quinta-feira, janeiro 29, 2009

RHUM CREOSOTADO

"Veja ilustre passageiro
O belo tipo faceiro
Que o senhor tem ao seu lado.
E no entretanto acredite
Quase morreu de bronquite,
Salvou-o RHUM CREOSOTADO".

(Propaganda veiculada em muitos bondes, na época um grande meio de comunicação)

As chamadas "celebridades" não podem mais ganhar altos (nem mesmo baixos) cachês com a veiculação de suas imagens ou mesmo voz em publicidades de medicamentos. Essa é umas proibições que a Resolução RDC nº 96/08 da Anvisa impõe

Nesse sentido, o artigo 26, inciso II, da Resolução ANVISA RDC nº 96/08 dispõe o seguinte:

"Artigo 26. – Na propaganda ou publicidade de medicamentos isentos de prescrição é vedado:

III – apresentar nome imagem e/ou voz de pessoa leiga em medicina ou farmácia, cujas características sejam facilmente reconhecidas pelo público em razão de sua celebridade, afirmando ou sugerindo que utiliza o medicamento ou recomendando o seu uso."

6. Para fechar o cerco em torno desse assunto, a Resolução ANVISA RDC nº 96/08 cuidou de antemão, já no parágrafo único do seu artigo 4º, de proibir a "veiculação de imagem e/ou menção de qualquer substância ativa ou marca de medicamentos, de forma não declaradamente publicitária, de maneira direta ou indireta, em espaços editoriais na televisão; contexto cênico de telenovelas; espetáculos teatrais; filmes; mensagens de programas radiofônicos; entre outros tipos de mídia eletrônica ou impressa." Com essa determinação, elimina-se, também, o chamado merchandising, prática de publicidade indireta, muito utilizada na televisão e no cinema.






quarta-feira, janeiro 28, 2009




Celebrações marcam os 75 anos da USP












Sessão Solene do Conselho Universitário homenageia comunidade uspiana

A Sessão Solene do Conselho Universitário, ocorrida na última segunda feira (26/1), no Auditório Simon Bolívar, do Memorial da América Latina, em São Paulo, marcou as comemorações dos 75 anos da USP com várias homenagens. Com a presença da Reitora, Suely Vilela, do Vice-Reitor, Franco Maria Lajolo, dos Pró-Reitores Armando Corbani Ferraz (pós-graduação), Selma Garrido Pimenta (graduação), Mayana Zatz (pesquisa) e Ruy Alberto Corrêa Altafim (cultura e extensão), dos diretores das unidades fundadoras da Universidade, professores, funcionários e alunos, a cerimônia apresentou um saudável caráter de resgate histórico e congraçamento da comunidade uspiana.

O diretor da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ (uma das unidades fundadoras da Universidade), Antonio Roque Dechen, saudou, em nome do Magno Conselho Universitário, os ex-Reitores da USP, que foram homenageados com a Medalha Armando de Salles Oliveira (a honraria é oferecida aos que contribuíram com o engrandecimento da Universidade). Dechen traçou um panorama histórico da Instituição, lembrando que a USP teve seu início em um período de grande dificuldade política e social: pós-crise de 1929 e pós-revolução de 1932. “A USP na versão de seus idealizadores seria a espinha dorsal de um projeto de longo prazo que devolveria à unidade da Federação derrotada em 1932 no plano militar, a posição de liderança nacional no plano político. Seria também o instrumento de formação de quadros intelectuais, técnicos e profissionais em condições de liderar a industrialização de uma economia em ascensão”, disse o diretor da ESALQ. Na referência aos ex-Reitores, Antonio Roque Dechen lembrou dos desafios enfrentados ao longo de mais de sete décadas. “Cada Reitoria em seu tempo – sábias mãos professando alvoradas, antecipando e alinhada aos movimentos e demandas sociais, foi contribuindo para a evolução do conhecimento e para o desenvolvimento socioeconômico do país. Imaginar a USP apenas como um centro de excelência em pesquisa e ensino é omitir sua enorme contribuição para a extensão universitária, atendimento à comunidade e sua inserção social nas diferentes áreas do conhecimento e em atividades socioambientais, culturais e artísticas”, afirmou Dechen em seu discurso.

Em seguida, conforme decisão tomada pelo Conselho Universitário em 2 de dezembro de 2008, a Reitora Suely Vilela entregou a medalha Armando de Salles Oliveira aos ex-Reitores: professor WALDYR MUNIZ OLIVA (Mandato: 18.01.1978 a 17.01.1982) – na oportunidade representado pelo professor SÉRGIO MUNIZ OLIVA FILHO; professor ANTONIO HÉLIO GUERRA VIEIRA (Mandato: 18.01.1982 a 17.01.1986) – na oportunidade representado por Eduardo Castejon Guerra Vieira; professor JOSÉ GOLDEMBERG (Mandato: 18.01.1986 a 17.01.1990); professor ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO (Mandato: 09.01.1990 a 05.08.1993); professor RUY LAURENTI (Mandato: 05.08.1993 a 25.11.1993); professor FLÁVIO FAVA DE MORAES (Mandato: 18.11.1993 a 25.11.1997); professor JACQUES MARCOVITCH (Mandato: 26.11.1997 a 25.11.2001); professor ADOLPHO JOSÉ MELFI (Mandato: 26.11.2001 a 25.11.2005).

Outro momento marcante na Sessão foram as homenagens feitas aos professores, funcionários e alunos. Estiveram representando cada categoria a professora Berta Lange de Morretes, que cursou História Natural na USP entre 1938/1941, a funcionária aposentada da Faculdade de Direito, Marilena Pinheiro Lobo, o ex-aluno, pós-graduado em 1942 pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, professor Paschoal Ernesto Américo Senise e o ex-aluno da ESALQ da turma de 1936, Fernando Penteado Cardoso. Em seus discursos, revelaram traços da emoção por participarem da história da USP, como o relato da professora Berta Morretes, que lembrou bem humorada das dificuldades de comunicação com os professores europeus na década de 1930. Fernando Penteado Cardoso, que era aluno da ESALQ em 1934, reforçou o sentimento de gratidão e orgulho para com a Universidade.

Durante a Sessão Solene do Conselho Universitário, os Correios fizeram o lançamento do selo e carimbo comemorativos dos 75 anos da Universidade. Na oportunidade, a reitora Suely Vilela fez a primeira obliteração. Logo após, a reitora recebeu, das mãos de Laércio Evangelista dos Santos, funcionário da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, o bastão da USP, objeto de cerca de 1,60m, entalhado em madeira e onde estão postos lado a lado os brasões das unidades fundadoras da USP. Para encerrar, a reitora discursou, lembrando que a USP é fruto da garra paulista, que nasceu após a derrota do Estado na Revolução de 1932 e se transformou em patrimônio científico e cultural do País. “A criação da USP representou um novo paradigma no ensino superior no Brasil e hoje a Universidade consolida seu papel como universidade de classe mundial, contribuindo na formulação de políticas públicas sustentáveis, abordando sempre temas estratégicos, mantendo uma relação direta com a sociedade e preservando seu caráter de pioneira. A USP cultiva pessoas e delas colhe sua grandeza”, frisou a reitora.

Até o dia 1º de fevereiro, o hall de entrada do auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina abrigará a exposição “USP em Obras – A Construção da Cidade Universitária”, que reúne 60 imagens do acervo da universidade que vão de 1952 a 1972. O Memorial está localizado na Rua Auro Soares de Moura Andrade, nº 664, Barra Funda, São Paulo.

Sistema hidráulico substitui câmbio e transmissão de automóveis




Saem câmbio, eixos cardã e outros sistemas de transmissão. Em seu lugar, entram sistemas hidráulicos, que levam a força do motor até as rodas por meio de fluidos sob pressão.

O sistema, batizado de SHH (Series Hydraulic Hybrid), promete uma economia de combustível inalcançável com os sistemas de transmissão dos carros atuais, aliada aos consequentes ganhos ambientais com o menor consumo de petróleo.

O sistema SHH utiliza bombas hidráulicas e tanques de armazenamento hidráulicos para capturar e armazenar energia, de forma similar ao que as baterias fazem em um carro elétrico.

Transmissão inteligente
A empresa Eaton, fabricante do sistema, anunciou que cinco veículos de testes com o novo sistema de transmissão hidráulica serão colocados para rodar no final de 2009 e início de 2010.

Como a maioria dos sistemas incorporados aos veículos mais modernos, o novo sistema de transmissão é do tipo "inteligente," repleto de eletrônica embarcada e de programas de computador especializados em seu funcionamento.

A modelagem do sistema e o desenvolvimento das rotinas de controle do SHH está sendo feito em parceria com a IBM.

Três formas para economizar combustível
A transmissão híbrida hidráulica aumenta a economia de combustível de três formas: um sistema regenerativo captura a energia despendida pelos freios e a acumula nos tanques de pressão para uso posterior; o motor opera de forma mais eficiente, com menor necessidade de variação de rotação; e, além disso, o motor pode ser desligado automaticamente quando o veículo está parado ou quando ele está desacelerando;

Os testes iniciais demonstram um aumento de 50% na eficiência do combustível nos veículos equipados com o sistema de transmissão hidráulica, além de uma redução de um terço na emissão de CO2.

sábado, janeiro 24, 2009

Prof. Dr. Edmar José Kiehl







PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com


Sábado, 24 de janeiro de 2009
A Tribuna Piracicabanahttp://www.tribunatp.com.br/Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:http://www.tribunatp.com.br/http://www.teleresponde.com.br/
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ENTREVISTADO : Prof. Dr. Edmar José Kiehl

Piracicaba tem o grande privilégio de poder contar com pessoas abnegadas, destemidas, e até mesmo ousadas em seus empreendimentos em favor da comunidade. Muitos atuam de forma quase anônima, e infelizmente alguns só recebem o merecido reconhecimento da cidade quando falecem. A ausência mostra o valor do trabalho que estava sendo realizado.
O engenheiro agrônomo, Prof. Dr. Edmar José Kiehl é uma pessoa de hábitos discretos, com um eterno sorriso, próprio dos que vivem de bem com a vida. Seu olhar brilha como o de um menino quando fala do zoológico, da Cidade da Criança. Em seu colo trouxe do Rio de Janeiro até Piracicaba um bebe que mais tarde passou a ser o famoso chipanzé Petrônio. Aclamado por unanimidade foi eleito o primeiro presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba. Mantém uma intensa atividade levando seus conhecimentos científicos adquiridos na Esalq ao longo dos anos. É requisitado para palestras, pareceres técnicos. Um dos seus maiores prazeres é cultivar o habito da dança de salão, atividade que realiza semanalmente com sua esposa. Dr. Edmar é um habilidoso mágico amador, que entre suas muitas aparições, apresentou-se em espetáculos de até duas horas de duração no Teatro Santo Estevam. Recentemente esteve em um hospital infantil, voltado para o tratamento de câncer, na cidade de São Paulo, onde mostrou suas reconhecidas habilidades como mágico.

