segunda-feira, março 21, 2011

ÉRICO SAN JUAN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
ENTREVISTADO: ÉRICO SAN JUAN
A riqueza cultural de Piracicaba é uma característica que a destaca no cenário nacional, a ponto de ter sido cognominada de “Ateneu Paulista”. Talvez inspirados nas belezas naturais da cidade um grande número de poetas surgiu na cidade, a ponto de se dizer a boca pequena que é a localidade onde há o maior número de poetas por metro quadrado! Há também um grande número de artistas plásticos. O memorável Edson Rontani tornou-se um guru para muitos cartunistas e ilustradores, pode-se dizer que foi um artista com obras além do seu tempo, introdutor de uma nova forma de comunicação Mais tarde, principalmente com o advento do Salão do Humor em nossa cidade, essa forma de expressão ganhou reconhecimento e valorização. Entre muitos admiradores de Edson Rontani, destaca-se o cartunista Érico San Juan, que aos 10 anos de idade fez um gibi completo. Ele criou o enredo, diagramou, ilustrou e encadernou. Aos 12 anos já colaborava com tirinhas de sua autoria, impressas periodicamente pelo Jornal de Piracicaba. Aos 15 anos já era ilustrador infantil do Jornal de Piracicaba. Dotado de refinada sensibilidade artística ele coloca suas impressões em seus traços, hábil caricaturista, em apenas dois minutos traduz para o papel os traços característicos do retratado, habilidade que exerceu como “caricaturista ao vivo” em eventos promovidos pela Caixa Econômica Federal, CCR Autoban, Caterpillar Brasil e McDonald`s. È autor do projeto gráfico do CD Amanhã do Trio Sá, Rodrix e Guarabyra. Editor do jornal Caricaras. Teve obras selecionadas para os salões de humor de Piracicaba e Paraguaçu Paulista. Premiado em Santos com a tira em quadrinhos denominada “Um Pamonha de Piracicaba”. Jurado de seleção de salões internacionais e universitários. Ministrou oficinas de humor gráfico para o SESC, Senac e Oficina Cultural do Estado de São Paulo. Publicou quadrinhos e textos de humor nas revistas Mad e Monet. Autor das tiras Dito, o Bendito. Compositor e interprete da “Canção do Mensalão” lançada no site My Space e no You Tube. Realizou exposição de caricaturas no projeto SESC Verão 2011 com caricaturas em tamanho natural dos notáveis Oscar e Magic Paula, Gustavo (Guga) Kuerten, João do Pulo, Robert Scheidt, Ayrton Senna, Maguila e outros. Tem caricaturas da MPB – Musica Popular Brasileira no livro “Noel é 100”, editado pela Imprensa Oficial do Rio de Janeiro. É um dos 40 caricaturistas brasileiros que tiveram suas obras selecionadas e publicadas em um livro. Foi convidado pelo jornalista João Carlos Rodrigues para realizar caricatura para a o livro sobre Johnny Alf, precursor da bossa nova, impressa pela Imprensa Oficial de São Paulo. Érico San Juan é artista gráfico, piracicabano, nasceu em 3 de janeiro de 1976, é um dos três filhos de Antonio Monteiro de San Juan, funcionário público municipal, e Maria José Gaspar de San Juan funcionária pública federal.
Seus primeiros estudos foram feitos onde?
Estudei no “Honorato Faustino” e no “Colégio Melo Ayres”. Sou radialista certificado pelo SENAC. Fiz cursos voltados à comunicação jornalística.
Em que período da sua vida você se descobriu como artista?
A lembrança que guardo dos meus primeiros “rabiscos” é de quando eu tinha seis anos, estava ainda no pré-primário. Era consumidor de revistas de Walt Disney, como o gibi do Tio Patinhas, Pato Donald, e passava a desenhar na mesa da cozinha da nossa casa, juntamente com o meu irmão Fábio, que também é artista gráfico.
Pode-se dizer que você e seu irmão formam uma “família de cartunistas”?
Pode-se dizer que em nossa cidade, essa atividade exercida como profissão é recente, o Salão de Humor foi um incentivador desde os anos 70. Tivemos o Edson Rontani, cuja persistência nessa atividade foi marcante seu inicio deu-se nos anos 50, a atividade de cartunista até hoje não existe como profissão.
Quais recursos materiais você utilizava em suas primeiras ilustrações?
Ainda criança usava o tradicional lápis de cor, atualmente com os recursos da informática tornou-se muito fácil a reprodução de desenhos em blogs. Eu fazia a reprodução dos desenhos como um legítimo gibi. Um dos meus primeiros gibis caseiros foi com a turma do Lup Lup. A origem é de uma revista Disney. Além dos gibis eu brincava com o meu irmão, era uma brincadeira que envolvia os personagens criados por mim, transportava para o mundo real.
Você colecionou muitos gibis?
Muitos! Infelizmente ao atingir a adolescência acabei descartando-os, como um desligamento da infância, própria da fase adolescente. Nós líamos a Coleção Vagalume, “O Cachorrinho Samba, de autoria da Sra. Leandro Dupret.
Desenhar é uma válvula de escape?
Essa é uma conclusão que só tiramos quando adultos. De uma forma geral o desenhista deixa de realizar atividades próprias da infância e adolescência, como por exemplo, jogar futebol ou outra brincadeira que envolva alguma atividade física para dedicar-se ao desenho. Isso não implica que só desenhe, ele pode praticar esportes, mas faz essas atividades de uma forma menos intensa..
Como seus pais viam a sua vocação para desenhar?
O interessante na criança é que ocupada em desenhar ela permanece quieta., os pais geralmente pesam: “-Que bom, meu filho está desenhando, deixa ele!” Em 1986 a Secretaria da Educação realizou um concurso de desenho, eu fiz um gibi contando a história do XV de Novembro de Piracicaba, baseado nas publicações realizadas pelo Rocha Neto. O meu irmão fez outro trabalho gráfico. Ganhamos o premio: um livro para cada um.
Qual é a diferença entre cartunista e chargista?
O cartunista faz cartun, que é relativo a um fato independente da época. O chargista utiliza o fato do momento, pode ser político, social. A charge dá margem para ser reflexiva. Há situações que ao serem abordadas requerem muito tato por parte do artista.
Os políticos têm espaço garantido em cartuns e charges?
O alvo pode ser o político e a política do dia a dia. Há chargistas que costumam abordar mais os aspectos sociais. Há artistas gráficos que fazem a chamada charge de gabinete, é aquelas que só são entendidas pelo circulo de relações do criticado.
Você foi fã do Edson Rontani?
Quando era criança, as referencias que eu tinha de desenhista piracicabano era do Edson Rontani, que publicava no caderno de “O Diário”, o “Diarinho”, no rodapé havia o “Você sabia?”
Quando você passou a fazer trabalhos por encomenda?
O embrião foram as revistas em quadrinhos que eu tinha criado, de forma espontânea, eu não pensava em fazer uma carreira, embora me dedicasse. Por gostar do que estava fazendo. Usava caneta esferográfica preta para desenhar, fiz uma tira de peixe, sem me tocar que na cidade havia um rio, acho que está no inconsciente, por um ano enviei material para ser publicado. Em 1989 Cecílio Elias Neto transformou a pagina infantil em um suplemento feito por crianças, uma idéia excelente, nesse ano o Salão de Humor fez uma oficina de histórias em quadrinhos com JAL e Gualberto, o GUAL, nessa oportunidade conheci Eduardo Grosso, atualmente diretor do salão de humor. Meu irmão e eu participamos dessa oficina do JAL e do GUAL, éramos muito jovens na época. Foi o primeiro espaço que encontramos, chegamos a fazer um gibi e um núcleo de quadrinhos, o gibi tinha esse nome. Núcleo de Quadrinhos de Piracicaba. Em 1990 passei a publicar as tiras do peixe no Jornal de Piracicaba. Certo dia eu fui até o balcão de anúncios do JP para publicar um anuncio quando a coordenadora do jornalzinho do suplemento infantil, Viviani Laurelli convidou-me para ser o ilustrador, eu tinha 15 anos! Os suplementos infantis eram á semelhança da Folhinha, caderno da Folha de São Paulo, feito por Mauricio de Souza, havia apenas um ilustrador para a publicação toda. Permaneci como funcionário do Jornal de Piracicaba de 1991 a 1997, continuei como colaborador remunerado até o ano passado.
Qual personagem criado por você que se mostrou popular nessa época?
Foi o Leco, que era um peixe.
Como seus colegas o viam nessa época?
Achavam-me o maio chato! Eu era muito tímido, travado. Embora a arte gráfica seja uma forma de expressão ela não trazia popularidade junto aos meus colegas de escola, é um fenômeno que ocorre com boa parte dos desenhistas, são pessoas introvertidas que canalizam para o trabalho. Os professores adoravam, incentivavam.
A sua formação em rádio se deu com a finalidade de se soltar?
Deu para destravar um pouco!
Todo cartunista é irônico?
Depende do cartunista, uns são mais outros menos.
O que é fanzine?
Edson Rontani é o autor do primeiro fanzine brasileiro, isso nos anos 60. É uma revista amadora de fã. Se você gosta do Batman, caso faça uma revista amadora sobre ele, dá suas impressões sobre o herói, troca impressões com outros fãs, é uma publicação feita por amadores sobre o objeto da paixão.
Uma das suas atividades atualmente é caricatura ao vivo, pode falar um pouco mais sobre ela?
Geralmente é feita em eventos, permaneço em uma mesa, em local apropriado e atendo a todas as pessoas que me procuram. Os participantes do evento são comunicados da presença de um desenhista á disposição, a pessoa senta-se a minha frente e eu desenvolvo a sua caricatura.
Grandes artistas do passado ao retratar alguém da nobreza eram induzidos a aperfeiçoar o perfil da pessoa retratada, sob o risco de sofrer pesadas penas se o resultado não agradasse plenamente, o cartunista sofre pressão nesse sentido?
A caricatura não obriga que o chamado alvo seja respeitado, o principio do processo é o exagero. Eu chamo a caricatura de “retrato bem humorado”. A ênfase dada ao exagero depende de cada artista, do seu temperamento. Os leigos acham que as caricaturas só podem ser feitas de pessoas com características muito evidentes, como orelha, nariz avantajados. Só que ao realizar uma sessão de caricaturas em um evento todas as pessoas que se apresentam têm que ser desenhadas, ocorre a necessidade de ter que achar as características que possam resultar em uma boa caricatura. Se a pessoa tem olhos expressivos, na caricatura sairá com os olhos arregalados. É muito importante sentir a razão pela qual a pessoa se dispôs a ser retratada.
Em quanto tempo você faz uma caricatura?
Faço rápido, em dois minutos, essa é uma das minhas características que os colegas ressaltam.
Em um evento, qual foi o maior números de pessoas que você retratou?
Em um evento sob o patrocínio da Autoban, versando sobre a segurança, em dois meses elaborei 1.200 caricaturas, o tempo em que permaneço no espaço da exposição gira em torno de quatro horas, por ser uma freqüência muito variável houve um dia em que devo ter realizado umas 100 caricaturas.
É possível realizar uma caricatura usando apenas a fotografia da pessoa?
Sim é possível, trata-se de um serviço mais elaborado.
