sábado, agosto 13, 2016

NILCE MOREIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 agosto de 2016.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: tp://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADA: NILCE MOREIRA

Nilce Moreira nasceu em Piracicaba, filha de Dirceu Moreira e Zoraide Amâncio Moreira, que tiveram 10 filhos: Nilce, Nadia, Nilson, Neusa, Nilton, Nazareth, Nívea, Nanci, Nivail e Nivaldo. Seu pai mudou-se de Sorocaba para Piracicaba com a finalidade de trabalhar nas Indústrias Dedini, no período em que a empresa estava em seu auge, por volta de 1959. Nilce residiu a Rua Antonio Bacchi, estudou no SESI onde teve como diretora Josette Bragion. A seguir estudou como auxiliar de enfermagem na Escola Industrial e o curso Técnico em Enfermagem cursou na Escola da Saúde de Piracicaba - Esaup
Após concluir seus estudos em que área você foi trabalhar?
Entrei para a área da saúde como Técnica de Enfermagem em hospital. Trabalhei em uma empresa de Campinas para a Caterpillar do Brasil em Home Care (No Brasil, o termo Home Care foi adotado como sinônimo de inúmeros serviços oferecidos por uma empresa, tais como: internamento domiciliar de saúde, atendimento domiciliar de saúde, assistência domiciliar de saúde). Eu trabalhava em uma empresa que dava assistência só para funcionários da Caterpillar.
Sua área de atuação era em que cidade?
Era em Piracicaba. A seguir fui trabalhar no Hospital da UNIMED onde permaneci por oito anos, no tempo em que o hospital situava-se ainda na Rua Fernando Febeliano da Costa esquina com a Avenida Carlos Botelho. Um dia me ligaram para atender a uma paciente, indicada pelo Dr. Leandro Sacchetin, médico oncologista que atende no Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba – HFC. Fui indicada para atender a paciente Beatriz Algodoal.
Quem era Beatriz Algodoal?
Beatriz Algodoal era filha de Jaime de Andrade Algodoal e Zenaide de Andrade Algodoal. Jayme de Andrade Algodoal formou-se em agronomia pela Escola Superior de Agricultura –ESALQ, por volta de 1920. Jaime e Zenaide tiveram dois filhos: Armando de Andrade Algodoal e Beatriz de Andrade Algodoal.
Qual é a relação do nome Algodoal com Piracicaba?
A origem do nome Algodoal é o algodão. João de Oliveira Algodoal nasceu em 1868 foi casado com Izaura de Andrade Algodoal são os pais de Conceição, Rita, Rafaelina , Jaime, João Batista. Eles eram plantadores de algodão, foram os “reis do algodão” nas redondezas. Em função dessa relação de grandes proporções com o algodão, o nome Algodoal foi incorporado ao nome da família. Eu conversava muito com a Beatriz, ela observava muito o sobrenome da pessoa, através dele ela já tinha referências.
A família Algodoal morava em que local?
Eles saíram de Brotas, foram para Santa Maria da Serra, São Pedro, e o João de Oliveira Algodoal adquiriu por volta de 1900 um imóvel em Piracicaba, que é preservado até hoje em sua forma original, muito bem conservado. Segundo relato verbal, anteriormente o imóvel tinha sido Casa de Farinha da cidade, João de Oliveira Algodoal adquiriu o imóvel da viúva de Fernando Febeliano da Costa. João de Oliveira Algodoal reformou o imóvel, é composto por cerca de 12 cômodos. Ele trouxe os filhos de Brotas para estudar na Escola Normal de Piracicaba, mais tarde denominada Sud Mennucci.
O Bairro do Algodoal tem alguma relação com a família?
