segunda-feira, outubro 12, 2009

“ZÉZINHO DA FARMÁCIA DA VILA REZENDE”




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com



Sábado 10 de outubro de 2009

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO:
JOSÉ ARANTES DE CARVALHO - “ZÉZINHO DA FARMÁCIA DA VILA REZENDE”





Há duzentos anos não havia escolas de medicina e nem de farmácia no Brasil. Quando alguém precisava de tratamento, procurava os boticários ou os hospitais dos jesuítas, que mantinham boticas e produziam medicamentos com produtos que vinham de Portugal e fórmulas aprendidas com os pajés, feitas a partir de plantas medicinais. As primeiras escolas de medicina e farmácia foram fundadas com a vinda de D. João VI e a família real, em 1808. Os médicos a principio aprendiam com os farmacêuticos a arte de formular e manipular cientificamente. Todas as receitas de fórmulas manipuladas traziam a sigla FSA, que significa “Faça-se Segundo a Arte”. Nas cidades tradicionais brasileiras, a farmácia era um ponto de encontro, o lugar de conversa onde se reuniam os "homens bons da terra", as pessoas representativas da administração municipal, o padre, o juiz, funcionários públicos. A farmácia foi, sem dúvida, o embrião de clubes, de sociedades literárias, de partidos políticos etc. Alguns participavam visando melhorar seu status social, estando e sendo sempre visto na roda de conversa dos "importantes" da terra. Com o aparecimento do cinema, e outras formas de diversão esses encontros foram rareando.

Em Piracicaba uma das pessoas mais populares é o Zezinho da Farmácia. Hoje com diversas unidades espalhadas pela cidade, Zezinho com seu carisma pessoal conquistou com sua equipe de farmacêuticos, um grau elevado de confiabilidade da população. O exercício da ética profissional o faz respeitado entre seus pares e junto à classe médica.

Zezinho você nasceu em Piracicaba?

Não. Eu sou de Monte Aprazível, na época a comarca era Mirassol. Meus documentos todos são de Mirassol. Sou filho de Antonio Lopes de Carvalho e Nair Arantes de Carvalho. Meu pai era lavrador, tenho um irmão e quatro irmãs. Nasci no dia 5 de abril de 1930. Fiz o curso primário em Monte Aprazível, depois meu pai comprou um sítio em Tupã para onde nos mudamos. Lá estudei no Instituto de Ciências e Letras Guarani, cujo diretor era o Dr. Sebastião Lins, um advogado.

O seu primeiro emprego foi onde?

Fui trabalhar em uma farmácia, tinha doze anos de idade, usava calça curta ainda. Iniciei como varredor da farmácia, lavador de vidros, naquela época lavava-se muitos vidros para fazer manipulações, lavava-se cálices, grals, gral (terrina, pequeno vaso) de vidro, gral de porcelana com pistilo (espécie de pequeno pilão), eram utilizados para fazer pílulas, pomadas. Havia um jacaré de ferro, com diversas ranhuras em medidas diferentes, com uma dobradiça junto a sua cabeça, usando a sua cauda como alavanca, nós amassávamos rolhas de cortiça para caber no vidro. Isso porque na época havia diversos tipos de vidros e de rolhas e nem sempre o tamanho da rolha era idêntico á boca do vidro á ser tampado. No início pede-se dizer que comecei como servente dos manipuladores.

Qual era o nome dessa primeira farmácia onde você trabalhou em Tupã?

Era a Farmácia São Jorge, o proprietário era Juvenal Arantes Dias, apesar de ser Arantes, não era meu parente!

Com isso você passou a ir aprendendo o ofício?

Fui aprendendo, ajudando os farmacêuticos a fazerem os medicamentos, observando como eles trabalhavam. Após dois anos, um dos farmacêuticos, chamado João Machado Lopes, conhecido como Jango, disse-me: “-Zé você tem condições de fazer esta fórmula?”. Respondi “-Tenho!”. Fiz como ele costumava fazer, ele gostou, eu então fui promovido, passei a ser o titular daquela fórmula. Toda vez que era receitada eles a passavam para que eu fizesse. Era uma fórmula que muitos não gostavam de fazer, dava trabalho, tinha que triturar os sais, triturar a goma, colocar as tinturas, extratos, era bem trabalhosa. Com isso fui me aprimorando e passando a fazer praticamente todo tipo de fórmula.

Com que idade você passou a aplicar injeção?

Acredito que tinha quatorze anos.

Como os adultos viam uma criança aplicando injeção?

A cidade era pequena, todos se conheciam. A farmácia era muito conceituada, e os adultos tinham confiança. Por volta de 1943 a 1944, apareceu a penicilina, com isso a pneumonia, doenças venéreas, tiveram um tratamento mais eficaz. Na época a penicilina era sódica administrada de três em três horas. Passei muitas noites sem dormir, tinha 10 a 12 casas para aplicar injeções. Em determinada época houve um surto de pneumonia em Tupã, com isso eu passava a noite toda trabalhando. Ás seis da manhã, outro funcionário vinha me substituir. Em Tupã começaram a desbravar uma região, inclusive onde meu pai comprou o sítio, quando passaram a derrubar a mata, onde havia o Córrego de Iacã, começou a dar tanta maleita que morria gente na calçada. O hospital estava em construção, a pessoa que já estava doente, caia na calçada e lá morria. Não havia remédio para maleita. Aplicava-se Maleitosan, Maleisin Azul, uma injeção de quinino com azul de metileno, as nádegas da pessoa ficavam toda roxa. Alguns reagiam, mas a maioria morria. Hoje cura-se maleita com apenas cinco comprimidos!

Na época havia médicos em Tupã?

Existiam bastantes médicos, um deles Dr. Valter Montanha Peixoto da Silva, era um baiano, ele fez um ambiente em seu consultório, que era hermeticamente fechado, esterilizado, e operava ali apendicite, cirurgias mais simples, ou de urgências. Ele me chamava para ajudá-lo nas cirurgias.

Você nunca pensou em ser médico?

Pensar, eu pensei. Querer eu queria. Mas não tinha condições financeiras. O curso de medicina exige dedicação de tempo integral e infelizmente meu pai não tinha condições para me manter.

Quantos anos você permaneceu na atividade farmacêutica em Tupã?

De 1942 a 1946, de lá mudamos para Charqueada. Um primo da minha mãe, Seu Cristiano, era farmacêutico, proprietário da Farmácia Luz em Charqueada, ele que nos trouxe. Trabalhei três anos em Charqueada. Após esse período eu vim trabalhar com o Dr. Abério Sampaio, era dentista, professor da faculdade, químico e físico. Era uma pessoa muito importante. Isso foi em 1950.

Qual era a sua atividade?

Era a de manipular fórmulas. A farmácia do Dr. Abério ficava na Avenida Rui Barbosa, na Vila Rezende, chamava-se Farmácia Nossa Senhora Aparecida. Em 1954 ele mudou-se para São Paulo e vendeu a farmácia para mim. Arrumei um sócio e continuamos a trabalhar. Até 1959 continuamos com a Farmácia Nossa Senhora Aparecida.

Foi quando você montou outra farmácia?

Montei a Droga Vila.

Você é uma pessoa conhecida e estimada por muitos habitantes de Piracicaba, particularmente os da Vila Rezende.

Construímos um nome, procuramos sempre tratar as pessoas com bastante amizade, não temos tratamento diferenciado, sempre procurando atender com cortesia, lealdade, honestidade.

Você conheceu a família Papini?

O local onde é a farmácia da Avenida Rui Barbosa, eu comprei do Papini. Quando ele fechou o restaurante eu adquiri os fundos do restaurante e instalei a Droga Vila lá. O restaurante do Papini era ao lado, onde havia o restaurante, o jogo de bocha. Conheci a esposa dele, a Dona Gigeta.

Você conheceu personalidades ilustres da Vila Rezende?

Conheci o Comendador Mário Dedini. Comendador Humberto D`Abronzo vinha ás vezes até a farmácia.

Monsenhor Jorge é seu cliente?

É meu cliente e meu amigo! Ambos somos corintianos!

Você tem lembranças do bonde que passava na Avenida Barbosa?