Atualmente você tem realizado trabalhos para diversas cidades e até outros estados?
Fiz para um livro de cartuns referentes a telefone celular, feito por uma editora de São Caetano, é realizado por um jornalista que faz livros cooperativos, nele estão cartunistas de diversas regiões do Brasil. Em outro livro coloco Dito, o Bendito, um personagem que criei e por 10 anos esteve presente nas páginas de jornal de Piracicaba. Dito, O Bendito é um Zé Carioca sem o bico de papagaio, eu gostava do estereotipo do malandro carioca, criei o Dito baseado nisso, com o tempo ele virou um aposentado romântico. Ele é um velhinho saliente com um filho conservador. Por um ano fiz texto para a revista MAD.
Qual é a relação do humor com as instituições?
As instituições querem ser levadas a sério, a abordagem feita pelo humor se for mais ou menos ácida depende de quem faz esse humor.
A sua criatividade tem alguma origem definida?
Acredito que é importante não só a visão profissional, mas também a visão do mundo.

sábado, março 12, 2011

GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM, Vice-Reitor da UNIMEP

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 12 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: GUSTAVO JACQUES DIAS ALVIM, Vice-Reitor da UNIMEP.
O ensino ministrado por entidades metodistas trouxe enormes benefícios á Piracicaba, além do ensino básico foi criada uma universidade, a UNIMEP, fator decisivo para a implantação de importantes indústrias em Piracicaba, entre elas a Caterpillar. Após essa etapa a cidade teve um progresso vertiginoso proporcionando infra-estrutura para a vinda de novas e importantes indústrias com tecnologia de ponta. Profissionais formados pela UNIMEP contribuíram com a sustentação necessária ao desenvolvimento de Piracicaba. Um dos grandes nomes do ensino metodista, e que sempre realizou muito em benefício de Piracicaba é Gustavo Jacques Dias Alvim, natural de Vera Cruz, estado de São Paulo, filho de Candido de Faria Alvim e Nair Dias Alvim. Cidadão Piracicabano por decreto municipal, Dr. Gustavo é uma pessoa de personalidade marcante. Bacharel em sociologia pela Escola de Sociologia e Política, em 1959, em direito pela Universidade Mackenzie em 1962, em administração pela Universidade São Francisco, em 1975, em Jornalismo pela UNIMEP em 1988, diplomado em Publicidade e Propaganda em 1963 pela escola denominada atualmente de ESPM. Mestre em Filosofia da Educação pela UNIMEP em 1992, Doutor em Comunicação e Semiótica em 1998. Fez especialização em Administração Universitária no Instituto de Gestão e Liderança Universitária com sede no Canadá. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Piracicaba, presidente do XV de Novembro de Piracicaba, é membro do Rotary Clube Piracicaba, do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba, da Academia Piracicabana de Letras, da Academia Ferroviária de Letras (Rio de Janeiro). Recebeu a medalha Prudente de Moraes concedida pelo IHGP em 1993. Participou como dirigente do Panathlon Clube de Piracicaba, Sociedade Hípica de Piracicaba, Clube de Campo de Piracicaba, E.C. Rezende, Bela Vista Nauti Clube, Federação Paulista de Basquetebol, Lar dos Velhinhos de Piracicaba, Associação dos Amigos do Basquete de Piracicaba. Autor de dois livros: “Autonomia e Confessionalidade” e “O Diário, a saga de um jornal de causas”. Têm mais de 500 artigos publicados. O que fascina na trajetória de Gustavo Jacques Dias Alvim é a sua visão multidisciplinar. O seu intenso relacionamento profissional, com clubes de serviços e entidades sociais, institutos e academias culturais ou agremiações esportivas, são pautados pela nobreza de atitudes e claro discernimento de objetivos sempre em um dinamismo sereno e constante. Com isso ele acumulou uma vivência riquíssima em todos os setores da sociedade. Bom observador, extremamente organizado, coleciona amigos e um interminável número de fatos acontecidos, que com sua pedagogia se transformam em saborosas narrativas. Dr. Gustavo já atuou como vice-reitor da UNIMEP nas gestões de 1991 a 1994, 1995 a 1998 e de 1999 a 2002. De 2003 a 2006 foi o magnífico reitor da UNIMEP No próximo dia 16 deste mês, 4ª feira, às 19h, no teatro da UNIMEP, Gustavo Jacques Dias Alvim assume novamente a vice-reitoria, ocupando um cargo que oferece não só a pompa do mesmo, mas que exige muito do seu ocupante, principalmente em um momento em que o ensino em nosso país mostra ser o verdadeiro Calcanhar de Aquiles da nação.
Dr. Gustavo quais eram as atividades profissionais dos seus pais?
Meu pai era médico e a minha mãe professora primária, ela foi a minha primeira professora, quem me alfabetizou, um grande privilégio, inclusive porque a primeira professora a gente nunca esquece! Estudei no Grupo Escolar Castro Alves, em Vera Cruz. Quando terminei o primário surgiu um problema, Vera Cruz era uma cidade muito pequena, não havia o curso ginasial, uma opção seria viajar diariamente de trem á Marília, distante uns nove ou dez quilômetros. Meus pais julgaram que para uma criança de 10 a 11 onze anos não era uma situação apropriada. Nessa época a minha mãe já manifestava o desejo de vir morar em Piracicaba, meus avós maternos moravam aqui, assim como outros parentes. Meu avô era professor primário, foi diretor de grupo, seu nome era Benedito Cotrim Dias.
O senhor passou a estudar em que escola?
Vim para o internato do Colégio Piracicabano, que funcionava na Rua do Rosário, naquela região onde hoje é ocupada pelo Hotel Nacional e prédios ali existentes, uma vasta extensão de área circunvizinha era de propriedade do Colégio Piracicabano. O internato feminino funcionava na Rua D.Pedro II. No internato tínhamos a praça esportiva, piscina, quadra de basquete, campo de futebol. Na baixada do bairro está canalizado o Itapevinha, afluente do Itapeva. As aulas eram no prédio da Rua Boa Morte. Eu não conseguia entender porque tendo avós e tios morando em Piracicaba os meus pais haviam me matriculado no internato. No inicio reagia um pouco contra essa decisão. Meus pais disseram que “Avós e tios estragam os filhos dos outros”, preferiam que eu ficasse em internato. Permaneci interno por apenas um semestre. Em julho de 1948 meus pais mudaram para Piracicaba.
Como interno o senhor adquiriu muita disciplina?
Foi uma grande escola, depois os meus pais queriam me tirar do internato e eu não queria sair. Estava tão enturmado, tinha horário para tudo, para esportes, estudos, eu tinha que cuidar da própria roupa arrumava a minha cama. Fiz o Tiro de Guerra e assim como no internato acredito que ambos foram muito úteis em minha vida, bem como o período em que morei em pensão, na cidade de São Paulo. São situações que preparam o individuo para a vida, esse período longe da família serve para valorizá-la, dá uma nova visão.
Houve um período em que o senhor estudou em escola estadual?
Conclui o ginásio e o colégio no Sud Mennucci, minha família morava inicialmente em uma casa situada na Rua Treze de Maio entre a Rua Santo Antonio e Alferes, depois passamos a morar em uma casa na Rua Alferes entre a Rua Treze de Maio e a Rua Voluntários, em frente ao Grupo Escolar Moraes Barros. Um fato interessante é que no período em que eu estudava o Curso Científico no Sud Mennucci, iniciou-se o Curso Normal, com a finalidade de formar professores, as aulas eram dadas inclusive à noite. Passei a fazer esse curso também, assim estudava a tarde e a noite na Escola Sud Mennucci. Acabei por desistir do Curso Normal.
Qual foi a sua opção pela carreira profissional?
Eu tinha uma dúvida muito grande sobre qual carreira seguir. Alguns anos antes eu manifestei a vontade de fazer uma escola militar, propriamente o curso de aeronáutica, a aviação foi uma coisa que sempre gostei, por duas vezes iniciei o curso de pilotagem. Ainda criança eu tinha sofrido algum tipo de influência decorrente do clima militarista que havia no período após a Segunda Guerra Mundial, cheguei a optar em cursar o ITA, que é até hoje um dos melhores cursos de engenharia do Brasil, só que eu tinha um problema muito sério com a disciplina de química, havia um pouco de incompatibilidade da minha parte com a matéria. Nessa época fui convocado para servir o Tiro de Guerra na época situado na área denominada “Isolamento”, onde hoje há uma escola estadual na Rua São João, próximo a ESALQ havia uma plantação grande de eucalipto, fazíamos os exercícios de marcha pelo loteamento do bairro Jardim Europa, o estande de tiro era dentro da ESALQ nas proximidades do local onde hoje é o restaurante da escola. Tive uma forte inclinação para cursar Direito, mas tinha também alguns receios.
Quais receios?
Algumas pessoas passavam a idéia de que advocacia era uma atividade em que o bom advogado tinha que ferir alguns princípios éticos. É um conceito equivocado, mas existe, isso não é inerente a profissão e sim a própria pessoa. O fato de ser advogado não significa que será necessariamente um advogado antiético, você pode ser um advogado ético. Isso ocorre em qualquer profissão. No fundo eu desejava fazer direito para depois cursar diplomacia, no Instituto Rio Branco. Conversando com um diretor do Colégio Piracicabano, Norman Kerr Jorge, ele disse que havia uma escola muito boa, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, era uma fundação ligada a USP e que após concluir o curso eu poderia ingressar no Instituto Rio Branco onde era tido como pré-requisito ter feito um curso superior. Prestei o vestibular, entrei e passei a cursar, quando estava no terceiro ano prestei vestibular para Direito no Mackenzie e entrei. Cursei as duas faculdades. Na época freqüentava a ACM, Associação Cristã de Moços, onde jogava muito basquete. Sempre morei nas proximidades das escolas. Fui um dos primeiros estudantes a morar no prédio recém construído da ACM da Rua Nestor Pestana.
Na época o senhor já tinha carro próprio?
A minha loucura era ter uma lambreta, a muito custo consegui convencer a minha mãe a aceitar a idéia, e que ela fizesse um empréstimo na Caixa Econômica para dar a entrada na compra da lambreta. Logo percebi que os motoristas de ônibus da CMTC não respeitavam muito, vendi a lambreta e comprei um Ford 1934, mais velho do que eu! Era um azul tendendo para roxo, o marcador de gasolina era um cabo de vassoura que enfiava no tanque para ver o nível do combustível. Eu já trabalhava em São Paulo na revista Cruz de Malta com tiragem de 18.000 exemplares, ingressei como revisor e terminei como diretor,. Em 1959 prestei concurso para ingressar no Banco do Brasil, após aprovado passei a trabalhar das 13 horas ás 19 horas e continuava meus estudos na parte da manhã. Era uma vidinha puxada, tinha também que jogar basquete, namorar!
Quando o basquete entrou na sua vida?
Quando fui estudar no Sud Mennucci o professor de educação física Mané Bortolotti resolveu formar uma equipe nova do Grêmio Normalista e selecionou alguns meninos, eu era alto, jogava de pivô. Joguei basquete por muitos anos, com 1,83 metros de altura eu me destacava, atualmente um atleta de qualquer time amador tem mais de 1,90 metros. No basquete não é apenas a altura que influi, a envergadura conta muito. Atualmente ás terças-feiras e quintas-feiras eu participo de um “rachão” com os amigos.
