sábado, julho 09, 2016

FRANCISCO GALVÃO DE FRANÇA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 2 de julho de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO: FRANCISCO GALVÃO DE FRANÇA



Francisco Galvão de França nasceu a 23 de janeiro de 1970 no Rio de Janeiro, é filho de Antonio Santana Galvão de França e de Maria Carlota Toledo Arruda Galvão de França que tiveram sete filhos: Maria Alice, André, Ana Cecília, Maria de Fátima, Maria Inês, Francisco e Maria Carlota. Seu pai trabalhava na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Você iniciou seus estudos em qual escola?
Estudei na Escola Grumete, no Grajaú. Em 1978 meus pais mudaram para Jaú, cidade de origem da família dos meus pais. Em Jaú estudei na Escola Estadual Dr. Lopes Rodrigues, aos 10 anos mudei para a Escola Estadual Major Prado onde permaneci por três anos. Na oitava série mudei para o Instituto Lourenço de Camargo, o primeiro colegial eu estudei no Colégio Objetivo, o segundo colegial estudei na Fundação Educacional de Jaú e conclui o terceiro colegial no Colégio Objetivo.
O próximo passo foi ingressar na faculdade?
Sou formado pela FATEC como Tecnólogo em Operação e Administração de Sistemas de Navegação Fluvial. É um curso de engenharia para transporte fluvial. Estudei por dois anos na Universidade Federal de São Carlos onde fiz o curso de Imagem e Som. Prestei um concurso e em 2001 ingressei no SESC para trabalhar.  Hoje sou Coordenador de Programação do SESC Piracicaba.
Quais são as atribuições do Coordenador de Programação?
Posso dizer que faço o que um editor de jornal faz. No jornal tem as editorias: cidade, esportes, e outras, aqui no SESC têm teatro, cinema, literatura, tecnologia e artes. Eu edito a programação mensal do SESC Piracicaba. O trabalho de programação é feita por outros técnicos a semelhança dos jornalistas das editorias de jornais. Montamos a programação junto com os técnicos e edito o que irá ter naquele mês. Claro, sempre respeitando as sugestões dos técnicos, tento adequar alguns projetos que são apresentados.
Há uma diretriz vinda de esferas superiores?
Sim, há em São Paulo as gerencias técnicas. Temos por exemplo a Gerencia de Ação Cultural, onde temos as pastas de literatura, cinema, dança, circo, teatro. A GAVT é a Gerência de Artes Visuais e Tecnologias as exposições que realizamos aqui passam por lá, assim como os projetos de cultura digital. Estamos em constante diálogo com essa administração central, com as gerencias técnicas, o diretório regional é em São Paulo, cada diretório regional tem uma autonomia de gestão. O diretório regional responde ao diretório nacional que fica no Rio de Janeiro. O diretor regional de São Paulo é Danilo Santos de Miranda.
Quantos funcionários estão sob sua coordenação?
São em torno de 25 colaboradores, na parte cultural. Existe a área esportiva que é administrada por outro coordenador, com dois monitores e onze instrutores. O SESC Piracicaba conta ainda com Odontologia, o programa Mesa Brasil. Há uma coordenação de comunicação, outra administrativa, de alimentação, de infra-estrutura.
O seu ingresso no SESC foi em Piracicaba?
Entrei no SESC Araraquara. Trabalhei uma primeira vez aqui que foi de 2006 a 2010, fui para São Carlos onde trabalhei de 2010 a 2013, e voltei para Piracicaba.
Dentro da programação cultural do SESC hoje há muitos projetos?
Há diversos projetos sendo realizados, acabamos de fazer a programação para 2017. Temos que apresentar até o final de julho toda essa programação para 2017.  Temos que considerar que no ano que vem Piracicaba estará completando 250 anos. Existem alguns projetos que tentam potencializar essa data. Há vários projetos: Astronomia com Filosofia, projeto do Adriano, um Festival de Artes Para Crianças, da Vanessa, há um projeto grande que irá envolver todos os técnicos que tenta abordar a vanguarda em suas diversas linguagens, como uma expressão artística pode ser vanguarda bebendo na cultura popular. Um exemplo disso é o Manguebeat que nasceu em Pernambuco, uma veia musical, um movimento musical, que bebe no maracatu, foi extremamente inovador por mesclar uma linguagem pop, moderna, com o maracatu. A idéia um pouco desse projeto é o que iremos fazer no ano que vem em março. (O Manguebeat foi um movimento musical, e cultural por extensão, surgido no início da década de 1990, na cidade do Recife, sendo resultado de uma série de eventos que começaram ainda no final da década de 1970 e início da década de 1980).
Para os 250 anos de Piracicaba já existe algo programado, pode adiantar alguma coisa?
É uma idéia que nasceu da UNIMEP, da SEMAC - Secretaria Municipal da Ação Cultural de Piracicaba de compor uma comissão de instituições para pensar os festejos de 250 anos, o SESC tem a intenção de participar dessa comissão. Pensarmos juntos alguns projetos. A idéia é abranger várias áreas, uma delas é questão ambiental.
Quais faixas etárias participam dos projetos do SESC?
Todas as faixas etárias participam, de zero a cem anos! Temos o Espaço Brincar que é para crianças de zero a seis anos, Curumim, que é de sete a doze anos, o Projeto Jovens, voltado à adolescentes. Temos a programação voltada às famílias, o Teatro Infantil. Shows para estudantes, adultos, comerciários. O SESC tem uma programação voltada principalmente para o comerciário. Trabalhador do comércio e das empresas prestadoras de serviços. Setenta por cento dos matriculados aqui são pessoas que trabalham no comércio. Isso não impede, por exemplo, que você mesmo não pertencendo a uma dessas categorias possa participar de uma determinada atividade, para isso basta fazer a Credencial Atividade. É específica para aquela determinada atividade.
Quantos associados existem hoje no SESC Piracicaba?
São mais de 40.000 matriculados! O SESC Piracicaba tem uma região de influencia que abrange 31 cidades. Um universo próximo de dois milhões de pessoas. Os shows atraem muito público de cidades vizinhas. No próximo dia 7 de julho estaremos recebendo a banda Titãs.
O SESC busca novidades em outros países?
Isso é feito mais pela Administração Central em São Paulo. Agora em agosto teremos o SESC JAZZ & BLUES. Trará músicos americanos, é um projeto institucional, pensado pela Administração Central junto com as unidades. Os artistas internacionais circulam pelas unidades do interior.