Por volta de 1740, um jovem prussiano, militar, junto com outros companheiros de ideal, planejou uma revolta contra o poderoso estado militar de Frederico II, que em sua sede de conquistas anexou diversas regiões da Europa ao seu império. Fracassada a insurreição, os revoltosos partiram para destinos incertos. O próprio nome do jovem, Pedro Kiehl, pode ter sido adotado como forma de estratégica, para manter-se no anonimato. Chegando ao Brasil, desconhecendo a língua, fixou residência na Vila de Itu. Impressionado com o número de igrejas, passou a fabricar relógios para as torres das mesmas. A família passou a mandar-lhe da Europa, chapas de bronze, parafusos, eixos, moldes, todo o material necessário, o que fez do jovem um relojoeiro especializado em grandes relógios para igrejas. Casou-se com Maria Umbelina Teixeira, com quem teve quatro filhos. O filho mais jovem, Pedro, estabeleceu-se em Campinas como farmacêutico. Com o advento da febre amarela que grassou na cidade de Campinas, Pedro Kiehl vende sua farmácia e muda-se para São Paulo com sua esposa Henriqueta Morgan Snell, com quem teve oito filhos, entre eles o filho Eduardo. Após os estudos preparatórios, Eduardo entrou para a recém criada escola Politécnica formando-se na primeira turma de engenheiros civis, diplomados pelo estabelecimento em 1899. Se primeiro trabalho foi o de fazer o levantamento topográfico de uma chácara situada no centro da cidade de São Paulo, pertencente aos herdeiros do Brigadeiro Luiz Antonio de Souza, avô de Luiz Vicente de Souza Queiroz. Logo depois ingressou na Secretaria da Agricultura e Obras Públicas do Estado de São Paulo tendo como um dos primeiros encargos realizar o levantamento planialtimétrico da cidade de São Pedro. O jovem engenheiro conheceu na cidade de São Pedro uma moça muito formosa, com quem se casou. Mas ninguém melhor do que seu filho para narrar essa história que parece ser roteiro de filme.
Dr.Edmar José Kiehl, o senhor é piracicabano?
Nasci em Piracicaba, no dia 14 de junho de 1917. Tenho 91 anos de idade. Nasci na Rua Tiradentes, 52, que mais tarde recebeu o número 98. Próximo á Escola Industrial. Essa casa existe até hoje. Meu pai é Eduardo Khiel. Ele construiu para o governo a Escola Sud Mennucci, reformou a escola Barão do Rio Branco, com a planta que veio de São Paulo, foi responsável pela construção da Ponte Nova sobre o Rio Piracicaba. Essa ponte liga a Avenida Barão de Serra Negra á outra margem do Rio Piracicaba. É a ponte Irmãos Rebouças.
Seus pais conheceram-se em São Pedro?
Meu pai e a minha mãe são naturais de Campinas. Meu pai mudou-se para São Paulo e a minha mãe para São Pedro. Meus avós maternos Aurélio Teixeira de Andrade e Baptistina Teixeira de Andrade tiveram os filhos Euclides e Euthália. Foi em São Pedro que meu pai conheceu a minha mãe, Euthália. A minha mãe estudou em uma escola particular que funcionou em regime de internato por um tempo no prédio que havia sido a residência de Estevam Rezende. Por um determinado tempo passou a ser sede da Prefeitura Municipal de Piracicaba. Mais tarde esse prédio foi demolido para dar lugar a um estacionamento que existe até hoje, na Rua São José esquina com a Rua Alferes José Caetano. Meus pais casaram-se em São Pedro, no dia 31 de maio de 1905, ás três horas da madrugada, o único trem que deixava a cidade rumo á capital saia as seis horas da manhã. Encerrrado o casamento eles seguiram em um trole para a Estação Sorocabana. Na estação de Mairinque os passageiros que vinham do ramal de São Pedro tinham que fazer baldeação. Ao chegar a nova composição, um vagão especial trazia o Secretário da Agricultura e Obras Públicas do Estado de São Paulo, Dr. Paulo de Moraes Barros. Vendo seu engenheiro e sua acompanhante na plataforma, sabendo serem recém-casados, convidou-os a viajar no luxuoso carro, de cadeiras giratórias e restaurante servido por um garçom
Entre as habilidades da mãe do senhor, uma delas era ser exímia atiradora?
Minha mãe atirava muito bem. Ela apanhava abacate, laranja, atirando no galho que segurava a fruta. Quando ela e meu pai casaram-se, meu pai a cada viagem que fazia para São Paulo trazia para ela uma caixa com balas. Eram balas de revolver. Quando se casaram, meu pai levou a minha mãe para Santos. Nessa época meu tio Carlos Khiel, que também havia formado-se junto com meu pai na primeira turma da Politécnica de São Paulo, trabalhava no Porto de Santos. Mês pais e meu tio estavam passeando, quando encontraram vários oficiais militares. O grupo passou a conversar. Viram que havia uma garrafa boiando no mar. Vários militares passaram a atirar por diversão, para ver quem conseguia quebrar a garrafa. Nenhum deles conseguiu. Meu tio Carlos disse que a minha mãe Euthália era uma ótima atiradora. Os militares olharam para aquela mocinha de 17 anos, e ficaram duvidando da capacidade de tiro dela. Insistiram muito para que ela realizasse o que eles não estavam conseguindo fazer. Foi emprestado á ela um revolver para realizar o desafio. Ao fazer a pontaria, perceberam pela sua expressão, postura, que ela acertaria o alvo. Foi o que aconteceu, no primeiro tiro ela quebrou a garrafa.
O pai do senhor viajava muito inspecionando obras?
Ele fiscalizava, orientava, obras de muitas cidades da região. Ele passava de segunda a sexta feira viajando. Quase não parava. Ele fazia plantas. Minha mãe disse-lhe que fizesse á lápis que ela copiaria em nanquim. Ela foi aprendendo. Ele passou a orientar o que queria e ela passou a fazer também á lápis. Ele corrigia. Ele tinha que fazer memorial descritivo, ela passou a ajudá-lo. No fim ela passou a fazer memorial, planta, tudo enfim. Durantea semana aparecia alguém de alguma cidade, perguntando pelo Dr. Khiel, minha dizia que ele estava viajando. O construtor dizia que tinha alguma duvida, minha mãe perguntava qual era a dúvida, olhava a planta, resolvia o problema. Com isso era comum chegarem pessoas que perguntavam se a Dona Euthália estava.
Quantos filhos os pais do senhor tiveram?
Tiveram cinco filhos: Helena, Jorge, Maria Dulce, Eduardo e eu Edmar. É interessante a origem do meu nome Edmar. Havia na escola de agronomia de Piracicaba um estudante chamado Edmar Kühn. O carteiro levava as cartas em casa. Meu pai devolvia a carta para o correio, dizendo que seu nome era Eduardo e a carta era para Edmar. Nessa época minha mãe estava grávida esperando um filho. Ela dizia em tom de brincadeira, que era o Edmar que ia chegar. Quando nasci ela colocou o nome de Edmar. Quando foi realizar o batismo, o padre perguntou qual era o nome da criança. Ao falarem que era Edmar, ele disse em tom enérgico que Edmar não era nome de santo, tinha que por nome de santo. Acabaram colocando Edmar José, por um dia não acabei me chamando Edmar Antonio, que era o nome do santo do dia seguinte.
O senhor estudou em que escolas em Piracicaba?
Comecei o primário no Grupo Moraes Barros, depois fui estudar na então Escola Normal, hoje Sud Mennucci, que foi construída pelo meu pai. Na época o governo criou o colégio universitário. Para entrar na Escola Luiz de Queiroz tinha que fazer o colégio universitário.
Fazia-se um vestibular para entrar no colégio universitário e depois se fazia um vestibular para entrar na escola de agronomia. Eu entrei na Esalq em 1936 e saí em 1941. Em 1956 morei um ano nos Estados Unidos.
O senhor fez a opção de trabalhar em que área da agronomia?
Fui trabalhar no Instituto Agronômico de Campinas. Eles precisavam de um agrônomo. Trabalhei por dois anos lá. Depois eu saí e fui trabalhar em uma fazenda de propriedade da industria de camas Patente, o dono era o Luiz Lício. Ele comprou uma fazenda, derrubava a mata para a serraria que ele possuía em São Paulo. As molas da cama eram no estrado. Com o aparecimento do colchão de molas a fabrica de camas Patente foi fechada.
O senhor acabou voltando para Piracicaba?
O Professor Tuffi Coury me convidou para preencher uma vaga na cadeira de química agrícola na Esalq. Aceitei. Entrei em 1947 e aposentei-me em março de 1980. Eu estava em uma cadeira que fazia estudos de adubos e adubações. Quando entrei lá me disseram que havia professores dedicados cada um em uma área: nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre e cálcio. Para mim restou estudar adubo orgânico. Era uma coisa que ninguém queria. Estava uma febre de adubo mineral. Adubo orgânico é o aproveitamento de resíduos vegetais e animais. Eu me empolguei. O húmus é o produto que colocado no solo melhora todas as qualidades físicas, químicas, biológicas do solo. Nenhum produto químico faz essas três coisas.Só faz uma delas. Trabalhei 16 anos com a Enterpa, 8 anos com a Vega Sopave que coletavam o lixo de São Paulo. Tenho quatro livros escritos sobre adubação orgânica.
O problema do nordeste brasileiro é de adubação de solo?
O nordeste tem um solo aparentemente pobre, só que tem sais minerais.Ele não tem é água. Em primeiro lugar deve ser fornecida água, em segundo a matéria orgânica. Os sais minerais já existem naquela região.
O senhor gosta de realizar atividades inovadoras, como foi a história do Petrônio?
Fiquei sabendo que havia uma mulher no Rio de Janeiro que queria doar um chipanzé. Telefonei, acertei com ela, a prefeitura cedeu um veículo, e eu fui busca-lo. Era pequenininho, veio no meu colo. Fomos em uma Kombi, eu pensei que era um animal maior. Ele permaneceu em casa por algum tempo depois foi para o zoológico. Eu era diretor do zoológico. Eu era professor da Esalq e membro do Lions Club Centro, só tinha esse naquela ocasião. A saída da estrada de Rio Claro não era como é hoje. Dava uma volta.
Quando fizeram a estrada reta, ficou uma meia lua de terreno que embora pertencesse á Esalq a estrada havia separado. Para a escola era uma área sem interesse. Era areão, observe a grafia da palavra. Muitos a escrevem de forma errônea, areião. Pensei em fazer um zoológico, falei com o pessoal do Lions. O zoológico foi construído pelo Lions e pelo Rotary.
Um animal em cativeiro pode ter uma qualidade de vida inferior ao animal em seu habitat?
Já foi feita uma experiência com um leão. Através de recursos eletrônicos um leão em seu habitat foi monitorado em todos os seus detalhes de comportamento. O mesmo procedimento foi feito com um leão em cativeiro. O leão que vivia na selva estava estressado, havia a necessidade de alimentar-se, ele passa ás vezes uma semana sem alimentar-se. Quando consegue alimentar-se, acaba comendo em excesso. O leão em um zoológico tem regularidade na alimentação. Os estudos mostram que o fato de estar enjaulado não o deixa estressado.
E a Cidade da Criança?
Convenci o Prefeito Cássio Paschoal Padovani a ir até a Cidade da Criança em São Bernardo do Campo. Fomos juntos, foi a primeira vez em que andei de automóvel Galaxie.Ele gostou da idéia e perguntou-me se eu poderia construir algo naqueles moldes. Eu disse que podia fazer sim. Dei o nome de Paraíso da Criança. Ficava na outra metade de espaço livre, que não era ocupado pelo zoológico. Tive um amigo, João Domingos Salmazi, era aposentado da Sorocabana, que era um homem muito habilidoso. Levei-o para trabalhar para mim. Dr. Losso Neto me forneceu uma série de fotografias de brinquedos próprios de um parque infantil. Uma dessas fotos era a de um leão de boca aberta, que funcionava como bebedouro. O Salmazi construiu uma réplica perfeita.Esse bebedouro está lá até hoje.Também trouxemos um avião desativado, o Salmazi fez as poltronas, revestiu internamente, um cinegrafista fez um vôo pela cidade, filmou, e nós projetávamos em uma tela dentro do avião. A sensação era a estar voando sobre Piracicaba. Tivemos também um bonde desativado. Ficava em uma área isolada do acesso livre, porém com perfeitas condições de ser visto, admirado.









