quinta-feira, maio 03, 2012

JOSÉ ANTONIO DE GODOY

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado o5 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: JOSÉ ANTONIO DE GODOY
José Antonio de Godoy é nascido em 15 de novembro de 1947 em Piracicaba, na Rua Moraes Barros 1.832, é filho de José de Godoy militar da então Força Pública, nome anterior da Policia Militar e da enfermeira Alaíde Gosser de Godoy. Começou seus estudos no Grupo Escolar Alfredo Cardoso, em 1958, distante a aproximadamente 50 metros da sua casa. O secundário fez na Escola Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin, onde estudou por sete anos diplomando-se em contabilidade em 1965.

Nesse período o senhor já trabalhava?

Eu morava com meus avós, eles tinham produção de doces caseiros, Pão de ló, que eram comercializados em festas de igreja, parques, circos. Eu tinha uns doze anos ajudava a fazer e depois a vender, na época deveria ter uns 12 anos.

Com que idade o senhor começo a trabalhar ajudando a sua família?

Aos sete anos eu já ajudava em casa.

Hoje pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente o senhor não poderia ter essas atividades.

Não poderia. Sempre trabalhei e acho que isso contribuiu muito na minha formação. Já era ambulante, hoje denominado de camelô. As pessoas que conheci quando eu era criança cresceram e com isso formei um grande círculo de amizades.

O senhor é tímido?

Em determinadas circunstâncias sim. Na maioria das vezes não.

Algumas pessoas acham que o senhor é uma pessoa reservada, ao contrário de muitos políticos que são verdadeiros atores, tratam com muita intimidade pessoas que nunca viram, com o intuito de seduzir o eleitor e ganhar seu voto.

Acho que isso decorre da minha profissão, como sempre fui contador e auditor, primeiro trabalhei muito com informações sigilosas, pelo fato de estar trabalhando com terceiros, pessoas que você está fiscalizando, auditando, é necessário ter uma atitude extremamente profissional. Isso impõe um limite determinado pela conduta profissional. Quando digo que sou tímido em algumas circunstâncias, é porque sempre dei aulas no curso superior, a relação com meus alunos é diferente. Na escola a realidade é outra.

O senhor trabalhou fabricando móveis?


Aos 12 anos fui trabalhar na fábrica de sofás Rinolar, situada na Rua Moraes Barros. Fui trabalhar no escritório, o Roncini era o contador. Quando não tinha nada para fazer no escritório eu ia trabalhar na tapeçaria. Meus avós faleceram, meu pai trabalhava como balanceiro na Usina Bom Jesus, em Rio das Pedras. Fui morar com meu pai, e passei a trabalhar em uma tapeçaria em Rio das Pedras. Havia um ônibus da prefeitura que nos trazia para estudar a noite e voltar. Mudei para Piracicaba, fui trabalhar em um escritório de contabilidade, morava em uma republica na Rua Moraes Barros, tinha uma vilinha de casas, eu morava em uma dessas casas, em frente onde era o Bar do Buriol. Almoçava e jantava no Bar Cruzeiro. O famoso seresteiro Cobrinha morava ao lado, trabalhei com ele na sua fábrica de gaiolas de passarinho. Eu tinha um colega na Escola Cristóvão Colombo, cujo pai tinha uma fábrica de móveis. Fui trabalhar lá, fazia cama, guarda roupa, guardo algumas cicatrizes dessa época, na tupia quase perdi o dedo, outra vez um formão escapou e deixou a marca do seu trajeto no meu braço. Em 1965 me formei como técnico de contabilidade. Manoel Lopes Alarcon e Antonio Perecim montaram um escritório novo na Galeria Brasil, eles estavam contratando pessoal, o primeiro que começou a trabalhar com eles foi o Brito Leite. Logo em seguida eu comecei a trabalhar com eles, isso foi em julho de 1965. Antes de me formar comecei a trabalhar. Um ano depois o Alarcon saiu da sociedade e eu entrei como sócio. Permaneci por 32 anos como sócio do Perecim. Antes de me formar, surgiu aquela máquina de sorvete italiano, unto com uns amigos compramos uma máquina dessa e íamos as festas nos sítios para vender sorvete italiano. Eu tinha um tio que ia vender produtos na área rural, no inverno ele ia buscar sardinhas em Santos e íamos vender. Nos finais de ano vendíamos uva, abacaxi.

O senhor tem uma experiência de vida bem diversificada.

Em 1964 abriu a faculdade de economia e administração na Unimep. Em 1967 comecei a fazer a faculdade, em 1970 me formei em 1970, em 1971 passei a lecionar no curso de graduação. Em 1986 fiz o curso superior de ciências contábeis. Até 1985 dei aula no curso de graduação. A partir desses anos dei aula no curso de pós-graduação até 2009, quando vim trabalhar na Prefeitura Municipal de Piracicaba.

Como se deu a vinda do senhor para a Prefeitura Municipal de Piracicaba?

A ligação que eu tenho com o Prefeito Barjas Negri e com próprio Gabriel Ferrato é de mais de 30 anos. O Barjas estudou na Unimep na mesma época em que eu estudava. Nos formamos e passamos a lecionar na Unimep. Fundamos a Associação dos Docentes da Unimep.O Brajas era o presidente, eu era o tesoureiro e a Ângela Correia era a secretária. Nessa época o Gabriel começou a dar aulas na Unimep. Temos uma amizade antiga, que envolve as famílias. Sempre trabalhei nos planos de governo do Barjas, junto com ele.

O senhor exerce qual secretaria?

Sou Secretário de Governo, cuido das relações do prefeito com as demais secretarias. Algumas vezes um problema envolve mais de uma secretaria, quando isso acontece faço essa ligação.

Uma espécie de Casa Civil?

Mais ou menos isso.

O senhor se considera um estrategista?

Eu gosto e ficar equacionando, montando as coisas como irão acontecer. Sou inimigo do imponderável. Gosto de fazer tudo de forma planejada. Gosto de prever o que irá dar certo e o que não irá dar certo também. Participei dos planos de governo do Thame, do Umberto, do Barjas. No primeiro mandato do Barjas eu era presidente da ACIPI, por isso não vim trabalhar com ele na prefeitura. Fui um dos fundadores do PSDB em Piracicaba, juntamente com o meu sócio Perecim, o Barjas, o Thame.

O gosto do senhor pela política sempre existiu?

Sempre fui ligado ao setor público. Fui Conselheiro do Conselho Regional de Contabilidade onde tive todos os cargos até chegar a ser presidente do conselho. Fui para o Conselho Federal de Contabilidade, para ocupar esses cargos tive que ser eleito.

Como surgiu a indicação do senhor como pré-candidato á Prefeitura Municipal de Piracicaba?

Quando vim para a prefeitura, meu objetivo era trabalhar por quatro anos com o prefeito Barjas. No meio do ano de 2009 começou-se a falar-se em sucessão. O Barjas disse: “O meu indicado para o diretório vai ser um dos meus secretários”. Todos os secretários eram passíveis de serem indicados. As pessoas que me conhecem, conhecem as realizações que fiz com meu trabalho, passaram a me ver com olhos diferentes, com isso criou-se um clima propenso á minha indicação. Na minha secretária tomo conta de um setor interessante, que é o orçamento participativo. Trabalho muito com pessoas da periferia, associações de bairros. O que a principio era apenas comentários, juntamente com o apoio dessas pessoas, a idéia da indicação para a candidatura foi criando corpo. Simultaneamente foi diminuindo o número de secretários pré-candidatos. Há uns seis meses o prefeito disse que seria eu ou o Gabriel. Eu não vim à prefeitura com a intenção de tornar-me candidato. Os fatos se deram de forma espontânea e natural.

Entre o senhor e o Gabriel o prefeito Barjas mostra alguma preferência?

Não sei se tem. Apesar de nós dois termos uma ligação muito forte com ele, o Gabriel esteve mais junto dele em outros trabalhos. Na política o Gabriel esteve com ele em Brasília, no Governo do Estado, na política eles tiveram uma proximidade maior.

Isso não tem um peso na decisão do prefeito em indicar o próximo candidato do partido à prefeitura?

Eu imagino que não. A primeira decisão é do nome que vai para o partido. O prefeito irá levar apenas um nome ao partido.

Sob o ponto de vista do senhor quais são as necessidades mais urgentes de Piracicaba?

Considero que temos três pontos de importância mais relevantes e que dependem da ação da prefeitura: o primeiro ponto é a saúde, o prefeito Barjas fez muita coisa, mas tem que ainda se fazer mais, tem que dar continuidade ao que já foi feito e dar uma atenção especial á saúde.

