sábado, agosto 04, 2012

CELSO DONIZETI MELOTTO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 4 de agosto de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
ENTREVISTADO: : CELSO DONIZETI MELOTTO
São inúmeros os casos veiculados pela mídia sobre atletas, artistas, políticos, pessoas públicas que deixamos de nominá-los para poupá-los, bem como a seus admiradores, de algum constrangimento ou decepção. Pessoas com alto prestígio, mas que entorpecidos pelo sucesso deixaram-se levar ao sabor dos ventos efêmeros da fama Manter o equilíbrio diante de situações adversas exige elevado grau de maturidade pessoal e profissional, o mesmo acontece quando o indivíduo alcança a fama e o sucesso Celso Melotto é radialista de sucesso, tanto pela qualidade da sua voz como pela simpatia natural que desperta onde passa e pela sua sensatez. Avesso a estrelismo e badalação, encontra no anonimato a paz de espírito que julga ideal. Celso Donizeti Melotto é nascido a 15 de janeiro de 1957 em Piracicaba, na Avenida Barão de Serra Negra, 202 a uma quadra da Praça Imaculada Conceição, a casa existe até hoje. É filho de Oriente Melotto e Guiomar (Zita) Piselli Meloto.
                                    


Qual era a atividade profissional do seu pai?


O meu pai era o que se denominava naquela época de Guarda-Livros, hoje seria chamado de contador. Ele trabalhou na Usina Costa Pinto, na Tatuzinho, quando era ali na Avenida Rui Barbosa, também trabalhei na Tatuzinho como office-boy, quando eu tinha 13 anos meu pai já me levou para trabalhar lá, em vez de ficar sem fazer nada na rua ia fazer alguma coisa de útil. Permaneci por quase sete anos na Tatuzinho.


Você tem irmãos?


Tenho, sou o caçula, acima de mim tem o Dirlei e a Regina. O meu irmão agora que se aposentou tem ajudado junto com o Juliano na parte técnica o Mário Luiz e sua equipe esportiva da Rádio Educadora de Piracicaba.


Você começou seus estudos em que escola?


Foi no Grupo Escolar José Romão. Minha primeira professora foi a Dona Mercedes. Teve também o Seu Regitano, que tinha uma lambreta. Em seguida fui estudar no Colegio Estadual e Escola Normal Monsenhor Jeronimo Gallo, embora o meu avô tenha sido o famoso sanfoneiro Nicola Piseli eu não fiz parte da fanfarra do Gallo. Nicola Piseli gravou vários discos, ele fez homenagem ao Comendador Luciano Guidotti, fez uma valsa chamada Lúcia Cristina. Acredito que trabalho em rádio e gosto dissso por que ele comprou um pequeno gravador e fazia com que eu operasse o gravador. Ele tocava a música, ouvia, procurava aperfeiçoar-se. Sua atividade era entregar bebidas com carrinho de tração animal, isso no tempo em que a Tatuzinho fabricava também refrigerantes.


Após o colégio qual outro curso você fez?


Estudei contabilidade no Colégio Imaculada Conceição, o famoso curso do “Carequinha” na Via Rezende.


Por quê era chamado de “Escola do Carequinha”?


O diretor daquela escola era o Guerino Trevisan, um homem importante na Vila Rezende, teve participação política, ele era bem calvo. Depois ele saiu da escola Dona Angelina assumiu.


Você conheceu o túnel existente sob a Avenida Rui Barbosa que unia os dois prédios da Tatuzinho?


Conheci, o objetivo desse túnel era através de diversos dutos transportar aguardente. Suas dimensões permitiam o acesso as pessoas que davam manutenção. Andei por esse túnel, o cheiro de pinga era muito forte. Na Tatuzinho trabalhei por uns sete anos. Uma curiosidade, na Tatuzinho como a quantidade de motoristas para carregar, pegar a nota fiscal, era muito grande foi instalado um seriço de alto falantes. Eles ficavam na Rui Barbosa, até o Jardim da Vila Resende, com seus caminhões estacionados. Quando ficava pronta a nota fiscal eu anunciava ao microfone: “Atenção senhor fulano de tal, favor retirar a nota fiscal.“ Eu tinha uns 13 anos, usava cabelo comprido, era a moda da época. Lá eu não tinha nenhum recio em falar ao microfone. No rádio era diferente.



Qual foi seu próximo emprego?


Por mais uns sete anos trabalhei na Siderurgica Dedini, na fundição mecanizada, eram peças mais leves, comecei trabalhando no contrôle de qualidade, fazendo anotações, depois passei como encarregado na moldação de peças, que era feito na areia, as peças eram moldadads depois passava para outro setor que fundia as peças. Era um ambiente hostil, com poeira fumaça. Havia uma mistura de areia, argila, betonita. No meu tempo os diretores eram Cinemar Cervellini, Ibrahim Chaim.


Da Dedini você foi trabalhar em rádio?


Sempre gostei de rádio. Ainda trabalhando na Tatuzinho, quando tinha um tempinho saia correndo, conhecia o pessoal da Rádio A Voz Agrícola do Brasil, situada na Rua Moraes Barros, pouco abaixo do Largo Santa Cruz, no tempo do Francisco da Silva Caldeira. Fazia um biquinho de áudio.


Você opera também?


Fiz um tempão a parte técnica, quabrando o galho a noite, fim de semana, sem ganhar nenhuma remuneração.


Rádio é cachaça?


Hoje não é tanto, mas era. Antigamente a pessoa tinha a fissura de trabalhar em rádio porque o radialista era uma pessoa famosa, tinha acesso livre aos artistas.


Você acha que a profissão perdeu muito do seu glamour?


O próprio radialista fez com que essa imagem fosse deteriorada. No meu ponto de vista muita gente deteriorou a imagem do radialista.