O jovem em particular, está sofrendo uma grande influência da mídia de consumo, aqueles que freqüentam o SESC recebem uma abertura de visão para perspectivas próprias?
Essa é parte da nossa intenção. Sempre abrir novas perspectivas para as pessoas que freqüentam o SESC. Conhecerem filmes músicas, criar publico para ampliar o repertório dessas pessoas. Muitas dessas atividades oferecemos gratuitamente. O cinema de terça feira e domingo são gratuitos. O Teatro Infantil aos sábados a tarde é gratuito.
Isso mostra que o SESC não é um clube fechado, exclusivo para comerciários?
Muito pelo contrário! Os shows grandes têm um valor cobrado que é menor para o comerciário, o Titãs, por exemplo, temos três valores: R$ 40,00 para entrada inteira, R$ 20,00 para estudantes, professores, terceira idade e R$ 12,00 para quem é matriculado. Mesmo para quem não é matriculado o valor cobrado é razoável. A intenção do SESC não é lucrar e sim levar cultura para a população em geral, principalmente para o comerciário, de modo que ele amplie seu repertório em todas as áreas da expressão artística. O mercado massifica e a nossa intenção é levar para as pessoas outros tipos de cinema, teatro, danças, para ela saber que pode gostar de outras coisas além daquilo que está nos veículos de massa.
O SESC oferece cursos pela internet?
Oferece! Temos o curso de Games agora em uma parceria com uma universidade do ABC, são cursos gratuitos. A nossa sala de informática chama-se Espaço de Tecnologia e Artes, aqui qualquer pessoa identificando-se pode freqüentar, sem nenhum custo. Temos de forma intensa as oficinas que se baseiam na internet, usam a WEB.
Como é feita a divulgação das atividades do SESC?
Temos o caderno mensal, que fica disponível para quem quiser, divulgamos pelo portal do SESC  sescsp.org.br/piracicaba onde tem toda a programação e tem a nossa assessoria de imprensa que está sempre divulgando os cursos e oficinas que oferecemos.
Todos os cursos são gratuitos?
Grande parte! A GMF – Ginástica Multi Funcional é cobrada, ela tem as esteiras, bicicletas, para fazer ginástica. Alguns serviços são cobrados. Muitas das nossas atividades são gratuitas.
Vocês desenvolvem uma atividade muito intensa com as pessoas da terceira idade?
O SESC é pioneiro no trabalho com a terceira idade no Brasil. É um trabalho de décadas, um trabalho modelo. Há viagens que são programadas, pagas de forma parcelada. A pessoa estará indo com pessoas com interesse em comum. É aberto a todo o público, além de pessoas da terceira idade às vezes jovens também fazem essas viagens. Temos uma agenda de eventos com muitas atividades voltadas à terceira idade.
O SESC está lançando mais um projeto inovador?
Denominamos provisoriamente como REDE, a intenção do SESC era mapear todas as bibliotecas comunitárias existentes na cidade e também das ações de incentivo à leitura. É uma idéia antiga que eu tinha de criar essa rede. Tudo que eu faço aqui é da instituição.  O intuito é que essas instituições se conheçam e criem ações em conjunto para ampliar o número de leitores em Piracicaba.
O brasileiro tem o habito de ler?
Ao que consta, uma pesquisa recente afirmou que em média o brasileiro lê quatro livros por ano. Em escala mundial é um índice baixo. A Unesco recomenda que a cidade tenha dois livros por habitante. A idéia da REDE é fazer essas discussões. Fortalecer quem está trabalhando com o livro e com a leitura em Piracicaba. A primeira reunião ocorrida recentemente tinha trinta participantes, foi representativa: tinha pessoas da UNIMEP, da ESALQ, da Diretoria de Ensino, das Bibliotecas Comunitárias, do SESI, do Recanto do Livro, espaço literário e cultural do Lar dos Velhinhos, colégios particulares. Ficamos felizes pela representação do grupo. É uma idéia que está nascendo e estamos com esperança de que ela se fortaleça que nasçam daí vários projetos conjuntos de fomento a leitura, de coletas de livros ou feiras de livros. O que o grupo propor, a idéia é pensar juntos ações de leitura. Ampliação do acesso da população ao livro.
Quem não participou dessa primeira reunião pode vir a participar?
Claro! Está aberto! É um grupo que pretendemos que seja permanente. Itinerante, que as reuniões sejam feitas em vários locais. A próxima reunião será no dia 23 de julho, sábado às 14 horas, com uma previsão de duração de três horas.
Qualquer pessoa ou grupo pode participar desde que esteja envolvido com leitura?
Mesmo que não esteja e queira se envolver.
Temos vários grupos literários em Piracicaba, eles podem participar?
Todos podem participar. A idéia inicial é mapear todas essas iniciativas e criar uma sinergia entre elas. Fortalecendo-as individualmente, mas também criando ações em conjunto para darmos visibilidade para a questão da leitura. Muitas coisas acontecem pontualmente, mas é importante criar essa conexão entre essas iniciativas de leitura. Podemos fazer um grande sarau coletivo, com todos os saraus que existem. Mostrar a riqueza da cultura que existe em Piracicaba. A literatura é uma linguagem fabulosa, mas na atual sociedade e geração em que a imagem pronta da televisão, do vídeo, celular, ela está muito posta. O livro traz uma linguagem mais enriquecida do que da internet, um tempo diferente da leitura da internet. A internet proporciona uma leitura mais rápida, uma linguagem mais coloquial, o livro traz um tempo mais estendido, geralmente uma linguagem mais rica, uma diversidade maior de palavras.
Alguns grupos buscam novas alternativas para divulgar o livro, a leitura?
Há muita coisa sendo desenvolvida pontualmente. O trabalho da Casa de Cultura Hip Hop é muito bom. Eles trabalham com geladeirotecas espalhadas pela cidade, fazem um sarau importante, levam informação a uma população que não tem muito acesso as coisas. Pretendo colocar à REDE a proposta de realizar um grande evento conjuntamente, acredito que em outubro, quando temos o Dia Nacional do Livro. Experimentarmos uma atuação em conjunto até mesmo para criar alguns elos e algumas afinidades nesse processo. Um evento em que cada um trouxesse a sua demanda, a sua idéia, que fizéssemos isso de uma forma coletiva e divulgássemos isso de uma forma única, juntos. Fortalecer as ações que já existem e criar novas. A idéia é que a REDE realize os eventos e que todas as instituições que estão compondo essa rede apóiem a REDE e a realização do evento. Todos com a mesma voz. Todos com o mesmo peso. Isso fortalece o grupo.   


