domingo, fevereiro 13, 2011

NAOKI (PEDRO) KAWAI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 03 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: NAOKI (PEDRO) KAWAI
Naoki Kawai, conhecido como Pedro Kawai ou Pedro Fuji, é muito popular entre os piracicabanos. Pelas suas atividades profissionais, por suas atuações em entidades assistenciais. Foi eleito vereador, mas não pode assumir o cargo, os meandros da legislação eleitoral vigente na época não computaram os votos de Pedro Kawai como sendo de Naoki Kawai, nome que constava em seu registro de candidato. Isso não o deteve em sua trajetória de trabalho em benefício aqueles que necessitam de ajuda humanitária. Católico devoto uniu a sabedoria oriental com os ensinamentos cristãos. Já trabalhou na roça, foi fotógrafo de centenas de noivos, como técnico de laboratório fotográfico vivenciou a época em que as famílias dirigiam-se até o estúdio para serem fotografadas, e em branco e preto. Por muitos anos guardou como souvenir uma multa lavrada por um guarda rodoviário, tinha atingido a absurda velocidade de 140 quilômetros por hora em seu preparadíssimo Gordini! Coisa da juventude! Casou-se em 28 de fevereiro de 1970 com Inês Terezinha Furlani Kawai, tiveram os filhos: Pedro Motoitiro Kawai, Cássia Kishino Kawai e.David.Naoki Kawai. Com uma extensa folha de serviços sociais prestados á comunidade piracicabana, entre as atividades exercidas foi presidente do Clube Nipo Brasileiro por 16 anos.
Naoki Kawai como surgiu o nome Pedro Kawai?
A igreja católica não realizava o batismo com o nome japonês Naoki, o padre disse que iria batizar como Pedro pelo fato de ter nascido no dia 29 de junho, dia em que se comemora o santo, isso foi em 1944. Sou natural de Rancharia, Estado de São Paulo, o nome do meu pai é Motoitiro Kawai e da minha mãe Kishino Kawai, naturais de Okayama, Japão, chegaram ao Brasil na década de 20. Desembarcaram em Santos, de lá vieram á São Paulo, na Hospedaria dos Imigrantes e em seguida fora para a lavoura de café na Fazenda São Martinho, em Araçatuba. Meu pai foi integrante da guarda imperial japonesa, uma unidade de elite que exigia dos seus componentes o comportamento impecável das suas cinco gerações anteriores.
O choque cultural foi muito violento assim que seus pais chegaram ao Brasil?
Minha mãe contava que tanto ela como o meu pai tinham estudos superiores (faculdades), imagine o que significou ter que pegar um cabo de enxada! O choque foi muito grande para eles, ela com 23 a 24 anos e ele com 27 a 28, eram casados e já tinham uma filha.
Por quantos anos eles permaneceram na fazenda de café?
Foram de 3 a 4 anos, quando saíram e mudaram para Rancharia, onde adquiriram 40 alqueires de terras e passaram a plantar algodão.
Quantos filhos eles tiveram?
Somos no total 12 irmãos. Com seis anos de idade fui para a escola em Rancharia, embora a nossa vida fosse difícil os meus pais tinham em mente que a educação dos filhos era prioritária. Em 1959 meu pai faleceu, em 1963 mudamos para Piracicaba.
Como foi escolhida Piracicaba para a família morar?
O meu irmão mais velho, o Paulo, já estava em Piracicaba, o meu cunhado Nicolau Nakagawa era fotografo, foi dono da City Foto, localizada na Rua Moraes Barros. Nossa família adquiriu uma casa situada na Rua Benjamin Constant, próxima a Rua São Francisco de Assis, aonde mais tarde veio a funcionar a Foto Fuji.
Você já era fotógrafo?
Não atuava como profissional, mas conhecia o assunto. Trabalhei mais no estúdio, não fazia muitas reportagens externas. Estávamos em quatro irmãos trabalhando na empresa, o Paulo, Jorge, eu e o Kenji. O irmão mais novo era metalúrgico!
A Foto Fuji por muitos anos foi uma grande força da fotografia em Piracicaba. Era uma das melhores da cidade?
Sem falsa modéstia foi muito representativa em toda a nossa região. Tivemos a felicidade de fazer um contrato de exclusividade com a Fuji do Brasil e passamos a ser representantes exclusivos da marca na região. Todo produto Fuji comercializado em um perímetro determinado, envolvendo diversas cidades próximas, resultava em uma participação percentual a título de comissão. Logo depois que montamos a Foto Fuji passamos a adquirir cada vez mais filmes fotográficos, até que começamos a adquirir da própria fábrica, via distribuidora. A Fuji Film vendo o sucesso do nosso trabalho ofereceu a distribuição regional.
Que tipos de fotos eram a Foto Fuji fazia?
Antigamente eram feitas muitas fotos em estúdio, de casamento inclusive. Em um sábado do mês de maio de um determinado ano fotografei 50 casais. Minha mãe ficava no andar térreo coordenando e eu ficava no estúdio no andar superior. Eram tiradas cinco a seis fotos por casal, em preto e branco. O que mais me chateava é que às vezes saia o noivo ou a noiva de olhos fechados! Isso só se sabia após a foto ser revelada! Tirávamos muitas fotografias 3x4, fazíamos reportagens fotográficas, com 8 a 10 fotógrafos dedicados á elas como o Paulo, Jorge, Kenji, João Boaretto, Esneder Penatti, Leonel Menegatti.
Como eram essas reportagens?
São fotografias externas, realizadas em igrejas, casamentos, fatos, eventos. Cheguei a trabalhar com a Polícia Técnica na época do perito Homero Anéfalos.
Essas fotos de crimes e acidentes impressionavam?
Bastante! Eu tinha um amigo que cursava faculdade em São Carlos, quase todas as sextas feiras nos reuniam no Jequibá para bater papo e tomar uma cervejinha. Uma noite fui fazer a cobertura de um acidente no pontilhão da estrada de Iracemápolis, um dos envolvidos teve a cabeça desfigurada. Voltei ao laboratório, revelei o filme e me atentei para a pessoa da foto, era o meu amigo de sexta feira. Quando tive a confirmação me senti muito mal.
Você fotografou bailes de carnaval em clubes?
Nós tínhamos a exclusividade das fotos dos bailes de carnaval do Clube Ítalo Brasileiro.
Iam famílias para tirar fotografias?
Muitas famílias iam tirar fotos de todos os integrantes reunidos, isso no estúdio, era um costume da época.
Após um período na Foto Fuji qual foi sua próxima atividade?
Por um ano e meio trabalhei na feira livre, comercializando legumes, se você quiser conhecer uma cidade e seus habitantes o trabalho na feira é revelador, a cada dia você está em um canto diferente da cidade.
Você praticava algum esporte nessa época?
Às segundas, quartas e sextas eu treinava judô com os três irmãos Mubaraki na academia deles, situada em cima do Cine Politeama, foi lá que conheci o Jô Antonelli, hoje Sétimo Dan, grande mestre.
Você gostava de ir a bailes?
Freqüentava bailes em todos os clubes de Piracicaba, um dos mais animados era no Clube Treze de Maio. Como fotógrafo eu encontrei sempre as portas dos clubes abertas e fui muito bem recebido em todos eles.
Qual foi o primeiro veículo que você adquiriu?
Foi um caminhão Fargo, ano 1946, verde, “queixo-duro” (veículos sem direção hidráulica), eu comprei para trabalhar na feira. Tive uma Rural Willys, depois cada um dos irmãos tinha um Gordini. Quando eu me casei a lua de mel viajamos em um Gordini. Fui levar a minha irmã até Marília, na volta eu tomei uma multa por excesso de velocidade, 140 quilômetros por hora com o Gordini! Guardei essa multa por muitos anos. Era um Gordini com tala larga nas rodas traseiras, fios e velas importadas. Tive dois ou três Ford Landau, e um Alfa Romeo TI. Eu gostava muito de carro, hoje não ligo mais!
A Foto Fuji existiu por quantos anos?
A empresa encerrou as suas atividades por volta de 1993. Eu permaneci de 1963 a 1973 ano em que deixei a sociedade, minha intenção era mudar para Curitiba. A Foto Fuji tinha uma máquina muito avançada para fazer revelações de filmes de amadores. Era quase tudo automatizado, colocava-se o negativo, apertava-se o teclado e a maquina processava o filme. No Brasil só existiam sete máquinas dessas, a Foto Fuji tinha uma delas. Uma empresa de Curitiba necessitava de um técnico para operar essa máquina, fui convidado a ir trabalhar naquela cidade. O meu sogro Davi Furlani que era proprietário da Vidraçaria Santa Terezinha, convenceu-me a trabalhar com ele. Mais tarde montei a minha empresa, a Vidraçaria Fuji, na Rua do Rosário, esquina com a Avenida Dr. João Conceição, onde é hoje a Paulitintas.
