sábado, novembro 24, 2012

JOSÉ ADEMIR CARLONI (MIKA)

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 24 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/

ENTREVISTADO: JOSÉ ADEMIR CARLONI (MIKA)


José Ademir Carloni, o Mika é proprietário de um estabelecimento comercial onde além dos produtos que comercializa, destaca-se numerosas fotos do XV de Novembro de Piracicaba. A princípio pode-se imaginar que é mais um apaixonado pelo time. De fato é e inclusive por anos a fio defendeu no gramado a camisa do “Nhô Quim”. Mika foi uma das estrelas do Corinthians, jogou ao lado de grandes astros como Rivelino, na época em que o folclórico e estimado presidente era Vicente Matheus. Tem a sabedoria daqueles que tratam o estrelato do passado com a dignidade que merece. Jogou nos maiores estádios do país, com milhares de torcedores observando cada detalhe. Soube reconhecer o momento em que deveria deixar o futebol profissional. Muitos esportistas ao apagarem-se as luzes da fama não sabem como trabalhar com a situação. José Ademir Carloni com muita determinação iniciou-se na área comercial, obtendo sucesso e reconhecimento. Nascido em Jaú a 29 de janeiro de 1953, é um dos nove filhos de Luiz Carloni e Emília Grava Carloni.


Qual era a atividade do seu pai em Jaú?


Meu pai era exímio comerciante, ele tinha uma loja com dois toldos e quatro portas, um sinal de prosperidade se comparado a muitos estabelecimentos mais acanhados, típicos da época. Ele tinha uma forma peculiar de apresentar os produtos, ficavam expostos em frente a loja, dependurados nos toldos. Naquela época os cavaleiros vinham do sítio para comprar sapatões, botas, que ele fabricava no fundo da loja, auxiliado por um funcionário. Morávamos no mesmo prédio em que havia a loja, e em função de dar espaço para a loja, a área residencial era pequena para família tão numerosa, sempre fomos muito unidos, até hoje.


Você ajudava na loja também?


Todos os irmãos ajudavam. Em Jaú tinha uma quadra de futebol de salão. Todos os dias Jonas Eduardo Américo, o Edu ponta esquerda do Santos, que é cerca de dois anos mais velho do que eu, jogávamos. O seu pai, que chamávamos de Seu General, formava um time para jogarmos Eu jogava na defesa, ele jogava mais na frente. A nossa infância inteira jogamos futebol.. O tempo que sobrava nós jogávamos, na hora do almoço, a tarde. Jogava descalço. Quando meu pai passou a fazer sapatão, eu era um jogador magrinho, tinha mais agilidade. Jogávamos com sapatão de sola de pneu, na quadra. Com 14 anos eu já tinha carteira de trabalho assinada, trabalhava em uma loja de tecidos,o proprietário era Felix Letaif, família tradicional de Jaú. A nossa família era muito grande, trabalhando em outro emprego eu complementava a renda.




Era comum a prática de esporte na família?

Todos os meus irmãos jogavam muito bem futebol, principalmente os dois irmãos mais velhos. Eu ia sempre “na cola” do meu irmão Jorge Roberto Carloni, que era uma estrela do futebol em Jaú. Na época o XV de Jaú havia paralisado suas atividades, as equipes de futebol amador ganharam destaque. Meu irmão era capitão do Torino Futebol Clube. Foi nesse time que me consagrei campeão da cidade, do Estado, no futebol amador.


Quem o convidou para ir jogar no Sport Club Corinthians Paulista?
Foi o Dr. Geraldo Jabur, na época ele já era um influente conselheiro do Corinthians. Ele tinha me conhecido na partida final do Estado. Eu estava jogando na Rua Javari, no campo do Juventus, contra a equipe da Máquinas Piratininga. Foi um jogo difícil, nós ganhamos de 3 a 1, sendo que eu fiz dois gols. Tinha um “olheiro” do Corinthians, logo fui levado para o Corinthians. Na época eu tinha 18 anos, em 1970. O Corinthians tinha Rivelino, Zé Maria, Vaguinho, Aladim, Tião, Buião. Adãozinho. Já fui morando no alojamento, dentro do Parque São Jorge, onde inclusive havia um restaurante. Vivi ali uns cinco anos.







Como era o presidente Vicente Matheus?


Foi um grande trabalhador para o Corinthians, seu irmão Isidoro Matheus o assessorava. Além do notável advogado Dr. Geraldo Jabur, tenho-o como um grande amigo, ele me ajudou bastante no Corinthians. Criou-se certo folclore em torno da forma simples de Vicente Matheus se expressar, fruto da sua personalidade. Ele era um apaixonado pelo Corinthians.


Como você era conhecido no Corinthians?


Chamavam-me pelo meu nome, Ademir. Eu jogava com a camisa número 5 ou 4.


Quando você entrou pela primeira vez no campo para disputar uma partida jogando pelo Corinthians qual foi a sua sensação?


Sou corinthiano, minha família toda sempre foi corinthiana. Em Jaú me mandaram entrar em um carrão dizendo que eu estava contratado pelo Corinthians e á noite já joguei contra o Nacional de Água Rasa, com todas aquelas estrelas do futebol. Saí de Jaú, tinha aqueles jogadores como ídolos, personagens de álbum de figurinhas e já a noite estava jogando com eles. Foi muito repentino, quase inacreditável. Entrei jogando no quadro principal.










Como era conviver com Rivelino?


Rivelino é uma pessoa muito doce, brincalhão. Amável, ele que era a estrela principal. Ele tinha um chute muito forte, era a chamada “Patada Atômica”










O salário atingia cifras elevadas?


Como fui sem empresário, assim como outros jogadores, quem fazia o salário eram os presidentes do clube. É muito diferente do que é hoje. O jogador de futebol treina cedo e a tarde, recebe ordens como um funcionário. Não é como treinar em uma academia, ao sentir-se cansado simplesmente para. Não pode parar, o preparador físico ganha para aquilo. Ele tem que mostrar serviço, para que dentro do campo o jogador renda e que fique claro que pelo menos na preparação física o jogador foi devidamente trabalhado.







Lá você estranhou o fato de ter roupeiro e outras facilidades?


Era tudo muito bem organizado. Em determinada época chegou um treinador polêmico, o Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, ele queria que estivessemos as sete horas da manhã dentro do campo. As seis e meia da manhã íamos tomar o café, era uma mesa que eu nunca tinha visto, Tinha de tudo, todas as espécies de frutas, achocolatados, biscoitos, bolachas, lanches diversos. Eu pensei que se o jogador igerisse aquela quantidade e varedade de alimentos como iriaa entrar no campo. Ele afirmava á todos que tinham que se alimentarem muito bem porque o treinamento iria ser duro. Ele fazia um verdadeiro banquete. Só que não deu certo por muito tempo, tinha uns que ficavam um pouco mais na mesa. Não cheguei a excursionar fora do país. Eu estava relacionado na delegação que iria para o Japão, o Eurico iria ser cortado, o que não aconteceu. Eu estava com o terno preparado, acabei não indo. Quem tinha feito o terno foi o grande estilista Thomazin, que se tornou meu amigo e sempre que posso converso com ele. Na época os jogadores que não estavam relacionados para jogar no time principal jogavam no time dos aspirantes. Todos os times grandes faziam esse campeonato dos aspirantes. Uma espécie de segundo quadro, onde havia muita fera. Joguei um bom tempo nesse segundo quadro, todo ano saia uma peneira dali. Jogadores que vinham com um sonho muitas vezes nem chegavam a jogar. Cada treinador tinha um estilo próprio, era difícil jogar em um time grande.


Você jogou contra grandes nomes do futebol brasileiro?


Joguei contra praticamente todas as feras do futebol. No São Paulo tinha o Chicão, Edson, Terto, jogamos muitas vezes contra o Murici. No Palmeiras tinha Alfredo, Luiz Pereira, Zeca, Eurico, Leivinha. Essa rivalidade entre Corinthians e Palmeiras sempre houve.


Qual é a sensação de estar em um campo de futebol, você com uma bola no pé, milhares de pessoas observando, uma responsabilidade muito grande?


É uma questão muito interessante. Muitos torcedores não sabem, mas os grandes atletas já estão jogando desde os 12 anos, em nenhum momento ele irá sentir-se estreiando, ou irá tremer diante de um público enorme. Ele já tem a vivência de seis a sete anos de clube, já se acostumou faz parte da vida dele. Se você quer ser juiz de direito, mesmo que leve 100 anos, um dia será juiz de direito. Se quiser ser médico, mesmo que demore 100 anos um da será médico. Ser um artista como jogador de futebol é um dom. Não adianta querer ensinar um garoto a ser jogador de futebol. Se ele não tiver a aptidão natural, o dom, ele nunca será um bom jogador de futebol. Nem que ele frequente a escola do Zico. Nos dias atuais quem não gostaria de ter em sua família um jogador de futebol? Todo mundo queria.


Você pegou uma época boa?