VALDIZA MARIA CAPRANICO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 25 de junho de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: VALDIZA MARIA CAPRANICO


                                                         
Valdiza Maria Capranico nasceu em Piracicaba a 29 de julho é filha de Dante Luiz Capranico e Ermida Françoso Capranico que foram os pais de quatro filhas: Maria Wally, Walda Aparecida, Valdiza e Waldizete Maria. Ainda residente no Bairro Alto estudou o primário no Grupo Escolar Dr. Alfredo Cardoso. O ginásio e o colegial estudou no Instituto de Educação Sud Mennucci. Iniciou a Faculdade de Ciências Biológicas em São Paulo concluindo o curso em Santos.  Na cidade de Machado, em Minas Gerais fez o curso de complementação em biologia na Faculdade Sul Mineira de Educação.
Você trabalhou na área de educação?
Por 26 anos trabalhei com Educação, na área de Biologia. Quando me formei a denominação do curso era Ciências Biológicas. Em Santos, fiz o magistério no Instituto de Educação Canadá.
O que a levou a estudar em Santos?
Tive parentes que moravam lá, eram meus padrinhos. Era o irmão do meu pai e sua esposa. Eu fazia a faculdade a noite e o magistério a tarde. Na época Santos era uma cidade muito tranqüila, muito sossegada, essa calmaria era quebrada aos finais de semana e nas férias escolares. Período em que a cidade era freqüentada por muitos turistas.
Depois de formada você retornou a Piracicaba?
Trabalhei como professora de ciências e biologia durante dez anos na cidade vizinha de Santa Bárbara d'Oeste, no Instituto Emílio Romi e no Ginásio Ulisses Valente. Viajava todos os dias de Piracicaba até Santa Bárbara d'Oeste.  Após dez anos sem ter havido concurso na rede estadual de ensino, surgiu um concurso, prestei, fui aprovada e fui lecionar em Leme. Trabalhei no Instituto de Educação Newton Prado no período de oito anos. Voltei à Piracicaba e lecionei na Escola Técnica Estadual Cel. Fernando Febeliano da Costa.onde permaneci por cerca de cinco anos e aposentei-me, como professora de biologia.
Como surgiu a sua relação com o meio ambiente em Piracicaba?
Depois de aposentar-me fui convidada para trabalhar na área de meio ambiente na Prefeitura Municipal de Piracicaba, na Secretaria do Meio Ambiente. Na época o prefeito era José Machado. Trabalhei por quatro anos como assessora do secretário Izio Barbosa de Oliveira. Depois disso nunca mais parei de trabalhar na área de Educação Ambiental.
O seu trabalho na Secretaria Ambiental era mais burocrático ou prático?
Era trabalho de campo. Fui trabalhar na área de arborização urbana.
Como funcionava a arborização urbana?
Inicialmente coletávamos sementes de árvores de Piracicaba e região para o viveiro municipal
Essas sementes eram coletadas em que local?
Até dentro da própria cidade! Tinha uma equipe que sabia a época certa da coleta, coletávamos de espécies das beiras dos rios, da mata nativa, tive muito apoio do pessoal do Departamento de Ciências Florestais da ESALQ.
Essa coleta é feita de que forma?
Através de um equipamento muito simples, dão uma chacoalhada nos galhos da árvore, as sementes caem. Eles recolhem, levam para o viveiro, lá tinha uma engenheira agrônoma que orientava. Cada semente para ela germinar ela tem uma situação diferente: uma tem que ser colocada em água fervendo, outra tem que lixar, outra tem que ser deixada para secar ao sol, o viverista recebia orientação da agrônoma, e depois trocava com outros viveiros da região.
Para centros urbanos existem árvores apropriadas?
Isso é uma grande tristeza que eu ainda sinto! Existe árvore para todo tipo de calçada, de espaço urbano. Por exemplo, se você mora em uma rua e em frente a sua casa corre a fiação elétrica há uma dezena ou mais de espécies de árvores que nunca irão atingir a rede elétrica pelo seu crescimento. Caso você more em uma calçada no lado oposto a rede elétrica, você pode plantar outras espécies que também vão crescer, mas não irão invadir sua calçada e nem as raízes irão entrar ou afetar sua casa através do solo. Sempre há uma espécie própria.
Muitos proprietários evitam plantar uma árvore por causa das folhas que caem ou para evitar que as raízes levantem a calçada?
Se você plantar a espécie correta em uma cova com tamanho apropriado, jamais terá problema. Quanto a cair folhas, basta ver que nós também perdemos cabelos, pele. Varrer uma calçada não é um esforço descomunal. Geralmente as folhas caem no outono, para trocar a folhagem, não é uma coisa horrorosa. Eu vivi uma experiência muito bonita quando na prefeitura trouxemos Roberto Burle Marx artista plástico brasileiro, renomado internacionalmente ao exercer a profissão de arquiteto-paisagista. Nós o levamos para andar pela cidade, passando pela Estação da Paulista, existiam lá muitas espécies de jacarandá-mimoso, as flores estavam caindo, o chão estava azul. Havia também restos de enxofre, derramado no transporte ferroviário, que estavam espalhados pelo chão. Ele parou e disse: “Isto é uma tapeçaria divina para pisarmos!”. Em outra ocasião eu estava em uma rua do bairro Nova Piracicaba, era inteirinha arborizada por ipê-rosa, era um túnel cor de rosa, o chão forrado de flores. Fui chamada,  os moradores queriam retirar aquelas arvores porque faziam “sujeira” ! Fiquei chocada, arrasada, não autorizei alguns anos depois passei por lá e vi que não havia mais nenhuma árvore. “Sujeira” de folhas ou flores na calçada é uma questão cultural. Acho falta desse verde em nossa cidade, acho muita falta.
Com relação a outras cidades, Piracicaba é arborizada?
Há muitos plantios na cidade. A área central é carente, principalmente porque as árvores antigas caem e as pessoas não gostam de repor, tem medo de plantar por ter plantado anteriormente uma espécie que não era apropriada para o local. Se plantassem mais árvores melhoraria até a temperatura da cidade. Isso fica muito claro quando você anda em uma área arborizada e depois vai ao centro da cidade a diferença de temperatura é gritante.
Após permanecer  quatro anos na Secretaria Ambiental o que você foi fazer?   
Fui para Leme novamente, chamada pelo prefeito. Lá eu criei uma Universidade Livre de Meio Ambiente. Era a única no Estado de São Paulo. Infelizmente a ultima administração encerrou as atividades dessa universidade. Tive a honra de ser convidada pelo presidente da Argentina para montar uma universidade igualzinha entre Ushuaia e Rio Grande, bem no sul da Argentina.
Como descobriram você no Brasil?
A Universidade de Leme era muito famosa! Tínhamos uma parceria com a Universidade Livre do Meio Ambiente de Curitiba, que era a primeira do Brasil. Quando o presidente da República da Argentina quis montar igual, o pessoal de Curitiba nos indicou. Essa universidade existe até hoje na Argentina.
Essa preocupação com o meio ambiente é relativamente nova?
É relativamente recente, envolve fatores culturais, econômicos.
O indígena respeita muito o meio ambiente, isso significa que estamos retrocedendo?
Estamos retrocedendo. Recentemente mandei um artigo para a imprensa dizendo que existe uma febre para fazer condomínios afastados do centro urbano. Eles vão para determinadas áreas, e depois dizem “Com o projeto paisagístico completo!” que não existe! Ninguém replanta nem em outro lugar o que eles tiram. A cidade vai crescendo na expansão geográfica, mas ambientalmente ela vai ficando cada vez mais pobre. O que é ruim não só para o homem, mas para a fauna também, Você vê noticias de que em determinada cidadezinha apareceu onça no quintal, em outra entrou cobra, jacaré. Isso sem falar das aves.
Estamos em uma região de monocultura típica canavieira, há o lado positivo economicamente, e em termos de meio ambiente? 
Infelizmente é um problema! Está dizimando a fauna, a flora. Isso nos deixa muito triste. Frustra.
Ultimamente tem ocorrido noticias de muitas quedas de árvores em área pública.
Temos a considerar que os últimos temporais têm sido muito violentos. Há também aquela parcela do ressecamento do solo. Não mais umidade, espaço para água.
O calçamento do leito carroçável com paralelepípedo permite a penetração da água. Com a camada de asfalto sobre o paralelepípedo causou impermeabilização do solo?
Exatamente! O exemplo típico é a cidade de São Paulo. Qualquer chuva causa transtornos, a água não tem como escoar. Têm-se de um lado o progresso e o conforto, de outro lado temos essa destruição que o homem não está sentindo ainda.
Você teve uma participação no Museu da Água?
Trabalhei quatro anos, em minha segunda volta a Prefeitura Municipal, foi no período de 2001 a 20004 quando fui novamente convidada pelo presidente do SEMAE, José Augusto Seydell, para criar um projeto educativo no Museu da Água. Foi um projeto tão maravilhoso que chamou a atenção de uns professores da Itália, da Universidade de Genova, vieram para Piracicaba, para conhecer o trabalho de Educação Ambiental em Defesa da Água. Esses professores vieram e convidaram-me para apresentar esse trabalho, fui para Genova em novembro de 2004 apresentar o projeto educativo em função da água, que fazíamos aqui. Tinha dois projetos brasileiros em uma apresentação envolvendo muitos países.
Quem era o prefeito?
Novamente o José Machado.
Você dava consciência de consumo de água.
Com dispositivos muito simples e práticos, próprios para economizar, que educavam a criança em particular. Eu tinha uma equipe de estagiários que eram estudantes do curso de Engenharia Ambiental da FUMEP- Fundação Municipal de Ensino. Nós os preparávamos com palestras, mini cursos, e eles passavam depois para as escolas, para os visitantes, era uma loucura o número de visitas, havia mês em que passavam por lá mais de 80.000 pessoas. Recebemos também a visita de um professor da UNESCO que morava em Paris, veio para conhecer o trabalho, ver o material, orientou-nos em algumas coisas, que infelizmente se acabaram no museu.
Após quatro anos o que você passou a fazer?
Eu me desliguei de atividade publica, comecei a escrever.
Quantos livros você lançou?
Na verdade eu consegui lançar só um. É um livro infantil, chama-se “Conto Para Pequeninos”. Junto com a Professora Marly Therezinha Germano Perecin escrevemos uma coleção de dez volumes, também voltados para crianças, adolescentes, que se chama: “Piracicaba Conhece e Preserva”. Tenho alguns outros, na mesma linha de conservação ambiental a procura de patrocínio a algum tempo. É a minha área de paixão.
Você é associada do IHGP – Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, onde já ocupou o cargo de Primeira Secretária, ai você passou a ser Presidente.
Escolheram-me!
Como está o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba hoje?
Fiquei temerosa em assumir a direção isso porque o presidente anterior Vitor Vencovsky ficou aqui por duas gestões, muito dinâmico e ativo, fez muitas aberturas para o Instituto, a minha maior preocupação é não deixar “a peteca cair”.
Hoje existem quantos associados?
Efetivos, nós somos em 50. Efetivo é aquele mais próximo, que paga anuidade, associados eméritos acredito que temos aproximadamente uns 100. Os eméritos participam mandando trabalhos, vindo a reuniões festivas, lançamentos.
O IHGP tem uma representação bastante expressiva dentro e fora dos limites de Piracicaba?
Tem não só na cidade, como o presidente da gestão anterior conseguiu se relacionar com os demais Institutos Históricos do país. São poucos, aproximadamente uns 50. Em sua maioria em capitais. Com isso trocamos material, programação anual. Isso é muito interessante.



