domingo, abril 27, 2014

RAQUEL CINTRA FAYAD

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de abril de 2014.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADA: RAQUEL CINTRA FAYAD

Raquel Cintra Fayad nasceu a 27 de janeiro de 1968 em Atibaia. É filha de Farid Fayad comerciante e professor de filosofia, e Marilisa Cintra Fayad, professora, coordenadora de escola, trabalhou na Delegacia Regional de Bauru. O casal teve os filhos: Hedel, Raquel, Luciana e Cristiane. Logo que Raquel nasceu a família mudou-se para Arujá. Quando Raquel tinha dois anos de vida sua família mudou-se para Agudos. Casada, tem dois filhos, Mateus hoje com 23, cursando engenharia elétrica anos e Rebeca de 22 anos fazendo o curso de veterinária. Casada em segundas núpcias com Davison Cardoso Pinheiro, conhecido como Davison Pinheiro, arquiteto, especialista em projetos acústicos, criativo e um esteta por natureza, com quem Raquel Fayad  deixa transparecer que vive um grande amor, uma das suas inspirações.
Raquel Fayad fez questão de salientar o acolhimento dado por Maria da Glória Silveira Mello, bisneta de Prudente de
Moraes e Renata Gava ambas representando o Museu Prudente de Moraes.
Foi em Agudos que você iniciou seus estudos?
Estudei no Instituto Sagrado Coração, um colégio de freiras, iniciei desde os cinco anos, no conservatório, que tinha um formato muito semelhante ao Conservatório de Tatuí atualmente.  Ali estudei musica dos cinco aos dezessete anos, no ano seguinte ao que me formei, tornei-me professora, com dezoito anos estava dando aulas para formandos. Eu fazia uma leitura muito rápida de Bach, gostava demais. Sou formada como técnica em musica, no instrumento piano. Lecionei no conservatório por dois anos. Fui aluna do Grupo Escolar Coronel Leite e Grupo Escolar João Batista Ribeiro.  Minha primeira professora, no primeiro ano de grupo escolar, foi Dona Alba Conde. Estudei também com uma freira Irmã Anelise, que foi uma freira fantástica. Tive um pré-escolar muito divertido, criativo e educativo. Não dá para esquecer.No conservatório, quando tinha seis anos participei de um concurso em Ribeirão Preto, executei a musica “Bolinho de Manteiga”recebi meu certificado de segunda classificada das mãos da Clarice Leite, mãe de Cláudio César Dias Baptista um dos criadores do conjunto musical "Os Mutantes".
Além da musica você tinha outra atividade artística?
Eu fazia pintura desde os sete anos, eu gostava, pedi e minha mãe colocou-me para ter aulas com Rosa Zaniratto, isso em Agudos, eu estudava no colégio. Comecei com pintura em tecido, em veludo, telas, todas as técnicas de pintura que aparecia eu ia aprendendo, esse final de semana vi na casa da minha mãe um quadro que pintei quando tinha doze anos. Junto com tudo isso fiz o magistério, fui dar aulas na Freidemberg, hoje empresa Duratex de Agudos. Lá eu ministrava aulas para crianças de terceiro e quarto anos. Nesse período entrei para a Faculdade de Arquitetura na Universidade de Bauru, hoje UNESP, por isso deixei as aulas de piano. Fui cursar arquitetura junto com o último ano de magistério. Aos catorze anos comecei a dançar, clássico e jazz. Participei de um grupo de dança em Agudos: “Academia de Ballet Ana Flora Zaniratto Zonta”. Era uma professora fantástica, muito criativa, fazia coreografias bem modernas, chegamos a apresentar uma mistura de clássico e taekwondo em uma abertura de um campeonato internacional de taekwondo em São Paulo.
Você respira arte?
Respiro arte! Encontrei esses dias certificado de curso de gestão cultural que eu havia feito aos dezesseis anos. Em Agudos tinha o Seminário Santo Antonio, naquela época o conservatório fazia muitos eventos relacionados com os seminaristas, o coral do conservatório, as apresentações musicais, ensaiávamos com os musicistas do seminário. Sou contralto. Cheguei a reger um coral infantil o “Coral Abelhinha”, isso foi logo que me formei. Participei do coral cuja regente era a Irmã Eliane, uma regente fantástica.
Você também foi modelo?
Desfilei uma época, deixava minha mãe maluca! Isso começou com a realização de alguns eventos que fazíamos para levantar fundos, era uma iniciativa do Rotaract. Fazíamos eventos de vendas de árvores de natal para gerar fundos para assistência social de algumas entidades. Um dos eventos foi um desfile de moda. Fui convidada por um dos jurados que organizava os desfiles em Bauru e região. Desfilei por quase dois anos. Tenho amigas que participavam desse grupo e hoje são modelos profissionais. Alessandra Berriel é uma delas. Participamos de um grande concurso chamado “Nossa Moda Procura Você”. De 800 meninas fiquei entre as 10 selecionadas. Foram experiências que foram norteando o que realmente eu queria da minha vida. Acredito que tive muita sorte nos acontecimentos culturais que vivi. Acredito que é fundamental escolher uma profissão que ela não seja trabalho, mas prazer em sua vida. Por natureza do trabalho do meu marido, em uma estatal, mudamos muito. Em Itapeva entrei em uma academia de ginástica e lá desenvolvi um grupo de dança, fizemos um primeiro espetáculo denominado “Servindo Emoções”. Convidei um ator de teatro de Itapeva, um diretor chamado Luiz Valcazaras, que hoje atua em São Paulo na direção de teatro, comerciais. Eu estava preparando o segundo espetáculo quando meu marido foi transferido para Tietê, lá eu continuei dançando na Anabete Ballet, viemos para vários concursos em Piracicaba. Foi lá que eu comecei a desenvolver mais a minha pintura. Lá eu tive uma professora italiana, a Catarina Musso, mais conhecida como Rina, Ela vinha uma vez por semana para ministrar o curso em Tietê. Ela residia em Osasco na época. Uma das coisas que descobri com a Rina é de que eu gosto dessa busca da cor, dessa química. No meu trabalho um preto, um azul, não são cores puras. São frutos de misturas de três ou mais cores.