Toda aquela área fazia parte de uma enorme extensão de terras que ia até a cidade de São Pedro pertencia à família. A área onde atualmente é a Avenida Carlos Mauro pertencia a um primo. A área onde hoje é o Hotel Fazenda SENAC pertencia aos primos.  A família Algodoal era muito grande, João de Oliveira Algodoal é um dos 16 filhos, sendo que cinco dos seus irmãos faleceram precocemente. A origem da família era a Vila da Constituição, nome dado anteriormente à cidade de Piracicaba. As raízes da família são de imigrantes europeus. Alfonso Agostinho Gentil de Andrade nascido em 1813 e falecido em 1890 é bisavô materno de Beatriz Algodoal. Há indícios de que a origem pode ser de descendentes de judeus, isso me foi dito pela própria Beatriz.
O que a motiva a preservar e resgatar o patrimônio e a memória da família Algodoal?
A princípio manter a tradição da família Algodoal, A casa por ser um imóvel histórico, tombado pelo poder público constituído, desde 2002, é um patrimônio da cidade. Ela está preservada com toda a sua originalidade. É parte integrante da História de Piracicaba, está dentro do corredor cultural da cidade. Entrar nesta casa é uma viagem através do tempo, é a história viva. Traz uma paz, jamais se imagina estar no centro da cidade. Os afrescos nas paredes estão inteiramente preservados. O avô materno de Beatriz Algodoal era Sebastião Nogueira de Lima casado com Zenaide Nogueira de Lima. Quando ele veio para Piracicaba sua residência era em uma chácara no Bairro Dois Córregos. Depois ele adquiriu a casa situada a Rua Santo Antonio, em frente ao Restaurante Monte Sul, no local está a loja de tapetes Porta Larga. O Dr. Sebastião tinha quatro filhas, uma delas era a Zenaidinha, mãe da Beatriz. Quando nasceu o Armando, filho de Zenaidinha e Jaime de Andrade Algodoal o seu pai, Jaime, plantou um pé de ipê, era costume na época, plantar uma árvore quando nascia uma criança. Isso foi registrado em um livro pelo Dr. Sebastião Nogueira de Lima. Esse livro estava no apartamento da Beatriz, um bisneto do Dr. Sebastião resgatou o livro em que narra essa passagem, do nascimento e do plantio da árvore.
Há descendentes da família Algodoal em Piracicaba?
Sim, existem muitos.
Como era Beatriz Algodoal?
Ela gostava muito da arte, ela era uma artista. Era muito interessada por História. Ela estudou na Escola de Belas Artes em São Paulo, morava em um apartamento no Bairro Higienópolis. Lá ela também mantinha um ateliê.
Quantos quadros ela pintou?
Aproximadamente uns 500 quadros! Recebeu muitos prêmios no Brasil e na Europa. Hoje sou a curadora do acervo de Beatriz de Andrade Algodoal. Quando a conheci, vim para exercer a minha profissão, com o passar do tempo percebi que estava diante de uma grande artista, ao mesmo tempo em que ela passou gradativamente a delegar-me tarefas que iam além do meu trabalho inicial. Passei a cuidar de suas tarefas burocráticas, normais ao cidadão comum, até o seu falecimento. A Beatriz pintou vários quadros tendo como tema partes ou cômodos da casa da sua família em Piracicaba. Uma das suas obras é a fachada do Mosteiro da Luz, situado em São Paulo.  