Quando se deu o seu ingresso no Clube Nipo Brasileiro?
Logo que cheguei a Piracicaba, em 1963 filiei-me ao Clube Cultural e Recreativo Nipo Brasileiro de Piracicaba, o presidente na época era Oscar Nishimura, proprietário do Restaurante Alvorada.
Era um clube restrito a comunidade japonesa?
Era fechadíssimo, era composto por japoneses ou descendentes. Atualmente temos diretores que não são nem descentes de japoneses, como o vice-prefeito Dr. Sérgio Pacheco, há também o Rudinei Ribeiro.
Qual o critério para ser admitido como sócio do Clube Nipo Brasileiro?
Deve ser uma pessoa de boa conduta, bom cidadão e que deseje participar das atividades do clube. Temos atividades esportivas com pessoas da terceira idade, como o basebol que é muito praticado pela comunidade É famoso também o karaokê, assim como as aulas de japonês. A sede do clube fica na Avenida do Café, 611, ela foi construída pela comunidade japonesa, tendo à frente Oscar Nishimura, a família Takaki, e outros. No ano 2000 adquirimos dois alqueires de terras no Bairro Pau D`Alhinho onde temos um campo de basebol com a infra-estrutura necessária.
Entre as suas atividades filantrópicas você pode citar algumas?
Fui presidente da Casa do Bom Menino por 12 anos, vice-presidente e fundador da APAC juntamente com Carlos Cantarelli e Ariovaldo Pizzinato. Participei do Centro de Obras Sociais de Piracicaba e o trabalho que é desenvolvido na Igreja dos Frades, junto ao Cursilho.
O que o motiva a participar dessas entidades?
Pela minha óptica o homem vem á Terra para ser útil, não só para si, mas para todos que o rodeiam. Isso está escrito na Bíblia Sagrada: “Tive fome e deste-me alimento; tive sede e destes-me o que beber”; “Estive preso e me visitaste” Acredito que é uma obrigação do ser humano ser útil ao próximo. O fato de termos sido concebidos, o processo de fecundação do óvulo pelo único espermatozóide em milhões, determina que seja um vencedor dentro do maravilhoso processo da criação. Nascermos é um feito heróico! Por qual razão estamos nesse mundo? Para que?
A busca insana pelo sucesso leva o ser humano a que parte?
No meu conceito, quando chegar o momento da minha partida eu estou pronto! Tenho a plena convicção de que fiz o que deveria ter sido feito na hora correta. Todos os dias ao me levantar eu agradeço a Deus, coloco um objetivo para ser alcançado pelo meu trabalho. Há dias que logo no período da manhã atingi a meta a que me propus, em termos financeiros, esse é um objetivo que todo homem tem que ter. A partir do momento que realizei meu objetivo pessoal passo a me dedicar á filantropia, o que eu necessitava Deus já proveu para mim, resta que eu faça pelo meu semelhante. .
Esse raciocínio não é muito comum encontrarmos em outras pessoas!
Eu sou assim! Senão a gente não faz! Eu divido, não levo serviço para casa.
Pedro, você é bom cozinheiro?
Sem falsa modéstia, sei fazer uma boa feijoada assim como macarronada! Também sei fazer galinhada!
Você já participou de política?
A pedido do Bispo Dom Aniger, fui candidato á vereador sendo que o registro era em meu nome civil, Naoki Kawai, quem recebeu uma estrondosa votação foi Pedro Fuji! O nome como eu era conhecido na cidade! Pedro Fuji foi eleito, Naoki Kawai não! Na administração do prefeito João Hermann Neto, o Storel era presidente do Centro de Obras Sociais de Piracicaba, eu era vice-presidente, fui com um motorista buscar uma Belina que o governo estadual doou ao Centro de Obras Sociais, havia uma fila de representantes de outras cidades que foram receber os respectivos veículos. O Governador Paulo Maluf ia a cada representante para oficializar a entrega do veículo. Ao chegar junto a mim me apresentei: “Naoki Kawai, Piracicaba!”. Uns 90 dias depois fui novamente á São Paulo buscar uma Kombi que foi doada pelo governo á Casa do Bom Menino. Havia uma enorme fila de pessoas que foram receber doações. O Governador Paulo Maluf veio de um em um, observei se alguém sussurrava algo em seu ouvido, não vi nada, ao chegar junto a mim Paulo Maluf disse: “- Naoki Kawai, de Piracicaba o senhor está bom?”. A partir daquele momento passei a admirar Paulo Maluf! Eu tinha o famoso número do telefone vermelho de Paulo Maluf, em situações de muita necessidade era só ligar naquele número, caso não atendesse na hora ele ligava depois.
Quando você conheceu o Cursilho?
Foi de 14 a 17 de abril de 1973, permaneci por quatro dias no Seminário Diocesano, um acontecimento que marcou uma nova etapa na minha vida. Foi um encontro comigo mesmo! O cursilho me fez parar, olhar para o meu interior, analisar aspectos importantes da minha existência, assim tomei um novo rumo em minha vida. A pessoa que sofreu algum problema sério de saúde ela muda sua forma de viver. Ele percebe como é frágil.
Você se relaciona com pessoas muito influentes?
Mantenho contato com pessoas que ocupam cargos importantes, diretores de instituições, políticos, empresários, industriais. Em determinada época eu presidia a Casa do Bom Menino, tínhamos 22 funcionários, havia um déficit muito grande, Eu chamei a TV Campinas que fez uma matéria com a Casa do Bom Menino, expondo a situação falimentar da mesma, a reportagem foi parar no gabinete do governador do Estado! Consegui que o Vice Governador José Maria Marins trouxesse á Piracicaba, para a Casa do Bom Menino, um valor que cobria as nossas necessidades e ainda dava uma grande folga de caixa.
Como surgiu a idéia de criar a APAC?
Reuníamos todas as quinta feiras na Igreja São Dimas, de 10 a 12 casais, eram cursilhistas, o jornal estampou um pedido do Dr. Washington, delegado de policia que tinha vindo de São José dos Campos, solicitava a apresentação de voluntários para visitar os presos. O Cantarelli se interessou e me convidou para conhecer melhor o assunto. Fomos até a cadeia, entramos no pátio, os presos fizeram muitas perguntas á nós. Expusemos qual era a nossa intenção: evangelizar, falar de Deus, escutar as queixas deles. Alguns eram pessoas conhecidas na cidade. Trouxemos ao nosso grupo as impressões do que vimos lá, entre outras pessoas tomavam parte desse grupo Sérgio Maluf, Waldemar Brunelli, Silvio Ferraz, Ariovaldo, Antonio Benedito. Íamos á cadeia as segundas, quartas e sextas, às seis horas da tarde, permanecíamos por uns quarenta minutos mais ou menos.
Qual era o maior desejo dos detentos?
Queriam que nós visitássemos as suas famílias para levar noticias sobre elas.
Como esse trabalho refletia nos presos?
A cela quatro detinha os presos de maior periculosidade, no inicio fomos vistos com certas reservas, após uns seis ou sete meses um deles me chamou e me entregou de uma forma muito discreta, um estilete comprido o suficientemente grande para atravessar o corpo de um homem. Ele disse-me:
“- Agora tenho uma arma maior do que essa. É Deus!” Tive que fazer o possível para sair com aquele artefato sem que ninguém percebesse, poderia agravar a situação do preso.
Qual era o maior problema que você via nas celas?
A convivência na mesma cela de presos com diferentes graus de periculosidade, quem tinha cometido um delito leve estava junto a alguém que havia cometido um grave delito. Essa mistura era péssima.
O que os levava a criminalidade?
Se tivessem uma assistência como a que era oferecida na Casa do Bom Menino, com uma infância e adolescência, estruturada, bem cuidada, com educação, possivelmente não iriam cometer delitos.
A própria sociedade descuida da formação?
A formação é fundamental, é mais difícil recuperar do que formar. A APAC recuperou muitos detentos.
Qual é o seu maior sonho atualmente?
Ver a minha neta casada! Ela hoje tem apenas oito anos! (Muitos risos).