 
Você dá personalidade própria à tinta que usa?
Exato!Ela me ensinou que para pintar eu precisava entender o desenho, a pintura não é apenas uma pintura e sim um desenho. Essa busca dessa cor, de observar sempre a natureza, de ver todas as cores no azul do céu e não apenas o azul. Enxergar a cor da atmosfera. Olhando os meus trabalhos anteriores o que me apaixona em tudo isso é o reflexo, ela me ensinou a fazer o reflexo muito bem feito, e essa mistura de cores, esse mistério das cores. Nesse tempo em que permaneci em Tietê passei a dar aulas em uma escola que é o Sistema Etapa, trabalho lá há 22 anos,dou aula de artes no Colégio Gradual. Com os alunos não só trabalho técnicas mas também a a contextualização do que acontece em arte hoje em dia, todos os processos, desenvolvimento de criatividade. Acredito que isso eles irão usar em qualquer profissão que escolham.  Uma nova transferência por motivo do trabalho do meu marido, fomos para Tatuí.
Você tocou em um ponto muito interessante, a questão da criatividade, existem muitas pessoas criativas, mas que não possuem um direcionamento para sua criatividade.
Eu diria que esse é o motor de arranque, é o que guia o meu ensino dentro da escola. Quando fazia arquitetura fiz a minha mudança para Comunicação Visual. Depois fiz Artes plásticas na Asseta. Eu coloco minha formação hoje como em Artes Plásticas. Meu processo completo foi em Artes Plásticas. A minha paixão era arquitetura, tive a chance de retornar, mas vi que é uma paixão antiga. O que eu quero mesmo são as artes visuais. Não digo nem plásticas, hoje a gente sai do suporte tela-cultura, vai para performances, instalações.

 
Você atingiu um nível de expressão artística bastante elevada.
Acredito que ainda estou em processo de desenvolvimento. Encontro com vários artistas, curadores, orientadores, são momentos em que percebo que tenho várias descobertas, que precisam ser desenvolvidas. Por essa minha parte criativa ser tão fluida, quando estou em um trabalho eu já penso no desenvolvimento, desdobramento dele em outra forma e assim vai muito rápido.
Você transmite ao ambiente a sua volta uma carga muito alta de energia, sob seu ponto de vista existe alguma razão especial?
Eu gosto de viver, gosto do que eu faço, e faço por prazer, não realizo nada por ser obrigada a fazer. Muitas pessoas me perguntam como eu faço tanta coisa e ainda coordeno o Museu Histórico Paulo Setubal de Tatuí.