Otilia das Graças de Castro Graciani e Armando Graciani

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
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Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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Entrevistados: Otilia das Graças de Castro Graciani e Armando Graciani.

Muitos habitantes de Piracicaba ainda guardam a nítida imagem de um período bastante recente, em que parecia que todos se conheciam. Era muito comum ficar um pouco embaraçado para dizer o nome de determinada pessoa de nossa convivência, nós a conhecíamos apenas pelo apelido. Há uns trinta e poucos anos quem morava em algum dos poucos edifícios da cidade, quando necessitava dizer á alguém onde morava, bastava dizer: "- Moro no prédio tal.". Até mesmo alguns prédios tinham além do nome oficial um apelido consagrado pelo povo. Talvez um dos apelidos mais famosos na cidade era de uma edificação conhecida como "Gaiola de Ouro". Pelo luxo do prédio, onde só moravam pessoas de posse e também porque os habitantes da cidade, acostumados com a liberdade das casas com quintais imensos, tinham resistência em morar em um local menor, na visão de alguns vistos como uma gaiola. A mão de obra disponível para os serviços domésticos era abundante e eficiente. O tempo passou, e em razão de novas variáveis Piracicaba tornou-se um autentico "paliteiro" quando vista do alto. Hoje temos um grande número de edifícios. O crescimento urbano, a grande velocidade das informações, a enorme oferta de bens de consumo, a facilidade de deslocamento para qualquer parte do país, fizeram com que certas características próprias de cada cidade aos poucos fossem sendo esquecidas. Os carteiros eram pessoas muito queridas pela comunidade. Muitas vezes traziam correspondências aguardadas com ansiedade. Entregavam revistas, periódicos. Encomendas, algumas até volumosas.
Uma época em que não existia e-mail, e sim telegramas. Hoje trazemos as lembranças de um casal que enriquece a nossa memória recente. Otilia das Graças de Castro Graciani nasceu em um de setembro de 1951 e Armando Graciani é nascido em 21 de agosto de 1947.
Otilia, como se chamavam os seus pais?
Meu pai chamava-se Júlio de Castro, conhecido como "Júlio Carteiro", e minha mãe Matilde Braga de Castro. Tiveram onze filhos. O mais velho era o famoso locutor, apresentador e cantor Julio Galvão de Castro, mais conhecido como Júlio Galvão. Em seguida nasceu a Romilda, a Heloisa, a Branquinha, que faleceu muito novinha. Em seguida nasceu outro filho, o José Sebastião de Castro, muito conhecido como Braga, que hoje já não reside em Piracicaba. Nasceram outros filhos: a Branca Therezinha, em seguida eu nasci, depois vieram a Fátima, a Lídia, Matilde e o Antonio.
Seu pai, o Seu Júlio Carteiro, começou a trabalhar no correio com quantos anos de idade?
Aos vinte e poucos anos de idade. Foi logo depois que ele casou-se. Minha mãe morava em Brotas, conheceram-se lá mesmo, Torrinha e Brotas são cidades próximas. Meu avô Joaquim de Castro e minha avó Branca Florin de Castro residiam em Torrinha onde trabalhavam na lavoura. Meu pai arrumou serviço no correio lá em Torrinha. Ele foi transferido para o correio de Piracicaba, que na época funcionava na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Treze de Maio, onde hoje existe a Pizza do Bira. Ele permaneceu trabalhando no correio por quase quarenta anos. Na época os carteiros usavam uma farda cáqui, um quepe parecido com os usados pelos oficiais de forças militares.
Ele usava algum tipo de veículo para entregar as cartas?
Eram entregues a pé mesmo. Existia o Seu Galucci, outro carteiro, que utilizava uma bicicleta para a entrega da correspondência. Papai entregava correspondência na área central da cidade. Até hoje muitas pessoas lembram-se dele com carinho. Algumas pessoas até hoje perguntam se sou filha do Seu Júlio. Meu pai além de fazer a distribuição de correspondências, publicações, pacotes, enviados pelo correio, passou a trabalhar na entrega dos jornais Diário de São Paulo e Folha de São Paulo. O distribuidor era o senhor Acary Mendes Junior. Meu pai levantava por volta das três horas da manhã e até quase ás oito horas ele entregava os jornais. Vinha para casa, trocava-se e ia trabalhar no correio, onde permanecia até quatro ou cinco horas da tarde.
Qual foi o primeiro local de residência dos seus pais em Piracicaba?
Foi na Rua Moraes Barros, quase esquina com a Rua do Porto. Além da nossa casa havia o bar que era cuidado pela família. Chamava-se Bar do Seu Joaquim, meu avô. Foi lá na Rua do Porto que eu nasci. Depois mudamos para a Rua Tiradentes, onde mantivemos o bar com o mesmo nome. Em seguida fomos morar em frente á Igreja Bom Jesus, e meu avô e a minha avó continuando a tomar conta do bar. Depois voltamos para a Rua Tiradentes, em seguida mudamos para a Rua Benjamin Constant, onde havia o Cine Colonial, entre as Ruas Treze de Maio e Prudente de Moraes. Em seguida mudamos para a Rua José Pinto de Almeida, em frente ao Grupo Escolar Prudente de Moraes. Meu avô então comprou a casa da Rua do Rosário, 2375, em frente ao Seu Crócomo, da loja "Caldeirão de Ouro". Ao lado morava uma senhora de origem italiana, Dona Lucrecia, que tinha um fusca azul.
Otília, você realizou seus estudos onde?
Estudei no Grupo Moraes Barros, no Grupo Escolar Prudente de Moraes e já morando na Paulista passei a estudar na unidade do SESI que estava instalada no Colégio Assunção. Depois de casada fiz o Curso Técnico de Cabeleireiros, a escola ficava na Rua XV de Novembro a diretora era a Malu.
Armando, você nasceu em que bairro?
Nasci na Vila Rezende, na Rua Lourenço Ducatti. Sou filho de Guerino Graciani e Ida Fuzatto Graciani. Meu pai teve bar por muitos anos, próximo ao jardim em frente á Igreja Imaculada Conceição. Ficava quase encostado ao muro do Atlético. Era o famoso Bar do Tanaka, isso porque o apelido do meu pai era Tanaka. Não deve ser confundido com o outro Bar do Tanaka que ficava aqui no centro e pertencia a um senhor de origem oriental. Estudei no Grupo Escolar José Romão.
Em que cidade você prestou o serviço militar?
Fui escolhido para servir em Brasília, isso foi de junho de 1966 a junho de 1967. Veio um ônibus fretado que nos levou até Brasília. O próprio Exército que providenciou.
O que você achou de Brasília quando chegou lá?
Achei uma cidade muito bonita. Bem organizada. Na época eu servi na PE, Polícia do Exército. Tínhamos que servir como exemplo aos outros soldados. A farda tinha que estar impecável, com a calça vincada. Usávamos como arma fuzil e metralhadora. O meio de locomoção mais comum que utilizei foi o famoso Jeep militar. Foi uma época danada. Fazíamos a guarda dos ministérios, Palácio do Planalto. Havia o BGP, Batalhão da Guarda Presidencial, que fazia a guarda do palácio presidencial. O forte da PE era o policiamento. Na época o local mais freqüentado de Brasília era a Avenida W-3, era onde as pessoas circulavam, freqüentavam bares, restaurantes. Ali nós fazíamos a ronda. Se pegássemos um soldado alterado, com uniforme desalinhado, sem compostura, ele era convidado a nos acompanhar até o local onde permanecia detido em conseqüência da falta de disciplina cometida.
Otília, você tem um irmão que foi muito famoso em Piracicaba?
Tenho. O Júlio Galvão. Ele trabalhava no telegrafo do correio, quando o correio funcionava ainda na Rua Alferes. Ele foi locutor de rádio, tendo trabalhado nas rádios de Piracicaba. Ainda bem jovem, ele e dois amigos, formavam o Trio Itujuval. Era formado pelo Julio, pelo Toninho Bicanca, e pelo Valter. Chegaram a gravar um disco. Infelizmente o trio acabou com o falecimento precoce do Toninho em um acidente de automóvel. O Julio continuou a trabalhar na rádio transmitindo jogos, trabalhando no correio, aonde chegou a ocupar o cargo de Chefe do Correio. Aposentou-se. Ele foi acometido de complicações em decorrência de diabetes e veio a falecer.
Seu pai ficava ouvindo o filho transmitindo os jogos de futebol?
Ouvia sim. Quando ele chegava à nossa casa, meu pai comentava: "Hoje estava muito bom." Meu pai era Sãopaulino roxo e o Júlio era Palmeirense roxo. Dava uma "briga" boa. Eles só combinavam quando o XV jogava. Os dois torciam pelo XV.
Otília você chegou a usar o bonde como meio de transporte?
Puxa! Quanto andei de bonde. Ia trabalhar de bonde. Meu marido, na época em que namorávamos, vinha da Vila Rezende até a Paulista, de bonde.
Otília você trabalhou em uma padaria?
Trabalhei na Padaria Jacareí. Isso foi em 1964 a 1965. Trabalhei atendendo aos clientes no balcão. Entrava ás seis horas da manhã, saia em torno de meio dia, voltava ás seis horas da tarde e saía ás nove horas da noite. Trabalhei lá uns dois anos. O proprietário era o Seu Lázaro Sanches, a esposa dele era a Dona Joana. Eles tinham duas filhas, a Dona Therezinha casada com Seu Osvado, e a Dona Josefina casada com o Seu Adão.
Havia a entrega de pães naquela época?
Havia os padeiros que faziam a entrega dos pães. Naquela época eram entregues com carrinho puxado por cavalo. A carroceria do carrinho era fechada. Lembro-me nitidamente de um senhor que entregava pão. Ele tinha os cabelos brancos, usava bigode, tinha um carrinho vermelho e puxado por um cavalo branco.
O pão que eles mais vendiam quais eram?
Era a bengala, filão, pão-doce. Eleis iam buscar os pães na madrugada. Depois do almoço voltavam para pegar pães novamente. Saiam vendendo pelas ruas, sítios próximos.
Na Rua Alferes José Caetano havia a Padaria São João?
Tinha sim. Era do pai da Sueli Rossi, o Seu João Rossi. Ela era uma grande amiga minha. Nunca mais tive notícias dela.
Mais acima havia a família Cerignhoni?
Moravam na esquina da Avenida Dr. Paulo de Moraes com Rua Alferes José Caetano, onde hoje é o Pasteletto. Em frente havia um armazém do Seu Roque Signoretti. Na Esquina da Rua do Rosário com a Avenida Dr. Paulo de Moraes havia o Posto Cantagalo, que incluía também um restaurante. Foi arrendado pelo seu proprietário para uma família do sul. O gerente do posto era o jovem José Inácio Mugão Sleimann, que depois participou ativamente da política piracicabana.
Da padaria Jacareí você foi trabalhar onde?
Na Casa Espéria. Ficava na Rua Governador Pedro de Toledo entre as Ruas XV de Novembro e a Rua Rangel Pestana. O dono era o Seu José. Trabalhei lá por seis anos. Saí quando me casei. Era uma loja especializada em roupas para nenê, e armarinhos. Meu irmão Braga já trabalhava lá como vendedor quando fui contratada. Minha irmã Fátima também trabalhava lá. Havia freguês de todo tipo, Naquele tempo não era comum pagar em cheque, cartão de crédito nem existia. Era tudo pago no dinheiro. Era muito freqüentada por mulheres grávidas que iam comprar roupinha de nenê. Eu entrava no serviço ás oito horas da manhã e saía ás seis horas da tarde. Parava para almoçar as onze horas e voltava ao meio dia e meia. Vinha almoçar em casa todo dia. Naquele tempo nem se falava em marmitex.
Em que ano vocês casaram-se?
Casamos na Igreja Sagrado Coração de Jesus, a Igreja dos Frades, em 17 de junho de 1972.
Armando, nessa época você trabalhava em que profissão?
Trabalhava como soldador na empresa de Antonio Velo. Era uma empresa de montagem de destilaria de álcool e usina de açúcar. Temos um casal de filhos a Amanda e o Juliano. Já temos duas netas.
Otilia você chegou a viajar de trem?
Viajei sim. Quando meu pai entrava de férias pelo correio, nós íamos visitar a minha avó materna que morava em Brotas. Íamos de ônibus até Rio Claro e lá tomávamos o trem para Brotas. Quando meu pai tinha algum assunto para resolver em São Paulo ele tomava o trem ali na Estação da Paulista. Nós íamos despedirmo-nos dele na plataforma.
Seu pai ganhava presentes de pessoas satisfeitas com o trabalho dele?
Ganhava. Vinho, panetone, doce, dinheiro.
O seu irmão Braga foi proprietário de Dauphine?
Tinha. Naquela época carro era artigo de luxo.
Dos programas de televisão da época você lembra-se de alguns que a família assistia?
Assistíamos ao programa do Silvio Santos, novelas como Redenção, Pupilas do Senhor Reitor, O Direito de Nascer. Programas da época como Família Trapo, Luta Livre, Chacrinha, Zorro, Roy Rogers.
Naquele tempo as 10 horas da noite o namorado tinha que deixar a namorada em casa?
Nove horas da noite já tinha que ir para casa. E quando saia com o namorado tinha que levar uma irmã ou um irmão junto. Era a famosa "vela". Dizia-se que o acompanhante "carregava vela". Havia mais romantismo.

