domingo, outubro 09, 2016

ARMANDO DE ANDRADE ALGODOAL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 08 de outubro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 




ENTREVISTADO:  ARMANDO DE ANDRADE ALGODOAL
Nilce Andrade e Armando Andrade Algodoal estão resgatando o valor de uma das maiores artistas plásticas que Piracicaba teve e infelizmente não conheceu ou conheceu muito pouco. Suas obras premiadas em muitos países e grandes centros foram expostas ao que se sabe uma vez em Piracicaba. Falecida precocemente, a artista deixou um magnífico acervo. Piracicaba é uma cidade extremamente privilegiada em todos os setores artísticos e intelectuais, raras são as cidades que possuem tantos valores concentrados como em nossa querida Piracicaba. Os mais enfáticos dizem que quem bebe da água do Rio Piracicaba encontra a sua verdadeira inspiração.
Armando de Andrade Algodoal nasceu a 17 de agosto de 1936 na cidade de Jaboticabal, filho de Jayme de Andrade Algodoal, engenheiro agrônomo formado pela ESALQ – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba e Zenaide de Andrade Algodoal que tiveram dois filhos: Armando e Beatriz de Andrade Algodoal. Até os 14 anos Armando permaneceu na Escola Agrícola de Jaboticabal, onde seu pai era diretor. Eu adorava aquele local, tinha de tudo, era um jardim. Eu estudava na Escola Estadual Aurélio Arrobas Martins de Jaboticabal. Com uns 14 anos eu convivia com maquinas, automóveis, caminhoes. Já dirigia caminhão!










Aos 14 anos o senhr já dirigia caminhões, de qual marca?
As marcas Ford e Chevrolet predominavam. Essas aventuras com veículos me traziam uma grande satisfação. Nessa época, ainda muito jovem, meu sonho era ter um caminhão ou trator. Morávamos em Jaboticabal embora nossa família era toda de Piracicaba. Períódicamente vinhamos visitá-los.
Até que idade o senhor permaneceu em Jaboticabal, em sua adolescência?
Permaneci até os quinze anos, saí de uma vida no campo e fui estudar em colégio de padres em Campinas, como interno no Colégio Dom Bosco. A minha adpatação foi dificil, com isso meu pai colocou-me no Colégio Mackenzie, em São Paulo, também como interno. Na verdade eu tinha uma vontade muito grande de ter a minha autonomia, foi assim que comecei a atuar em algumas atividades comerciais paralelas, em especial voltadas a veículos. Nesse período fui convocado para servir o Exército, o qual servi durante dois anos. Foi no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva – CPOR - de São Paulo,  situado a Rua Alfredo Pujol, 681. Quando estava para dar a baixa houve a problemática de Jacareacanga. (Na noite de 10 de fevereiro de 1956, oficiais da Aeronáutica insatisfeitos, liderados pelo major Haroldo Veloso e pelo capitão José Chaves Lameirão, partiram do Campo de Afonsos, no Rio de Janeiro, instalaram-se na base aérea de Jacareacanga, no sul do Pará, e ali organizaram o seu quartel-general.) Quem tinha experiência não foi autorizado a deixar de servir o Exército.
Revolta de Jacareacanga
(Entre outubro de 1955 e janeiro de 1956, os militares antigetulistas, ligados à UDN e liderados pelos ministros Eduardo Gomes, da Aeronáutica, e Amorim do Vale, da Marinha, sofreram sérias derrotas. A primeira foi quando viram Juscelino Kubitschek e João Goulart, apoiados pela aliança PSD-PTB, serem eleitos presidente e vice-presidente da República em 3 de outubro de 1955. A segunda, quando o Movimento do 11 de Novembro, liderado pelo ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott, depôs o presidente em exercício Carlos Luz, substituiu Eduardo Gomes por Vasco Alves Seco, Amorim do Vale por Antônio Alves Câmara, e garantiu as condições necessárias à posse dos eleitos. A terceira, quando os eleitos efetivamente foram empossados, em 31 de janeiro de 1956.
Poucos dias após a posse do novo governo, na noite de 10 de fevereiro de 1956, oficiais da Aeronáutica insatisfeitos, liderados pelo major Haroldo Veloso e pelo capitão José Chaves Lameirão, partiram do Campo de Afonsos, no Rio de Janeiro, instalaram-se na base aérea de Jacareacanga, no sul do Pará, e ali organizaram o seu quartel-general. Esses militares temiam uma represália do grupo militar vitorioso no 11 de Novembro e, por essa razão, não concordavam com a permanência, no governo JK, do ministro Vasco Alves Seco na pasta da Aeronáutica.
Dez dias depois do início da rebelião, os rebeldes já controlavam as localidades de Cachimbo, Belterra, Itaituba e Aragarças, além da cidade de Santarém, contando inclusive com o apoio das populações locais. Haviam recebido também a adesão de mais um oficial da Aeronáutica, o major Paulo Victor da Silva, que fora enviado de Belém para combatê-los.
Apesar de ter sido uma rebelião de pequena monta, o governo encontrou dificuldades para reprimi-la devido à reação de oficiais, sobretudo da Aeronáutica, que se recusavam a participar da repressão aos rebelados. Após 19 dias a rebelião foi afinal controlada pelas tropas legalistas, com a prisão de seu principal líder, o major Haroldo Veloso. Os outros líderes conseguiram escapar e se asilar na Bolívia. Todos os rebelados foram beneficiados pela "anistia ampla e irrestrita", concedida logo depois pelo Congresso, por solicitação do próprio presidente JK.
Célia Maria Leite Costa)
O senhor era bom de tiro?
Na época o Exército estava em uma crise financeira muito grande, cada soldado podia dar dois tiros apenas. O fuzil era de 1908. Eu tive sorte, sem falsa modéstia, eu desenho muito bem, e escrevo com qualquer tipo de letra. Isso foi notado, e fui colocado em um cargo bastante importante, que é o protocolo. Com isso passei a ter um grande conhecimento da burocracia do Exército. Eu lia toda a documentação que chegava e saia. Até pedido de casamento de oficial! Eu era soldado, poderia ser promovido a cabo, só que em situação de emergência seria o primeiro a ser chamado.
Nessa época o senhor morava em que local?
Nossa família morava na Rua Martins Fontes, no centro de São Paulo, eu tinha que sair às cinco e meia da manhã, ia a pé até o ponto ônibus, lembro-me que nesse horário, as boates que existiam no centro de São Paulo, estavam encerrando as atividades, eu via aquela movimentação toda de clientes e moças que freqüentavam a noite, era uma cena curiosa, todos em aparente alegria e diversão e eu indo para o quartel. Decidi mudar o meu trajeto, evitava passar em frente às famosas boates, mesmo que isso implicasse no aumento do meu percurso. O quartel era na situado a Rua Alfredo Pujol, 681, em Santana. Havia a possibilidade de dormir no quartel, cheguei a dormir diversas vezes, só que o conforto em casa era outro. Nessa época meu pai adquiriu um apartamento na Avenida São Luis. Era um bom apartamento. Só que a essa altura eu já não morava em São Paulo, estava envolvido com a terraplanagem. Sempre gostei de duas coisas: um bom carro (na época geralmente importado) e um bom sapato. São duas manias que eu sempre tive.
Qual era o sapato da sua preferência?
Eram os sapatos Bibo. Eram feitos sob encomenda. Eu fazia isso mas não sobrava dinheiro!
O senhor chegou a ter o tão sonhado caminhão?
Já com mais idade, tive uma empresa de terraplanplanagem, onde tinha caminhões e chegamos a ter 14 tratores FIAT de esteira. Além de jipe. picape, era uma empresa com 40 funcionários. Quanto maior o tamanho do empreendimento geralmente a qualidade de vida do empresário perde muito. As preocupações multiplicam-se. Nosso maior foco eram açudes e derrubadas de matas em fazendas.