Em quaisquer pais do mundo, inclusive Estados Unidos, a questão saúde é a eterna luta por busca de melhorias.

Em alguns casos o paciente usa o serviço de saúde de forma errônea. Em Piracicaba com a construção do novo hospital deverá melhorar muito a questão da saúde, mas ele sempre terá que receber uma atenção especial. O segundo ponto importante é referente a educação, principalmente no que se refere a creche voltada a crianças de zero a três anos de idade. Temos que ampliar as existentes e eventualmente construir algumas outras. O terceiro ponto é dar continuidade ao tratamento de esgoto, que com a nova estação estamos indo para 70% de esgoto tratado e temos que atingir 100%.

Com tantos recursos hídricos que Piracicaba tem, por que se consome um alto volume de água em galões vinda de fontes minerais?

Penso que isso acabou sendo um vício por imitação, qualquer filme de qualquer país exibe seus artistas usufruindo de água mineral, de garrafa, de galão. Criou-se em Piracicaba um mito de que a água mineral é superior a água tratada. O pessoal esquece que a água tratada de Piracicaba se não é a melhor é uma das melhores do Brasil.

Só que ela tem um sabor acentuado.

Isso é por conta do tratamento. É uma questão cultural. As empresas hoje estão colocando equipamentos que recebem a água diretamente do encanamento, oferecendo a água na temperatura desejada. Pode ocorrer de ao ingerir uma água tida como mineral, sem procedência conhecida, ser pior no aspecto qualidade e higiene do que a água tratada. O Semae exerce um controle rigoroso em todos os pontos onde a água passa, possui um laboratório com os mais modernos recursos.

Quais são as principais diferenças entre a administração de uma empresa privada e a de uma empresa pública?

É diferente em algumas características. Na empresa priva a tendência da tomada de decisões são conseguidas com maior velocidade. Geralmente são comitês pequenos que tomam essas decisões, seja a diretoria, o presidente. Na administração pública você está trabalhando e tratando com recursos públicos. Isso implica na existência de alguns mecanismos de proteção para que esses recursos sejam bem administrados. Por conta disso temos a legislação. A lei de responsabilidade fiscal. Isso faz com que a administração publica seja aparentemente morosa.

Como o senhor vê a Piracicaba de hoje?
Apesar de para os padrões do Estado de São Paulo, Piracicaba não é uma cidade grande, temos 367.000 habitantes, é uma cidade que hoje está vivendo um período econômico bastante forte em termos de negócios. Tradicionalmente Piracicaba não teve grandes crises, mesmo nas [épocas em que tivemos crises na economia, crise internacional. Isso porque ela sempre teve uma economia bastante diversificada. A principal crise que atingiu Piracicaba foi na década de 70, quando tivemos o problema com o Proálcool. A partir daí as empresas mudaram e diversificaram. Todas as empresas que atuavam no setor de açúcar e álcool passaram a atuar também em outros setores. A partir daí foram surgindo novos negócios na cidade que levaram à essa diversidade. É uma cidade que tem um padrão econômico bastante alto, tem uma empregabilidade muito grande, isso faz com que a renda per capita do município seja alta. Por conta disso hoje estamos com mais de 250.000 veículos na cidade, que acaba trazendo alguns transtornos no aspecto de mobilidade urbana.

Há algum projeto para transporte de massa sem ser ônibus?

Hoje no governo não tem. Para você mudar o tipo de transporte saindo do ônibus, existe uma etapa intermediária, acho que essa etapa teremos que chegar nos próximos governos, trata-se da melhoria do transporte por ônibus, está na hora de pensar em fazer o transporte urbano melhor e mais rápido. Isso implica em pensar em corredor exclusivo de ônibus. Se não for nos moldes das grandes cidades, pelo menos em determinados períodos temos que fazer com que os ônibus cheguem mais rapidamente, principalmente aqueles que fazem ligação com os terminais.

O transporte ferroviário, tais como monotrilho, metrô suspenso não são viáveis?

Tudo isso é muito caro, e a exceção do metrô, que pode ser considerado um transporte de massa, essas outras modalidades de transportes são caras e não transportam um grande volume de pessoas, são medidas que não serão tomadas enquanto não chegarmos a 1.000.000 de habitantes, que deve demorar muito tempo. Há um problema adicional, que é a transposição do Rio Piracicaba. Isso cria condições adversas para outras formas de fazer a ligação da cidade. Temos um pedaço de uns 5 a 6 quilômetros, que vai da Ponte do Mirante até a Ponte do Morato, que você não consegue transpor o Rio Piracicaba para fazer vias de comunicação. Da ponte do shopping em diante é tudo área da ESALQ. Sobra o lado da região do Bongue, onde temos a Ponte do Caixão. Provavelmente terão que sair outras ligações. A cidade tem que investir em criar alternativas de ligações da cidade, isso é o que o Prefeito Barjas Negri vem fazendo em seu governo. É criar outros mecanismos, mais avenidas no entorno da cidade para tirar mais volumes de veículos que só passam pela cidade, esse volume é muito grande. Os caminhões terão o anel viário para utilizarem. Esse anel deve estar pronto até fevereiro de 2013. Se o transporte público for mais rápido e mais confortável, muitas pessoas que hoje utilizam seu veículo para se dirigirem ao centro da cidade usarão o ônibus.

Vir ao centro de carro já está ficando impraticável.

Com a instituição dos parquímetros, estacionar não é problema, porém há períodos do dia em que o fluxo de veículos da Vila Rezende para o centro é complicado, assim como na Avenida Vollet Sachs para quem se destina ao Piracicamirim é complicado. No sentido inverso ocorre a mesma coisa. Hoje temos terminais urbanos espalhados pela cidade toda, se fizermos a ligação entre esses terminais com maior velocidade já teremos uma grande melhora.

O funcionário público recebe algum tipo de motivação para aprimorar seu desempenho?

Isso sempre foi uma falha muito grande no poder público e aqui em Piracicaba. Começamos atrasados, começamos um trabalho no inicio deste ano, até então a única coisa que a prefeitura tinha para oferecer era bolsa de estudos. Através da Secretária de Administração começamos um trabalho interno de fazer a motivação e treinamento para o funcionário. Como fazem as empresas privadas, temos que trazer tudo que for bom da área privada para a área pública, isso é viável.

O crescimento de uma cidade pode deixá-la menos humana?

Depende de como se dá esse crescimento. Você pode ter o crescimento onde os recursos humanos são oferecidos pelo pessoal que já reside na cidade, está vindo uma montadora de veículos para Piracicaba, acreditamos que 80% das pessoas que serão admitidas são profissionais já residentes em Piracicaba. No início achavam que iriam vir 200.000 coreanos para a cidade, quando a fábrica estiver funcionando irão ficar 100 a 150 coreanos em Piracicaba.

Foi veiculada a noticia de que seria montada uma verdadeira cidade coreana no município de Piracicaba.

Trata-se de pura lenda. Isso interessa para quem é proprietário de terras naquela região próxima de onde irá se instalar a fábrica e quer valorizar sua propriedade. A fábrica irá ter 5.000 funcionários qualificados. É ai que está a diferença, crescer com empregos qualificados. Diferente do período em que cresceu a produção de açúcar e álcool, que trazia trabalhadores sem qualificação nenhuma. Acabavam ficando na cidade, sem qualificação profissional não conseguiam arrumar novos empregos. Até hoje temos problemas originados naquela época, favelas que necessitam ser urbanizadas. Já fi feita muita coisa nesse sentido, um exemplo é a Favela Cantagalo que hoje é um bairro urbanizado. Temos que continuar fazendo isso, é uma ação que demanda um volume grande de recursos. Só o orçamento do município não dá para fazer tudo de uma só vez.

Piracicaba instituiu em determinadas ruas câmaras de segurança, algumas estão desativadas, qual é o motivo?

Todas as câmaras de segurança estão sendo controladas no Centro Cívico. Não são passiveis de terceirização por ter informações sigilosas. Na iniciativa privada quando algo se quebra solução é mais rápida do que no setor público. ´

Temos diversos logradouros públicos onde pessoas e instituições imbuídas de sentimentos humanitários oferecem alimentos aos desabrigados. Não há um local que ofereça melhores condições para que essas ações ocorram?

No ano passado inteiro tentamos convencer essas entidades que o melhor que tem que ser feito não é levar a comida a esses logradouros, e sim nas sedes das entidades, chegamos a oferecer os prédios onde se realizam os varejões municipais. Essas ações da forma como são realizadas acabam acentuando o problema social. Infelizmente não conseguimos chegar a um bom termo com essas entidades. O coração fala mais alto do que a razão. A razão seria conduzir essas pessoas a um local e fazer para elas tudo que for possível nesse local. Com isso quem acaba sendo cobrada é a prefeitura.