MARIA ADA PIERAZZI CADIOLI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 12 de fevereiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: MARIA ADA PIERAZZI CADIOLI
Maria Ada Pierazzi Cadioli é uma simpática senhora, cabelos bem cuidados, usando um vestido com cores claras, sapatos de saltos não muito altos. Alguém bate á porta, quase em um salto Ada levanta-se e rapidamente atende, nem de longe deixa transparecer que já acumulou 91 anos de vida. Com seus olhos claros muito vivos, cumprimenta em italiano, e nesse idioma estabelece um colóquio até de que de forma muito simpática passa a se expressar em português, mantendo o seu forte sotaque italiano. È difícil imaginar que essa senhora já viveu os horrores da Segunda Guerra Mundial, que como muitos italianos, se não quase todos, encantou-se e desencantou-se com a liderança e carisma de Benito Mussolini. Maria Ada conheceu Athos Cadioli quando ambos ainda eram jovens, por 11 anos namoraram, ele foi á África combater na frente de batalha. O jovem soldado Athos retornou á Itália desposando a amada. Ambos eram professores, lecionaram por alguns anos na Itália, até a deixarem rumo ao Brasil. A América era o sonho dourado dos europeus castigados por uma guerra fratricida em seu próprio território. Ada e Athos após permanecerem algum tempo em São Paulo passaram a residir em Piracicaba, onde comercializavam tratores e acessórios, sendo representantes do lendário trator Landini, que funcionava até com óleo de cozinha como combustível! Ada e Athos eram amigos próximos de um grande empreendedor, também de origem italiana, o Comendador Mário Dedini. Em Piracicaba a professora Ada passou a lecionar italiano, inicialmente como voluntária na Società Italiana di Mutuo Soccorso. Foi professora com aulas particulares de italiano para um grande número de pessoas que foram seus alunos nessas décadas em que lecionou. Encantando a todos pelo seu conhecimento, cultura, e a sua simplicidade de hábitos. Em suas aulas de italiano além do idioma ela criou uma janela para a Itália. Os seus alunos tiveram uma imersão na cultura italiana. A acompanhante de Maria de Lourdes Camacho relata que em seus passeios matinais algumas vezes tem que dizer: “-Dona Ada! Não corra!”, graças aos passos acelerados de Maria Ada.
Em que ano a senhora nasceu?
Nasci em 2 de janeiro de 1920, em Bardelli, junto a San Benedetto Pó, na Província de Mantova, sou uma das três filhas do casal Archimedes e Dorina. Meu pai comercializava insumos para animais. ( Nesse instante batem á porta da sala, Dona Ada levanta-se com muita agilidade e abre a porta. Ao receber o comentário sobre a sua excelente disposição física ela comenta em tom de brincadeira: “Sou uma menina!”).
Como a senhora conheceu o seu marido?
A sua família morava em Zovo, cerca de 5 quilômetros da casa dos meus pais. O seu avô morava próximo a nossa casa. Em uma das visitas que ele fez ao avô eu estava lá, bastou nos olharmos para termos simpatia um com o outro, namoramos por 11 anos.. Embora fosse formado como professor sua paixão era a mecânica, manufatura com metais, os lustres que temos na sala foi feito por ele. A família da mãe do meu marido morava no Brasil, convidavam para virmos morar no Brasil. Casei-me com 27 anos.
A senhora formou-se professora na Itália?
Sim, aos 18 anos estava formada professora, lecionei a língua italiana por 8 anos, na Itália, a escola ficava em Bardelli.
Durante a Segunda Guerra Mundial a senhora estava na Itália?
Nós morávamos em uma casa muito grande, com dois andares, meu pai com seus ajudantes fizeram um abrigo subterrâneo no quintal da nossa casa, aviões voavam sobre nós jogando bombas. Sempre que percebíamos algum movimento entravamos nesse abrigo. Dormíamos com a roupa do corpo, para se necessário corrermos imediatamente ao abrigo.
A senhora se lembra de Mussolini?
Houve um período em que o povo italiano gostava muito dele. No verão eu costumava a passar um mês em Roma, era possível nessas ocasiões ver que Mussolini aparecia em público mantendo um contato muito cordial com os estudantes. Era uma pessoa bonita, tinha uma postura séria, porém muito simpática ao povo, era muito gentil com todos. Vi sua esposa, Rachele Guidi. Na época comentava-se que ela quiz conhecer Clara (Claretta) Petacci, amante de seu marido. Após vê-la disse: “Ele fez bem, ela é muito bonita!”.
Nesse período da Segunda Guerra Mundial como foi a vida da senhora na Itália?
O meu pai tinha um pedaço de terra, o suficiente para produzir o que necessitávamos para nos alimentarmos, ele construiu um abrigo subterrâneo onde estocou alimentos, que iam sendo consumidos a medida que necessitávamos. Tínhamos uma amiga que tinha uma propriedade em um campo mais afastado, a convite dela permanecemos por quase dois anos abrigados em sua casa.
Os homens foram convocados para a guerra?
Meu marido foi á frente de batalha na África. O seu pai tinha uma motocicleta, em uma viagem á Verona, para ter informações sobre a feira que iria ser realizada lá, ele sofreu um acidente com a motocicleta e faleceu. Com a morte de seu pai o meu marido voltou da África para assumir o seu lugar junto a família.
Nesse tempo em que ele serviu na África ele era seu namorado?
Sim, comunicávamos através de cartas. Sempre tive uma vida muito simples, lecionava e ajudava a minha mãe nas tarefas domésticas.
No período da guerra as mulheres foram mobilizadas?
No local onde estávamos não, morávamos em um sítio. As bombas nunca caíram muito próximas á nossa casa. Graças a Deus! Uma parte da nossa casa era de construção antiga, outra mais nova era mais bonita, apareceram soldados estrangeiros que disseram que iriam ficar na melhor parte da nossa casa. Ela foi dividida, eles ficaram nessa parte e nós na outra. Acredito que eram alemães, cozinhavam, dormiam, nunca nos incomodaram. O meu pai permanecia em permanente vigília, dormia muito pouco, naquela situação com três filhas em casa era uma responsabilidade enorme para ele. Foi assim até mudarmos para a casa da nossa amiga, em sua propriedade rural mais afastada, pode-se dizer que era um local escondido, outras famílias também se abrigaram lá. Lembro-me de que havia um moço que permanecia em um local com duas paredes, quando percebíamos que os soldados se aproximavam nos avisávamos esse moço para permanecesse em silencio, os soldados não deveriam saber o que tinha atrás das paredes que foram construídas para abrigá-lo de forma quase secreta.
A sua vinda e do seu marido ao Brasil foi após a guerra?
Sim a guerra já havia acabada, os parentes da minha sogra estavam todos no Brasil. Ao chegarmos fomos recebidos por um desses parentes que nos acolheu em sua casa por um período de quatro meses. Aportamos em Santos e dirigimo-nos á São Paulo. Meu marido montou uma empresa que oferecia trabalhos de tratores junto ao campo, contratamos tratoristas para operarem os tratores, eram em sua maioria italianos. Após algum tempo decidimos mudar á Piracicaba, na época já tínhamos nossas duas filhas, a Doretta e Clite.
Em que local passaram a residir em Piracicaba?
Na Rua XV de Novembro, próxima a Avenida Armando Salles de Oliveira, onde morávamos e tínhamos a loja de tratores e peças para tratores, éramos revendedores do trator Landini. Eu ficava na loja e meu marido na oficina.
A senhora passou a lecionar italiano em Piracicaba?
Comecei na Sociedade Italiana, onde permaneci por 20 anos lecionando como voluntária, sem remuneração. Somos muito gratos ao Comendador Mário Dedini, com quem tivemos um grande laço de amizade. Muitas vezes almoçamos em sua casa, ao que me parece o seu prato preferido era uma massa, preparada com manteiga, também gostava muito de lasanha.
Após a sua mudança ao Brasil a senhora visitou a Itália?
Estive 4 vezes na Itália após vir morar no Brasil. Sempre tive uma vida mais voltada ao trabalho, saia muito pouco, sempre fui muito reservada, não sou de freqüentar a todo momento casas de outras pessoas.
Qual é a sua religião?
Sou católica, praticante, semanalmente freqüento a missa todos os sábados às 5 horas da tarde.
Qual é o prato que a senhora faz e é considerado a “pièce de résistance”?
Acredito que seja a lasanha. Às vezes fazia a massa, com farinha, ovos.
A senhora assiste novelas?
Eu prefiro dormir! (A professora Ada convida para ir até uma cômoda, onde puxa as gavetas e surgem inúmeras peças bordadas delicadamente). Não gosto de ficar sem fazer nada.
Qual a receita que a senhora dá para atingir a sua maturidade com essa disposição?
Levanto-me geralmente as seis horas da manhã. Mantenho-me sempre ocupada com algum pequeno trabalho, leitura.
Pelo fato de ter vivido na Itália durante a guerra, isso traz lembranças ou sonhos relativos ao fato?
Não tenho lembranças nem sonhos relativos ao período da guerra. Durmo com facilidade, assim que me desperto imediatamente levanto-me da cama. Não tomo nenhum tipo de medicamento.