Qual é o trator que mais atrai no mercado?
O trator considerado como uma grande máquina, em todos os aspectos é o de marca Caterpillar, 



só que na época, ao meu ver, a manutenção do FIAT era cerca de um terço do valor, mesmo sendo tudo importado. Foi um período em que a receita e as despesas eram muito próximas, o resultado final era muito baixo. Acontecia coisas inacreditáveis, determinada ocasião, o tratorista fazendo um açude caiu dentro da água com trator e tudo, ele salvou-se, sem nada acontecer, ficou apavorado e sumiu. Ele estava em um local afastado, sozinho, nós simplesmente não conseguíamos localizar o trator, até que quando baixou a àgua descobrimos aonde estava o trator. Imagine tirar de dentro da água uma máquina que pesa de 14 a 15 toneladas. Foram engatados três tratores para puxar fora do açude. Após a retirada, a maquina foi inteiramente desmontada para limpeza. Isso ocorreu nas imediações de Bauru. Era um período em que a formação profissional nessa área estava em seu inicio, Não havia profissionais com a mesma destreza que há hoje. Os acidentes envolvendo bens materiais eram relativamente comuns. Como o motorista de um caminhão que deu a marcha a ré sem observar que havia um carro parado atrás. O resultado foi a destruição de um automóvel Volkswagen de propriedade de uma professora. Com apenas 500 quilômetros de uso! A professora fazia questão de um automóvel novo na cor que ela queria: um azul claro!
Trator dá muita manutenção?
É um equipamento utilizado em serviço bruto, não é como um automóvel ou um caminhão que sofre o desgaste natural. Já tive um conhecido que em um mês quebrou as  cinco máquinas de sua propriedade. Teve que parar o serviço, como consequência o prejuízo foi enorme.
O senhor é um apaixonado por carros, qual é o melhor carro em sua opinião ?
Esse termo “melhor” acredito que não existe para nada! E nem o “mais bonito” ! A meu ver, gosto do carro charmoso.
O senhor gosta de motocicleta?
Eu morava em Barretos, meu pai pegou a representação da Lambretta. 









Vendi umas quarenta ou cinquenta Lambrettas. O preço era relativamente alto. Nesse meio tempo, apareceu uma pessoa com uma motocicleta Indian, adquiri, e passei a andar com essa moto na cidade, tornei-me conhecido como “O Cara da Indian” !  Era uma motocicleta de 1.250 cilindradas.

Era pesada?
Funcionando não pesa nada! Na estrada os guardas me paravam não para pedir os documentos, mas para ver a motocicleta, eu deixei-a uma beleza! Era preta, ano 1950, e a época era 1954. Algum tempo depois outros dois interessados conseguiram localizar uma máquina parecida e compraram. Ficamos em tres  na cidade.
O senhor alguma vez caiu da motocicleta?
Levei dois tombos feios. Um deles foi quando fomos a um sítio de um amigo, para chupar laranja, foram umas dez motos, em estrada de terra, fez aquele poeirão, tinha um mata-burro com um buraco no meio, no meio da poeira não dava para ver nada, a moto ficou e eu fui! Outro tombo foi em um carnaval, tinha uma escola de samba desfilando no escuro, nós andávamos sempre quatro ou cinco motocicletas, meus amigos entraram e desviaram, eu entrei no meio do povão! Cai, machuquei o pé. Naquele tempo a importação era proibida, o negócio era comprar moto caindo aos pedaços e reformar. Eu trouxe a moto para São Paulo, veio em cima de caminhão, a estrada era de terra. A moto começou a fazer um barulho estranho, levei até a oficina do Edgard Soares, que era um piloto profissional de moto. A empresa existe até hoje.
O senhor é apaixonado por motores, já teve algum avião?
Meu pai teve três aviões. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, meu pai foi para os Estados Unidos, um fato muito comentado na região de Jaboticabal, naquela época foi o único homem a ir para os Estados Unidos. Seu objetivo era pesquisar sobre granja, ele tinha o projeto de fazer uma. Com o final da guerra houve uma invasão no mercado de grandes aviões, ele adquiriu um Stinson


 era um avião monomotor de asa alta, mais elegante que existia, o leme dele era igual ao da Fortaleza Voadora. Ele adquiriu com a intenção de alugar o avião, adquiriu um segundo avião com capacidade para dois passageiros e um Taylorcraft,


 também com capacidade para dois passageiros. Foi assim que ele montou uma empresa de taxi aéreo, ele era piloto. meu pai foi muito dinâmico. Havia muita precaução do povo em voar, com isso meu pai acabou vendendo a empresa. Na Escola Agrícola de Jaboticabal havia um aeroporto dentro da escola. Eram dois hangares, hoje cresceu, deve ter uma meia duzia de hangares. 






Houve um período em que a VASP – Viação Aérea São Paulo passou a descer lá, para testar, embarcavam dois ou tres passageiros, eu me lembro, os aviões da VASP eram medonhos por dentro, eram os DC-3, dentro do avião era tudo preto, tudo muito esquisito, dava uma péssima impressão, a VASP  experimentou, viu que não dava certo. A primeira vez que aterrizou um avião da VASP a cidade inteira foi ver, lembro-me de um barbeiro chamado Luizinho, disse-me: “-Eu não voo em uma coisa dessas cheia de arrebites!” De vez em quando passavam dois aviões NA North American da FAB, faziam diversas acrobacias, saia Jaboticabal inteira para ver. O motor mudava de ronco, fazia tremer o que estivesse perto.




O senhor fixou a sua residência em Piracicaba a quantos anos?
Faz uns 15 anos. Meu pai já estava cansado. Minha mãe é filha de Sebastião Nogueira de Lima, que chegou a ser até governador. 



Quando ele assumiu o governo em substituição a Fernando Costa, ele deu um almoço para os parentes no palácio em São Paulo. Eu era criança, lembro-me de que fiquei impressionado com uma enorme travessa repleta de batatas fritas. Como governador enviou-mer carta, ele ganhou um livro sobre avião, de um famoso piloto estrangeiro, ele autografou o livro e deu de presente para mim.
O senhor dormiu no Palácio do Governo?
O palácio era o Campos Eliseos, apenas almoçamos.





Como neto do governador o senhor sentia-se importante?
Não me lembro, mas acredito que não. Meu avô escreveu uns tres ou quatros livros sobre a sua vida. Tem meia página onde ele fala sobre mim. Fui seu primeiro neto. Quando estudei no Mackenzie eu frequentava a casa dele em São Paulo. Ele gostava de mim. Na época ele morava no Jardim Paulistano.
O senhor chegou a pegar a época do bonde em São Paulo?
Eu pegava para passear, era o famoso bonde “camarão”.

A corrupção era pouca, havia respeito, as mulheres andavam com roupa nas ruas. Havia poucos carros. Foi um período em que comprava-se um carro, usava e vendia sem perder dinheiro. Havia poucos automóveis. Meu pai chegou a ter uma concessionária de automóveis Studebaker.