Lembro-me sim. Havia o trem da Sorocabana passava no fundo da farmácia. O trem do Engenho Central cuja linha ficava abaixo, mais próxima do Rio Piracicaba. A estação do trem Sorocabana mais próxima era a Barão de Rezende.

Você chegou a conhecer os franceses que administravam o Engenho Central?

Fui fornecedor deles por muitos anos.

Conheceu Mário Áreas Vitier?

Conheci muito, era meu cliente.

Você conheceu a Avenida Manoel Conceição no tempo em que era um descampado?

Eu ia fazer injeções de bicicleta. Saia ás sete horas da manhã, levava o álcool para ferver. Era um estojo de metal com um suporte onde acendia o fogo e esterilizava a seringa de vidro.

Você chegou a fazer ou auxiliar algum parto?

Quando vim para Piracicaba Dona Maria (Mariquinha) Caldari, tia do Dr. Pedro Caldari, estava para dar a luz. Quem veio fazer o parto foi o Dr. João José Correa. Ele então orientava: “Zé aplica pituitina”, ou então “Zé aplica orastina”, que são medicamentos indicados para estimular a contração uterina, para facilitar o parto. Ele fazia o parto eu aplicava os medicamentos. Em Charqueda quando as parteiras tinham um parto complicado pela frente chamavam o Dr. Correia, meia hora depois ele estava lá, não tinha chuva ou temo ruim que o detivesse. Eu ia com ele na casa do paciente. Ele nunca deixou de me atender quando eu o chamei. Na época a maioria dos partos era feita em casa.

Quais são as doenças que hoje mais atormentam a humanidade?

A AIDS, o câncer. No momento a H1N1, popularmente conhecida como gripe suína é uma doença perigosa, principalmente para quem adquire o vírus sem estar com suas condições físicas satisfatórias. As pessoas que faleceram já tinham algum tipo de problema, de deficiência. Os demais que contraíram o vírus após o tratamento próprio, saram.

Qual é a sua opinião sobre a homeopatia?

Tenho um amigo, médico, que é grande defensor da homeopatia. Ela produz reações no organismo. É uma medicação centenária, mas é valida, porque ainda funciona.

O principio ativo dos remédios são derivados das plantas?

Nem todos. Hoje existem sintéticos. Mas a maioria é das plantas. A Ipeca (Psychotria Ipecacuanha), por exemplo, é muito comum no Mato Grosso. Ela tem várias ações: expectorantes, diarréicas e tem ação para provocar o vomito. O confrei (Symphytum officinale), utilizado muito pelo Dr. Walter Radamés Accorsi, a canela (Cinnamomum zeylanicum), servia muito para fazer poções.

Atualmente há uma procura muito grande por farmácias de manipulação?

O sal é o mesmo que é utilizado no produto ético. Só que sai bem mais barato. Com isso cresceu muito o número de farmácias de manipulação.

Qual é a receita para a pessoa ter uma boa saúde?

Em primeiro lugar evitar o uso do tabaco e da bebida. Saber comer, e comer regularmente.

O que é saber comer?

É não comer aquilo que possa lhe fazer mal, como carnes muito gordurosas. A digestão a noite é mais difícil. Comer com moderação. Comer muitas frutas, legumes, verduras. A carne tem proteína, só que a soja também tem muita proteína. Tenho amigos que não comem carne de forma alguma, só que eles repõem as proteínas com outros tipos de alimentos. Sabendo comer adquire-se mais saúde.

Está havendo uma conscientização da juventude a respeito?

Acho que a nossa juventude está melhorando. Há exceções.

Existe uma corrente de pensamento afirmando que a o ser humano está doente motivado pela velocidade com que a vida lhe imprime. É comum que as pessoas acometidas por sintomas típicos de ansiedade o procure?

Pelo fato de eu ser muito conhecido na cidade eles vem pedir a opinião da gente. Hoje o stress é muito grande. Aconselho que procurem um psiquiatra.

No conceito popular ainda persiste para alguns desinformados a idéia de que psiquiatra é “médico de louco”?

O psiquiatra é um médico que atende ao paciente procurando conhecer o intimo da mente da pessoa.

Quando a pessoa sofre uma fratura óssea procura um ortopedista, um problema ocular procura um oftalmologista, o brasileiro é muito preconceituoso, e quando está com stress, fica sem saber o que fazer?

Aconselho sempre que procure um médico psiquiatra.

O povo tem condições de ser atendido por médicos psiquiatras?

Infelizmente não tem. Nem todos possuem um sistema particular de saúde. O INPS oferece esse tipo de assistência, mas pela demanda torna-se muito demorado o atendimento.

Você acredita que a paz de espírito adquirida em uma crença religiosa, filosofia de vida, pode suprir a necessidade de um atendimento psiquiátrico?

Pode ajudar muito. A pessoa que acredita em Deus tem uma força muito grande.

Como surgiu o Cesário Mota em Piracicaba?

Teve muito da participação da minha mãe que era espírita.

Abrigava quem?

Pessoas com necessidade de tratamento mental.

O alcoolismo ainda é um dos fatores que provoca doenças mentais?

Cigarro e alcoolismo continuam sendo fatores de grande relevância. O alcoolismo é motivado por ser muito barato, e ambos, tabaco e alcoolismo são socialmente aceitáveis.

Hoje já se inicia uma conscientização, as famílias pressionam. Os médicos ajudam muito.

O terror do farmacêutico é a letra escrita pelo médico na receita?

Era! Hoje vem tudo digitado. Dr. Samuel Neves tinha uma caligrafia terrível, nem ele lia o que ele mesmo escrevia.


Qual é o seu hobby?

Pescar! No ano que vem vamos pescar no Rio Paraguai.

Qual foi o maior peixe que você pescou?

Foi um jaú de uns 40 quilos, no Mato Grosso, Rio Paraguai, eu e meu amigo que estava junto pescando levamos meia hora para tirar ele da água.
Comentários:
grande zezinho para bens em!!!!
# postado por Ana : 12:47 PM


PREZADA ANA,
O DIMINUTIVO DO NOME JOSÉ PARA ZÉZINHO, É A MODÉSTIA DE UM JOSÉ QUE É UM GIGANTE EM SUAS QUALIDADES COMO GENTE, SER HUMANO, DE UMA HONESTIDADE E GENEROSIDADE DIGNA DE SER LOUVADA E IMITADA.
ATENCIOSAMENTE
JOÃO.
# postado por NASSIF : 4:52 PM

domingo, outubro 04, 2009

Grupo Oficina Literária de Piracicaba

Caros escritores, amigos e membros do Golp







O Grupo Oficina Literária de Piracicaba - Golp - tem a honra de inaugurar seu blog, um espaço virtual para divulgar a produção literária do grupo que completa vinte anos de atividades em 2009.


O blog também está aberto aos escritores que desejarem publicar seus textos em prosa - contos, crônicas ou artigos - que passarão por uma seleção prévia.






http://golp-piracicaba.blogspot.com/
 





PROFESSORA CONCEIÇÃO WALDIRA BRASIL VIEIRA JOSÉ




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com


Sábado 3 de outubro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADA: PROFESSORA CONCEIÇÃO WALDIRA BRASIL VIEIRA JOSÉ