Em que bairro de São Paulo ficava a agencia bancaria que o senhor trabalhou?
Era o Banco do Brasil situado na Lapa, escolhi ali por ser a saída para Piracicaba, o ônibus passava a 100 metros do banco. Com o tempo transferi-me para o Banco do Brasil de Piracicaba.
O senhor criou o sistema de consórcio para carros no Brasil?
Você deve ter ouvido falar que o consórcio foi criado dentro do Banco do Brasil, por funcionários, fui o primeiro gerente do que na época chamávamos de cooperativa. Com mais um ou dois colegas de banco criei o consórcio, sistema que mais tarde proliferou pelo país todo. Tenho a história toda de como ele ocorreu, como foi parar no mundo comercial. O primeiro grupo de consórcio tinha 21 participantes, chamava-se Cooperativa Lapa, a garantia de entrega do carro era dada através da entrega de uma nota promissória. O veículo consorciado era um Volkswagen. Quando os carros começaram a ser entregues ao consorciado, outras pessoas quiseram participar. O segundo consórcio que montamos chamava-se Laluz, era entre funcionários do Banco do Brasil da Lapa e da Luz. O automóvel consorciado era um Gordini. Quando vim á Piracicaba fiz um grupo dentro do Banco do Brasil, depois fui trabalhar no Dedini, fiz um grupo dentro da empresa. Conservo essa documentação até hoje nos meus arquivos.
A sua permanência no Banco do Brasil em São Paulo foi até que ano?
Foi até 1963, ano em que me casei, a minha esposa, Vera, morava no Rio de Janeiro, era nascida em Minas Gerais e nos conhecemos em Porto Alegre em 1956! Eu tinha um envolvimento com o trabalho da Igreja Metodista, fui líder da mocidade metodista da época, liderava uma região, tínhamos congressos regionais, nacionais, onde conhecia pessoas de outros lugares, eu já tinha conhecido irmãs da Vera em outro congresso em que ela não estava presente. Namoramos por seis anos, ela morando no Rio de Janeiro e eu em São Paulo. Trocávamos muitas cartas, que conservamos até hoje. Casamos na Igreja Metodista do Catete, em casamento religioso com validade no casamento civil, uma novidade da época. Eu consegui transferência para trabalhar na agencia do Banco do Brasil de Piracicaba, meu desejo era advogar. Ao chegar à cidade comentei com Jair de Toledo Veiga sobre a minha vontade de atuar na área, na época a cidade deveria ter duas dezenas de advogados. O Jair disse que o Dr. João Fleury estava procurando um advogado para trabalhar com ele, o Luiz Abrahão que tinha trabalhado com ele estava saindo para montar seu próprio escritório. Passei a trabalhar no Banco do Brasil do meio dia até as dezoito horas e de manhã trabalhava no escritório de advocacia. Por volta de 1964 pedi minha demissão do Banco do Brasil. Nessa época surgiu a primeira faculdade montada pelo Instituto Educacional Piracicabano, a Faculdade de Ciências Contábeis e Administração de Empresas, a famosa ECA. Era muito difícil encontrar professores de sociologia, pelo que eu saiba havia três pessoas habilitadas na cidade, eu era uma dessas pessoas. Fui convidado para lecionar, aceitei, assumi também a direção da faculdade, sendo o seu primeiro diretor.
A ECA iniciou-se em plena revolução de 1964?
A história da ECA é muito interessante, o primeiro vestibular dela foi a primeiro de abril de 1964. Havia duvida se deveria ou não se realizar o vestibular, os boatos diziam que os postos de gasolina estavam fechados. Tomamos uma decisão, se não faltasse nenhum dos 200 inscritos realizaríamos o vestibular. Não faltou ninguém. A prova foi realizada no salão nobre do Colégio Piracicabano. Começamos a faculdade com duas turmas de oitenta alunos. Por um determinado período de tempo eu ficava de manhã no escritório de advocacia, à tarde no Banco do Brasil e a noite na faculdade. Em 1966 foi constituída a segunda faculdade, a de pedagogia. Em 1970 foi organizada a terceira faculdade, da qual fui ser o seu diretor, a faculdade de direito. Em todas elas eu também lecionava sociologia.
Como se deu o seu ingresso na empresa Dedini?
Foi através do escritório do Dr. João Fleury que atendia grandes empresas de Piracicaba. Houve um momento em que o Sr. Mario Dedini quis que um advogado desse expediente por umas três horas diárias. Dr. João Fleury em função de uma série de compromissos pediu que eu o substituísse nessa atividade. Um dia o Sr. Mario me chamou e convidou-me para trabalhar em expediente integral. Em 1972 eu estava trabalhando na Dedini, realizando muitas viagens, acabei me afastando das faculdades, permaneci na Dedini até 1982, quando retornei as atividades acadêmicas na UNIMEP, exercendo as funções e atividades já citadas.
Haveria muito mais para contar. O papo com o entrevistado foi longo e agradável, porém, infelizmente, o espaço no jornal é limitado. Quem sabe, em outra oportunidade a gente continua. Parabéns, amigo Gustavo, Desejo-lhe feliz gestão.



REI MOMO E SUA CORTE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 05 de março de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: REI MOMO E SUA CORTE
Carnaval é uma celebração coletiva de alegria, e nesse quesito o brasileiro sai-se muito bem. A magia do nosso carnaval está na contribuição que cada raça formadora da nossa nação insere nesse festejo. O Rio de Janeiro profissionalizou o carnaval, é um dos produtos do pacote turístico da cidade maravilhosa. No início do século passado, São Paulo celebrizou os carnavais na Avenida Paulista, onde renomadas e abastadas famílias desfilavam com seus elegantes carros decorados a caráter. Com confetes, serpentinas e inocentes jatos de lança perfume animados foliões externavam sua alegria. Muitos estudiosos afirmam que o carnaval é uma catarse coletiva. Piracicaba nas décadas de 30, 40 já tinha seus cordões, que eram grupos de foliões com fantasias alusivas a um determinado tema. Na década de 60 surgiram as famosas gincanas, que formaram as escuderias, embrião das grandes apresentações carnavalescas nos anos seguintes. Foi um período de grande envolvimento da população piracicabana com o desfile de carnaval. Das pessoas mais humildes até grandes figurões da sociedade todos participavam ativamente do carnaval de rua. Artistas de renome nacional vinham especialmente para compor a comissão julgadora dos desfiles de carnaval. Os clubes sociais ferviam, o não sócio só podia entrar em um baile de carnaval se como convidado fosse apresentado por um sócio do clube e pagasse o convite, vendido a um preço nem um pouco simbólico. Os mais eloqüentes diziam que o carnaval de Piracicaba era o melhor do interior paulista! Piracicaba mudou muito, cresceu, industrializou, os meios de comunicações deram saltos gigantescos, internet e telefone celular são dois exemplos. A oportunidade de demonstração de alegria coletiva, nos dias de carnaval deixa de ser exclusividade de um pequeno grupo, passa a ser de uma nação com quase duzentos milhões de habitantes. Como manda a tradição, democraticamente foram eleitos o rei, a rainha e as princesas do carnaval de 2011. Atualmente há uma preocupação maior com a saúde, basta vermos as inúmeras academias de ginásticas, as praças onde batalhões de pessoas caminham diariamente, tudo para manter a boa forma. Alinhado a esse pensamento Piracicaba elegeu com 217 votos o Rei Momo Wilson José Berto, 40 anos, representante da escola de samba Estrela de Prata, um Rei Momo “light”! Ele pesa 85 quilos e mede 1,69 metros de altura. A fantástica figura dezenas de quilos acima do peso deu lugar a um saudável monarca, reflexos dos tempos de cirurgias bariátricas! Daniele Sampaio Ferreira, 17 anos, representante da Ekyperalta, foi eleita rainha, recebeu 310 votos dos jurados Foram eleitas princesas Jaqueline Noemi de Oliveira, 22 anos, da Estrela de Prata com 304 votos e Camila Vaz Rocha, 19 anos, da Caxangá com 294 votos. A eleição ocorreu na Associação dos Funcionários Públicos Municipais. Omir Lourenço, secretário Municipal de Turismo e toda a sua equipe, realizam com muito empenho todos os esforços para o grande brilho do carnaval piracicabano cuja programação inclui diversas manifestações como blocos de rua, cordões, escolas de samba, manifestações culturais, carnaval de marchinhas e trio elétrico.
Rei Momo Wilson José Berto, vossa majestade é natural de que cidade?
Nasci no dia 27 de fevereiro de 1970, no Bairro da Freguesia do Ó, em São Paulo, sou o filho mais velho dos sete filhos de Agenor Berto e Maria Benedita Alves. Resido no bairro Mário Dedini.
O que o trouxe á Piracicaba?
Vim á Piracicaba para assistir a um casamento, acabei gostando da cidade, conheci a moça que veio a se tornar a minha esposa e fixei residência aqui, vim de São Paulo para cá com 22 anos.
Qual era a sua atividade em São Paulo?
Era cobrador de ônibus! Fazia a linha do Jardim Guarani ao Largo do Paissandu, pela antiga CMTC- Companhia Municipal de Transportes Coletivos. Iniciava o trabalho ás quatros horas da manhã e trabalhava até as onze horas da manhã.
Naquela época já gostava de carnaval?
Gostava, participava da Rosas de Ouro, quem nasceu na Freguesia, Vila Penteado, é adepto da Rosas de Ouro.
Atualmente qual é sua atividade profissional?
Trabalho na área de segurança.
Tem filhos?
Sou pai de quatro filhos, um de dezenove anos, um de dezessete, um de 14 e outra de 12. A minha esposa é professora, gosta também de carnaval, ela é Vice-Presidente da Estrela de Prata.
Como se deu o seu ingresso no carnaval piracicabano?
Na época em que o desfile era realizado na Avenida São Paulo eu ia para assistir, prestigiar. Comecei a participar do carnaval pela Imperador, desfilei por dois anos pela Caxangá, sai como destaque, fui um dos fundadores da Estela de Prata.
A decisão de participar do concurso para Rei Momo do carnaval de 2011 aconteceu como?
Quem me inscreveu para o concurso de Rei Momo foi a minha esposa, ela me avisou na semana em que iria ocorrer o concurso, argumentei: “-Vou fazer o quê lá? Olha o meu físico!” Ela respondeu: “-Não tem mais essas coisas do passado, de Rei Momo ter que ser gordo!”. Cheguei a pensar em desistir de participar do concurso, mas graças a sua persistência resolvi participar, sem nenhuma esperança de ganhar. Éramos quatro candidatos, sendo que eu era o menor e o mais magro.
O que é necessário para ser um bom Rei Momo?
Além de sambar, saber se comunicar, a simpatia é muito importante. Em minha opinião de todos os requisitos o mais importante é a simpatia. Para agüentar o pique dessas meninas (rainha e princesas) é muito difícil se for obeso.
Para dar uma “aquecida” antes do desfile existe o mito de ingerir algum tipo de bebida alcoólica?