O sobrenome Algodoal é em função do cultivo do algodão?
Dizem, não sei se é verdade. O sobrenome era Oliveira, o meu avô, pai do meu pai adquiriu uma fazenda grande e plantou só algodão. Ninguém queria plantar algodão. O pessoal dizia: “É o homem do algodoal!”Existe uma fotografia de um Buick que pertencia a família, era o carro mais luxuosa da época.
O senhor chegou a usar gasolina azul?
Em alguns carros, era obrigado a por senão o motor pifava. Meu pai comprou um Oldsmobile F85 compacto, uma beleza de carro, tinha um motor grande de alta compressão, só funcionava com gasolina azul, criou-se um problema, gasolina azul só tinha em São Paulo, teve que abrir o motor, aumentar o espaço da explosão para pegar a gasolina comum, toda a valentia do carro acabou.
Carro argentino o senhor teve algum?
A Beatriz teve um.
A parte mecânica de automóvel o senhor não mexe pessoalmente?
Até uma época eu mexia neles. Mais por distração. Modificava.
Carro a gasogênio, o senhor chegou a usar?
Eu não, mas o meu pai teve. Chegamos a viajar com um carro a gasogênio




saíamos de Piracicaba cedo e chegávamos a tarde em Jaboticabal, a estrada era de terra, o carro não tinha força nenhuma, deve dar uns 280 quilômetros de distância. Na ultima vez em que estive lá, tinham colocado o nome do meu pai em um hangar, esse hangar foi construído por eles. Meu pai era muito amigo de Auro Moura Andrade, que gostava muito de avião. 



Na inauguração do hangar, no cimento fresco, meu pai me pegou sem os dois sapatos e colocou os meus pés no cimento fresco. Deixou marcado lá, escreveu a data. O pessoal fez uma cópia em gesso, cortaram e deram-me de presente.
O senhor andou de carrinho de rolimã?
Na escola tinha uma descida muito violenta, que o pessoal chamava de descida da mata, lá tínhamos carrinho de madeira, até as rodas eram em madeira. 

Eu devia ter uns seis anos. O carrinho atingia uma velocidade em que saia roda, se desmanchava.
O senhor teve uma infância muito feliz?
Você nem imagina como! Aquela largueza com tudo! 

sábado, outubro 01, 2016

GABRIELA FERRAZ ANDRADE

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de outubro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
 