O Rotary Club congrega líderes das comunidades em que vivem ou atuam ajudando a estabelecer a paz e a boa vontade no mundo, prestam serviços voluntários não remunerados em favor da sociedade. Fundado por Paul Harris, em Chicago USA, em 23/02/1905, tem hoje representação em 207 países congregando 1.228.910 sócios. É membro permanente das Nações Unidas. Uma Assembléia Internacional de países, só tem três membros que não são países, mas que, pela sua importância, têm assento naquela Assembléia: a Cruz Vermelha, o Vaticano e o Rotary. (Fonte: Haroldo Rodolfo Zacharias, do Rotary Club de São Paulo – Leste. - Distrito 4430). O Rotary Club Piracicaba – Paulista tem como seu presidente Walmir José Rodrigues. Um dos seus diretores é Adalberto Barrichello. Em uma brilhante iniciativa, O Rotary Club Piracicaba – Paulista decidiu homenagear uma personalidade que através do seu trabalho impecável e dedicação exemplar exerceu influência de forma efetiva no aprimoramento moral e intelectual de muitos profissionais que hoje atuam não só em Piracicaba, mas também muito além de nossos limites geográficos. Agraciada pelos méritos dos seus excelentes serviços prestados, tem uma presença marcante, profissionalismo incomum, e que de forma indelével marcou a trajetória dos seus mais de 10.000 alunos. Trata-se da Professora Conceição Waldira Brasil Vieira José, a Da. Conceição, assim que todos a chamavam durante as aulas.
Professora Da. Conceição, onde a senhora nasceu?
Sou filha de Mario Vieira que pertencia á família tradicional de Capivari, minha mãe é Zoraide Brasil Vieira, sou nascida em 29 de setembro, na parte central de Piracicaba, na Rua Santa Cruz.
A senhora foi a única filha do casal?
Tenho a minha irmã Clélia, também professora, hoje aposentada, e meu irmão Waldemar formado como engenheiro agrônomo e que reside em Fernandópolis. Meu outro irmão é o Dirceu, também engenheiro agrônomo e que mora em Limeira.
Qual era a atividade do pai da senhora?
Ele trabalhava na Companhia Telefônica e mamãe era professora primária, lecionava em Taquaral. Primeiro ela foi lecionar em Itu, em uma linda fazenda.
Seus primeiros estudos foram feitos em que escola?
Comecei fazendo o jardim de infância no Assunção, em seguida fui estudar com a minha tia Hermantina Brasil. A minha primeira professora, foi a minha mãe. Pela pouca idade, eu era considerada como ouvinte, até que o inspetor resolveu me matricular na escola. De lá saí e fui para o Sud Mennucci. Depois fui para o Assunção outra vez.
A senhora conheceu Thales Castanho de Andrade?
Ele era amigo do meu tio. Tive aula com Benedito Dutra, Seu Rossini.
O que a levou a seguir a carreira de professora?
Foi por influencia do meu tio Dario Brasil. (N.J. Advogado e professor de latim, Dr. Dario Brasil foi o primeiro presidente do Centro Cultural e Recreativo Cristóvão Colombo de Piracicaba.) Ele que me levava ao seu escritório e fazia ler as lições em latim. Isso me motivou a ir estudar Letras na Pontifícia Universidade Católica em Campinas, onde tive um grande professor de latim, Francisco Ribeiro Sampaio.
A senhora é uma das poucas professoras que na época cursaram uma faculdade?
Daqui era eu e a Maria Tereza Coelho, que atendeu a um convite que fiz á ela.
Durante o período em que estudou na PUC em Campinas, onde a senhora residia?
Morava no Pensionato Nossa Senhora de Lourdes. Por quatro anos freqüentei a faculdade. Já que eu saí de lá prestei o concurso para lecionar, quem fez a escolha do local onde eu iria dar aulas foi o Sr. Luiz Schimidt, que foi até São Paulo, levando uma procuração minha autorizando-o a escolher a localidade. Acho que ele gostou do nome Santa Rosa de Viterbo e escolheu lá. Uma cidade boa, gente muito acolhedora. Permaneci por uns três anos em Santa Rosa do Viterbo. Nessa época saiu à relação de vagas em Piracicaba, e uma das cidades com vaga disponível era Porto Feliz. Meu tio Dario Brasil disse: “Porto Feliz é um porto feliz! Meus antepassados nasceram lá, gostaria que você escolhesse essa cidade”. Eu disse-lhe: “– Eu não gostaria!”. Na verdade eu não queria sair de Santa Rosa de Viterbo. Para agradar o padrinho, escolhi Porto Feliz. E foi meu porto feliz! Lá eu permaneci mais tempo, eu sempre gostei de lá!
Antes de ir lecionar em Santa Rosa do Viterbo, por indicação do Sr. Mello Ayres, eu fui dar aulas no Externato São José, que funcionava no prédio onde mais tarde foi a Faculdade de Odontologia. Quando eu estava subindo as escadarias logo na entrada, uma irmã disse-me que eu era ainda muito criança para lecionar. Eu disse-lhe: “- A senhora é tão jovem e já é diretora!”. Não sei de que forma ela resolveu o assunto, mas passei a ser professora da escola.
Por qual motivo Porto Feliz a conquistou?
Achei o Jamil! Foi lá que eu conheci o Jamil. Ele tinha um sistema de alto falantes. Depois ele mudou-se para Aparecida, onde ficou por vários anos.
Como foi o seu encontro com o Jamil?
Foi bonitinho! Éramos várias professoras que morávamos em uma casa, na rua principal, inclusive a Professora Flordelis morou lá. Havia um restaurante quase em frente a nossa casa, nós tomávamos nossas refeições lá. Tínhamos uma empregada que cuidava da casa. Era uma casa grande de uma senhora que a repartiu e alugou metade para nós. Na frente morava uma família de sírios. Muitos amigos dessa família iam visitá-los. O Jamil José Neto era parente dessa família, um dia ele veio de Aparecida. Foi assim que o conheci.
Assim começou o namoro, conforme as regras da época, que eram bem rígidas?
O Jamil morava em Aparecida, aos sábados eu vinha para Piracicaba. Casamos depois de um ano.
O que a impressionou mais no Jamil, a voz ou a aparência física?
O coração dele!
Onde foi o casamento?
O casamento civil foi em Piracicaba e o religioso na Basílica de Aparecida do Norte, o celebrante foi o Padre Galvão, do mesmo ramo da família de Frei Galvão. Foi um casamento muito bonito, obedecendo aos rigores da liturgia.
A senhora sentiu-se realizada?
Eu me senti realizada. Digo sempre ás crianças (filhos), que eu tive uma infância feliz, meus pais era muito bons, adolescência também, embora tenha ido muito nova para Campinas, de 15 a 16 anos de idade.
Para a época a senhora era destemida?
Eu era porque o meu tio Dario dizia que se tinha idade para fazer o curso deveria fazer, se não tinha idade iria fazer o curso do mesmo jeito! Ele providenciou a minha emancipação para que eu pudesse estudar.