Na companhia da minha família nas festas de natal e ano novo celebro com um copo de vinho, fora essas ocasiões eu não faço a ingestão de nenhuma bebida alcoólica. Nem uso tabaco. Sou apreciador de uma boa lasanha!
Quais são os compromissos assumidos pelo Rei Momo, a Rainha do Carnaval e as Princesas?
Temos visitado os clubes, escolas, faculdades, órgãos de imprensa.
Qual é a reação do público com relação as majestades do samba?
Na tarde de sábado dia 26 de fevereiro participamos do desfile da Banda da Sapucaia, com aproximadamente 20 mil foliões, tivemos uma calorosa acolhida por parte do público presente. Foi muito gratificante.
Rainha Daniele Sampaio Ferreira em que localidade vossa alteza nasceu?
Nasci em Piracicaba, no dia 24 de novembro de 1993, sou filha de Eliana Sampaio e Dermival Luiz Ferreira, tenho duas irmãs uma com 10 e outra com 14 anos. Moro no bairro Alvorada.
Você exerce qual atividade Daniele?
Estudo no Colégio Sud Mennucci. Sou modelo, fui dançarina de grupos de axé, bandas, meu grupo chamava-se “Alta Quebrança”, já dancei por três anos e meio.
Como foi o seu contato com os desfiles de carnaval?
É uma coisa de família, meu tio Rogério Constantino é mestre sala da Caxangá, minha tia Ivania Sampaio já foi porta bandeira, minha mãe Eliana Sampaio já saiu na Ekyperalta. Posso dizer que está no sangue, não tenho como negar a atração pelo carnaval. Desde muito pequena já convivo com o samba, o ano passado realizei o meu primeiro desfile pela escola.
Princesa Jaqueline Noemi de Oliveira é natural de que cidade?
Sou nascida em Piracicaba no dia 29 de janeiro de 1989 meus pais são Ângela Maria Barbosa de Oliveira e Paulo José de Oliveira, sou a mais nova dos cinco filhos do casal. Moro no bairro Mario Dedini.
Qual é a sua atividade profissional?
Sou modelo e tenho meu salão de beleza.
Como foi o seu ingresso no meio carnavalesco?
Entrei no samba meio por acaso! Foi em 2009, quando houve o concurso para escolher rainha e princesas do carnaval, que eu me lembre foi a primeira vez que estava dando premio em dinheiro ás ganhadoras. Minha irmã Miriam me incentivou a participar só que eu não sabia sambar á altura do que era exigido. Passei a treinar, treinei muito em minha casa. Minha irmã tinha um CD do carnaval realizado em 2007, tocava o dia todo o CD no volume máximo, e sambava muito. Os vizinhos tiveram muita paciência comigo. Minha mãe sempre me apoiou muito em tudo que fiz. O meu pai já é mais reservado.
Princesa Camila Vaz Rocha nasceu em que cidade?
Nasci em Piracicaba no dia 17 de janeiro de 1992, sou filha de José Roberto Rocha e Clóris Tereza Vaz Rocha. Moro no centro.
Você exerce qual atividade?
Estudo, eu faço cursinho no Colégio Dom Bosco da Cidade Alta, meu objetivo é cursar Ciência de Alimentos na ESALQ – Escola Superior Luiz de Queiroz.
Como você passou a participar do concurso de carnaval?
Em 2010 fui eleita a Primeira Princesa do Clube Cristovão Colombo.
Omir Lourenço, secretário Municipal de Turismo, como está sendo o trabalho realizado neste carnaval?
É um trabalho grande que está sendo desenvolvido pela secretaria, pelas escolas de samba que tem como presidente o Odivaldo Daragone. Nossa intenção é de iniciar um processo de resgate do carnaval de Piracicaba, vários fatores estão colaborando para que seja um bom carnaval. Teremos cinco dias de carnaval: sexta, sábado, domingo segunda e terça. Sexta e terça a Ação Cultural fará o famoso carnaval da marchinha no Largo dos Pescadores. Sábado e segunda a partir das 19 horas teremos o Trio Elétrico na avenida com arquibancada. O foco principal será no domingo, onde teremos cinco escolas se apresentando. Teremos uma programação paralela ás cinco noites de carnaval, são eventos realizados em diversos horários, durante o dia, em vários pontos turísticos de Piracicaba.
Há uma preocupação por parte da Setur em resgatar os célebres carnavais piracicabanos?
Considero o carnaval uma questão cultural, social, para as comunidades o carnaval não se resume apenas nos dias de carnaval, são feitos eventos no correr do ano todo. O prefeito Barjas Negri disponibilizou os próprios públicos para os eventos dessas comunidades realizados durante o ano: feijoadas, chopadas, tudo visando arrecadar fundos para conseguir realizar um bom carnaval. Os R$ 25.000,00 da subvenção não são suficientes, foi criada uma premiação de R$ 6.000,00; R$ 4.000,00 e R$ 3.000,00 para os vencedores, além da subvenção. Foi criada uma premiação de R$ 1.000, 00 para Rei Momo e para a Rainha; R$ 600,00 para as princesas. Temos um compromisso juntamente com as escolas de fazermos as entradas das mesmas dentro do horário pré-estabelecido, em respeito ao público presente. Se fizermos um bom desfiles teremos condições de além do patrocínio oficial buscarmos o apoio de empresas privadas.
É um carnaval para ser assistido pelas famílias?
Contamos com a colaboração e participação de todas as instituições de saúde e segurança pública que atuam em nossa cidade. Além dos eventos noturnos há uma série de atividades durante o dia, voltadas à todas as faixas etárias e culturais.
Há algum projeto de sambódromo em Piracicaba?
Temos que mostrar serviço para poder exigir! Há três anos que venho trabalhando para que as escolas não regularizadas assim o façam. As ditas exigências por parte da nossa secretaria na realidade são requisitos legais, que serão encaminhados ao Tribunal de Contas. Essas escolas que estão desfilando estão com suas declarações de utilidade pública em ordem.
A participação do folião tem sua origem em quais camadas sociais?
Em sua maioria são de origem nas comunidades, a partir do ano passado tenho percebido que está sendo despertado o interesse e a participação de diversos segmentos da sociedade, elementos de clubes tidos como de elite estarão participando.
Com a implantação de uma fábrica de veículos em Piracicaba deverão chegar pessoas de outros países, nosso carnaval estará preparado para recebê-las?
(Risos) Está muito precoce, a fábrica está vindo ainda, a nossa proposta á eles será de colocar o tema: “Tem coreano no samba!”. Nós temos que assimilar a cultura deles, mas eles devem assimilar em proporção maior a nossa cultura. Tivemos vários segmentos da nossa sociedade desfilando, inclusive o pessoal de Santa Olímpia. Na terça feira nós teremos em um dos eventos paralelos o “Carnaval da Cucagna”, das 10 da manhã até as 18 horas. É um evento muito peculiar e turístico, realizado no bairro rural Santa Olímpia. São culturas diferentes que acabam se adaptando. Acho importante que se preserve a cultura que chega até nós, contribuindo para um equilíbrio com a nossa cultura. Acredito que dentro de uns dois anos isso deverá acontecer com os coreanos que passem a residir em Piracicaba.
Há uma previsão da quantidade de pessoas que estarão presentes aos eventos?
Por amostragem dos anos anteriores devemos ultrapassar 70.000 pessoas, inclusive turistas de outros países. O potencial turístico de Piracicaba é muito grande, estamos implantando gradativamente diversos projetos, dentro do nosso orçamento.

MARLY THEREZINHA GERMANO PERECIN

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 26 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARLY THEREZINHA GERMANO PERECIN
A Profa. Dra. Marly Therezinha Germano Perecin e a Profa. Valdiza Caprânico formaram uma das mais felizes parcerias em um empreendimento de fôlego e quem vai ganhar muito com isso é Piracicaba. Em uma iniciativa pioneira, passaram a catalogar símbolos próprios da nossa cidade e discorrer sobre eles, de uma forma objetiva e sintética, bem ao gosto do leitor da nossa época. Contaram com a participação de Thiago Guerreiro, um jovem artista plástico que realizou as belíssimas ilustrações. A obra é composta por 10 volumes e foi lançada na quinta feira, dia 24 na Biblioteca Publica Municipal, em cerimônia marcante contando com grande afluxo de pessoas, incluindo expoentes da intelectualidade piracicabana. A Profa.Valdiza concedeu entrevista á Tribuna Piracicabana no lançamento desse projeto, a profa. Marly discorre sobre aspectos envolvidos nessa obra, agora que parte dela está concluída. Dra. Marly é autora entre outras obras de: “A Síntese Urbana”, que recebeu o Premio Clio de História pela Academia Paulistana de História; “Candeias em Espelho D`Àgua”, Prêmio Especial de Melhor Texto Paradidático sobre a Revolução Liberal de 1842; “Ypié (Maria dos Anjos); “O Instituto Baronesa de Rezende”; “Os Passos do Saber”. Pelo lado materno descende de antiga família de tropeiros de Jundiaí; pelo lado paterno de velho tronco ituano, a família Germano é originária de 1827, junto a barranca do Rio Piracicaba, pelo casamento de Mariana Dias com o lionês Jean Germain (João Germano de França).
Dra. Marly a senhora é natural de qual cidade?
Meus pais começaram suas carreiras na região araraquarense, eu nasci em Taquaritinga a 6 de novembro de 1936, meu pai era piracicabano da gema, o seu desejo era retornar a Piracicaba, como funcionários públicos, de remoção a remoção acabaram voltando a Piracicaba, quatro anos após o meu nascimento. Meu pai ao retornar, disse uma frase: “-Minha filha, tiramos as rodinhas da mobília!” Estudei em Piracicaba até ingressar no curso de História na PUC – Pontifícia Universidade de Campinas.
Viajava todos os dias?
Morei lá certo tempo, após me casar viajava todos os dias. Em Campinas morei no famoso Pensionato das Irmãs de São José, na Rua Culto á Ciência, era reservado ás meninas que tinham o melhor aproveitamento escolar na faculdade, a seleção era feita desde o exame vestibular. Nós éramos o xodó da Madre Ruth. O fundador da Universidade Monsenhor Emilio José Salim zelava pelo pensionato, assim como o Cardeal Agnelo Rossi, um santo homem, estava sempre presente, ele foi meu professor, tive a oportunidade de encontrá-lo em Roma já como Cardeal e posteriormente em uma visita que fez ao Lar dos Velhinhos de Piracicaba. O Bispo Castanho foi outra presença religiosa muito marcante.
A senhora em algum momento almejou seguir a carreira religiosa?
Nunca! Tenho uma tendência mística, mas que não se afina com nenhuma das confissões religiosas. Estudei religião católica, meus pais eram espíritas, morei em colégio de freira, meu marido era protestante. Nunca consegui ter três coisas: partido político, confissão religiosa e doutrina filosófica. Sou muito céptica!
A senhora é céptica, mas tem elementos de expressivo cunho religioso em seu ambiente de trabalho!