A arrecadação municipal está cobrindo as despesas do município?

Piracicaba é hoje uma das cidades que está mais equilibrada no Estado de São Paulo, tanto que estamos investindo 15% do orçamento, coisa que nenhum município brasileiro consegue hoje.

Os famigerados marqueteiros político podem influenciar uma eleição?

Na eleição municipal, pessoalmente eu acredito que não. Nas eleições estaduais e federal acredito que sim porque o povo fica mais distante do candidato. No município a ação do candidato é que faz com que a coisa funcione.

O senhor acredita que dá para incrementar a vocação turística de Piracicaba?

Acho que é possível principalmente nessa região da orla do Rio Piracicaba. Há um potencial muito grande pra se trazer mais turistas para a cidade. E também o turismo regional, onde há integração de cidades vizinhas.

Há uma grande deficiência hoteleira em Piracicaba?

Esse é um grande problema, estamos incentivando redes de hotéis para investirem em Piracicaba. Temos a necessidade de no mínimo mais 1.000 leitos. Piracicaba não tem um lugar para realizar um evento fechado de porte. Quando realizamos eventos como o SIMTEC os participantes acabam se hospedando em cidades vizinhas. Isso é um limitador do turismo de negócios.

Quantos funcionários a Prefeitura Municipal de Piracicaba tem?

São por volta de 6.000 funcionários. Um grande volume desses funcionários, cerca de 60%, está no setor da educação, em seguida na saúde.

O grau de satisfação e realização pessoal do funcionário público municipal pode ser melhorado?

Para que isso ocorra acredito em dois fatores, o primeiro é treinamento, motivação, criar expectativa no seu trabalho, o segundo é o financeiro, não adianta ter só o motivador financeiro. A estabilidade do funcionário traz benefícios e malefícios. Como beneficio tem a estabilidade garantida para não ficar ao sabor das mudanças políticas que ocorrem. Por outro lado a estabilidade oferece o risco do funcionário permanecer em uma zona de conforto. Para mudar essa situação só criando mecanismos que o motivem.

Há uma verdadeira febre de automação empresarial, na área de serviços os bancos são vorazes consumidores de tecnologia em detrimento do contrato de funcionários. Há esse tipo de risco no serviço público?

É muito difícil fazer isso no serviço público. Pode ser melhorada a tecnologia, mas automatizar é muito complicado. Na área da educação pode ser melhorada a tecnologia, o mesmo ocorre na área de saúde, com melhores resultados, mas automatizar o serviço dificilmente ocorrerá.

Na área burocrática, caso necessite, por exemplo, de um alvará, posso conseguir sem me deslocar até a prefeitura?

Nesse aspecto sim e a prefeitura está trabalhando nesse sentido. O Sistema Integrado de Licenciamento permite que tenha uma licença, saia uma inscrição em 24 horas.

Como anda a segurança em Piracicaba?

Depende de como ela seja vista. Estatisticamente a cidade vai bem. Entretanto a população tem a sensação de falta de segurança. O pessoal cobra a prefeitura, só que a Guarda Municipal não pode fazer segurança, ela existe para zelar o próprio municipal, ela auxilia as polícias, tanto civil como militar. A maioria dos homicídios ocorridos em Piracicaba não permitia uma ação preventiva, em boa parte são passionais. A maior fiscalização nas ruas permite evitar atos criminosos. Uma grande parte dos roubos efetuados é em decorrência da utilização de drogas por parte dos seus autores. É um problema que atinge não só o Brasil como os demais países.

O senhor pretende construir alguma ponte sobre o Rio Piracicaba?

Se for necessário sim. Temos a necessidade de construir sobre o Rio Corumbatai, que ligue o Bairro IAA com o outro lado da cidade. Se tivermos tempo e dinheiro essa será uma ponte que deverá ser construída.

Como prefeito o senhor pretende conceder audiência pública em determinado período de algum dia da semana?

Acho que isso é necessário, ainda não pensei onde seria realizado. Talvez uma prefeitura itinerante realizada uma vez por semana poderá ser uma forma de estar junto aos reclamos da população. O deslocamento da população que quer ser ouvida é um grande problema. Caso queira que poucas pessoas participem a reunião pode ser feita na prefeitura. Se quiser que muitas pessoas participem terei que ir até a região onde moram. Só que aí poderá ocorrer o imponderável. De qualquer forma acho que deve haver um canal direto do prefeito com a população, isso pode ser feito por uma equipe devidamente qualificada. As pessoas querem ser atendidas, ouvidas. Na minha secretaria, a pessoa apareceu na porta, se eu não estiver em alguma reunião ela entra, senta e conversa. Outro dia veio uma senhora, ficou uma hora e meia conversando comigo, contou sobre sua família, desabafou, foi embora e eu não fiquei sabendo o que ela queria. Ela saiu feliz, ligou depois agradecendo. Nosso mecanismo de comunicação com o munícipe ainda é muito falho. O pessoal vê as pontes que foram construídas, mas poucos sabem das 41 escolas que foram construídas pelo prefeito Barjas e muitas outras obras em todas as áreas. Três áreas vêm sendo incentivadas cada dia mais, turismo, cultura e esporte e deverão continuar a receberem incentivos no próximo governo. Principalmente o esporte de massa, praticado na periferia.







sábado, abril 28, 2012

ARNALDO SORRENTINO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 28 de abril de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
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                                                                                                    Foto by JUNASSIF

ENTREVISTADO: ARNALDO SORRENTINO
Arnaldo Sorrentino nasceu a 20 de março de 1940 no bairro do Tucuruvi em São Paulo. Seu pai Antonio Sorrentino foi inspetor na empresa General Motors do Brasil. Sua mãe Matilde Sarao Sorrentino por determinação médica deveria sair de São Paulo e ir á uma localidade com um clima mais saudável. A cidade escolhida por seus pais foi Águas de São Pedro. Isso foi no tempo em que funcionava o cassino no Grande Hotel em Águas de São Pedro, seu pai foi trabalhar como chefe geral das oficinas do Grande Hotel, onde residia com a família. Nessa época Arnaldo tinha cinco anos de vida. Infelizmente seus pais não se acostumaram em Águas de São Pedro, mudaram para Piracicaba. Aqui, seu pai montou uma pequena oficina e passou a trabalhar com motor de partida e gerador de automóvel. O curso primário Arnaldo estudou no Grupo Moraes Barros, o ginásio ele estudou no Colégio Dom Bosco. Interrompeu seus estudos para trabalhar e ajudar no sustento da família, no início fazia serviços gerais, o popular “bico”. Em 1958 foi admitido na empresa Mausa Metalúrgica e Assessórios Para Usinas Ltda. Onde permaneceu até 1969. Começou como apontador e ao sair da empresa era Chefe Geral dos Almoxarifados. A Mausa funcionava na Rua Santa Cruz, paralela a linha do trem da Sorocabana. Nessa época ele morava com seus pais na Rua Treze de Maio, depois mudaram para uma casa localizada na Rua Gomes Carneiro, próxima à Santa Casa de Misericórdia. Com seu ordenado Arnaldo mantinha a família composta pelos pais já com a saúde precária e sua irmã Josefina que cuidava de ambos. Outros três irmãos faleceram muito pequenos. Mais tarde sua irmã Josefina passou também a trabalhar em outro emprego. Em 1965 Arnaldo formou-se como Contador pela famosa Escola do Zanin. Seu sonho era fazer advocacia, só havia faculdade no período diurno. Em 1966 preparou-se de forma autodidata para prestar o vestibular. Prestou na PUC de Campinas. Fez carreira como educador, foi diretor titular da Escola Técnica Estadual Coronel Fernando Febeliano da Costa, foi Delegado Regional de Ensino. Casado com Irani Maria Hellmeister Sorrentino é pai de dois filhos Leonardo Hellmeister Sorrentino e Arnaldo Hellmeister Sorrentino.

O senhor foi estudar direito em que faculdade?

Um amigo, representante da Shell disse-me que iria abrir um curso de direito em Espírito Santo do Pinhal, montado por professores da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), também conhecida como Faculdade de Direito do Largo de São Francisco comandados pelo então ministro Gama e Silva. Prestei o vestibular lá, o curso era noturno.

As aulas eram todas as noites da semana?

