domingo, março 28, 2010

MARIA APARECIDA PEDREIRA JOLY

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 27 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: MARIA APARECIDA PEDREIRA JOLY




Um poeta no auge de sua inspiração, tomado de amor pela beleza da majestosa queda de águas do Rio Piracicaba poderia até dizer que há mulheres em Piracicaba, donas de idades já expressas em três dígitos, que mantêm uma disposição física e intelectual das mais lúcidas e dispostas. Seria um milagre das águas do Piracicaba? Exemplos não faltam. Bela Joly é mais uma dessas mulheres incríveis, espírita, encontrou muitos desafios em sua convicção religiosa. Ainda bem moça conheceu um dos grandes nomes da doutrina espírita, o piracicabano Pedro Camargo. Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, faleceu no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo. Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, sem mencionar Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius. Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de trazer para cá famosos artistas. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do Partido Republicano. No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação. Dentre os seus fundadores salientava- se a figura de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição trouxe a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo. Pedro de Camargo tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial. Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação da Doutrina Espírita. No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista

Como surgiu o cognome de Bela?

Foi o apelido que papai me deu. Joly é o sobrenome do meu marido. Sou piracicabana, nasci na esquina da Praça com a Rua São José, era onde ficava o Hotel Lago, propriedade do meu pai, José Vicente Pedreira. Minha mãe é Etelvina Silveira Pedreira. Papai é piracicabano e mamãe nasceu em São Pedro. Tiveram sete filhos, eu sou a penúltima.

Seu pai sempre teve hotel?

Não. Ele trabalhava no comércio. Ele passou a ter o hotel depois que se casou. Quando se casaram mamãe tinha quinze anos de idade e ele uns dezoito anos de idade.

Onde ficava o Hotel do Lago?

Como disse-lhe, ficava na esquina da Rua São José com a Praça, tinha uma porção de quartos, na outra esquina havia o Hotel Central, que era um hotel mais fino. O nosso era o segundo melhor hotel da cidade, só que o que chamava a atenção do nosso era a qualidade da comida, quem fazia era a minha mãe! O Hotel do Lago era um prédio bonito, não era sobrado, foi derrubado e no local foi construído o Clube Paulistano, mais tarde denominado Clube Coronel Barbosa.
 
Um hospede (adulto em pé), José Vicente Pedreira (proprietario e pai de Bela Joly) e o garoto também um provável hospede.

Quantos quartos tinham no Hotel do Lago?

Eram uns quinze quartos. Era muito procurado por viajantes.

Que tipo de comida gostosa havia no hotel?

Mamãe fazia de tudo, ela era ótima cozinheira. O arroz dela era uma delicia. A canja era uma delícia. Nós não tínhamos contato com o hotel, tínhamos uma casa ao lado, na Rua São José, havia um portão muito bonito, com duas grades muito bonitas. Tanto papai como mamãe não permitiam que nós tivéssemos contato com os hospedes do hotel.

O banheiro para os hospedes como era?

Havia um banheiro e dois chuveiros. Eram chuveiros frios. Naquele tempo não tinha essas coisas de chuveiro quente.

Quantas pessoas dormiam nos quartos para hospedes?

Dormia uma única pessoa, eram quartos pequenos. Havia uma família que morava no hotel e tinha três ou quatro crianças. Na época eu tinha sete ou oito anos de idade.

Em que dia a senhora nasceu?

Nasci no dia 30 de outubro de 1908. Graças a Deus fui uma boa professora, sem falsa modéstia. Sou estimada pelos meus alunos, quando se encontram comigo na rua me carregam! Como professora eu era exigente, muito exigente, fazia questão que eles soubessem a matéria e não colassem. Eu não admitia cola.

Onde a senhora estudou?

Estudei onde atualmente é o Sud Mennucci, depois estudei em uma escola prática de odontologia que mudou para São Paulo. Eu parei os estudos nessa área.

Iria seguir a profissão de dentista?

Não! Eu gostava de estudar. Até hoje eu gosto de estudar.

Com a formação de professora onde a senhora foi lecionar?

Inicialmente fui dar aulas em Ipauçu, em uma escola rural, morava na casa dos proprietários da fazenda onde ficava a escola. Eu era estimadíssima lá. Para chegar até Ipauçu ia de trem, de lá seguia até o local onde era a escola em um dos dois automóveis que existiam na localidade naquela época. Permaneci um ano lecionando lá, em seguida prestei um concurso e fui removida para uma pequena escola no município de Piracicaba. Um fato marcante aconteceu na época. Meu irmão Luiz salvou a filha de Sud Mennucci de ser atropelada por um automóvel. Ele a agarrou retirou-a do iminente atropelamento e ambos foram ao solo, sem que acontecesse a tragédia com a criança. O Sud Mennucci foi sempre grato por esse ato que salvou a sua filha Astarté. Graças a ele eu vim á Piracicaba. Depois entrei em concurso e adquiri o direito de lecionar no Grupo Escolar Moraes Barros, em Piracicaba. Uma moça que tinha entrado no Moraes Barros foi para Charqueada onde eu estava e eu vim ara cá no lugar dela.

Conheceu Thales Castanho de Andrade?

Ele foi meu professor de história.

Teve aulas de música?

Tive com Benedito Dutra e Seu Lozano. Eram dois ótimos professores. O Seu Lozano era muito exigente.

Teve aulas de trabalhos domésticos?

Aprendi uma porção de pontos, crochê, tricô, a professora era a Dona Zinha.

A senhora teve aulas de português com quem?

Tivemos aulas com o Dr. Toninho Pinto, ele tinha muito conhecimento da matéria, muito acima da média, isso distanciava um pouco os alunos do mestre. Tivemos aulas com Benedito Dutra.

A senhora lembra-se do Teatro Santo Estevão?

Era uma belezinha de teatro. Atrás do teatro ficavam os carros de praça.

Como foi a movimentação da Revolução Constitucionalista de 1932?

Éramos entusiastas do movimento realizado por São Paulo. Fazíamos roupas, costurávamos, embaixo era o teatro, em cima era um salão de costuras, éramos em mais de vinte pessoas costurando, Dona Eugenia da Silva era a chefe, sempre foi uma pessoa de princípios filantrópicos, hoje a Rua Dona Eugenia é em sua homenagem. O folclorista João Chiarini a chamava de Santa Eugenia. Fomos muito amigas, a nossa diferença de idade era grande, mas os nossos pensamentos eram semelhantes.

Conheceu o Professor Walter Accorsi?

A Judith, sua esposa, foi minha colega!