domingo, dezembro 21, 2008

Marco Antonio Cavalari

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/

Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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http://www.teleresponde.com.br/

Entrevistado: Marco Antonio Cavallari






O olhar de um artista plástico é diferenciado, ele tem uma percepção própria e única. Cada artista tem sua personalidade expressa em sua obra, como uma impressão digital. Jamais dois artistas trabalhando um mesmo tema, realizarão obras exatamente iguais. Ambas são meritórias. Marco Antonio Cavallari nasceu no bairro Vila Rezende, em Piracicaba, no dia 29 de outubro de 1948. Filho de Agenor Rosário Cavallari e Rita Bertolazzo Cavallari. Têm inúmeras obras espalhadas pela América Latina, EUA e vários países da Europa. Sés trabalhos abrangem as áreas: Anatomia Humana, Arte Arquitetônica, Arte Decorativa e Utilitária. Desenho, Escultura, Máscara Facial, Maquetes, Miniaturas, Monumentos, Pintura, Réplicas e Formas, Reconstituição Craniométrica, Restauração, Simbologia Maçônica, Troféus, Comendas e Medalhas. Autor da obra "Aprenda a Desenhar, Desenhando”, com 14 Estágios Modalidades de Desenho e 48 meses de duração como Curso. Autor do livro "Desenho Artístico para Crianças de 7 aos 10 anos", com 15 Estágios Modalidades de Desenho, para crianças na faixa etária dos 7 aos 10 anos e com 28 meses de duração como Curso. Autor do "Tratado de Cerâmica Artística Rústica", com 10 capítulos e com 18 meses de duração como Curso. Autor do livro-documento sob título "Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Padre Marcelino José Bento Champagnat". Autor do filme-documento sob título "Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Padre Marcelino J. B. Champagnat". 2002 - PEQUENA MEDALHA DE OURO, pelo desenho a lápis-de-cor sob título; "ORVALHO", no III Salão Nacional de Artes Plásticas do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus 2 - Engenheiro Coelho - SP. 2001 - MEDALHA DE BRONZE, pelo desenho a giz-pastel-oleoso, sob título: "LÁGRIMAS DE MARIA" , no III Salão de Arte da ALIE, promovido pela Associação Limeirense de Educação - Limeira -SP. 2001 - MEDALHA DE OURO, pela escultura em bronze "EXEMPLO DE AMOR", no III Salão de Arte da ALIE, promovido pela Associação Limeirense de Educação - Limeira - SP. 2001 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pelo desenho a grafite sob título "NONA", no II Salão Nacional Adventista de Artes Plásticas promovido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo Campus 2 - Engenheiro Coelho - SP. 2000 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "ORAÇÃO", no II Salão de Arte da ALIE - (Associação Limeirense de Educação) em Limeira - SP. 2000 - GRANDE MEDALHA DE OURO, pela escultura "BANHISTA", na Mostra Almeida Júnior - X Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1997 - PEQUENA MEDALHA DE BRONZE, pelo Desenho a grafite "NONA", na Mostra 97 - Almeida Júnior: IX Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP).1997 - PEQUENA MEDALHA DE OURO, pela escultura "A MORTE DO GLADIADOR", na mostra 97 - Almeida Júnior: IX Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP).1995 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pela escultura "UM GRANDE CAMPEÃO", na mostra 95 - Almeida Júnior: VII Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1994 - "OUR CONCOURS", no I Salão Regional de Artes Plásticas de Tatuí, com o conjunto de esculturas "DOIS CORAÇÕES" e "O PEDREIRO". 1993 - "OUR CONCOURS", no XXXI Salão Ararense de Artes Plásticas, com a escultura em bronze, "ELA E O VENTO". 1993 - GRANDE MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas: "POR UMA QUESTÃO DE HONRA" e a "FUGA", na Mostra 93 - Almeida Júnior: V Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticos (APAP). 1992 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas: "DAMA DOS GATOS" e "DOIS CORAÇÕES", no X Salão de Artes Plásticas de Araraquara. 1991 - PEQUENA MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", na Mostra 91 - Almeida Júnior III Salão de Artes Plásticas da Associação Piracicabana dos Artistas Plásticas (APAP). 1985 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "MÃE-DE-LEITE", no XXXIII Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1984 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "O PEDREIRO", no II Salão de Artes Plásticas de Rio Claro. 1984 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas "A METAMORFOSE DE ADÃO", "MEMÓRIAS" e "FÚRIA SELVAGEM", no XI Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1983 - PRÊMIO "TORQUE", pelo conjunto de esculturas "DAMA DOS GATOS" e "DOIS CORAÇÕES", no XI Salão Ararense de Artes Plásticas. 1983 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "BRUNO, O BISCOITEIRO", no XXXI Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1983 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "DAMA DOS GATOS", no VI Salão de Artes Plásticas de Itu. 1983 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "CACHIMBANDO", no I Salão de Artes Plásticas de Rio Claro. 1982 - PRÊMIO DE AQUISIÇÃO - PREFEITURA MUNICIPAL, pela escultura "GRILHÕES", no XXX Salão de belas Artes de Piracicaba.1982 - PRÊMIO "USINA SÃO JOÃO", pela escultura "SERESTEIROS", no IX Salão Ararense de Artes Plásticas. 1981 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "O PEDREIRO", no XXIX Salão de Belas Artes de Piracicaba. 1981 - MEDALHA DE OURO, pela escultura "O PEDREIRO", no VII Salão Ararense de Artes Plásticas. 1980 - 2º PRÊMIO EM DINHEIRO, pela escultura "DOIS CORAÇÕES", no XXVIII Salão de belas Artes de Piracicaba. 1980 - GRANDE MEDALHA DE OURO, pela escultura "O PEDREIRO", no V Salão Oficial de Belas Artes de Matão. 1980 - GRANDE MEDALHA DE PRATA, pela escultura "LAVANDO A CARA", no V Salão Ararense de Artes Plásticas. 1980 - MEDALHA DE BRONZE, pelo conjunto de esculturas "DAMA DOS GATOS", "MIGUÉ, O TOCADOR DE LATINHAS", e "CACHIMBANDO", no VIII Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1979 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", no VII Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1979 - MEDALHA DE PRATA, pela escultura "DESCANSO DO BÓIA-FRIA", no III Salão Ararense de Artes Plásticas. 1979 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "FARRAPO DE GENTE", no I Salão Nacional de Artes Plásticas de Leme. 1978 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "POR UMA QUESTÃO DE HONRA", no I Salão Ararense de Artes Plásticas. 1977 - MENÇÃO HONROSA, pela escultura "FARRAPO DE GENTE", no V Salão Limeirense de Arte Contemporânea. 1973 - MEDALHA DE BRONZE, pela escultura "A FUGA", no XXI Salão de Belas Artes de Piracicaba.