Devo muito a uma amigo chamado Laurindo Pontim. Ele era chefe da fiscalização estadual em Limeira. Ele fez a seguinte oferta: “Arnaldo, você dorme na minha garagem.” Eu trabalhava na MAUSA, as 17hs pegava o ônibus até Limeira aonde chegava as 18h, o Seu Laurindo estava esperando com o carro. Iamos á faculdade onde estudávamos até as 23hs. Voltava para Limeira onde chegávamos por volta das 24hs. Tomava um lanche e ia dormir na garagem da casa do Seu Laurindo. No dia seguinte cedinho levantava, pegava o ônibus na esquina, vinha pra trabalhar em Piracicaba. Fiz isso por três anos. No quarto ano de faculdade juntamente com um grupo de amigos me transferi para a faculdade de direito em São João da Boa Vista, nessa época cada um de nós tinha seu carro próprio, passamos a revezar para realizar essa viagem. De Piracicaba a São João da Boa Vista a distância era de 152 quilômetros. Para Espírito Santo do Pinhal era quase a mesma distância.

O senhor praticamente nem via sua família?

Quase nem via. Em 1971 me formei. Comecei a advogar em 1972. Concomitantemente com a profissão de advogado comecei a lecionar, era necessário ter o diploma como professor de português eu fui fazer Filosofia, Ciências e Letras, estudei latim, francês, e português. Estudei na faculdade em Machado, Minas Gerais. Em 1968, enquanto estava fazendo o curso de direito fui convidado a dar aula de português na Escola de Comércio Cristóvão Colombo, mais conhecida como Escola do Zanin. O diretor na época era Acácio de Oliveira Filho. Em 1972 comecei a lecionar no ensino do Estado. Comecei a dar aula de francês no Grupo Alfredo Cardoso e dava aula de português no Colégio Técnico Agrícola de Rio das Pedras. Prestei concurso, fiquei professor titular de português, meu primeiro local de trabalho já como titular foi em Paraisolândia, próximo á Charqueada. De manhã dava aula lá e noite no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo.

O senhor sempre foi muito dinamico.

Sempre dei aula no Estado e sempre advoguei. Dava 40 horas de aula por semana, de manhã e a noite, a tarde advogava. Em 1980 passei a ser advogado da Guarda Municipal de Piracicaba, função que exerci por 10 anos. Nesse mesmo período comecei a lecionar na Faculdade de Ciencias Contábeis de Rio Claro onde fui titular em Organização e Contabilidade Agrícola, Direito Agrário, em Organização e Contabilidade de Seguro e Direito de Seguro. Por 10 anos lecionei nessa faculdade. Depois passou a se denominar Centro Universitário Claretiano. Dei aula nas duas instituições, como titular.

Em que áreas do direito o senhor atuou?

Na área criminal, no tribunal do juri, cívil, família.

Como surgiu a vocação do senhor para trabalhar na área criminal?

Como eu dava aula de português adquiri uma facilidade em me expressar oralmente, ser bom orador é importantíssimo, quando lecionei português sempre fiz com que meus alunos conseguissem capacitação na área de expressão oral. Eu dava cinco aulas por semana: Uma de redação, três de gramática e uma de expressão oral.

Quando o senhor começou a fazer juri?

O meu primeiro juri foi em 1976, o Forum era na Rua do Rosário esquina com a Rua Prudente de Moraes. Foi um juri de um rapaz que atirou contra a esposa, bem em frente ao INSS. Em seguida ele tentou o suicidio. Nós o absolvemos. Sempre fiz juri com um grande amigo, Antonio Henrique Carvalho Cocenza. Quiem me convidou para fazer esse juri foi o juiz Urbano Ruiz, hoje desembargador. Convidei o Henrique, passamos a fazer juri juntos. Com seu jeito expontâneo e alegre Henrique Cocenza dizia” Somos considerados a dupla Pelé e Coutinho”. Fizemos grandes trabalhos. Dos trabalhos realizados, um foi o da mãe que se jogou no Rio Piracicaba com seus três filhos. O filho mais novo faleceu. Ela foi a juri. No primeiro absolvemos, o promotor apelou, fizemos o segundo juri e absolvemos novamente. Na época o advogado dativo não ganhava um centavo. Atualmente a justiça pública remunera o advogado dativo. ( O termo “dativo” é utilizado para designar defensor (advogado) nomeado pelo juiz para fazer a defesa de um réu em processo criminal ou de um requerido em processo civil, quando a pessoa não tem condições de contratar ou constituir um defensor).

Outro caso entre muitos, qual foi?

Eu dava aula em Rio Claro, o juiz titular de lá nos convidou para trabalhar no caso, na época o advogado dativo não era remunerado, trabalhava por amor a justiça. Ninguém queria fazer esse juri, era um cidadão já falecido, por onde ele passou ele matou muitas crianças, se não me engano foram suas vítimas 23 crianças. Em Rio Claro a polícia decobriu que foram 4 vítimas. Henrique e eu fizemos a defesa do criminoso, apresentamos a tese de que ele era inimputável por ser psicótico e totlmente incapaz. Na época até o Fantástico da Rede Globo nos entrevistou. Foi um trabalho de grande repercusão. Ele foi para o manicomio, onde faleceu depois. Esse cidadão tinha dupla personalidade, ele residia próximo a Marginal do Tietê em São Paulo, tinha família, filhos, era um pai exemplar. Mas quando ele saia se transformava.

O senhor tem algum livro escrito?

Ainda não. Fiz muitas crônicas, principalmente na Tribuna Piracicabana, devo ter feito mais de 200 crônicas. Sempre tive apoio da Tribuna, e sempre escrevi para a Tribuna.

Quantos juris o senhor já fez?

Perdi a conta. Até um certo tempo eu mantinha um controle, pegava os atestados. Com o passar do tempo deixei de lado o registro pessoal dos juris realizados. Acredito que devemos ter feito uns 200 juris nesses anos todos.

Como é o processo que antecede um julgamento?

Dentro da minha técnica de trabalho, ha casos em que acompanhamos desde o seu início, desde a polícia até a hora de fazer o juri. Há casos em somos nomeados para fazer o trabalho. Pega-se o bonde andando, lá no final as vezes. Costumo pegar o processo, xerografar o processo inteiro, faço uma análise completa do processo. Verifico tudo aquilo que possa favorecer ao indiciado, tudo que possa ser alegado em sua defesa. Apresentamos tantas teses quanto forem necessárias para absolve-lo. Desde que não sejam teses conflitantes, sejam teses compatíveis. Sempre lutando pela absolvição do indiciado, ao contrário da promotoria pública. O promotor público acusa, mas dependendo do caso ele pode pedir a absolvição. A defesa não pode pedir a condenação, sob hipotese nenhuma. Tem que defender o indiciado, senão o juiz pode determinar que ele está indefeso e ai anula o juri.

No Brasil há quem critique a ação dos advogados, que foram instruidos desde a faculdade, a realizarem uma autêntica disputa, as vezes até mesmo com envolvimento pessoal dos advogados das partes, ao invés de procurarem uma conciliação que seria mais eficaz aos seus clientes.

Nos paises desenvolvidos o que impera é a advocacia preventiva. Não se pratica nenhum ato sem que a pessoa esteja assistida por um advogado. No Brasil todo mundo acha que ja nasce sendo advogado, entende de tudo, quando acontece um problema o advogado irá ter que defendê-lo naquilo que ele praticou. No Brasil funciona exatamente a advocacia atuante. Quando o caso já está concretizado, há dificuldades de conciliação. Com os tribunais conciliatórios melhorou bastante. O próprio tribunal de justiça pede ao advogado que se pronuncie se há a possibilidade de conciliação ou não.

Em alguns casos, esses tribunais conciliatórios são realizados de forma a cumprir uma agenda ou alimentar alguma estatísca de forma distorcida, onde de fato não há nenhuma intenção de conciliação entre as partes?

Estamos caminhando ainda para isso, existe um propósito de que nós consigamos chegar em um ponto satisfatório.

De uma forma geral, o profissional de direito está amadurecendo?

Está sim. Hoje existe a especialização. Quando eu comecei a advogar o advogado era um clinico geral. Tinha que pegar a maquina de escrever e lá realizar seu trabalho. Hoje temos advogados previdenciários, trabalhistas, criminalistas. Cada um atua em sua respectiva área.

Piracicaba teve grandes nomes de advogados generalistas?

Teve Jacob Diehl Neto, Sinhô, Cruz, João Basílio, e tantos quantos outros, que deixamos de citar os nomes para não cometermos injustiça de esquecer o nome de alguém. Mas a advocacia mudou muito, meu filho Leonardo Hellmeister Sorrentino já advogado há 10 anos, atua na Baixada Santista, ele gosta de atuar na área de crime, mas na parte empresarial. O advogado jovem hoje pauta por uma determinada área.

O senhor atua junto a Câmara Municipal de Piracicaba?

Atuo como advogado do Presidente da Câmara Municipal, João Manoel dos Santos. Sou advogado da Câmara já há seis anos e meio.

O senhor é religioso?