ENTREVISTADA:   GABRIELA FERRAZ ANDRADE




Gabriela Andrade Ferraz  nasceu em Piracicaba a 12 de  março de 1994, filha de Katia Ferraz e Paulo Ferraz, que tiveram ainda o filho Mateus.
Você está concluindo o curso de jornalismo, já trabalha na área?
Estou trabalhando em uma agência de comunicação onde sou redatora e social media (aborda os elementos estruturantes de uma estratégia de comunicação com foco em redes sociais).
Em que escola você realizou seus primeiros estudos?
O curso pré-primário até a segunda série eu fiz no Colégio Luiz de Queiroz – CLQ, depois passei a estudar no Liceu Terras do Engenho, onde permaneci até a sexta série, a seguir estudei no Colégio Dom Bosco, situada no bairro Cidade Alta, onde conclui o terceiro colegial.
Ao fazer a opção pela profissão a ser seguida, qual foi a que você escolheu?
Decidi fazer o Curso Superior de Jornalismo, cursei na UNIMEP.
Como surgiu essa vocação para jornalista?
Na verdade desde muito nova eu escrevo, aos oito anos já escrevia.
O que a levou a escrever ainda criança?
Quando meu pai faleceu, em 2002, encontrei na escrita uma forma de exteriorizar meus sentimentos. Não me detive a escrever textos, escrevi livros. Inclusive algumas editoras tiveram interesse em publicar, mas eu não permiti. Tenho tudo guardado comigo. Os editores gostaram muito do que escrevi, mas achei que era uma exposição muito pessoal. Isso não me impediu que continuasse a escrever: artigos, textos opinativos, às vezes saia alguma coisa minha publicada no jornal, no blog. Escrevi por muito tempo em um blog meu.
A sua mãe não achou estranho você ainda criança, já estar escrevendo livros?
Ela estranhou, mas ao mesmo tempo gostou bastante, e sempre me estimulou.
Qual é a atividade profissional da sua mãe?
Ela é bibliotecária. Posso afirmar que cresci no mundo dos livros. Além de estimular muito a leitura, no inicio ela lia para mim. Foi ela quem me ensinou a ler, apresentou-me o mundo dos livros. Que podemos viajar em vários mundos através dos livros. Com isso sempre me encantei com o livro, material, objeto, pelas histórias deles. A profissão nais próxima que encontrei foi o jornalismo. Como tenho o anseio de fazer o melhor pelo mundo, promover um debate, de usar essa habilidade como uma ferramenta, ampliar o debate público para que as pessoas tenham acesso à informação, para que recebam educação, com isso uni essas duas coisas.
O que você sente quando está escrevendo?
Depende muito do tipo de texto que estou escrevendo. Se for um texto mais emocional tenho um sentimento voltado mais para esse lado, se for um texto político ou crítico estará mais focado na informação do que no sentimento.
Você é uma pessoa engajada em algum tipo de política?
Eu tenho a minha posição política, mas não partidária. Tem coisas que acredito que sejam boas para a sociedade, para o povo, mas não tem nenhum partido com o qual eu me identifique que eu possa dizer: “-Esse partido me representa!”.
Dentro do seu trabalho você atua mais no setor de publicidade ou na área jornalística?
Tive a oportunidade de fazer um pouco de tudo, no período em que cursava a faculdade fiz quatro estágios diferentes, atualmente estou em meu primeiro trabalho efetivo. Estou trabalhando na parte de mídias sociais, é uma área nova, todo dia aprendo alguma coisa, é uma área interdisciplinar entre jornalismo e publicidade. Ao mesmo tempo em que é necessário o texto, da construção textual de informação, depende do assunto abordado, seja um hospital, uma escola, são produzidas informações, matérias, ao mesmo tempo em que ao publicar é utilizada a linguagem publicitária para atrair o público, a segmentação de público que se pretende atingir.
Você trabalha em uma agência publicitária?
Sim, é uma agência com clientes de diversas áreas, as demandas são diferentes, às vezes é a constrição de uma peça publicitária textual, outras são as divulgações das mídias sociais, outras vezes preciso entrevistar alguém. Há ocasiões em que preciso ajudar na edição de um vídeo. Sou fotógrafa também.
Você realizou algum curso específico de fotografia?
Além do curso curricular de fotografia que é dado na faculdade eu me aprofundei em alguns outros cursos. Fiz oficinas, cursos de curta duração e principalmente a prática. Gosto muito de fotografias. Em 2015 um trabalho que fiz na faculdade ficou entre os cinco primeiros da Região Sudeste, do prêmio Expocom - Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação.
Os ensinamentos recebidos dentro da faculdade e a realidade são coerentes?
Eu acredito que a minha formação deu-se através da faculdade e dos meus estágios. Na faculdade aprendia a teoria, em meus estágios aplicava o que tinha aprendido. Sempre caminharam juntos. Concluo que o meu aprendizado veio da teoria e da prática. Da mesma forma que fiz todos os estágios que pude, participei de congressos, fiz iniciação cientifica, por exemplo. Não tenho como avaliar o que foi mais importante, mas a faculdade foi muito importante na minha formação.
Onde você fez estágios?
No Jornal de Piracicaba permaneci uns dez meses, fazia matérias para cultura, cidades, cadernos especiais. Depois fui para a ESALQ onde permaneci um ano, trabalhando como estagiária de jornalismo no Núcleo de Pesquisas Científicas. Eu fazia a divulgação científica do que os pesquisadores estavam desenvolvendo. Às vezes recebia uma tese e tinha que transformar em uma linguagem mais acessível ao leitor alheio aquele trabalho. Em seguida fui para a Associação Ilumina, permanecendo quatro meses. Foi uma experiência muito boa, eu trabalhava na Assessoria de Imprensa, e só saí porque passei na Iniciação Científica, e quando você recebe bolsa do CNPq- Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico não pode ter estágio. Permaneci um ano fazendo Iniciação Científica, fiz com o Professor Belarmino Cesar Guimarães Costa, Diretor da Faculdade de Comunicação da UNIMEP. Além disso, fiz alguns trabalhos como freelancer (termo inglês para denominar o profissional autônomo que se autoemprega em diferentes empresas) como fotos em eventos sociais. É um trabalho interessante, captar o momento, o que tem de relevante naquilo tudo, são muitas pessoas juntas, tem que prestar atenção no que está acontecendo para saber qual interação social  merece um clique.
Tem algum fato relevante que você possa destacar ocorrido nesse período?
Tive muitas experiências, por exemplo um dia estava na favela outro dia entrevistando uma personalidade, essa diversidade é bem interessante.
Isso pode mexer com o ego do profissional?
Eu acho que o ego é um problema da nossa profissão! Tem muitos jornalistas “estrelas”!
Como você controla esse sentimento?
Eu nem estou em condições de me achar importante! Esse livro que estou lançando foi acompanhado de uma monografia, onde estudei uma obra da jornalista Eliane Brum, atualmente ela trabalha no jornal El País, na época ela trabalhava no jornal Zero Hora, ela fez uma coluna humanizada, de pessoas anônimas. O resultado foi um livro: “A Vida Que Ninguém Vê”. São as pessoas anônimas que mais tem a contar. A partir dessa obra estudei o relato humanizado, jornalismo literário, para procurar aplicar depois um pouco no livro que estou lançando.
Você está lançando o livro “Alma de Santa Olímpia”, esse lançamento irá dar-lhe uma projeção social, você acha que é importante para a profissional, mas talvez o livro seja mais importante?
Claro, o livro é mais importante! O livro eu fiz para a comunidade tirolesa, eu queria projetar a cultura deles, não me projetar. Isso é uma conseqüência. Eu fiz o livro para eles como se fosse uma homenagem a essa luta para manter viva a cultura, respeitar os antepassados, manter esse senso de comunidade, o que é tão difícil hoje. Quem escreveu o meu livro foram às pessoas que estão mencionadas nele.
Como você chegou até a comunidade de Santa Olímpia?
Eu não conhecia Santa Olímpia, até que fui a uma festividade que foi realizada lá, fiquei encantada, voltei para tomar um café, no Café Tirol, é um local onde toda arquitetura lembra um café europeu. Servem frapês, apfelstrudel (sobremesa tradicional austríaca), gròstoi (grostoli) muito popular no norte da Itália, Áustria e Suíça. É um doce simples de fazer e muito saboroso e indispensável no café da manhã e da tarde de uma família tirolesa. O Café Tiros abre todo final de semana. Comversei com o prpoprietário, Ivan Correr, ele contou-me um pouco do bairro das tradições, percebi que tinhamos um cantinho da Europa ali na zona rural, acho que isso merece ser divulgado, queria registrar alguma coisa que funcionasse como memorial, para o próprio bairro. Da mesma forma que eu queria que eles se reconhecessem no livro, eu queria que o livro chegasse as mãos de pessoas de fora, para que elas soubessem da existência, valorizassem, fossem visitar, incentivassem. Eles preservam a cultura em sua integralidade, as danças tipicas, coral, dialeto, culinária, O livro tornou-se rico em informações graças ao contato que mantive com muitas pessoas. Assisti ao ensaio das danças que eles apresentam. Até dancei com eles!
Você dançou o que?
Dancei uma dança típica tirolesa.
Você foi “adotada” pelos tiroleses de Santa Olímpia?
Totalmente! Eles são muito acolhedores. Faz parte da cultura deles, você entra em uma casa de alguma senhora é como se estivesse na casa da sua avó. Conversmado, tomando um suco, comendo um salgadinho, um bolo. A polenta impera. Eles tem um prato chamado “polentota”. É uma delicia !
Você conseguiu as receitas?
Eu li algumas receitas, mas ainda não sou muit habil na cozinha! Eles tem um projeto de culinária que é para repassar para as crianças, para que não se perca. Eles tem uma parceria com a Provincia de Trento que estimula muito a cultura. Tem vários projetos, um deles é a culinária, os adultos cozinham, reunem-se com as crianças e elas aprendem as receitas dos “nonos”. Procurei chegar bem próximo a eles, não queria estabeecer a relação reporter-entrevistado. Chegava em suas casas, sentava no sofá, conversava um pouco, assistia ensaios de dança, apresentação do coral, passei uma tarde no Café Tirol.
Qual é o nome do coral deles?
Tem vários grupos, o Coro Stella Alpina, o Câneva, e o das crianças, o Coro infantil Và Pensiero. Stella Alpina (também chamada Edelweiss) é o nome de uma flor dos Alpes tiroleses, semelhante a uma estrela, encontrada somente nas paredes rochosas acima de 1.500 metros de altitude. Além de ser a flor símbolo do Tirol, a Stella Alpina é também um símbolo do amor eterno, pois antigamente os rapazes escalavam as montanhas para colherem as maiores flores para suas amadas, e o arriscado feito (que muitas vezes podia terminar tragicamente com a queda nos precipícios) era uma prova de amor e quanto maior a flor, maior o feito. Outra interessante característica da flor, é que ela aparenta ser de veludo e o seu branco nobre só existe se a mesma florir em grandes altitudes, do contrário, possuirá uma cor esverdeada. Depois de recolhida, a stella alpina permanece intacta por muitos anos e existem algumas centenárias.
O seu livro “A Alma De Santa Olímpia” estará a venda?
Será vendido por R$ 25,00, será lançado hoje, sábado, dia 1 (primeiro) de outubro as 16h00min no Café Tirol, no bairro Santa Olímpia. É editado pela Editora 3I. A capa é de autoria de Patrícia Milano representa a Igreja da Praça Principal de Santa Olímpia. Entre a comunidade há uma religiosidade intensa. Há até um capítulo que aborda o tema. Há muitos objetos religiosos nas casas, no bairro. Tive a oportunidade de conversar com o padre, o anterior,  Padre Jacó Stenico e depois com o Padre Emerson.
Há alguma razão especial para você escrever sobre Santa Olímpia?
Foi por ter conhecido casualmente primeiro esse bairro, assim como poderia ser o bairro de Santana, cujas origens são semelhantes.
Quem tem orgulho em ter nascido no bairro Santa Olímpia?
Todos! Desde os jovens até os idosos! Desde os precursores: Jacó Correr e Rosa Pompernayer. É mantido ainda o casarão, que é o museu do bairro.
Esse livro tem um significado pessoal para você, como “um filho nascendo”?
Eu não sei se tenho muito apego pelo meu material. Vejo-me mais como uma ferramenta, para alguém. Nesse caso para a comunidade. Meu trabalho tem como objetivo agregar valor para esse grupo de pessoas, nesse contexto, para um processo de assimilação interno assim como para o pessoal de fora.
 