Qual era a profissão dos seus pais?
Ele era ajustador mecânico do Engenho Central, e minha mãe costureira. Meu avô Hugo Cavallari imigrou da Itália junto com um amigo, o Grande Oficial Mário Dedini. O Mário Dedini chegou a convidar o meu avô para juntos montarem uma oficina, meu avô achou aquilo uma loucura, o momento era para plantar café. O resultado nós conhecemos: o Mário Dedini progrediu de forma vertiginosa e o meu avô teve o desgosto de ver o café dando-lhe um tremendo prejuízo, fato comum á todos os cafeicultores da época. Mesmo assim meu avô teve uma boa qualidade de vida, na época como funcionário qualificado do engenho tinha uma série de benefícios. O fato de falar fluentemente italiano e francês ajudava muito.
O senhor é casado?
Sou casado com Marilda dos Santos Cavallari sou pai de dois filhos, Marco Antonio Cavallari Júnior e Mariana Gabriela Cavallari.

O curso primário o senhor realizou em que escola?
Estudei no Grupo Escolar José Romão, na Escola Estadual Jerônimo Gallo. Aos 10 anos de idade comecei a trabalhar em uma oficina de funilaria, propriedade do Neno e do Elpídio Rossin, ficava bem próxima de casa. Lavava peças, parafusava e desparafusava algumas partes. Sindo de lá fui trabalhar em uma oficina de torno, propriedade de Duílio Borghese, ficava atrás da Escola Industrial. Permaneci lá por uns dois anos. Trabalhava com torno. Naquele tempo o patrão fazia o papel do instrutor. Considero um grande erro a proibição de hoje as crianças não poderem trabalhar. É uma lei absurda essa em vigência. O que não se pode é explorar o trabalho de uma criança. Tem que ser dada a oportunidade para que a criança estude e fazer com que ela trabalhe. Só assim teremos grandes homens. Digo isso por tudo que passei minha família sempre foi pobre, e batalhamos muito para progredir. Cheguei a vender sucata de ferro, então chamada de ferro-velho, para poder comprar um presentinho a ser dado no Dia das Mães. Criava coelho, vendia rato branco para a Esalq usar em suas experiências de laboratório. Onde hoje é o Hospital dos Plantadores de Cana havia uma argila espetacular, era cinzenta. Fiz uma carriola, de madeira, com roda de borracha, trazia a argila de lá e fazia as minhas pequenas esculturas. Fazia as “minhocas”. Com o rolo de macarrão fazia as placas, cortava, construía as peças e vendia. Aprendi também a fabricar vassouras. E sou fundidor de ferro. Sei fazer vassoura de piaçava, fazia quarenta dúzias por dia, isso na Fabrica de Vassouras Marabá que ficava na Vila Boyes.
O pai do senhor tinha uma veia artística?
O Pedro Alexandrino freqüentava muito a minha casa. Aprendi a tocar violão com o meu pai. Cheguei a ir até a televisão, no então Canal 4, TV Tupi. Era o programa “Gaiola de Ouro”, de Alfredo Borba. Fomos, eu, minha irmã e o Misael de Oliveira do Super Som 7. Cantei a música Perfídia, a letra de Trini Lopez. Meu pai era desenhista, cantor,.poeta e trabalhava com argila também. Só que na época o artista plástico não era valorizado. Ele trabalhou como ilustrador de quadros anatômicos para o Grupo Escolar José Romão e para a Escola Baronesa de Rezende. As aulas eram dadas com folders, papéis que mostravam como era o sistema digestivo, circulatório, respiratório. Na época não havia á venda esses quadros. Hoje é muito comum serem impressos em gráficas. Naquele tempo tinha que existir um artista para fazer esse trabalho. Eu ficava fascinado com o trabalho do meu pai. O colorido que ele dava para cada detalhe.
Em que ano o senhor foi estudar na Escola Panamericana de Arte em São Paulo?
Foi em 1964. Ia a pé até a rodoviária de Piracicaba, pegava o primeiro ônibus para São Paulo, ficava o dia todo lá e chegava de volta em Piracicaba ás nove horas da noite. Isso era feito dois dias por semana. A escola ficava na Avenida Angélica. Tive como professores o Ziraldo, Manoel Vitor Filho, Walter Forster, Danilo Di Pretti. O curso durou quatro anos. Fiz também em Piracicaba a Escola Megatec, com os professores Danilo Sancinetti e Chico Gobbo. Passei a executar os trabalhos que o meu pai fazia: os desenhos anatômicos, geográficos, para o Grupo Escolar José Romão e para a Escola Baronesa de Rezende. Um dia a irmã Clara, perguntou se eu conseguiria ilustrar umas paredes com temas infantis. Pintei. Nesse meio tempo Dona Hilda Gobbo viu o meu trabalho e me convidou para realizar pinturas onde era o Centro de Reabilitação, hoje funciona o prédio do Senac, próximo ao correio. Pintei dois quadros de 6 por 3 metros com os temas A Dama e o Vagabundo e A Branca de Neve e os Sete Anões. Acabei sendo contratado para dar aulas no Centro de Reabilitação, onde permaneci por sete anos lecionando. Tinha 64 alunos sob a minha tutela. Formei com alguns alunos a Turma de Produção Especial em Cerâmica, a Tupec. Eles tinham um uniforme próprio, sentiam-se valorizados. Faziam e vendiam seus próprios trabalhos.
Em seguida o senhor foi trabalhar na Coopersucar?
Eu já estava casado. Iniciei trabalhando no departamento de segurança da Coopersucar. Eu tinha que ilustrar todo o material a ser divulgado em 78 usinas de açúcar. Era sobre primeiros socorros, prevenção de acidentes, proteção contra incêndios. Não havia nada a respeito dos assuntos. Fiz vários cursos sobre segurança. Produzia todo material didático visual para os supervisores darem aulas. Fui inovador e pioneiro em transparências colorizadas com caneta de transparências, mas com características usadas em quadro a óleo. Misturava as cores e conseguia obter cores secundárias, terciárias, com álcool etílico. Até réplicas de canas cheguei a fazer. Esculpia a caninha, pintava na cor e depois ela era enclausurada em acrílico. Fizemos cana de gesso. Doze dessas amostras de variedades que a Coopersucar havia desenvolvido foram dadas ao Presidente João Baptista Figueiredo como presente. Permaneci por 14 anos na Coopersucar. Eu entrava no centro do canavial, ia pegar as canas no meio do canavial, para usar como modelo e reproduzi-las em pinturas e maquetes. As canas da periferia do canavial sofrem a influencia do sol e mudam de cor. Eu trazia as canas protegidas, embrulhadas em um pano, entrava na minha câmara escura, com a luz dirigida apenas para o meu desenho. No final de uma das minhas obras, retrato detalhes de cada tipo de cana em bico de pena.
O senhor é perfeccionista?
Sou. Tem um provérbio que diz que quando o artista atinge o seu apogeu, ele está morto. Ele tem que parar ou assumir a abstração, sob o risco de revelar a sua decadência ou mediocridade. Picasso fez isso e foi muito bem sucedido.
Depois da saída do senhor da Coopersucar qual foi a sua próxima atividade?
Montei um estúdio e passei a trabalhar como artista autônomo. Trabalhei para empresas de publicidade, fiz muitos modelos de estojos para óculos. Até para a Bolívia eu trabalhei. Sou formado em desenho publicitário pelo Senac.
O senhor tem uma noção de quantas obras já foram realizações suas?
Tenho muita coisa registrada, mas já perdi a conta. Bustos mesmo eu acordei para registrá-los há pouco tempo. Devo ter mais de 500 bustos espalhados pelo Brasil. Inclusive um pequeno que foi entregue ao Rei Gustavo da Suécia.
O senhor tem um trabalho realizado para uma instituição religiosa?
O fundador do Instituto dos Irmãos Maristas, Marcelino Champagnat, nasceu na França, era um sacerdote da igreja católica, e após ter realizado dois milagres, que foram confirmados, ele foi beatificado. Em 1999 ele iria ser canonizado pelo Vaticano. Porém não existiam fotografias dele. O Vaticano pediu que fosse providenciada a melhor imagem possível dele. Só existia uma pintura feita por um amigo seu. Outra pintura dele foi feita quando ele já estava morto. Vestiram o cadáver com sua batina, e o pintor muito rapidamente o retratou. Os maristas da Província de São Paulo conheciam o Badan Palhares, que tinha sido o coordenador do trabalho feito com o Josef Mengele. O Dr. Badan entrou em contato comigo e passamos a trabalhar juntamente com o legista Dr. Nelson Massini. Ficamos 230 dias nessa reconstituição. Fiz a réplica de uma cópia do crânio de Marcelino Champagnat que mandaram da cidade francesa de Saint Chamond para cá. Recebi visita até da CNN após ter concluído o trabalho.
Era realmente do Mengele o corpo encontrado em Bertioga?
Era ele sim. Foi inclusive feito o exame de DNA dele na Inglaterra. Ele possuía uma fistula (N.J. um sinal clínico) e foi essa fístula que confirmou sua identidade também. O meu nome saiu como escultor no laudo oficial da polícia brasileira, alemã, israelense e americana.
Qual é o processo desenvolvido para dar as formas do rosto, a cor de pele?
Isso é feito posteriormente. No crânio humano, existem os pontos craniométricos. Eles limitam em milímetros aquilo que existia antes de tecido, glândulas, músculos, gordura. Isso permite resgatar o ser humano e a raça a qual pertence. Isso não implica em definir quais eram as características fisionômicas. Essas características são adquiridas através de fotografias. Ou através de informação oral.
Quanto tempo o senhor levou para fazer o trabalho com o crânio do Mengele?
Uns dois meses. Foi rápido.
Foi um trabalho que teve grande repercussão internacional?
Saiu em todas as revistas da Europa. Ele era um componente do primeiro escalão nazista.
Com esse trabalho o senhor escreveu o seu nome na história?
Acredito que sim. Tem um provérbio de Marco Cavallari que diz: “O acaso gera muito mais satisfações do que o propósito”.
Em que ano o senhor trabalhou na reconstituição de Mengele?
Foi em 1986. O de Champagnat foi em 1998.
De onde saí tanta criatividade?
Do alto.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorro quente.
Ele não tinha rádio, não tinha televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia o melhor cachorro quente da região.
Ele se preocupava com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava e gostava. As vendas foram aumentando e, cada vez mais ele comprava o melhor pão e a melhor salsicha. Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender a grande quantidade de fregueses. E o negócio prosperava e prosperava . . . Seu cachorro quente era o melhor! Vencedor, ele conseguiu pagar uma boa escola ao filho.