Beatriz de Andrade Algodoal
Nilce conheceu uma grande artista natural de Piracicaba: Beatriz de Andrade Algodoal nascida a 28 de janeiro de 1943, tendo como nome artístico Beatriz Algodoal.  “Que desde cedo se dedicou a pintura e ao desenho, estudando na Fundação Armando Álvares Penteado e Associação Paulista de Belas Artes, teve como professores Inocêncio Borghese e Salvador Rodrigues Jr. Fez cursos de Arte no Brasil e na Europa. No campo do desenho trabalhou com bico-de-pena e guache, tendo como tema principal a arquitetura colonial brasileira. Com sua pintura impressionista (Pinturas que não tinham preocupação com o preceito do realismo ou da academia, surgiu na França no século XIX, em 1872 com Claude Monet) “Beatriz buscou sempre uma integração com a natureza, retratando sua vibração, luminosidade e cores. Beatriz Algodoal foi uma artista de grande senso estético, dominando com perfeição a escola acadêmica-impressionista e dotada de enorme sensibilidade. Seus quadros, poeticamente interpretados, transmite-nos uma agradável sensação de paz e alegria.” Isso foi dito pelo artista plástico Celso Coppio a 17 de junho de 1988 em uma exposição realizada em Curitiba. Beatriz Algodoal participou das exposições: Salão da Paisagem Paulista realizado pela Associação Paulista de Belas Artes em 1976 onde recebeu a “Medalha de Bronze”; Salão de Arte de São Bernardo do Campo em 1976 onde obteve a “Grande Medalha de Bronze”; Salão de Artes Plásticas da Aeronáutica em 1977 no Rio de Janeiro; Salão de Artes Plásticas da Sociedade Artística Batista da Costa em 1977 no Rio de Janeiro; Salão da Primavera APBA em 1978 foi premiada com o “Troféu Rosa de Bronze”; Salão de Artes de Embu em 1978 onde conquistou a “Pequena Medalha de Prata” e “Prêmio Luiz de Almeida Carvalho”;  Feira Internacional das Artes em 1978 em Nova Iorque; Salão Paulista de Belas Artes em 1978 “Menção Honrosa”; Salão Sociedade Amigos do Salão Paulista em 1978 “Pequena Medalha de Bronze”; Exposição Coletiva na Galeria “Mestre das Artes” em São Paulo no ano de 1978;Salão de Maio da Sociedade Brasileira de Artes em 1979 no Rio de Janeiro; Salão de Artes Plásticas de Itu em 1982 “Grande Medalha de Bronze”; Coletiva de Artistas Brasileiros no “Centre Internacional d`Art Contemporain” em 1984 em Paris “Grande Medalha de Bronze”; I Mostra de Arte Contemporânea Brasileira em Portugal 1985 – Lisboa “Pequena Medalha de Prata”; Academia Brasileira de Arte,Cultura e História em 1985 “Medalha da República” realizada em São Paulo; XVI Salão da Primavera APBA 1985 “Troféu Durval Pereira”; XVII Salão da Primavera APBA em 1986 “Troféu Deputado Estadual Luiz Carlos Santos”; 43º Salão Livre da Associação Paulista de Belas Artes 1986 “Troféu Ettore Federichi”; 49º Salão Paulista de Belas Artes 1987 “Pequena Medalha de Prata; I Salão Nacional de Artes Plásticas São Paulo Rio Grande do Sul 1987 “Premio Secretaria Municipal de Cultura” São Paulo; Individual Club Athletico Paulistano 1987; Individual Club Athletico Paulistano 1988;  Coletiva Sociarte Club Monte Libano; 46º Salão Livre A.P.B.A.  “Troféu Ettore Federighi”1988; Membro do Juri  XIX Salão da Primavera A.P.B.A. 1988; Membro do Juri I Salão de Arte Contemporânea de Ubatuba em 1989; Individual São Paulo Hilton Hotel 1989. Conforme noticiado em “A Tribuna Piracicabana” de sábado, dia 3 de abril de 2004: “Na Galeria do Engenho Central foi feita a abertura da exposição as 11h30 da artista plástica Beatriz Algodoal, também professora de arte”. O Jornal de Piracicaba em matéria assinada por Celiana Perina, também anuncia a exposição complementando: “Apesar de ser filha da terra, é a primeira vez que realiza uma exposição individual no município, já que sua carreira foi bastante difundida em São Paulo. A prática diária e a habilidade natural, despertada na infância, lhe conferem uma intimidade com a pintura ao ponto de criar uma obra em cada duas horas, espontaneidade chamada de “Alla prima” (pintura espontânea). Beatriz também faz questão de criar ao vivo cada um dos quadros que confecciona já que gosta de expressar em suas telas o que sente e vê no momento. “Minha pintura é bastante intuitiva e tem uma relação forte com a natureza. Gosto de retratar a luminosidade do por do sol e usar cores vibrantes”. Na mostra foram expostos 52 quadros em óleo sobre tela e em estilo impressionista, pintados em marinhas de Itanhaém, paisagens de parques paulistanos como Ibirapuera, Jardim da Aclimação, Parque da FAU-Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, Horto Florestal, além de interiores, flores,e naturezas mortas. Beatriz também pintou as belezas do Rio Piracicaba Em sua opinião a cidade tem tradição em artes plásticas. A pintora atuou por dez anos como professora de história da arte”. 