 
 


PEDRO NATIVIDADE FERREIRA DE CAMARGO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de setembro de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:
PEDRO NATIVIDADE FERREIRA DE CAMARGO



Pedro Natividade Ferreira de Camargo nasceu em Piracicaba a 8 de setembro de 1927, filho de Antonio Ferreira de Camargo e Amélia de Camargo Sampaio que tiveram quatro filhos, sendo que dois filhos faleceram ainda muito pequenos, e uma filha: Maria Isabel.
O senhor nasceu em que local?
Eu nasci na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, na época localizada a Rua José Pinto de Almeida, entre a Rua XV de Novembro e a Rua Moraes Barros. Os meus pais eram enfermeiros, ali era o local onde trabalhavam.
O meu avô materno é João Cardoso casado com a minha avó Joaquina Generosa do Espírito Santo, descendente de índios. Meu avô tomava conta de uma fazenda entre as cidades de Limeira e Rio Claro, chamada Fazenda do Conde, foi lá que o meu pai conheceu a minha mãe. Meus pais casaram-se em 1921. Meu pai ainda muito jovem fazia serviços diversos, na época não havia o Tiro de Guerra, os jovens em idade de prestar serviço militar tinham que participar de alguma forma, ele participou como todos os demais jovens da época, após o tempo regulamentar ele passou a fazer alguns pequenos trabalhos esporádicos para o Exército. Foi durante esse período que meus pais se conheceram. Casaram-se e vieram morar com a minha tia Rita, mãe do Celso de Camargo Sampaio que foi presidente do Sindicato da Alimentação. A casa ficava a Rua José Pinto de Almeida, onde anteriormente havia residido Miguel Sansigolo.
Foi nessa época que passaram a trabalhar na Santa Casa de Misericórdia?
Meu pai havia sido convidado para trabalhar em Jundiaí, no Hospital e Colônia de Juqueri, ele trabalhou lá uns dois anos e alguns meses, e de lá é que veio para Piracicaba. Sua função aqui era cuidar dos alienados, que na linguagem popular da época eram denominados de loucos.
Na época em Piracicaba havia muitos alienados?
Tinha! Era uma ala da Santa Casa. Para se ter uma idéia das dimensões, após a Santa Casa mudar-se para o prédio onde se encontra atualmente, ali foi montada uma fábrica de móveis de propriedade de Lino Morganti e Miguel Sansigolo. Quando eu passei a trabalhar foi ali naquele mesmo lugar que eu trabalhei.
Nesse período em que seus pais trabalhavam na Santa Casa eles moravam em que local?
Moravam na própria Santa Casa! Ali eles permaneceram por uns três anos. Junto a Rua Joaquim Pinto de Almeida ficava a parte administrativa da Santa Casa, tinha a parte dos doentes comuns, e a ala dos alienados, ficava no mesmo prédio, mas separados dos doentes não alienados.
O que levou os seus pais deixarem de trabalhar na Santa Casa?
Quando começou a Revolução de 1932 houve uma grande movimentação de voluntários, foi um período em que a pessoa poderia estar passando pela rua e alguém, com alguma autoridade determinar: “-Voluntário!”. Ou seja, um voluntariado por convocação. Meu pai achou por bem não ser voluntário dessa forma. Saímos de Piracicaba e fomos para a fazenda onde morava o meu avô, a Fazenda do Conde. Na época eu não tinha cinco anos. Meu avô era um homem determinado, administrava a fazenda toda, ele tinha uma parcela dessa propriedade. É a fazenda onde a Rede Globo de Televisão gravou a novela que tem como tema principal a imigração italiana para o Brasil. Fica próxima a Santa Gertrudes. Lá o meu avô achou que eu deveria aprender a manusear arma de fogo, embora tivesse pouca idade, uns cinco anos. Ele pegava um mamão, e esculpia um alvo o qual eu deveria acertar. Aos sete anos eu já manuseava todo tipo de arma.  Com o passar do tempo aprendi a atirar em alvo com movimento, ele jogava uma bolinha e mandava que eu atirasse um pouco mais abaixo, quando ela iria cair por força da gravidade. Eu aprendi a atirar em alvos com movimentos. Ele então me ensinou a caçar. Com ele aprendi a lidar com cobras, na época havia muitas. A seguir ele ensinou-me a montar em animais, em pelo, sem sela. Sempre gostei muito de cavalos, nessa época tive um chamado Guion. Passei a ter contato com cavalos, bois, bezerros, vacas, cabras, porcos. Meu avô fazia questão que eu embora ainda menino, tivesse aptidões para a vida dura do campo.  Foi quem me ensinou a nadar, a pescar.
E qual era a reação do seu pai com relação a esses ensinamentos dados pelo seu avô?
Meu pai achava sensacional! Assim como a minha mãe, que as vezes preocupava-se um pouco, tinha receio que eu me machucasse.
A sua permanência na Fazenda do Conde foi até que idade?
Eu voltei a Piracicaba com a idade entre dez a onze anos. Fui fazer o curso primário em uma escola que existia dentro da Escola Agrícola, como chamávamos a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz. Essa escola que eu freqüentei ficava nas imediações onde hoje se situam os animais de maior porte (gado e cavalos). Ali comecei o curso primário. Nessa época morávamos em uma casa próxima a Agronomia, o dono do prédio era militar, da família Vasconcelos, pai do Newton Vasconcelos. Eu ia para a escola a pé. Quando chovia era um barro só. Naquela época as carteiras escolares eram largas, utilizadas por uma dupla de alunos. Colocaram-me sentado junto a uma menina. Quando terminava a aula os meninos vinham me bater na rua, gratuitamente. No primeiro dia apanhei. No segundo dia apanhei novamente. Com isso eu saia da escola já correndo. Com os meninos correndo atrás. Até que em um determinado dia um deles escorregou e caiu. Aproveitei a ocasião e passei a dar-lhe uns safanões. Outro que me perseguia quando viu a minha a reação, correu. A partir de então quem corria eram eles. Depois eu sai de lá e vim estudar no Grupo Escolar Prudente de Moraes. Lembro-me até hoje, que a sala onde eu ficava era onde se situa a ultima janela do prédio. Dali eu fui estudar no Grupo Escolar Moraes Barros, onde terminei o meu curso primário. Bem em frente havia a Fábrica de Bebidas Andrade, de propriedade da família de Thales Castanho de Andrade. (Thales Castanho de Andrade  foi professor e escritor. Teve grande importância na área educacional. Exercendo o magistério no interior de São Paulo, conheceu as carências do sistema de ensino, principalmente a falta de livros infantis. Desse conhecimento, resultaram as medidas oficiais tomadas por ele quando foi diretor geral do Departamento de Educação do Estado de São Paulo. Foi colaborador de diversos jornais e revistas estaduais. Escreveu livros dirigidos ao público infantil e juvenil. Publicou sua primeira obra em 1918 – A Filha da Floresta – em que retrata sua preocupação com a devastação da natureza. Recebeu o título de cidadão paulistano e foi condecorado com diversas medalhas honoríficas. Escreveu, entre outras obras, Saudade, Encanto e Verdade e Campo e Cidade. Nasceu em 15 de agosto de 1890, em Piracicaba, e faleceu em 1º de outubro de 1977. )
O senhor praticava algum esporte?
Pratiquei mais tarde fiz remo, natação, halteres, jiu-jítsu e judô.
Ao concluir o ensino primário qual foi a próxima etapa de estudo que o senhor fez?
Fui estudar na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, a famosa “Escola do Zanin”. Na época ficava a Rua Governador Pedro de Toledo. Bem mais tarde a escola mudou-se para a Praça José Bonifácio. Lá eu me formei como contador.
Nesse período o senhor chegou a trabalhar em algum lugar?
Eu comecei a estudar contabilidade em maio de 1945, em frente a Casa Munhoz, no local onde havia sido a Santa Casa, passou a funcionar a fábrica de móveis do Morganti e do Sansigolo, o contador na época era Newton Pereira Motta, eu comecei a aprender contabilidade com ele. Ele saiu, veio Artur Azevedo Ribeiro, irmão do Álvaro, Rui. Em 1945 eu escriturei um diário de 1.000 páginas. Usavam-se duas canetas, uma para fazer os títulos, em ronde francesa (Este tipo de letra, demonstra uma caligrafia redonda e vertical), é utilizada uma caneta com duas pontas, na época quando se vendia uma mercadoria, recebia o dinheiro, o lançamento contábil era: “Caixa à mercadorias”. Isso porque em contabilidade tudo que entra deve, tudo que sai tem “haver”. Com essa caneta escrevíamos: “Caixa à mercadorias” era caneta com pena metálica. A escrita saia em duplicidade quando se usava essa caneta. Após escrever essas palavras, pegávamos outra caneta a comercial inglesa, para fazer o histórico.