Dona Ada a senhora gosta de lecionar?
Muito! Atualmente tenho dois alunos!
Como é a sua relação com a internet?
(Imediatamente ela apresenta os equipamentos que estão sobre uma mesa própria). É isso que eu quero! Qua alguém me explique algumas coisas a respeito da internet. Tinha uma pessoa que por um mês e meio vinha me ajudar a utilizar o computador.
Qual é a receita para ter uma vida como a sua?
Não há nada de especial, sou uma pessoa muito simples, sou o que sou!
Após a morte o que a senhora imagina que iremos encontrar?
Encontraremos Deus!
A senhora não se prende a lembranças do passado?
Vivo o presente! Algumas vezes pergunto a mim mesmo: “-Quando irei morrer?”. Deus não me diz nada a respeito! Sempre em minhas orações peço a ajuda de Deus.
O que a senhora acha de Piracicaba?
Embora eu quase não sai da minha casa, estou contente em estar aqui, nesta cidade.

sábado, janeiro 29, 2011

Georgina Maria Antonia Pires faleceu

Georgina Maria Antonia Pires, faleceu ontem (26 de janeiro de 2011), na cidade de Rio das Pedras – SP, contava 99 anos, filha dos finados Sr. Antonio Salvador e da Sra. Maria Antonia Pires, era viúva do Sr. Otavio de Carvalho, deixa os filhos: Benedito Carvalho, casado com a Sra. Esmeralda; Antonia de Carvalho; Antonia Carvalho; Jorge Aparecido Jesus Carvalho, solteiro; Maria Aparecida de Jesus Carvalho Fragnani; Maria Margarete Oliveira Carvalho e Aparecido Carvalho. Deixa demais parentes e amigos. Seu sepultamento foi realizado hoje, tendo saído o féretro às 17h00 do velório municipal, para o cemitério daquela localidade em jazigo da família.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

TARCISO CHIARINELLI

JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 29 de janeiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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ENTREVISTADO: TARCISO CHIARINELLI
Conceituado e requisitado mestre-de-cerimônias, atuando em solenidades com a presença de autoridades de alto nível, como Presidentes da República, Governadores, Ministros, Prefeitos, presidentes de conglomerados financeiros, industriais. O constante convívio com autoridades das mais diversas áreas em nada afetou o comportamento simples e discreto desse comunicador e grande nome do rádio piracicabano, Tarcísio Chiarinelli. Sua vida pautada pela retidão de caráter reflete no seu trabalho ético e de profissionalismo admirável. Acalentou o sonho de ser um homem de comunicação, em particular do rádio, sem ser visionário e com passos em terra firme trabalhou duro até tornar o seu sonho em realidade. Tarciso Chiarinelli é um dos 10 filhos do casal Rosália Grisotto e Ernesto Chiarinelli, nasceu em 8 de janeiro de 1952 no bairro rural Monte Branco, cerca de 18 quilômetros de Piracicaba. Seu pai trabalhava como conservador de estrada e na agricultura.
Quantos anos você tinha quando sua família mudou-se para Piracicaba?
Tinha de 3 a 4 anos, fomos morar no Saibreiro, assim era denominada a região dos bairros Jardim Elite, Nova América. Logo depois fomos morar no bairro Jaraguá, na Rua Cabriúva. As lembranças que guardo da minha infância são a partir da nossa casa na Rua Dona Anésia quase na esquina com a Rua da Colônia.
Como era a ocupação da área, havia muitas casas?
As ruas não eram asfaltadas, quando chovia brincávamos nas enxurradas, jogávamos bola na rua. A minha vida foi sempre de muito trabalho, não sobrava muito tempo para as brincadeiras de infância. A nossa família cultivava uma horta, meus irmãos e eu plantávamos, a minha mãe acordava cedinho e ia cortar as verduras que deveriam ser vendidas. O meu pai trabalhava na prefeitura e saia logo cedo de casa, a Rua do Rosário foi varrida por ele por muitos anos. Aos 10 anos eu já vendia verduras nas ruas, levava-as em uma cesta de bambu, fazia uma parte da Paulista, o dinheiro apurado ajudava na manutenção da casa, éramos muito pobres. Comecei a usar sapato a partir dos 14 ou 15 anos, até então andava de pé no chão ou com chinelo. Eu tinha uma clientela mais ou menos certa, às vezes vendia logo e retornava mais cedo para casa. Outras vezes tinha que esticar mais o percurso, indo oferecer as verduras até as residências situadas á Rua Benjamin Constant. Iniciava o meu trabalho ás sete horas da manhã e tinha que vender tudo antes do meio dia para poder ir á escola na parte da tarde, estudava no Grupo Escolar Barão do Rio Branco.
Havia algum cliente marcante?
Na Avenida João Conceição, que nós chamávamos de “Rua Atrás da Estação”, havia uma senhora que adquiria verdura quase todos os dias, imagino que possa até ser para me ajudar. Fiz esse trabalho até os 12 ou 13 anos.
Qual foi seu próximo trabalho?
Fui trabalhar no Mercado Municipal, na Banca do Antonio Brancalion, ele tinha duas bancas de sua propriedade, uma em frente à outra, ambas no ramo de mercearia.
Qual foi a sua reação com relação ao novo trabalho?
Dizíamos no mercado que quanto mais forte era o santo mais cedo tinha que levantar, aos feriados ás quatro e meia da manhã eu já tinha que estar no mercado, preparar para abrir às seis horas, no inicio ia ao trabalho a pé, com o tempo comprei na Casa São Francisco uma bicicleta Göricke. Permaneci trabalhando com o Antonio Brancalion por quatro anos e meio, foi o meu primeiro registro em carteira. Recebi uma proposta para trabalhar com o Antonio Ferrante que tinha uma banca de frutas, também no mercado municipal. O forte da banca eram as frutas importadas, a clientela era mais exigente, o memorável radialista Ari Pedroso estava no auge da sua carreira, ele freqüentava a nossa banca, acredito que ele tenha sido uma das minhas fontes de inspiração para ingressar no radio. Outro cliente famoso era o Comendador Humberto D¨Abronzo, a sua esposa telefonava, encomendava as frutas e geralmente quem entregava era eu. A família Coury também realizava suas compras dessa forma.
A que horas você encerrava os seus trabalhos no mercado?
Trabalhava até o final da tarde, algumas vezes, no final da tarde, ia até Campinas, de Kombi, para trazer frutas do Ceasa.
Qual foi o seu próximo emprego?
Fui trabalhar no Centro de Energia Nuclear na Agricultura, CENA, trabalhei na portaria contratado por uma empresa terceirizada. Permaneci por pouco tempo lá. Em seguida fui trabalhar na empresa Angemar, onde permaneci por 13 anos.
Onde se situava a Angemar?
Na Avenida Dona Jane Conceição esquina com a Rua do Rosário, em frente à Praça Takaki, os proprietários eram Luiz Marchini, Antonio Marchini e Marcos Contarini. Entrei como ajudante, fui promovido para balconista e passei a chefe de expedição. Nesse local antes da Angemar se estabelecer era um terreno vazio onde se montavam parques de diversões, circos de pequeno porte, na Semana Santa havia a malhação do Judas com pau de sebo e tudo. Na esquina tinha o Bar Serenata onde hoje é a farmácia Drogal. Na época tínhamos duas farmácias na Rua do Rosário, a Farmácia Nossa Senhora da Penha e a Farmácia São Judas Tadeu, os farmacêuticos atendiam os doentes do bairro, aplicavam injeções, faziam curativos, só depois de algum tempo é que apareceu um pronto socorro na Rua São João, o transporte do paciente era precário.
Na Avenida Madre Maria Teodora circulava caminhões carregados de cana?
Éramos crianças, gostávamos quando chovia porque os caminhões não conseguiam subir o Morro do Enxofre, a rua não era asfaltada, os motoristas precisavam amarrar correntes nos pneus. A água da chuva formava enormes valetas onde nós brincávamos.
Um ponto “turístico” do bairro da Paulista era a descarregadeira de gado?
(Situava-se no terreno, hoje desocupado, entre a Droga Raia e o Restaurante Frios Paulista)
Ali era uma festa! O gado embarcava ou desembarcava do trem, fechava o trânsito na rua para passar o term. Onde hoje é o leito da Avenida Dr. Paulo de Moraes existia o beneficiamento de café colhido na Chácara Nazareth. Eu ia assistir a chegada ou a partida dos trens da Cia. Paulista. Algumas vezes fui de trem até Santa Barbara, Tupi, Caiubi. Fui usuário do bonde, ia em pé no estribo.
Conheceu o Cine Paulistinha?