Como o piracicabano vê o Instituto Histórico?              
Muitos ainda não conhecem o nosso trabalho, por isso divulgamos em eventos, estamos abertos a qualquer pessoa que queira conhecer o trabalho. Temos entre nossos associados médicos, advogados, pessoas autônomas, mais simples, é só ter amor a cidade.
Quem pode ser associado ao IHGP?
Vem muitas pessoas nos procurar para se associarem. Na realidade é o Instituto que o convida. rincipio para que seja feito esse convite é para pessoas que tenham feito algum trabalho na cidade, pode ser benemérito, educativo, cultural, qualquer coisa que ela faça em benefício da cidade. O Instituto é muito atento a um tipo de associado que quer apenas constar essa condição em seu currículo. Não importa se a pessoa não tem diploma algum, mas está fazendo a história do bairro dele. Pessoas que gostam de escrever sobre a família, história., sobre a igreja, sociedade que ele participa, quem tem amor a história, que é a finalidade do Instituto.Proteger e preservar a história da cidade. Qualquer pessoa que tenha um trabalho nessa linha é muito bem vinda.
O acervo do IHGP é relevante?
Fico até orgulhosa em dizer isso, mas o nosso acervo jornalístico, principalmente, é muito requisitado. Tivemos professores de universidades, até de outros estados, que passaram por aqui, quase um ano inteiro, pesquisando em nosso acervo. São professores da PUC de Campinas, da Fundação Getulio Vargas, de Londrina, da Unesp. A partir deste ano conseguimos um diretor de acervo que fica aqui um dia por semana a disposição desse pessoal. A pessoa vem o diretor agenda com ela. Todos aqui são voluntários e as pessoas têm os seus afazeres. Ninguém aqui tem salário. O nosso salário é o reconhecimento do público.
Como é feito o manuseio desse material?
É muito especial, o diretor de acervo vem, acompanha, a pessoa tem que usar luvas e máscara. Tivemos problemas sérios até não ter um diretor de acervo. Abríamos para pesquisa feita por pessoas que julgávamos ser de confiança, simplesmente ela cortava aquele pedaço de jornal do seu interesse e levava.
O IHGP está mudando de local?
Estamos realizando a mudança, indo para o bairro Jaraguá. Talvez dificulte o acesso principalmente para pessoas de fora de Piracicaba. O local que recebemos para irmos é um local bom. Nossa grande dificuldade é levar esse acervo. Não pode ser levado sem planejamento. É um material muito pesado, delicado.
O acesso físico ao prédio do IHGP em sua nova sede será mais fácil?
No prédio que ocupamos atualmente há uma enorme escadaria, isso dificulta o acesso de alguns associados. Essa preocupação existe desde outras diretorias. O espaço que recebemos é praticamente para comportar o acervo quer é muito grande.
Qual é a programação para os 50 anos de existência do IHGP?
Essa é uma das maiores preocupações da diretoria, já estamos nos programando para celebrar essa data. Esse é o nosso foco, o que cada membro da diretoria está pensando e começando a agir para o ano que vem, quando Piracicaba fará 250 anos e nós 50 anos. A fundação do Instituto ocorreu no mês de agosto no ano em que Piracicaba completou 200 anos. O objetivo já era de preservar a nossa história. Foi fundado por um grupo de pessoas preocupadas e interessadas nesse aspecto. Para esse ano já estamos recebendo material para a revista anual, temos três livros que estão em processo de lançamento, outros dois em que os autores estão escrevendo para lançar no próximo ano.
A verba é fornecida por quem?
A verba é fornecida através de um convenio com a Secretaria de Ação Cultural. No ano passado tivemos também um convenio com a Secretaria do Meio Ambiente para fazer a digitalização dos 15 livros do Cemitério da Saudade. Estão todos digitalizados, disponível na administração do cemitério. Foi uma prestação de serviço realizada pelo IHGP. Hoje se alguém quiser saber algo sobre um parente sepultado no Cemitério da Saudade, por exemplo, em 1948, localizam-se rapidamente todos os dados do falecido. através do computador antes havia dificuldades, os livros estavam completamente deteriorados. 
Qual é o nível do pesquisador que freqüenta o IHGP?
O maior número de pesquisadores é composto por universitários, doutorandos e professores universitários. É um acervo muito específico.
O que significa História para você?
É a base do que se faz hoje e será deixado para as futuras gerações. Uma forma de evitar cometer erros, dando melhores condições para as novas gerações.
A população, em particular esportistas e admiradores, sabem na ponta da língua a escalação de um time de futebol que jogou em data distante. Porque isso não ocorre com a História?
Acredito que isso deveria acontecer. Mesmo aqui na América do Sul, há países que tem esse cuidado em manter viva a História, esse respeito pelos antepassados, pelo passado, pela História do País. Essa lacuna pode até ser em função da enorme miscigenação de povos e raças com que formamos o país. È toda uma formação cultural que vem decorrendo há séculos.
Qual é a importância da Medalha Prudente de Moraes?
É uma comenda reconhecida pelos poderes públicos, inclusive estadual, pouquíssimas pessoas a tem, e é uma forma de homenagear pessoas que vem se destacando elevando o nome de Piracicaba.
Como você sente-se sendo a segunda mulher a ocupar o cargo de Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba?
Considero-me muito honrada, é um cargo de muita responsabilidade, vou fazer o possível para elevar o nome do IHGP a um nível cada vez mais alto. Todos os membros da diretoria têm uma bagagem maravilhosa, acho que nesse ponto o IHGP tem tudo para crescer, é muito bem visto pelo poder publico e pela mídia. Só tenho que agradecer.