Meu irmão Luiz Silveira Pedreira foi professor catedrático de química na ESALQ. Meu irmão Antonio formou-se na ESALQ. Meu irmão Milton embora dentista nunca exercesse a atividade.

O habito da leitura é cultivado pela senhora?

Adoro ler! Gosto de tudo, inclusive romances policiais de suspense.

Existe algum livro escrito pela senhora?

Ah não! Deveria talvez escrever a minha vida. Vou pensar nisso.

Como surgiu a Sorveteria Paris?

O avô do meu marido era francês, meu marido chamava-se Mario Joly, e ele colocou o nome de Sorveteria Paris em homenagem ao seu avô.

Como surgiu a idéia de colocar uma sorveteria em Piracicaba?

Meu marido não gostava de lecionar, para ampliar a renda familiar ele colocou a sorveteria. A sorveteria tinha um movimento! Faziam fila para tomar sorvete! Ficava na Rua Prudente de Moraes esquina com a Praça José Bonifácio.

Quem fazia a massa do sorvete?

Inicialmente era o Pink, um sorveteiro quem fazia a massa do sorvete. Ele resolveu sair e montar a sua própria sorveteria, que infelizmente não deu certo. Passei a fazer os sorvetes, usando sempre frutas, nada de pó artificial.

Aonde eram encontradas as frutas?

No mercado! Piracicaba é uma cidade que produz muitas frutas.

Qual era o sorvete mais vendido?

O segredo do sorvete está no açúcar utilizado. Todos eram feitos com frutas naturais.

Poucas pessoas sabem mais a sorveteria proporcionou uma agradável viagem?

Graças a sorveteria fomos passear na Europa! Vendíamos muitos sorvetes.

As famílias iam até lá para tomarem sorvete?

Havia um salão com mesinhas que ficava cheio de pessoas. Dr. Lula ia tomar sorvete. A família do Dr. Samuel de Castro Neves mandava buscar sorvetes com um canecão. O Arnaldo Ricciardi ia sempre conversar com meu marido.

Uma pergunta indiscreta, alguém ficou devendo sorvete para a senhora?

Muita gente! Muita gente não pagou!

O que a senhora falava?

Ia falar o que? Brigar com eles?

Por quanto tempo a senhora foi proprietária da Sorveteria Paris?

Ficamos com a sorveteria por uns quatro anos, depois meu marido resolveu vender, quem comprou foi um japonês, inclusive comprou as fórmulas dos sorvetes.

Os famosos comícios que eram feitos na praça a senhora assistia?

Veio muita gente fazer comício em Piracicaba.

O que a senhora mais gosta de Piracicaba?

Gosto de tudo!

Como é ter 101 anos de idade?

É a mesma coisa! Não há diferença nenhuma!

O que a senhora imagina que seja a morte?

Ainda hoje eu estava dizendo sobre isso, não existe morte, o corpo desaparece mas o espírito permanece. É o espírito que domina que manda no corpo. Portanto a morte não existe. A morte não é nada, Deus nos pôs aqui e nos deu a oportunidade de nós nos desenvolvermos e voltarmos no ambiente Dele, não no nosso ambiente que é bem abaixo do ambiente de Deus. Naturalmente que não iremos ficar em um ambiente com Deus, mas sim que iremos á um ambiente melhor.

Gosta de assistir televisão?

Assisto ao programa do Silvio Santos, sinceramente eu não gostava dele, o achava muito convencido, mas agora ele quase não aparece.

Aos fins de semana como são seus passeios?

Passeio pela praça, nas imediações da minha casa, periodicamente reúno meus sobrinhos em um almoço que realizo em minha casa.

Por determinado período de tempo sua residência foi em Santos?

Morei em Santos e em São Vicente. Em ambas as localizações eu tinha vista para o mar. Na época mergulhava nas águas do mar.

Em São Paulo a senhora morava em que local?

Morava na Avenida São João, que na época era um local muito bem conceituado.

Qual seu tipo de musica predileto?

Gosto de música clássica.

A senhora pertence a alguma associação beneficente de Piracicaba?

Eu e a família Salatti que fundamos o Centro Espírita. O Senhor Pedro de Camargo com pseudônimo de Vinicius era um pregador maravilhoso, gostava muito do evangelho. A União Espírita fomos nós que fundamos. Eu era muito amiga de Adélia Salatti, em frente á casa dela havia o Centro Acadêmico Luiz de Queiroz.

A senhora viajou pelo exterior?

Na Europa conheço 16 países, conheço todos os países da América. O Brasil é melhor por causa do seu povo.

Gosta de pintar?

Tenho facilidade para desenhar. Embora não toque gosto muito de violino.

Em que igreja a senhora casou-se?

Casei-me apenas no civil por professar o espiritismo.







sábado, março 20, 2010

MARIA CONÇEIÇÃO FIGUEIREDO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 20 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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http://www.tribunatp.com.br/
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ENTREVISTADA: MARIA CONÇEIÇÃO FIGUEIREDO

Com seus 101 anos de idade, sorridente e elegante, Maria Conceição Figueiredo é uma das fundadoras do Clube da Lady, entidade assistencial composta por senhoras com elevado espírito de fraternidade. Sua idade cronológica destoa completamente da sua aparência, disposição e saúde. Mantém com naturalidade a posição importante que sempre ocupou, tratando a todos com a simplicidade dos bens nascidos, sem deslumbramentos ou devaneios. Por muitos anos a rádio de sua propriedade foi a única voz da cidade, até surgirem outras rádios que se integraram á comunidade. Fundada em 12 de outubro de 1933 por João Sampaio Góes a Rádio Clube que em 1944 passou a chamar-se Rádio Difusora, foi adquirida em 1950 pelo casal Aristides e Maria Conceição Figueiredo.

Onde a senhora nasceu?

Nasci em Batatais em 8 de dezembro de 1908, sou filha de Paschoal Pipa e Michelina Ricci Pipa. Papai nasceu em Nápoles, Itália, aos 18 anos de idade veio para o Brasil onde montou uma fábrica de móveis. Isso foi na cidade de Batatais, onde ele conheceu minha mãe. Meus pais tiveram quatro filhos. Três mulheres e um homem, eu sou a caçula das mulheres. Todos já faleceram! Só eu estou viva! E graças a Deus com a cabeça muito boa! Deus sempre foi muito bom para mim, me deu sempre saúde e cabeça muito boa.

Seus estudos foram feitos em Batatais?