Era carinhosamente chamado de “Purgueiro”! (risadas cheia de saudades!) Os acentos eram em madeira sem estofamento. Nós não tínhamos muito tempo para divertir, não só eu como meus amigos também, trabalhávamos muito. Naquele tempo havia muitas hortas no bairro da Paulista, quem cuida de horta trabalha aos domingos, feriados, era assim e continua sendo até hoje. Para molhar as verduras era comum tirar água de poço ou de algum ribeirão próximo. No fundo da Rua da Colônia havia um pessoal que cultivava agrião no próprio ribeirão, a água naquele tempo era boa. No domingo a tarde era comum ver os meus colegas cortarem agrião para embalarem e serem vendidos na segunda feira.
Há uma fotografia em que você aparece com barba e cabelo enormes qual era o motivo?
Fiz uma promessa e consegui a graça, a promessa era de ficar um ano sem cortar a barba e o cabelo. Era moda ter cabelos e barba compridos, desde que fossem cuidados, e no meu caso não despontava nem aparava. Nessa época eu já era casado com a Neusa, e tinha o nascido o meu filho Fábio, depois nasceu a Aline. Tenho dois netos, o Fernando e o Murilo. (Tarciso guarda diversas fotos dos netos em algumas de suas gavetas, apressa-se em mostrar, com muito orgulho). Quando fui cortar a barba e o cabelo recorri ao meu pai que também era barbeiro, além de trabalhar na limpeza de rua, ao chegar em casa aplicava injeção nas pessoas que necessitavam e cortava cabelo de quem o procurasse. Após aposentar-se ele trabalhou como jardineiro, guardo comigo a alfange de marca São Floriano, que lhe pertenceu. (Tradicional marca de origem austríaca). Quando fui cortar o cabelo e a barba levei o meu filho junto, ele tinha uns 5 anos, e poderia assustar-se em ver o pai sem o cabelo e a barba compridos. Mantive desde aquela data o uso de bigode.
Como surgiu o rádio em sua vida?
Desde criança tive atração pelo rádio. O Alcides Spironello tinha uma banca no mercado municipal, ele me emprestou um gravador, na época uma verdadeira raridade, eu pegava as propagandas impressas em jornais, os chamados “reclames”, e ficava lendo praticando, fazia isso na minha casa, como havia as vezes muita gente em casa, eu saia e ia até onde estavam fazendo o loteamento da Chácara Nazareth, que tinha ainda muitos pés de café, eu entrava ali perto da Rua do Rosário, e na sombra de um pé de café gravava comerciais, notícias de jornal. Eu ouvia o que havia gravado, gravava novamente, buscando atingir a melhor apresentação possível. Devolvi o gravador e passei a ter contato com pessoas que trabalhavam na “Rádio A Voz Agrícola”, eles me arrumaram uns textos. Naquela época os textos eram apresentados ao vivo nas rádios, não eram gravados. Quem me deu um empurrão foi Antonio José, o Gordo, ele trabalhava como produtor do Garcia Neto, na Rádio Educadora, quando ainda era na Rua São José, esquina com a Rua Governador.
Como você ingressou em uma rádio?
Decidi conversar com o Garcia Neto, foi em uma quinta feira à noite, no horário em que ele apresentava um programa de esporte. Ao chegar ele me perguntou: “-O que você quer menino?” Respondi-lhe: “- Quero ser locutor!”. Perguntou-me se tinha experiência, disse-lhe que não, ele então sugeriu que fizesse um teste. Eu tinha treinado, mas não deu certo, o nervosismo bateu forte. Ele chamou o Gordo e mandou que me desse dois textos para que eu lesse. O Garcia disse que eu poderia ser um bom locutor, mas que no momento necessitava de um profissional com experiência. Encaminhou-me para a Rádio A Voz Agrícola, aos cuidados do Francisco Caldeira, diretor da rádio, ela estava instalada na Rua Moraes Barros ao lado do Chaveiro Expresso. O Caldeira disse-me que não precisava de ninguém naquele momento. Perguntei-lhe se eu poderia ficar apenas olhando o pessoal trabalhar. Eu trabalhava no mercado, tinha o domingo à tarde de folga, ele aceitou. Passei a observar o trabalho feito na rádio, surgiu a Jornada Esportiva, após algum tempo o rapaz que fazia o plantão saiu da rádio, ele era do Mato Grosso. Na época o Abel Bueno tinha um programa de cururu nos domingos á noite, eu passava a tarde acompanhando a Jornada Esportiva, ficava só olhando, de vez em quando o mato-grossense dizia-me: “-Dê esses resultados desses jogos!”.
Você operava a parte técnica?
Nunca operei, nem sei como é que se liga! Nunca fiz técnica.
Como foi o seu progresso profissional na Rádio A Voz Agrícola?
Após determinado tempo o Abel Bueno me disse: “-Ajude-me a fazer o programa!”. Passei a apresentar, a ler uns comerciais, isso foi na década de 70. Era um programa muito solto, muito tranqüilo. A primeira vez que falei ao microfone disse ao Abel que iria ler o texto, ao que ele disse que não deveria ler nada, deveria falar de improviso. Fiz improvisado, e tremendo! Depois surgiu o Márcio Terra, na época ele era diretor de esportes, me convidou para fazer o plantão esportivo, acabei assumindo estimulado pelo Márcio Terra, procurando melhorar cada vez mais. Fiz plantão esportivo por 33 anos!
O que a sua esposa dizia dessa sua dedicação ao rádio?
Ela sempre me apoiou e me incentivou, ela sabia que era isso que eu queria! Eu a conheci na Igreja São José, quando eu tinha uns 20 anos.
Você freqüentava o Cesac?
Fui coordenador de uma SEJOPAC - Semana Jovem para Cristo. Quando havia as festas no Cesac eu era o locutor que dizia: “O rapaz de camisa branca oferece esta música para a moça de vestido azul”, e assim por diante! O Cônego Luiz deu uma grande força para mim!
Quando ocorreu o momento decisivo, de dedicar-se apenas ao rádio?
Fiquei na Rádio Alvorada uns 10 anos. O Roberto Moraes me convidou para fazer o plantão esportivo na Rádio Difusora, ele tinha a equipe completa só faltava o plantonista. Em 1991 eu e o Vanderlei Albuquerque fomos para a Rádio Difusora onde permaneço até hoje, só não faço o plantão esportivo. Sempre tive dois empregos, sempre trabalhei muito. Atualmente já não faço transmissão de carnaval de madrugada. Eu trabalhava na Angemar e por um ano e mio trabalhei em São Paulo. A minha rotina era apresentar um programa sertanejo, “Manhãs na Roça”, na Rádio Alvorada, das quatro horas da manhã até as sete, ia trabalhar o dia todo na Angemar e a noite estudava. Eu já era casado e tinha meus dois filhos. Surgiu a oportunidade de trabalhar em São Paulo, na Rádio Gazeta, na Avenida Paulista, fazia o plantão esportivo, Dinival Tibério tirou e publicou uma foto onde dizia que era mais um piracicabano que ia para São Paulo, isso na década de 70. Fiz um acordo com o Luiz Marchini da Angemar, eu saia do serviço no sábado as 10 horas, tomava um ônibus, ia até São Paulo, fazia o plantão no sábado a tarde e a noite, dormia em São Paulo, na própria rádio, terminava a Jornada Esportiva as onze e meia ou meia noite, acabava dormindo no próprio estúdio, Antônio José Quartarollo, o Tony José, foi quem me levou para a Rádio Gazeta. Logo em seguida ele foi para a Rádio Bandeirantes. Cheguei a fazer plantão em São Paulo na quarta feira à noite. O programa “Manhãs na Roça” tinha um espaço da Secretaria de Serviços Públicos, o secretário municipal era José Flavio Leão que ia até a rádio para dar informações principalmente ás pessoas da zona rural. Após algum tempo ele me convidou para prestar uma assessoria junto a sua pasta. O prefeito era o Dr. Adilson Maluf, o meu contrato de trabalho não tinha nenhuma estabilidade, tive o apoio do Luiz Marchini, que deixou as portas abertas para quando eu quisesse voltar. São fatos que nunca irei esquecer.
Os cerimoniais como surgiram em sua carreira?
Surgiu na época em que o prefeito era o Dr. Adilson Maluf, o chefe do cerimonial e diretor de comunicação da prefeitura era Jamil Neto, Xilmar Ulisses, Gaiad, Benedito Hilário e Waldemar Bilia também participavam. Quando fui trabalhar na prefeitura fiz o cerimonial da inauguração do Campo do Jaraguá, com o apoio do Jamil e dos outros integrantes da equipe. O Jamil trabalhava com muito profissionalismo. Dessa ocasião em diante passei a fazer cerimoniais para a prefeitura.