O menino cresceu, e foi estudar Economia numa das melhores Faculdades do país. Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vida de sempre, vendendo, agradando e prosperando e teve uma séria conversa com o pai :
- Pai, então você não ouve radio? Você não vê televisão? Não acessa a Internet e não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso País é crítica. Está tudo ruim. O Brasil vai quebrar.
Depois de ouvir as considerações do filho Doutor, o pai pensou: Bem, se meu filho que estudou Economia na melhor Faculdade, lê jornais, vê televisão e internet, e acha isto, então só pode estar com a razão! Com medo da crise, o pai procurou um Fornecedor de pão mais barato ( e é claro, pior ). Começou a comprar salsichas mais barata ( que era, também, a pior ). Para economizar, parou de fazer cartazes de propaganda na estrada. Abatido pela noticia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta. Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo e chegaram a níveis insuportáveis e o negócio de cachorro quente do velho, que antes gerava recursos até para fazer o filho estudar Economia na melhor Faculdade... quebrou. O pai, triste, então falou para o filho: - 'Você estava certo, meu filho, nós estamos no meio de uma grande crise. 'e comentou com os amigos, orgulhoso: - 'Bendita a hora em que eu fiz meu filho estudar economia, ele me avisou da crise ...' Aprendemos uma grande lição : Vivemos em um mundo contaminado de más noticias e se não tomarmos o devido cuidado, essas más noticias nos influenciarão a ponto de roubar a prosperidade de nossas vidas.
O texto original foi publicado em 24 de fevereiro de 1958 em um anúncio da Quaker State Metais Co. Em novembro de 1990 foi divulgado pela agência ELLCE, de São Paulo.
(by Moni).



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sábado, dezembro 13, 2008


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
A Tribuna Piracicabana
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Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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Entrevistado:
Sebastião Franco – Craveiro

Por definição cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Portanto, fazem parte da cultura de um povo as seguintes atividades e manifestações: música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social. Piracicaba tem influenciado a cultura do nosso país, em todos os segmentos. Uma das grandes expressões de cultura da nossa terra é a dupla Craveiro e Cravinho. Com a música no sangue, são donos de um talento reconhecido e cantado pelo Brasil inteiro. Introvertidos na vida pessoal, muito modesta, apresentam as características daqueles que sempre lutam por um sonho, por muitos anos foram obrigados a exercerem atividades profissionais alheias a música.
Craveiro, como é o seu nome?
Eu me chamo Sebastião Franco, e meu irmão o Cravinho, chama-se João Franco. No tempo em eu nasci para fazer o registro de nascimento de uma criança, esperava-se acumular o nascimento de várias outras crianças para então aproveitar a ida do sítio ao cartório e então se registravam todas nascidas naquele período. Com isso eu nasci no dia 5 de outubro, mas fui registrado no dia 5 de fevereiro de 1931. É bom ter duas datas de nascimento: eu ganho presentes duas vezes. (risos). Meu irmão nasceu em setembro de 1938. Meu pai chamava-se Josué Inocêncio Franco e minha mãe Julia de Andrade Franco. Nasci em um bairro rural que tinha por nome Cortume, município de Pederneira, próximo a Jaú. Quando tinha uns seis ou sete anos de idade mudamos para o que na época era um lugarejo, que tinha duas vendinhas, chamado Itatingui. Éramos nove irmãos. Hoje somos cinco.
Qual era a atividade profissional do seu pai?
Meu pai era retireiro, e eu ainda bem novo também comecei a trabalhar nesse ofício. Pouca gente sabe o significado da palavra retireiro. É aquele que tirava leite da vaca. O retireiro apartava os bezerros ás duas horas da tarde. Trazia as vacas na mangueira, separava os bezerros, para ele não mamar até no outro dia. Lá pelas quatro horas da manhã do dia seguinte, começava a tirar o leite. O bezerro vinha dava umas cabeçadas no ubre, o leite descia. Na época era tirado leite de umas oitenta vacas, por quatro a cinco pessoas adultas e eu, que embora tivesse uns 12 ou 13 anos de idade, fazia o trabalho de um adulto. Tínhamos que ordenhar e entregar o leite para que o trem que passava ás nove horas da manhã levasse esse leite. Para levar esse leite até a estação era usada uma carroça puxada por bois, chamada carretela.
Quantos bois puxavam essa carroça?
Dois bois. Para puxar lenha colocávamos mais bois.
O senhor lembra-se do nome de alguns desses bois?
Lembro-me do nome de alguns deles: Rolete, Maneiro, Desenho, Deserto, Pente Fino. Eram bois mansinhos, quando nós os tocávamos na mangueira eles ficavam um ao lado do outro para colocarmos a canga.
Como a família foi residir em Pederneiras?
A origem da família era lá. Meu bisavô, Felipe Franco foi quem doou a terra onde foi fundada a cidade de Pederneiras.
A vocação para cantar surgiu quando?
Surgiu quando eu ainda era criança. Meu pai, minha mãe, minha família toda cantava. Nas festas de sítio, meu cantava, catira, cateretê, e eu passei a ajudá-lo a cantar. Eu era criança, peito fino. Montamos uma dupla e passamos a cantar as modas conhecidas.
O senhor dança catira?
Dancei muito, agora as pernas já não ajudam tanto. ( risos) Mas dou uns pulos ainda.
Como surgiu o nome Craveiro?
O Bairro Itatingui, era um lugarejo, menor do que Porto João Alfredo (Artemis), só tinha duas vendas. Na época apareceu um circo, do tipo pavilhão, chamava-se Circo do Miguel. Normalmente o circo comum é redondo, o circo do tipo pavilhão é quadrado, coberto com lona, duas águas. Veio se apresentar no circo uma dupla de nome Craveiro e Rosinha. Era pai e filha. Naquele tempo eles iam e permanecia a semana inteira no local do primeiro show, por causa de condução. Deram o show no sábado, ficaram para o domingo, para a quinta-feira até o outro sábado. Com isso houve um entrosamento nosso. Eu era doente por cantoria, eles cantavam, faziam mágicas no circo. Fiquei entrosado no circo. Tornei-me muito amigo deles. Segundo alguns diziam, eu era muito parecido fisicamente com o Craveiro, a diferença é que eu era um menino e ele um senhor de uns quarenta e poucos anos de idade. Depois de o circo ter ido embora, quando eu chegava a algum lugar o pessoal dizia: “Olha o Craveiro que vem vindo”. Eu passei a ser o Craveiro.
Como surgiu o nome Cravinho?
Em Jaú existia uma rádio chamada PRG-7, eu meu irmão fomos cantar lá. Na época eu era molecão de uns 17 anos, já usava calça comprida. Um locutor falou: “Olha o Craveiro ali!”. Outro locutor disse: “E o Cravinho junto.” Quando voltamos para Itatingui já passamos a ser chamados de Craveiro e Cravinho. Quando lançamos o nosso primeiro disco, houve um momento em que foi pensado em chamar a dupla de Paulista e Paulistinha, mas acabou permanecendo Craveiro e Cravinho.
Quando a música passou a ser a profissão definitiva da dupla?
Eu fui carpinteiro. Fazia madeiramento de casa, portas, janelas.
Mas com o talento artístico de vocês não tinha como viver só da música?
Trabalhamos muito, no batente duro. Mudamos em 1957 para o Porto João Alfredo (Artemis). Logo em seguida viemos morar em Piracicaba. Na época, existia em Piracicaba uma pessoa chamada Jaime Pereira, que era um grande admirador de moda de viola. Em 1957, um cururueiro de nome Barbosinha tinha um programa no rádio isso no tempo de Lazinho Marques, Nhô Serra. Quando escutaram nossa apresentação feita á alguns amigos, imediatamente nos levaram para catar na rádio. O pai do Jaime Pereira, o Seu Abel Pereira tinha uma carvoaria na Rua Sud Mennucci, no bairro da Paulista. Ele participou ativamente da construção da Igreja São José, e nós cantávamos nas animadas quermesses, feitas em benefício das obras da igreja. Ainda em 1957 passamos a nos apresentarmos na rádio, o José Soave contratou-nos. No finzinho de 1957 passamos a ter um programa fixo na Rádio Difusora. Foi uma coqueluche. Todos elogiavam, diziam: “-Que dupla boa!”. Ficamos na rádio até o início de 1980. O Dr. Bento Dias Gonzaga também sempre admirou moda de viola. Dr. Francisco Salgot Castillon também gostava de música raiz.
Continuavam a trabalhar como carpinteiro?
Continuamos, o salário na rádio era bem apertado. Surgiu a oportunidade de gravarmos o nosso primeiro disco em 1962. Era com as músicas “Ponta de Faca” com autoria minha e de Nhô Serra e “Mata Deserta” de autoria minha e do Cravinho. Continuamos trabalhando na rádio e aos domingos íamos fazer shows na região de Piracicaba.
Quando a dupla Craveiro e Cravinho apresentou-se pela primeira vez na televisão?
Foi no programa “Canta Viola” de Geraldo Meirelles, na TV Record.
O senhor gosta de jogar truco?
Gosto muito. Todo cururueiro gosta de truco. Conheci uma turma boa de truco. João Nhô, Zé de Freitas, José Nassif. Essa turma era terrível no truco. Eu inteirava!
A dupla que aceitava jogar truco com vocês era o que chamavam de “pato”?
Saiam sem penas!
O jogo de truco é um jogo de muitas estratégias, uma delas é o sinal entre os parceiros, indicando as cartas que cada um tem nas mãos?
O uso acertado de sinal entre os parceiros significa metade do jogo ganho. O sinal corriqueiro ficou muito conhecido. Cada dupla usa um tipo de sinal. Existem sinais que são quase despercebidos pelos adversários.
Qual é a maior satisfação que um cantor obtém?
Soltar com a voz os seus sentimentos. A cantoria é emotiva. Quem canta sem entusiasmo a moda não sai boa. Tudo tem que ser natural. Quando nós cantávamos na Rádio Difusora de Piracicaba, isso em 1957, no nosso início, a nossa vontade de cantar era muito grande, o corpo acompanhava a viola, o jogo, o pessoal notava aquilo Todo serviço que é feito com amor sai perfeito.
Qual foi o lugar mais distante de Piracicaba que a dupla Craveiro e Cravinho já se apresentou?
Nos Estados Unidos! Nova Yorque e Nova Jersey. Lá existem as colônias brasileiras, o empresário brasileiro contratou a dupla de cantores Cesar e Paulinho, e pediu que nós também nos apresentássemos lá. O nosso disco “Franguinho na Panela” é muito tocado nas comunidades brasileiras de lá.
Craveiro e Cravinho já se apresentaram para autoridades muito conhecidas?
Fizemos a entrega de uma viola caipira para o Presidente Figueiredo. Foi em Ribeirão Preto. Ele gostou do presente e cantou conosco aquela Moda da Mula Preta. Ele era canhoteiro, tocou a violinha. Foi uma festa. Era um homem muito simples.
Craveiro e Cravinho tiveram um programa na televisão?
Por dois anos apresentávamos um programa. na TV Bandeirantes, em São Paulo. Era gravado no Teatro Brigadeiro, ao vivo. Chamava-se Som Verde, eram duas horas de programa. Foi um programa que mexeu com o Brasil de Norte á Sul. Nós levávamos muitas duplas boas. Quem fundou o programa foram o Tonico e o Tinoco.
Era gravado uma vez por semana?
Uma vez por semana nós íamos á São Paulo para gravar o programa. Na época nós tínhamos um carro DKW. Ia pela Via Anhanguera. Voltava á noite, naquela época não havia o trânsito que há hoje. Vinha com calma.
Vocês participaram de muitos programas de televisão?
Cantamos no programa de Airton e Lolita Rodrigues, o “Almoço Com As Estrelas”. Já participamos do programa da Hebe Camargo, Gugu Liberato. Conhecemos o Silvio Santos na Rádio Nacional de São Paulo. Nós fazíamos um programa lá. Conheci Manoel da Nóbrega. Conheci muito o saudoso Edson “Bolinha” Coury. Conheci o Chacrinha. Era boa gente, tinha um espírito de criança. Cesar de Alencar também foi nosso conhecido. Cantamos juntos com Dorival Caymi. Na ocasião do cinqüentenário da música sertaneja participamos fazendo uma apresentação no Parque São Jorge, o campo do Corinthians. Lotou o estádio. Apresentaram-se muitos cantores, foi um dia inteiro de festa. A moda de viola sempre foi uma moda querida por todos, e com a Graça de Deus está voltando de forma mais forte.
E a música que vocês fizeram em homenagem ao Pelé?
É a música Pelé dos Pobres. Quando o Pelé estava no auge, na década de 70, o Moacyr dos Santos fez uma moda que dizia que existe o Pelé rico, eu sou o Pelé dos pobres. Nós gravamos essa música. Foi uma musica muito tocada. Conheci Garrincha, Rivelino. Elza Soares. Nós freqüentamos o programa da Inezita Barroso. Domingo próximo será transmitido pela TV Cultura o programa especial que nós fizemos para o fim do ano.
Atualmente a dupla apresenta um programa na Rádio Educadora de Piracicaba?
Começa ao meio dia e meia e vai até as duas e meia horas da tarde. Aos domingos. Na AM 1060 Khertz.
A dupla sempre encontra muitos fãs onde se apresenta?
Em todo lugar que nós vamos encontramos fãs ardorosos, que acompanham a nossa carreira. Muitos choram. Dão presentes: fotos, canivetes, pito.
O senhor andou muito de bonde em Piracicaba?
Lembro-me do bondinho, ele saia da Estação Sorocabana e ia até a Escola Agrícola. O Milito era o motorneiro do bonde. Os funcionários que trabalhavam no bonde gostavam muito de moda de viola. Tenho saudades daquele tempo.
Qual a sua comida preferida?
Todas são boas. Um arroz com feijão e um ovo frito é muito gostoso.
Com um franguinho na panela?
Um franguinho!
A música Franguinho Na Panela é um grande marco ma carreira da dupla?
Após essa música, conhecemos em seis ou sete anos lugares que não tínhamos conhecido em quarenta anos. Viajamos para Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso. Hoje os veículos de comunicação são muito rápidos. A moda quando é boa chega ao conhecimento do povo de forma rápida.
Já tem alguma novidade para ser lançada?
Tem um CD quase pronto para sair.
O senhor é religioso?
Sou católico. Creio muito em Deus.
Vocês cantaram uma música para uma novela famosa?
Cantamos para a novela Corpo Dourado, a música Cabocla Tereza.
Estamos próximos ao final de 2008 qual é a sua mensagem para Piracicaba?
Que seja um Natal muito feliz, com muita comida na mesa, muita paz, e que o Ano Novo seja o ano prometido.