Estudei em Batatais, onde conheci o meu marido e casei-me com Aristides Figueiredo Quando nos casamos ele trabalhava em um banco, depois passou a ter seu próprio negócio, isso já na cidade de São Paulo. Permanecemos morando em São Paulo por vários anos, no Jardim Europa. Um nosso representante o Seu Macedo, disse ao meu marido: “- Figueiredo tem uma rádio em Piracicaba, você não quer comprá-la?” Nós já tínhamos tido uma rádio em Uberlândia e a tínhamos vendido. Meu marido veio á Piracicaba, gostou, em cinco minutos fechou o negócio. Ele adquiriu de João Sampaio Góes.
O que levou João Sampaio Góes a vender a rádio?

Ele queria morar em São Paulo, junto aos filhos, um era médico, outro advogado.

A rádio situava-se no mesmo local que é hoje?
No mesmo local. Era Rádio PRD-6. Mudamos para Piracicaba, Figueiredo gostou daqui, achou a cidade muito boa. No primeiro mês Figueiredo já multiplicou o faturamento da rádio por seis vezes. Ele pessoalmente saia na praça para vender os anúncios.

Como foi o contrato com o João Belinaso Neto o famoso Léo Batista?

Figueiredo o trouxe! (Depoimento de Leo Batista para Observatório da Imprensa em 11 de julho de 2007: “Andei por mil lugares, até que um tio me mandou procurar um amigo dele, Aristides Figueiredo, que tinha acabado de comprar a Rádio Difusora de Piracicaba. Na época, o XV de Novembro, time local, tinha subido para a primeira divisão do Paulistão e ele buscava um locutor esportivo. Passei a acompanhar e narrar os jogos do antigo campo da Rua Regente (ainda não existia o estádio Barão da Serra Negra). Depois, comecei a ir para o Pacaembu, a Vila Belmiro... Eu era atrevido. Vim até para o Rio transmitir a Copa de 50”.)

Qual era a sua atuação na rádio?

Eu gostava da parte financeira! Trabalhei por cinquenta anos na rádio.

É difícil trabalhar com artistas?

É! Mas é também um ambiente gostoso, alegre. Vinham muitos artistas de fora, conversávamos. Trazíamos muitos shows da Rádio Nacional, fazíamos shows no Teatro Santo Estevão, a rádio transmitia de lá. Luiz Gonzaga fez um grande sucesso em Piracicaba. Ângela Maria, Celso Guimarães. Eram artistas da Rádio Nacional que faziam muito sucesso e Figueiredo os trazia á Piracicaba. Emilinha Borba cobrou um valor caríssimo para vir á Piracicaba, e mesmo assim deu lucro! Foi um alvoroço tão grande, que foi necessário proibir a entrada de todos que queriam vê-la.

Os políticos freqüentavam a rádio?

Uma coisa que meu marido não gostava era de político. Mesmo assim eles freqüentavam a rádio, era um movimento muito grande de políticos. Faziam propagandas, pagavam por essas propagandas. Faziam um palanque na Praça José Bonifacio, de onde os seus comícios eram transmitidos pela rádio. A sala de visita da cidade era a Rádio Difusora, lembro-me do Juscelino Kubitschek, muito simpático.

Qual é a sua religião?

Sou Católica Apostólica Romana. Sempre tivemos uma relação muito boa com a Igreja Católica, até hoje. Sempre tivemos muita união com os párocos, bispos. Monsenhor Rosa era muito querido. Monsenhor Jorge até hoje vai á rádio.

Como era a relação da Radio Difusora com as demais rádios da cidade?

No principio não havia outra rádio. Depois é que veio a Rádio A Voz Agrícola. Nossa relação sempre foi muito boa, e continua sendo, tanto com a Professora Ana Maria Meirelles de Mattos, como com o Dr. Jairo Ribeiro de Mattos. Sempre tivemos muita amizade.

A Rádio Difusora transmitia desfiles de carnaval?

Havia corso na praça, transmitíamos de cima de um palanque.

O ponto alto da Rádio Difusora era o auditório com transmissões ao vivo?

Havia muita alegria. O infantil era domingo ás 10 horas da manhã, enchia de crianças. E havia o auditório normal que era a noite. Havia também o cururu, o Nhô Serra era uma pessoa importante para as apresentações do cururu. Muitos valores musicais foram criados pela Rádio Difusora. Tenho saudades daqueles tempos.

Ari Pedroso foi um dos grandes nomes da Rádio Difusora.

Muito querido, ele fazia um programa que todo mundo gostava. Era muito amigo nosso.

E as famosas gincanas da Rádio Difusora?

Eu participava, era aquele movimento na rádio! O José Roberto Soave, casado com a minha sobrinha Conceição Soave, gostava de fazer essas gincanas.

Da sua parte havia algum programa preferido dentro da rádio?

A Rádio Difusora é como se fosse uma pessoa amiga. Até hoje eu quero muito bem a Rádio. Sempre que há algum evento importante eu vou até a rádio. Não costumo ir todos os dias por causa das escadas que tenho que subir no prédio.

Celso Ribeiro, um dos mais experientes profissionais em sonoplastia do rádio piracicabano é muito estimado pela senhora?

Ele é antigo na rádio! São quarenta e dois anos que ele trabalha lá. Permaneci cinqüenta anos trabalhando na Difusora, eu morava na Rua Alferes José Caetano, onde hoje é a Agencia de Turismo Monte Alegre. Ás 8 horas da manhã eu já estava na rádio, ia almoçar em casa e voltava permanecendo até as 6 horas da tarde. Fazia esse caminho a pé.

Quem fazia a programação artística da rádio?

Havia um profissional responsável pela programação, quando eu queria alguma coisa especial eu então falava com essa pessoa.

A Rádio Difusora é uma força muito grande?

Ela tem expressão na historia do rádio nacional, pelo fato de ser uma das mais antigas do nosso país. São 76 anos de existência, é uma tradição da cidade.

Quando surgiu a televisão, qual foi á reação das rádios?

Não sofremos tanta repercussão, talvez pelo fato da rádio possuir seu público determinado, o povo até hoje gosta do rádio.

Qual é a sua opinião sobre a internet, a televisão?

Televisão eu gosto, assisto algumas novelas da TV Globo. É uma distração, gosto de ver o drama. A internet não me atrai.

Como é a relação da Rádio Difusora com o XV de Piracicaba?

Sempre foi muito boa. Meu marido gostava do XV de Novembro. Demos sempre muito apoio ao time. Todas as entidades de Piracicaba receberam sempre muito apoio da Rádio Difusora. A Rádio Difusora é uma entidade de portas abertas, ela sempre ajudou, sempre colaborou.