Qual é o segredo para realizar um bom cerimonial?
É agir com responsabilidade, não subestimar nenhum cerimonial, por mais modesto que pareça ser, cada evento é um desafio e todos têm a mesma importância. Não é qualquer pessoa que enfrenta um público, uma coisa é ser locutor de estúdio e outra é ter um publico á sua frente. Um cerimonial exige uma preparação detalhada antes de ser realizado, conhecimento de cada detalhe, é necessário ter muito jogo de cintura, após ter o cerimonial pronto, normalmente ele se desvirtua. No lançamento da pedra fundamental do novo prédio da FUMEP fui cumprimentado por um ministro de estado pela realização do cerimonial em decorrência de situação anômala e pela forma como conduzi o evento. O cerimonial público tem normas, a lei federal de número 7274 de 9 de março de 1972 regulamenta todos os cerimoniais.. Não é só chegar, pegar e falar.
Você contou quantos cerimoniais já realizou?
Mais de mil com certeza! Não sou o único que faz na cidade e nem na prefeitura. (Realizando os cálculos da média mensal pelos anos trabalhados descobrimos que Tarciso já realizou mais de 5.000 cerimoniais).

sábado, janeiro 22, 2011

GEORGINA MARIA ANTONIA PIRES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 22 de janeiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADA: GEORGINA MARIA ANTONIA PIRES
No Brasil há um século documentos pessoais era quase um requinte a que muitos não se davam ao luxo Em eventos, como casamentos e óbitos, quem fazia os registros era a Igreja Católica, embora em 1875, tivessem sido criados os primeiros cartórios, e em 1888 o registro de nascimentos, casamentos e mortes deveria ser feito obrigatoriamente por órgãos do Estado. Georgina Maria Antonia Pires conforme a sua data de nascimento de 12 de maio de 1911, que consta em seu título eleitoral, estará completando 100 anos de vida. Pelos registros verbais ela nasceu dois anos antes, em 1909, isso implica que ela está com 102 anos de idade pelos relatos orais. Esse diferencial de dois anos é irrelevante em uma vida tão profícua. Nascida em Piracicaba, na tradicional Rua do Porto, é filha do casal Antonio Salvador e Maria Antonia Pires que tiveram doze filhos. Quando tinha seis anos de idade a sua família mudou-se para a vizinha cidade de Rio das Pedras. O que desperta muito a atenção do interlocutor de Da. Georgina é a sua vivacidade, sua alegria de viver, excelente estado físico e mental. Do alto da sua centenária experiência de vida sabe selecionar com extremo bom senso que tipo de informação quer receber da mídia televisiva. Dispensa programações que acha sensacionalista, assim como as apelativas ou indutoras de maus costumes. Incentivada pelas filhas, netas, bisnetas, deixa-se levar pela pintura das suas unhas com desenhos decorativos, tão em moda atualmente. Recentemente ela teve a oportunidade de conhecer o mar pela primeira vez, gostou tanto que já voltou e pensa em futuras viagens. Buscou um terreno mais firme na praia, e sentou-se, tendo o mar aos seus pés. Ela que foi mãe, na roça cortando cana, criou muitos filhos. Dona Georgina, centenária, tem em seu sorriso o verdadeiro retrato da alma brasileira. Simples, de grande sabedoria, dona de fé inabalável na vida e na existência de Deus. A quem o trabalho e a atividade de mãe de família nunca impediram que externasse sua alegria de alma cabocla, nos dias consagrados a festas, onde as músicas, e as danças estiveram presentes com pureza de sentimentos.
A senhora freqüentou escola em Rio das Pedras?
Estudei até o quarto ano primário, tive como professoras no primeiro ano a Dona Maria Augusta, esposa do Seu Neves, no segundo ano foi Dona Olga, no terceiro ano tive aulas com Dona Ladir, Dona Francisca foi a minha professora no quarto ano. Após concluir o primário permaneci ajudando a minha mãe nos serviços domésticos.
Como era a cidade de Rio das Pedras naquela época?
Era um sítio! As ruas não eram calçadas, o trem era muito usado como transporte para Piracicaba, havia o trem de carga, havia também o “lastro” que transportava lenha.
Como era a alimentação cotidiana?
Arroz, feijão, pão feito em casa, não havia padaria, comia-se lingüiça, torresmo.
Havia bailes nessa época?
Existia sim, eu gostava muito de dançar, tocava-se mazurca, valsa, os bailes varavam a noite, eram brincadeiras sadias e de respeito.
Como a senhora conheceu o seu marido?
Conheci Otávio Carvalho quando ainda éramos crianças, ele ia á escola com suas primas. Quando eu tinha dezesseis anos, após três meses de namoro no dia 2 de julho de 1927 casamos na Igreja Matriz de Rio das Pedras. O escrivão foi José Leite Negreiros que trabalhava com o Sr. Osório Martins. Passamos a morar na barreira do Horacio Limonge, depois moramos no Zeca Leite, no Nicolau Marino. Sempre moramos nessas imediações.
Quantos filhos a senhora teve?
Sou mãe de nove filhos, tenho 36 netos vivos, 56 bisnetos e 7 tataranetos.
A senhora sabe o nome de todos?
De um “terno” (uma parte) eu sei, de outro não sei.
Qual era o trabalho que o seu marido fazia?
Trabalhava com enxada, com burros, cortava e plantava cana. Eu o ajudava a trabalhar na roça, além de fazer o serviço de casa. Eu cortava e amarrava duzentos a duzentos e cinqüenta feixes de cana por dia. Levava as crianças na roça, não havia creche para deixar. Com meu filho tracei (serrei) madeira nas terras do Inácio Leite, era cabriúva, guarantã, peroba, cedro, todas madeira de lei.
Qual é a sua religião?
Bastante católica, tenho muita fé em Deus, rezo também para diversos santos como Santo Antonio, Santa Luzia. Toda quartas-feiras eu comungo.
A senhora sempre gostou de festas?
Sempre fui muito festeira, gostava de ir a missa, freqüentar as festas da igreja. Deus nunca me deixou passar por tristeza, Ele quer alegria. Eu com a idade que tenho, como bem. Durmo bem. Passeio. Na semana passada voltei de um passeio que fiz em Itanhaém.
Quem a acompanhou até lá?
Fui com a minha filha e com a minha neta que tem uma casa lá.
Já conhecia o mar?
Fui conhecer agora, achei muito bonito. Entrei nas águas do mar, é muito salgada.
Como a senhora compara os dias atuais com os de antigamente?
Para trabalhar a pessoa tem que estar preparada, tem que estudar. Antigamente mesmo sem estudar a pessoa trabalhava e conseguia ter um salário que o sustentava. Hoje quem não estuda não tem como trabalhar.
A senhora assiste televisão?
Gosto de assistir a missa. Não assisto novela, não me simpatizo com as que são apresentadas atualmente. Gostava de ver “Meu Pé de Laranja Lima”. As notícias do tele jornal eu assisto, são noticias feias! Parece que o mundo vai acabar em água!
A vida para a dona de casa está mais fácil atualmente?
Para a mulher que sabe trabalhar há mais facilidades. Algumas parecem que não estão nunca satisfeitas com o que tem.
Como é a sua saúde?
Ontem eu pesei a minha pressão, estou com 12 por 8. Não tenho diabetes.
E a sua alimentação como é?
Como de tudo, arroz, feijão polenta. Só não como veneno porque mata!
Ao chegar a algum determinado lugar, quem a vê imagina que tenha menos idade?
É comum acharem que sou mais nova. Quando descobrem a minha idade forma-se uma roda em minha volta. Gostam de conversar. Adoram-me!
Nos tempos da sua juventude, como era tratada uma dor de dente?
Colocava-se algum remedinho para passar a dor. Se por acaso a dor não passasse tinha que ir ao dentista extrair o dente. Em Rio das Pedras tinha o Serapião que fazia esse trabalho.
Alguma vez a senhora foi ao cinema?
Fui uma vez, no cinema que havia na Rua Prudente de Moraes, em Rio das Pedras, no prédio onde hoje funciona o fórum local. O filme era sobre a vida da dupla Tonico e Tinoco. Eu gostava muito de ir aos circos que vinham à cidade.
Não havia geladeira, como era conservada a carne?
O toucinho nós dependurávamos em uma espécie de varal, carnes conservávamos submersa em uma vasilha com banha de porco. Fazíamos lingüiça em casa, era bem temperada.
Como eram os colchões utilizados pela família?
Eram feitos com palha de milho, rasgava a palha, cortava com o podão e preenchia. O travesseiro era feito de macela.
Atualmente as pessoas parecem muito agitadas, era assim há alguns anos?