E quando se cometia um erro?
Quando errava era um desastre! Há até uma história sobre o escrivão de cartório, o pai foi registrar o filho, quando o escrivão perguntou o nome ele disse Diogo. O escrivão escreveu Digo. Não podia raspar! O escrivão colocou: quando digo Digo não digo Digo, digo Diogo! Quando errava, na época não tínhamos os recursos que existem hoje, pegava-se álcool, passava no lugar, pegava uma massinha de trigo, passava em cima para deixar secar, um acessório essencial era o mata-borrão. Lembro-me que quando escrevi essas 1.000 páginas eu não via a hora de terminar, não agüentava mais. Levei uns dois anos. Esse livro foi para o arquivo da Refinadora Paulista, de propriedade de Lino Morganti e Miguel.
Como se chamava a fábrica de móveis?
Chamava-se Indústria de Moveis Artísticos Nacional IMA Ltda. Fabricava móveis, fazia tapeçaria, ocupava a quadra inteira onde anteriormente tinha sido s Santa Casa de Misericórdia, depois é que foram sendo desmembradas algumas partes da quadra. Essa área toda tinha sido doada por José Pinto de Almeida para a Santa Casa que ao mudar-se para a Avenida Independência se desfez da área.
Quanto tempo o senhor permaneceu na fábrica de móveis?
Posso afirmar que comecei a minha profissão ali, em maio de 1945. Estudava a noite e trabalhava durante o dia. Eu me formei em 1949.
A legislação era tão complexa como é hoje?
Imagine! Nem pensar! Naquela época a legislação mudava a cada cinco, seis meses, as vezes em um ano. Atualmente ela muda todos os dias!
Já existia esse cipoal de leis que existe hoje?
Imagine! De forma alguma! Não existia!
A tributação era voraz como é hoje?
Não. Não era!
Havia mais fiscalização?
A fiscalização não era muito intensa.
Era comum o uso de selos fiscais?
Eram muito utilizados. Em móveis, em tudo. Tinha que comprar os selos e colocar nas duplicatas, todos os bens tinham etiquetas e selos. Se a fiscalização pegasse algum produto sem selo era apreensão imediata. Esses selos eram adquiridos nas coletorias federais e estaduais. Federal nessa época era chamado de Imposto de Consumo. O selo do Estado era para selar papéis. O selo da União era para selar o produto. Havia casos de recolhimento de imposto por estimativa. (Manuel Ferraz de Campos Sales quarto presidente da República, entre 1898 e 1902, recebeu o apelido de Campos Selos, por causa do imposto do selo, sendo vaiado ao deixar a presidência também por causa de sua política de ajuste financeiro).
Sob o ponto de vista do senhor era um procedimento mais lógico?
Sem dúvida alguma!
O senhor permaneceu na indústria de móveis por quanto tempo?
Permaneci até a indústria fechar, foram uns dez anos de serviços prestados como contador, responsável pelo almoxarifado e departamento de pessoal.  .
Como era o comportamento dos funcionários naquela época?
Trabalhavam aos sábados, não havia nenhum tipo de problema, os funcionários que trabalharam lá são meus amigos até hoje.
Ao lado da fábrica passava a linha de trem?
Todos os dias passava o trem da Estrada de Ferro Sorocabana, a linha atravessava a cidade em direção a Vila Rezende, seguindo em frente. Na esquina havia a Casa Munhoz, um dos proprietários era Francisco (Paco) Munhoz, lá que o conheci. O bonde passava na Rua José Pinto de Almeida, em frente a fábrica.
Nessa época como o senhor fazia para almoçar?
Ia almoçar em casa, tinha tempo para fazer a refeição, era tudo mais tranqüilo, sem correria. Sempre usando terno e gravata.
Quando o senhor saiu da fábrica de móveis foi trabalhar em qual empresa?
Saindo de lá fui trabalhar com Virgilio Fagundes. O Morganti era cunhado do Virgilio. O escritório era no andar de cima da Relojoaria Consomagno, na Rua Governador Pedro de Toledo. Em frente aos Supermercados Brasil, do Lélio Ferrari. Era a Agave Industrial Ltda., o nome da planta é agave, comumente chamada de pitá e o nome da fibra é o sisal. Muito utilizado para fazer cordas. Eu executava a contabilidade para o Fagundes, também cuidava do departamento de pessoal.
É uma atividade de muito risco de acidentes pessoais?
A manipulação da fibra oferece riscos, era necessário cuidado redobrado. Naquela época eu executava a contabilidade do Fagundes, do Lilo Carcanholi (Francisco Eugênio Carcanholi), ele tinha uma loja de consertos de rádios a Rua Governador Pedro de Toledo, ao lado do Lider Bar, quase esquina com a Rua São José. Fazia a contabilidade do Lélio Ferrari (Supermercados Brasil), passei a realizar trabalho de contabilidade para outras empresas também, contratei funcionários, e cheguei a ter em meu escritório oitenta funcionários. Onde hoje é o prédio Sisal Center, anteriormente era uma casa, em que funcionou a Faculdade de Serviço Social, quando eles saíram passei o meu escritório para lá.  Vivi um período em que não tinha nada do que temos hoje, era tudo manuscrito. Não havia sequer máquina de somar como temos atualmente. Lembro-me das folhas de pagamento enormes. As máquinas de somar Facit, com operações feitas através de manivelas, mais tarde vieram as máquinas de datilografia com o carro maior do que o normal, para caber as folhas de lançamentos. Cheguei a usar fitas perfuradas, antecessoras do cartão perfurado. Como o volume de trabalho aumentou muito, assim que surgiu a informatização fui o primeiro escritório de contabilidade informatizado da cidade. Fui até a IBM, contratei com eles. Lembro-me que o Virgilio fez uma longa viagem, junto com sua esposa, e eu fiquei tomando conta da fábrica para ele, na época havia cerca de 60 funcionários. A fabrica tinha importado máquinas da Inglaterra, havia a plantação cujas folhas davam origem as fibras, através de uma máquina especial que triturava as folhas dando a fibra. O processo era bem avançado para a época, a corda saia prontinha.
O fornecimento da matéria prima vinha de onde?
Era cultura própria. Eram plantadas em vários locais, somando tudo dava uns vinte alqueires de plantação de agave. Da saída das Indústrias Dedini em diante era só plantação de “pitá”! Há uma cidade baiana, Conceição do Coité, grande produtora de sisal,  deu origem a plantação de sisal em Piracicaba.
(Pedro Natividade Ferreira de Camargo nasceu em Piracicaba a 8 de setembro de 1927, aos 89 anos continua em plena atividade. Ao longo da sua trajetória profissional desempenhou atividades relevantes, inovou trazendo à Piracicaba o desenvolvimento tecnológico relativo ao seu trabalho. Soube reconhecer o momento de ir buscar novas tecnologias, com isso tomou a frente de uma mudança radical, do tempo em que iniciou, com escrituração contábil manuscrita usando dois tipos de caneta tinteiro e um mata borrão para a informática em constante dinâmica. Em termos de História é um tempo relativamente curto, mas as mudanças são extremamente significativas. Nesta segunda parte da entrevista prosseguimos relatando a saga de um profissional e de uma categoria. A transição radical, a qual alguns não souberam compreender. Pedro Natividade esbanja bom humor, está atualizado, sempre com raciocínio muito rápido. Detentor de inúmeros títulos, certificados, teve uma atuação muito participativa em muitos setores da sociedade piracicabana.)
O senhor por muitos anos prestou serviços ao industrial Virgilio Fagundes, até quando?
Até quando ocorreu o seu falecimento, trabalhei com ele uns quinze anos ou mais. O seu filho, Antonio Carlos passou a tomar conta da fábrica de cordas feitas de sisal.  Com o passar do tempo houve a entrada de outros materiais, como a corda sintética, e a indústria baseada no sisal tornou-se menos rentável. Quando foram construir o edifício  Sisal Center eu mudei para o meio da quadra, propriedade do Dr. Cera, ao lado da Diocese de Piracicaba. Eu era procurador do Bispo Dom Aniger. A casa para onde mudei o escritório era pequena, o numero de funcionários que trabalhavam no meu escritório era grande, montei um estacionamento onde foi construído o Edifício Céu Azul para acolher os veículos que tinham alguma relação com o escritório.
Como o senhor mudou-se para a sede atual?
Um dia passando por aqui, estava à venda, entrei, assim que abri a porta, pensei “É essa casa que vou transformar em meu escritório!” Isso foi em 1993.