                              

domingo, junho 19, 2016

MARLENE LICCIARDELLO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADA: MARLENE LICCIARDELLO



Marlene Licciardello em sua luta solitária conseguiu vencer por mérito as dificuldades que a vida lhe ofereceu. Criou sua própria infra-estrutura, deu apoio a outras pessoas e mostrou que com fé, trabalho e persistência nada na vida é impossível. Sem estar sob a luz de holofotes, Marlene foi pouco a pouco conquistando seu espaço.  Com a serenidade dos que dominam as dificuldades que a vida nos apresenta, Marlene Licciardello conta-nos um pouco da sua vida, que se não teve o brilho das estrelas tem a determinação que só os vencedores conhecem.
A senhora nasceu em qual cidade?
Nasci em São Paulo, na Maternidade do Brás, a 26 de maio de 1941, filha  única do casal Francisco Licciardello, italiano nascido na Sicilia,  e Helena Filomena Melacci Licciardello. Meu pai era joalheiro, estabelecido na Avenida São João, junto a Praça Júlio Mesquita, centro de São Paulo.
Ele decidiu vir da Itália para o Brasil motivado por algo?
Ele veio com recursos próprios, a família Pauletti o influenciou muito para que viesse ao Brasil. Eram compadres que já tinham vindo para o Brasil. Como se dizia na época “Fizeram a América!”. Ficaram muito bem de vida, com uma situação financeira privilegiada, voltavam sempre para a Sicília para visitar os parentes. Papai se influenciou, falavam muito do Brasil, na época ele tinha vinte e poucos anos.
E aqui ele conquistou uma boa situação financeira?
Era uma época em que se permitia o uso de jóias, as famílias adquiriam jóias  e usavam-nas. Além da joalheria ele trabalhava também como relojoeiro.
Como seus pais se conheceram?
Mamãe morava no bairro do Belém e trabalhava como modista de alta costura. Um dia o relógio dela deu problema, ela foi até a relojoaria do meu pai levada por uma amiga que conhecia o trabalho dele. Ele disse-lhe: “-Amanhã a senhora pode vir buscar!”. No dia seguinte ela foi, levou o relógio e percebeu que não estava muito bom. Papai fez isso de propósito, para que ela voltasse! Quando ela voltou conversaram, ela disse que seus pais eram da Calábria, a simpatia mutua gerou o pedido de namoro por parte do meu pai. Casaram-se na Igreja do Brás, perto da Rua Piratininga. Isso foi em 1939, em 1941 eu nasci. A lua de mel deles foi em uma fazenda em Jacareí.  Na época papai tinha um automóvel conhecido popularmente por “baratinha”. Era um Ford 1929.
Os seus estudos começaram em qual escola?
Começaram na Escola Sagrada Família, na Avenida Nazareth. Depois fui para o Colégio Maria José. Depois fui para o Colégio Dante Alighieri.