Não era assim! Hoje o povo se afastou de Deus, deu oportunidade para acontecer os roubos, violência, uso de drogas.
A senhora é vaidosa?
Não sou! (Ela diz sorrindo!). Quando tenho uma roupa boa gosto de usar. Eu fazia roupa para todos os filhos, usava-se o tecido de riscado, ou pano bravo mesmo, chamado de “ranca-toco” (arranca toco). Sacos de açúcar eram tingidos e usados para confeccionar as roupas. Éramos muito pobres. Andava-se descalço. Colocava-se paletó e sem sapato, era comum isso, alguns usavam paletó, colete e descalço. Naquele tempo tinha que ir ao sapateiro, tirar as medidas dos pés e encomendar o sapato. Não era comum encontrar calçados prontos para serem adquiridos e usados. Para ir a roça ia descalço, machucava os pés com espinhos.
Lembra-se dos campeonatos de corte de cana?
Meu filho, já falecido, foi campeão de corte de cana, ele chegou a ponto de cortar mil feixes de cana em um dia de trabalho. Cortava e amarrava os feixes. O Américo Guião está vivo até hoje, pode confirmar o fato.
A senhora trabalhou em lavoura de café?
Carpi café, apanhei , plantei e cobri café. Para cobrir o café eram colocados uns pauzinhos sobre a muda nova, formando uma casinha, dando sombra á mudinha. Trabalhei com café na Fazenda Nova Java. Morávamos na cidade, na zona urbana, mas tinha que ir trabalhar nos sítios da região, íamos a pé.
A senhora ajudou a construir alguma casa de taipa?
Ajudei a fazer, fincava-se a madeira no chão, trançava as taquaras, ficava uma pessoa pelo lado interno e outra pelo lado externo das paredes, jogava-se o barro de forma alternada, com isso construíam-se as paredes. Muitos adicionavam estrume ao barro. Para cobrir a casa usava-se o sapé.
Como era o banheiro?
Não existia, usavam-se as imediações da casa como banheiro, ao ar livre. O banho era tomado em bacias, a água aquecida era despejada sobre a bacia. A cada um que se banhava sucedia outra pessoa, o ultimo a banhar-se às vezes já estava cochilando, cansado e com sono. Era comum muitas vezes a pessoa lavar apenas os pés antes de dormir, o banho ficava para o dia seguinte.
Qual é a sua impressão sobre a cidade de São Paulo?
Para mim não tem nada igual a minha terrinha aqui em Rio das Pedras!
Em suas recentes viagens á praia, a senhora andou de barco?
Andei, no meio do passeio comecei a ficar com medo, se caísse na água afundaria como um martelo!
Em sua opinião, após aposentar-se a pessoa deve se recolher em seu canto ou deve passear, divertir-se?
Deve divertir-se, viver. Quando tenho vontade de sair eu saio. Há pessoas muito mais novas do que eu e que não estão com disposição igual a minha. Deus me deu essa condição eu toco para frente até quando Ele quiser.
Ao deitar-se, pela sua cabeça passa uma espécie de filme recordando o passado?
Passa sim.
O que a senhora imagina que possa existir após a morte?
Quem morre se acaba. Ninguém veio contar o que existe após a morte. Assim como Jesus Cristo morreu e ressuscitou, nós também deveremos morrer e ressuscitarmos.
Há a necessidade de se ter muito dinheiro para ser feliz?
Não, basta ter saúde! O dinheiro não trás a felicidade é importante ter dinheiro, pois sem ele não se vive.
Havia caça nas proximidades da sua casa em Rio das Pedras?
Próximo onde hoje estão localizadas as casas da Conferência São Vicente de Paula, existiam coelhos lebres, tatu, lagarto.
                      Residência de Dona Georgina na Vila Vicentina, da Conferência São Vicente de Paula de Rio das Pedras
O que a senhora mais deseja atualmente?
Desejo que Deus dê saúde para nós todos, que todos estejam sempre alegres.
A senhora ouve rádio?
Ganhei um do Dr. Antonio Costa Galvão, que assim como Oscar Waldemar Gramani sempre foram amigos da nossa família. Ambos foram prefeitos de Rio das Pedras.
A seu ver o tratamento entre as pessoas mudou?
Antigamente havia mais respeito, as roupas eram mais recatadas.
Se alguém lhe oferecer uma passagem de avião a senhora viaja pela primeira vez?
Tenho receio, mas se aparecer uma passagem eu vôo! Imagine se eu tiver medo de tudo! Não se pode ter medo!
A senhora tem medo da morte?
Não tenho! Todos nós temos que passar por ela, na hora em que ela chegar eu estou pronta. Com a idade que atingi já cumpri a vontade de Deus, mas se for da sua vontade que eu passe mais um pouco aqui neste mundo eu fico!
A senhora teve um filho que faleceu aos sessenta anos, como é a dor de perder um filho?
Essa dor nunca acaba! Estou contente porque ele está com Deus, a quem ele pertencia.
Existem pessoas que são muito caladas, o fato de não se comunicarem facilmente as prejudica?
Sendo uma atitude existente por habito e não por revolta, temos que respeitar sua postura em não ser tagarela.
Qual é a sua opinião sobre a doença depressão?
(Após um longo silencio, Dona Georgina responde). Acho que um bom serviço resolve! Deixar a depressão de lado e tocar a vida para frente é o melhor remédio.





CESAC: CENTRO SOCIAL DE ASSISTÊNCIA E CULTURA PARÓQUIA SÃO JOSÉ

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 15 de janeiro de 2011
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
Regiane, Joelma, Mel, Cidinha e Sueli
ENTREVISTA: CESAC: CENTRO SOCIAL DE ASSISTÊNCIA E CULTURA PARÓQUIA SÃO JOSÉ
O CESAC é uma entidade assistencial constituída em 29 de maio de 1967, são 43 anos de serviços prestados promovendo ações que possam melhorar a qualidade de vida da população da nossa cidade. O seu relacionamento com seus diversos públicos: beneficiários, colaboradores, voluntários, setor público e privado, comunidade, é pautado por valores éticos, profissionalismo e uma extensa relação de excelentes resultados. Situa-se na Avenida Marquês de Monte Alegre, 777, telefone 34342020. Aparecida Lizanêa de Lima Albino é assistente social do CESAC e da Creche Maria Maschietto Juliani, com seu auxílio é possível conhecer um pouco melhor essa instituição que poderá ser desconhecida por alguns, mas cuja atuação fez uma grande diferença na vida de muitos.
Quem é o atual presidente do CESAC ?
Luis Antonio Penteado é o atual presidente, função que iniciou em 5 de setembro de 2009 e cujo mandato termina em 4 de setembro de 2011. O Padre Marcelo Salles, pároco da Paróquia São José é diretor nato, conforme dispõe o estatuto.
Que trabalhos o CESAC realiza?
Seu inicio foi com uma obra social, encabeçada pelo Monsenhor Luiz Gonzaga Juliani,
três anos após a sua vinda á paróquia, vendo que havia muita pobreza na comunidade, o Bispo D. Aniger tinha uma visão voltada para o social, convidou o Monsenhor para realizar uma obra voltada ao social, com isso criou-se o CESAC. O inicio foi com o próprio Monsenhor Luiz dando as aulas de datilografia. A Vila Cristina era conhecida como Risca Faca, foi nessa comunidade carente que ele iniciou o trabalho com famílias, o curso de corte e costura foi um dos primeiros a ser implantados e que existe até hoje. A informática substituiu a datilografia. Desenvolvimento de habilidades que inclui curso de cabeleireiro, manicure, artesanato, corte e costura, panificação, padaria artesanal, é um projeto que engloba todos esses cursos, eles acontecem não só no CESAC, mas em diversas periferias da cidade, em todos os CRAS Centro de Referência da Assistência Social. Há o CRAS do bairro Mario Dedini, do Jardim São Paulo, do Piracicamirim, da Vila Sonia, ao todo são sete CRAS. Há outros projetos como Apoio e Orientação a Gestantes, Programa do Trabalhador Aprendiz, Construído Laços. Em conjunto com a prefeitura o projeto Pró-Família atendeu em 2009 a 4.697 famílias. O CESAC depende da sua parceria com a prefeitura para manter seus profissionais. O Programa Nacional de Assistência Social exige que o quadro seja constituído por profissionais. Essas verbas passadas pela União, Estado e Município com a finalidade de assistência social nos CRAS são administradas pelo CESAC. No critério adotado o gestor é o responsável, quem executa é o governo, a sociedade civil, que inclui entidades como a nossa, fazem as parcerias.
Como funciona o projeto Pró-Família?