No aspecto financeiro não. Nunca cheguei a fazer publicidade de algum produto, o marketing com jogador de futebol era muito raro. Por isso digo que os jogadores merecem o que ganham, são os empresários que fazem o salário deles. Valorizam. Antigamente o jogador sentava-se a mesa com o presidente de um clube para fazer o seu salário, ele estava sozinho. Os presidentes sempre tiveram muita habilidade em manipular, com isso o jogador acabava se iludindo com o que estava sendo oferecido e assinava o contrato. Hoje o jogador nem participa da negociação, só vai para assinar o contrato. Ficou mais profissional. O Neymar que é a estrela principal do futebol mundial, tem atrás dele Ronaldo Fenômeno que sabe de tudo e tem uma grande equipe dando-lhe suporte.


O Ronaldo têm se revelado um grande empresário do esporte?


Ele foi muito feliz em ser o grande craque que conhecemos. Um dom que Deus lhe deu, ser um matador, com uma velocidade impressionante. Como empresário torcemos para que tenha bons resultados dos seus investimentos.


Todo atleta tem uma característica própria, qual era a sua?


As minhas características eram a velocidade e impulsão. Por ser um jogador de baixa estatura eu era bastante explosivo. Tinha uma impulsão muito grande, fora do comum. Os jogadores laterais tinham que ser muito rápidos. O time que não tiver dois bons laterais não irá chegar ao ataque nunca. Eles desafogam o meio de campo, desafogam os pontas de lança que jogam na frente do time.


Quando você jogava no Corinthians em alguma partida sentiu que arbitragem interferia contra o time?


No caso do Corinthians não prejudicava. Como todos os outros times grandes, se houve alguma interferência foi a favor desses times. O famoso caso da “Máfia do Apito” revelou fatos que já ocorriam há muito tempo. A presença da televisão inibiu bastante as distorções. No Brasil é muito difícil enganar um torcedor, todo mundo conhece futebol, tem o dom de ser treinador.


Recentemente o Neymar chutou um pênalti que lhe valeu muita critica, qual é o seu diagnóstico a respeito?


É muito difícil falar sobre pênalti. Todos os grandes batedores de pênalti acabam errando. Isso não ira tirar a credibilidade dele, às vezes basta bater mal na bola. Quem tem que bater o pênalti é o diretor do clube de futebol, é uma responsabilidade muito grande. Se ele marcar o gol não terá muito mérito, mas se errar a cobrança é alta.


Você chutou muitos pênaltis?


Eu batia pênalti, nunca cheguei a errar nenhum. Batia bem na bola e batia forte. Nunca fui um batedor muito clássico, daqueles que sabem deslocar o goleiro. Eu visava um canto e chutava bem forte. Tem jogador que tem uma visão maior, bate, dá paradinha, deixa o goleiro se deslocar primeiro para depois ele bater. O goleiro é o único que ganha com o pênalti. Se ele não pegar ninguém irá falar nada, mas se ele defender estará consagrado. Grandes goleiros se consagram defendendo pênalti.


Chegou a estudar o comportamento de goleiros?


Não. Estudava as gravações do jogo de um ponta. Via que ele fintava pelo fundo e saia para dentro, outro fintava para dentro e saia pelo fundo. Naquele tempo já se estudava. Hoje os treinadores dispõem de muitos recursos tecnológicos para suas análises. Atualmente o futebol é muito mais tabelado, antigamente era mais cruzamento,
Linha de fundo e cruzamento. Hoje os jogadores são mais habilidosos em termos de espaço, antigamente éramos mais habilidosos em termos de campo, geralmente o meia-esquerda era mais habilidosos. Os outros praticamente só carregavam o piano. Hoje cada jogador é especialista em sua posição e o espaço diminuiu bastante, é uma correria muito grande, mas todo jogador habilidoso desequilibra. Tem que proteger bem a bola e tocar rápido.


Qual foi o jogo onde ganharam com a goleada mais expressiva?


Foi um jogo onde o Corinthians ganhou de 7 a 0 do Ribeirão Preto. Saimos consagrados até pela torcida adversária. O Corinthians só saia escoltado quando perdia dentro do Pacaembu.


Em que ano você saiu do Corinthians?


Fiquei até 1975, foi quando vim jogar no XV de Novembro de Piracicaba, o presidente era Romeu Ítalo Ripoli, uma pessoa muito inteligente, de raciocínio rápido, brigava pelo XV. A estrela principal do time era ele. Tínhamos um time muito bom. Nos campeonatos nacional, quando chegávamos a grandes estádios, de grandes capitais, notava-se uma aglomeração, parecia que estava ocorrendo alguma briga, era todo mundo aplaudindo o Rípoli, ele brigava contra a federação em nome dos times menores. A federação fazia resultados, prejudicando os times pequenos. Hoje melhorou muito em função da presença da televisão nos estádios.







No XV você permaneceu até que ano?


A primeira vez que joguei no XV foi em 1972, o time estava mal das pernas, foram me buscar no Corinthians. Fui muito bem sucedido aqui, fiz uma ótima campanha, o XV estava para cair, conseguimos nos classificarmos. Eles não conseguiram comprar o meu passe eu voltei para o Corinthians. Em 1975 vim em definitivo para o XV, onde joguei até 1981, como lateral direito. Disputei três campeonatos nacional. Joguei de quarto zagueiro, em um campeonato nacional ficamos em oitavo lugar com todo assalto que havia em cima de nós. Era um roubo descomunal em cima da gente. Ganhamos de todos os times grandes, ficamos invictos em treze partidas, acho que nenhum time faria isso hoje.













O Rípoli costumava dar um bom bicho aos jogadores?


Ele foi excelente, tinha jogos em que ele via que o juiz tinha favorecido nosso adversário, ele dizia em frente a toda imprensa, que daria o bicho para nós, pois nós éramos de fato os vencedores, a parcialidade do juiz tinha favorecido o resultado para o adversário. O Rípoli explicitava a toda imprensa quando o XV era prejudicado pela arbitragem. Uma vez empatamos com o Palmeiras no Parque Antártica, Ele nos disse que não teríamos bicho, dizia que tínhamos empatado com um time medíocre. Aquilo deu uma repercussão enorme na imprensa. Ele reafirmou que seus jogadores não podiam empatar com aquele timinho. Já em Piracicaba ele nos deu o bicho. Na história do futebol “bicho molhado” você recebe logo após a partida, quando o jogador está embaixo do chuveiro. Nosso bicho era sempre molhado. Muitos times prometem um bicho bom e não pagam, levam 90 dias para pagar. O Ripoli quando acabava o jogo já nos pagava o bicho, não tinha que passar na sede.


Qual é o aspecto ruim da concentração?


É ter que deixar a família. Em 1979 me casei com uma piracicabana, Sonia Regina de Paula Carloni, temos três filhos: Matheus de Paula Carloni, Eloah Roberta Carloni e Renan de Paula Carloni. Eu a conheci quando morava na Rua Riachuelo. Naquele tempo jogador de futebol não era visto com bons olhos, principalmente para contrair matrimônio. Como chefe da concentração eu impunha algumas regras de disciplina dos jogadores com o pessoal do bairro. Eu era querido por todo mundo. Com o passar do tempos nos conhecendo melhor. Para começar a namorar eu tinha que ir primeiro muitos domingos a missa. Eu sempre fui de ir a missa, mesmo nas concentrações, aos domingos ia a missa. Fui coroinha por três anos, na Igreja São Sebastião em Jaú. A concentração é boa, você se enturma com o pessoal, conversa o que tem que conversar, quem gosta de jogar um baralhinho joga, quem gosta de ping-pong joga, quem gosta de música, ou algum pesqueiro de pesque e pague.


Alguns jogadores, inclusive falecidos, chegaram a perder somas representativas em carteado de concentração.


São jogadores viciados em jogo, isso pode ocorrer inclusive em times grandes, pelo fato de ganhar um salário bem mais alto ele já não se empolga em jogar apenas por brincadeira. No XV praticamente nunca teve essa situação de jogar a dinheiro. Um fato perigoso é que o perdedor pode nutrir raiva contra o companheiro por ter perdido dinheiro para ele no jogo. Ao invés de lazer cria-se uma bronca da pessoa. O baralho quando foge do controle, sai da normalidade, pode destruir famílias, vidas. Nas concentrações sempre tivemos passatempos inocentes e amigáveis, passamos mais tempo juntos do que com nossas próprias famílias. Vivemos todos os dias juntos, viajamos, concentramos.


Em seu estabelecimento há muitas fotos ampliadas referentes ao XV de Piracicaba.


É o time da cidade, foi onde permaneci por mais tempo jogando. É um time pelo qual tenho grande amor. Joguei oito anos defendendo o XV.


Conseguiu ficar rico?


Infelizmente não. Se na época tivéssemos um orientador financeiro possivelmente o dinheiro aplicado em automóveis de luxo poderia ter sido aplicado em um bem durável, como terrenos por exemplo.


Até que ano você permaneceu no XV?