Beatriz de Andrade Algodoal preencheu Ficha de Adesão de Novos Sócios da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos tendo como principal atividade artística Artes Plásticas – Pintura. Outra modalidade declarou a Pesquisa Histórica. A ficha foi preenchida a 15 de fevereiro de 2004 tendo como sócio proponente Eduardo Borges de Araújo.
A repercussão da mostra de Beatriz Algodoal em Piracicaba foi grande. Artistas e público se manifestaram em louvor a grande artista que fazia a sua primeira exposição na cidade em que nasceu após conquistar outras terras. A seguir um dos comentários:
“A vida diária é um aprendizado sistemático. É a “lei do menor esforço”, nós a praticamos sistematicamente devido ao nosso comodismo inato. Por isso o hábito, visceralmente em nós arraigado, de condenar tudo e todos. É mais fácil condenar do que julgar. Em se tratando de “obra de Arte”, mais que especialmente, os nossos polegares se voltam para baixo, num pronunciamento tácito mas irreversível. Difícil, porém, é julgar com retidão e equilíbrio, de maneira justa e perfeita.Mas em se tratando da obra pictórica de Beatriz Algodoal, que ora expõe na Galeria do Engenho Central, em Piracicaba, o nosso espanto é o nosso julgamento: uma surpresa, uma “epifania” no verdadeiro sentido etimológico da palavra. A mencionada artista se revela com um verdadeiro ex abrupto, surpreendendo a todos nós pela ousadia da sua temática, a coragem de suas pinceladas marcantes, sinceras e nítidas como um autentico stacatto dentro de uma frase musical. Toda essa exposição nada mais é do que uma sinfonia no estilo de Brahms, com todos os seus fortes e pianos, os seus solos e seus tutti num vibrante uníssono em que a cor e o desenho, a matéria e a forma se encaixam dentro da moldura do Belo” Lupo da Gubbio, AD 2004”.





















domingo, agosto 07, 2016

MARIANA CANCILIERO VALENTINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 
JOÃO UMBERTO NASSIF 
Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 06 agosto de 2016.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: tp://blognassif.blogspot.com/

http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADA: MARIANA CANCILIERO VALENTINI


Mariana Canciliero Valentini nasceu em Piracicaba a 4 de agosto de 1928, na Avenida Independência, em frente ao Seminário Seráfico São Fidélis, Seu pai trabalhava na reforma do Seminário, moravam em uma casa em frente ao Seminário. Seus pais são Ludovico Canciliero e Maria Virginia Casonato Canciliero. Foram pais dos filhos: Raul, Cecília, Adelina, Ângelo, Evaristo, Filomena, Mariana, Terezinha, Roselis.
Qual era a profissão do pai da senhora?
Era ferreiro, ele trabalhava na empresa Krahenbuhl, fazia todo tipo de ferragem, A Krahenbuhl é uma empresa que tem uma tradição centenária. A sua história tem início no ano de 1870, data da sua fundação. A empresa começou como uma pequena oficina de troles e carroças e com o passar dos anos conseguiu crescer e ganhar prestígio através da construção de veículos de tração animal premiados que tinham fama a nível nacional. Meu pai passou a ter uma oficina no quintal, fazia desde a roda até a montagem completa da carroça.Minha mãe, para ajudar o meu pai, no começo lavou roupa.