Em Aparecida do Norte a senhora permaneceu quanto tempo?
Por dois anos aproximadamente. A seguir vim para Piracicaba, lecionei no Sud Mennucci, substituindo meu tio Dario Brasil. Depois prestei concurso, passei, e escolhi o Colégio Dr. Jorge Coury, que funcionava no prédio ao lado da Igreja dos Frades. Depois de uns meses chegou o Seu Arlindo Rufatto como diretor.
A senhora é uma das pioneiras do Colégio Dr. Jorge Coury?
Acho que das professoras efetivas devo ser.
O Diretor Arlindo Rufatto era muito rígido?
Era sim. Eu gosto disso, acho que precisa para andar tudo na linha. Comecei lecionando para a quarta série, depois passei a dar aulas para o colegial, e assim sempre dei aulas no colegial.
A senhora tem noção de quantos alunos já teve?
Eu tinha as anotações com o nome dos alunos, mas na mudança de residência extraviou-se. Cada classe tinha em média quarenta alunos, eram várias turmas, eu lecionava de manhã e a tarde, quarenta anos trabalhando, eu acredito que foram mais de 10.000 alunos.
Como era a relação da senhora professora de português com o seu marido Jamil que sempre trabalhou na área de comunicação?
Interessante! Eu admirava no Jamil a sua capacidade de se expressar muito bem, falava muito bem. Ás vezes ele titubeava um pouco quando escrevia. Mas como ele falava bem!
A senhora ficava ouvindo-o?
Eu ficava! Eu gostava muito do programa que ele apresentava na rádio em Aparecida. Era música ao entardecer. Esse programa eu ouvia desde Porto Feliz.
A senhora morava em Porto Feliz e sintonizava o Jamil Neto transmitindo pela rádio em Aparecida do Norte?
Era isso. Só que não éramos casados ainda.
Ele dizia-lhe algo no ar, durante as suas transmissões?
Quando ia a algum lugar longe ele dizia sim.
Era do seu agrado as narrações de futebol feitas pelo seu marido Jamil Neto?
Eu gostava muito, achava que ele narrava muito bem.
Ele torcia para que time?
Ele torcia pelo Palmeiras e eu pelo São Paulo. Cheguei a visitar o Maracanã.
E carnaval a senhora gostava?
Ah! Carnaval! Gostei de carnaval, dançava. O Jamil foi diretor da escola de Samba Equiperalta, juntamente com meu irmão Dirceu, mais tarde foi diretor da Zoom-Zoom.
Alguns dos seus alunos eram orientados para se apresentarem em público?
Tenho muito a agradecer ao Dr. Jairo Ribeiro de Mattos, eu levava os alunos para apresentarem peças no Lar dos Velhinhos. Acredito que isso ajuda a educar. Ele foi muito atencioso, colocou o Lar a disposição para levar os alunos para as apresentações. Há pouco tempo recebi a visita de uma aluna que mora em uma cidade do sul do país, ela não sossegou enquanto ela não fez uma apresentação na cidade onde reside da peça Os Saltimbancos. Isso de tanto que ela gostou quando se apresentou no Lar dos Velhinhos.
Seus ex-alunos a visitam muito?
Após a minha mudança de residência diminuiu o número de visitas, acredito que seja por não conhecerem o meu novo endereço. Gosto de receber os amigos.
Nos dias atuais, lecionar em algumas escolas tornou-se uma tarefa quase impossível, o que mudou?
Acho que um pouco da culpa é dos pais. Eles não ensinam aos filhos que devem respeitar o professor, sobre a necessidade de estudar direitinho. Isso vem do berço, as famílias têm que amparar as suas crianças. Estabelecer liberdade com limites.
Qual é a visão da senhora sobre as mudanças gramaticais?
Sinceramente só li o comentário de um professor dizendo que essas mudanças foram desnecessárias.
Temos uma figura pública de grande destaque, que em suas falas comete erros grosseiros, isso é reflexo da cultura popular?
Em parte sim. Mas acho que também depende da própria pessoa. Se eu ocupo um cargo importante eu tenho a obrigação de me preparar para exercê-lo.
O brasileiro gosta de ler?
Infelizmente não. Eu sempre fiz meus alunos lerem, para despertar o costume da leitura.
Os jovens atualmente preocupam-se em comunicarem-se em mais de um idioma, motivados pela concorrência profissional. Alguns não conhecem o próprio idioma. É uma atitude sem sentido?
Acho que devemos trabalhar primeiro a nossa língua. Tem alguns dizendo “Nóis vai” e depois falam inglês! Será que os naturais de outros países fazem isso por lá? Tive vários correspondentes quando estava na faculdade, inclusive uma do Hawai, o nome dela era Eisel, ela escrevia alguma coisa em português e não errava. Falta dedicação de nossos alunos.
Quem são seus autores brasileiros prediletos?
Primeiro Machado de Assis. Tenho outros. Em cada autor encontro alguma coisinha. A leitura faz com que o leitor imagine os personagens e dê vida á eles.
O livro é sempre melhor do que o filme?
O livro é melhor! Tem que fazer a imaginação trabalhar.
Dizem que a língua portuguesa é complexa para quem não a conhece, a senhora concorda?
Eu acho que sim. Realmente é uma língua difícil, mas é tão bonita! Um autor que eu sempre admirei foi Camões, o professor exigia que lêssemos Os Lusíadas.
Lembra-se de um trechinho?
“As armas e os Barões assinalados / Que da Ocidental praia Lusitana”, e ai vai! Gosto do episódio da Inês de Castro, Adamastor. Para mim Camões foi o autor completo. Ele conhecia bem a métrica, para fazer aquelas rimas, conhecia bem o português, conhecia geografia, história, conhecia a humanidade. Eu sempre admirei Camões.
A senhora tem algum hobby?
Até pouco tempo me apaixonei pelas orquídeas. Adoro mexer com plantas.
A senhora gosta das novelas transmitidas pela televisão?
Geralmente não assisto. Quando passou a novela “Caminho das Índias” eu assisti, achei muito interessante.
A senhora sempre foi considerada uma professora “linha dura”, qual sua visão a respeito?
Eu tinha prazer em ensinar, e ficava feliz quando o aluno se interessava pela matéria. Tive excelentes alunos.
O que a senhora acha dos autores Jorge Amado e Paulo Coelho?
Uma vez eu estava na biblioteca do Colégio Jorge Coury, juntamente com a professora Bernadeth Balás, chegou uma professora e disse para ela: “Porcaria esses livros aqui! Isso para “O Tronco do Ipê” de José de Alencar, outro era “O Guarani”, do mesmo autor. Eu disse-lhe: “- Você já escreveu algum livro?”Ela respondeu: “-Não!”Eu falei: “Eu também, nunca escrevi um livro, mas como gostaria de escrever! Se eu tivesse um pouquinho do José de Alencar, seria tão bom!”. Acho que se a gente não é capaz de escrever um livro de tal monta, não deve criticar.