São símbolos muito fortes, como a Bandeira do Divino! Ela é cultural na minha família, a minha tetravó, bisavó, avó, eram devotas do Divino! Sempre participaram com o sal e a carne do Divino. Esse culto na família do meu pai é muito antigo. As novas gerações cresceram e passaram a achar que a Festa do Divino era coisa de somenos importância, como eu sou a ultima neta da família Germano, esse legado acabou ficando para mim, afeiçoei-me muito com essa antiga tradição, cultivo folcloricamente, socialmente, culturalmente a Festa do Divino e tenho uma fé com uma das pessoas das pessoas da Santíssima Trindade, o Consolador Prometido por Jesus. Na minha singularidade isso desempenha uma idéia-força muito importante. Oro na minha intimidade e oro socialmente. Gosto muito de orar!
A senhora tem elos fortes com a Escola Sud Mennucci.
Lá eu fui tudo, fui aluna, sai formada como professora, voltei, dei aulas, desempenhei outras funções na escola e lá permaneci até me aposentar.em 1995.
Algumas pessoas afirmam que Piracicaba em seu início era a “terra do degredo”. Qual é a sua opinião?
Essa historia do degredo é uma expressão muito usada entre os primeiros tempos da expansão povoadora no oeste paulista. Quem eram os degredados de Portugal? Geralmente os injustiçados, os cristãos novos, nem todos eram criminosos embora fossem perseguidos pela justiça por inveja, malquerença, comportamento, dinheiro, acusava-se de judeu e confiscavam-se os bens. Há casos que ocorreram em São Paulo. A história do degredo já vem de Portugal, os degredados eram enviados aos povoados distantes, para iniciarem a ocupação do local. Isso era muito comum. Diz-se que para Piracicaba vieram indivíduos de ínfima plebe, índios vadios, isso está no documento do capitão-mor Vicente Taques da Costa. A sociedade da época era dividida em três classes: clero, nobreza e povo. O povo tinha as suas gradações, individuo de ínfima plebe era o ultimo degrau da pobreza. A raspa do tacho. Onde se incluíam bêbados, arruaceiros, prostitutas e as que não eram tão prostitutas, mas as ditas mulheres do fado, mulheres de má vida. As bruxas. Essa gente toda era banida para populações distantes. Os índios vadios não eram vagabundos, eles não estavam com ocupação definida, eram os índios preados, que ficavam em campos de concentração, as aldeias indígenas ao redor de São Paulo, Barueri é uma delas, assim como Itapevi, Pinheiros. Esses índios eram depositados nessas aldeias. Administrados. Esses são os tais índios vadios trazidos pelo Capitão Antonio Correia Barbosa para Piracicaba. Pequenos agricultores, artesãos também foram convencidos a vir. Piracicaba teve uma vanguarda que era o Forte de Iguatemi, outra colônia povoadora. Para lá foi a chamada ralé da ralé, padres apóstrofos, frades amaldiçoados, bruxas, muitas prostitutas, desertores, bandidos. Iguatemi se agüentou por 10 anos, quando a fortaleza foi tomada pelos espanhóis. Ali é chamado de “cemitério dos paulistas”, a maleita ceifava centenas de vidas. Era um processo de “limpeza” e ocupação. Quando trato do assunto em “Águas do Adeus” significava que quem descia pelo Rio Tiete para Iguatemi não voltava mais. Após a conquista de Iguatemi pelos espanhóis, por dois anos havia gente voltando á Porto Feliz.
Qual era o tempo de duração dessa volta?
Correndo tudo bem quatro meses. Mais da metade ficava sepultada pelo caminho. Ao chegar a Porto Feliz, havia uma ordem, os soldados eram considerados culpados pela derrota, eram presos. Muitos soldados que voltavam com a família ao invés de ir a Porto Feliz tomavam o caminho para Piracicaba, sabiam que o Capitão Antonio Correia Barbosa acolhia essa gente.
Qual era o perfil do Capitão Antonio Correia Barbosa?
Admirável sob todos os pontos de vista! Era um bom construtor de barcos, sua origem é de família pobre, era inteligente, ambicioso. Quando para o Real Serviço foram convocadas pessoas do Terceiro Estado, da sessão dos pobres, ele foi indicado pelo Capitão Dias de Almeida, armador das monções para o Baixo Tiete. Quando uma pessoa desempenhava funções ás suas próprias custas, e que fizesse parte do plano real, como fundar povoações, fazer expedição de desbravamento, fundar uma cidade mais extrema, essa pessoa inteligente, ambiciosa, e com posses entrava para o Real Serviço. Se o seu desempenho desse certo ele acabava ganhando um título de nobreza, como por exemplo, “capitão” e angariava pensões do governo. Todos os paulistas eram sertanistas, iam ao mato procurar riquezas.
Por qual motivo fala-se mal de Antonio Correia Barbosa?
Ele entrou em conflito com o padre! O padre queria os dízimos para a sobrevivência da igreja. Houve três padres com os quais ele se indispôs. Os rendimentos de Piracicaba eram muito pequenos. Houve o conflito entre o poder temporal e o clero. Isso é multimilenar na história da civilização ocidental. A produção de canoas que era a riqueza de Piracicaba deveria ser usada para o desenvolvimento de Piracicaba. O governo da capitania quando viu que era uma riqueza apropriou-se dela. O Barbosa ficou vitima dos capitalistas de Porto Feliz e Itu. Ele foi obrigado a fazer o povoamento do Tietê, fato que só se consumou no século XX, com as cidades que vão até Itapura. Imagine onde Barbosa poderia obter recursos para fundar cidades do Baixo e do Médio Tietê? As despesas que o Barbosa teve que enfrentar implodiu o projeto de Piracicaba.
A tão decantada história da mudança de padroeiro de Piracicaba como se deu?
O capitão general Dom Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, Morgado de Mateus, era uma pessoa de difícil trato, usava e abusava do poder que detinha, foi um dos piores tiranos da história de São Paulo. Seu sucessor provou que as povoações fundadas pelo Morgado não passava de um pau fincado em uma praça com meia dúzia de choças. Esse homem foi o autor da desgraça de Iguatemi. Foi o algoz dos paulistas. Algumas das povoações que ele mandou fundar deram certo, como a de Lages, em Santa Catarina, ou Guaratuba, Itapetininga, elas estavam situadas em pontos estratégicos da estrada para o sul. Ele implodiu o projeto de desenvolvimento de Piracicaba pela sua ganância ao dinheiro das embarcações. Motivo pelo qual Barbosa saiu de Piracicaba com a roupa do corpo, indo abrir uma sesmaria para o lado de Mogi - Mirim. Seus filhos foram herdeiros das terras á margem direita do Rio Piracicaba que posteriormente foram adquiridas pelo Barão de Rezende. O capitão general manda nas suas tropas e é autoridade civil, o bispo manda na igreja e é autoridade religiosa, quem decide quem será o orago (santo padroeiro) de uma igreja é o bispo. Não importava que o capitão general desejasse que fosse Nossa Senhora dos Prazeres, que ele dizia ser sua madrinha. O bispo quis, declarou, ordenou e assinou o documento: será Santo Antonio! A igreja foi inaugurada com o orago Santo Antonio. Nunca tivemos Nossa Senhora dos Prazeres no altar da igrejinha de Piracicaba! A história de que jogaram a santa no rio não passa de uma balela. É uma lenda! Por isso estamos escrevendo e publicando essa coletânea, para tirar duvidas!
Piracicaba recebeu o cognome de Ateneu ou Atenas Paulista?
O intelectual italiano, Roberto Capri foi quem denominou Piracicaba de Ateneu Paulista. Em visita a nossa cidade ele viu que aqui havia muitas escolas, um fenômeno para a época, proporcionalmente tínhamos mais escolas do que Campinas e Santos, na época as maiores cidades do estado. Eram tantas escolas que ele chamou Piracicaba de “Ateneu Paulista”. Ateneu é o local onde os intelectuais se reúnem centro de intelectuais, ele jamais poderia falar que aqui era Atenas, pois Atenas é a pátria da democracia e aqui era a terra dos coronéis!
Com relação a Casa do Povoador?
Nunca foi e nem poderia ser! Barbosa fundou Piracicaba na margem direita, a chamada Casa do Povoador está na margem esquerda. Caso ele se mudasse para a margem esquerda perderia a posse das terras da margem direita, ele era posseiro, uma vez que a cidade mudou-se de lugar e ele foi a Itu comprar a esquerda, encontrei a escritura dessa compra em Itu. Mesmo ele saindo de Piracicaba as terras da margem direita continuaram de sua propriedade. A construção existente, a chamada Casa do Povoador, é do inicio do século XIX, com alguns recursos arquitetônicos do século XVIII, como a construção com taipa de mão. Aquela não é uma habitação residencial, é apenas um sobradinho, com duas janelas de frente com vista para a corredeira Itaipava do Vai-e-Vem. Era provavelmente a Casa da Ponte, onde o vigia fiscalizava a ponte e cobrava os pedágios. Não podemos dizer se foi da primeira ponte construída em 1823, ou se foi de outras duas pontes posteriores construídas entre 1824 e 1827. O primeiro construtor de ponte ali foi o meu tetravô Manuel Dias Ribeiro.
O que é esse trabalho que está sendo apresentado á Piracicaba?
É uma coletânea de 10 volumes sobre os ícones piracicabanos. Qual é a árvore símbolo de Piracicaba? É o tamboril, justamente a árvore com que Barbosa construiu a sua frota de barcos. Qual é o peixe símbolo do Rio Piracicaba? É o dourado! O animal símbolo de Piracicaba? Ai vai outro desmancha mitos, o Rio Piracicaba se chama Piracicaba na nossa região, antes ele tem outro nome, ele se chama Jaguari, mineiro que atravessa todo o Estado de São Paulo. O que é jaguari? Jaguary com “Y” significa rio, o rio do jaguar, o animal de grande porte, furor da selva, era o jaguar, a onça pintada! E porque Piracicaba? Por causa da sua própria geografia, quando qualquer criança diz: “Piracicaba é o lugar onde o peixe para!” Por que ela diz isso? Por que tem um salto? E como se fala salto? Piracicaba é o salto! A região de Piracicaba é a região do salto, que deu nome a uma vasta região. Piracicaba significa lugar onde cai o rio, o peixe para porque ali tem um salto.
Um dos volumes da coletânea é sobre o XV de Novembro, a senhora é quinzista?
Na minha família todos nascem de camiseta! Pedi ao meu pai que me levasse a um jogo do XV, eu precisava ver como era isso, era uma religião! Na época os espectadores iam de terno, chapéu e gravata. Assisti De Sordi jogando.
Outros ícones piracicabanos tratados nessa coletânea?
A fruta símbolo é a pitanga, a flor símbolo é a orquídea, o parque Beira Rio. São 10 volumes: “O meu amigo Tamboril”, “O Diário de uma Onça Pintada”, “O Show do Rio”. “A Festa do Divino”, “ O XV ÃO”, “Vôos de Liberdade”, “Doces Sabores de Nossa Terra”, “Piracicaba Cheia de Flores”, “O Parque da Beira Rio”, “O Rio de Piracicaba”, e um complemento pedagógico, o caça-palavras referente aos temas abordados..