Em que escola a senhora estudou?
No Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Minha primeira professora foi Dona Orlandina Sodero Pousa, foi minha professora no primeiro e segundo ano, no terceiro foi Dona Gessy, no quarto ano eu tive três professoras: Dona Maria José Aguiar Ayres que faleceu no meio do ano, ai ficou Dona Jocila e depois veio Dona Otilia.
Após concluir o grupo escolar qual foi a sua próxima atividade?
Minha cunhada Benedita, conhecida como Tica, faleceu, ela era esposa do Raul. Ela deixou duas crianças: Raquel e Rutênio, a Raquel foi ao médico pela manhã, era o Dr. Tito, a tarde ela faleceu de gastrenterite. Como eu era pequena mamãe disse-me que era para tomar conta do Rutênio, por dois anos ele e a Raquel ficou morando em casa. Ao completar 13 anos fui aprender costura com a minha irmã Adelina. Eu queria usar a máquina de costura, ela dizia-me que eu deveria primeiro aprender a fazer hachuras ou popularmente “achuriar”, fazer barra, pregar botão, essas coisas. Eu a ajudava muito nas tarefas domésticas. Ela sempre foi um sonho de irmã. Lá permaneci até meus 15 anos. Minha irmã Ângela trabalhava na loja “A Porta Larga”, eu disse â minha mãe que queria trabalhar também na “A Porta Larga”. Com a interferência de um irmão meu, aos 15 anos fui ser balconista da “A Porta Larga”.
Quem eram os proprietários na época?
Seu Phelipe, Salum, Adib, Jamil, Carlito. Na loja eu trabalhava na seção de miudezas, linha, botão, novelo. Éramos três mocinhas trabalhando em um balcão. Ela já era grande, considerada a maior loja da cidade. Funcionava no prédio onde hoje está a loja Torra-Torra. Quando completei 18 anos fui fazer a minha carteira profissional em Campinas, em Piracicaba ainda não tinha como fazer. Lembro-me que fomos eu e a Terezinha Azevedo. Nós duas trabalhávamos na “A Porta Larga”. Fomos de trem pela Companhia Paulista de Estadas de Ferro. Estava trabalhando na loja, mas queria melhorar. Tentei entrar na loja Singer. E consegui! Ficava na Rua Governador Pedro de Toledo. Sempre fui uma lutadora, nunca tive medo.
Em que local ficava a loja Singer?
Ficava na Rua Governador, próxima a Casas Pernambucanas. A Terezinha e a Hilda Braga trabalhavam lá. Um dia li no jornal que no Colégio Piracicabano estavam precisando de uma secretária. Fui ver o que era. Fiz uma prova e fui aprovada. Passei a trabalhar lá. Meu serviço era calcular as médias das notas dos alunos da quarta série, o diretor do Colégio Piracicabano era o Professor Josaphat de Araújo Lopes. Eu tive uma oferta de emprego, um serviço bem diferente. Dr. Raul Machado era médico pediatra, Minha mãe conhecia Da. Lourdes Bacchi, esposa do Dr. Irineu Bacchi, Dr. Raul havia dito que precisava de uma pessoa para ajudar no laboratório, ser atendente no consultório. O Dr. Raul procurou-me na minha casa. Minha mãe recomendou-me que eu fosse com a minha irmã Cecília que morava na Rua Governador Pedro de Toledo, o meu cunhado Elpidio, era gerente da loja “O Rei das Roupas Feitas”.O Elpidio era uma pessoa maravilhosa, faleceu relativamente moço, faleceu contando dinheiro obtido em óbolo ofertados para a Catedral. Fui com a Cecília para ver o que o Dr. Raul queria. O Dr. Raul contratou-me com um salário que era quase o dobro do que eu ganhava como atendente na loja. Eu fui não sabia nada do novo trabalho, em um ano aprendi tudo.