 
Nós temos na região um número enorme de museus, 36 instituições museológicas na Região Administrativa de Sorocaba, qual é a situação desses museus?
Além de coordenar o museu sou a representante regional de Sorocaba, e a Renata Gava é a representante regional de Campinas. Nós nos encontramos no SISEM- Sistema Estadual de Museus, que está na Secretaria Estadual em São Paulo, nos dá apoio, hoje está capacitando todos esses coordenadores, diretores culturais, pessoas interessadas. Nem todos os municípios das nossas regiões tem museu mas todos tem vontade de formar seu museu.
A visão disseminada entre grande parte da população é de que museu é um depósito de coisas velhas?
É justamente ai que vem todo esse trabalho que desenvolvemos como regional. Somos voluntárias nesse trabalho. Trabalhar com material de museu requer muita técnica, para preservar a peça e também preservar a saúde de quem está manipulando o objeto em questão. Pode ter ácaros, vírus, bactérias. Muita gente entendia museu como depósito daquilo que eu não quero na minha casa mas que foi do meu avô, do meu tio ou algo que foi importante. Hoje temos um apoio muito grande do Secretário de Cultura Estadual, Marcelo Mattos Araujo, museólogo, temos a equipe do SISEM, a Renata Mota é diretora geral da UPPM - Unidade de Preservação do Patrimônio
Museológico. Temos o diretor técnico  do SISEM que é o David Kaseker, que já foi Secretário da Cultura em Itapeva, foi meu antecessor na Regional de Sorocaba, hoje estamos em um momento particular, as pessoas querem ter seu museu, melhorar os que já existem.