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

MARIA CECILIA GRANER FESSEL E JOSÉ VICENTE POUSA FESSEL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 19 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADOS: MARIA CECILIA GRANER FESSEL E JOSÉ VICENTE POUSA FESSEL
Karl Graner, nascido em Thüringen em 1812, chegou ao Brasil em setembro de 1853. Um dos seus filhos, Heinrich Berthold Graner, que nasceu na Prússia e veio para o Brasil com os pais aos 10 anos, casou-se com uma imigrante suiça, Marianne Obriest Meyer, é o primeiro casamento registrado na Câmara Municipal de Piracicaba, uma vez que por questões religiosas não foi registrado na igreja católica, como de costume. Maria Cecília Graner Fessel é trineta de Heinrich Berthold Graner, nasceu em Piracicaba no dia 22 de junho de 1942. José Vicente Pousa Fessel nasceu em São Pedro em 14 de setembro de 1941. Ambos são primos, o pai de José Vicente é irmão da mãe de Maria Cecília. As brincadeiras e os folguedos de infância já tinham aproximado os primos, as tranças da menina Cecília eram o alvo predileto para o garoto José puxar e sair correndo. Por longos anos conviveram no ambiente familiar, e só se deram conta do amor que os envolvia quando a jovem Maria Cecília foi estudar em São José do Rio Preto. Com a concordância da Igreja Católica casaram-se na Catedral de Santo Antonio, em Piracicaba. Pais de dois filhos muito saudáveis: Paulo Afonso e Vitor, já são avós. Cecília foi professora na rede estadual de ensino, onde conquistou respeito e admiração de todos que a conheceram, por levar conhecimento técnico e científico, mas, sobretudo por exercer com extrema competência o papel de educadora. José Vicente por muitos anos foi professor na Faculdade de Direito da UNIMEP, tendo a satisfação de ver muitos de seus ex- alunos ocupando altos cargos no Brasil afora. Ainda criança Cecília foi assídua freqüentadora dos Cines Broadway e São José, o seu pai Max Graner era o gerente desses dois cinemas. Maria Cecília é acadêmica da Academia de Letras, Ciências e Artes da Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo, é integrante do Grupo Oficina Literária de Piracicaba – GOLP, do Centro Literário de Piracicaba – CLIP. Sua irmã Nilda protagonizou uma das passagens que agora revelada ao grande público passa a ser parte do folclore piracicabano. Dotada de bela voz, Nilda era escolhida para interpretar a Verônica na procissão da Semana Santa. O canto fúnebre sempre foi um dos pontos altos da procissão, mas em determinado ano Nilda interpretou de uma forma tão expressiva que a multidão passou a chorar de forma compulsiva. O seu canto tocou fundo o coração daquelas pessoas, era um profundo lamento. Estranhamente algumas de suas amigas mais próximas, seguravam o riso em ocasião tão solene. Elas sabiam que boa parte daquele lamento de Nilda vinha de um amargo diálogo com o namorado! Era mesmo dor de paixão!
Onde a sua família morava quando a senhora nasceu?
Morávamos na Rua Prudente de Moraes, nas imediações da Igreja São Benedito, meu pai Max Graner por formação era contador, ele gostava de ler, era uma pessoa muito culta, foi gerente dos cines Broadway e São José por volta de 1946 a 1958. A minha mãe Otília Fessel Graner era de prendas domésticas. Tenho ascendência germânica por parte de meus pais. Além de Fessel e Graner a família Keller faz parte da nossa ascendência.
José Vicente qual é o nome dos seus pais?
Sou filho de Antonio Augusto Fessel e Albertina Fessel, meu pai era dentista na cidade de São Pedro e a minha mãe professora. Na época não era muito fácil ser filho de pai que era dentista, os recursos técnicos existentes não privilegiavam o tratamento absolutamente indolor, exigia certo grau de tolerância á dor por parte do paciente o que contribuía para que o tratamento dentário fosse motivo de ojeriza. A casa existe até hoje, fica na Rua Veríssimo Prado, a um quarteirão da igreja matriz. A minha mãe foi minha professora no Grupo Escolar Gustavo Teixeira. A ida de trem de Piracicaba á São Pedro demorava duas horas e meia de viagem. Com a idade de 10 a 11 anos eu vim para Piracicaba, permaneci hospedado por uns seis meses na casa dos meus tios, pais da Cecília. Logo depois a minha família mudou-se á Piracicaba, nessa época meu pai continuou trabalhando em São Pedro, como dentista, quando ele veio á Piracicaba já estava aposentado.
Vocês estudaram em que escolas?
Estudamos no Grupo Escolar Moraes Barros e no Instituto Sud Mennucci onde fizemos o Curso Científico na mesma época, mas nunca na mesma sala de aula.
A senhora era uma boa aluna?
Eu era aluna muito dedicada, estava geralmente com a melhor nota da turma, inclusive ingressei na faculdade classificada em primeiro lugar. Nessa época o José Vicente ainda não se dedicava tanto como eu nos estudos.
José Vicente, quais foram as suas atividades profissionais?
Trabalhei com Luiz Guidotti na sua indústria de refrigeração, situada á Rua Cristiano Cleophat, como técnico em contabilidade trabalhei na Helssa (Hellmeister e Sbrissa), fábrica de cadeiras. Quando me casei a Cecília disse: “-A minha família não admite gente sem diploma, você vai estudar!”. Fiz o curso de técnico em contabilidade, na Vila Rezende ao lado da Igreja Matriz da Vila Rezende, havia alguma ligação com a igreja, o prédio existe até hoje. Era popularmente chamada de “Escola do Carequinha”, não sei dizer exatamente o porquê era assim denominada. A Angelina Aquino era a diretora. Após concluir o curso, a minha esposa me apertou para entrar na faculdade. Ela sempre foi durona! Fiz o vestibular e para “desgosto” da Cecília passei em primeiro lugar! Iniciei o curso quando a Faculdade de Direito era no centro, conclui na primeira turma formada no Campus Taquaral. O reitor Richard Edward Senn a principio iria construir o campus da UNIMEP onde hoje se situa o Shopping Piracicaba, na ocasião houve a permuta pelo espaço onde está atualmente a UNIMEP, na Rodovia do Açúcar. Por 22 anos lecionei na UNIMEP. Fui professor na faculdade Anhanguera em Jundiaí, na UNIP de Campinas. Realizei-me sendo professor, valeu a pena.
Como advogado o senhor atuava em que área?
Atuei na área cível e na trabalhista. O advogado tem que estudar muito, eu achava que sabia tudo, quando resolvi fazer o mestrado vi que não sabia nada.
Há excesso de advogados no mercado?
Faz tempo que esse mercado está inflacionado e a tendência é de aumentar o número de profissionais. Quando fiz o curso em nossa região havia a UNIMEP e a PUC de Campinas, hoje muitas cidades vizinhas dispõem de cursos de direito. Havia faculdade com até oito classes de alunos no primeiro ano de direito, cada uma com 80 alunos. Atualmente deve haver mais escolas e mais alunos de direito.
Quais requisitos são necessários a um bom advogado?
(Pausa). Tem muita coisa! Em primeiro lugar, e isso deve haver em qualquer profissão, é a educação. Não confunda educação com instrução. A educação é adquirida ainda na própria família, a noção de que você é membro de uma comunidade, pertence a uma sociedade com regras que devem ser seguidas. O profissional deve ter conhecimento, isso sim se consegue através de estudo. A prática da profissão é essencial ao bacharel, ao sair da faculdade ele é carente de conhecimentos básicos da pratica da profissão.
A morosidade do andamento dos processos ocorre principalmente em função do que?
Ocorre principalmente porque o Poder Legislativo cria um grande número de leis que atrapalham a vida do cidadão. O Poder Legislativo não se preocupa em criar leis que sejam de interesse á população como um todo. Cada código de processo que aparece é mais uma possibilidade de recurso para aquele que perdeu o processo e não quer pagar a conta. A começar do próprio governo.
É um subterfúgio?
É um “sub todas as coisas”! Dona Cecília tem um dinheiro para receber do Governo do Estado que foi condenado pelo Poder Judiciário a pagar, não paga! Há um ano e meio a imprensa trouxe a notícia de que a “Lei do Calote” tinha sido aprovada pelo Congresso Nacional! O governo comprou a Companhia Paulista de Estrada de Ferro, só que até hoje não pagou! O precatório está lá! (Ordem da Justiça para que o agente público, Prefeitura, Governo Estadual ou Federal pague uma ação judicial que foi perdida). Chegou-se ao cumulo de um oficial de cartório civil, em Piracicaba, dizer que determinada lei que oferecia a gratuidade de registro do primeiro filho, naquele cartório “não pegou”!
Qual é a opinião do senhor com relação à grande quantidade de leis existentes?
Somos nós que escolhemos quem irá nos representar no Congresso Nacional!
Professora Cecília, como anda o nosso ensino?
Após a Revolução de 1964, tivemos um período de greves no ensino, na época em que Paulo Maluf foi governador. Depois ocorreu um período de euforia e liberdade, sob o meu ponto de vista e também de muitos professores com quem convivi houve uma liberalização excessiva, a tal ponto que o aluno passou a ser mais importante do que o professor, a palavra do aluno e a do professor passaram a ter o mesmo peso diante do diretor da escola. O professor perdeu o seu crédito! Isso foi fruto do período da Revolução. Depois piorou, o governo passou a baixar decretos que influíam diretamente na quantidade de alunos que o professor poderia reprovar. O diretor da escola era pressionado a atingir uma cota de aprovação de alunos.
Qual era o objetivo disso?
Aprovar o maior número de alunos possível!
Com qual finalidade?
Promover a ignorância! Para não haver contestação do que o governo fazia na época. Com a história de aprovar por decreto não permitia que se reprovasse o aluno. Lembro-me de uns rapazes, alunos do terceiro ano colegial que tinham banda, nunca vinham à aula, apareciam uma vez por mês, iam porque os pais obrigavam a irem, no final do ano ao fazerem as provas era evidente que não sabiam nada, deixávamos para a recuperação, após fazerem a recuperação continuavam não sabendo nada, o diretor da escola chamava cada professor e perguntava: “-A senhora tem certeza de que esse aluno deve ser reprovado? Ele não atingiu o mínimo possível para ser aprovado?”. Eu dizia: “Tenho vergonha de aprovar esse aluno! Ele não sabe nada, além de ser uma vergonha para mim é desrespeito para com os outros que se esforçaram para serem aprovados!”.
Isso não ocorre apenas no ensino publico. Já sofri esse tipo de pressão em uma escola particular. Esse tipo de coisa não pode existir na educação! A escola deve ser um lugar onde se transmite valores morais, sociais, cívicos. Atualmente isso não acontece.
Ao concluir o curso científico a senhora foi estudar onde?
Eu gostaria de ter feito o curso de medicina, infelizmente isso não foi possível. Eu tinha um irmão que morava em São José do Rio Preto, onde havia uma faculdade que oferecia diversos cursos, entre eles o de biologia, era a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto onde me formei em 1964.
Após a formatura onde a senhora passou a trabalhar?