As transmissões de futebol eram verdadeiras aventuras?

Eram sim! Era uma loucura! Mas sempre transmitimos futebol, basquete.

Em que ano faleceu Aristides Figueiredo, seu marido?

Foi em 30 de maio de 1962.

Uma das maiores tragédias já ocorridas em Piracicaba foi a queda do Edifício Luiz de Queiroz (COMURBA), que ruiu praticamente na porta da Rádio Difusora?

Eu já estava viúva. Para ir até a Rádio Difusora precisava dar uma volta, não era possível passar pela praça. Demos todo apoio possível. O Caldeira era o gerente da rádio, foi quem assumiu o comando das ações desenvolvidas pela Rádio Difusora em um momento muito difícil para todos.

A prestação de serviços de uma rádio pode ás vezes se tornar quase um serviço social?

Sempre colaboramos com as instituições de caridade. Procurávamos encaminhar as pessoas para os órgãos de assistência social em casos especiais.

Até algumas décadas levavam-se horas para completar uma ligação telefônica, muitas vezes de péssima qualidade. O rádio foi muito importante nessa época?

Existia um programa chamado “Programa Ás Suas Ordens”, que consistia basicamente em mandar mensagens, recados de toda natureza, principalmente entre a cidade e a zona rural, ou entre localidades vizinhas. Mandavam-se lembranças para fulano. Avisava que beltrano estava doente. Cicrano foi operado. Eu devo dar Graças a Deus que a Rádio Difusora é uma emissora que mantém até hoje um nome bom, funcionários antigos, outros aposentados, as minhas sobrinhas gostam da rádio e tomam conta dela.

Qual sua visão do futuro do rádio como veículo de comunicação?

Acho que o progresso deve existir em todos os setores, para o rádio também. Ele não esmoreceu com o aparecimento da televisão. Ele manteve-se em seu patamar. Basta ver que a rádio funciona até hoje, com funcionários, propaganda.

Qual é o alcance da Rádio Difusora?

Ela está com uma potencia boa de 5.000 Watts. Isso significa que pode atingir até o Paraná. Tudo pertence á própria rádio, não há equipamentos alugados. O prédio onde se situa a rádio, a chácara onde fica localizado o transmissor, são aquisições que fiz após o falecimento do meu marido. Tive que ter muita determinação para poder realizar tudo isso.

A sua paixão por rádio é semelhante a que o seu marido tinha?

Ele gostava muito, era apaixonado pela rádio.

O fato de ser proprietária de uma rádio sempre implicou em receber um tratamento diferenciado?

Acho que sempre tive muito respeito. Meu nome é muito bom. A Rádio Difusora é uma emissora que tem um nome respeitado.

Já tentaram comprar a rádio da senhora?

Muitas vezes! Só que eu não vendo!

É comum uma pessoa aproximar-se de uma rádio com objetivo político?

O político quer a rádio. Nós sempre colaboramos, nunca tivemos preferência por um ou por outro. Trabalhamos com todos, mantivemos o padrão de justiça.
O radio é como uma cachaça?

Eu acho que é! É uma cachaça!

A senhora gosta de falar ao microfone?
Nunca falei! Nem eu nem meu marido!

A seleção de programas sempre foi rigorosa?

Sempre tivemos muito cuidado com as pessoas que iam apresentar um programa. Não pode ser qualquer pessoa, tem que ter muito critério.

O que a senhora acha do programa Hora do Brasil?

Acho que somos patriotas, temos que aceitar. É o Brasil!

Existe o Poder Legislativo, o Poder Executivo, o Poder Judiciário. A imprensa, e no caso em especial o rádio, é um quarto poder?

O rádio tem muito poder, muita força e se for criteriosa é melhor ainda. Não se pode fazer qualquer coisa, desmoralizar alguma pessoa, alguma entidade. É um instrumento muito perigoso.

No período de 1945 era proibida a posse de receptores de rádio aos estrangeiros, especialmente aos alemães, italianos e japoneses?

Lembro-me disso.

Como proprietária de rádio era difícil assistir a uma situação dessas?

Acho que é necessário ter muito critério. Critério é tudo para a sobrevivência de uma rádio.

A busca pela audiência pode comprometer o compromisso educativo do rádio?

Tem que se ter muito cuidado com pessoas explosivas, que empregam expedientes apelativos. O rádio tem o papel educativo. Sem prejudicar os ouvintes. Se pudermos fazer o bem, não devemos fazer o mal. Temos que ter um critério na emissora, para que ela não perca a sua utilidade.

A senhora acredita em horóscopo?

Como cristã não acredito!







domingo, março 14, 2010

MARCIO ANTONIO STANKOWICH

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de dezembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.tribunatp.com.br/
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ENTREVISTADO: MARCIO ANTONIO STANKOWICH