Suas incursões na Rádio A Voz Agricola do Brasil foi por volta de que ano?


Isso foi por volta de 1972.


Quando foi a primeira vez em que você falou ao microfone?


O Luiz Carlos Correia estava apresentando um jornal, eu trabalhava como operador, estava sentado ao seu lado, ele pegou uma lauda, me passou e disse-me: “-Vai!”. Eu não consegui falar.Tremi muito e não saia nada. Só que me empolguei, aos poucos fui perdendo o medo, com o tempo fazia uma gravaçãozinha, falava uma outra coisa.


Efetivamente quando você passou a falar ao microfone?


Oficialmente foi na Rádio Difusora de Piracicaba, em 1984, com o programa “Um Toque de Saudade”era apresentado no fim da tarde e início da noite. O programa era gravado na minha casa onde eu tinha equipamento, o Marcos Turola passava pegar o programa pela manhã e reproduzia a tarde. O programa ia pronto, com as músicas, locução, eu cuidava da programação. Basicamente era um programa de Flash Back, saudades.


Estamos falando de fatos ocorridos há mais de 30 anos, Flash Back já fazia sucesso naquela época?


Tanto que apresentei esse programa bastante tempo na Difusora, vim para a Educadora FM 103,1 , atual Jovem Pan, apresentando esse programa também. O Cunha Neto tinha um programana na Difusora, ele saiu eu passei a apresentar ao vivo. Era um programa de variedades, sucessos, atendia ao ouvinte. Era uma rotina gostosa, eu adorova radio, gosto até hoje, não saberia fazer outra coisa. Gosto da parte técnica, da locução, da produção. Não me contento só com a locução. A área de produção de comerciais hoje é toda feita pelo computador, já ensinei muita gente, aprendi sozinho a montar, editar. Acompanhei o desenvolvimento das tecnologias, comecei quando era acetato ainda o comercial, Dante e Américo Martani gravavam no estudio deles. Se mostrar para o pessoal de hoje não irão acreditar.


Hoje você trabalha com tecnologia de ponta?


Temos excelentes softwares, o resultado é surprendentemente superior.


Qual é o melhor software para um amador trabalhar?


O Sound Forge da Sony é um software bem completo, para vídeo uso o Vegas. Há duas décadas nem se pensava nisso, tenho até hoje o meu Akai, guardo com carinho.


Você chegou a pegar o tempo do rádio a válvulas?


Sim. Inclusive mesa de som com válvulas. Lembro-me de uma situação peculiar, na Rádio Avorada, a mesa de som parou de funcionar, o técnico veio para substituir a válvula, elas aquecem muito, ele foi até o banheiro, pegou o rolo de papel higiênico, o centro dele cabia certinho na válvula, ele pegava com o papel higiênico retirava a válvula defeituosa e substituia por outra e a mesa voltava a funcionar. Ele sabia quais eram as válvulas que davam mais problemas e deixava um estoque delas. Eu tive um amplificador a válvulas, até hoje eles são mais eficientes.As respostas tanto no grave como no agudo quem tem um equipamento valvulado valoriza muito. Tem certas frequências que o som digital esconde. Talvez o ouvido humano não perceba. Entre um gravador de rolo (fita) e um digital, no primeiro observa-se mais detalhes. Só que a prticidade do digital não se compara.


Você tem uma discoteca respeitável?


Hoje não tenho mais. Por falta de espaço me desfiz. Em um HD de 1 terabyte você guarda tudo. Até em carro usa-se pen drive, cartão de memória.


Qual sua opinião sobre o pessoal que está cultuando o vinil?


O vinil é a única forma de não ocorrer a pirataria. Depois que apareceu o CD acabou a graça do cantor que vendia o LP. Hoje fazem o show e já dão o CD, torneou-se um brinde, um material promocional do show, da música dele.


O seu nome é muito respeitado na cidade com relação ao trabalho com som, há uma pocura por parte de pessoas que desejam reproduzir algum material de família, obras mais antigas.


Desde quando apareceu o computador, que possibilitou trabalhar o audio, sempe procurei me apefeiçoar, saber das novidades, tecnologias, hoje é possível restaurar tanto audio como vídeo.


No caso de ter um CD riscado é possível recuperar?


No caso do CD depende da profundidade do risco, há um equipamento que é colocado em uma base, faz esse CD ser polido como se fosse uma cera de polir carro, irá eliminar o risco e o CD voltará a produzir normalmente. O reflexo de laser é que faz com que o decodificador interprete como música. Se ele atinge um risco o raio do laser não volta para o lugar certo.


Aualmente você apresenta programa em quais rádios?


Na rádio 92 FM, antiga FM Estância, das 8 horas as 11 horas da manhã apresento sertanejo universitário, e na Rádio Educadora apresento um programa de variedades. O perfil da rádio AM é um público mais adulto.


Você lê uma parábola todo dia?


Leio, começou com mensagens em papel, depois com a internet facilitou muito, e hoje tenho um grande arquivo de parábolas. Me envolvo muito com a mensagem delas. Choro as vezes no final. De tanto que me envolvo esqueço que estou passando a mensagem para o ouvinte.


Os ouvintes comentam a respeito?


Muitos agradecem, há pessoas que dizem que a sua vida mudou. Transformou o modo de pensar, de tratar, de conviver.


Você lançou algum CD dessas parábolas?


São 11 volumes, comercializados pela Lazer Express e A Músical XV. Eu divulgo pouco, mesmo assim teve uma época em que era o CD mais vendido na Laser Express. O primeiro CD gravei em 2001, faço um CD por ano apenas. (ALGUMAS DAS PARÁBOLAS NARRADAS POR CELSO MELOTTO ESTÃO NO: Celso Melotto - Mensagens e Parábolas.wmv You Tube) 



Você é casado?