Além de contabilista o senhor é advogado?
Sou! Como contabilista, eu sempre trabalhei com empresas, além da contabilidade fazia assessoramento na parte fiscal, pessoal, administrativa, no estudo de custos. Quando surgiam os autos de infração, eu mesmo fazia as defesas, quando chegavam as férias judiciais tinha que entregar para um advogado. Nem todos, mas alguns não entendiam da matéria tributária. Eu tinha que dar orientações ao advogado. Foi assim que decidi cursar Direito, comecei o curso em 1965 e terminei em 1970. Agora como contador completei 71 anos de atividade.
O senhor é o contabilista mais antigo da cidade e que ainda está trabalhando?
Acredito que sim! Como advogado eu estou exercendo a profissão há 46 anos, me formei pela Universidade de São João da Boa Vista.
Qual área traz mais satisfação ao senhor, o Direito ou a Contabilidade?
Gostos das duas áreas sob o meu ponto de vista estão intimamente ligadas.
O senhor não atua na advocacia criminalista?
Só para os que já são clientes. Já fiz audiência, júri, só que não tenho tempo para diversificar demais minhas atividades. Na área jurídica atuo na área cívil, comercial, trabalhista, previdenciário, ambiental, internacional.
O senhor tem atuação na área internacional?
Já fui com clientes para a Itália, Espanha, Inglaterra, Portugal, Alemanha, Egito, Israel. Tenho clientes em Uruguaiana, São Borja, Santa Maria, Porto Alegre, Canoas, Santa Catarina, São Pulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Piauí, Fortaleza. Forçosamente tive que aprender Espanhol, Italiano, Inglês, um pouco de Francês e agora estou aprendendo Árabe. Tenho um cliente que quer que o acompanhe para negócios, assessoramento nos contratos.
Há notáveis diferenças nas legislações de um país para outro?
Tem, isso é notável. Além disso, por exemplo, em Nápoles tive uma conversa em italiano, onde compreendi poucas palavras do que o meu interlocutor dizia, ele estava usando o dialeto napolitano! Acabei tendo que conhecer um pouco do dialeto napolitano, do dialeto siciliano. Na Alemanha, por exemplo, um funcionário graduado do Estado, viaja com o cartão dele. Não tem mordomia.