Sou praticante da Igreja Messiânica, que considero como uma filosofia. Sou diretor da escola Centro Educacional Evangelho Vivo.
O senhor é presidente do Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba?

Participo do Conselho há mais de 10 anos, eleito pelos meus pares sou Presidente do Conselho. O Conselho tem mandato de um ano, prorrogável por mais um ano, estou no período da prorrogação, meu mandato vai até dezembro de 2012. Meu vice-presidente é o economista Edie Brusantin, ex-professor da Unicamp, o meu primeiro tesoureiro é Gabriel de Oliveira Duarte, empresário. O meu segundo tesoureiro é o advogado Antonio Agostinho Caporali de Souza o meu primeiro secretário é José Chabregas, professor, o meu segundo secretário é Antonio Carlos Fernandes, ex-funcionário da Caterpillar. É um trabalho altruista. O Conselho existe desde 24 de abril de 1956, fundado por três piracicabanos: Dr. Fortunato Losso Neto, Dr. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos, Dr. Alcides Di Paravicini Torres. São 56 anos sempre lutando pelos grandes empreendimentos de Piracicaba. Devo salientar que temos o companheirismo e a participação de tres grandes entidades de Piracicaba: ACIPI, nossas reuniões se realizam todas as segundas terças-feiras do mes nas depeneências da ACIPI, A Tribuna Piracicabana, através do nosso prezado Evaldo Vicente, sempre nos dando apoio, sempre trabalhando, e o Clube Coronel Barbosa que sempre cede suas instalações para eventos.

Atualmente quantas entidadades são representadas pelo Conselho?

Nesses anos todos, de acordo com o livro publicado narrando nossa trajetoria, tivemos a participação de mais de 200 entidades. Hoje participantes efetivas são em torno de 33 entidades.

O senhor acredita que falta divulgação da atuação do Conselho?

A Tribuna Piracicabana divulga muito nosso trabalho, o mesmo não ocorre com outros veículos de comunicação da nossa cidade.

Há uma certa alienação das entidades com relação ao Conselho?

A própria dinamica dos dias atuais sobrecarregam as atividades do individuo. O Conselho embora seja apolítico influencia nas decisões tomadas com relação a cidade. A Rodovia do Açucar, a Faculdade de Odontologia de Piracicaba, nasceram dentro do Conselho. A implantação dos primeiros 100 hidrantes na cidade. Normalmente formulamos uma proposta e vamos pedir a atuação nesse sentido por parte do poder público no ambito municipal, estadual e federal. O Conselho tem uma ação tramitando contra o Complexo Cantareira, no sentido de reverter esse quadro e melhorar as condições para Piracicaba. O Conselho está participando desse complexo que torna o Rio Piracicaba navegavel com o porto em Artemis. Por lei municipal o Conselho faz parte de todos os conselhos da cidade.

Existe instituições sememelhantes ao Conselho Coordenador das Entidades Civis de Piracicaba em outras localidades?

Eu desconheço alguma outra cidade que tenha um Conselho Coordenador das Entidades Civis.


                                        ENTENDA COMO FUNCIONA O JURI
                                        (CASO NARDONI)


JURADO É DISPENSADO POR ESTAR DE BERMUDA NO FORUM.












sábado, abril 21, 2012

Sérgio (Tapióca) de Jesus

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS

JOÃO UMBERTO NASSIF

Jornalista e Radialista

joaonassif@gmail.com

Sábado 21 de abril de 2012

Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/

http://www.tribunatp.com.br/

                                           Sérgio (Tapióca) de Jesus         Foto by JUNassif

 

ENTREVISTADO: SÉRGIO DE JESUS (TAPIOCA)

Piracicaba tem seu nome associado ao Rio Piracicaba, ao XV de Novembro, a ESALQ, ao Lar dos Velhinhos. No entanto uma febre espalhou por muitas cidades, inclusive em São Paulo, veículos equipados com alto-falantes de onde podia ouvir-se: “Pamonhas, pamonhas, pamonhas! Pamonhas fresquinhas, o puro creme do milho, pamonhas de Piracicaba!”. Com isso associou o nome da cidade com a pamonha. Um grupo de irmãos veio da Bahia e passou a produzir e vender tapioca, em pouco tempo agregaram bandas tocando músicas típicas transformando uma praça em um autêntico show a céu aberto. Realizada anualmente a Festa da Tapioca já está em seu quarto ano, além dos nordestinos e nortistas que compõe elevado percentual da população, o piracicabano de famílias tradicionais passou a conhecer e consumir a tapioca, incrementada no cardápio de muitas lanchonetes. Sérgio Tapioca, ou simplesmente Tapioca, é um desses irmãos, ele identificou-se tanto com a festa que incorporou o nome do alimento ao seu nome. A Quarta Festa da Tapioca será realizada nos dias 4, 5e 6 de maio próximo. Segundo Tapioca a estrutura preparada é para receber nesses dias 15. 000 pessoas.

Nascido a 9 de setembro de 1979, Sérgio de Jesus é cormariense, gentílico dos que nascem em Coração de Maria, interior da Bahia. Filho de Elizeu de Jesus e Carmelita Pinheiro de Souza. Aos 16 anos foi para Salvador, junto com alguns de seus irmãos onde trabalhou nos Laticinios Candibom, fabricando queijos, requeijão, em seguida foi para Camaçari onde trabalhou por mais dois anos. Em 1999 veio para Piracicaba onde seus irmãos já se encontravam. Por sete anos foi funcionário da Caterpillar, atualmente tem sua empresa que presta serviços de eletricidade e pintura.

Como surgiu a Festa da Tapioca?

Meus irmãos e eu em um sábado a noite fizemos uma tapioca em uma chapa, meu irmão tem um trailer nessa praça.

Como é feita a tapioca?

A massa é feita com a mandioca descascada e ralada, a mandioca pode estar enxuta ou molhada, em uma época da lua ela irá estar molhada, ela não vai dar a liga necessária. Após ralar a mandioca essa massa é lavada, dali sai o amido e a àgua, após 10 a 12 horas pelo processo de decantação o amido ficará no fundo do recepiente e a àgua que fica na parte superior será jogada fora. O amido é colocado para secar ao sol, após ficar granulado ele será peneirado e será adicionado o sal. Mesmo a tapioca doce passa por esse processo. A essa farinha muito fina de amido adiciona-se água, sal ou açucar, tem-se a massa que é colocada em uma fina camada em uma “trempe” como denominamos na Bahia a frigideira ou caçarola, ou se vai ser feita no forno. A semelhança de quem vai fazer uma panqueca, colocamos o recheio sobre metade da superfície, a outra metade será dobrada sobre a mesma. O recheio pode ser os mais diversos possíveis, atualmente temos mais de 150 tipos de rechios na Festa da Tapioca.

Quais são os recheios mais procurados?

Chocolate com morango, frango com catupiry e a de carne seca são as três mais procuradas. Na festa além de tapioca tem outros pratos como acarajé, milho cozido, panqueca, cuzcuz. Neste ano teremos 5 barracas com tapioca, cada uma com 5 a 6 chapas para poder atender o volume de pessoas.

A que horas será realizada a Festa da Tapioca?

A abertura será ás 18 horas do dia 4 de maio com a apresentação do Laércio do Acordeom com o forró Pé De Serra, tipo universitário. A Prefeitura Municipal dá apoio ao evento, envia o palco, a aparelhagem de som, tenda, energia elétrica. Nesse dia a festa vai até a meia noite. Nos dias de festas, todas as noites nós fazemos sorteios de cestas de café da manhã, a Cristina Ballistiero nos dá um grande apoio. A data de realização da festa é bem proxima ao Dia das Mães, por isso o meu foco são as cestas de café da manhã. No sábado a festa começa as 14h e vai até as 2h da manhã de domingo, com a apresentação inclusive de roda de samba. No domingo começa as 10h30 e vai até as 22h. Ao todo são 30h de festa. É um evento muito voltado para as famílias.
 estacionamento de veículos é fácil?
O estacionamento é pago, o valor é repassado para uma empresa que cuida da segurança. Se a pessoa for de moto estaremos oferecendo um local para que deixe o seu capacete e circule mais a vontade. Teremos três locais de entrada para o evento, e em cada uma delas será instalado esse recinto para guardar os capacetes. A Praça do Rezendão tem como referência a Rua Terenzio Galesi, no Bairro Algodoal. Para as crianças oferecemos os brinquedos como pula-pula, tobogã e outros.
As pessoas ali reunidas dançam?

Dançam, uns embaixo das tendas outros em plena praça.

A Festa da Tapioca é freqüentada só por pessoas residentes de Piracicaba?

Recebemos pessoas de cidades vizinhas.