Sou, com Rosangela Aparecida Martini Melotto. Temos três filhas: Laura, Olívia e Glória.


Existe voz padrão para rádio?


Não. Tem voz para cada estilo de programa. Não é só a voz que importa, mas a forma como é expressa. Não basta ter uma voz bonita, tem que saber usá-la.


O rádio faz com que o ouvinte trabalhe a imaginação?


O mais lindo do rádio é isso, é a magia do rádio. O fato da pessoa poder fechar o olho e imaginar quem está falando. Não acho interessante o ouvinte conhecer quem está falando, isso não é bom para nenhum dos dois. É bom o lucutor estar no estúdio e o ouvinte na casa dele.


O Zé Bettio não se deixava nem fotografar.


Isso é muito importante, para não estragar a magia.


Você tem facilidade de falar em público?


Não muito. Não gosto. Já fiz alguns eventos, mas não gostei da experiência. O Lombardi teria sido tão famoso se aparecesse todo dia na TV?


Você é tímido?


Tímido, tímido! Quando saio da radio torno-me um anônimo. Outra coisa que sempre busquei foi desatrelar a imagem do locutor com a imagem do vendedor de propaganda radiofônica.


Você transmitiu jogos de futebol?


É uma coisa que eu gostaria de ter feito mas nunca fiz. Não fiz reportagem de campo e nem fiz plantão esportivo.


Como você conheceu a sua esposa?


Foi quando entrei na Dedini, ela trabalhava lá também.


Qual seu hobby ?


Música! Gosto de sentar na barranca do rio, sentar e ficar olhando. Não de pescar. Na minha infância inteira pesquei, morava na Brão de Serra Negra, praticamente toda tarde descia no Mirante. Cheguei a andar de bonde. Na esquina da Barão de Serra Negra com a Avenida Rui Barbosa havia o Bar do Botuca, o sobrenome era Rosalem. A minha casa ficava a uns 15 metros da Praça Imaculada Conceição, eu andava descalço, o dia todo na praça. O Padre Luiz Juliani foi padre por um tempo lá. Lembro-me da igreja velha onde fiz minha primeira comunhão. Sábado a noite a praça ficava cheia. Onde é o Hospital dos Plantadores de Cana havia o campo do Central. Logo adiante era um brejo, quando foram construidas aquelas casas próximas onde é o Hospital da Cana o pessoal chamava de Sapolândia. Na Manoel Conceição havia o açougue do Corrente. Como a rua de casa era uma descida íngrime, com cabo de vassoura juntavamos na medida certa do piso feito antigamente, pegava sebo no açougue, pasava no trilho da calçada, o carrinho com cabo de vassoura, se soltava de cima da Barão de Serra Negra e ia até lá embaixo. Pregávamos certinho no vao entre um tipo de ladrilho um cabo de vassoura de cada lado e desciamos. Cheguei a nadar no Rio Piracicba. Pesquei no Rio Piracicaba quando criança, pegava lambari, piava, mandi, era pescador de barranco, não entrava no meio das águas do rio.


O seu programa conserva um alto astral, isso é fruto de alguma reflexão?


É automático! Eu sou de não carregar problemas. Todo mundo tem os seus problemas e por saber disso não vou ser uma pessoa diferente. Dá para conciliar com as horas que pemaneço nas rádios. Posso me isolar dos meus problemas.


Você é religioso?


Sou! Converso com Deus todos os dias. Todos os dias que venho para a rádio passo ao lado da catedral conversando com Deus. Falo com os meus pais que já não estão mais neste plano. Peço proteção. Sempre com o pensamento positivo, não se consegue prosperar na vida pensando negativamente. Pensando e pedindo coisas boas elas vem. Foi pensando assim que estou no lugar em que queria estar. Exatamente o que eu queria para a minha vida é o que tenho hoje.


Dia 1 de agosto é aniversário da Rádio Educadora, voce está aqui a quase 30 anos. Como é trabalhar na Rádio Educadora?


Aqui é a minha casa, conquistei e fui conquistado pela emissora. É dificil viver sem a Educadora hoje, é um lugar que a gente vem com prazer.


Você gravou comerciais veiculados no exterior?


Gravei o “off” de comerciais para a Globo Internacional. São comercias para brasileiros que estão no exterior verem.








FRANCISCO LEMMO NETO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 27 de Julho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
                               Francisco Lemmo Netto e Francisco, um de seus filhos

ENTREVISTADO:FRANCISCO LEMMO NETO
Francisco Lemmo Neto nasceu em Rio das Pedras a 20 de outubro de 1952, filho de Gaetano Lemmo e Maria Capato Lemmo. Seu pai veio para o Brasil em 1925, do sul da Itália, de Maratea Porto província de Potenza.Veio para ficar junto ao seu tio-avô Horácio Limongi nascido em 1898, na mesma cidade de Maratea que chegou a Rio das Pedras em 1914, a Primeira Guerra Mundial estava para ser deflagrada quando ele decidiu vir para o Brasil. Veio com recursos fornecidos pela família. Em Rio das Pedras, na Rua Rangel Pestana havia um casal de italianos que residiam e tinham uma padaria onde ele permaneceu. Ao final de 1914 esse casal vendeu a padaria para Horácio Limongi e mudaram-se para São Paulo. Essa padaria funcionou até a década de 80. Era conhecida como Padaria Limongi ou Padaria do Seu Horácio. A 1 de julho de 1917 ele montou a Indústria de Refrigerantes Limongi situada na Rua Rangel Pestana, 336, a primeira indústria de Rio das Pedras, dia 1 de julho de 2012 a indústria completou 95 anos. No início fabricava gengibirra e itubaina, licores. As fórmulas ele trouxe da Itália. Desde 1917 foi depositário da Companhia Antártica Paulista permanecendo com a família até 1998, por 81 anos ininterruptos foram distribuidores, um dos mais antigos do Brasil. Horácio Limongi casou-se com Maria Cristina Vassalo Limongi, não tiveram filhos. Francisco Lemmo e Maria Limongi são avós de Francisco Lemmo Neto.

