é muito mais fácil fazer uma covinha e ir embora. O custo é muito menor, nós estamos em um país pobre. Não temos que pensar só na arborização urbana, a cidade precisa ter espaços, áreas verdes, temas de lazer, onde essa  água possa entrar quando chover. Não se pode contar apenas com a tubulação. Temos o asfalto, um bueiro diminuto, um tubo pequeno para o volume de água gerado pela chuva.
A seu ver o adensamento urbano deveria ser mais bem pensado?
O planejamento urbano deveria ser mais bem pensado. Não temos mais quintais. Não faz tanto tempo tínhamos quintais, com árvores frutíferas: mangueira, jaqueira, laranjeira. Você tinha um lugar onde essa água entrava. Hoje os lotes de terrenos já são menores, a pessoa impermeabiliza o quintal. Minha casa era grande, minha mãe colocava a roupa para coarar no sol sobre a grama, essa grama absorvia água. Temos poucos parques, poucos sistemas de lazer para receber essa água de chuva.
Estamos falando de uma cidade que é tida como modelo.
É tida como modelo, nós brigamos muito para que muita coisa fosse deixada, e ainda o pessoal que está responsável por isso tenho a certeza de que briga muito por isso.  Mas ainda é muito pouco. Tem regiões na cidade que temos inundações recorrentes. Isso é a tal de silvicultura urbana, esse planejamento. Quando você tem uma cidade com uma boa arborização, bem planejada, com árvores grandes, locais permeáveis, que essa água consiga entrar, teremos um micro clima melhor. Existem estudos da ESALQ, do Professor Demóstenes, por exemplo, que mostram isso. Ele mediu a temperatura em vários pontos da cidade, a área central e a ESALQ chega a dar de 8 a 10 graus centígrados de diferença de temperatura.
Isso significa que podemos baixar a temperatura da cidade plantando árvores?
Plantando árvores e deixando espaços livres, áreas verdes. Por exemplo: estacionamento, totalmente asfaltado, ali vai dar uma temperatura enorme.
Isso faz com que tenha sentido o que o pessoal com mais tempo de vida diz: “Está mais quente do que o ano passado!
Tem uma razão. Claro. As coisas na natureza não são absolutas. Se as cidades fossem melhor planejadas, teríamos cidades mais agradáveis. Hoje quando vai se fazer um loteamento a lei diz que dez por cento tem que ser conservado como área de lazer, o resto é tudo impermeabilizado. São ruas, 5% de área institucional. O material, o concreto, o cimento segura muito o calor, esquenta, o asfalto esquenta.
Em que ano você aposentou-se?
Foi em 2011.
Depois disso você enfrentou um curso de nível elevado?
Fiz um curso de pós-graduação em recursos hídricos na Escola de Engenharia de Piracicaba. Sou apaixonada por esse assunto.
O que lhe traz mais satisfação dentro da sua profissão?
Trabalhar com bacias hidrográficas. Essa relação da floresta com a água. Quando você pega uma bacia e consegue fazer ali um trabalho sério, medindo a água e vendo aquelas árvores crescendo, acompanhando tudo isso, você irá ver essa água aumentar.
Você realizou um trabalho para uma personalidade muito expressiva?
Foi para o Dr. Fernando Penteado Cardoso. Foi um trabalho na Fazenda Mundo Novo, situada em Brotas. Era uma área em que eles faziam as reuniões de gerencia, fiz um trabalho de paisagismo em uma área de mais ou menos 4 a 5 alqueires paulistas (24.200 metros quadrados cada alqueire). Ali tinha quadra, piscina, uma área em que faziam leilão de gado, tudo foi planejado, quando as pessoas vinham onde eram acomodadas, precisavam de sombra, as reuniões de gerência, como esse pessoal iria aproveitar aquele espaço. Ali foi feito um paisagismo com características de parque, a necessidade era que fosse um tipo de um parque para ser utilizada aquela área.
Quantos parques você chegou a fazer?
Foram muitos, acho que até perdi a conta de quantos foram. Parque é muito relativo. O que você chama de parque? O Parque da Rua do Porto foi feito inúmeras vezes. Participei de muitas coisas dele.
Foi você quem implantou o Parque da Rua do Porto na primeira vez?
Na primeira vez trabalhei na implantação. O projeto veio de fora da cidade, foi elaborado por um arquiteto de São Paulo. Depois ele foi destruído porque fizeram uma feira agro-pecuária logo em seguida. O parque foi implantado novamente. Plantei muita árvore lá, perdi a conta.