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sexta-feira, dezembro 05, 2008

Else Ferraz Salém


PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

A Tribuna Piracicabana
http://www.tribunatp.com.br/


ESCOLA DE APLICAÇÃO
Entrevista: Publicada no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos: http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/

Entrevistada: Else Ferraz Salém
Um dos privilégios da maturidade é trazer doces lembranças. Se lembrar é reviver, nada melhor do que lembrar-se dos bons momentos. São imagens guardadas na memória de cada um. Muitas vezes a pessoa é a protagonista principal. Também pode ser coadjuvante. E algumas vezes apenas assiste a um fato, sem intervenção direta. Saber viver cada etapa da nossa existência é uma arte. Um eterno descobrir-se. Se por acaso a idade traz algumas limitações físicas, naturais, também aguça outras, é a lei da compensação da mãe natureza. Certo dia, um casal deixou uma cidade do litoral paulista, onde vivia com o conforto que lhe era permitido. Escolheram Piracicaba para morar. Mais precisamente, o Lar dos Velhinhos, que lembra o Vaticano, pelo fato de ser uma cidade dentro de outra. Se o Vaticano fica encravado em Roma, a Primeira Cidade Geriátrica do Brasil fica inserida no coração de Piracicaba. Desfrutando de excelente saúde, uma disposição invejável, eterno bom humor, e um relacionamento extremamente harmonioso são notáveis o exemplo de vida de Else Ferraz Salém e Tércio Becker Salém, um casamento que perdura por 60 anos. Um casal de eternos apaixonados.
A senhora é paulistana?
Nasci em 3 de abril de 1926, na Rua Joly, no bairro do Brás. Naquele tempo bem em frente de casa ainda tinha lampião de gás. Um senhor chegava lá pelas seis horas da tarde, limpava lampião e acendia. Era gás de rua. Ele ia a pé de poste em poste. No dia seguinte ele mesmo apagava. É de uma época em que começo a lembrar de alguns fatos da minha vida, deveria ter uns 4 anos de idade. Meu pai Sethe Ferraz e minha mãe Gertrudes Hermel de origem alemã. Meu avô Virgílio Spindler Hermel nasceu no Rio Grande do Sul e minha avó da família Metzner Muller. A minha mãe, Gertrudes, aprendeu a falar português aos seis anos de idade, até então se comunicavam em alemão. Meus av´s tiveram treze filhos, sendo que a minha mãe era a mais velha. Após mudar-se para São Paulo, com o tempo passaram a usar mais a língua portuguesa como meio de comunicação. Os filhos mais velhos aprenderam a língua alemã. Os mais novos não. Minha mãe casou-se em 1 de junho de 1922.
Eles tinham algum propósito definido quando se mudaram para São Paulo?
Meu avô era do tipo que fazia de tudo. Moraram primeiro em Ibitinga, depois para Bauru, e finalmente para São Paulo. Ele exerceu as funções de fotografo, dentista, trabalhou com engenharia também. Meus costumavam dizer que as pedras de calçamento que existiam em Ibitinga, Bauru, Piraju eram todas obras realizadas pelo meu avô, como mestre de obra. Minha mãe durante uma semana ajudava a minha avó no trabalho de costura, outra semana ela ajudava meu avô no consultório dentário. Meu avô era ainda pastor evangélico.
A senhora foi paciente do seu avô?
Ele obturou alguns dos meus dentes. Até hoje tenho essas obturações. A cadeira era bem simples. O motor era movido conforme o movimento do pé do dentista sobre um pedal. Tinha que ter uma coordenação motora boa, além de trabalhar com as mãos nos dentes do paciente, tinha ainda que movimentar o motor com o pé. Meu avô era um homem enorme, muito alto, grande.
Os pais da senhora tiveram quantos filhos?
Seis filhos. Cinco mulheres e um homem: Maria Clara, Else, Odila, Jaci, Cláudio e Marila. Minha mãe ainda criou por uns três anos uma garotinha cuja mãe havia ficado doente, a Tirza.
A atividade do pai da senhora qual era?
Papai era pastor evangélico da Igreja Presbiteriana Independente. E era médico pediatra também. Ele estudou medicina e teologia em São Paulo. Era vontade do meu avô que ele fosse pastor. Da minha avó que ele fosse médico. Para contentar aos dois, formou-se nas duas profissões. Papai residiu por uns dois anos no bairro do Belém em São Paulo, depois se mudou para o Brás. Eu nasci na Rua Almirante Barroso. Meu marido Tércio nasceu na mesma rua. Quando eu tinha um ano de idade a igreja construiu uma casa para o pastor, e nessa casa papai morou quase até o fim da vida. Ele teve que mudar de lá porque a poluição do Brás estava prejudicando a saúde da minha mãe. Mamãe era muito ativa na igreja. Na família do meu pai tivemos sete pastores, o assunto no almoço era sempre sobre igreja.
A senhora estudou em que escola?
Com sete anos de idade fui estudar na Escola Normal Padre Anchieta, que ficava na Avenida Celso Garcia. Lá estudei até a quinta série. Eu queria estudar medicina, mas não deu certo, naquela ocasião teve a reforma Capanema. Na época faziam o pré e entravam para a faculdade. Eles terminaram os prés e criaram os colégios. Demoravam muito para criarem os colégios e o pré tinha acabado. Na ocasião eu não fiquei sabendo que estavam aceitando alunos da quinta série sem pré, sem nada. Bastava fazer o exame e entrar na faculdade. Fui fazer o exame para a faculdade de educação física, que também fazia isso. Entrei para a Escola de Educação Física de São Paulo, era do Departamento de Educação Física. As aulas práticas eram dadas no Clube Espéria, depois passou a funcionar no Estádio do Pacaembu, onde permaneceu por muito tempo até ser construída na Cidade Universitária a Escola de Educação Física. Sou da turma formada em 1944. (N.J. Em 1931, a Reforma Francisco Campos, chamada reforma Chico Ciência, complicou ainda mais as coisas, “dividindo o curso em duas partes, ou dois ciclos: o primeiro de 5 anos e o segundo, e complementar, ou colégio universitário, de dois anos. Na gestão do ministro Gustavo Capanema foi promulgada, em 9 de abril de 1942, a Lei Orgânica do Ensino Secundário, também conhecida como Reforma Capanema. Por essa lei, foram instituídos no ensino secundário um primeiro ciclo de quatro anos de duração, denominado ginasial, e um segundo ciclo de três anos).
A senhora nadou no Rio Tietê em São Paulo?
Comecei a nadar com oito anos de idade. Havia o cocho no Rio Tietê, que era uma área cercada, não havia piscina no Clube de Regatas Tietê, isso foi em 1933 ou 1934. Depois que construíram a piscina aprendi a nadar com Sr.Lenk, pai de Maria Lenk. Ainda menina, quando o rio enchia o Sr, Afonso Simões, membro da nossa igreja, nos levávamos passear nas áreas inundadas, e fazíamos passeio memoráveis nas regiões alagadas.
Havia uma carência muito grande de professores de educação física naquela época?
Por ser uma disciplina relativamente nova, havia uma carência. A primeira turma formada em educação física em São Paulo foi em 1936. Era um grupo muito pequeno. Havia uma seleção rigorosa para entrar para a escola.
Como os alunos viam a adoção da educação física como matéria curricular?