Fiquei até 1982, depois montamos um time muito bom. O Dracena Futebol Clube queria montar um time para ser campeão da Segunda Divisão, o Rípoli acabou me cedendo, fui capitanear aquele time com 18 jogadores contratados de times que disputavam a divisão especial. Fizemos uma campanha muito boa, Dracena nunca irá esquecer. Montamos um timão, perdemos apenas duas partidas no ano inteiro, só que não deixaram que nós subíssemos. Era ano político. Fizeram um jogo de apagão em Araçatuba, onde fizeram com que perdêssemos os pontos.


Política influencia no futebol?


Dracena era uma cidade de seis a sete vezes menor do que Araçatuba. A renda maior se dá em cidade maior. No ano seguinte fui para a cidade de Novo Horizonte no Novorizontino.Depois fui jogar no União Agrícola Barbarense Futebol Clube, fizemos uma campanha extraordinária, quando chegou no quadrangular final eu me machuquei, não pude disputar o quadrangular final. Tive que fazer uma cirurgia de reconstrução total dos ligamentos. Operei por três vezes o joelho esquerdo. Depois voltei a brincar nos clubes de Piracicaba, não tive mais nada.


Hoje você ainda joga um pouco?


Hoje já não jogo mais porque está dando artrose no joelho. (risos).


Como surgiu o nome Mika?


Mika era o meu apelido em Jaú. Não sei direito o porquê desse apelido, o que sei é que mica era a resistência de ferro de passar roupa. Quando vim jogar no XV, era conhecido como Ademir, de vez em quando ouvia na torcida alguém gritar: Mika! Imaginava que poderia ser meus primos de Jaú que tinham vindo para trabalhar na Caterpillar, os Pracucho, entre eles o João Batista.


Como é a relação do jogador de futebol com a imprensa?


Nunca fui um jogador com nota abaixo de sete, com isso eu estava sempre bem com a imprensa. Um jogador de altos e baixos será criticado, isso é normal. O profissional da imprensa está ali para fazer o seu trabalho, se o desempenho foi sofrível ele tem que falar.






sexta-feira, novembro 16, 2012

DARIO CORREA DE ANDRADE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 17 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/


                                Dario Correa e sua esposa Maria Idalina


ENTREVISTADO: DARIO CORREA DE ANDRADE
Possivelmente o programa apresentado em rádio, dedicado a música e costumes mexicanos, com maior longevidade no mundo, 50 anos, é apresentado por um brasileiro, em Piracicaba, pelo radialista Dario Correa de Andrade, tenente reformado da Polícia Militar do Estado de São Paulo. O programa de Dom Dario Correa é digno de reconhecimento e um verdadeiro caso a ser estudado por analistas em comunicação. Como um programa se mantém por meio século no ar apresentando músicas mexicanas? A explicação mais evidente é a paixão que Dario Correa tem pelo México. Dom Dario Correa é um cônsul não oficial daquele país. Esteve inúmeras vezes em visita ao México, tanto ao pousar o avião que o conduz, ou levantar vôo, a emoção transborda em seus olhos. Piracicaba tem raros mexicanos que residem nela. O próprio país, só recentemente passou a ter laços comerciais mais significativos com o México. Nascido na cidade de Cerqueira Cesar a 1 de novembro de 1936, é um dos 9 filhos de Cantídio Correa de Andrade e Olimpia Cornélio. Seu pai trabalhava com vendas. Dario frisa que sua origem é bem modesta. Dario Correa é casado com Maria Idalina Rossini Pompermayer Correa de Andrade, que já foi ao México com Dario Correa e fez várias observações sobre hábitos e costumes que conheceu naquele país.


Com qual idade o senhor começou a freqüentar a escola?


Nossa família tinha passado a residir em Botucatu. Com oito anos passei a estudar na Escola Rafael de Moura Campos. Fazer o curso ginasial era privilégio de pessoas cuja família tinha um poder aquisitivo elevado. Durante a semana eu andava descalço, tinha apenas um sapato que era utilizado aos fins de semana. A minha paixão não era ser rico, mas estudar. Fui até o Ginásio Diocesano de Botucatu, cujo diretor era um bispo. Ele me atendeu, perguntou-me qual era a minha necessidade. Disse-lhe que gostaria de cursar o ginásio. Na época não existia ginásio no período noturno. O bispo me arrumou uma bolsa de estudos, deu-me uma botina preta e uma roupa cáqui. Consegui cursar o ginásio na cidade de Botucatu. Um padre da Igreja de São Benedito, em Botucatu, arrumou-me um emprego no Campo de Aviação. Eu tinha uns 15 anos e fui trabalhar lá.


Qual era a sua função no Campo de Aviação?


Era almoxarife. Após concluir o ginásio fui para São Paulo, trabalhar no Campo de Marte. O hangar onde eu trabalhava tinha vários proprietários de aviões. Um senhor, Rufino Lomba, arrumou um quarto para que eu pudesse dormir no Campo de Marte. Ele também me arrumou um curso preparatório, ficava na Rua São Bento no vigésimo primeiro andar. Era um curso para ingressar na escola de aviação de Guaratinguetá. Permaneci por um ano em Guaratinguetá. Voltei para São Paulo onde ingressei na Guarda Civil, isso foi em 1956. A Guarda Civil de São Paulo tinha uma escola na Rua São Joaquim, 580, na Liberdade. Era uma corporação de elite. Os guardas civis trabalhavam com espadins, em cinemas, festividades, nos aeroportos, nas grandes agências como Cometa e Expresso Brasileiro. Como guarda civil fiz no Pátio do Colégio em São Paulo, um curso de espanhol e outro de italiano. Era um requisito necessário para trabalhar em aeroporto, agencias de ônibus. Fiz o curso cientifico, a noite, em uma escola próxima a Praça da República.


Nessa época o senhor morava em que bairro?


Eu era ainda solteiro, morava na Rua Visconde de Parnaíba, no Brás. Depois fui para a Rua Campos Salles.


Em que ano o senhor chegou a Piracicaba?


Foi no final de 1962. No dia 30 de janeiro de 1963 foi inaugurada a Guarda Civil de Piracicaba, na Rua Moraes Barros. No finalzinho de 1962 eu já estava trabalhando na rádio “A Voz Agrícola do Brasil”.


Como surgiu o rádio na vida do senhor?


Comecei na cidade de Botucatu, no “Serviço de Auto Falante do Venceslau” Era um serviço de auto falante com as características de uma emissora de rádio. Era instalado em um automóvel, parava em uma esquina fazia publicidade, como uma emissora de rádio, anunciava os filmes que seriam projetados nos cinemas da cidade, anunciava notas de falecimento e tocava músicas. Fiquei lá alguns meses, em seguida fui chamado pela PRF-8 - Rádio Emissora de Botucatu, cujo diretor era Plínio Paganini. Comecei a fazer um programa das 3 às 5 horas da tarde. O programa chamava-se: “Peça o Que Quiser e Ouça o Que Pediu” Tinha um companheiro que trabalhava lá e foi para a Rádio Record em São Paulo, ele me ajudou a ir trabalhar na Rádio Hora Certa de Guarulhos. Fui contratado pela Rede Piratininga, com emissoras em muitas cidades. Quando vim para Piracicaba a Rádio A Voz Agrícola do Brasil pertencia a Rede Piratininga. No finalzinho de 1962 passei a apresentar um programa onde tocava música mexicana. Muitos ouvintes ligavam perguntando por que eu não criava um programa mexicano. Em 1963 passei a apresentar o programa “México Canta”, na Rádio “A Voz Agrícola do Brasil”. Por 7 meses trabalhei também na Rádio Difusora de Piracicaba.


Em que ano o senhor passou a trabalhar na Rádio Educadora de Piracicaba?


Em 1968 fui contratado pela Rádio Educadora, o programa “México Canta” passou a ser “Noites do México”. Dr. Nelson Meirelles que me contratou. Ele era médico, diretor do INSS, da Santa Casa de Misericórdia. Mais tarde quem assumiu a direção da rádio foi sua filha Dona Ana Maria Meirelles de Mattos. Dr. Nelson Meirelles me ajudou muito, ele me aconselhava muito. Sua residência era na Rua XV de Novembro próxima a Rua Boa Morte. Ele me chamava de menino. Dizia-me para que estudasse. Fiz o curso de Administração de Empresas formei-me em 1978 e mais tarde em 1984 o de Jornalismo. Fiz a Academia de Polícia Militar do Barro Branco em São Paulo.


O programa “Noites do México” irá completar quantos anos?


Comecei no finalzinho de 1962, apresentado música mexicana, depois é que coloquei os nomes dos programas, considero que no final de outubro de 2012 completei 50 anos de apresentação de músicas mexicanas. Na Voz Agrícola do Brasil eu fazia também um programa chamado “Manhãs da Roça”. Na Rádio Educadora fiz muitos programas: “Eu, Você e a Música”, “Só Música Romântica”, com poesias, crônicas. Fiz um programa chamado “Sempre é Bom Recordar”, outro foi “Domingo em Alta Fidelidade”. Fiz o programa “Polícia Militar em Marcha”. Fui assessor de imprensa do quartel.