Fazia exames de urina, fezes, sangue, bacterioscopia. (Por exame bacterioscópico compreendemos o exame microscópico do material)
Após feitos os procedimentos, normais, o Dr. Raul verificava, acompanhava, via se estava tudo sendo feito da forma correta, fazíamos exame de tuberculose, tinha que coletar, colocar em uma lamina, curar, secar, colocava óleo de cedro e verificava através do microscópio de tinha bacilo. Fazia exame de olho, para saber se o paciente poderia operar se não tinha bacteroscopia. Urina fazia exame do tipo 1.
A senhora fazia coleta de sangue?
Coletava! Ia à casa do doente para coletar sangue. Antes de começar a trabalhar no laboratório do Dr. Raul, ele me mandou para a Santa Casa onde fiquei um mês trabalhando e aprendendo. Lá aprendi a fazer injeção, a coletar sangue, a fazer exame de urina mais rudimentar. Pesquisa de albumina, glicose.
Já havia problema de altas taxas de glicose na época?
Já!
Estamos falando de aproximadamente 1948?
Eu tinha uns 20 anos de idade. Trabalhei no laboratório seis anos quando era solteira e seis anos depois de casada. Quando tinha quatro filhos o Dr. Raul achou que seria melhor eu dedicar-me a família.
Como se chamava o marido da senhora?
Era Willians Antônio Harry Valentini. Era mecânico de tratores, meu sogro, Gabriel Valentini, tinha uma oficina para conserto de tratores e máquinas agrícolas na Rua Alferes José Caetano, 2170, entre a Rua Joaquim André e a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Chamava-se “Mecânica Irval” (Irval tem a origem em Irmãos Valentini). Eram quatro moços, quatro filhos, que trabalhavam lá. O setor passou por uma crise. Meu marido foi trabalhar como concursado na Escola de Agronomia, consertava tratores e quando o professor ia dar aulas de máquinas e equipamentos meu marido era o assistente do professor.
Quantos filhos vocês tiveram?
Tivemos oito filhos: Willians, Wilson, Maria Clara, Marcos, Walter, Maria Aparecida, Maria de Lourdes (Ude) e Maria Virginia.
Como a senhora conheceu o seu marido?
Eu era Filha de Maria, na Igreja dos Frades, a Silvia, minha cunhada era minha amiga, ela namorava o irmão do Willians, o Wilson, eles eram muito bonitos. Altos, tinham 1,80, naquele tempo usava-se paletó e chapéu. Na saída da Igreja dos Frades, encontramo-nos e o Willians veio conversar comigo. Naquele tempo íamos até o centro, quadrar o jardim. Um dia eu estava quadrando ele veio falar comigo. Passamos a namorar, quando fazia um mês de namoro um dia perguntei-lhe a idade, ele disse que tinha 18 anos. Eu disse-lhe: “-Então vamos terminar, eu tenho vinte anos!”. Ele apenas disse que dois anos não significava diferença. Continuamos namorando por mais de quatro anos, meu pai dizia: “-Moça tem que casar até 25 anos, senão não casa mais!”. Eu não queria ficar solteirona! Casamos no dia 26 de setembro de 1953, na Igreja dos Frades, acho que foi Frei Estevão quem nos casou. Passamos duas semanas em lua-de-mel em Santos. Fomos morar em uma casa na Rua Madre Cecília, o fogão era a lenha. A casa era novinha, fomos os seus primeiros moradores.
E para almoçar como fazia?
Ia comer em casa, comia de marmita. O consultório onde eu trabalhava era na Rua Rangel Pestana, próximo ao Colégio Piracicabano.
Quando nasceu o meu primeiro filho eu disse ao Dr. Raul que iria sair.