Trazido em 1856 para o Brasil, pelo precursor Pedro Stankowich, atualmente é coordenado por Antonio Stankowich, sua esposa Miriam e os filhos Adriana, Márcio e Marlon, que construíram uma grande companhia considerada por críticos e empresários circenses como sendo um dos maiores circos da América Latina. São seis gerações empenhadas em manter viva a tradição do Circo Stankowich, a companhia mais antiga do Brasil. Para iluminar esta cidade viajante são necessários 10 km de cabos de eletricidade, projetores especiais para o picadeiro que possibilitam a realização de efeitos especiais. O circo também usa um gerador de eletricidade de emergência com uma saída de 150 quilowatts de força. O sistema de som tem 5 mil watts totalmente digital. No transporte, o circo utiliza 23 carretas, 35 trailers-moradia dos artistas, oito cavalos mecânicos (caminhões) que viajam por todas as estradas carregando cerca de 800 toneladas de equipamentos. A montagem da grande estrutura do circo leva apenas 8 horas. . Para acomodar tal estrutura é preciso um terreno de 30 mil metros quadrados. A montagem do circo leva apenas 8 horas. A gigantesca lona é antichamas e resiste a ventanias e temporais, trabalham no Circo Stankowich 155 pessoas, entre artistas e outros profissionais como administradores, publicitários, equipe de som e luz, técnicos, camareiros, motoristas, mecânicos, ajudantes e técnicos especializados para montagem. Com capacidade para 2000 pessoas que se acomodam com todo conforto e segurança, o Circo Stankowich também possui uma bela praça de alimentação acarpetada e que oferece uma ampla variedade de produtos. O Circo Stankowitch realiza cerca de 500 shows e não utiliza animais em suas atrações recebe anualmente mais de 130 mil pessoas. De origem romena, o Circo Stankowich mantém uma tradição na qual a arte circense vem transmitida de geração para geração. Em 1856, Pedro Stankowich chega ao Brasil somente com os animais amestrados, pois tinha perdido o circo que naquela época já existia na Romênia.. Juntamente com várias famílias circenses vieram para São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. No estado de Minas Gerais, a família ficou numerosa e teve que se dividir porque era difícil todos trabalharem juntos. Ao chegarem a Soledade, uma pequena cidade do Rio Grande do Sul, Constantino Stankowich, filho de Pedro Stankowich, conheceu Aurora que era professora na sua cidade. Ela tinha 21 anos quando o circo passou por ali, se casaram e seguiu com o circo. Antônio Stankowich, um dos filhos de Constantino e Aurora Stankowich, nasceu em 1935, na cidade de Guaíba, Rio Grande do Sul, faz parte da quarta geração da família Stankowich. Foi acrobata, malabarista, trapezista, equilibrista e palhaço com o nome de "Lamparina", nome esse herdado de avos e tios. Aos 23 anos teve o privilégio de ser o diretor e proprietário do circo, incumbido de ser responsável pela família e pelos funcionários. Ao passar do tempo, para que o circo não morresse, contrataram artistas para a segunda parte com altos dramas, além de grandes shows de rádio e televisão. Nessa época tratava-se de um circo de médio tamanho. São 6 gerações empenhadas em manter viva a tradição do Circo Stankowich, a companhia mais antiga do Brasil. Possuí uma grande estrutura empresarial e familiar que mantém a magia do circo da infância, mas também acompanha o dinamismo dos novos tempos..Nestes muitos anos trilhando as estradas deste país, tem muitas historias para contar, lembranças incríveis que revelam um pouco do povo de cada parte do país, um público que valoriza e ama a arte circense. Nas inúmeras viagens, não levam apenas uma gigantesca lona, toneladas de equipamentos e muitas pessoas que vivem pela arte, mas carregam principalmente, muitos sonhos ideais e um desmedido amor pelo trabalho. O amor pelo circo é um mistério para quem nunca viveu a sensação mágica de subir num picadeiro, uma incógnita para quem pretende decifrar o olhar satisfeito de um artista quando realiza seu numero. Para acomodar tal estrutura é preciso um terreno de 30 mil metros quadrados.
Marcio Antonio Stankowich você nasceu onde?

Em Nilópolis, Estado do Rio de Janeiro, terra da campeã do carnaval do Rio de Janeiro, Beija Flor de Nilópolis. Flamenguista de coração. Nasci a 20 de janeiro de 1960. Sou filho de Antonio Stankowich e Altamira da Silva Stankowich. O Circo Stankowich neste ano de 2010 comemora 170 anos de vida! A minha família permaneceu no porto Rio Grande no Rio Grande do Sul. Foi uma época em que as famílias que tinha condições financeiras fugiam da Europa, quem não tinha meios acabava morrendo lá. Quando eles chegaram ao Brasil passaram a trabalhar como saltimbancos, em praças públicas. Temos a documentação referente á época. Hoje possuímos outra unidade de circo, que está no momento no Vale do Paraíba. Esta que trouxemos á Piracicaba, Rio das Pedras e que se apresentará neste sábado em Santa Terezinha é uma unidade com apenas seis anos de existência.
Hoje você é representante da classe dos artistas de circo no Brasil?

Já por seis anos sou representante do Circo de Lona junto ao Ministério da Cultura.
 
                                                               

Qual é a principal atração de um circo?
Até hoje são os animais. Philip Astley é considerado o pai do circo moderno. Ex-integrante da cavalaria do Exército inglês aplicou as rígidas regras do quartel a seu novo negócio, inventou o picadeiro e juntou nele números com seus cavalos, palhaços, malabaristas e outros artistas que costumavam se apresentar nas feiras das cidades para ganhar a vida. As apresentações com o uso de animais remontam os tempos de Nero, da própria China. Eu faço parte do Colegial Setorial de Circo, teremos a Segunda Conferencia do Congresso Nacional de Cultura, teremos lá representados os setores de teatro, dança, música. Represento o setor do circo. Estamos lutando para o circo ter melhores condições legais, maiores condições de vida, para que seja tombado como patrimônio histórico. Para que haja áreas destinadas á recepção de circos, que alguns prefeitos tenham um respeito maior. Quando não havia televisão, rádio, o circo era a grande atração. Hoje abandonaram um pouco o circo.

Mas é emoções diferentes, um espetáculo de circo ao vivo com relação a outros meios de diversão!

Por determinação dos pais e responsáveis, as crianças acabam permanecendo presos, enjaulados dentro de casa! Eu sou suspeito para falar sobre o circo, mas é uma emoção que o artista passa através de sua arte, da sua alma.
 
                                                              
O senhor é um estudioso da arte circense?

Procuro me informar muito sobre o assunto, uma das grandes fontes são as pessoas com mais tempo de vida dentro do circo. São verdadeiras enciclopédias. Contam histórias que trazem muita emoção. Hoje temos trailers que são verdadeiras casas ambulantes, com ar condicionado, água quente, água fria, chuveiro, forno microondas, banheiro, DVD. Antigamente moravam em barracas, na época nem a disponibilidade de tratores era fácil. Vinham pela estrada Rio-Santos com os Ford 29, hoje são utilizadas carretas. Naquela época os artistas viajavam em cima dos caminhões, pegando poeira no rosto. Hoje está tudo mais fácil.

Quanto mede a lona desta unidade do circo?
São 52 metros, comporta 1500 pessoas.
Se a mídia divulgasse melhor a arte circense haveria maior freqüência?

Tivemos uma campanha onde era dita a frase ”Receba O Circo De Braços Abertos”. Foi veiculada uma campanha com a participação de Tarcisio Meira, Glória Menezes, Renato Aragão, Cid Moreira, procurando incentivar a participação do público junto aos espetáculos circenses, considerados uma forma de arte. O Ministro Juca Ferreira, o próprio Presidente Lula, estão incentivando a arte. Resta a dúvida de que se após o término do mandato haverá continuidade no sentido de incentivo ao circo.
 
 
                                                                        
 

O seu circo anda pelo Brasil todo?

Não só pelo país como pela América do Sul. Já levamos o circo á Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile. A receptividade é muito boa.

Fora dos grandes centros brasileiros a receptividade ao circo é maior?