Em cada CRAS existe uma equipe de assistente social e psicóloga que realiza o trabalho sócio-educativo, envolve as famílias integrantes do programa de transferência de renda, como a Renda Cidadã e a Bolsa Família, são famílias que estão em vulnerabilidade social. O CESAC tem os projetos em parceria com a prefeitura através da Secretaria de Desenvolvimento Social, mas ele também é que faz a gestão dos projetos realizados nos CRAS. As contratações de recursos humanos para administrarem esses projetos em outros CRAS são feitas pelo CESAC.
A Creche Maria Maschiett Juliani atende a quantas crianças?
Em 2010 foram 137 crianças de 2 a 5 anos, matriculadas.
Em Piracicaba quantas famílias estão cadastradas para receberem a Bolsa Família ou Renda Cidadã?
Cadastradas existem em torno de 15 mil famílias, tanto para o programa Bolsa Família que é um programa do Governo Federal, a Renda Cidadã é uma iniciativa do Governo do Estado, são similares, em alguns casos as famílias pode se beneficiar dos dois.
Há opiniões de que ao receber um desses auxílios ocorre certa acomodação por parte do beneficiado, isso ocorre?
Pode acontecer só que o objetivo do projeto é realizar a emancipação dessas famílias, e isso tem de fato acontecido. O exercício da Assistência Social porta várias outras éreas como a saúde, habitação, educação. Há um relatório anual feito pela prefeitura onde são relatadas as ocorrências com esses projetos, inclusive informando o número de famílias desligadas do projeto. Para uma família receber esses benefícios ela passa por três crivos: da saúde, educação e assistência social. As crianças dessas famílias têm que ser levadas para serem vacinadas regularmente, é verificada a freqüência dessas crianças á escola, na falta de cumprimento de algum critério a família é desligada. O cadastro único é de alcance nacional, a prefeitura faz através das assistentes sociais visitas e monitoramento, essas informações são enviadas a Brasília no caso da Bolsa Família, nesse caso é o governo federal que aprova o cadastro.
Qual é a posição que Piracicaba ocupa no cenário nacional?
Piracicaba não é considerada uma cidade pobre. Às vezes temos dificuldades em receber recurso federal ou estadual pelo fato da cidade ser considerada rica, desenvolvida.
Temos bolsões de pobreza?
Exatamente.
Como está a situação no território em que o CESAC atua diretamente?
Atualmente o meu trabalho envolve mais a parte administrativa. Quando atendo no CESAC ás pessoas que nos procuram em busca de cesta básica, vaga na creche, ou outras opções procura orientá-las. Ao chegarem aqui identifico á que território elas pertencem em função do seu domicilio, encaminho ao CRAS correspondente. A porta de acesso ao atendimento do serviço social é o CRAS.
Quantas pessoas trabalham no CESAC?
Em 2009 o total assalariados eram 73 pessoas. Voluntários permanentes eram 40 e voluntários eventuais 200, estes incluem os que trabalharam na barraca da Festa das Nações.
Os diretores recebem alguma remuneração?
São voluntários, não recebem nada pelo seu trabalho.
Quais são os riscos que envolvem as pessoas com vulnerabilidade social presentes na área de atuação administrada pelo CESAC?
O que mais influi é a deficiência de educação. Enquanto essa camada não se conscientizar continuaremos a ter sérios problemas sociais. Muitos procuram emprego para uma função á qual eles não estão classificados.
Há diretriz orientada aos professores da rede estadual de ensino para evitar reprovações de alunos, em sua opinião, isso é bom?
Considero isso ruim. A falta de educação é uma realidade nacional. O Plano Nacional de Educação está passando por mudanças.
O que falta para evoluir a educação?
Falta conscientização da sua importância no desenvolvimento individual e coletivo.
Os problemas que acometem aqueles que procuram assistência social são de difíceis soluções?
As pessoas nos procuram com um objetivo, ou é conseguir uma vaga na creche ou ganhar uma cesta básica. Conversando com a pessoa descobrimos o subjetivo, o que está atrás da sua procura, não é exatamente aquilo que ela fala inicialmente que quer. Muitas vezes com esses argumentos nos procuram, mas na verdade elas querem é serem ouvidas! Procuram atenção e acolhimento. Quando elas saem daqui não levam cesta básica, ao nos deixar saem orientadas. Ao recebermos alguém que nos foi encaminhado fazemos um levantamento da sua família, realizamos o diagnóstico socioeconômico dessa família. O trabalho técnico é diferente do assistencialismo.
Há atuações de pessoas e entidades que movidas pelas boas intenções promovem ações pontuais de assistência humanitária, qual é sua opinião a respeito?
Na maioria dos casos estão contribuindo para quem recebe o benefício não queira mais deixar de tê-lo. Uma coisa é assistência social que faz parte de uma política pública, onde existe diretrizes para trabalharmos dentro desses parâmetros, outra coisa são atitudes cristãs de amor ao próximo. O assistencialismo impede o crescimento do indivíduo, ele permanece inerte, age apenas como receptor de benefícios. O objetivo da assistência social é conscientizar a pessoa de que ela pode emancipar-se.
Elevar a auto-estima de um indivíduo é um ato de caridade?
Considero que sim.
Há políticos que se valem do assistencialismo para a autopromoção?
Não se pode generalizar, mas existem políticos que usam o assistencialismo para capitalizar votos. Se ele entendesse o que é assistência social ele não faria isso. O nosso trabalho sócio educativo tem como objetivo fazer com que as famílias caminhem pelas suas próprias pernas.
Orientar o indivíduo pode ser tão importante quanto fornecer-lhe algo?
Sem dúvida! Muitas vezes o objetivo da pessoa não é aquele que ela expõe ao nos procurar. O seu objetivo verdadeiro é revelado se tivermos a disposição de ouvi-la. Das dezenas de pessoas que estiveram comigo no ano de 2010, a grande maioria a medida que passei a ouvi-las, descobri que elas procuram de fato algo totalmente diferente daquilo que inicialmente haviam pedido.
É uma característica própria de indivíduos pertencentes a classes menos favorecidas?
Não! Isso abrange a todas as classes sociais.
A dependência química em todas as suas versões, incluindo o álcool, afeta as famílias?
Muito! Bastante! A principal atitude a ser tomada é ter muita paciência e amor. Existem programas por parte do Estado, embora para a classe menos privilegiada seja muito difícil manter uma pessoa em uma clinica especializada. É um aspecto que envolve a área da saúde. Só que a demanda é maior do que a capacidade que a saúde tem em atender, passa a ser um problema administrado pela assistência social! Se há um dependente químico em uma família ela adoece com ele. Quando um membro dessa família nos procura para buscar uma cesta básica pode até existir a necessidade da mesma, mas o fator que o trouxe de fato é o problema que o envolve. É isso que necessitamos entender. Temos que oferecer oportunidade á quem quer evoluir, não adianta orientarmos se a pessoa não quer ter atitudes diferentes, se ela não se conscientizar de que ela quer mudar, não será assistente social que a fará mudar.
Atualmente qual é o foco principal do CESAC?
É a gestão administrativa. Pelos seus estatutos o CESAC privilegia a família, isso se torna um fator importante a favor da nossa instituição. O Programa Nacional da Assistência Social trabalha voltado á família. Quando faço entrevista com alguma família, pergunto se ela tem algum principio religioso, independente de qual seja, percebo que as famílias que professam alguma fé administram melhor os seus problemas. O CESAC hoje está dividido em programas de um projeto: com adolescentes, famílias, gestantes, desenvolvimento com habilidades.
Na creche ao identificar um problema com alguma criança qual é a ação a ser tomada?
No programa Construindo Laços cuidamos da relação das famílias com as crianças da Creche Maria Maschietto Juliani. Às vezes acontece de alguma mãe dizer que não consegue educar seu filho, acha que a creche tem essa obrigação. Ao analisarmos a estrutura e a convivência da família descobrimos que não é a criança que deve ser trabalhada, e sim os pais. Há muitas crianças educadas sem nenhum limite. Filhos de pais separados tornam-se “parafusos”, o pai fala uma coisa à mãe fala outra, é quando temos que chamar a ambos e mostrar a situação.
Quais são as atitudes de uma criança educada sem limites?
Ela é agressiva com as professoras e com outras crianças, se o pai está envolvido com alguma atividade escusa ela diz que pretende ser igual a ele, é seu referencial, considera-o como seu ídolo. Cada caso é um caso em particular. A creche através de seus horários para as diversas atividades ensina a criança a ter disciplina. Geralmente a criança problemática é o reflexo da sua família. Tivemos o caso de um menininho que mordia determinada menina na bochecha. Fizemos um estudo mais detalhado do fato e descobrimos que quando os pais brigavam a mãe mordia o pai na bochecha! A criança via e fazia a mesma coisa.

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