ANTONIO CELSO RIBEIRO DA SILVA

                                                      



PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com


Sábado 26 de setembro de 2009
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.tribunatp.com.br/
http://www.teleresponde.com.br/
http://blognassif.blogspot.com/


ENTREVISTADO: ANTONIO CELSO RIBEIRO DA SILVA


O Dicionário da Comunicação de Carlos Alberto Rabaça e Gustavo Barbosa define como sonoplasta: “o profissional responsável pela sonoplastia, que por sua vez consiste na seleção e adequação de todas as sonorizações e efeitos sonoros, editados previamente, gravados ou montados ao vivo, necessários à produção de filme, peça teatral, programa radiofônico ou de TV, de acordo com as exigências do roteiro”. A grande magia do rádio que tanto encanta o ouvinte é a sua própria imaginação. Ao ouvir o locutor, os efeitos sonoros executados no momento correto e de forma adequada, a incrível e pouco conhecida atividade do cérebro humano cria um mundo imaginário indescritível e peculiar, único para cada um dos milhares de ouvintes. O número de ouvintes será sempre maior quanto maior for sua identificação com o programa apresentado. Um conceito simples, que exige uma boa produção, momentos corretos de intervenções, sincronia perfeita entre o locutor e o sonoplasta. Antonio Celso Ribeiro da Silva, o Celso Ribeiro, é uma figura lendária do rádio piracicabano. Com criatividade está sempre procurando algo de novo. Respeitada as dimensões de cada veículo de comunicação Celso Ribeiro é o Hans Donner piracicabano, que criou a marca da Rede Globo e é o responsável pelas vinhetas e peças de abertura de muitos dos programas da Rede Globo. Em um clássico programa da Rádio Difusora de Piracicaba, Celso criou para a abertura o ranger de uma porta se abrindo. Apareceram várias empresas querendo colocar seu nome “colado” ao ruído.
Celso Ribeiro você nasceu onde?
Nasci em 25 de março de 1948, aqui em Piracicaba, bem em frente a Igreja dos Frades. Tive o previlégio de ser batizado logo que nasci, pelo fato da proximidade da igreja, Frei Evaristo foi quem me batizou. A casa do meu pai ficava onde hoje é o jardim defronte a Igreja dos Frades, era uma pequena praça com algumas casas ao fundo. Meus tios cuidavam das roupas, tanto dos frades como da igreja. Eles tinham uma casa cedida pelos frades para residirem. Eu sou filho de Antonio Ribeiro e Ana Luiza Ribeiro. Meu pai era pedreiro, com o tempo passou a ser empreiteiro de obras. Em 1968 ele foi convidado para fazer uma reforma na igreja da Penha, em São Paulo. Depois passaram a construir a matriz nova da Penha, ele passou a morar em uma casa atrás da igreja com uso vitalício. Lá ele faleceu assistido pelos padres.
Você chegou a residir lá?
Não, porque eu já tinha minha vida profissional encaminhada aqui em Piracicaba. Eu ia visitá-lo regularmente.
Você tem algum apelido?
Tive quando era moleque, eu jogava “bem” bola! Me apelidaram de Pé-de-Rodo. Quando chegava aos meus pés eu chutava, e a bola saía, indo as vezes parar em um riacho próximo. Quem me colocou esse apelido foi o Ademar Lorenzi que era colega de infancia.
Você estudou onde?
Estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, juntamente com Edirley Rodrigues, famoso jornalista e radialista de Piracicaba. Estudei por um período também no Dom Bosco.
Com quantos anos você começou a trabalhar?
Com oito anos de idade eu era obrigado a sair do Grupo Barão do Rio Branco, vir para casa, coletar esterco para a horta mantida pelo meu pai na Rua Riachuelo. Depois pegava um carrinho de pipoca e ficava vendendo em frente a Catedral até umas cinco horas da tarde. Aos doze anos de idade fui trabalhar na Fábrica de Bebidas Del Nero, de propriedade do Seu Armando Del Nero, alí na Rua Boa Morte, em frente ao Lar Escola .
Fui designado para engarrafar a Caninha 21. Existia uma espécie de cone que era aberto por um mecanismo, as garrafas vinham por uma esteira. Muitas vezes o cone enroscava, eramos obrigados a submeter o cone a uma determinada pressão, isso feito com a boca!
Das sete horas da manhã até as onze horas quando minha mãe trazia o amoço, involuntáriamente eu já tinha ingerido uma boa dose de aguardente pelas vezes que tinha que intervir no sistema de engarrafar.
Em seguida você trabalhou onde?
Do Del Nero fui trabalhar em uma fábrica de beneficiar algodão, propriedade do Seu Benedito Grisotto, a fábrica ficava na Rua Alfredo Guedes, próximá Rua Riachuelo. Isso foi em 1961. Em 1963, um amigo, o Jair Lacava trabalhava como operador de som na Rádio Voz Agrícola do Brasil, que ficava na Rua XV de Novembro, bem na praça, onde hoje funciona um supermercado. Na época era uma padaria, a rádio ficava no andar superior. Eu fui visitá-lo. Ele perguntou-me se eu gostaria de trabalhar em rádio. Disse-lhe que sim. O gerente era o famoso José de Oliveira Garcia Neto. O Jair, em uma brincadeira, colocou-me ao telefone, falando com um seu amigo, da Rádio Difusora de Piracicaba, imitando a voz de Garcia Neto. O pseudo Garcia Neto disse-me: “-Você quer trabalhar comigo na Rádio Voz Agrícola, lá pelas duas e meia, tres horas da manhã, você vem e me espera que eu logo chego”.
Qual foi a sua reação?
Voltei para minha casa, muito entusiasmado, dizendo para a minha mãe: “-Vou trabalhar em rádio”. E fui dormir, Á meia noite minha mãe me acordou, deu a minha melhor roupinha, e ás duas horas da madrugada eu estava na Rua XV de Novembro, esperando o Seu Garcia, que chegou por volta das dez horas da manhã! Quando ele chegou, contei á ele, que tinha recebido a sua ligação convidando para trabalhar na rádio. Foi uma risada só! Provavelmente comovido pelo fato ele disse-me: “Pode começar a trabalhar hoje mesmo!”. O prefixo da Rádio era “ZYR 209 Rádio A Voz Agrícola do Brasil de Piracicaba uma das emissoras da Rede Piratininga”.
Qual foi a sua primeira função?
Aprendi a operar a mesa de som, e logo em seguida o Dalgo Migliori que fazia o famoso programa chamado “Manhã na Roça” me colocou fazendo a mesa e ao mesmo tempo a locução. Passei a exercer mais a locução do que a mesa. A música que fazia maior sucesso era “Banho de Lua”!
A rádio mudou de local?
Isso foi um pouco antes do Comurba cair, a rádio mudou para a Rua Moraes Barros, 1191. A Voz Agrícula era da Rede Piratininga de São Paulo, que competia na época com a Rede Panamericana de Rádio, hoje Jovem Pan, com a Rede Tupi de Rádio, 1040 e com a Rede Bandeirantes.
Quando você decidiu dedicar-se á sonoplastia?
Eu era muito jovem tinha 17 anos de idade, havia um rigoroso critério para as palavras ditas no ar. O que provavelmente hoje passaria como brincadeira, na época foi motivo de critica de alguns companheiros. Troquei as palavras “tomar sopa” por “comer sopa”.
Foi o suficiente para que eu me sentisse pouco a vontade diante do microfone. Passei então a dedicar-me a mesa de som, a ponto de ser classificado por Roberto Moraes Sarmento como o primeiro sonoplasta da cidade. Eu gostei tanto que permaneço até hoje.
Celso como eram os discos da época?
Peguei o período do acetato, do 78 rotações, compacto duplo, compacto quadruplo que eram duas músicas de cada lado.
E para achar o ponto certo, onde iniciar a música?
É onde entra a arte! Lembro-me de uma ocasião em que Roberto Moares Sarmento me chamou, assim como a Enedes Faustino e o Jean Baron. O pai do Jean Baron passava filmes aos domingos no Oratório São Mário. A proposta do Roberto Moraes Sarmento era a de fazer a primeira rádio-novela do interior do estado. Fiquei encarregado da sonoplastia, os capitulos eram feitos ao vivo. A Enedes Faustino fazia diversos papéis femininos. Isso foi em 1964. Eu fazia a sonoplastia, fundo musical, isso que hoje vemos nas novelas de televisão. Havia o improviso, por exemplo um cavalo. (Celso com muita habilidade batuca com as mãos o trote de um cavalo). No estúdio criávamos chuva com o barulho de papel celofane. Era tudo improvisado. Isso foi na Voz Agricola, onde permaneci até 1967. Depois fui trabalhar no Frigorifico Piracicaba , do Seu Altamiro Garcia doNascimento, como faturista, o Rui Fernando Coutinho que trabalhava na rádio comigo foi quem me levou para lá.
Quando você voltou para o rádio?
Waldemar Bilia era o diretor artístico da Rádio Difusora e eu fui pedir serviço para ele em 1968. Ele disse-me que eu era bem indicado, havia trabalhado com Ari Pedroso, Moraes Sarmento, Dario Correia. Em 1 de abril de 1969 entrei na Rádio Difusora de Piracicaba, onde estou até hoje. São 40 anos de Rádio Difusora. Quando entrei a diretora era Dona Maria Conceição Figueiredo, depois ela passou a rádio para o seu sobrinho José Roberto Soave, falecido em 1997 e atualmente suas filhas Daniela, Andréia e Roberta comandam a rádio.
A Difusora teve um período onde os programas de auditório ficaram famosos?
Trabalhamos juntos com Nhô Serra, Pedro Chiquito, Parafuso. A minha falecida sogra adorava ver Pedro Chiquito cantar a bíblia. Ele escolhia um trecho da bíblia e cantava. Eu o levava para a minha casa, minha sogra fazia o jantar para ele, e não o deixava sair antes das 10 a 11 horas da noite. Ele morava no Jupiá, eu o levava para a sua casa. Outros também frequentavam o auditorio da rádio, como Barbosinha, Moacir 70, que é o Moacir Siqueira.
Por que o chamavam de Moacir 70?
Ele era jovem na éoca, diziam, está ai o homem da virada da década!
Quais eram os programas de grande sucesso na época?
Eram o cururu, o programa do Waldemar Bilia “Rádio Atrações Morro Grande”, que distribuia muitos premios, havia um conjunto musical. O programa infantil que o Atinilo apresentava aos domingos pela manhã, foi onde surgiram muitos talentos, conjuntos, o Som Eco 2000 apareceu ali, assim como o The Finders.
Voce tomou lanches no Karamba`s?
Ficava embaixo do Clube Corenel Barbosa, na esquina. Era do Celsinho Elias, da Renata Elias, do Toninho Elias. Existia o Bar Nova Aurora, do Chacrinha, fechavamos a rádio a uma hora da manhã e íamos para lá. O Bola Sete que ficava na Rua São José entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. O Bar do Tanaka, que ficava na Rua São José, em frente ao Teatro São José, foi um dos bares mais famosos, além das boas companhias, tinha o famoso: “Tanaka marca ai pra mim”. Em 1969 fui ver a descida do homem na lua no Restaurante Brasserie. Era talvez o único restaurante da cidade que tinha televisão, ainda no sistema preto e branco. Coloquei um LP para rodar na rádio e fui correndo ver.
O que você diz do gravador de rolo?
Lembro-me do gravador Akai 4000 DS. Em uma partida de futebol, cada vez qua era marcado um gol colocavamos na fita do gravador um papelzinho, para ter a noção do lugar da fita onde tinha sido narrado o gol. Depois veio o gravador com o conta giro. Zerava o conta giro e marcava, no giro 400 tem o gol do XV. Tem uma passagem curiosa, um operador de som que eu ensinei, hoje ele exerce a função de advogado, durante uma partida de basquete ele marcou com papelzinho cada cesta, voce pode imaginar a quantidade de papelzinho que havia no rolo de fita. Rádio era uma diversão, não existia rádio em FM, a televisão era em preto e branco e pegava mal, muitas antenas tinham um bombril em cima para sintonizar melhor. O profissional de rádio era bem quisto, e nós tinhamos que corresponder á esse respeito.
Hoje você continua trabalhando na Rádio Difusora?
Estou trabalhando no horário da meio dia ás seis da tarde, já uns 32 anos. Faço a mesa de som e ajudo a produzir o programa. Crio teste musical, piadas. Infelizmente muitos programas deixam muito a desejar na parte artística. O lucutor faz a locução e opera a mesa. Como pode ainda exercer a sua criatividade? Eu, Robson Valério e Dinho Morelli, fazemos horários juntos, criamos diversas formas de interagir com o ouvinte. Esse diferencial é que atrai o ouvinte e eleva o nível de audência.
Você é perfeccionista?
Sempre fui e continuo sendo até hoje. O conceito social de rádio mudou muito.
Provavelmente voce deve ter conhecido muitas pessoas em início de carreira e que tornaram-se astros?