No quartel existe uma sala de imprensa?


É a “Sala de Imprensa Tenente Dario Correa”. Trabalhei no gabinete de vários prefeitos: Francisco Salgot Castillon, Cássio Paschoal Padovani, Adilson Benedito Maluf, João Hermann Netto.. Trabalhei com o Presidente da Câmara Municipal Homero Anéfalos. Por 10 anos fui oficial de gabinete do prefeito municipal.


Quantas vezes o senhor foi ao México?


A primeira viagem foi para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 1986. Depois fui muitas vezes. Mantenho fortes laços de amizade com mexicanos, de certa forma me considero representante diplomático daquele país em Piracicaba. Existe a Escola de Agronomia em Chapingo, próxima a cidade de Texcoco, Essa escola quando mandava seus alunos para fazer pós-graduação, doutorado na Esalq, mandavam que essas pessoas me procurassem aqui. Eu me tornava um padrinho dessa pessoa. Orientava-a em muitos aspectos.


                                                                   CANTINFLAS

O senhor foi convidado a participar de um programa de televisão no México?


Eu estava hospedado na casa de Juan Pitalua, ele disse-me que tinha um irmão que era diretor do Clube de Futebol America. Decidiram me levar á Televisa, para participar do programa de Juan Calderon. Na época meu programa estava a 28 anos no ar. Fui até e Televisa, para ser entrevistado e homenageado. Fui entrevistado também na Rádio Mundo, que naquele tempo tinha 200.000 watts na antena. Fui recebido pelo presidente do México Vicente Fox Quesada, de quem recebi um diploma de gratidão. Conheci muitas cidades: Vera Cruz, Guadalajara, Puebla uma cidade com muitas igrejas cujo teto e revestido em ouro. Em Puebla tem a fabrica Volkswagen. Estive em Guadalajara onde surgiram os mariachis.Mediante um determinado valor, um casal por exemplo, pode pagar para ouví-los a tocar e cantar musicas tipicas mexicanas.

                               Dario Correa em trajes típicos mexicano

O senhor está ha 50 anos apresentando um programa mexicano em Piracicaba, uma cidade que praticamente não tem laços culturais com o México, isso é um fenômeno?


O programa atualmente tem a participação de dois mexicanos, que acompanham do México o programa, via internet. O programa sempre foi apresentado as sexta feiras das oito as 10 horas da noite. Apresento outro programa diário das 4 ás 6 hras da tarde, é o programa “Chapéu de Palha” com música sertaneja de raiz, esse programa está ha 27 anos no ar.


Como é o programa “Noites do México”?


Apresento músicas mexicanas e aspectos de toda cultura do México. É um programa que requer conhecimento sobre a cultura mexicana. Tenho em um local um acervo muito significativo sobre o México. Objetos típicos de cada região, material fonográfico, fotográfico, documentação, certificados e diplomas que recebi. Tenho inclusive a imagem da padroeira da América Latina Nossa Senhora de Guadalupe.


No seu ponto de vista qual o motivo de identificação do piracicabano com a música mexicana?


As músicas mais tocadas no programa são corridos mexicanos. É próxima da música sertaneja brasileira. Muitos ouvintes são apaixonados pelo programa.


Cantinflas foi um grande artista mexicano?


Quando me perguntam como nasceu a minha paixão pela música mexicana, digo que quando era jovem ia assistir os filmes de Cantinflas, nome artístico de Fortino Mario Alfonso Moreno Reyes, ou simplesmente Mário Moreno. Ele trazia os mariachis que surgiram em Guadalajara. Interpretavam músicas lindíssimas do México.Como adolescente me apaixonei pela musica mexicana. Quando fui trabalhar na rádio “A Voz Agricola do Brasil” fui a discoteca e passei a tocar a musica que eu gostava, a mexicana, os ouvintes pediram que eu montassem um programa nessa linha. No dia em que fui ao programa de Juan Calderon, Cantinflas estava assistindo-o. Quando contei essa história, ele telefonou dizendo que ia para o programa imediatamente. Era um programa extenso, deu tempo de ele chegar a Televisa. Os mariachis cantaram, dançaram, fizeram homenagens ao brasileiro Dom Dario Correa. Na tela aparecia a legenda Ciudad de Piracicaba.


Sua paixão pelo México é enraizada, muito forte.


Tanto que quando vou ao México, o avião sobrevoando a capital, começam a cair lágrimas, o mesmo corre na minha volta ao Brasil. Tenho dois países: Brasil e México.


Como é a culinária mexicana?


O taco assemelha-se a uma panqueca, mais mole. A tortilha é uma massa mais crocante. guaca mole é puré de abacate bem temperado, que funciona como um complemento da salada. Os mexicanos são loucos por feijoada brasileira.


É um povo que cultiva o habito de adicionar muita pimenta a comida?


A pimenta é opcional. Uma criança de dois a três anos já se acostuma a consumir pimenta, os “chilis”. Antigamente no Brasil eram vendidos salsichas que ficavam de molho em um vidro. Geralmente em bares e restaurantes pricipalmente á beira de estradas. No México ao invés de salsicha usam pimenta ao molho. Tudo depende da vontade da pessoa, ela pode comer sem pimenta. Barbacoa é um dos pratos mais caros do México. Colocam pedaços de carneiro em uma vala, onde há uma espécie de prateleira. A barbacoa, ou carneiro como é chamado no Brasil é um dos pratos prediletos deles.


Como o senhor se sente, sendo dono de um patrimônio histórico, acumulado ao longo de 50 anos de apresentação de programa mexicano? Sabemos que será muito difícil existir outra pessoa que venha a acumlar tanto conhecimento sobre esse tema.


Tem que saber falar o idioma, conhecer a cultura e manter as amizades que possuo no México. É impressionante como em todos os locais onde vou ao invés de me chamarem pelo meu nome, me chamam por “Noites do México”. Isso ocorre também qundo ando pelas ruas da cidade. Observo também que intelectuais acompanham o programa. Tem muitos jovens apaixonados pela musica mexicana.


O senhor é religioso?


Bastante, quando fomos ao México visitamos a igreja matriz de Nossa Senhora de Guadalupe. É deslumbrante. Tanto ao subir como ao descer as escadarias é impressionante a ornamentação com flores. Em qualquer lugar onde se anda há abundância de flores. É muito comum o mexicano comprar um buque de flores e levar para sua casa, onde é quase unanimidade a existência de uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe.


Alguns habitos e costumes são bem diferentes da nossa cultura?


É um povo com grande epírito cívico, comemoram o dia da pátria com enorme devoção. Os festejos podem durar até uma semana. No natal consomem muito bacalhau, ao invés de peru ou suinos. O Dia de Finados é complétamente diferente do que se realiza no Brasil. Não há pessoas chorando no cemitério, Na noite da véspera de finados eles costumam ir aos cemitérios, tocam música mexicana, comem pratos típicos, isso se dá também no dia de finados. Eles acreditam que o espírito dos mortos vem até a família para visitá-los, e são recebidos com festas e alegria. Quem não for ao cemitério faz uma festa na residência.






WALDIR PEDRO GUIMARÃES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de novembro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/



ENTREVISTADO: WALDIR PEDRO GUIMARÃES
Waldir Guimarães como é conhecido reúne qualidades admiráveis. Excelente voz, articulado, possui elevado grau de cultura geral, de raciocínio muito rápido. A sua franqueza e humildade o transformam em um profissional de nível muito elevado. Não só seus ouvintes, mas todo profissional de rádio que o conhece sabe que Waldir Guimarães poderia ocupar com absoluta competência espaço em qualquer emissora do Brasil. Dr. Nelson Meirelles soube perceber seu talento de imediato e o convidou para integrar a equipe da Rádio Educadora de Piracicaba. Waldir é hoje prata da casa, quase uma identidade da emissora. Nascido em Caldas, Minas Gerais a 30 de junho de 1952, filho de Arlindo Monteiro Guimarães e Benedita Ramos Guimarães.


Até que idade você permaneceu em Caldas?


Até cinco anos. Sou muito mais paulista do que mineiro. Andamos por diversos lugares de São Paulo, até vir morar em Piracicaba, no ano de 1973. Era um jovem sonhador, acredito ser sonhador até hoje.