Por incrível que pareça, hoje no Estado de São Paulo deve estar rodando mais de 250 circos! Existem muitos circos ruins com boas propagandas. As pessoas são induzidas pela propaganda, como você paga antes de saber o produto que irá ver poderá ter uma decepção. O Stankowich leva um publico bom porque estamos sempre lutando para manter um alto nível de qualidade.

Qual é a tradução para a palavra Stankowich?

O meu avô falava que significava espingarda em iugoslavo.

Quais atividades você exerceu como artista no circo?

Como a minha família, todos exercemos atividades artísticas, meu pai hoje tem 74 anos de idade, ele foi palhaço, malabarista, domador, trapezista, mágico, acrobata. Eu e meu irmão também seguimos essas carreiras, fomos palhaços, trapezistas, malabarista.

Qual era seu nome como palhaço?

Chelito! Não sei nem o quer dizer isso!

Qual é a atividade mais difícil dentre essas?

A mais difícil é dirigir um circo. O palhaço é uma das profissões mais difíceis. Muitas vezes a pessoa tem problemas de natureza pessoal, mas ela tem que rir e fazer com que a platéia ria! Para fazer o ser humano dar risada é difícil, fazer chorar é fácil.

Seus filhos estão seguindo a carreira circense?

Dos meus quatro filhos, três estão seguindo a profissão no circo, um não está, talvez por ser ainda muito novo, tem apenas quatro anos de idade.

O que atrai na arte do circo?

Aprendemos desde criança a trabalhar no circo, fazemos amizades, aparecem os filhos, os ensinamos, acaba sendo uma atividade para a qual fomos qualificados.

O profissional do circo tem reconhecimento profissional pela legislação trabalhista?

O domador, o malabarista, o palhaço tem suas funções reconhecidas pela CLT. Existe até uma situação peculiar, o domador tem sua profissão reconhecida, porém não pode exercer sua função pela proibição de existir animais no circo.

Qual é o critério para escolher o local onde irão montar um circo?

Estivemos em Piracicaba, teremos que esperar no mínimo oito ou dez meses. Quanto maior for o intervalo para a montagem entre um circo e outro melhor será o resultado. As épocas ruins para circo são novembro, dezembro, janeiro, fevereiro. Há a interferência de chuvas, férias escolares.

Na praia há muita procura pelo circo?

Depende muito da praia. Já foi muito bom, o horário de verão permite que o banhista permaneça maior tempo na praia.

O diretor de circo tira férias?

Não. Nunca.

O custo do ingresso para o circo é acessível?

Já faz uns 10 anos que não aumentamos o valor do ingresso.

Você já chegou a propor a bolsa-circo?

Algumas empresas estão lançando o ticket circo. Já saiu a lei. As empresas irão comprar uma quantidade de ticket e doar aos funcionários. É um ticket cultura que poderá ser utilizado em cinema, teatro e até circo.

Dizia-se que fulano tinha fugido com o circo quando ele ia embora da cidade. Como é isso hoje?

As coisas mudaram muito. Se um menor engaja-se a um circo as conseqüências para o responsável pelo circo certamente serão muito graves. Hoje só trabalhamos com elementos profissionais, não há espaço para amadores. Os maiores trapezistas que se apresentam na Europa saíram do Brasil, inclusive três sobrinhos meus, os irmãos Marcelo, Marlon e Alex que formam o grupo de trapezistas Flying Michaels em janeiro conquistaram um troféu Clown de Prata no 34o Festival Internacional de Circo de Monte Carlo, o prêmio do Flying Michaels foi entregue pela princesa Stéphanie. Esses meninos saíram do Stankowich.

O palhaço é ladrão de mulher?

Isso é folclore. Houve uma época em que os palhaços tinham que ser bonitos, olhos verdes. O palhaço sempre chamou a atenção em um circo. O palhaço é um ponto principal. As moças ficavam admiradas. Nós temos engolidores de espadas. Já tivemos homem-bala, estamos pensando em reativá-lo.

Pessoas importantes que já estiveram no Circo Stankowich?

Quando fazemos grande captais temos a presença de artistas famosos. A Xuxa já veio assistir a um espetáculo. Zezé de Camargo e Luciano. Geralmente eles ligam para deixarem os lugares reservados entram com a luz apagada, muitas vezes sentam-se usando um boné. O Marcos Frota trabalhou muito tempo no nosso circo. Os Trapalhões trabalharam com a gente. Roberto Carlos começou no nosso circo. Silvio Santos trabalhou conosco, Carlos Alberto da Nóbrega, seu pai Manoel da Nóbrega. Tonico e Tinoco, Milionário e José Rico, Chitãozinho e Xororó, Nhá Barbina. Gugu Liberato fazia o Show Viva a Noite no Stankowich, isso foi na época em que um dos planos econômicos congelou os recursos de praticamente todo mundo. Lima Duarte era de circo. Zé do Caixão, Chacrinha, Jerry Adriani, Erasmo Carlos, Sérgio Reis, Nelson Ned todos esses artistas trabalharam no Circo Stankowich. Nelson Ned era espetacular, vinha no circo, sentava no colo da minha avó e a chamava de mãe!






sábado, março 06, 2010

JORGE RASERA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 6 de março de 2010
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
http://blognassif.blogspot.com/