Conheci sim, entre eles Francisco Milani , Fiori Giglioti que chegou a transmitir vários jogos para a Difusora, Gil Gomes que morava em uma pensão na Rua Boa Morte, foi embora de trem para São Paulo. Ari Pedroso, Waldemar Bilia, Antonio Sérgio Piton, Idalício Castellani, Ulisses Michi, Roberto Cabrini, Julio Galvão, o famoso Trio Itujuval.. O Atinilo José tinha o Show das Três, em uma época o programa passou a premiar quem cumprisse uma tarefa. A disputa foi tomando tal proporção que se formaram até escuderias para participar, criando equipes com a EkypéXato, Zoom-Zoom, EkyPeralta e Ekypelanka, que passaram a disputar a Gincana Difusora.. De escuderias passaram a formar escolas de samba. A Banda do Bule foi criada embaixo da Rádio Difusora, tanto que se chamava Banda do Bule porque o Balassini, que era um dos sócios da Agencia Gianetti, tinha também uma lanchonete chamada Café “O Bule”. O falecido Alceu Righetto, o Fagundinho, João Sachs, criaram ali a Banda do Bule.
Na Praça José Bonifácio, na esquina com a Rua Prudente de Moraes havia a Sorveteria Paris?
Era do Keiji e do Show, são nomes de origem japonesa, mas que pronunciavamos assim por ser mais próximos da nossa lingua. Era sorveteria e pastelaria. Onde hoje é o Edifício Canadá havia a Padaria Vosso Pão.
Você conheceu Roberto Carlos?
Ele adquiriu um rancho em Artemis, era muito amigo da família Rossi de Piracicaba, Seu Narciso Rossi e Dona Semiramis Rossi eram proprietários do Bar e Café Seleto, na Rua Prudente de Moraes entre a Praça José Bonifácio e a Rua Governador Pedro de Toledo. Eles eram tios da Eunice Rossi que foi a primeira esposa de Roberto Carlos. Na época ele chegava em Piracicaba, parava na Agencia Gianetti, isso por volta das oito a nove horas da noite, comprava as revistas que falavam dos artistas. Ele vinha de Cadilac. Muitas vezes trazia a Wandeléia, a Martinha, Erasmo Carlos que é uma pessoa muito atenciosa. O Gato que era o baterista do conjunto RC-7. Eu apresentei uma tarde de autografos do Don da dupla Don e Ravel no Clube Regatas.

domingo, setembro 20, 2009

"Não é o tempo que nos falta - é a serenidade para pensar noutra coisa além do alarmante assunto de todos os dias."
Euclides da Cunha
Comentários:
Oi, passei pra conhecer seu blog, e desejar bom fds
bjs
aguardo sua visita :)
# postado por Dri Viaro : 10:07 AM
ORIVALDO TRIMER




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS


JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com



Sábado 19 de setembro de 2009

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://www.tribunatp.com.br/

http://www.teleresponde.com.br/

http://blognassif.blogspot.com/



ENTREVISTADO: ORIVALDO TRIMER





Orivaldo Trimer é descendente de russos que imigraram para o Brasil, mantém características físicas típicas, com um metro e oitenta centímetros de altura, conserva o corpo em forma, dono de uma grande força física. Os imigrantes da Letônia, considerados russos eram bons agricultores. A vinda dos primeiros contingentes de Letos para Nova Odessa foi em 24 de junho de 1906, abrangia terras que hoje compõem Nova Odessa e municípios vizinhos. A saga da família Trimer se assemelha a de muitos imigrantes que lutaram contra muitos obstáculos: língua, costumes, clima e a luta infindável pela sobrevivência. Orivaldo é filho de Alfredo Trimer e Paschoa Grivol Trimer. Nascido em Tupi, em 22 de julho de 1939 é casado com a piracicabana Neusa Helena do Amaral Trimer desde 1968, casamento realizado na Matriz da Vila Rezende pelo Monsenhor Jorge.

Seu pai Alfredo Trimer foi proprietário de um estabelecimento em Caiubi?

Meu pai tinha um armazém em Caiubi, Foi lá que ele se tornou um grande amigo de José Nassif. O Seu José transportava açúcar da Usina Furlan e passava diariamente pelo armazém do meu pai. Eu saí de Caiubi com 11 anos de idade e fui para a Fazenda Cachoeira em Artemis. A nossa família toda se mudou para lá, fomos plantar cana de açúcar, a propriedade era do Dr. Freitas. Em 1956 fui campeão de ciclismo em Artemis, com uma bicicleta suíça, marca Nata, acho que foi a única que existiu no Brasil! Nós vínhamos de Artemis até Piracicaba de trem, descíamos na Vila Rezende e apanhávamos o bonde para economizarmos. O preço do trem da Vila Rezende até o centro era mais caro do que o bonde. Essa economia era importante para nós naquela época.

O armazém em Caiubí não prosperou?

No início era um bar, ia indo bem, vendia-se muito bem pão, “frangava” (negociava com os famosos “frangueiros”, comerciantes que percorriam as localidades rurais levando principalmente armarinhos, pães doces, muitas vezes até cortes de tecidos. Uma característica peculiar é que o carrinho de tração animal tinha abaixo do seu piso uma gaiola, onde eram transportados os frangos vivos. As negociações eram feitas por permutas com frangos, ovos, queijos, produtos da roça Seu Alfredo abastecia esses frangueiros). O que definiu o fim do armazém foi quando meu pai decidiu ampliar as instalações e infelizmente o investimento não deu o retorno esperado. Outro fator que pesou muito foi o excesso de confiança que ele tinha na honestidade das pessoas que compravam a crédito. Muitos não corresponderam a essa confiança.

Tem uma passagem pitoresca, que mostra a determinação do seu pai para o trabalho?

Meu pai era muito trabalhador. A lavoura dele era equivalente a lavoura cultivada por uma família com maior número de pessoas. Ela plantava algodão, na época o serviço na terra era feito com a utilização de burros, até ao meio dia ele trabalhava com uma parelha de burros, minha mãe levava o almoço e outra parelha de burros descansada, e quando era tempo de lua cheia ele ia até mais tarde. Meu pai levantava sempre ás quatro horas da madrugada, era ele quem fazia o café e tirava leite. Minha mãe tinha o costume de por uma pitada de sal no leite. Quem bebia dizia: “-Que leite gostoso!”.

Como a família Trimer passou a tomar conta da Chácara Morato?

Meu estava procurando um lugar para morar. Encontrou um conhecido que morou na Fazenda Cachoeira, e que lhe disse: “Estou morando em tal lugar, lá está muito bom, vamos lá você vai ver”. Meu pai veio, encontrou o administrador Antonio Massoca. Ele então disse ao meu pai: “Estou saindo Alfredo, aqui é bom para você que é trabalhador”.

Na época que idade você tinha?

Eu tinha uns 18 anos de idade, mudamos para lá no final da década de 50 e saímos em 1978.

Quem era o proprietário da Chácara Morato?

Era do Dr. Celso Leme, ele era casado com Dona Cenira Leitão, filha do Dr. Francisco Morato.