Você esperava que essa festa tomasse as dimensões que ocupa hoje?

Nem imaginava que ela chegasse ao tamanho atual. Recebemos grande apoio da mídia desde a primeira festa que realizamos.

O azeite de dendê é utilizado como?

Principalmente na fritura do acarajé. O azeite é feito a partir da retirada do coquinho do cacho já maduro. Cozinha-se em uma panela esse coquinho, é batido em um pilão para que ele se quebre e solte seu óleo que depois será coado.

É um óleo muito forte, quem não está acostumado pode sofrer alguma conseqüência?

Depende da quantidade que a pessoa comer, se não estiver acostumado a culinária do nordeste, ela poderá sofrer inconveniências digestivas. O acarajé por si só é uma alimentação muito forte, o ideal é que a noite a pessoa coma no máximo 2 acarajés, durante o dia ela pode comer mais, isso pelo fato de ser uma comida pesada.

Você quando pode visita sua terra natal?

Já voltei diversas vezes. Meu pai tem outro sítio em Irará onde cria umas quarenta cabeças de gado.

Qual é a sua religião?

Eu sou católico, a Festa da Mandioca não tem envolvimento com nenhuma religião. É um evento para todos.

Você passa a imagem de uma pessoa muito segura. Em sua opinião isso é fruto da educação recebida em casa?

O meu pai dizia: “Vai para a escola, quando voltar vai ter isso para fazer”. Terminada a tarefa ele dava outra nova. Ele não deixava nós ficarmos sem fazer nada, aos domingos ele mesmo cortava o nosso cabelo, meu e de mais 9 irmãos. Se tivesse um jogo de futebol, íamos, quando acabava tínhamos que voltar logo para casa. Meu pai sempre foi disciplinado e impunha isso para nós também.

Você tem filhos?

Tenho uma filha, ela mora em Camaçari, chama-se Tainá, sempre tive o projeto de trazê-la para Piracicaba.

Atualmente você cuida só da Festa da Tapioca, além de trabalhar na sua empresa?

Surgiram novas propostas para trabalhar em eventos, além de participar do Centro de Tradições Nordestinas.

Você é muito festeiro, isso é uma característica do baiano?

Eu gosto muito de festas, principalmente a parte dos bastidores. É uma grande emoção sentir que aquele povão todo reunido é fruto do meu trabalho de coordenação de outros colaboradores. Ninguém faz nada sem me perguntar. Desde a quarta feira já me envolvo com a Semutran para o bloqueio de ruas, montagem do portal da festa, várias autoridades municipais já se fizeram presentes na Festa da Tapioca. È o jeito baiano de ser, o espírito festeiro.

Porque o baiano é um povo tão alegre?

Acho que é o clima do lugar, lá na segunda feira já tem a Lavagem do Pelourinho, na terça feira a Lavagem do Bonfim, são dias de festas, tradição já da cidade de Salvador. Já pulei carnaval em Salvador, são 48h de festa continua, só ia para casa para tomar banho, comer e voltar para o carnaval.

Você é uma pessoa estressada?

Normalmente não sou, mas no fim acabo sendo, o tamanho de um evento como esse, muita gente “buzinando” na sua orelha. Já peguei o jeito paulista de ser, de vez em quando me pego falando sozinho. Tenho dois celulares mais o Nextel. No cotidiano a minha imagem em Piracicaba só é vinculada a Bahia pelo sotaque. Quando vou a minha terra natal para visitar a minha família o pessoal me diz: “- Chegou o paulista!”. A primeira Festa da Tapioca, para que fizesse acontecer e permanecesse eu sofri muito. Fiquei várias noites sem dormir.

Na verdade você agita tanto a organização interna como externa da festa?

Tenho muita motivação para orientar os procedimentos, desde um alvará na prefeitura, como as condições de cada detalhe de organização. Dia 25 próximo será realizada uma entrevista coletiva para a imprensa, inclusive com a participação do pessoal da EPTV, filiada a Rede Globo. O Silvestre da Secretaria de Turismo está apoiando muito o nosso evento. Teremos 14 bandas de musica se apresentando.

Você tem conhecimento de outra cidade que faça a Festa da Tapioca?

A cidade de Indaiatuba realizava uma festa tendo a tapioca como atração principal, mas pelo que sei não realiza mais. Acho que Piracicaba é a única cidade com evento dessa natureza.

Você ganhou um apelido?

Agora é Tapioca! O pessoal me chama de Sérgio Tapioca. Atualmente temos estabelecimentos comerciais que vende muita massa para tapioca, essa identificação da cidade com o alimento é em decorrência dessa festa. Onde você passa hoje tem tapioca. Quando iniciou a realização dessa festa até então nem se falava dessa comida. Eu me realizo com a organização e apresentação dessa festa.

Em sua opinião essa festa mudou os hábitos alimentares de uma cidade?

Mudou sim. Em muitos lugares por onde passo eu vejo anunciado: “Temos tapioca”, isso não existia. O “Bem Bahia”, “O Paraíso da Tapioca”, além do meu irmão Bonifácio que faz na Praça Rezendão são locais onde o consumo da tapioca é muito expressivo.

Quantos irmãos da sua família moram em Piracicaba?

São os seguintes: Veríssimo, Leonardo, Cosme, Bonifácio, Gregório e eu. Acabamos todos envolvidos nessa Festa da Tapioca, no dia a dia eles tem outras atividades, apóiam na hora da festa.

Você tem alguma aspiração política?

Não tenho envolvimento direto com política, às vezes apóio alguém ou alguma solicitação. Mas não tenho pretensão política.

Você tem algum retorno financeiro com a festa?

No ano passado tomei quase três mil de prejuízo com a festa, fiz um contrato com uma empresa de segurança, ela não cumpriu, tive que contratar outra empresa, com urgência. Ela não me dá lucro, é mais para manter a tradição nordestina. Tenho que trabalhar muito para a festa não dar prejuízo. O pessoal diz: “Negão tá com a Kombi nova porque está ganhando dinheiro com a Festa da Tapioca”. Tenho uma Kombi 2008, só que financiada. A tapioca não dá esse dinheiro que o pessoal imagina. Tenho projetos para fazer da tapioca minha atividade principal.

Você acredita que esteja ajudando a trazer um habito alimentar e cultural do nordeste para Piracicaba?

Acredito que sim, o Minas Fest Piracicaba, evento realizado pelos mineiros que residem em Piracicaba, neste ano terá um local oferecendo tapioca. Eles passaram a gostar do alimento que muitos experimentaram em Piracicaba.

Você acredita que um dia ouvirá alguém anunciando pelas ruas “Tapioca, tapioca, tapioca de Piracicaba”?

Acredito sim, que vamos chegar lá. Nem na Bahia tem tanto falatório da tapioca. Lá é conhecida como beijú. Temos até um link na internet para quem está fora da cidade poder acompanhar a festa. Sou muito grato ao Prefeito Barjas Negri e a Prefeitura Municipal que sempre deu uma força para que o evento se realizasse, ao Sedema, a Setur, Secretaria de Obras, Semutran, Policia Militar, Guarda Municipal, Polícia Civil. Sem todos esses apoios essa festa não alcançaria a dimensão atual.












sexta-feira, abril 13, 2012

PAULO EDUARDO TEMPLE DELGADO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 14 de abril de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: PAULO EDUARDO TEMPLE DELGADO