Mesmo assim é um parque que tem espaço para plantar mais árvores?
Têm! Só temos que definir que uma coisa é uma floresta, outra coisa é um parque! Um exemplo é a ESALQ, onde você tem áreas de vegetação densa, tem áreas livres, há um jogo de sombra e de luz.
Tem que existir a vegetação correta para o devido lugar?
Dependendo do tipo de solo, luz e sol você irá planejar o tipo de muda que irá por. Um local que tenha meia sombra não adianta querer colocar planta de luz. Tem que colocar planta que irá agüentar aquele sol. O mesmo ocorre com um local absolutamente sombreado, tem que colocar planta que agüente a sombra.
Quanto a polinização há fatores importantes nesse processo?
Existem plantas que você tem que ter um pé macho e um pé fêmea. Outras plantas são hermafroditas, são as que têm o sistema masculino e feminino na mesma planta. Algumas vezes você não tem a planta correspondente ao redor dela, mas logo a frente irá ter. A abelhinha se encarrega de fazer esse trabalho de polinização. Infelizmente algumas nascentes são sacrificadas para dar mais espaço ao plantio.
Há uma verdadeira febre de ciclovias, é um modismo?
Essa questão de bicicleta está muito em voga hoje. Não polui, é econômica, só que faz sentido quando se tem um circuito, eu não posso fazer uma ciclovia que não liga nada a lugar nenhum. Existe o plano de ciclovia para a cidade. Em inúmeras cidades da Europa as pessoas deslocam-se de bicicleta.
Você que conhece bem o exterior, a seu ver quem cuida melhor da natureza, o norte americano ou o europeu?
Acho que o americano cuida melhor. Tem inúmeros parques em muitas cidades. O pessoal de outros países está dando a devida atenção e cuidando da natureza. Na Espanha eles têm irrigação das árvores das calçadas. Você olha uma árvore na calçada, tem um caninho ao lado, é assim em todas elas, A Espanha tem um problema de água seriíssimo. Eles irrigam as árvores da calçada. Eles não podem ficar contando só com a chuva, senão as árvores não irão se desenvolver. Tem um sistema automático que a determinada hora molha as árvores. Quando você tem uma irrigação pontual não irá gastar muita água. Irriga a noite, não evapora.
O brasileiro é meio folgado nesse aspecto.
É folgado e meio!
O ideal é molhar as plantas sempre a noite?
O correto é molhar na hora que tenha menos sol, bem de manhã ou a noite.
Você foi eleita a Engenheira Florestal do Ano?
É uma indicação do órgão de classe. Da Associação Paulista de Engenheiros Florestais. Isso muito me honra.
Para Piracicaba é uma conquista e um reconhecimento?
Acredito que sim. Tem todo um trabalho, como já mencionamos, fui meio pioneira nessa área. Agora já vemos pessoas dizendo que irão fazer engenharia florestal, engenharia ambiental. Quando decidi escolher engenharia florestal há quase 50 anos, era bem diferente. Lembro-me que quando fui trabalhar na Prefeitura de São Paulo, tive uma reunião na prefeitura, uma pessoa perguntou-me: “- O que você é? Engenheira Florestal? Existe isso? O que uma engenheira florestal vai fazer em São Paulo?” É um conceito que está tão longe da nossa realidade, naquela época, no Brasil, não se falava em silvicultura urbana. Hoje existe uma matéria dentro do curso da ESALQ de ciências florestais, dada pelo professor Demóstenes. Hoje é tudo feito através de geo processamento, infravermelho. Existem levantamentos por infravermelho que você faz e pela cor você já sabe quais são os lugares mais quentes da cidade. Tínhamos um código de preservação ambiental que delimitava uma determinada área, houve uma grande pressão da bancada ruralista para diminuir essas áreas, tínhamos que deixar 50 metros de área verde de proteção à nascente, hoje são quinze metros. É muito pouco! A reserva legal era intocável. Tinha que deixar na sua fazenda a reserva legal, não podia mexer. Hoje você pode mexer na reserva legal, se tiver na reserva legal determinada planta que produza algum tipo de semente, hoje você pode comercializar essa semente. Ou seja, a reserva legal pode ser produtiva atualmente. Não temos muitos estudos a respeito, mas existem muitas essências utilizadas em cosméticos, perfumes, remédios.
O eucalipto passou por melhoramentos?