Tema da rádio novela "O Cara Suja"


Você freqüentou qual instituição de ensino?
Entrei no rádio por causa da escola. Fiz o curso primário em Ribeirão Preto, no Colégio Oswaldo Cruz, minha primeira professora foi Dona Elza Chagas, usávamos a cartilha Caminho Suave de autoria de Branca Alves de Lima. Dona Elza ministrou também O Tesouro da Criança. Minha segunda professora foi Dona Francisca. Lembro-me também da Cartilha Sodré. Meu pai era o que na época denominavam-se Guarda-Livros. Nossa família mudou-se para Araras, ele trabalhou na empresa de transportes Sopro Divino existente até hoje, o proprietário era o Sebastião Lolli. Nessa época eu tinha uns 10 anos, fui trabalha na empresa Moagem e Torrefação Guarani de propriedade de Sérgio Orpinelli, o café era pesado embalado e fechado de forma manual. Tinha uns 10 funcionários, todos ainda muito jovens. Um dia eu fui até uma emissora chamada Rádio Centenário. Entrei, olhei, mas não era a minha praia. No dia seguinte um colega disse-me: “-Vamos visitar a rádio novamente”. Voltei, foi quando gostei da mesa de som. Parecia uma nave espacial! Achei muito bonita, pensei se um dia teria condições de trabalhar nessa mesa de som, parecia que seria impossível. No dia seguinte voltei novamente, e fui me encantando com a mesa de som, achando que aquilo era uma coisa acima do que eu poderia fazer. O diretor da rádio chamava-se Francisco Salles Nogueira, era professor. Ele me disse: “-Você gosta daqui?”. Respondi-lhe que havia achado o lugar muito bonito. Ele me perguntou se eu gostaria de aprender a trabalhar na rádio. Disse-lhe que sim. Ele disse que eu tinha que estudar. Ele era diretor da rádio e diretor do Instituto de Educação Cesário Coimbra. Fiz o curso preparatório, prestei o concurso, fui aprovado e passei a fazer o ginásio. Fiquei seis meses olhando. Os programas na época eram com músicas da Jovem Guarda. Os locutores todos com um vozeirão lembro-me do Roberto Raskid. Eu fazia mesa para ele. Naquele tempo era muito mais difícil operar, era vinil, fita de rolo, as propagandas eram jingles em discos de 78 rotações por minuto. Existia o Supersom, um disco de alumínio com dois furos, 78 rotações. Com um pequeno pedaço de papel marcava os trechos que seriam tocados da fita de rolo. Lembro-me de jingles famosos como das Casas Pernambucanas, Cobertores Parayba, Bardhal.. (Waldir cantarola trechos dos comerciais).






Comerciais antigos veiculados pelo rádio

Na época existiam as rádios novelas?
Existiam duas novelas, de manhã com o patrocínio da Gessy Lever. E a tarde sob o patrocínio da Colgate Palmolive. Lembro-me de alguns títulos “O Cara Suja”, “Eu Compro Essa Mulher”, “Quo Vadis”. Grandes atores faziam a rádio novela: Sérgio Cardoso, Lima Duarte, Ézio Ramos, Gilmara Sanches, que foi jurada do programa de televisão feito por Silvio Santos. Ela era muito bonita e tinha uma voz belíssima. Essas novelas eram acompanhadas por todo o mundo, televisão era privilégio de uma minoria.


Qual era o seu horário de trabalho na rádio?


Trabalhava do meio dia até as seis horas da tarde, como eu gostava muito acabava permanecendo na rádio durante a noite. Estudava na parte da manhã.


Como era a remuneração?


Era um salário razoável, um salário normal para a minha idade. Fui fazendo mesa, tinha programa jornalístico, policial, musical. Eu procurava caprichar. Após uns dois ou três anos, um locutor deixou a rádio. O diretor disse-me para dar a hora certa. Entrei no estúdio tremendo, só que dei a hora errada, estava muito nervoso. Passei a dar a hora certa, anunciar a próxima música, tremendo. Fui fazendo isso, comecei a pegar gosto pela coisa, devagarzinho. Lembro-me dos programas apresentados na época, hoje seriam ridículos. Percebi que aquilo eu poderia fazer e que me dava prazer. Eu tinha uns 14 anos.


A sua família via como a sua participação em rádio?


Minha família gostava. Fui fazendo programa musical, parada de sucesso. De repente eu estava no rádio. Fiquei em Araras até 1973. Meu irmão trabalhava na Planalsucar em Piracicaba, vinculado ao IAA Instituto do Açúcar e do Álcool, era o sonho de todo engenheiro entrar no Planalsucar. O filho do Dr. Nelson Meirelles entrou, foi assim que através do meu irmão acabei conhecendo o Dr. Nelson Meirelles. Meu irmão queria que eu mudasse para Piracicaba. Eu não queria sair de Araras, um sábado vim conversar com Dr. Nelson. Era uma pessoa reservada, paternalista. Perguntou-me: “ Você quer vir para cá?” Respondi que não queria sair de Araras. Ele expôs as vantagens de trabalhar em uma cidade maior, mesmo assim minha decisão era permanecer em Araras. Ele disse-me para pensar bem, caso quisesse para voltar a falar com ele. O tempo passou. A Rádio Educadora era na Rua São José esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo. Seguia o padrão da Rádio Eldorado, hora certa e música. Um locutor foi desligado da rádio, Dr, Nelson mandou me chamar e disse:me “- Não sei quanto você ganha lá, mas vou te pagar cinco vezes mais”. Dr, Nelson era de poucas palavras. Nessas condições eu vim, com o coração apertado, mas vim. Eu estava ambientado em Araras, as rádios eram diferentes, lá era mais flexível em sua programação, o meu padrão era mais da rádio em Araras. Fiz um horário das 5 ás 7 horas. Outro horário que trabalhei foi das 23 até uma hora da madrugada. No início para mim foi difícil entrar no esquema da rádio. Das 18 as 19 horas havia o programa “Primeira Classe” apresentado pelo Dirlei de Almeida Canto. O programa “Primeira Classe” foi o xodó do Dr.Nelson, ele foi um dos fundadores da Escola de Música de Piracicaba. Ele sentia-se na obrigação de levar música erudita para Piracicaba. O Dirlei deixou de apresentar o programa, por um tempo eu apresentei o “Primeira Classe”.


A Educadora tinha uma programação própria para a época?


Era uma rádio sóbria, no período da manhã tinha um programa chamado “Clube da Frequência Fixa”. Era um programa mais solto, mais leve que iniciava às 8 horas e terminava às 12 horas. Era um programa de uma agência chamada “Orpan”, do Pantaleão Perillo Júnior e do Orlando Biscalchin.


Quando foi fundada a Rádio Educadora?


Foi fundada em primeiro de agosto de 1967. Em 1965 já estava em andamento o processo em Brasília, o Perillo, o Pereira Lopes, estavam envolvidos nesse trabalho. Como o Perillo fez toda a logística, Dr. Nelson concedeu-lhe um horário na parte da manhã da rádio. Através da Orpan esse horário era vendido, quem gerenciava era o Perillo. O agenciador publicitário era o Dario Correa. Ele já tinha o programa “Noites do México”. Quem fazia o programa era Rubens de Oliveira Bisson. Era um programa bem romântico, com bolero, guarânia. Quando o Bisson se ausentava ele pedia que eu fizesse o programa. Eu fazia do meu jeito, tocava flash-back, tocava música italiana. O pessoal gostava, era um estilo diferente, não era o padrão da rádio. Uns dois ou três anos depois o Bisson aposentou-se e eu fiquei no lugar dele. Fiz um programa chamado Tape Top, das oito horas ao meio dia. O programa foi um sucesso muito grande, isso foi em 1975. 1976. O programa estourou, foi um grande sucesso na época. O Waldir Guimarães tornou-se uma celebridade. Até então era um apresentador de programa. Durante alguns anos fiz esse programa. Existia na Rádio Educadora um programa apresentado aos domingos pelo Vovô Simões. Ele adoeceu Dona Ana Maria Meirelles de Mattos, diretora da rádio disse-me que estava procurando alguém para apresentar esse programa. Ela disse: “Tem um rapaz que faz as leituras na Igreja da Vila Rezende, o acho muito bom, tem boa desenvoltura, quero trazê-lo para fazer rádio, embora ele nunca tenha feito. Você me dá uma mão?¨ Eu disse á Dona Ana, que se eu pudesse orientar em algo estava a disposição. Ela disse que o achava muito comunicativo carismático e que deveria fazer bem o programa. Esse garotão era Luiz Antonio Copoli, assim nasceu Titio Luiz, sucessor do programa do Vovô Simões aos domingos. Titio Luiz fez o programa por muito tempo, foi um sucesso muito grande. A Rádio Educadora estava ainda na Rua São José esquina com a Rua Governador Pedro de Toledo. Titio Luiz deslanchou e passou a fazer o programa que ele apresenta até hoje: “Programa da Amizade”. Hoje ele é esse grande nome do rádio.


Você tem alguma paixão além da música?


Eu gostava muito de cinema, é uma paixão. Antes do Titio Luiz começar a apresentar o seu programa, eu apresentava um programa das onze horas ao meio dia, chamava-se “Cartaz de Cinema”.Era diário e no auge do rádio AM, na época a transmissão em FM era incipiente.Era tudo feito com discos de vinil, tínhamos uns 300 discos de cinema, cada dia tocava dois ou três, não tinha essa facilidade que existe hoje. Tocávamos temas de filme: “História de Elza”, “Os 10 Mandamentos”, “Lawrence da Arábia”, na ocasião o programa deu uma audiência razoável. Que é esse programa que apresento hoje na Rádio Educativa, aos sábados, das seis às sete horas da noite, já estou lá há oito anos, com mais de 5.000 trilhas.