Sua mãe pensou em da-lhe o nome de Paul Simon Temple, mas ficou sendo Paulo Eduardo Temple Delgado. Bisneto de ingleses, nascido a primeiro de setembro de 1959, em Rio Claro, o comunicador Paulo Eduardo é filho de Dayse Mary Temple Delgado, bibliotecária e do militar Waldir Oliveira Delgado. Desde garoto Paulo queria falar no rádio, ainda muito novo ia com seus coleguinhas ao campo de futebol, enquanto eles jogavam futebol, Paulo com uma latinha de extrato de tomate usada à semelhança de um microfone “transmitia” o jogo.
                                           Paulo Eduardo Temple Delgado     Foto by JUNassif
Quando de fato você passou a falar ao microfone?
Eu freqüentava a Igreja Presbiteriana, todos os domingos ela transmitia um programa de rádio. Eu pedia, insistia com o pastor para que me deixasse falar na rádio. Ele dizia que eu era muito novo para tal responsabilidade. De tanto insistir o Reverendo Neftali Vieira Júnior permitiu que eu dissesse: “Está no ar o programa da Igreja Presbiteriana”. Após uns 4 ou 5 domingos em que tive essa participação, achei que falava muito pouco ao microfone. Eu queria falar mais, procurei o diretor da Rádio Educação e Cultura de Rio Claro, pedindo para fazer um teste. A sua resposta foi: “-Você é um garoto!”. Naquela época qualquer menino na minha idade andava de calças curtas. Mesmo assim ele permitiu que eu fizesse o teste. Ele me contratou para começar no dia seguinte. Com 14 anos de idade comecei a trabalhar como locutor. A voz ainda era de adolescente, eu falava e algumas vezes eu desafinava. O meu programa tinha o nome de “Crepúsculo Musical”, ia ao ar às 18h, a partir daí nunca mais deixei de falar ao microfone. Nunca tive outra profissão ou atividade que não fosse ligada ao microfone. Exerci atividades paralelas, a televisão, lecionar no Curso de Rádio e Televisão. Se eu fosse seguir outra profissão talvez fosse ferroviário, o meu hobby é o ferreomodelismo. Além dos incontáveis passeios que faço de trem, muitos de Curitiba à Paranagua, sou sócio da Associação Brasileira de Preservação Ferrovária, a ABPF de Jaguariuna. Gosto muito de trem. Acho que uma das maiores falhas do governo foi terminar com as ferrovias. Vivi com intensidade essse momento quando a Companhia Paulista passou a ser a FEPASA no goveno Laudo Natel, ai passsou a ser o inicio da morte da ferrovia no Brasil e no Estado de São Paulo. A partir dai ocorreu o sucateamento das ferrovias, o tiro de misericórdia foi dado pelo governador Mário Covas quando mandou retirar toda a rede de locomotivas eletrificadas para serem substituidas por locomotivas movidas á diesel. Foi um movimento na contramão do que o resto do mundo estava realizando, eletrifificando ferrovias para diminuir a poluição.

Juscelino Kubitschek incentivou a industrialização, principalmente a indústria automomobilística.
Mesmo com a política federal de incentivar o automóvel, o Estado de São Paulo comportava o transporte ferroviário. Em um primeiro momento deixou de trafegar trens com carga viva, os boiadeiros ou gaiolas, trens transportando automóveis, os vagões cegonhas. O Transporte de carga sofreu um abalo com a atitude do governo federal, mas o transporte de passageiros não foi tão afetado.
Mas o transporte de passagiros sempre foi deficitário.

Mas é o que presta serviços. Lembro-me que em Rio Claro vivi nas proximidades da linha do trem, estudava no Ginásio Koelle entrava as sete horas da manhã, saia de casa quando o trem apitava, as 6h54 todos os dias desde o meu primeiro ano de grupo até a oitava série. Viajavamos bastante de trem, meu pai viajava de terno e chapéu. Se fossemos a um casamento em Jundiaí por exemplo, saiamos de Rio Claro vestidos para o casamento, o trem era uma coisa chique. Acabaou no sucateamento do trem. No Brasil não se dá o devido valor ao transporte ferroviário. As ferrovias foram tão bem feitas, que atualmente, mesmo após décadas de abandono ela continua prestando serviço, mesmo sem a devida manutenção.

Há interesses escusos para que ela continue assim?

Dá-se pouca importância aos interesses da Nação no aspecto de transportes ferroviários. O próprio carro elétrico é um exemplo. A fábrica Gurgel em 1977 criou o carro elétrico, e colocou em frente a Prefeitura, postes com tomadas de energia elétrica, estacionava-se o carro, ligava na tomada de energia o veículo ia carregando suas baterias. O condutor ia realizar seus afazeres. Doze automóveis foram colocados a disposição da Policia Militar, Santa Casa, Guarda Mirim, e outras entidades, para andarem com o carro. O carro elétrico poria ser uma solução para o Brasil e para o mundo. O Gurgel foi bombardeado de todas as formas, teve um final de vida terrível, desmoralizado, quando na verdade ele tinha a solução. Não interessava a ninguém. O carro elétrico só não está rodando nas ruas porque não interessa aos controladores do petroleo, nem aos donos dos canaviaiais.

Qual era o prefixo da rádio em Rio Claro?

ZYK 580 Rádio Educação de Rio Claro, Seu Novo Amor, 1540 Khertz. Após algum tempo fui trabalhar também em Araras na Rádio Fraternidade, quando o FM ainda não era estéreo. Sou do tempo em FM era mono, era Hi-Fi. Existiam poucas emissoras em FM. Na região de Piracicaba nós só tínhamos a Rádio Andorinhas de Campinas, Libertas de Poços de Caldas. A Rádio Fraternidade pertencia ao Centro Espírita Fraternidade que tem o Hospital Sayão em Araras. A rádio ficava em um salão do centro espírita, num cantinho era o estúdio, era com uma cortina que se puxava. Quando ia começar uma sessão espírita, eu puxava a cortina, continuava operando com fone de ouvido. Quando acabava a sessão eu abria a cortina e aquele salão todo se tornava em estúdio. Eu estudava das 7h às 12h, ia a Araras, fazia o programa na Rádio Fraternidade, voltava a Rio Claro, fazia o Diário de Rio Claro e o Jornal da Cidade, onde fazia a editoria policial, nessa época eu tinha 16 anos.

Hoje, pelo ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente você não poderia cobrir noticias policiais.

Hoje pelo ECA eu estaria cheirando cola na rua e fumando maconha. É uma vergonha, essa lei foi feita quando a nossa realidade era outra. Nós temos que rever isso. Para a época foi excelente.

Como se deu sua ida à São Paulo?

Em 1979, um domingo à noite, eu estava vendo algo raro na televisão, o futebol, e a TV Tupi era quem apresentava os vídeos tapes de sábado. O narrador era Walter Abrahão, o repórter era Ely Coimbra, o comentarista era o Geraldo Bretas. Um dos repórteres da TV Tupi, João Rehder, era meu amigo, de Rio Claro e fazia parte da equipe do Walter Abrahão, eu estava assistido Corinthians e Ponte Preta, era uma 22horas, o João Rehder me ligou dizendo: “Paulo, estão inaugurando dus rádios em São Paulo, você não quer vir fazr teste?” Perguntei que dia deveria ir, ele respondeu: “- Você pega o primeiro trem de manhã, porque o teste é amanhã, segunda-feira, na hora do almoço”. Fui acordar a minha mãe, eu tinha 18 a 19 anos, mas ainda não tinha a chave da minha casa. Era o meu pai quem abria a porta, eu tinha horário para chegar em casa a noite. Convencia miha mãe e fui para São Paulo. Cheguei na Rua da Consolação esquina com a Avenida Paulista, onde ficava o prédio da Rádio Manchete. Fiz o teste. Em seguida fui fazer o teste na Rádio Cidade que estava sendo inaugurada, pertencia ao grupo JB do Rio de Janeiro. O resultado seria divulgado no dia seguinte. Se eu voltasse para Rio Claro eu não teria dinheiro para voltar e ver o resultado. Naquela época a violência não era tão grande, dormi em um banco na Praça Roosevelt esperando o resultado. Quando soube do resultado, para minha surpresa eu tinha passado nas duas. Escolhi a Rádio Manchete, onde comecei a trabalhar em primeiro de fevereiro de 1980. A Rádio Cidade exigia exclusividade. Alguns meses depois passei a trabalhar na Rádio América também.

Você desenvolveu uma técnica própria para ientificar-se com os ouvintes?

Eu era um garoto do interior, um menino caipira. A rádioera de boys, de jovens da sociedade paulistana, com vocabuláro próprio. A tarde eu ia ao Shopping Iguatemi, que era o shopping da moda, me aproximava da rodinha e ouvia a conversa dos jovens, anotando em um papelzinho a forma como se comunicavam: girias, a maneira de se expressar. Isso foi nos anos 80, tinha girias como “É a maior chinfra”, “Tô nem aí” , “Vou mandar pau”.Quando estava no ar eu ia falando conforme havia anotado. Quem ouvia pensava: “Esse cara é do Jardim Paulista”. Mal sabia que era um caipira com calça pula brejo, uma só muda de roupa para trocar e morava em uma pensão fedida Rua Augusta, onde moravam trabalhadores que operavam britadeiras de mão, eram 60 pesssoas para um banheiro só.

A Rádio América situava-se onde?

Ficava na Vila Mariana, pertencia a Congregação Paulinas, que tem a Edições Paulinas. Na Rádio Manchete eu era um locutor boyzinho, na Rádio América eu era um locutor de AM. A Rádio América tinha como diretor Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo. Eu aprresentava com Dom Paulo, todos os dias as 18h40 um programa que era uma mensagem apresentada por Dom Paulo. Eu no estudio ele na arquidiocese, fazia por linha telefonica. Convivi com Dom Paulo bastante tempo, depois fui diretor da Edições Paulinas, Diretor da Rádio América por seis anos, das suas afiliadas. Na CNT Gazeta tive por dois anos um programa que se chamava “Laços de Amizade”, com a participação de Chico Xavier, uma vez por mês eu ia gravar com Chico Xavier. Era um programa que não só divulgava a doutrina espírita, mas também de bem viver. Tive a oportunidade de rabalhar por bastante tempo com a comunidade metodista em São Paulo, na Rádio Musical, que é uma rádio gospel em São Paulo.