Qual era a área da Chácara Morato?

Eram 50 alqueires paulistas. (Cada alqueire paulista mede 24.200 metros quadrados). Hoje é cidade! Está ali o Carrefour, o condomínio Terras de Piracicaba.

A Chácara Morato abrangia que região?

Em uma extremidade ficava a uns 100 metros abaixo do Castelinho (Propriedade em forma de castelo, projetada pelo arquiteto Dr. João Chadad, que deu origem ao nome do Bairro Castelinho). Pela antiga Estrada Boiadeira ia até o café da Chácara Nazareth.

Uma das características próprias da Chácara Morato, eram suas frutas, em especial a variedade de tipos de mangas?

Tinha muitas espécies de mangas, não sei dizer quantas, mas chegamos a estimar em trinta espécies diferentes. Tinha pé de manga enorme, que precisava de três a quatro homens para abraçar. Havia uns pinheiros que tinham sido plantados e que naquela época (1970) os registros dos mesmos marcavam 105 anos de existência.

Para chegar á “cidade” qual era o caminho percorrido?

O lugar mais próximo era a Paulista, passávamos pelo pasto, pela invernada, iamos até a Igreja dos Frades. Minhas irmãs e eu íamos assistir a missa bem cedo. Era um trilho, só se passava a pé, Lá em cima havia uma porteira fechada com cadeado, nós passávamos entre os fios de arame da cerca e saíamos no aterro da Estrada de Ferro Paulista, onde hoje existe uma empresa de terraplanagem, próxima a rotatória da Avenida Dr. Paulo de Moraes com Avenida Nove de Julho.

Foram feitos bailes no tempo em que a família Trimer trabalhou na Chácara Morato?

Eram realizados bailes no terreirão, fazíamos o palizado. A Cerâmica tinha uma colônia de trabalhadores cujas casas ficavam onde hoje há uma padaria em frente ao Condomínio Colinas, próximo ao Carrefour.

Quem cuidava do casarão da Chácara Morato?

Era uma funcionária, Dona Nerina. A família do Dr. Celso vinha passar as férias no casarão.

Havia construções remanescentes de uma senzala que existiu no passado?

Nós morávamos na casa que foi habitada pelos escravos. Era uma casa em forma de “Z”, muito comprida mais de cem metros de comprimento, paredes feitas com pedras com a espessura das paredes de quase um metro de largura, os caibros do telhado feitos com coqueiros, telhas feitas nas “coxas” (Telhas fabricadas com barro moldado nas coxas dos escravos). Algumas vezes minhas irmãs iam ver uma novela na televisão do casarão, era preciso que uma pessoa as acompanhasse, quando voltavam, no escuro da noite era muito fácil imaginar vultos ou ruídos assustadores.

Você chegou usar que tipo de condução para entregar algodão que era plantado pela família?

Meu pai, Alfredo, tinha muita experiência no plantio de algodão. Existia uma terra vermelha, em um pedaço da chácara, lá pelos lados da Paulista, o terreno era bem plano. Deu um algodão muito bom, foi à primeira planta que “endireitou a costela nossa”. Foi vendida para o Seu José Nassif, na primeira vez que fiz a entrega, engatei dois burros na carroça e subi para a Paulista, era o trilho da invernada, o administrador da chácara me deu a chave do cadeado e passei pela porteira do Jaraguá. Ali havia uma estrada que chegava até a Rua do Rosário, levei nessa viagem umas 50 arrobas (Cada arroba pesa 15 quilos).

Vocês plantaram cana de açúcar na Chácara Morato, como era carregada essa cana?

O carregamento era manual. A terra sempre foi muito boa, resultando em uma cana bem desenvolvida. Chegamos a colher até 2.000 toneladas de cana que eram entregues no Engenho Central.

Quantos feixes de cana você cortava por dia?

Eu cheguei a cortar e amarrar 411 feixes. Em uma cana boa, a “77-Brasil”, até o meio dia eu tinha 300 feixes amarrados. Depois do meio dia eu ia para 500 feixes. Ninguém nunca conseguiu cortar essa quantidade. O meu podão de cana eu amolava dos dois lados. O administrador Luiz Trevisan dizia que não conhecia alguém que cortasse aquela quantidade. Comia e já ia mastigando trabalhar. Naquele tempo o Engenho Central não aceitava que a cana fosse queimada.



Onde era o local chamado Matão?

Iniciava nas Glebas Califórnia e ia até a Pedreira Equipav.

Você atravessava a estrada em frente á Chácara Morato e já estava no Rio Piracicaba?

Meu pai gostava de pescar. Quando moramos em Artemis não saia do rio. Era bom nadador e mergulhador. Quando o Rio Piracicaba enchia, subia no então trampolim do Clube de Regatas, pulava, e ia até a Barra do Rio Corumbataí nadando, sem bóia, sem nada. O corpo acostumado a trabalhar no pesado desenvolveu uma disposição física impressionante.

Quando a família comprou o primeiro veículo automotor?

Foi uma Kombi. Fomos para Santos, a família toda, oito pessoas, que alegria! Isso foi na década de 62 a 63. Era de segunda mão. O teto era branco, e o resto da pintura na cor café com leite. Deu problema na volta, o relê não funcionou mais, e de Americana á Piracicaba viemos sem luz! Na época o movimento nas estradas era pequeno.

Quando encerrou o período de trabalho na Chácara Morato qual atividade você passou a exercer?

Com meu primo montamos uma pequena empresa de terraplanagem. Fomos para a cidade de Itapeva, aqui havia muita concorrência. Na época o então proprietário da Padaria Jacareí tinha uma fazenda em Itapeva, fomos realizar um serviço para ele, começaram a aparecer serviços bons.

Você tem muita habilidade para o conserto e manutenção de máquinas pesadas?

Ainda aqui na Chácara Morato, trator, caminhão eu mesmo consertava. Em Itapeva eu tinha uma oficina onde eu recondicionava do motor até a parte rodante dos tratores de esteira. Quando descobríamos defeitos de fabricação em uma máquina escrevíamos ao fabricante sobre o assunto. Na máquina Fiat a bomba de embreagem fundia muito pela sua localização. O modelo seguinte já veio com a bomba melhor localizada. Esse é um exemplo, muitos outros aconteceram, inclusive com outros fabricantes de máquinas pesadas. Chegamos a retificar motores em pleno mato fechado. Isso foi uma grande vantagem para a nossa empresa, que ganhava muita agilidade. Tínhamos um veículo que era praticamente uma oficina completa, e sempre mantivemos prontas para o uso reservas de partes e peças mais estratégicas para o funcionamento das máquinas.

No início da cultura de cana na Chácara Morato você transportava a cana de açúcar com qual veículo?

Era um caminhão “toco” á gasolina, F-600 ano 1958.

Os caminheiros ficavam esperando em uma fila, a vez de descarregar a cana na usina. Era comum tomarem um aperitivo antes do almoço?

Existia esse hábito na época. O caminhão F-600, tinha um espaço atrás do banco onde podíamos levar nossos pertences pessoais. Eu costumava levar dois vasilhames. Em um deles tinha o aperitivo para meu consumo. O outro era para aqueles caminhoneiros que vinham “serrar”. No trajeto que fazíamos para ir até o Engenho Central havia um local onde era habito serem feitos os chamados “despachos” com diversas oferendas para as entidades, entre elas aguardente. Eu e meu ajudante abastecíamos com a pinga deixada ali o vasilhame destinado aos colegas que gostavam de filar um aperitivo. Por muitos anos eles se deliciaram com essa cachaça, até que acabei contando á eles a origem do que eles consideravam um produto de sabor excepcional! Na época a fila era enorme, as últimas viagens iam até de madrugada. Cheguei a ficar esperando por oito horas na usina para descarregar a cana de açúcar. Isso no Engenho Central. O caminho que eu fazia seguia pela Rua do Porto, era estrada de terra. Onde foi o Clube Regatas o caminhão não passava, era obrigado a ir por cima, pela Rua do Sabão.

A subida que há na Rua do Porto atrás do Palacete Boyes não existia?

Não havia, era tudo propriedade da Fabrica Boyes. Onde hoje é a Nova Piracicaba era plantação de cana. No bairro Nhô Quim, hoje existe a Avenida Manoel Conceição, foi propriedade do Mário Áreas Witier, conhecido como Mário da Baronesa, por ter sido criado por ela.