O  Dante Alighieri  era uma escola de elite?
Ainda é! Atravessávamos o Trianon para chegar a Alameda Jaú. O ônibus do próprio colégio nos levava. O Colégio Maria José também tinha ônibus que vinha buscar os alunos. Por volta de 1946 meu pai decidiu voltar a Itália. Foi muito difícil, encontramos um país pós-guerra. Fomos para a cidade onde meu pai nasceu: Catânia. O país todo estava em situação precária. Os pais dele sempre escreviam que lá estava bem, já passou a guerra. Na realidade quando eles chegaram não bem assim. Fomos com um navio italiano, a viagem durou 15 dias. Decidimos voltar ao Brasil, viemos pelo navio brasileiro Cuiabá, a viagem durou um mês. Na volta minha mãe passou muito mal, não comia. Quando chegou à costa brasileira, o navio fez uma escala em Salvador, meu pai desceu, comprou uma panela e fez macarrão para a minha mãe, dentro da cabine. Meu pai era muito engenhoso, inteligente. Antes de ir para a Itália ele estava muito bem de vida, tinha várias propriedades. Na Itália ele perdeu tudo. Antes de voltar para o Brasil, foi para Milão, sozinho, de trem, onde comprou máquinas para fazer correntes grumet, foi ele quem iniciou no Brasil a fabricação dessas correntes. Em sociedade com um italiano, milanês, eles estabeleceram a fábrica na Rua da Consolação. Fez sociedade com a A. C. Belizia S. A. Jóias e Relógios, joalheiros famosos em São Paulo. Meu pai faleceu muito moço, com 54 anos, eu tinha 19 anos. O sonho dele era me formar, ele dizia: “-Minha normalista!” ou “Minha professorinha!”.  Quando ele faleceu, eu estava estudando, formei-me no Instituto Proença, na Mooca. Era uma escola famosa, difícil de entrar.
Com o falecimento do seu pai, a senhora e sua mãe tiveram que sobreviver sozinhas, como foi?
O meu pai acreditava que iria reverter as coisas, tornar a ser o grande industrial que já tinha sido, só que não deu tempo disso acontecer. O choque foi muito grande, e de repente eu me vi como arrimo de família. Já tinha me formado como professora, mas na época quem estava iniciando tinha que ir para o interior, mamãe não tinha boa saúde. Houve um concurso na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, situada na Rua Rangel Pestana, 300. Comecei como escrituraria, permaneci nessa função por uns seis anos, tive uma chefe muito boa, a senhora Laura Prado, trabalhei no Setor de Empenhos, empenhávamos notas de empenho para poder pagar as despesas públicas, inclusive dos fiscais de renda, do pessoal. Eu fazia o DSI - Departamento de Serviço do Interior. O Estado alugava prédios, os aluguéis iam diretamente para a Secretaria da Fazenda, os processos vinham, eu fazia o empenho para poder liberar os pagamentos. Carvalho Pinto era o Secretário da Fazenda, trabalhava no mesmo prédio, era um homem honestíssimo. Ele reestruturou a Secretaria da Fazenda, descentralizou.
Para a senhora essa mudança foi boa ou ruim?
Para mim foi bom, o fato de não ser muito antiga não deu acesso a uma chefia. Só que eu era a única que tinha o Curso Normal, e a minha chefia disse-me que eu iria fazer um curso que o governo estava dando na famosa Fundação Getulio Vargas era um curso de três a quatro meses, ali na Avenida Nove de Julho. Para mim foi motivo de grande alegria, participar de uma entidade de alto nível, junto àqueles alunos de uma condição selecionada. Se você soubesse como estudei, sábado, domingo, feriado. Eu queria e precisava ter boas notas.  Tirei notas altas já nas primeiras provas, aquilo repercutiu muito. Quando voltei da FGV fui para a chefia. A minha chefe, Meire Vasconcelos, foi muito boa, ela disse-me: “-Você precisa ter nível universitário!”. Eu não queria mais estudar, minha mãe tinha quebrado o colo do fêmur, pensei que voltar à escola já com 28 anos, tudo isso pesava. Criei a coragem necessária e fiz a faculdade de administração de empresas, na atual Universidade São Judas Tadeu. O meu objetivo era fazer a faculdade para garantir a chefia, só que saiu um concurso para Técnico Administrador Fiz o concurso, entre 300 candidatos passei em décimo quarto lugar. Saí da Secretaria da Fazenda e fui para a Secretaria do Planejamento, situada na Avenida Higienópolis. Era o Departamento de Orçamento e Custo. A essa altura eu morava na Rua Maria Antonia. Morei 30 anos lá. Fiquei Chefe do Departamento de Orçamento e Custos, fazia inclusive o orçamento da Secretaria da Agricultura, que era enorme. Tudo isso era feito a mão. Era um serviço fenomenal. Fazia o levantamento das despesas, existiam formulários que ia para todos os setores de cada secretaria. Para fazer uma previsão do que eles precisavam. Desde material de consumo como lápis, papel, caderno até material permanente, maquinários, máquinas de escrever. Recebíamos esses formulários, computávamos tudo em máquinas manuais, no inicio usava a máquina de calcular Facit de girar. Não existiam máquinas elétricas, depois é que veio a Olivetti elétrica. Não existia computador.
Depois fui para a Secretaria da Justiça.
Ficava no Pátio do Colégio, isso após cinco anos como técnicos administradora, fui como assessora. Eu não fazia a parte mecânica, dava pareceres em processos na minha área de finanças. Era tudo muito técnico, havia um controle muito bem estruturado em todas as secretarias. Quando entrei na Secretaria da Fazenda trabalhava do meio dia às seis horas da tarde. E trabalhava no sábado, das nove horas da manhã até o meio dia. Depois tiraram o sábado e passamos a entrar às onze horas da manhã. Depois veio o horário integral. Trabalhávamos das oito horas da manhã até as seis da tarde. Eu ainda era escrituraria e precisava comprar um telefone para minha casa. Além de custar uma fortuna não era fácil comprar, não existiam telefones disponíveis. Até que apareceu um plano onde podia adquirir um telefone para pagar em 24 prestações. O meu salário não dava para pagar uma prestação. Como havia muito serviço na nossa chefia, quem queria às seis horas da tarde ia embora para casa, quem quisesse fazer hora extra ficava ate às onze horas da noite. O continuo ia buscar o lanche em frente à Secretaria, geralmente era sanduíche bauru e Coca-Cola.
Naquela época podia sair no centro de São Paulo às onze horas da noite.
Era uma maravilha! Ficava na Praça da Sé esperando o ônibus.Nunca houve nada. Eu tomava o ônibus na Praça Clovis Bevilacqua.  Não existia metrô. As duas praças, Sé e Clovis Bevilacqua foram unificados. O edifício Santa Helena foi demolido, na gestão de Olavo Setubal. Lembro-me das Lojas Clipper, tinha uma amiga da mamãe que dizia: “- Vamos passear na Clipper!”. Eles tinham uma perua que transportavam os clientes. Ficávamos felizes em andar naquelas peruas. Quando tinha meus onze anos, mamãe dizia, vamos nos arrumarmos bem, iremos até a Rua Direita e depois na Rua Barão de Itapetininga. Era chiquérrimo. Na Rua Direita só podia andar bem arrumada, de salto alto. Fazia compras na Marcel Modas. Casas Fretin.
A sua mãe trabalhava fora de casa?
Não. A minha mãe ficou muito doente, quando fomos à Itália sofremos um desastre de trem, ela ficou com a coluna ruim, perdeu parte do pulmão. Foi traumatizante. Em 1993 minha mãe faleceu. Eu fui para a Itália, tinha trabalhado 30 anos no Estado, já estava aposentada. O irmão do meu pai, meu tio Umberto, estava vivo, morando na Itália. Revi a casa dos meus avós, estive com meus primos, parentes.
Como você veio morar em Piracicaba?
A princípio eu pensava em morar na Itália, tenho passaporte italiano. Recebi um convite para ser secretária do Clube Atlético Paulistano onde me tornei Coordenadora de Eventos Culturais. O Clube Paulistano tem um teatro maravilhoso. Permaneci quase dois anos. Foi uma experiência interessante. Foi a época em que informatizamos o clube. Até então era tudo feito a mão. Nas minhas férias eu vinha com a mamãe para Águas de São Pedro, no Hotel Villa. Aposentei-me, vim com a minha mãe, ficamos um tempo em Águas de São Pedro, depois fomos para São Pedro, onde ela faleceu.  Voltei para São Paulo, só que já não me acostumava mais no apartamento na Rua Maria Antonia. Queria qualidade de vida. Voltei para São Pedro, aluguei uma casinha lá e deixei meu apartamento fechado em São Paulo. Faleceu uma prima em São Paulo, fui ao enterro, e as outras três irmãs dela, também minhas primas, estavam em uma situação que tinha que ter alguém que olhasse por elas. Por muitas vezes fui de São Pedro até a Rua Taquari, na Mooca, para dar assistência às três primas: uma na cadeira de rodas, outra com quase 100 anos, outra que faleceu recentemente, eram primas da minha mãe.
Um dia vindo de São Paulo, passei e vi: Lar dos Velhinhos. Achei interessante. Entrei, conversei com diversas pessoas, passou algum tempo voltei em outubro de 2008. Estavam construindo algumas casas, mostrei interesse em adquirir uma, fui apresentada à Suzi, que cuidava dessa área, comprei uma casa. Chegando a São Paulo, comentei com as minhas primas, elas foram radicalmente contra qualquer mudança, a casa em que moravam tinha sido construída pelo pai delas. Convenci-as de ao menos tentar morar aqui sem vender a casa em São Paulo. Quando aqui chegaram, adoraram. Minha prima Catarina ia fazer 100 anos no dia 13 de junho de 2009 fizemos a festa na casa do Lar no Monte Alegre, com a família toda. Dali a uma semana ela faleceu.
Quantos idiomas você fala?

Português, inglês e italiano. Faço parte do Friendship Force que é um clube internacional de amizades. Fui para a Bélgica, Alemanha com esse grupo, isso foi em 2012. De lá fui para a Itália, rever minhas primas. Não via a hora de voltar ao Brasil. Gosto muito do meu país. 