Vim lecionar no Jorge Coury, em Piracicaba, o diretor era Arlindo Rufatto. Eu já tinha dado aula em um cursinho preparatório para ingressar na faculdade, dei aulas em uma escola de freiras, quando estava no ultimo ano da faculdade passei a dar aulas em uma escola estadual. Quando vim á Piracicaba já tinha alguma experiência com alunos. Lecionei na época em que entre outros estavam os professores: Conceição, Luizinho, Flordelis, Persão, Clemência. Seu Arlindo me respeitava muito porque sabia que eu mantinha a disciplina e ensinava. A escola Jorge Coury funcionava no prédio ao lado da Igreja dos Frades, na Rua Alferes. Em determinado dia Seu Arlindo anunciou que ganharíamos um prédio novo, onde haveria dois laboratórios sendo um de biologia e outro de física e química. Ele disse-me que eu deveria ir até o prédio e determinar como o laboratório deveria ser instalado. Fui até lá e indiquei onde deveriam ser colocadas as torneiras, Bico de Bunsen, e demais instalações. Ele me pediu uma relação de todos os materiais necessários para as aulas de laboratório. Fiz essa relação, quando o laboratório ficou pronto Seu Arlindo disse que aquele material iria ser comprado devagar. Acabamos comprando microscópios, vidraria. Seu Arlindo abriu as portas e deu dinheiro! A família do Dr. Jorge Coury também ajudava a escola, Dr. Raul Coury sempre foi muito atencioso com as necessidades da escola. Seu Arlindo Rufatto sempre me apoiou muito, e sempre confiou no meu trabalho. Teve uma ocasião em que alguma coisa foi feita errada e eu fiquei sem receber, meu salário não veio, isso no começo de vida me deixou apavorada, falei com Seu Arlindo, ele verificou e disse ter sido foi um engano da secretaria, pediu desculpas e pagou do próprio bolso, para quando viesse o salário eu devolvesse. A Clemência Pizzigatti agitava bastante no sentido de promover eventos, realizamos as exposições chamadas EMDA, Exposição de Material Didático de Alunos, juntamente com o professor Luizinho de geografia.
A senhora promovia viagens de cunho didático aos seus alunos?
Sempre gostei muito de proporcionar essas oportunidades aos meus alunos, no Jorge Coury fiz duas ou três excursões em conjunto com professores de outras áreas como a professora de história, a Eutimia, fomos visitar museu em São Paulo, o Planetário, quando lecionei no colégio Mello Moraes, fiz um curso onde se falou muito na Ilha do Cardoso, que era um centro de pesquisas, fiz uma visita com uma turma de professores, achei tão maravilhoso que decidi levar meus alunos. Lá tem o mar, o costão onde há certos tipos de animais, com a vegetação de duna, depois vem a vegetação intermediária, a seguir uma área com uma espécie de serradinho, em seguida vem a Mata Atlântica. É um local muito interessante para mostrar os tipos de vegetações ao longo da topografia local. Permanecíamos por três dias realizando estudos no local.
A senhora aposentou-se em que ano?
Foi em 1990.
Em que ano vocês se casaram?
Foi em 3 de janeiro de 1968, na Igreja Catedral, celebrado pelo Padre Carreta, que tinha batizado o José Vicente. Ele veio de São Pedro para celebrar o nosso casamento, o pároco da catedral concelebrou. O Maestro Ernest Mahle executou as músicas ao órgão.
A lua de mel foi onde?
Foi em Curitiba, viajamos com um carro DKW, ano de fabricação 1959, foi uma viagem muito tranqüila, não furou um pneu!
O senhor toca algum instrumento?
Recentemente fiquei sabendo que fui o primeiro aluno de flauta da Escola de Música de Piracicaba, iniciei os estudos quando tinha 14 anos, o Maestro Mahle foi o meu professor. Tanto eu como a minha esposa gostamos muito de música clássica. Cantei em alguns corais, sou baixo.
O senhor gostava de algum esporte?
Até os meus 14 anos não podia se falar de futebol na minha casa. Os meus tios, Otílio e João Pousa, irmãos da minha mãe, são fundadores do XV de Novembro. O mais velho dos irmãos, o Joaquim, não jogava, mas ia assistir às partidas trajando como de habito na época, paletó, gravata. No calor da partida foi dito algo ofensivo á um dos meus tios que jogava, o Joaquim tomou as dores, e do elegante traje pouco sobrou. Com isso futebol passou a ser visto como desgraça na família da minha mãe. Meus tios não deixaram de participar dos jogos do XV de Novembro. A minha avó materna foi residir na casa dos meus pais, com isso futebol era tabu. Aos 14 anos meu tio Joaquim voltou a morar em Piracicaba e passou a me levar aos jogos do XV. Freqüentei muito o campo da Rua Regente Feijó. Era muito gostoso estar ao lado do Professor Benedito de Andrade torcendo pelo XV de Novembro. Canarinho era goleiro, Pepino o beque, Biguá. De Sordi jogava no São Paulo, Mazzola jogava no Palmeiras.
Professora Cecília, a senhora tem algum livro publicado?
Tenho livros escritos, mas não publicados. Há um pronto sobre Maria Cecília Bonachella, com apresentação de Miriam Botelho, há alguma possibilidade de ser publicado. (No dia seguinte a entrevista chega a noticia de que o livro “Os pequenos Caminhos de Maria Cecília Bonachella” de Maria Cecília Graner Fessel,irá ser publicado com apoio do FAC, Fundo de Apoio a Cultura). Estou escrevendo o livro “Enredamentos”, titulo dado pelo meu marido, José Vicente. Nesse livro abordo o aspecto que mostra que não vivemos sozinhos no mundo, a gente se enreda com as pessoas. Tudo isso influi na nossa vida. Quantas pessoas passaram pela minha vida, deixaram algo para mim, assim como devo ter contribuído com alguma coisa para elas. Muitas vezes não vi mais a pessoa, mas ela participou da minha formação. Escrevo poesia daquilo que me toca como, por exemplo, versos de cunho social. Já fiz versos sobre os nordestinos, o resgate dos mineiros, os pescadores do Rio Piracicaba, cortadores de cana. Escrevo tendo como tema a natureza, os males que o homem provoca nela.

domingo, fevereiro 13, 2011

NAOKI (PEDRO) KAWAI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 03 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: NAOKI (PEDRO) KAWAI
Naoki Kawai, conhecido como Pedro Kawai ou Pedro Fuji, é muito popular entre os piracicabanos. Pelas suas atividades profissionais, por suas atuações em entidades assistenciais. Foi eleito vereador, mas não pode assumir o cargo, os meandros da legislação eleitoral vigente na época não computaram os votos de Pedro Kawai como sendo de Naoki Kawai, nome que constava em seu registro de candidato. Isso não o deteve em sua trajetória de trabalho em benefício aqueles que necessitam de ajuda humanitária. Católico devoto uniu a sabedoria oriental com os ensinamentos cristãos. Já trabalhou na roça, foi fotógrafo de centenas de noivos, como técnico de laboratório fotográfico vivenciou a época em que as famílias dirigiam-se até o estúdio para serem fotografadas, e em branco e preto. Por muitos anos guardou como souvenir uma multa lavrada por um guarda rodoviário, tinha atingido a absurda velocidade de 140 quilômetros por hora em seu preparadíssimo Gordini! Coisa da juventude! Casou-se em 28 de fevereiro de 1970 com Inês Terezinha Furlani Kawai, tiveram os filhos: Pedro Motoitiro Kawai, Cássia Kishino Kawai e.David.Naoki Kawai. Com uma extensa folha de serviços sociais prestados á comunidade piracicabana, entre as atividades exercidas foi presidente do Clube Nipo Brasileiro por 16 anos.
Naoki Kawai como surgiu o nome Pedro Kawai?
A igreja católica não realizava o batismo com o nome japonês Naoki, o padre disse que iria batizar como Pedro pelo fato de ter nascido no dia 29 de junho, dia em que se comemora o santo, isso foi em 1944. Sou natural de Rancharia, Estado de São Paulo, o nome do meu pai é Motoitiro Kawai e da minha mãe Kishino Kawai, naturais de Okayama, Japão, chegaram ao Brasil na década de 20. Desembarcaram em Santos, de lá vieram á São Paulo, na Hospedaria dos Imigrantes e em seguida fora para a lavoura de café na Fazenda São Martinho, em Araçatuba. Meu pai foi integrante da guarda imperial japonesa, uma unidade de elite que exigia dos seus componentes o comportamento impecável das suas cinco gerações anteriores.
O choque cultural foi muito violento assim que seus pais chegaram ao Brasil?
Minha mãe contava que tanto ela como o meu pai tinham estudos superiores (faculdades), imagine o que significou ter que pegar um cabo de enxada! O choque foi muito grande para eles, ela com 23 a 24 anos e ele com 27 a 28, eram casados e já tinham uma filha.
Por quantos anos eles permaneceram na fazenda de café?
Foram de 3 a 4 anos, quando saíram e mudaram para Rancharia, onde adquiriram 40 alqueires de terras e passaram a plantar algodão.
Quantos filhos eles tiveram?
Somos no total 12 irmãos. Com seis anos de idade fui para a escola em Rancharia, embora a nossa vida fosse difícil os meus pais tinham em mente que a educação dos filhos era prioritária. Em 1959 meu pai faleceu, em 1963 mudamos para Piracicaba.
Como foi escolhida Piracicaba para a família morar?
O meu irmão mais velho, o Paulo, já estava em Piracicaba, o meu cunhado Nicolau Nakagawa era fotografo, foi dono da City Foto, localizada na Rua Moraes Barros. Nossa família adquiriu uma casa situada na Rua Benjamin Constant, próxima a Rua São Francisco de Assis, aonde mais tarde veio a funcionar a Foto Fuji.
Você já era fotógrafo?
Não atuava como profissional, mas conhecia o assunto. Trabalhei mais no estúdio, não fazia muitas reportagens externas. Estávamos em quatro irmãos trabalhando na empresa, o Paulo, Jorge, eu e o Kenji. O irmão mais novo era metalúrgico!
A Foto Fuji por muitos anos foi uma grande força da fotografia em Piracicaba. Era uma das melhores da cidade?
Sem falsa modéstia foi muito representativa em toda a nossa região. Tivemos a felicidade de fazer um contrato de exclusividade com a Fuji do Brasil e passamos a ser representantes exclusivos da marca na região. Todo produto Fuji comercializado em um perímetro determinado, envolvendo diversas cidades próximas, resultava em uma participação percentual a título de comissão. Logo depois que montamos a Foto Fuji passamos a adquirir cada vez mais filmes fotográficos, até que começamos a adquirir da própria fábrica, via distribuidora. A Fuji Film vendo o sucesso do nosso trabalho ofereceu a distribuição regional.
Que tipos de fotos eram a Foto Fuji fazia?
Antigamente eram feitas muitas fotos em estúdio, de casamento inclusive. Em um sábado do mês de maio de um determinado ano fotografei 50 casais. Minha mãe ficava no andar térreo coordenando e eu ficava no estúdio no andar superior. Eram tiradas cinco a seis fotos por casal, em preto e branco. O que mais me chateava é que às vezes saia o noivo ou a noiva de olhos fechados! Isso só se sabia após a foto ser revelada! Tirávamos muitas fotografias 3x4, fazíamos reportagens fotográficas, com 8 a 10 fotógrafos dedicados á elas como o Paulo, Jorge, Kenji, João Boaretto, Esneder Penatti, Leonel Menegatti.
Como eram essas reportagens?
São fotografias externas, realizadas em igrejas, casamentos, fatos, eventos. Cheguei a trabalhar com a Polícia Técnica na época do perito Homero Anéfalos.