Você chegou a transportar cana com o bonde ainda funcionando em Piracicaba?

O caminho para levar a cana para o Engenho Central obrigatoriamente tinha que ser pela Ponte do Mirante, hoje Ponte Irmãos Rebouças. Quando o bonde ia, nós íamos atrás do bonde. Quando ele vinha da Vila Rezende para o centro, na cabeceira da ponte havia um funcionário em cima de um poste, sentado em uma cadeirinha com uma manivela ele apagava o farol de um lado e acendia de outro lado. Tínhamos que esperar, não havia porteira, entravamos pela Avenida Maurice Allain. Descíamos até o local próprio para descarregar e lá o guincho descarregava. O pai da minha esposa, Seu Osvaldo do Amaral, trabalhou muitos anos lá como cosedor de vácuo, que é uma etapa onde passa a garapa para ser processada. Um dos balanceiros era o Seu Joaquim.

No hoje Bairro Jaraguá como era?

A Chácara Nazareth era toda formada por invernada, existia só gado praticamente. Havia muita codorna. O plantio de café era feito só mais para cima, e dava serviço para muita gente, eles apanhavam o café escolhido, selecionado, eu até acredito que era para servir como semente. As mulheres e as crianças quando passavam para fazer a colheita era um número muito grande de pessoas, duzentas a trezentas pessoas. Quando voltavam do trabalho apanhavam do nosso canavial, uma ou duas canas, isso todos os dias, você pode imaginar ao final de um mês quantas toneladas eram apanhadas para consumo deles.

Havia roubo de gado na época?

Existia sim, perdemos um cavalo e uma parelha de mula.

Alguns ciganos eram negociantes de animais?

Houve uma época em que apareceram uns ciganos, com tropa de animal. Meu pai trocou uma égua velha e Seu Clemente que era da Gleba Califórnia, ele tinha um barzinho lá, com jogo de boche, era muito conhecido, também fez uma troca de animal com os ciganos. Os dois foram para a Paulista. Meu pai disse: “Clemente, essa aqui eu comprei do cigano.” O Clemente disse: ”Eu também comprei essa”. Na outra semana deu uma chuva e lavou os animais. Os ciganos passavam algum produto, talvez cinza de fogão nos pontos estratégicos das montarias. Isso porque quando é velho o queixo dos animais fica branco. Eles tinham maquiado os animais! Meu pai e o Clemente deram boas risadas.




sexta-feira, setembro 11, 2009

GASOGÊNIO,


um quebra-galho do tempo da guerra para a falta de gasolina
Muitos ainda se lembram do trabalho exercido pelos automobilistas do tempo da guerra, misto de carvoeiros e mecânicos; às voltas com sacos de carvão, grelhas, filtros, ventoinhas, tudo sob uma densa poeira negra.
Havia gasogênios de todos os tipos: traseiros, tipo reboque; dianteiros, à lá Cirano de Bergerac; enormes, como caldeiras; compactos, tipo apartamento; escondidos no porta-malas. Alguns bons. Outros, deficientes. Demonstrando que seus construtores desconheciam por completo os princípios de seu funcionamento.
A LENHA
O produtor do gás pobre era o carvão vegetal. Sua fabricação era feita primitivamente. A lenha, cortada em pedaços de 50cm de comprimento, aproximadamente, após ter sido amontoada na forma de cupim, é coberta com grossa camada de terra ou barro úmido. O fogo é ateado pelo furo “A” (veja a figura 1) onde foi deixado um espaço vazio.
A Arte do fabricante de carvão reside em deixar queimar somente a quantidade de lenha suficiente para a produção do calor necessário para que a “matéria-prima” carbonize. Obtém-se isto, regulando a tiragem através dos furos “B”, que permitem a entrada de ar. Este processo é uma verdadeira destilação a seco da lenha, durante a qual a quase totalidade da umidade, bem como de ácidos e resinas, evapora. Perdem-se assim grande quantidade de “gases” que não podem ser aproveitados no processo.
Para que se tenha uma idéia do que representa a parte perdida, é bom que se conheça o que um metro cúbico de boa lenha, destilada por um processo mais perfeito pode produzir: 120kg de carvão de primeira; 150 kg de ácidos diluídos; 20 kg de produtos alcatroados e uns 90 metros cúbicos de gases, à pressão atmosférica.
para cima, para baixo e transversal (veja a fig.2). Examinaremos apenas o primeiro (2A), por ser de mais fácil compreensão.

A preliminar é enche-lo de pedacinhos de carvão, de dimensões as mais uniformes possíveis, bem “socados”. Em seguida fecha-se a tampa da grelha pela qual as cinzas serão eliminadas. É necessário, de início, provocar a tiragem com a ventoinha “V”.
Forma-se assim uma zona de queima onda o oxigênio do ar e o carbono do carvão reagem, formando dois gases: o bióxido e o monóxido de carbono. Este último, insaturado, queima facilmente numa bela chama azul, igualzinha à do gás engarrafado ou de rua, que são seus primos ricos.
O bióxido de carbono, por se encontrar próximo ao fogo e em contato com mais carvão, é reduzido, isto é, transforma-se novamente em monóxido. Este fato permite melhorar o rendimento da produção do gás pobre e deve ser levando em conta no projeto dos geradores.
Um dos principais problemas do sistema é a presença do oxigênio, um sujeitinho muito ativo. A única maneira de evitar que faça estrepolias é agir como o fabricante de carvão: regular o fluxo do ar que ativa a zona do fogo. Nos motores de regime constante, como os estacionários, isto é um pouco menos difícil, se bem que as cargas a que estão sujeitos também variam. Nos automóveis, porém, a coisa é bem mais difícil pois além da variação das cargas, varia também, e enormemente, o regime de rotações.
Daí se conclui que, nos motores estacionários, o controle de ar deveria ser feito por um dispositivo automático, ao passo que nos motores de automóveis tal controle somente poderia ser efetuado a “ouvidômetro”.
Os dispositivos que geram o gás pobre, basicamente, podem ser de três tipos: tiragem para cima, para baixo e transversal (veja a fig.2). Examinaremos apenas o primeiro (2A), por ser de mais fácil compreensão
Quando alguém vai descer de um ônibus muito cheio, costuma levar consigo outros passageiros. Assim, o nosso gás pobre, ao sair do gerador, carrega pó de carvão, cinzas e destilados ácidos, além de vapor d’água. Sua temperatura, inclusive, é de cerca de 800º C nessa situação, sendo mister esfria-lo.

Em primeira instância, o gás pobre atravessa um “ciclone”, (veja fig. 3) no qual as impurezas mais pesadas depositam-se pelo efeito da força centrífuga, sofrendo, inclusive, abaixamento de temperatura.
Em seguida, passa por um ou dois filtros, que retêm as impurezas menores, resfriando-o ainda mais.
Na figura 4 vemos o esquema de um filtro, grande saco de algodão ou flanela, que deve ser facilmente acessível para limpeza. Outros tipos existiam, como os de banho de óleo, análogos aos filtros de ar.

Finalmente, o gás pobre, limpo, está pronto para ser aspirado pelo motor, estando a aproximadamente uns 20º C acima da da temperatura ambiente.
peso de ar, para formar a mistura combustível e isto é feito pelos “misturador”, de funcionamento análogo ao carburador. Deve, porém, receber de 1 a 1,5 partes em peso de ar, para formar a mistura combustível e isto é feito pelos “misturador”, de funcionamento análogo ao carburador.


Existiam vários tipos de misturadores, sendo o que aparece na fig. 5, de mistura anular, bastante eficiente. Observemos que o motor a gasolina ao ser adaptado para gasogênio, devia ter seu avanço aumentado, porque o gás pobre queima mais devagar. Inclusive, a taxa de compressão devia ser acrescida. Mesmo assim, o motor a gasogênio produz até pouco mais de 60% de sua potência original.



                                            Veículo andando com gasogênio (São Paulo, década de 40)


                                         Ônibus (Chevrolet Tigre) com gasogênio (Rio, 1944)


Ônibus da Empresa Viação Garcia, utilizando gasogênio (Londrina-PR, década de 40)






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