                                           JORGE RASERA E SUA ESP Da. MARIA JOSÉ
ENTREVISTADO: JORGE RASERA
A Rua do Rosário, na sua continuação após a Avenida Dr. Paulo de Moraes conserva forte tradição do passado. Por muito tempo foi corredor de passagem para quem se dirigia á zona rural. Derradeiro posto para se fazerem as compras. Duas máquinas de beneficiar arroz a do Barbosa e Grella e a do José Grella funcionavam ainda na base do benefício em troca de parte do produto. As lojas de sapatos, tecidos, bares onde se tomavam refeições rápidas, armazéns como o de propriedade de Vitório Fornazier. Os moradores da zona rural além de se abastecerem de alimentos adquiriam peças de vestiário, armarinhos, freqüentavam o barbeiro e acima de tudo era ali que se informavam das ultimas novidades. Os ônibus, então chamados de jardineiras, faziam ponto na Praça Takaki. O bairro era uma grande família, onde todos se conheciam, riam e choravam juntos, dependendo da ocasião. Religiosos, dividiam a freqüência entre a Igreja dos Frades e a Igreja São José. Gostavam muito de acertar os relógios com o som do apito do trem da Companhia Paulista que partia na hora exata. Uma profunda mistura de raças, a Paulista tem entre seus moradores descendentes de italianos, espanhóis, portugueses, árabes, suíços, alemães e provavelmente concentre o maior número de imigrantes japoneses de Piracicaba. É o único bairro da cidade cuja praça principal chama-se Praça Takaki. Hoje descaracterizada por um enorme reservatório de água em seu canteiro central. Um mastodonte de gosto duvidoso. Muitos cresceram no bairro vendo Jorge Rasera andando com sua inseparável bicicleta. Inicialmente em conjunto com seu irmão Pedro Rasera, possuía uma loja de tecidos e armarinhos, na Rua do Rosário, do lado direito, entre a Avenida Edgar Conceição e Avenida do Café. Ali Jorge se estabeleceu ainda bem moço, permaneceu por longos anos até mudar para o quarteirão seguinte. Provavelmente seja o comerciante mais antigo do bairro, embora a família siga com as atividades, o olho comercial de Jorge segue de perto o movimento. Filho de Pedro Rasera e Rosa Trevisam Raseira, Jorge nasceu no dia 12 de abril de 1931.
Onde você nasceu?
Nasci em Piracicaba, em uma chácara situada onde hoje é o Jardim Elite, meu pai tinha gado de leite nessa propriedade. Éramos oito irmãos, cinco homens e três mulheres. Na época aquela região era formada por chácaras, havia apenas uma entrada para entrar no saibreiro, era pela rua D.Pedro II. Quem ia para o bairro Dois Córregos subia pela Rua Moraes Barros. Da Rua Benjamin Constant até chegar nas chácaras lá em cima era tudo fechado, não havia caminho.

Quem trazia o leite para ser vendido na cidade?

Meu pai, meu irmão, eu mesmo. Trazíamos com um carrinho, a venda era feita para o próprio consumidor.

Você lembra-se do tempo em que o leite era transportado em um litro comum, tampado com um sabugo de milho envolto em palha de milho?

Lembro-me sim! Depois vieram os laticínios Ideal e Piracicabano.

Quando freqüentou a Escola de Comércio?

Eu tinha uns vinte anos de idade quando freqüentei a Escola do professor Zanin. Nessa época passei a ser proprietário de loja. Era um salãozinho pequeno que meu pai deu para mim e para meu irmão Pedro tocarmos nosso comércio. Depois nós aumentamos nessa época eu era solteiro ainda.

Como foi essa mudança para o ramo de tecidos e armarinhos?

Quem montou essa loja para mim foi o Toninho Sallum. Com um empregado da loja dele, pegou um pouco de cada mercadoria que ele tinha, e abriu a lojinha lá. Isso foi em 1951. Na época a Rua do Rosário era uma rua com duas mãos de direção, os veículos subiam e desciam por ela. Até que um dia na Avenida do Café com a Rua do Rosário um caminhão carregado de areia matou uma menina. Após aquele dia a Rua do Rosário passou a ser mão única.

O comerciante, já falecido, Alcides Saipp, também tinha um estabelecimento comercial na época?

Começamos a trabalhar na mesma época. O estabelecimento dele era na Rua do Rosário esquina com a Avenida Dr. Edgar Conceição.

Como conheceu sua esposa?

Naquele tempo era habito entre os jovens quadrar o jardim, foi assim que a conheci Maria José Barbelli Rasera. Casamos em 1957, na igreja da Vila Rezende, o celebrante foi Monsenhor Martinho Salgot.
Ela trabalhava onde?

Ela trabalhou na Fábrica Boyes, desde os 14 anos de idade até casar-se, ela é nascida em 29 de outubro de 1934, filha de Salvador Barbelli e Vitória Volpato. Meu sogro Salvador trabalhava no Engenho Central.

Era habito levar o almoço para seu pai, Maria José?

Eu ia levar o almoço para ele, ia buscar leite na cocheira. Havia aqueles montes de açúcar escuro, pegávamos aqueles pelotes para comer. Uma vez por ano havia um churrasco lá na Santa Rosa. Foi um tempo muito gostoso. A Boyes deu emprego á muita gente na cidade. Eu trabalhava na fiação, trabalhei um ano como aprendiz, depois passei a contramestre da seção. O horário era feito de forma alternada. Uma semana entrava ás 5 horas da manhã e saia á uma hora e trinta minutos da tarde. Na outra semana entrava a uma hora e trinta minutos da tarde e saia ás 10 horas da noite. A produção basicamente era de sacaria para ser utilizada em usina de açúcar. Uma das coisas que guardo é fruto de uma semente de abacate que meu pai trouxe do Engenho Central e que produz abacate até hoje! É um abacate muito gostoso.

Jorge, no tempo em você abriu a loja havia uma relação de confiança muito grande entre comerciante e freguês?

Vendia fiado para todo mundo e recebia de todos. Vendi muito tecido. Os clientes compravam de peça inteira.

Quando você montou a loja as construções existentes no bairro eram poucas e esparsas?

Quando cheguei ao bairro já existia o primeiro sobrado da paulista, que permanece até hoje, na Rua do Rosário, 2547. Ali havia também uma bomba para abastecimento de gasolina, que ficava junto ao meio fio, a bandeira era Texaco. O proprietário era José Nassif.

Jorge, você conheceu o Nhoca?

Nhoca era muito conhecido! O nome dele era José Vicente, era cego de um olho. Benzia todo mundo, pessoas, animais, cavalos! Vinha gente de longe para ser benta por ele. A mulher dele era Dona Idalina. Eram pais de dois filhos.

O Manoel Castilho era morador do bairro quando você mudou-se para cá?

Ele já morava na Paulista. Ele fazia sapato, colocava meia sola, era um sapateiro muito habilidoso. Onde é hoje a Igreja Assembléia de Deus existiam duas casas, foi o Nino Ferreiro quem vendeu para a construção da igreja. Mais a frente morava uma senhora italiana a Dona Lucrecia. Onde foi a Alvarco existia uma casinha no fundo.

Onde hoje é a loja Capital o que era antes?

Antes da Antonieta adquirir a propriedade e construir a Boutique Antonieta, era um imóvel de propriedade de Crispim Durrer, um terreno com muitos pés de banana. A casa onde mora Benedito Baglione foi construída por Alcides Fornazier. Estudei com Valdemar Fornazier no Zanin. O bonde tinha como ponto final em frente a Padaria Cruzeiro, quase em frente onde hoje é o Toninho Lubrificantes. Quando o bonde vinha no sentido do bairro para o centro, isso á noite, víamos o farol aceso que se aproximava, eu e o Valdemar corríamos bastante para poder pegar o bonde em frente a Estação da Paulista., e assim ir para a escola. Corríamos o máximo que conseguíamos e pegávamos o bonde correndo. Onde hoje é o posto Petrobras, na esquina da Avenida Dr. Paulo de Moraes com Rua do Rosário, tinha o bar da Dita Pé Grande, quando voltamos da aula parávamos ali, onde tomávamos uma cerveja caracu com pão.