ADRIANA MARIA TABAI MARTINS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADA: ADRIANA MARIA TABAI MARTINS

Adriana Maria Tabai Martins nasceu a 6 de outubro de 1969, em Piracicaba, no bairro Alto, a Rua Antonio Frederico Ozanam, próximo a Santa Casa de Misericórdia. É filha de Celso Tabai e Albertina Cecília dos Santos Tabai. Seu pai foi metalúrgico tendo dedicado sua vida ao trabalho junto a MAUSA, sua mãe trabalhou por 30 anos como enfermeira na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. O casal teve ainda mais uma filha, Fabiana.
Você iniciou seus estudos em que escola?
Fiz o primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, minha primeira professora foi Dona Zélia, no curso primário. No ginásio tive aulas com o Professor José Salles, um professor que foi muito importante em meus estudos. O colegial, hoje ensino médio, fiz no Instituto Piracicabano. Em 1995 formei-me pela UNIMEP em Psicologia.
Você é casada?
Sou casada há 18 anos com Josuel Martins, temos duas filhas: Larissa e Letícia.
O que a levou a escolher a profissão de psicóloga?
Costumo dizer que sou muito intensa na condição de cuidar. A vida toda eu vi minha mãe cuidando muito, pelo fato de ser enfermeira na Santa Casa.
Tem influência da sua mãe em sua história profissional?
Acredito que sim, apesar de que ela cuidava das condições físicas do paciente. Eu sempre a admirei muito. Acredito que isso foi amadurecendo, no curso colegial, o Instituto Piracicabano tem essa condição humana, tínhamos aulas de psicologia. Ali me identifiquei muito com as professoras. Eram duas ou três professoras que lecionavam psicologia, Comecei a me interessar por essa área. A questionar. Acredito que foi uma paixão pelo estudo de psicologia. Não me vejo fazendo outra coisa.
O estudo de psicologia é muito interessante ao mesmo tempo em que é muito abrangente?
A faculdade nos dá uma base para todas as abordagens. O centro principal, eu considero que seja Freud. Precursor de toda essa condição de cuidar do humano.
A seu ver Freud revolucionou a arte e a ciência de conhecer o pensamento humano?
Eu diria que sim. Procuro estudar muito para me aprofundar cada dia mais e desenvolver uma atuação muito próxima a necessidade do paciente. Há outras teorias de autores contemporâneos, embora a origem seja de Freud.
Você atua em que locais em Piracicaba?
Atuo no Lar dos Velhinhos já há oito anos. Todos os dias, das 9 da manhã até as três horas da tarde. É um trabalho de trinta horas semanais. Reportamos-nos a SEMDES- Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, vinculada a prefeitura. Tenho atuação clinica em consultório particular onde atendo há vinte anos fica a Rua Dr. Otávio Teixeira Mendes, 1704, próximo ao Colégio Dom Bosco da Cidade Alta, o telefone é 34027778.
Lá você atende a pacientes de todas as faixas etárias?
Após ter vindo para o Lar dos Velhinhos passei a me interessar muito por essa área de gerontologia. Hoje atendo muito pessoas de 50,60, 70 anos.
Qual é o problema mais comum dessas pessoas?
Vejo que com o envelhecimento as pessoas temem muito a solidão. A morte assusta, não só a eles, como a todos nós.
A pessoa passa a sentir que tem restrições naturais a idade?
Elas vão sendo mais limitadas naquilo que elas faziam antes em função do próprio envelhecimento mesmo físicos, fisiológicos. Elas vão tendo certas limitações e terão que se adequar a esse novo jeito de viver.



Quem impõe essas limitações, a própria natureza ou a própria pessoa contribui muito para estabelecer as limitações?
É um conjunto de várias situações. Temos jovens de vinte e poucos anos que estão muito acomodados. Assim como temos pessoas na casa de 60, 70 anos que estão muito ativos. Penso que depende muito da condição mental, emocional, do que se propôs a fazer ao longo da vida. O que ele está fazendo agora. Há uma grande influencia do histórico da pessoa, do meio do qual ela vem, da sua convivência. O que faz a diferença é essa pulsão a vida. Querer viver, resgatar aquilo que ele não conseguiu. Temos casos de pessoas que passaram a ter uma atividade prazerosa após sessenta anos. Tem uma senhora de oitenta e poucos anos que é maravilhosa, ela começou a fazer um trabalho manual depois dos sessenta anos. Isso depende muito do individuo. Assim como há idosos que ao chegarem aos sessenta anos, em função das próprias perdas da vida ele já não está mais tão engajado na sociedade. Ele já esta aposentado, já foi tirada dele essa condição de trabalho. Não há mais o convívio do trabalho, dos amigos. Isso vai trazendo cada vez mais limitações sociais. Ele fica em uma situação de prostração.
Assim como o jovem anseia em atingir 18 anos para ter os benefícios da maioridade, há também o anseio da pessoa em aposentar-se?
Quando o individuo chega a certa idade ele esta cansado da tarefa que ele desempenhou na vida. Seja ela uma tarefa braçal ou intelectual. Ele quer parar. Os históricos que eu tenho confirmam a imaginação de que ele parando irá fazer tudo que deseja. Não é bem isso. Ele idealiza uma aposentadoria em qual ele supõe que irá ter muita disposição porque irá deixar um trabalho que é cansativo, exaustivo para ele. Só que não é assim que funciona!  Ai chega o momento em que as queixas são: “-Agora não tenho mais o que fazer, agora não faço mais nada!”. Após certo tempo ele irá ficar cansado dessa condição de não ter o que fazer.
As restrições físicas naturais, onde ele não terá mais a mesma condição de quando era jovem, pode afetar profundamente o comportamento do individuo?
Vai afetar na medida em que ele não ira saber lidar com isso. Nesse caso ele irá precisar de uma ajuda. Quem não sabe lidar com essa condição do corpo que está envelhecendo, que ele não terá o mesmo desempenho de quando tinha trinta ou quarenta anos, ele irá ter ali um desconforto que pode levá-lo com certeza a uma tristeza mais profunda, talvez a uma depressão ou até mesmo a própria morte.
Há idosos que através do esporte, de relacionamentos, procuram um retorno à juventude?
É uma busca da juventude, e aquilo faz com que ele sinta-se jovem. Ao olhar a imagem de alguém muito mais jovem do que ele, talvez isso impeça de que ele em algum momento olhe para a realidade.
Você aconselha?
Psicólogo não dá conselho! O que eu penso é poder trabalhar para ele aceitar aquilo que a vida vai impondo, que é irreversível.
Há casos em que o individuo busca relações afetivas além daquela que possui.  Quase uma busca insana para voltar no tempo. Qual é a visão psicológica do fato?
Depende muito das fantasias dele, o que ele está buscando nessa relação. Ele está envelhecendo. Algumas coisas estão muito disfuncionais. A pessoa mais jovem pode trazer essa condição mais vivaz, por conta da idade, mas não passa de uma fantasia, o individuo não irá ter a mesma idade que deseja ter.