Atualmente você faz que tipo de programa na Rádio Educadora?


Totalmente diferente. Do meio dia até a uma e meia participo do programa “Os Comentaristas”, que é um programa informativo, opinativo, totalmente diferente daquele musical. Tenho um programa aos sábados a tarde, que é um programa flash back, um estilo que gosto muito. Tenho um programa aos domingos, das 8 às 10 horas, chama-se: “Programa do Waldirzão”, onde é tocado flash back, música antiga.


Você tem um conhecimento muito profundo de música.


O pessoal diz, mas eu não me considero dessa forma, eu gosto muito de música, colocaram esse rótulo em mim, isso é um peso muito grande. Não sou esse profundo conhecedor de música que falam por ai. Apenas gosto de musica e conheço alguma coisa sobre alguns gêneros. O que eu conheço é o que vivenciei.


Você chegou a receber algum convite para ir trabalhar em alguma metrópole?


Quando jovem passei por essa fase de imaginar em ir para São Paulo. Considerei diversos aspectos e decidi ficar no interior mesmo. Trabalhei em Limeira, Americana, Campinas onde trabalhei na Central, na Educadora que hoje é Bandeirantes, o Sérgio Oba-Oba, trabalhou comigo. Tedeschi que está até hoje lá. Fazia Americana de manhã e Jornal de Limeira a tarde. Paulo Eduardo Temple Delgado fazia de manhã a Rádio Jornal e a tarde Limeira. Foi um aprendizado muito bom, aprendi muito com essas andanças.


Como radialista de sucesso qual a receita que você dá para quem está iniciando agora?


Acho que tem que gostar de rádio. Se não gostar, você não sobrevive. Gostando sua chance de sobreviver é em torno de 70%. Os outros 30% é ganho financeiro, vendas.


Rádio é uma cachaça?


É Diria até que é um vírus. Você sabe disso, você tem esse vírus.


Particularmente no interior temos uma situação diferenciada, onde o próprio locutor comercializa o horário do programa que apresenta.


Isso sempre existiu. No interior se você tiver uma boa carteira de clientes, você é um bom locutor. Eu contrariei essa máxima, nunca fui um bom vendedor. Sou um péssimo vendedor, nunca vendi nada. Tem gente que vende com facilidade, é uma característica pessoal. O Silvio Santos é um exemplo de bom vendedor e bom radialista. O que temos visto são bons vendedores e apresentadores razoáveis. Se você for um bom vendedor e um bom apresentador é como ganhar na mega sena ou super sena. Talvez seja uma deficiência minha, mas não sei vender.


O rádio trouxe-lhe satisfação?


O rádio me trouxe muitas alegrias.


Futebol você já fez?


Fiz plantão, sofri muito. Futebol não é a minha praia. Admiro o XV de Novembro de Piracicaba. Não sou uma pessoa apaixonada por futebol. Tem muitos cronistas que assumem posições de torcedores por razões profissionais.


Existe um ditado que diz que o futebol é o ganha pão da imprensa, isso em escala nacional.


Piracicaba é conhecida em muitos lugares em função do XV. Tem pessoas até no exterior que conhecem Piracicaba em função do XV. Ele é uma bandeira. Ele está fazendo 100 anos. Eu não entendo como uma instituição desse porte ainda não tenha sede própria. Falo como cidadão, como torcedor do XV, acho que já está na hora dele ter o seu estádio.


Há quantos anos você mora em Piracicaba?


Já são 40 anos.


Recebeu o título de cidadão piracicabano?


Não. Nunca me preocupei com isso. Tem gente mais importante que merece esse título. Faço rádio há tantos anos e ainda estou aprendendo, me considero um eterno aprendiz, por incrível que pareça sou uma pessoa extremamente tímida. No rádio sou aquela pessoa extrovertida. Eu, Waldir Guimarães sou extremamente tímido, é um paradoxo. O radio é como se fosse um teatro, faço aquilo, acabou, não misturo as coisas. Consigo separar essas duas situações. Existem pessoas que fazem questão em se apresentarem, divulgarem suas realizações. Eu fico na minha condição de cidadão comum. Não sinto a necessidade dessa janela. Sou mais reservado. Realizo-me ao microfone. Tenho amigos de muitos anos que não sabem que faço rádio. Não sinto a necessidade de falar de algo que não faz parte do assunto. Se a pessoa quer me agradar e acha que falando sobre rádio isso irá ocorrer, ela está enganada. Não sinto a necessidade de dizer que trabalho em rádio, não preciso disso. Isso não significa que estou menosprezando quem se sente bem se apresentando como radialista. Apenas digo que isso é uma característica minha. Um fato que me trouxe muita satisfação, é que em uma das minhas idas ao mercado, fui atendido por uma moça que me disse: “-Você trabalha em rádio!. Reconheci sua voz, você faz um programa na Rádio Educativa, o “Cartaz de Cinema”, eu acompanho o seu programa!” Fiquei contente, ela mostrou-se ser minha fã sem incorrer em elogios banais.Esse tipo de reconhecimento me faz bem. Continuo freqüentando o local, ela me trata da mesma forma que sempre me tratou.


Como é a sua relação com a internet?


Gosto de entrar em trilhas sonoras, algumas informações sobre filmes. Não participo de rede social, raramente uso correio eletrônico. Sempre gostei de preservar minha privacidade.


Mantém alguns hábitos alimentares típicos de Minas Gerais?


Gosto de um queijinho, de leite com farinha. Queijo frito. Gosto de comida simples, arroz, feijão, bife, um refogado, embora não saiba cozinhar. Faço o melhor miojo da cidade. Ovo frito é minha especialidade. Gosto muito de pão com banana.


Já fez cobertura de polícia?


Já. Já fiz de tudo em rádio, você tem que perguntar o que eu não fiz! Já fui discotecário, programador, apresentador. Conheci grandes nomes, como Hélio Ribeiro, Roberto Carlos, Roberta Miranda, que por sinal é uma pessoa muito agradável. Conversei com Dalva de Oliveira um pouco antes de ela falecer. Paulinho da Viola. Morris Albert. Fábio Júnior, também conhecido como Mark Davis,em determinada época. Moacir Franco. A Ivete Sangalo quando veio aqui em 1994 ela deu uma entrevista na Jovem Pan de Piracicaba, ela precisava fazer uma gravação para mandar para o Amazonas, era a época do MD Mini Disc ela gravou nos estúdios da rádio. Conheci Tião Carreiro, cujo nome é José Dias Nunes a ponte pênsil tem o nome dele, autor da música “O Rio de Piracicaba”. Milionário e Zé Rico. João Paulo e Daniel em 1976 gravaram uma vinhetinha para mim embaixo da escada na Rádio Educadora. O Zezé ia muito em Americana.


Como você vê o futuro do rádio?


O rádio sempre irá existir, embora já exista muita segmentação. O Repórter Esso por muitos anos foi a principal fonte de notícias do país. A Voz do Brasil é das 7 as 8 da noite porque era o período de maior audiência do rádio


Qual sua opinião sobre a Voz do Brasil?


Considero um jornal superado, desnecessário. Getúlio Vargas impôs a Voz do Brasil para veicular as notícias do período Vargas em horário nobre. Ficou esse entulho, um horário perdido. Estamos em uma democracia que ainda mantém Voz do Brasil, voto obrigatório. Se for uma democracia isso deixa de ser obrigatório.










sábado, outubro 27, 2012

WALDEMAR BONADIO BERTOLUCCI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 27 de outubro de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: WALDEMAR BONADIO BERTOLUCCI
Waldemar Bonadio Bertolucci é nascido a 7 de julho de 1940 em uma fazenda pertencente ao município de Vera Cruz entre as cidades de Marília e Garça. Filho de Antonio Bertolucci e Rosa Bonadio Bertolucci, o casal teve ainda os filhos Oswaldo e Maria Rosa. Seus pais trabalhavam na fazenda de propriedade de Dartiu Xavier da Silveira. A fazenda, com uns 70 alqueires, ficava a uns 12 quilômetros de Vera Cruz, o avô de Waldemar, Domingos Antonio Bonadio era o administrador, Antonio, pai de Waldemar era fiscal da fazenda. A principal cultura era a de café.


Em que ano você saiu da fazenda?