Os alunos gostavam muito. Quando me formei era aplicado o método francês de pedagogia. Depois foi surgindo o método sueco, calistenia que se aplica na Associação Cristã de Moços. O método francês é uma aula de educação física bastante complicada. Tinha certa ordem de exercício que não poderia ser trocada. Diziam que quebrava o ritmo da aula. Havia uma alternância de exercício de braços, de pernas, de tronco. Havia uma preocupação muito grande com o plano de aula. Trabalhei por 10 anos na Escola de Aplicação que funcionava no Parque da Água Branca. (N.J. Criada oficialmente pelo decreto 10.307, em 13 de junho de 1939, a Escola de Aplicação ao Ar Livre Dom Pedro I só foi de fato instalada na cidade de São Paulo no dia 12 de outubro, durante as comemorações da Semana da Criança. Após os discursos da solenidade de inauguração, os alunos da Escola Superior de Educação Física “realizaram uma completa demonstração de educação physica, pelo método francês, official do governo da União” Fonte: Overmundo). Era uma escola do departamento de educação física, voltada para estudos sobre a educação física infantil, que não havia naquele tempo, e até hoje ainda é muito precária a educação física voltada á essa faixa etária.
Quantas professoras de educação física havia na Escola da Água Branca?
Eram 10 professoras de educação física naquela escolinha. Eu passei a trabalhar com a professora Maria Laura, de acordo com ela passei a fazer um trabalho inovador com as crianças. Depois disso passei a dar aulas sempre para crianças de 4 e 5 anos de idade, sempre na escolinha do Parque da Água Branca. Quando havia uma visita importante Adhemar de Barros a levava visitar a escola. Ele e Dona Leonor ficavam sentados ali, olhando as crianças bem pequenininhas. A Lúcia Mercandante era a professora, quando ela saiu, eu assumi o seu lugar. Passei a dar as demonstrações para as visitas do Dr. Adhemar de Barros. Dona Leonor sempre me dizia: “-Só sendo uma menina desse jeito para dar uma aula assim”. Ela e Dr. Adhemar eram pessoas muito simples. Tem uma passagem muito peculiar. O Dr. Adhemar de Barros era muito amigo do Oswaldo Miller da Silva, que era meu primo. Um dia eles estavam na praia de Bertioga, o Milton que era professor de educação física e médico e irmão do Oswaldo Miller da Silva, entrou no mar, com a noiva, chamada Hilda Zanini. O mar começou a puxar a Hilda não sabia nadar e o Milton não agüentou segurar a menina. Ele fazia sinal para a praia de que estava com dificuldade. Minha tia estranhou e disse: “-O que está acontecendo com o Milton?”. Um dos rapazes que estava junto disse: “-Eu vou ver.” Conseguiu chegar lá perto. O Milton falou para que ele segurasse a Hilda que ele estava exausto. Minha tia via o Milton indo embora, o mar puxando. Ela foi até a estrada e pediu socorro. Parou um carro. Quem desceu do carro? Adhemar de Barros ele já era governador. Ele conhecia minha tia. Disse á ela”- A senhora espere um pouco!”. Deu meia volta, foi para o porto de Bertioga, a lancha dele estava lá. Havia sido roubada do Porto de Santos algum tempo antes. Com a lancha Dr. Adhemar pegou a lancha, puxou o Milton pelos cabelos, e fez os procedimentos de primeiros socorros. O Adhemar de Barros era médico.
A senhora credita essa precariedade no ensino de educação física infantil á que fatores?
Acho que existe uma grande dificuldade nesse sentido. Quando me formei só havia 3 colégios do estado em São Paulo: Padre Anchieta, Escola da Praça (Caetano de Campos, na Praça da República) e o Colégio do Estado. Pouco antes de eu me formar, alguns poucos foram construídos em bairros isolados.

Em que ano a senhora passou a lecionar no Estádio do Pacaembu?
Foi em 1944. Eu estive na inauguração do Estádio do Pacaembu em 27 de abril de 1940, como participante do orfeon da escola Padre Anchieta. Eu era soprano.
A senhora freqüentava as lojas do centro de São Paulo?
Com 10 a 12 anos de idade eu ia para a cidade de bonde, para fazer as compras para a minha mãe. Tinha também um ônibus que ia do Brás até o Largo São Bento. Andava por todo o centro de Piracicaba. Cheguei a comprar na loja do Mappin que ainda era no hoje Largo do Patriarca.
Qual seu lazer preferido?
Eu era filha de pastor. Isso significava que havia restrições quanto a formas de lazer. São bastante rígidos. Nós vivíamos em uma comunidade um tanto quanto fechada. A igreja oferecia aos jovens partidas de pingue-pongue, patins na quadra de esporte, passeios, piquenique. Os meus colegas de colégio é que iam estudar em casa. Os estudos de grupo eram feitos em uma sala da igreja, que tinha um quadro negro. Era um ambiente de estudos muito bom.
Na época a igreja católica tinha laços muito fortes com o poder constituído. Havia algum tipo de descriminação aos não católicos?
Não cheguei a sentir muito isso. O fato de papai ser médico quebrou muitas barreiras, ele era muito querido no bairro todo. No Brás o Dr. Sethe era muito conhecido. Fiz uma poesia ao meu pai: “Tinha eu meus três anos; e da porta fascinada; olhava no consultório; de avental branco imponente; todas as tardes ele atendia aos seus doentes; e a nós pequenos era proibida a entrada no pequeno consultório; ou na grande sala ao lado. Eu, pequena, olhava fascinada, para aquele armarinho branco; com caixinhas coloridas de vidrinhos variados. E papai me perguntava: - Você quer alguma coisa? Eu dizia: - Uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro. Papai então tirava do armário, uma caixinha, um vidrinho vazio e do bolso do colete é que vinha a moedinha: um tostão ou duzentos réis. Eu saía contente tendo em mãos o que julgava o mais rico presente. Os anos foram passando, e pelo meu aniversário, papai sempre perguntava: - Você ganhou uma caixinha, um vidrinho e um dinheiro? Sempre ganhava, quando faltava um ele completava. Os anos passam velozmente, e ainda hoje, velhinho, com um sorriso brejeiro, me pergunta: Recebestes uma caixinha? Um vidrinho? Ou um dinheiro? (N.J.: Poesia recitada de memória pela entrevistada).
Havia ensino religioso na escola?
Nós saíamos da sala de aula e ficávamos no pátio. Era dada essa liberdade de escolha. Um fato muito interessante foi o comentário de uma professora, que gostava muito de nós, ela dizia: “-É uma pena que vocês sejam protestantes!”. Em outra ocasião o diretor chamou algumas alunas á diretoria, quando olhei eram todas evangélicas, além de uma espírita. Estranhei a situação. Ele disse: “-Essa escola está sofrendo a ação de alunos que querem fazer greve, bagunçar com o colégio. Mas eu notei que neste grupo aqui eu posso confiar, e nós vamos fazer uma campanha de moralização da escola”. Ele era católico. Não houve discriminação religiosa.
Como era o uniforme da escola?
Era uma saia azul marinho, pregueada, plissada, blusa branca com o emblema do colégio, meia de cor branca, sapatos pretos. No grupo usávamos o laço de fita no cabelo. Era aquele bendito laço de fita enorme.
O pai da senhora trabalhou como médico durante o período de alguma epidemia em São Paulo?
Como médico ele trabalhou muito durante a gripe espanhola que grassou pela cidade. E na Revolução de 1932 ele trabalhou muito, mesmo não tendo ido á frente de batalha. Como éramos pequenos fomos com a minha mãe para a casa de familiares em Bauru.






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