                                           Vistas panoramicas de Maratea (Itália)


Naquela época como ele conseguia o gás carbônico utilizado para gaseificar o refrigerante?


INDÚSTRIAS LIMONGI - Em seu início.
No início ele produzia de forma artesanal, em um processo muito lento e trabalhoso. Logo passou a adquirir da Usina Capuava, vinha em cilindros. Ele recebeu uma placa como primeiro cliente de gás carbônico da Usina Capuava. As garrafas eram lavadas manualmente com chumbinho para arma de pressão. O engarrafamento era feito uma a uma, com a pessoa trabalhando em pé. Essa indústria permaneceu com a nossa família até 2003. Em 1918 ele passou a produzir também macarrão, no rótulo vinha escrito: “Grande Fábrica de Macarrão Lucânia”, Lucânia era a região de onde ele veio da Itália. A fábrica de macarrão funcionou até a década de 80. Era produzido o macarrão cortadinho e o cortadão, tinha os números 1,2,3 e 4 que era o talharim.Era feito macarrão com ovos. Ele ainda montou um moinho de beneficiamento de arroz. No início da década de 20 passou a produzir sorvete e gelo, os motores vieram da Inglaterra, as máquinas em sua maioria eram importadas. As barras de gelo pesavam 15 e 30 quilos.


A linha de bebidas incluía diversos produtos?


Incluía cacau, aniz, fernet, quinado, capilé, groselha. O gengibre era amassado em um pilão de bronze para fazer o conhaque.


O senhor ajudava na fábrica?


Desde menino, com sete anos, ajudava a colocar selos nas tampas das garrafas.


Qual era a marca da pinga?


“Caninha Capuava”. Foi a primeira pinga de Rio das Pedras a ter registro no INPI Instituto Nacional de Propriedade Industrial na década de 40. Fazíamos vinagre de álcool. Eram produzidas as cervejas pretas “Maltina” e “Malvina”. A cerveja foi produzida nos anos 20 até a década de 50, não cheguei a experimentar por ser criança, mas quem a tomou disse que era muito boa. A distribuição de pães pela cidade era feita com carrinho de tração animal com um baú fechado. No período da Segunda Guerra Mundial meu avô conseguia farinha de trigo com o Moinho Santista, o pão era racionado, eram distribuídas duas bengalas por família, ficava um policial na porta da padaria para impedir qualquer tumulto.


As entregas com o tempo passaram a ser feitas com caminhão?


O primeiro caminhão com a placa estampando o nome “Rio das Pedras” foi de propriedade da nossa família. Era um Ford. Vinha muita mercadoria pelo trem. A Antártica mandava barris de madeira com cerveja, caixas de bebidas eram de madeira. As cervejas vinham em caixas de madeira com palha para não quebrar. Cada caixa comportava quatro dúzias de cerveja. Na época não tinha padaria em Saltinho, o Borsatto por muito tempo ia fazer as entregas de pães, bebidas tudo com carrinho de tração animal, isso na década de 20, 30. Saia de Rio das Pedras cedo e voltava a noite. Os tipos de pães eram a bengala, pão d água, pão de dedo, era um pão em formato de mão com os dedos. Cheguei a ajudar a fazer pão. Eu ia buscar cachaça na Fazenda do João Basilio e Miguel Saliba, com um caminhão Chevrolet, que tinha um tanque de madeira de 6.200 litros, chegava a fazer nove viagens por dia. Na fábrica de sorvetes as vezes faziam fila para tomar sorvete, o meu preferido era o de coco, que vinha com pedacinhos de coco.


Quem da família foi um dos fundadores da primeira usina de Rio das Pedras, a Usina Boa Jesus?


Gaetano Lemmo foi um dos acionistas fundadores, isso por volta de 1951. Foi um dos sócios fundadores do Clube de Campo de Rio das Pedras.


Horácio Limongi realizou obras sociais para a cidade de Rio das Pedras?


Foi um dos grandes financiadores para a construção do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo onde foi presidente e diretor por muitos anos, como presidente ele doou o hospital para a Mitra Diocesana de Piracicaba, foi buscar as irmãs e o Padre Aloísio Beranger no Rio de Janeiro para assumirem o hospital, conservo até hoje uma cópia da escritura de doação na presença do bispo Dom Aniger Francisco Maria Melillo. Horácio Limongi foi membro da construção da igreja matriz, sempre trabalhou como voluntário, sem nenhuma remuneração.Ele foi sócio fundador da “Sociedade Italiana de Beneficência Pátria e Lavoro Rio das Pedras” fundada em 1924, no período da Segunda Guerra Mundial passou a denominar-se Sociedade Cultural Riopedrense. Nessa época os rádios que eles tinham foram apreendidos. Um fato curioso é que havia em Rio das Pedras pessoas que lutaram na Primeira Guerra e recebiam pensão do governo italiano, Horacio Limongi era membro da Rede Consular Honorária, era o agente consular, o cônsul italiano mandava o dinheiro vindo da Itália e ele fazia o pagamento das pensões em Rio das Pedras. Eu era menino quando por diversas vezes fui com ele entregar esses pagamentos. Ele chegou a receber do governo italiano o título de Cônsul Honorário. Foi Presidente da Irmandade do Santíssimo Sacramento, a mais antiga irmandade de Rio das Pedras, fundada em torno de 1905. Dom Aniger, Dom Ernesto de Paula, vinham com freqüência almoçar aos domingos na casa do meu avô. Fui coroinha, na época do Padre Ivo Vigorito, do Monsenhor Cecílio Coury. Era “matraqueiro”, tocava a matraca na Semana Santa, uma das paradas da Verônica era na fábrica, descendo a Rangel Pestana, bem na parte onde tem um vitrô grande, ali enfeitavam. Fui muitas vezes levar capilé, groselha, no Palácio Episcopal, que ficava em frente ao antigo Estádio do XV de Novembro. Era menino, ia com o motorista e o caminhão da empresa.