Não haverá um equilíbrio?
Penso que não. Os riscos a que o individuo incorre são os mais diversos possíveis.
Há um acréscimo a insatisfação do individuo em relação a épocas anteriores?
Tenho a impressão de que está aumentando a intolerância a situações que as pessoas estão passando.
Um indivíduo aos quarenta anos pode ser considerado idoso?
Depende muito das condições mentais dele. Atualmente a vida está muito acelerada. As disputas são mais acirradas.
Quais são suas formas de lazer preferidas?
Gosto muito de leitura. Sou bastante ligada à família, gosto de poder ficar em casa, junto a minha família.
Quem a procura geralmente vem trazer seus problemas de cunho pessoal. Como é carregar essa carga? Há alguma forma de relaxamento voltada ao psicólogo?
Na verdade temos um tripé do qual não podemos abrir mão enquanto desempenharmos nossa profissão. Existe a análise pessoal, a supervisão, que me ajudam muito. É uma pessoa com quem troco idéias sobre meus casos clínicos e que me ajuda a pensar sobre eles. Nosso trabalho é baseado na ética e na confiança.  Só posso trabalhar outra pessoa se ela confiar em mim. Costumo dizer que é um trabalho da dupla. À medida que cresce a confiança o trabalho flui. Essa relação é restrita, jamais pode ser levada para outro ambiente qualquer. É um trabalho muito delicado, estamos tratando de mentes, de pessoas.
Pacientes com Alzheimer é um caso para tratamento clinico?
Na condição da psicologia não há muito que se fazer, é um trabalho mais voltado para a área clinica. O Lar tem a T.O. Terapeuta Ocupacional, normalmente os idosos que tem Alzheimer vão desenvolver essa condição cognitiva, manual onde é trabalhada a memória com jogos. A psicologia tem que trabalhar com pessoas que tenham noção de realidade, e pacientes com Alzheimer não tem um banco de memória. Ficam preservadas algumas coisas, mas outras não. 
Existe algum método que sinalize a futura ocorrência de Alzheimer no indivíduo?
Não existe uma prevenção. O que se faz muito é trabalhar os recursos da memória. Assim como o corpo necessita de uma atividade física, a memória também. Além das atividades físicas, incentivamos os idosos a fazerem leitura, não importa que tipo de leitura, desde que para ele dê prazer.
Para uma família o que significa um portador de Alzheimer em seu meio?
Eu diria que a família sofre tanto ou mais do que o próprio paciente. Nem sempre a família sabe lidar com essa situação. Também somos procurados para entender um pouco a relação daquele idoso com aquela família, o que ele pode fazer. Se ele esta indo por um caminho que cause menos transtornos e menos danos tanto para ele como para a família. A família tem que ter muita paciência com o idoso. Perceber que em um momento ele esta sabendo o que está falando, em outro momento não irá saber nem o que fala nem o que faz. Existe uma confusão em que a família se perde.
Há um sinal de aviso de que a pessoa está acometida de algum problema?
Existe. As demências vão acontecendo de uma forma muito sutil, delicada, se a família não estiver atenta, a doença vai ficando cada vez mais acentuada. Um exemplo, esquecer uma chave. É normal. Você volta a um lugar, lembrando que você esqueceu a chave, mas não sabe onde está, é também normal. Quando você volta para o lugar e não sabe nem porque voltou ali, há uma diferença.
O que o tão comentado “TOC”?
TOC é o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Já é uma condição mais psíquica.
Existem idosos com TOC?
Existem muitos, principalmente os idosos que foram acumulando coisas. Tem um caso em que a pessoa acumula rolinhos de papel higiênico. Quando termina o papel, fica o rolinho, a pessoa acumula. Ela guardava uma infinidade de rolinhos. Depois passou a guardar rolinhos de papel toalha. Isso causava um transtorno, ao passo que ela ia guardando ia acumulando sujeira. Ela ficava extremamente transtornada.
Há dois tipos clássicos de TOC, o colecionador e o eliminador?
Existe, e piora com a idade. Quem tem que ficar alerta é a pessoa que está ao seu redor e que normalmente não fica muito alerta.
No ritmo acelerado de vida que imprimimos, só iremos perceber que a pessoa faleceu pela rigidez cadavérica?
Em algumas famílias sim. Pela alegada falta de tempo, outra condição é que as famílias mudaram. Tínhamos famílias numerosas, onde um cuidava do outro, hoje praticamente não há mais isso. Em nossa modernidade um casal tem de um a dois filhos, que por motivos diversos, estudo, trabalho, acaba afastando-se também.
A humanidade esta tendo maior longevidade, qual é a importância do trabalho do psicólogo diante desse quadro? É muito comum, periodicamente as pessoas fazerem exames preventivos de rotina. Existe a necessidade de procurar em freqüência semelhante um psicólogo?
Com o passar do tempo diminuiu a intensidade com a qual o individuo omite sua ida a um psicólogo. As pessoas estão muito mais abertas a cuidarem dos aspectos emocionais.
Qual é a diferença entre psiquiatra e psicólogo?
O psiquiatra atua na área médica ele prescreve medicamentos. O psicólogo não receita medicação. O ideal seria que as duas áreas pudessem andar juntas. A medicação cuida do sintoma, e a terapia cuida da causa.
O tratamento psicológico é em longo prazo, não são todas as pessoas que podem arcar com os custos, o que se vê são convênios médicos abordando o assunto de forma precária, há algum motivo em especial?
Infelizmente os convênios remuneram o profissional de psicologia de uma forma muito aquém do valor considerado merecido. Penso que os convênios médicos são fechados à  medicina, no que funcionam muito bem. O que sabemos é que os aspectos emocionais são muito pesados e carecem de um investimento maior.
O idoso carrega problemas vividos em sua infância?
Trazem muitos problemas cuja origem está em sua infância. Isso reflete na vivencia atual. Um ganho que ele tem com a terapia é a disponibilidade de poder falar de uma época muito repressora que ele viveu no passado, sobre as questões que permeavam as condições dele. Ele não podia falar na época e de repente hoje ele tem alguém com quem ele pode falar.
A prática de exercício físico é importante como fator de qualidade de vida psicológica?
Com certeza! Além de amenizar as conseqüências do envelhecimento natural, durante a prática do exercício físico o idoso estará pensando nele, em seu corpo. De alguma forma ele estará integrado com as questões emocionais. A proposta única é o bem estar do idoso, quer na questão física como emocional.
Como o idoso é tratado pelas mais diversas civilizações?
É acima de tudo uma questão cultural Em certos países há empresas ou mesmo o próprio Estado, que preferem investir em crianças e adolescentes visando ter mão de obra no futuro. Tanto os orientais, assim como nossos indígenas, consideram o idoso de uma forma muito relevante, consideram que o idoso carrega muita sabedoria. A grande pergunta é como serão os nossos jovens quando tornarem-se idosos.
A seu ver, as empresas deveriam lançar um novo olhar ao idoso, que se não tem os predicados dos jovens possuem qualidades que podem dar o diferencial necessário para o equilíbrio e melhor desempenho?

Trata-se principalmente de uma questão cultural, muitos países utilizam a experiência, sabedoria. As vantagens de trabalhar com pessoas maduras. Não irão explorar o serviço braçal, mas irão aproveitar aquilo que os idosos aprenderam com a vida. 

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