O senhor acesa normalmente a internet?
A informática é uma ferramenta que utilizo há muito tempo, quando trouxe equipamentos da IBM para o meu escritório, foi o segundo equipamento a ser utilizado para fins comerciais em Piracicaba, o primeiro foi do Dedini, de onde eu trouxe um casal para vir trabalhar nessa área conosco. Eu trabalho 15 a 16 horas por dia, achei que estava levando uma vida sedentária, disse ao meu médico que teu tinha vontade voltar a fazer natação, musculação. Ele recomendou que eu fizesse alguns exames antes, isso já faz um ano, eu ainda não fiz os exames.  Isso porque quando entro no meu escritório, me evolvo de tal forma com o serviço. Percebi que cuido dos interesses de todos, mas não dou a devida atenção a mim mesmo.
O senhor começou a praticar esportes com que idade?
Comecei a praticar esportes com 12 anos: andando de bicicleta, montando em animais. A noite eu entrava no Rio Piracicaba, pela chamada “caixa funda”, em frente ao Mirante era a cachoeira, eu mergulhava na toca, com um saco, pegava os peixes e vendia para a Brasserie. Nessa época eu tinha uns 14 a 15 anos. Na Rua Alferes José Caetano tinha uma sapataria, eu namorava a filha do proprietário. Domingo era dia de levar a namorada ao cinema, meu pai dava algum dinheiro, mas dentro das posses dele, para arrumar mais algum dinheiro eu fazia isso. Fiz isso diversas noites, até que certa noite eu estava com o saco de peixes cheio pela metade mais ou menos, passei a mão, senti uma coisa lisa, na hora pensei: “-É peixe sapo!”. Tirei para fora, foi quando percebi que era um rolo de cobras, fiquei apavorado! Joguei e saí rapidamente, ai comecei a escorregar nas pedras, feri tornozelo, canela, peito, fiz um estrago.
Não era uma temeridade andar no Rio Piracicaba, à noite, com corredeiras!
Era. Depois disso decidi que estava na hora de parar.
Quais eram os peixes mais comuns?
Cascudo, lambari, mandi, pegava de tudo. Eu atravessava o rio em frente ao antigo Mirante, bem mais abaixo do que o novo. Tem a queda da água, eu entrava por baixo da água. Onde é hoje a Rua do Porto era tudo terra. A principio eu ia sozinho, depois quem começou a ir comigo foi o João Perdido, ele trabalhava no correio.
Tinha alguma razão para ele ter esse cognome?
Era uma pessoa espetacular, ele perdeu tempo nisso, naquilo, então acabou sendo conhecido como João Perdido.
O judô, karate, o senhor fez onde?
No Club de Regatas de Piracicaba, ali pratiquei remo, sandolin, catraia, o Julio era o “patrão” que comandava o barco, dava as ordens e dirigia o leme, era também quem tomava conta do clube. Remávamos eu e um colega. Nós descíamos até Santa Terezinha. No mínimo umas três vezes por semana remávamos. Pratiquei esportes dos 14 anos até os 24, quando me casei.
Qual é o nome da sua esposa?
Ruth de Lourdes Moschini de Camargo, ela faleceu com 46 anos, tivemos nove filhos.
Como o senhor e sua esposa se conheceram?
Foi “quadrando” jardim! Casamos na Igreja Sagrado Coração de Jesus, conhecida como Igreja dos Frades em 1951. Meu sogro Augusto e minha sogra Antonieta vieram da Itália, ele foi maquinista da Estrada de Ferro Sorocabana. 
O senhor é fundador de várias entidades em Piracicaba?
Eu fundei a Associação dos Contabilistas de Piracicaba, depois eu transformei em sindicato e fui o Primeiro Presidente, nessa época eu era Delegado do Conselho Regional de Contabilidade. Fui Presidente do Conselho de Contribuintes da Prefeitura, na gestão de Humberto de Campos e de José Machado.
Como o senhor ingressou na Política?
Em decorrência das minhas atividades associativas fiquei conhecendo o pessoal do PR- Partido Republicano, isso foi em 1962, fui eleito vereador em 1964 e fiquei até 1969, o prefeito era Luciano Guidotti. Antes de ser vereador eu assessorava o Luciano Guidotti quando ele tinha agência de carros GM na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com a Rua São José.
Como era trabalhar com Luciano Guidotti?
Ele era muito incisivo e determinante. Dizia : “Eu quero assim!” e não tinha conversa. Ele não era autoritário, era exigente. Ele gostava de trabalhar comigo porque também sou exigente. Quando ele foi eleito prefeito eu estava sempre no gabinete, tem até uma passagem pitoresca, a qual presenciei. Determinada instituição, através de seus representantes foi pedir que aprofundasse o fundo de um poço existente, o Luciano disse que dentro das características pré-existentes seria impossível sair água daquele poço. Após muita insistência por parte dos representantes da instituição, o Luciano convidou-me a ir até o local. O poceiro já estava lá, tinha colocado várias bananas de dinamite para alargar e aprofundar o poço.  Assim que chegamos, foi dado o inicio a explosão que deveria teoricamente dar resultado, mas devido a formação do terreno o Luciano já previra o fracasso da operação. Aceso o pavio, ocorreu a explosão e houve a implosão, ou seja, o poço foi praticamente soterrado. Sem se dar conta da recatada platéia, Luciano soltou um sonoro palavrão, confirmando que o seu diagnóstico feito anteriormente estava correto: o trabalho a ser feito era bem mais complexo do que supunham as pessoas daquela instituição. Essa história correu a cidade com todas as letras, pontos e vírgulas.
Ele era direto?
Era direto! Na Avenida Dr. Paulo de Moraes era a Garagem Municipal, ele chegava bem cedo, se via algum funcionário sem fazer nada já dizia poucas e boas, não media as palavras, lembro-me de uma ocasião em que na saída para São Paulo estava sendo realizada uma obra, Luciano Guidotti chegou logo cedo, encontrou o pessoal de braços cruzados, ele ficou profundamente irritado com isso, quis saber o motivo, recebeu como resposta que estavam esperando o engenheiro responsável pela obra chegar e traçar a rotatória. Luciano subiu em uma caminhonete, fez um giro de 360 graus demarcando no chão de terra o circulo da rotatória e disse: “-Vai ser aqui” O que ele demarcou está até hoje funcionando. Outra obra que estava em construção era a Avenida Centenário em direção ao Lar dos Velhinhos de Piracicaba. O pessoal estava em duvida, em que local iria iniciar a avenida. Com seu linguajar próprio quando ficava nervoso, traçou com o pé o local aonde iria iniciar-se a avenida. O traçado é o mesmo até hoje. Era assim que o Luciano decidia: era prático!
O senhor tinha uma relação muito próxima com o Comendador Mário Dedini?
O meu escritório era onde hoje é o Edifício Sisal Center, ali era uma residência que tinha sido adaptada para escritório, muitas noites eu recebi o Comendador Mário Dedini, em conversas sobre assuntos comerciais que eram fundamentais para alguma decisão a ser tomada. Lembro-me que o Comendador Mário chamava de “oficina” o que já era uma das maiores indústrias do Estado de São Paulo, em seu ramo. Outro que freqüentava a noite o meu escritório era o Leopoldo Dedini, ele batia na janela e dizia: “-Abra a porta!”. Passava horas conversando. O Armando Dedini também vinha algumas vezes.
O senhor conheceu a Vereadora Maria Benedicta Pereira Penezzi?
Conheci a “Ditinha” como era carinhosamente chamada. Ela e eu tinhamos grandes divergências na Camara Municipal, mas fora eramos bons amigos. Ela era muito popular. Lembro-me que o Cemitério Municipal tinha suas ruas em chão de terra, quando o prefeito Luciano decidiu calçar as ruas do cemitério, deu-se uma enorme discussão na Camara Municipal.
O senhor não pemsou em se reeleger?
Não, porque o escritório começou a crescer, e eu não tinha mais tempo. Como vereador, membro de diversas comissões municipais, nunca ganhei um centavo. Vereador naquela época não tinha salário, nem ajuda de custo, Pagava tudo do próprio bolso, isso sem contar os mais necessitados que sempre iam buscar junto ao vereador algum tipo de auxilio, que se fosse dado sairia do bolso do próprio vereador.
E essa sua famosa paixão pelo automóvel Galaxie, como surgiu?
Meu primeiro carro foi um Simca. Depois eu adquri um Galaxie Landau, vermelho, ano 1978. A seguir adquri um outro do ano 1982, e tive outro ano 1983. Portanto eu tinha três Landau. Por um bom tempo tive os três veículos. Um dia chegou um senhor e perguntou-me: - De quem é esse “tomove”? Respondi- lhe: Esse “tomove” é meu! Ele enfiou a mão no bolso, tirou um maço de dinheiro e disse-me: “- Não é mais!”. Disse-lhe: “-Acho que o senhor veio no endereço errado, não quero vender!”. Ele enfiou a mão em outro bolso, tirou outro pacote de dinheiro, e disse-me: “- Não é mais!”. Disse-lhe mais uma vez: “Eu já falei ao senhor que não estou interessado em vender o carro!”. Ele tirou outro pacote maior de dinheiro, jogou em cima, e disse-me: “Não é mais!”. A primeira nota era de cem reais, fiquei iaginando o que teria no meio, se eram todas notas de R$ 100,00. Depois de uns 20 minutos de conversa, disse-lhe que eu não estava interessado em vender os carros. Ele então perguntou-me se caso eu fosse vender quanto eu queria. Disse-lhe que queria R$ 50.000,00 cada carro, ele ofereceu-me R$ 35.000,00 cada. Fechamos o negócio. Acredito que ele era colecionador, sem falsa modéstia meus carros estavam impecáveis. At´e hoje tenho saudade do Galaxie. Era um veículo excepcional, tinha uma potencia fantástica além de um conforto muito grande.
O senhor trabalhou para alguma empresa de auditoria?
Fui auditor da Price Waterhouse, através de Laerte de Souza Carvalho, em uma das oportundades fui fazer sozinho auditoria na epresa Camargo Correia, a pedido da própria empresa Camargo Correia. Isso foi por volta de 1961. Asssim que cheguei a empresa, apresentei as minha credenciais. O cidadão pegou o meu documento, olhou demoradamente. Até que disse-me: “-Nós somos parentes!”. Disse-lhe que seria possível, a família Camargo é muito grande, a origem da família Camargo é na Espanha, lá existe uma área, que é praticamente um Estado, que se chama Camargo. Comecei o meu trabalho, era uma auditoria de caixa. Conferi o dinheiro do caixa, a meu modo, colocando nota sobre nota, conforme o valor de cada cédula. O diretor que estava ao meu lado disse-me: “-Você nem contar dinheiro não sabe!”. Eu, como auditor de uma empresa internacional, não sabia contar dinheiro? Disse-he: “- Sempre contei dinheiro assim, nunca tive problemas, e não será aqui na sua empresa que vou ter problemas!”. O diretor da Camargo Correa disse-me: “- Dinheiro se conta assim!” Arrumou as cédulas, fez um pacotinho, dobrou e disse-me: “- Dinheiro conta-se assim: prá mim, pra mim, pra mim...”. Movimentando as cédulas em direção a ele. Eu disse-lhe, está provado que os Camargo são descendentes de judeus, e expliquei-lhe, tenho um parente que tem uma loja de ferragem, a tarde ele faz o caixa, conta como o senhor contou, dobra o dinheiro e coloca um elático para fazer o depósito. Vai ao banco faz o depósito, com habilidade o caixa conta o dinheiro, dá-lhe o recibo, entrega-lhe. Ele continua no guichê. O caixa pergunta: “-Tudo certo?”. Esse meu parente diz: “-Não”. “Mas como!”, diz-lhe o caixa. “-Já contei o dinheiro, dei-lhe o recibo. O que está faltando?”. Meu perente simplesmente responde: “-Devolve-me os meus elásticos!”.  


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