O melhoramento genético do eucalipto foi importantíssimo. Tem a importante participação do Departamento de Silvicultura que depois passou a ser Ciências Florestais, foi o Dr.. Eladio de Amaral Mello, diretor, que criou o curso de Engenharia Florestal. No inicio as mudas eram feitas pela semente, depois passaram a ser produzidas por micro-propagação. Quando se pega uma semente ela recebeu pólen de diversas origens. Não irá ter-se uma árvore exatamente igual. Na micro propagação não. Você escolhe, se tiver o fusti ( tronco)  reto é disso que eu preciso. Se vou produzir poste, não posso ter galhos, cada galho tem um nó, ela tem que ter uma desrama boa. É eleita uma árvore como matriz. Você vai lá, pega as folhinhas e faz micro propagação. Você faz muda daquela folha! Aquela muda quando crescer será igualzinha a árvore original.
Você está clonando a árvore?
Está sendo clonada!
Qual é seu ponto de vista sobre as ervas medicamentosas?
Algumas pessoas passaram a estudar mais profundamente o assunto. Dr. Walter Accorsi foi um precursor.
O que é eco fisiologia?
Dentro das ciências florestais falávamos em fisiologia, atualmente fala-se em eco fisiologia. Fisiologia de uma planta é o estudo da mesma. Eco fisiologia é o estudo dessa planta dentro do ambiente. É a interação da planta genética mais o ambiente no crescimento das árvores. A floresta nativa temos que torná-la produtiva, lucrativa.
O avanço da tecnologia contribuiu muito para esse enorme salto?
Através desse estudo que o Professor Demóstenes faz você consegue determinar em uma cidade o quanto ela tem de área verde, de parques, quanto ela tem de área impermeável. Qual é a relação entre área permeável e impermeável. Temos aparelhos que junto a árvore determinam suas condições vitais. Como a árvore está internamente, se está oca. Como país pobre, temos um aparelho aqui outro no IPT em São Paulo. No Estado de São Paulo se tivermos 10 aparelhos é uma estimativa próxima da realidade. Falo muito de Madrid, porque fiz um curso e veio uma pessoa de lá que é responsável por essa área. Ele divide a cidade, irá nomear para cada setor um responsável, esse responsável vai ter um carrinho que tem todos esses aparelhos dentro.  O técnico tem a ferramenta, são funcionários treinados. Ele olha todas essas árvores, tem uma planilha no computador, por exemplo, a arvore 1, está na rua “x” de frente ao número 10. Ele irá fazer um histórico daquela árvore. Ele pode chegar a conclusão de que as árvores 2 , 12 e a 15, não estão muito bem. As arvores 8, 29 e 32 estão ruins. As demais estão boas. Ele faz um planejamento de tal forma que as árvores boas ele irá fazer uma verificação a cada dois anos. As árvores que estão em uma situação mediana todo ano ele irá passar por lá. As que estão ruins ele irá passar a cada seis meses. Não acontece essas catástrofes que você vê aqui! Passaram seis meses, ele constata que a árvore está ruim, ela será substituída. A pessoa não precisa pedir fazer uma requisição com 10 carimbos. Sem contar o problema com a fiação, isso não existe, ela é toda embutida. A cidade de Madrid é grande, está dividida em “n” partes. O responsável em questão, chama uma equipe, corta a árvore comprometida e substitui. A árvore tem um tempo de vida, precisamos entender isso! Ela tem um prazo de validade! A arborização tem que estar sempre sendo renovada, o problema não é cortar, o problema é não plantar. Se houvesse um plantio sistemático, você teria árvores crescendo em várias etapas. O que tem que ser tirado deve ser tirado, tecnicamente está ruim tem que tirar. Se tiver fungo tem material podre! Essa lucidez que o curso de Ciências Florestais nos dá. Não é paixão! Quando você vê um governo sério fazendo um trabalho desses, as árvores sendo olhadas sistematicamente, irrigadas, adubadas, podadas corretamente, conduzidas, a árvore ornamental não é laranja, laranja você tem que podar senão terá que colocar uma escada de 30 metros para colher laranja lá em cima. Arvore ornamental tem que ter aquela copa que é natural dela.
E as árvores que são cortadas deixando apenas “os tocos” e o tronco?
Isso é um absurdo! Isso é mutilação da árvore!
O que afeta a saúde de uma árvore?

Há pragas e doenças. Praga você vê o bicho, a lagarta, o besouro. A doença você não vê, é o fungo, bactéria, vírus, pode estar até na folha da árvore. A olho nu você não irá ver nada, só no microscópio. De uma maneira bem popular essa é a diferença entre praga e doença. 

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