Ele perguntou-me porque eu queria sair, disse-lhe que era para olhar o meu filho. A coisa mais maravilhosa do mundo é ser mãe! Eu olhava-o no bercinho e chorava de dó em ter que deixá-lo para ir trabalhar. O Dr. Raul perguntou-me: “-Se a Lazinha for trabalhar para você?” Ela era empregada da esposa do Dr. Raul, Dona Helena. Ele mandou a Lazinha ir trabalhar em casa, e eu permaneceria trabalhando no laboratório. A Lazinha era uma cabocla muito boazinha, trabalhou quatro anos comigo. Quando meu primeiro filho saiu do primário, pensei agora ele vai trabalhar. Fui ver emprego para ele na Sapataria Santos, situada na Rua Governador Pedro de Toledo.  Tinha falecido meu cunhado, Líbio Duarte, ele era aviador, tinha taxi aéreo, um dia ele foi levar um passageiro que ia a um casamento, era um fiscal do INPS, o Abreu, o tempo estava nublado, houve um acidente, morreu ele, o Abreu e o filho do fotografo Lacorte. Minha irmã Rosélis era esposa do Líbio, estava grávida. A Zaira Bottene, que também era aviadora, a noite inteira não dormiu, para que ninguém fosse dar a noticia a Rosélis. Quem foi avisar foi o meu cunhado Elpideo, chegou lá umas sete e meia, era dia primeiro de maio. A Roselis era uma menina muito boa, tinha trabalhado uns cinco ou seis anos na Livraria Brasil.
Após residir na casa da Rua Madre Cecília a senhora mudou-se para que local?
Fui morar perto da minha mãe, achava uma falta dela! Fomos morar na Rua José Pinto de Almeida. Com financiamento da Caixa construímos uma casa de 7 por 30 metros na Rua Santa Cruz, 1756.
A senhora tornou-se uma cozinheira cujos pratos eram muito requisitados. Como isso aconteceu?
Criança quando vai estudar acaba perdendo o amor a escola, com isso a preocupação maior deles foi sempre estudar. O pai é quem trabalhou. E a mãe. Após sair do consultório passei a fazer bolos, Terezinha Azevedo me ajudou muito com os salgados. Eu não sabia fazer coxinhas, croquetes. Uma das primeiras encomendas feitas por uma amiga foi de 100 croquetes, eles dançavam no prato! Eu fazia esfirra, foi o meu forte no trabalho no fogão. Fazia para a Escola de Música, lá eu tinha meus filhos estudando. Hoje tenho dois filhos que são músicos profissionais, o Walter que toca contrabaixo, com pós-graduação nos Estados Unidos. A Maria Virginia foi à Itália para complementar seus estudos de viola barroca.
Qual é o seu sentimento em ver seus filhos todos com curso superior, médico, engenheiros, jornalista?
Faria tudo de novo! Os oito têm curso superior completo, para uma mãe é uma tranqüilidade.
Como os filhos tratam essa super-mãe?
Cada um se manifesta da sua forma. Já fui duas vezes para a Itália.
O que a senhora faz para passar o tempo?
Rezo! Meu santo de devoção é Jesus Misericórdia e Santa Faustina. Uma pessoa trou-me um folheto sobre Santa Faustina, quem era devota dela era Dona Maria Figueiredo, que foi proprietária da Rádio Difusora de Piracicaba e que viveu mais de um século com muita saúde e lucidez.   
A senhora tem uma psicologia muito apurada!
Sabe o que é? Conviver com oito filhos, estar sempre no ambiente de juventude.
Nessa vida de muitas lutas e vitórias o que a marcou muito?
A Providência Divina! Chiara Lubich fundadora do Movimento dos Focolares, um movimento que tem como finalidade a construção de um mundo unido, o "que todos sejam Um" foi uma pessoa muito importante em minha vida. Eu cheguei a escrever para ela. Eu acredito que se devem educar os filhos em Deus. Hoje muitas dificuldades existem pela ausência de Deus na vida da pessoa.
A vida simples de algumas décadas passadas tinha suas compensações?
Lógico! Hoje a humanidade tem maiores recursos material, e menos espiritualidade, humanismo.



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