Horácio Limongi tocava algum instrumento?


Não, mas gostava muito de música, de bandas, nas festas religiosas ele trazia a Banda de Salto que era muito famosa, assim como a Banda de Itu. Era festeiro, trazia, dava o almoço para todos aqueles músicos. Ele ajudou bastante a Corporação Musical Santa Cecília, na época do Maestro Denizart. Era muito amigo de Antenor Cortelazzi. Nas suas voltas de idas a Europa o Seu Antenor fazia questão de ir com a banda tocar em frente a sua casa. Inclusive Antenor Cortelazzi esteve a passeio com ele em Maratea.


Por que Horácio Limongi decidiu morar em Rio das Pedras?


Já havia alguns parentes residindo na região. Ele gostou do lugar e aqui permaneceu. Um de seus irmãos, Aquilino Limongi fixou-se em Itu, outro irmão Brás Limongi fixou-se em Rafard. O Paschoal Limongi morava na Fazenda Lagoa, em Rio das Pedras. Horácio veio no último navio que saiu de Nápoles antes de iniciar a Primeira Guerra Mundial.


De Rio das Pedras a Piracicaba era estrada de terra?


Era sim, a melhor opção era ir a Piracicaba de trem. Fui muito à São Paulo pela Estrada de Ferro Sorocabana, em Mairinque havia a baldeação. De Rio das Pedras â São Paulo demorava umas cinco horas de viagem, se desse tudo certo, se atrasasse, a viagem poderia demorar sete ou oito horas. A linha do trem cruzava a cidade, onde foi a Padaria Cristal e hoje funciona uma escola, havia uma porteira para impedir o trânsito quando o trem passava. Tinha o bar da família Rodrigues, ao lado um açougue e depois a casa do Joca.
                                         Anéis de latão que eram trocados por alianças de ouro;
Lembro-me da campanha “Dei Ouro Para o Bem do Brasil”, onde muitos doaram alianças de ouro e recebiam um anel de latão com esses dizeres acima, isso foi na década de 60. A Rua Prudente de Moraes era calçada com paralelepípedo, existia a Rua Torta e a Rua das Cabras, onde hoje existe a Padaria Moinho Verde. Ainda menino pescava cascudo, cará, no Ribeirão Tijuco Preto, enfiava a mão na toca, era um ribeirão limpo. Às vezes saia com as pernas cheias de sanguessuga. Tinha que esconder essas travessuras do meu pai,


O senhor chegou a ir até a cidade natal de Horacio Limongi e Gaetano Lemmo?


Conheci Maratea, tem o segundo maior Cristo Redentor do mundo, o primeiro é o do Rio de Janeiro. São Brás está seputado em Maratea. Mantemos contato com os parentes que moram em Maratea.


Como era a relação entre Horácio e outros industriais italianos da região?


Ele tinha muita amizade com o Comendador Mário Dedini, inclusive a primeira caldeira que ele adquiriu para a fábrica foi fornecida pelo Mário Dedini.Era muito amigo de Babico Carmignani, assim como Primo Schincariol. Ele conheceu o Conde Matarazzo, conversavam muito, o Conde Matarazzo nasceu em Castellabate, perto de Maratea. Ele adquiria produtos do Matarazzo para vender na nossa região. Havia uma boa relação entre os italianos. Meu avô era assinante e correspondente do jornal Fanfulla que existe desde 1893. A casa era grande, era normal ter sempre alguns parentes visitando. Um fato interessante é que a padaria assava gratuitamente quitutes feitos no período das festas de fim de ano. Traziam 50 a 60 frangos, 10 a 12 leitoas, teve um ano em que foram assados 150 frangos e 25 leitoas. Entre todas as atividades o total de funcionários chegava a uns 50, o que para a época representava bastante em uma cidade que era bem menor. Alguns funcionários que trabalharam mais de 50 anos conosco ainda se lembram daquela época, o José Valdemar Sturion é um deles.


Em que anos faleceram Horácio e Gaetano?


Horácio faleceu em fevereiro de 1989 e Gaetano em novembro de 2002.


Como eles viam toda as transformações ocorridas?








Eles adoravam, tinham orgulho do que realizaram, na década de 60 Horácio Limongi recebeu o título de cidadão riopedrense. O prefeito na época era Alvaro João Bianchin, o presidente da câmara era Valério Silveira Martins. Um fato curioso e histórico é que Horácio Limongi foi convidado pela Diocese de Campinas, na época Piracicaba ainda não era diocese, para representar Rio das Pedras na inauguração do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1931.


O senhor tem quantos filhos?


Sou casado com Vera Helena Aparecida Guion Lemmo, temos três filhos: Francisco, Horácio e Mário.


O senhor praticava esportes?