Essas fotos de crimes e acidentes impressionavam?
Bastante! Eu tinha um amigo que cursava faculdade em São Carlos, quase todas as sextas feiras nos reuniam no Jequibá para bater papo e tomar uma cervejinha. Uma noite fui fazer a cobertura de um acidente no pontilhão da estrada de Iracemápolis, um dos envolvidos teve a cabeça desfigurada. Voltei ao laboratório, revelei o filme e me atentei para a pessoa da foto, era o meu amigo de sexta feira. Quando tive a confirmação me senti muito mal.
Você fotografou bailes de carnaval em clubes?
Nós tínhamos a exclusividade das fotos dos bailes de carnaval do Clube Ítalo Brasileiro.
Iam famílias para tirar fotografias?
Muitas famílias iam tirar fotos de todos os integrantes reunidos, isso no estúdio, era um costume da época.
Após um período na Foto Fuji qual foi sua próxima atividade?
Por um ano e meio trabalhei na feira livre, comercializando legumes, se você quiser conhecer uma cidade e seus habitantes o trabalho na feira é revelador, a cada dia você está em um canto diferente da cidade.
Você praticava algum esporte nessa época?
Às segundas, quartas e sextas eu treinava judô com os três irmãos Mubaraki na academia deles, situada em cima do Cine Politeama, foi lá que conheci o Jô Antonelli, hoje Sétimo Dan, grande mestre.
Você gostava de ir a bailes?
Freqüentava bailes em todos os clubes de Piracicaba, um dos mais animados era no Clube Treze de Maio. Como fotógrafo eu encontrei sempre as portas dos clubes abertas e fui muito bem recebido em todos eles.
Qual foi o primeiro veículo que você adquiriu?
Foi um caminhão Fargo, ano 1946, verde, “queixo-duro” (veículos sem direção hidráulica), eu comprei para trabalhar na feira. Tive uma Rural Willys, depois cada um dos irmãos tinha um Gordini. Quando eu me casei a lua de mel viajamos em um Gordini. Fui levar a minha irmã até Marília, na volta eu tomei uma multa por excesso de velocidade, 140 quilômetros por hora com o Gordini! Guardei essa multa por muitos anos. Era um Gordini com tala larga nas rodas traseiras, fios e velas importadas. Tive dois ou três Ford Landau, e um Alfa Romeo TI. Eu gostava muito de carro, hoje não ligo mais!
A Foto Fuji existiu por quantos anos?
A empresa encerrou as suas atividades por volta de 1993. Eu permaneci de 1963 a 1973 ano em que deixei a sociedade, minha intenção era mudar para Curitiba. A Foto Fuji tinha uma máquina muito avançada para fazer revelações de filmes de amadores. Era quase tudo automatizado, colocava-se o negativo, apertava-se o teclado e a maquina processava o filme. No Brasil só existiam sete máquinas dessas, a Foto Fuji tinha uma delas. Uma empresa de Curitiba necessitava de um técnico para operar essa máquina, fui convidado a ir trabalhar naquela cidade. O meu sogro Davi Furlani que era proprietário da Vidraçaria Santa Terezinha, convenceu-me a trabalhar com ele. Mais tarde montei a minha empresa, a Vidraçaria Fuji, na Rua do Rosário, esquina com a Avenida Dr. João Conceição, onde é hoje a Paulitintas.
Quando se deu o seu ingresso no Clube Nipo Brasileiro?
Logo que cheguei a Piracicaba, em 1963 filiei-me ao Clube Cultural e Recreativo Nipo Brasileiro de Piracicaba, o presidente na época era Oscar Nishimura, proprietário do Restaurante Alvorada.
Era um clube restrito a comunidade japonesa?
Era fechadíssimo, era composto por japoneses ou descendentes. Atualmente temos diretores que não são nem descentes de japoneses, como o vice-prefeito Dr. Sérgio Pacheco, há também o Rudinei Ribeiro.
Qual o critério para ser admitido como sócio do Clube Nipo Brasileiro?
Deve ser uma pessoa de boa conduta, bom cidadão e que deseje participar das atividades do clube. Temos atividades esportivas com pessoas da terceira idade, como o basebol que é muito praticado pela comunidade É famoso também o karaokê, assim como as aulas de japonês. A sede do clube fica na Avenida do Café, 611, ela foi construída pela comunidade japonesa, tendo à frente Oscar Nishimura, a família Takaki, e outros. No ano 2000 adquirimos dois alqueires de terras no Bairro Pau D`Alhinho onde temos um campo de basebol com a infra-estrutura necessária.
Entre as suas atividades filantrópicas você pode citar algumas?
Fui presidente da Casa do Bom Menino por 12 anos, vice-presidente e fundador da APAC juntamente com Carlos Cantarelli e Ariovaldo Pizzinato. Participei do Centro de Obras Sociais de Piracicaba e o trabalho que é desenvolvido na Igreja dos Frades, junto ao Cursilho.
O que o motiva a participar dessas entidades?
Pela minha óptica o homem vem á Terra para ser útil, não só para si, mas para todos que o rodeiam. Isso está escrito na Bíblia Sagrada: “Tive fome e deste-me alimento; tive sede e destes-me o que beber”; “Estive preso e me visitaste” Acredito que é uma obrigação do ser humano ser útil ao próximo. O fato de termos sido concebidos, o processo de fecundação do óvulo pelo único espermatozóide em milhões, determina que seja um vencedor dentro do maravilhoso processo da criação. Nascermos é um feito heróico! Por qual razão estamos nesse mundo? Para que?
A busca insana pelo sucesso leva o ser humano a que parte?
No meu conceito, quando chegar o momento da minha partida eu estou pronto! Tenho a plena convicção de que fiz o que deveria ter sido feito na hora correta. Todos os dias ao me levantar eu agradeço a Deus, coloco um objetivo para ser alcançado pelo meu trabalho. Há dias que logo no período da manhã atingi a meta a que me propus, em termos financeiros, esse é um objetivo que todo homem tem que ter. A partir do momento que realizei meu objetivo pessoal passo a me dedicar á filantropia, o que eu necessitava Deus já proveu para mim, resta que eu faça pelo meu semelhante. .
Esse raciocínio não é muito comum encontrarmos em outras pessoas!
Eu sou assim! Senão a gente não faz! Eu divido, não levo serviço para casa.
Pedro, você é bom cozinheiro?
Sem falsa modéstia, sei fazer uma boa feijoada assim como macarronada! Também sei fazer galinhada!
Você já participou de política?
A pedido do Bispo Dom Aniger, fui candidato á vereador sendo que o registro era em meu nome civil, Naoki Kawai, quem recebeu uma estrondosa votação foi Pedro Fuji! O nome como eu era conhecido na cidade! Pedro Fuji foi eleito, Naoki Kawai não! Na administração do prefeito João Hermann Neto, o Storel era presidente do Centro de Obras Sociais de Piracicaba, eu era vice-presidente, fui com um motorista buscar uma Belina que o governo estadual doou ao Centro de Obras Sociais, havia uma fila de representantes de outras cidades que foram receber os respectivos veículos. O Governador Paulo Maluf ia a cada representante para oficializar a entrega do veículo. Ao chegar junto a mim me apresentei: “Naoki Kawai, Piracicaba!”. Uns 90 dias depois fui novamente á São Paulo buscar uma Kombi que foi doada pelo governo á Casa do Bom Menino. Havia uma enorme fila de pessoas que foram receber doações. O Governador Paulo Maluf veio de um em um, observei se alguém sussurrava algo em seu ouvido, não vi nada, ao chegar junto a mim Paulo Maluf disse: “- Naoki Kawai, de Piracicaba o senhor está bom?”. A partir daquele momento passei a admirar Paulo Maluf! Eu tinha o famoso número do telefone vermelho de Paulo Maluf, em situações de muita necessidade era só ligar naquele número, caso não atendesse na hora ele ligava depois.
Quando você conheceu o Cursilho?
Foi de 14 a 17 de abril de 1973, permaneci por quatro dias no Seminário Diocesano, um acontecimento que marcou uma nova etapa na minha vida. Foi um encontro comigo mesmo! O cursilho me fez parar, olhar para o meu interior, analisar aspectos importantes da minha existência, assim tomei um novo rumo em minha vida. A pessoa que sofreu algum problema sério de saúde ela muda sua forma de viver. Ele percebe como é frágil.
Você se relaciona com pessoas muito influentes?
Mantenho contato com pessoas que ocupam cargos importantes, diretores de instituições, políticos, empresários, industriais. Em determinada época eu presidia a Casa do Bom Menino, tínhamos 22 funcionários, havia um déficit muito grande, Eu chamei a TV Campinas que fez uma matéria com a Casa do Bom Menino, expondo a situação falimentar da mesma, a reportagem foi parar no gabinete do governador do Estado! Consegui que o Vice Governador José Maria Marins trouxesse á Piracicaba, para a Casa do Bom Menino, um valor que cobria as nossas necessidades e ainda dava uma grande folga de caixa.
Como surgiu a idéia de criar a APAC?
Reuníamos todas as quinta feiras na Igreja São Dimas, de 10 a 12 casais, eram cursilhistas, o jornal estampou um pedido do Dr. Washington, delegado de policia que tinha vindo de São José dos Campos, solicitava a apresentação de voluntários para visitar os presos. O Cantarelli se interessou e me convidou para conhecer melhor o assunto. Fomos até a cadeia, entramos no pátio, os presos fizeram muitas perguntas á nós. Expusemos qual era a nossa intenção: evangelizar, falar de Deus, escutar as queixas deles. Alguns eram pessoas conhecidas na cidade. Trouxemos ao nosso grupo as impressões do que vimos lá, entre outras pessoas tomavam parte desse grupo Sérgio Maluf, Waldemar Brunelli, Silvio Ferraz, Ariovaldo, Antonio Benedito. Íamos á cadeia as segundas, quartas e sextas, às seis horas da tarde, permanecíamos por uns quarenta minutos mais ou menos.
Qual era o maior desejo dos detentos?
Queriam que nós visitássemos as suas famílias para levar noticias sobre elas.
Como esse trabalho refletia nos presos?
A cela quatro detinha os presos de maior periculosidade, no inicio fomos vistos com certas reservas, após uns seis ou sete meses um deles me chamou e me entregou de uma forma muito discreta, um estilete comprido o suficientemente grande para atravessar o corpo de um homem. Ele disse-me:
“- Agora tenho uma arma maior do que essa. É Deus!” Tive que fazer o possível para sair com aquele artefato sem que ninguém percebesse, poderia agravar a situação do preso.
Qual era o maior problema que você via nas celas?
A convivência na mesma cela de presos com diferentes graus de periculosidade, quem tinha cometido um delito leve estava junto a alguém que havia cometido um grave delito. Essa mistura era péssima.
O que os levava a criminalidade?
Se tivessem uma assistência como a que era oferecida na Casa do Bom Menino, com uma infância e adolescência, estruturada, bem cuidada, com educação, possivelmente não iriam cometer delitos.
A própria sociedade descuida da formação?
A formação é fundamental, é mais difícil recuperar do que formar. A APAC recuperou muitos detentos.
Qual é o seu maior sonho atualmente?
Ver a minha neta casada! Ela hoje tem apenas oito anos! (Muitos risos).

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