Saí em 1951, quando foi vendida a fazenda, eu tinha 11 anos. Aos oito anos eu já tinha entrado na escola que se situava na fazenda vizinha onde estudei até o terceiro ano primário. Mudamos para Vera Cruz em 1952. Era uma cidade pequena, hoje muita gente mora em Vera Cruz e trabalha em Marília. Ficamos até o mês de junho, mudamos para Tupã, onde concluí o quarto ano primário. Meu pai foi trabalhar com meu avô Giuseppe Bertolucci que tinha um sítio junto com seus irmãos. Eu permaneci na cidade de Tupã. Com 13 anos fui trabalhar na Fábrica de Guaraná Iara, que além de guaraná fabricava quinado, conhaque, engarrafava cachaça fabricada na Fazenda Coqueirão. Iam buscar aguardente com caminhão, enchiam as cartolas de madeira e traziam. O engarrafamento das bebidas, inclusive o guaraná era manual. Com uma concha já com o volume pré-determinado, um funil, colocava garrafa por garrafa o xarope que o químico tinha trabalhado a noite toda fabricando. Tinha uma máquina que completava com água e gás carbônico. Existia um pedal que era para tampar, era uma tampinha de lata com cortiça pelo lado interno. Colocava-se a garrafa em uma base, puxava uma alavanca ela encostava onde deveria receber a água, outra alavanca enchia de água e gás, pisava no pedal e tampava a garrafa.


Às vezes estourava alguma garrafa?


Estourava, usávamos óculos de proteção e um avental de borracha.


Você tinha quantos anos?


Tinha 13 anos. Hoje é proibido trabalhar com essa idade,


Você acha que começar a trabalhar tão novo prejudicou a sua vida de alguma forma?


De jeito nenhum!Acho que só ajudou. Aprendi a ter disciplina e conheci as dificuldades que a vida nos oferece.


O horário de entrada qual era?


Em torno de sete ou sete e meia da manhã. Tinha uma hora para almoço, ia almoçar em casa. Às vezes tinha que ajudar a carregar o caminhão, o guaraná tinha 24 unidades de meia garrafa, a caçulinha eram 72 unidades, 36 em pé e 36 encaixadas com a tampa da garrafa voltada para baixo, eram todas em caias de madeira. A maioria dos que trabalhavam na fábrica tinham a minha faixa etária. Éramos de 12 a 15 funcionários. O sobrenome do proprietário era Proteti. Não cheguei a ficar um ano nessa fábrica. Fui trabalhar em um bar que ficava no mercado velho de Tupã, ali ajudava a vender servir balcão e fazer sorvete. A massa do sorvete era batida a mão. Todo sorvete de massa que era feito lá era bom. Sorvete de creme, coco queimado, coco branco. Às vezes eu torrava o coco ralado em uma frigideira para fazer o coco queimado. Quando acabava de tirar a massa do tambor ficava uma beiradinha grudada que não sai na pá. Colocava a vasilha embaixo da torneira, com a água escorrendo pelo lado externo, a massa derretia e ficava um líquido gelado. Eu colocava em um copo e tomava. Os donos eram dois japoneses. De lá, aos 15 anos fui para Dracena, situada a 125 quilômetros de Tupã. Fui morar com meus tios Natal e Maria Bertolucci.


Qual foi seu primeiro emprego em Dracena?


Fui trabalhar no consultório do médico Dr. Gumercindo Correa de Almeida Moraes Júnior, meu tio trabalhava no posto de saúde, ele que me indicou hoje é uma atividade exercida praticamente pela classe feminina. Ele era clinico geral, aparecia todo tipo de doentes, muitos vindos do Mato Grosso. Eu fazia a limpeza do consultório, esterilizava instrumentos. As fichas dos pacientes eram preenchidas pelo médico. Não havia consulta marcada, ele ia atendendo por ordem de chegada. Iniciava às 8 horas da manhã e ia até o ultimo paciente. Naquela época havia muito panarício uma infecção aguda (provocada por uma bactéria estafilococo ou estreptococo) de um dedo da mão ou do pé. O paciente era tratado no próprio consultório, era ministrada a anestesia Sinalgan, eu ajudava a segurar o braço da pessoa. Aprendi a aplicar a anestesia. Aprendi a aplicar injeção aplicando no próprio médico quando ele estava gripado.


Qual é o segredo para aplicar injeção sem colocar o paciente em risco?


Primeiro é ter todo o material esterilizado. Segundo é não pegar a veia, você aplica, puxa um pouquinho o êmbolo, se não vier sangue pode injetar. Caso vier sangue, empurra a agulha ou puxa um pouco. Permaneci nesse consultório aproximadamente um ano. Fui trabalhar na Casa Jaraguá, uma rede de loja de tecidos localizada em frente a rodoviária de Dracena. Hoje é um jardim. A rodoviária era redonda com dois postos de gasolina, cheia de barzinhos, bazar. Entrei como pacoteiro, fazia pacotes. Quando chegava um ônibus pegava impressos da loja e panfletava junto aos passageiros Se o cliente se interessasse eu levava para a loja. Com isso o gerente da Lojas Riachuelo, de tecidos também, acabou me chamando para trabalhar com eles. Fui trabalhar na Riachuelo, como pacoteiro mesmo. O povo de Mato Grosso, logo na divisa do estado, vinha fazer compra em Dracena. Não fiquei por muito tempo na Riachuelo, eu tinha um amigo que era alfaiate, a sua mulher também costurava, eram recém-casados, tinham uma filhinha. Eu sempre ia visitá-los. Esse meu amigo acabou me convencendo a trabalhar como alfaiate, ele afirmava que era uma profissão com futuro. Nessa época meu pai tinha ido passear em Dracena, achei que aprendendo a trabalhar como alfaiate poderia trabalhar também à noite, sábado, domingo. Eu queria ser alguém na vida, ter uma casa minha. Queria ganhar dinheiro, mas estava difícil ganhar. Isso foi em 1954 ou 1955. Comecei costurando camisa, ainda não cortava. Paletó eu pregava entretela, caseava. Antigamente era tudo feito a mão, hoje é feito por máquinas. Na época a maquina de costura Pfaff era considerada a melhor para o uso dos alfaiates.


Você exerceu o ofício de alfaiate por muito tempo?


Eu tinha um tio, Vergílio Bertolucci, que morava em Andirá, no Paraná, ele era taxista, fui morar com ele. Um primo do meu pai, João, conhecido como Nico, tinha um armazém de secos e molhados em uma fazenda, fui trabalhar com ele. Passei a morar na fazenda na casa do Nico. Vendia muito, só de um fazendeiro atendíamos as famílias de 10 fazendas. Era tudo vendido com vale. (Anotação do valor da compra em um vale). No final de mês o fazendeiro mandava o dinheiro. Os vales variavam de350 a 400 cruzeiros. Do dia primeiro ao dia 10 cada dia as famílias de uma fazenda faziam suas compras. Não tínhamos condições de atender mais de uma fazenda por dia. Eram fazendas de café com colônia de 40, 50, 60 casas. Vendíamos apenas comestíveis, uma época passamos a vender também botinas. Meu primo Nico tinha um caminhãozinho Chevrolet 1951, com ele fazíamos as entregas das compras. Eu aprendi a dirigir nessa época. Um dia descemos em uma tulha para carregar feijão, carregamos, o cunhado do meu primo ficou com receio de que a caminhonete quebrasse achou melhor que depois o Nico a fosse buscar. Eu subi, dei partida e subi de ré até o topo, em seguida a conduzi até o armazém. Eu tinha uns 15 anos. Outro meu primo, que tomava conta da fazenda tinha um caminhão Chevrolet ano 1947. Câmbio seco. A partida era dada no pé. Tem que dar uma acelerada e pisar na embreagem para mudar a marcha.


No armazém vendia cerveja?


Vendia, não havia energia elétrica nem geladeira, a cerveja ficava no chão em cima do piso de cimento. Acho que se tivesse gelada o pessoal não tomaria já tinham se acostumado com a cerveja nessa temperatura. Pedro Coalho era um italiano que às vezes vinha a cavalo, parava no armazém, tomava duas cervejas e ia embora. Falei com meu tio Vergilio e com meu primo Nico que estava pensando em mudar para a cidade, trabalhar e estudar. Fui trabalhar em Andirá, em um posto com a bandeira Texaco, Era de propriedade de Ari Neves, tinha gasolina e óleo diesel, tinha lavador, troca de óleo e um restaurante que era arrendado. Eu atendia no caixa. O frentista também lavava caminhões, nessas ocasiões eu também atendia nas bombas. A bomba era elétrica, às vezes faltava energia tinha que servir combustível girando uma manivela. Naquela época no Paraná havia um trânsito muito grande de caminhões. O posto ficava na estrada existente até hoje, ligava Bandeirantes a Cambará. Hoje é asfaltada, na época era de terra. Quando chovia ninguém andava, tinha que esperar parar a chuva, duas horas depois o trânsito andava de novo. Uma vez choveu quase durante um mês inteiro. Tinha mais de 200 caminhões parados em Bandeirantes.


Colocavam correntes em pneus?