Fui integrante da equipe de atletismo de Piracicaba, o salto triplo era o meu forte. Fiz parte de uma equipe de mergulho que existia em Rio das Pedras, chamava-se MAR Mergulho Autonomo Riopedrense, isso nas decadas de 70 e 80, mergulhava em Angra dos Reis. Entre outros faziam parte do grupo Sérgio Abreu, Dinho Penatti. Por vários anos fui presidente do “Gremio Recreativo e Escola de Samba Opus 6” o mestre de bateria era o Carlos (Carlão) Pontes, ele era mestre de bateria da Zoom–Zoom de Piracicaba, na década de 70. Existiam outros blocos como o “Sortidão”, que era do pessoal dos Cortelazzi, Furlan, a minha esposa participava do bloco “Equichamego”, do Bonassa era o “Risoleta”. O nosso era bloco quando ia para o clube e escola de samba quando ia para a rua. Saía da fábrica as 5 horas da tarde, pegava o material e o pessoal e ia ensaiar no Clube de Campo ou ao lado do casarão do Marino. As famílias participavam. Só na bateria tinha mais de 100 elementos, no total tinhamos uns 200 integrantes, desfilavamos na Rua Prudente de Moraes. Era uma outra época, o povo era muito animado.


Primeira corrida oficial de Interlagos

Copersucar o primeiro carro Fórmula 1 fabricado no Brasil
Como o senhor vê Rio das Pedras hoje?


Quando saia conhecia todo mundo, parecia uma grande família, hoje o contato é com poucas pessoas, ficou uma coisa meio distante. O povo está mais fechado, retraido, se conversa menos, todo mundo correndo. Antes saíamos mais, todos eramos muito unidos. Na época de carnaval, assim como íamos assistir as corridas de Fórmula 1, desde a primeira em 1971, quando ainda não era oficial, assisti a mais de 20 corridas. Cheguei a ver o Coopersucar, primeiro carro de Fórmula 1 brasileiro. Íamos juntos, Sérgio Abreu, Dinho Penatti, Zuim, Luis Leite, Sérgio Caporalli. O narrador era Geraldo José de Almeida, que antecedeu Galvão Bueno.


O senhor costuma levantar-se a que horas?


As 4 horas e 23 minutos da manhã, levanto-me exatamente nesse horário ha mais de 30 anos.
















sexta-feira, julho 20, 2012

RONAN BATISTA BORGES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 21 de julho de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO:RONAN BATISTA BORGES
Do alto de seus quase 87 anos de vida Ronan Batista Borges comanda a administração da Pousada Nossa Senhora Aparecida em Águas de São Pedro. Extremamente ativo, vai às compras dos insumos necessários, está sempre atento ao mínimo detalhe. Seus hóspedes tornam-se seus amigos. Poucos imaginam sua trajetória de vida, a batalha que travou para conquistar seu lugar ao sol. Muitas pedras usadas para fazer a segunda pista do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, foram transportadas por ele com seu caminhão, o fornecedor era o lendário Vicente Matheus que ficou muito conhecido como presidente do Corinthians. No então terreno em frente ao Aeroporto de Congonhas havia uma criação de suínos brancos. Não existia a Avenida 23 de Maio. Como taxista Ronan rodava 300 quilômetros por dia dentro de São Paulo, alimentava-se com sanduíches, ou às vezes ia comer no Gato Que Ri, um restaurante que saciou a fome de muita gente com comida boa e barata, hoje é um restaurante com clientela mais sofisticada. Ronan recorda-se do tempo em que existiam bondes em São Paulo. A malha viária da cidade era em boa parte chão de terra. Ronan Batista Borges nasceu a 24 de agosto de 1925 em Alterosa, foi registrado em Alfenas onde existia cartório. São seus pais João Olímpio e Ana Vitória dos Santos que tiveram 15 filhos. Seu sobrenome Borges foi herdado do seu avô paterno. Ronan casou-se com Julieta Alves Borges.

Qual era a atividade profissional do pai do senhor?

Ele era sitiante, procurava morar na cidade para que os filhos tivessem a oportunidade de estudar. Ele negociava creme de leite, despachava para a cidade de Casa Branca. Até 13 anos trabalhei na agricultura, estudei no Instituto Nossa Senhora Aparecida, de Campo do Meio e na Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas.
 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas
 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

 Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas

                                     Escola Estadual Coronel José Bento, em Alfenas.




Em Alfenas o senhor trabalhou?

Trabalhei no Clube XV de Alfenas, tinha 17 anos, lá permaneci por uns dois anos. Ao sair de lá montei um pequeno comércio em Monte Belo. Não satisfeito em 1945 decidi ir para São Paulo, hospedei-me na casa de uma prima na Penha, peguei o bonde na Rua Cantareira e desci na Penha, dirigi-me até a Rua Senador Godoi. Comecei a trabalhar na Nitroquímica Brasileira em São Miguel Paulista, era um serviço de muito risco para a saúde, trabalhava na produção, com sulfato de alumínio .Tinha que tomar muito leite para evitar intoxicação. Sai daquele emprego e fui trabalhar na Casa Casoy situada na Rua Barão de Duprat, onde costurava maletas escolares para uso infantil, lá mesmo aprendi a costurar com máquina indústrial. Em seguida com 21 para 22 anos trabalhei na Alves Azevedo Importadora e Exportadora, onde permaneci até casar com quase 23 anos. O forte da empresa era a Manteiga Viaduto, Àgua Prata e bebidas estrangeiras.

Como o senhor conheceu a sua futura esposa?