 
Por que essa sede de museus?
Acredito que as pessoas estão começando a entender o valor que o museu tem no desenvolvimento cultural de uma sociedade. É um espaço onde tem ali guardada a história, a memória de formação daquele povo, daquela região, do Estado, do Brasil, dos imigrantes.
Qual é a importância da história?
Eu acredito que a importância da história é que nos sustenta como seres humanos. Faz-nos percebermos onde estamos. Por que nós estamos? Como estamos e como estamos fazendo. A memória nos mostra como viveram nossos antepassados.
Por que essa memória deve ser preservada?
O que nós queremos guardar para as pessoas que irão viver daqui a 300 anos? O que irão lembrar-se da sociedade de hoje? Se não soubermos guardar e preservar, a nossa história irá passar em vão? As mudanças são muito rápidas, se pensarmos que a Avenida Paulista em São Paulo, até a algumas décadas era chão de terra veremos como tudo muda rapidamente.
Há pessoas que desejam fazer doações a museus, porém ficam receosas, o administrador capaz e competente de hoje poderá ser substituído por outro sem tanto preparo. Qual é sua opinião?
Acredito que isso é um problema pelo qual vários museus já passaram. Nesses cursos de capacitação, uma preocupação é toda a documentação dos museus, dessas doações. Muitas pessoas deixam algum objeto na porta do museu e vão embora. Passado algum tempo perguntam sobre aquele objeto. Pretendemos instalar termos de doação, o que já acontece em museus maiores. As pessoas terão documentação da doação do objeto. Nós também não podemos receber tudo que as pessoas querem doar, será que vou ter espaço na minha reserva técnica? Terei uma equipe especializada para isso? Os museólogos do SISEM podem ser contatados aqui em Piracicaba, através da diretora do Museu Prudente de Moraes, Renata Gava. Esses museólogos podem dizer para qual espaço uma doação pode ser destinada, e isso será feito com toda documentação que garanta o destino e preservação da doação.
Há o risco de em cidades vizinhas encontrar peças similares expostas? Uma espécie de réplica de museu?
Cada museu tem seu acervo característico.
Você está realizando uma mostra no Museu Prudente de Moraes em Piracicaba?
Tenho em uma sala 17 obras de pintura em acrílico sobre tela, e três trabalhos pequenos de papel cortado, trabalhado com encáustica (uma cera), sobreposto. Tudo começou de um projeto chamado nota célula em expansão, que começou do meu TCC – Trabalho de Conclusão de Curso em Criatividade. Comecei a fazer um caderno com quadradinhos e comecei a compor a partir desses quadradinhos. Descobri que se cortasse em 16 partes aquela folha teria mais 16 quadradinhos. Com aquilo poderia compor qualquer coisa. Quando comecei a fazer o primeiro me lembrei de Bach, ele tinha uma linha musical, depois vinham duas linhas, três linhas, quatro linhas, conversando. Comecei a colocar quatro células em cada tela e na composição conversarem entre si, e a usar os acordes cromáticos para colorir tudo isso, percebi que muitos repetiam à sobreposição, o contraste, as transparências. Iniciei com uma série de estampas, comecei a tirar a minha própria célula e a trabalhar a pintura transparente sobreposta, tirei as linhas curvas e passei a colocar mais linhas retas. A partir disso fui para esse trabalho sobreposto, onde na mostra tem três trabalhos pequenos. Já há um estudo para que isso se torne recorte em madeira ou metal. Tive um rápido aprendizado dessas técnicas com um artista na Itália, Brunivo Vuttarelli. Lá ele me mostrou como trabalhar com metal recortado em plasma. Esse curso e despesas de viagem e estadia foram custeados com meus próprios recursos. Foi no período logo após a minha exposição na Espanha, no MECA Museu de Almeria, com premio do MINC – Ministério da Cultura. Realizei outra exposição em Portugal, de curta duração, os trabalhos foram rapidamente adquiridos. Por franceses e japoneses.A partir disso fiz trabalho no papel, papelão, pintados com encáustica, com alguns trabalhos grandes, o leiloeiro Antonio Roberto Magalhães tem trabalhos que fiz. Ele acabou adquirido trabalhos com papel, papelão, encáustica e tiras de borracha negra, que é a camara de pneu recortada.
Fiz algumas instalações, que a partir de 14 de abril de 2014, poderá ser vista na outra sala do Museu Prudente de Moraes.
Sua exposição no Museu Prudente de Moraes fica por qual período?
Inicia dia 8 de abril com a apresentação as 17:30 do conjunto “Coisa de Mulher”, formado por duas musicistas Natália Ferlin, cantora, toca guitarra e violão, é produtora cultural e Cibele Sabionie que é professora do Conservatório de Tatuí, maestrina da banda e do coral da cidade. A exposição permanecerá até dia 11 de maio de 2014.
Quantos trabalhos você calcula que tenha produzido?
Com certeza mais de duzentos trabalhos. Na minha casa tenho poucos trabalhos. Aprendi uma coisa, seu eu não fizer arte não serei feliz. Poderia ser só uma gestora cultural, gosto muito. Acredito que a única coisa que não poderia ficar na minha vida é fazer arte. Quando você descobre isso precisa ir se encontrando, a partir do que muitos vão lhe falando, você escuta, mergulha dentro de você, percebe em que lugar está nesse processo, tenta aceitar aquilo e procura perceber onde é que você pode caminhar nesse momento. Arte é uma gestação de vida toda. Um dos pintores em que mais me inspiro é Picasso, ele produziu a vida inteira, ele mudou várias vezes o estilo dele, ele tem uma produção maravilhosa, sempre acreditou naquilo que fez. Quando fico em duvida, indecisa, insegura, sempre penso nele e aquilo me dá uma força para continuar trabalhando.
Como surgiu a ideia de utilizar a câmara de ar de pneus como matéria prima em seus trabalhos artísticos?
Foi quando comecei a pesquisar objetos para recortar e sobrepor. Recortava em tiras, ia sobrepondo. Eu precisava de um material que recortasse, me desse uma linha. Sempre digo que em arte você tem um problema, que nunca será um problema e sim a solução da sua vida. A gente joga para o mundo e fica aberto para as coisas que irão retornar. De repente eu estava andando na rua, olhei, vi um borracheiro. Na hora pensei: “- Nossa! A camara de pneu! Como não pensei nisso antes?”.Parei, pedi, o borracheiro me deu muitas camaras de pneus, a dificuldade foi encontrar o que limpasse essa borracha. Fiz várias instalações, como se fossem pinceladas soltas no ar. Disso tudo fui para uma ocupação na Galeria Marta Traba onde tinha que falar da Barra Funda, sobre as histórias, eu tinha um projeto muito grande, engavetado, chamado Cartas de Amor, fiz uma instalação com essas tiras cortadas e fragmentos de cartas, chamada “Cartas Para Marta Traba”. Coloquei os escritos dela, que batalhou muito pela arte latino-americana. Coloquei também cartas de pessoas que estavam participando dessa ocupação, cada um foi trazendo registros, ocupando espaço. Fui convidada a participar de uma exposição chamada “ A Flor da Pele”, que está acontecendo agora na Casa do Olhar em Santo André. Uma exposição coletiva de 33 mulheres, com texto de abertura do Enoque Sacramento, curadoria de Altina Felício e Flávia Robles Dotto. Nessa pesquisa toda descobri que a história é contada através de cartas, desde Dom Pedro I com Domitila, Scott Fitzgerald e Zelda com mais de 300 cartas. Freud com 800 cartas.
O e-mail irá substituir essas cartas românticas?
Já está substituindo! Comecei a receber e-mails de pessoas que escreviam para outras.
Vamos ter uma exposição em São Paulo com três instalações. Vamos dividir: Eros, que é o amor paixão. Filia, que é o amor amizade, amor por filhos, casais que permanecem juntos por muito tempo. E Ágape, que é o amor caridade, o amor doação. 

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