Quando você veio morar na Paulista, em 1948 havia água encanada?

Não existia! A água era tirada de poço. A água era puxada do poço com uma corrente de ferro, de vez em quando quebrava, tinha que ficar pescando a corrente no poço. O fogão era a lenha.

A Avenida Dona Jane Conceição terminava onde?

O fim dela era onde hoje é a Rua Campinas. Dali em frente era plantação de cana de açúcar. A Avenida Madre Maria Teodora era a rua com mais movimento, depois havia apenas algumas casinhas dispersas. Era tudo propriedade da família Conceição.

Na esquina da Avenida Da. Jane Conceição com a Rua do Rosário, onde hoje existe uma farmácia Drogal existia o que?

Era uma sapataria! Onde hoje estão os bancos do Brasil e Itaú havia duas casinhas.

Qual era seu esporte preferido?

Eu tinha um timinho de futebol, União paulista, todo domingo jogávamos.

Onde era a sede do time?

Em cima do caminhão! O Pitão era o treinador.

Em que posição você jogava?

Não tinha posição determinada, já usávamos chuteira. Íamos jogar em muitos lugares.

Você gostava de passear quando era jovem?

Eu saia passear todas as noites.

Como era a história do Porunga?

Porunga era nosso amigo, um vira lata pequeno. Eu tinha uma cestinha, escrevia um bilhete fazendo o pedido que queria e ele ia até o açougue. A vantagem é que pelo fato de ele ser pequeno, entrava entre as pernas dos clientes e era o primeiro a ser atendido pelo açougueiro. A cestinha não era amarrada e sim presa por ele entre os dentes. Ninguém conseguia tirar essa cesta dele. Ele trazia o pedido que estava escrito no papel. O mais interessante é que ele nunca mexeu na carne, o açougueiro era o Rubens Zillio. Infelizmente o Porunga um dia morreu atropelado por um carro na esquina da Rua Sud Mennucci com a Avenida Dona Jane Conceição.

Na esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dona Jane Conceição, onde hoje existe uma diversidade de lojas era um terreno vazio, que era usado para lazer?

Ali se apresentavam circos, eram instalados parques de diversões, e até comícios políticos foram feitos nesse local. Um dos circos que esteve aqui foi um grande cliente meu de fitas de tecido. Era fita número 5, o palhaço enchia a boca de fita e ia tirando, pareia que não ia terminar mais, a molecada vibrava. Ali onde hoje é a caixa d`água na Praça Takaki passava um caminho de terra que ia até perto da estação. Existia a carregadeira de boi, hoje uma área fechada ao público, ao lado do Restaurante Frios Paulista, os bois eram conduzidos pelas ruas, fechavam-se os portões das casas para evitar que eles entrassem. Um dia um boi escapou na hora da saída do pessoal da missa, esse boi desceu a Rua Alferes José Caetano causando uma grande polvorosa.

Lembra-se da Chácara Nazareth quando ainda não tinha sido loteada?

Lembro-me sim. Eu tinha uma namorada que morava lá embaixo, próximo a sede. Eu tinha que levá-la até lá, á noite, no meio daquele bosque escuro, era uma caminhada memorável.

O senhor fuma?

Eu fumava cigarros industrializados e cigarro de fumo de corda. Fiz uma bateria de exames médicos, após isso passei a fumar só cigarro de fumo de corda. O fumo da nossa região, o fumo do Bairrinho é um fumo fino, o fumo Arapiraca é um fumo mais grosso. É interessante observar que hoje a palha de milho em que é enrolado o fumo é mais cara do que o próprio fumo.
 
 
 

                                                    JORGE RASERA CORTANDO FUMO DE CORDA PARA FAZER SEU CIGARRO DE PALHA DE MILHO
Você tinha uma bicicleta?

Andei muito de bicicleta, tinha uma de marca Philips, preta, eu a comprei quando ainda era mocinho. Todo domingo aos o almoço ia andar de bicicleta, ia lá para o Taquaral.

Você acompanhava os jogos do XV de Novembro?

Fiz muitas viagens acompanhando os jogos do XV. Uma delas foi marcante. Fui á São Paulo assistir a um jogo do XV contra o Paulista de Jundiaí. O XV perdeu o jogo. Eu e o falecido Alcides Saipp conseguimos uma carona para voltar á Piracicaba, era uma pessoa que estava de caminhonete. Não marquei o tempo que levamos para chegar, mas acho que ele fez o percurso em uma hora de viagem. Foi uma viagem de terror! O motorista estava revoltado com a derrota do XV. Quando chegamos á Piracicaba, e descemos do veículo demos graças a Deus.

O Milton Novello foi um personagem folclórico da Paulista?

Ele era mecânico, tinha uma grande facilidade para divertir-se e divertir os outros. Criava situações cômicas, como arrancar minhoca do solo com eletricidade. Havia um farmacêutico no bairro, que sofria de deficiência auditiva, o Milton arrumou uma boneca grande, embrulhou em um xale, pediu ao farmacêutico que medisse a temperatura da “criança”, que estava toda embrulhada. Após uma demorada aferição, o farmacêutico deu o diagnóstico: “Não tem febre nenhuma!”. Para espanto e horror do farmacêutico Miltinho jogou a “criança” no chão, deixando aparecer que se tratava apenas de uma boneca! Na feira livre havia um japonês muito zeloso com suas frutas, e ficava bastante contrariado quando alguém as apertava para testar a maciez. O Miltinho que tinha amputado parte de um dedo resolveu fazer uma brincadeira. Vendo um mamão muito bonito, apenas encostou a ponta do dedo amputado na fruta, dando a entender que tinha enfiado parte do dedo no mamão. Chamou o japonês e disse-lhe: “Esse mamão está bem mole né!” Furioso o proprietário usou todo o seu vocabulário de impropérios, até o Miltinho mostrar que a fruta estava intacta. Outro da família Novello era o Zico Novello, ele conseguia matar (desligar) o motor de um caminhão apenas encostando os dedos no contato elétrico de alta voltagem.

MATERIAL NECESSÁRIO PARA "PITAR" UM CIGARRO DE CORDA









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