Eu a conheci em Minas Gerais, a família dela era conhecida da nossa família, fui passear em Minas, passamos a conversar, namorar e dentro de seis meses nos casamos. Aluguei uma casa no bairro da Penha em São Paulo onde fomos morar após casarmos. Por um período permaneci trabalhando na Alves Azevedo. Saí de lá e montei um bar em São Miguel Paulista. Após uns quatro anos com o bar resolvi mudar para Mato Grosso, na divisa próximo a Dracena. Por um ano e meio tive umaa pensão. Morei em Dracena, vim para São Paulo, voltei para Minas Gerais e acabei voltando para a Penha em São Paulo. Em Minas eu tinha um onibus Chevrolet fabricado em 1946 depois troquei por um outro ônibus Chevrolet 1950, conhecido como “Boca de Sapo”, fazia a linha de Areado para Alfenas, fazia uma viagem por dia, a distância era de uns quarenta quilometros entre uma cidade e outra, passava pelos sítios em estrada rural. Vendi o ônibus e vim para São Paulo onde comprei um caminhão Dodge 1951 transportava pédra da pedreira de propriedade de Vicente Matheus para a cidade de São Paulo. Transportei paralelepipedo para calçar a Rua do Grito, levei pedra britada para a segunda pista do Aeroporto de Congonhas, ainda não existia a Avenida 23 de Maio, para chegar lá era tudo estrada de terra. Saia de Guaianazes, passava pela Vila Formosa, tinha cerca de arame no Cemitério da Vila Formosa, passava pela Vila Carrão, Água Rasa, saia na Avenida do Estado perto do Ipiranga. Em frente ao Aeroporto de Congonhas, ao lado de onde hoje é a Avenida 23 de Maio havia um criame de porcos brancos, grandes. Fiquei com o caminhão uns três anos, vendi e fui trabalhar com um pequeno armazém na Penha. Como a renda era pequena, fui trabalhar como taxista.Quando cheguei em São Paulo tinha apenas dois viadutos: O Santa Ifigênia e o Viaduto do Chá. Depois fizeram o Viaduto do Gasômetro no Largo da Concórdia, antes existia uma porteira para barrar o trânsito e deixar o trem passar. Depois começou a ter viadutos. 
                         Elevado Presidente Costa e Silva, conhecido popularmente como "Minhocão".

 Paulo Maluf fez o Minhocão que é uma via elevada sobre a passando sobre a Rua Amaral Gurgel, a Avenida São João e a sua continuação a Avenida General Olímpio da Silveira. Na década de 50 a Rua da Consolação era estreita, com muitas casas, pouco comércio e algumas pensões no trajeto. Vi fazer a Avenida Rio Branco, plantarem as árvores. Eu trabalhava na Alves Azevedo que ficava na Rua Aurora, 60.
Localizado no número 100 da Rua Aurora passou a existir o Bar do Leo, famoso pelo seu chope, tinha um café muito bom, um dos atendentes era o Alarico.
                                          Caminhão Dodge 1951

Qual foi o seu primeiro carro, usado para trabalhar como taxista?

Comecei com um Chevrolet 1947 preto,

depois passei para um DKW “saia e blusa”, era assim chamado por ser verde claro com branco no teto,



trabalhei com Volks, com Corcel I, meu ponto de taxi era na Penha. Chegava a trabalhar até 16 horas por dia.

Quais as lembranças que o senhor guarda do DKW?

Por ser motor dois tempos as vezes era meio ruim de faze-lo funcionar. A porta dianteira abria no sentido contrario, era a chamada “porta assassina”. Era um bom carro. O Corcel I foi um carro muito bom, eu comprei um novo, zero quilometro.

Como era suas refeições?

Comia lanches, as vezes ia na Rua do Arouche, no Gato Que Ri, naquele tempo era muito frequentado por motoristas, era um lugar para matar a fome.

A classe dos motoristas de taxi era bem vista na época?

Não era não. Se fosse a uma oficina consertar o carro os mecanicos não gostavam muito, as vezes a pessoa não tinha dinheiro para pagar o conserto. Eu fui diferente ( Seu Ronan sorri satisfeito).

O senhor transportou pessoas famosas?

Devo ter transportado, eu não as conhecia. Eder Jofre pegou meu taxi, desceu na Rua Frei Caneca, ele estava com um menino, acho que tinha chegado do exterior, assim que ele desceu o próximo passageiro disse-me: “- O Eder Jofre veio no seu carro!” Disse-lhe: “Não sei.” Ao que ele afirmou: “É o Eder Jofre sim!”. As vezes pegava turistas estrangeiros, eles tinham o endereço de destino escrito, mostravam e eu os levava. Eu já morava em Águas de São Pedro quando fui para a Europa com a minha esposa. Ela ficou em Portugal, eu segui até Milão, de San Remo fui à Paris de trem, em seguida fui à Bruxelas. Fui sem guia, sem falar a lingua desses países. Em Bruxelas fiquei no seminário dos premonstratenses. O Cônego Márcio faleceu em nossa casa, nós cuidávamos dele, e eu disse-lhe que iria até Bruxelas, como de fato fui.

Como taxista o sehor foi sempre muito discreto.

Eu procurava fazer o meu trabalho, não conversava se o passageiro não se manifestasse, não ligava o rádio com passageiro dentro do carro, sempre procurei me comportar como civilizado. Teve um outro caso marcante, peqguei uma passageira na rodoviária, e levei ao Jardim Europa, na Rua Dinamarca,160. A passageira desceu, ela era de Ourinhos, prossegui no meu trabalho, apanhei um passageiro para o Tucuruvi, quando ele entrou disse-me: “ Tem uma mala aqui!”. Disse-lhe que era da minha irmã, guardei a mala no porta-malas do carro após o pasageiro descer. Voltei para a Rua Diamarca, não conseguia achar a rua, girei muito fiquei preocupado em ficar rondando o bairro a noite, a qualquer momento poderia ser abordado pela polícia se alguém achasse estranho. Fui embora. No dia seguinte a minha preocupação era procurar a dona da mala. Fui até a farmácia do Seu Nestor, disse-lhe que precisava telefonar com alguém na residência situada na Rua Dinamarca,160. Procuramos na lista telefônica, achamos e telefonamos. Falei pelo telefone com o dono da casa, Seu Brito. Ele era da Rádio Record. Ele disse-me que a mulher dona da mala estava hospitalizada, tinha passado mal por perder a mala onde estavam seus documentos e bastante dinheiro. Era uma maleta de cromo alemão. Levei a mala, ele ficou muito contente, queria que eu fosse contar a história na Rádio Record. Agradeci o convite mas disse-lhe que não achava conveniente. Perguntou-me se tinha filhos na escola, respondi-lhe que tinha três. Ele então deu-me 15 unidades monetárias (cruzeiros ou moeda da época), era um valor significativo para comprar material escolar para as crianças. Vivi momentos maravilhosos. Levei o escrivão do catório para o Silvio Santos assinar uns documentos. Ele não ria tanto como na televisão, mas é uma pessoa especial.