Você trabalhou na Rádio Capital?

A vida dá muitas voltas, fui contratado para trabalhr na Rádio Capital, junto com o Zé Bettio, Ely Correia, Sonia Abrahão, Paulo Barbosa. Fui trabalhar em uma rádio popular, e eu já estava em uma época da vida que ocupava uma posição diferente em São Paulo.

Fiz o inverso: pegava o trem de suburbio e ia escutar as pessoas falarem no suburbio, comecei a anor expressões como “Benzer de Vento Virado”, pobre adora levar para benzer, “Benzer de Simioto”, são expressões que eu ouvia, mas até hoje não sei o significado exato. Com issso ao ir ao microfone eu falava a linguagem popular. Na Rádio Capital eu tinha uma seção de caminhoneiro, convivi muito com caminhoneiro para saber os termos que eles usam. “Princesa” é a esposa, filha é “Pequitita”, há um vocabulario próprio dos caminhneiros..

Cada segmento da sociedade tem formas próprias de se expressar?

Tem sim. Esses laboratórios fiz porque entendi que ou faria isso ou ficaria estacionado onde estivessse. Só há uma possibilidade de você avançar, é se atualizando. Hoje estou fazendo televisão em Piracicaba, tenho que fazer um laboratório diário. Estou em uma cidade que tem a sua própria realidade, se eu não estiver por dentro dela vou ter dificuldades, muitas vezes saio, ando pela cidade, para ver, ouvir, acompanhar e poder chegar à televisão e falar a linguagem utilizada pelo piracicabano. Muitos dizem que o piracicabano é um povo conservador, é verdade, é um povo que ama a sua cidade. Quem não tiver esse amor por Piracicaba corre o risco de não ser tão bem aceito. Eu tenho muito orgulho de ter nascido em Rio Claro, estou em Piracicaba fazendo esse programa de televisão ha tres anos e meio, eu me sinto piracicabano.

Você já recebeu o título de “Cidadão Piracicabano”?

Nem tenho merecimento para isso. Com todo respeito, mas titulo de cidadão as vezes é dado à pessoas que você vê que são maravilhosas, mas título de cidadão deve ser dado a pessoa que fez algo muito significativo. Menções, reconhecimento, isso sim pode ser concedido.

Você conheceu o lendário Adolpho Bloch?

Tive o prazer de conhecê-lo. Ele gostava muito de cães, e sempre aparecia em fotografias com duas cachorrinhas. Ele tinha o habito de almoçar com seus funcionários. Na Casa da Manchete, na Avenida Europa, havia uma mesa com 30 a 40 lugares, na hora do almoço todos nós iamos almoçar lá, diariamente, ele fazia questão da nossa companhia. Ele sentava na ponta da mesa, nessa época deviam trabalhar uns 10 na rádio e uns 30 na revista. Eu saia da Rádio Manchete, pegava o ônibus elétrico e descia pela Rua Augusta, que passava a se chamar Avenida Europa na área mais nobre dos Jardins. Parava em frente a Casa da Manchete, almoçávamos com o Seu Adolpho. A sabedoria daquele homem era imensa. Quando ele faleceu a Rádio Manchete foi vendida para a Bispa Sonia da Igreja Renascer, ao assumir a rádio chamaram todos nós e simplesmente nos dispensaram. Até hoje não recebi o que tenho por direito. A partir do dia seguinte todos os nossos cargos foram ocupados por elementos da igreja, que a titulo de colaboração passaram a ocupar microfones, produção, discoteca, sob o olhar contemplativo do Sindicato dos Radialistas como é conhecido o Sindicato dos Trabalhadores no Rádio e Televisão. Em protesto me demiti do sindicato. O meu sindicato não tinha peito nem interesse em impedir o que estava ocorrendo conosco. O Sindicato dos Radialistas funcionou bem enquanto não tinha interferência política. Quando a CUT entrou no Sindicato dos Radialistas matou-o. O radialista é muito abandonado. Na época de campanha eleitoral você começa a ver no rádio e na televisão, por exemplo, um advogado que vem fazer rádio ou televisão para ficar famoso e se eleger, o mesmo fazem engenheiro, professor e profissionais de outras áreas. Esse pessoal vem para ficar famoso e se eleger. Se eu, jornalista, vestir uma roupa branca e colocar um consultório, vou para a cadeia. Eu não tenho CRM. Em contrapartida, muitos não tem registro de jornalista e realizam o meu trabalho, de graça, para se elegerem. Uma legislação eleitoral absurda tira do ar o profissional de rádio e televisão, três meses antes da eleição, em detrimento desses abutres que vem para o rádio só para serem eleitos. Deveria haver uma legislação que permitisse ao profissional de rádio e televisão que permitisse que ele continuasse trabalhando no período eleitoral, mesmo ele sendo candidato a um cargo eletivo. Eu não tenho outra fonte de rendas, sou jornalista. Vivo do meu trabalho. Se eu tiver a pretensão de me candidatar não posso trabalhar. Quem trabalha na mídia impressa pode continuar escrevendo, o médico pode trabalhar até a véspera das eleições, assim como profissionais de outras áreas. Isso foi criado para barrar o Silvio Santos quando ele resolveu se candidatar. É uma lei esdrúxula. O sindicato dos radialistas é inoperante. O sindicato dos jornalistas eu não sei como procede, nunca fui filiado a ele.

Com a Bispa Sonia dispensando os profissionais da rádio você foi trabalhar em outra rádio?

Fui para a Rádio Capital, uma das emissoras populares mais importantes do Brasil, ela ocupa a freqüência 1040, que é um canal internacional e que antes tinha pertencido a Rádio Tupi. No Brasil temos só três emissoras de rádio com canal internacional: Rádio Tupi do Rio de Janeiro, no mundo não existe outra emissora 1280, a Rádio Capital, 1040 e a Rádio Gaucha da RBS. Tive a oportunidade de trabalhar com Enzo de Almeida Passos, Zé Bettio, Ely Correia, Osvaldo Betio, o Zé Bettio fazia a Praça dos Amores, apresentei vários bailes que eram realizados na rádio com seus ouvintes. Trabalhei 12 anos na Rádio Jornal em Limeira, onde com a autorização do Zé Bettio apresentei a Praça dos Amores. O Ely Correia me permitiu usar “Que Saudade de Você”, que é o quadro de maior audiência de todos os tempos, o Ely apresenta até hoje. Agora na Sexta-Feira Santa fui visitar Gil Gomes, que está com a saúde abalada.

Como você decidiu vir à Piracicaba e apresentar o seu programa?

Vim a Piracicaba, fiz uma pesquisa de campo e vi que não havia nada com esse perfil, e todos sabem da importância de Piracicaba. Lançamos o programa na TV Beira Rio, chamava-se Piracicaba Agora, onde ficou no ar por dois anos e meio, e a 10 meses está na Rede Opinião de Televisão, ela tem uma abrangência regional. O programa passou a se denominar Opinião Geral. Trabalho no rádio há 36 anos, estou fora do rádio a 7 meses, infelizmente o rádio, e isso não é valido só para Piracicaba, mas para qualquer lugar, inclusive São Paulo,, se qualquer gago, qualquer fanho, chegar em uma emissora e disser que quer fazer o programa de fulano e tem um bom patrocínio, o fanho estréia amanhã. As pessoas perguntam por que o rádio está sem talentos? Por culpa do radio difusor que prioriza o seu bolso em detrimento da qualidade. Antigamente quanto talento Piracicaba tinha no rádio? Você enchia uma folha com nomes. Hoje você girando o dial regional será que dá para contar com todos os dedos de uma mão? Na FM o locutor fala anasalado, piracicabano com sotaque de carioca, se fala caipira fala forçado, fora da realidade. Nem vou tocar no português, concordância é uma coisa que não existe: “o pessoal foram”, “a gente viemos”. Infelizmente o rádio está nivelado por baixo, com algumas exceções. É difícil encontrar quem tenha talento para falar ao microfone e talento para venda. O comunicador é romântico.

Na televisão quanto tempo você fica no ar?

Fico 1h30 ao vivo e depois o programa é reprisado. Começa as 17h15 e permanece até 18h45. Temos dois links, um vai para o canal aberto 40 e pela NET. O programa é totalmente interativo. Pela internet temos em torno de 4.000 acessos por programa.













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