O senhor torce por algum time de futebol?

Torço para o São Paulo. Em 1946 fui assistir um jogo no Estádio Pacaembu, era novo, cobravam quinhentos réis na acústica e um mil réis na lateral, foi lá que vi Leonidas jogar.

Quantos filhos o senhor e sua esposa tiveram?

Tivemos nove filhos: José Roberto e Maria da Glória são gemeos, nasceram dia 10 de janeiro de 1950, nasceram aos sete meses de gestação, tanto eu como minha espôsa não tinhamos experiência, íamos ainda comprar o enxoval, com o auxilio da parteira nasceu o menino e 25 minutos depois nasceu uma menina. Nós não sabíamos que iriam nascer dois filhos, achavamos que era apenas uma criança. Naquela época os recursos eram escassos. Os dois estão vivos, com 62 anos, ele nasceu com um quilo e trezentos gramas e ela com um quilo e duzentos gramas, foram para a maternidade Leonor Mendes de Barros, no Belenzinho, era nova essa maternidade.
                                    Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros
 Dona Leonor nos deu muito apoio, foi quem solicitou uma estufa emprestada com a Cruz Azul. Conheci Dona Leonor assim como o Governador Adhemar de Barros. Depois nasceu a nossa filha Ana Lúcia, Edna Aparecida, Luiz Carlos (já falecido), Paulo Cesar, Fátima, Ronan de Alencar, e o Júlio Cesar. Tenho 23 netos e 8 bisnetos.

Quando o senhor chegou, havia algum plano de mudar-se para Águas de São Pedro?

Não tinha planos para nos estabelecermos aqui, foi por acaso. Viemos no dia 2 de novembro de 1972, eu, minha esposa e duas irmãs. Minha espôsa sofria muitas dores reumáticas, indicaram o médico Dr. Arlindo Genarri como especialista da doença. Ele recomendou que deveria vir para Águas de São Pedro, fazer um tratamento aqui que ficaria bem. Foi o que nós fizemos, de fato minha esposa sentiu-se melhor e queria ficar aqui. Tinha uma pensão à venda, minha irmã Francisca dos Reis estava junto, disse-me: “- Pode arrendar a pensão que eu trabalho para que sua esposa faça o tratamento”. Por cinco anos fui arrendatário. Em 1977 adquirimos a pensão. Passou a ser a Pousada Nossa Senhora Aparecida. Atualmente comporta 60 hóspedes.

Quanto tempo faz que a esposa do senhor faleceu?

Faz seis anos, um mês e um dia. Guardo a saudade e o respeito, lutamos juntos. Hoje administro a pousada, vejo se tem que fazer alguma manutenção, faço as compras. Pela idade e saúde que tenho só posso agradecer a Deus.

O filho do senhor é prefeito em Águas de São Pedro, como é ser pai de um prefeito?

É uma responsabilidade que você nem imagina. É bom, fico contente em ver que ele chegou a esse ponto. Os pais se preocupam se a administração é boa ou não. Me preocupo até em estacionar um carro na rua, não posso “queimar” a faixa senão irão dizer: “É pai do prefeito pode fazer isso”. Não pode. Tem as coisas maravilhosas, fui com o meu filho Paulo até o Palácio dos Bandeirantes, o governador Geraldo Alckmin disse-me: “Filho como esse é orgulho para o pai.” Os pais tem amor igual por todos os filhos, as vezes um não faz o que o pai deseja, talvez não o satisfaça muito, mas o amor a gente tem.

Como o senhor se sentiu em sair de uma cidade enorme como São Paulo e vir morar em uma cidade pacata?

Em Águas de São Pedro o povo procura viver em harmonia e tratar bem o turista. Naquele tempo era mais pacata ainda. Só tinha um médico na cidade, Dr. Ângelo Nogueira Vila. Mudei de cidade, mas mantive o ritmo de trabalho que levava em São Paulo, cheguei até a trabalhar como servente de pedreiro na construção da minha casa.

A cadeia tem algum preso?

Não existe, se alguém for preso é levado para a cidade de São Pedro.

Na opinião do senhor hoje o povo está melhor?

Está melhor, por exemplo, pelo número de veículos existentes são poucos acidentes que acontecem. O próprio veículo evoluiu muito, antes tinha carro que ficava sem freio, pneu que estourava com facilidade. O povo está entendendo como é que tem que ser.

O ser humano em suas relações de amizades mudou?

Mudou. O povo não tem tempo para conversar, se conhecerem.

Do que o senhor sente saudades?

Saudades de quando era criança, a vida de andar a cavalo, tinha um cavalo pampa vermelho e branco. Mamãe fazia gemada de ovo caipira, punha vinho Adriano Ramos Pinto que papai comprava de caixa e gostava de dar uma garrafa para as mulheres que tinham tido nenê. Dizia: “-Tome um calicezinho todo dia!”. Papai comprava caixa de bacalhau, era baratinho. Tenho saudades da reunião dos irmãos na casa dos meus pais que também se mudaram para São Paulo.

















































































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