Nem com correntes os caminhões andavam. A terra grudava como uma cola, mesmo andando a pé ela vai grudando no sapato e não sai. As casas na época tinham uma lamina de ferro em um quadradinho de madeira para raspar o pé. Caminhão com corrente ia acumulando o barro e pegava na carroceria em cima. Jeep que era a condução mais utilizada no barro, com tração nas quatro rodas, o barro grudava na roda, pegava na lataria e travava. Se forçasse fundia o motor. O dinheiro dos motoristas desses caminhões ia acabando, para não estragar comeram os frios que um caminhão transportava e tinha também ficado encalhado. Começaram a cortar eucalipto que existia em uma fazenda, na beira da estrada e colocaram na estrada para saírem primeiro os que tinham mais urgência. Quando a estrada ficou enxuta, a bomba do posto não vencia abastecer tantos veículos. Iam ao restaurante para se alimentarem, cobertos de barro da cabeça aos pés. Isso foi de 1955 para 1956.


O dono do posto delegava a administração para você?


Delegava porque era uma pessoa muito doente, quase não aparecia lá, sua esposa que as vezes vinha. Eu depositava o dinheiro do movimento, telefonava para a Texaco em Ourinhos para pedir combustível. Os dois frentistas não sabiam dirigir, eu que colocava os caminhões no lavador. Certa ocasião o proprietário do posto estava internado em um hospital, sua esposa me pediu que eu fosse até Ourinhos buscar a sua filha que estava saindo de férias de um colégio interno. Embarquei em um trem misto, carga e passageiros, e fui até Ourinhos. Fui com o dinheiro para pagar o colégio, as contas da menina na cidade, quitanda, bazar. Vim com ela de trem até Andirá, lá seu avô estava esperando com uma charretinha para levar a neta. Em janeiro de 1957 voltei para Tupã. Meu tio tinha vendido o sítio e tinha comprado um armazém e um cinema em Arco-Íris, então distrito de Tupã.


Você veio trabalhar no armazém ou no cinema?


Nos dois! O cinema chamava-se Cine Arco-Íris, os filmes eram projetados aos sábados e domingos. Era um cinema com paredes de tábua, com janelas dos dois lados, o piso era plano. Existia um palco onde se realizavam bailes, colocavam-se as cadeiras de um lado e eram realizados bailes, carnaval.


Quem projetava os filmes?


Eu! Quando meu tio comprou o cinema já funcionava, Moacir Passador, esse é o seu nome civil, está vivo até hoje, ele era o maquinista, ou seja, quem projetava os filmes, sua família morava em Tupã, ele ia se mudar, fui para ficar no seu lugar. Eu ajudava meu tio no armazém durante o dia e aos sábados e domingos passava os filmes. A sessão começava as 20h00min horas. A máquina era de 16 milímetros.


Era uma máquina só?


Era apenas uma máquina, na hora de trocar o rolo de filme fazia-se um intervalo. Um filme comum, de uma hora e meia, eram dois rolos. Acendia as luzes, tirava um rolo colocava outro, passava a fita. Os filmes eram mandados de Botucatu. Semestralmente eles mandavam uma seleção de filmes, desenhos, documentários, seriados. Os seriados eram passados aos domingos. O filme que mais deu trabalho foi um que quebrou a fita quatorze vezes durante a projeção. O nome desse filme eu guardei: “O Monstro da Lagoa Negra”


 

Como era colado?


A fita tem uns quadrinhos que são tracionados pelos dentes de um carretel da máquina, dobrava-se onde quebrou, emendava, passava durex. Dobrava para cortar na medida certinha.


Quantas pessoas freqüentavam o cinema em cada sessão?


Uma centena de pessoas, ou um pouco mais. O pessoal era todo conhecido. Quando quebrava a fita faziam barulho, batiam o pé. As cadeiras eram comuns, tinha apenas uma ripa pregada unindo seis ou oito cadeiras, para o pessoal não tirar a cadeira do lugar. Permaneci lá até o final de 1957. Meu tio acabou vendendo o cinema para o ex-dono. Permaneci passando filmes para ele por uns dois meses. Eu disse ao meu tio que achava que o movimento comercial no armazém já não precisava do meu serviço. Tinha um viajante que vinha vender mercadorias para o meu tio no armazém, ele era de Tupã, era uma loja que trabalhava também no atacado, vendia armas, munições, ferragens. Vendia de tudo. Meu tio vendia só secos e molhados. O viajante disse-me: “Se você quer ir vá á Casa Dias que eu indico seu nome”. Trabalhei na Casa Dias por mais ou menos um ano. Em Marília ia abrir uma filial das Lojas Coteninga de tecidos, me chamaram, dois amigos iam para Marília para inaugurar a loja. Fui, fiquei morando no Hotel Nove de Julho, na Rua Prudente de Moraes, em frente ao Cine São Luiz. Inauguramos a loja em Marília fomos inaugurar a loja de Garça, peguei uma gripe, fiquei uma semana muito ruim. O movimento da loja após uns três meses caiu muito, já não estava me compensando ficar lá. Voltei para Tupã, um amigo me disse que na Lojas Riachuelo estava precisando de vendedor. Na segunda feira estava descendo a avenida entrei na Coteninga, os colegas brincaram comigo, acharam que eu estava de férias antes de completar um ano. Eu disse que estava indo para a Riachuelo. O gerente me convidou, acabei ficando na Coteninga. Até que um dia resolvi comprar uma caminhonete Ford 1933 e mascatear. A porta era como a da DKW abria ao contrário, chamada de “porta suicida”. Foi a primeira caminhonete que saiu com bomba de gasolina até então era o tanque era por gravidade. Motor 4 cilindros em linha. Passei a vender sardinha fresca. O trem trazia de Santos para Tupã, chegava as quatro horas da manhã em Tupã. O trem descarregava se não fosse buscar ficava na plataforma. Tinha um senhor que era o representante daqueles carrinhos de mão que vendiam na rua, Tupã tinha bastante disso. O senhor que mandava vir o peixe chamava Antonio Valverde, ele mandava vir de 10 a 15 quilos para cada peixeiro e para mim vinha uma caixa de madeira com 50 quilos. O gelo ficava dois a três dias na caixa e não derretia. Todo dia eu pegava 50 quilos e ia vender nos bairros vizinhos: Arco-Íris, Queiroz. Só que além do peixe eu pegava com o atacadista no mercado: repolho, tomate, batata. Saia para a zona rural, e por incrível que pareça o pessoal não tinha esses produtos plantados. Cuidavam de café, plantavam amendoim, mas não plantavam o que consumiam. O que eu vendia de sardinha para japonês! Em Queiroz tinha muitos arrendatários que plantavam amendoim, eu chegava já vinha uma japonesa querendo cinco quilos de sardinha, outra queria três quilos. Eu usava aquela balancinha de mão, com pratinho. A caminhonete quebrava muito, dava muita despesa. Vendi a caminhonete para uma fábrica de colchões, só que fiquei com ela até parar de vir peixe. Tinha mandado um telegrama para Santos suspendendo o envio, mas até certo tempo ele continuava a vir. Até receber o telegrama, cancelar o pedido demorava uns quatro ou cinco dias. Quando não veio mais peixe, entreguei a caminhonete. Em 1960 ia ter censo no IBGE, o pai da Wilma, Tedeskini Scalise, que eu nem pensava que um dia iria ser meu sogro, era o agente regional do IBGE em Tupã. Ele estava arregimentando pessoas para serem delegados censitários. Eu o conhecia porque o cinema usava um selo para ser colocado nas entradas, era o IBGE que vendia. Conversamos, ele me contratou, junto com outros que iriam para outras localidades sob a sua responsabilidade. Fiz um curso de uma semana e fui mandado para Monte Castelo, beirando o Rio Paraná. Naquela época residiam lá oito mil e poucos habitantes não chegavam a nove mil. Assim que cheguei a Monte Castelo, procurei o responsável pelo serviço de alto falante, não existia rádio na cidade, e anunciei que estava contratando pessoas para fazer o censo. Geralmente eram professores que tinham interesse. Dividi o município em setores, dei um setor para cada um, entreguei o material para trabalharem, dei um curso rápido informando o que deveria ser feito. Permaneci lá uns quatro meses. Aqueles professores iam a cavalo pelo meio da invernada, até uma casinha lá nos confins, tudo para realizar um censo bem feito.


A população maior era rural ou urbana?


Era rural. Acabei de fazer o censo, preparei todo material, mapas.


A saúde e a educação eram problemas graves da população?


A saúde sempre foi um grande problema, já foi pior. A educação era melhor, havia mais disciplina, mais respeito. Os professores eram mais respeitados e melhor remunerados.


Após terminar o censo qual foi sua próxima atividade?


Foi na época em que Jânio Quadros foi eleito. Voltei para Tupã, trabalhei algum tempo na loja de um português. Eu tinha um amigo chamado José Pereira França Filho, o Cazuza, pernambucano, ainda muito novo veio para São Paulo, trabalhou como peão em fazenda. Naquela época trabalhar em um banco era um emprego muito valorizado. O Banco Econômico da Bahia estava precisando de funcionário, por indicação do Cazuza, que era cortejado pelos bancos em função do seu elevado patrimônio, ele tinha 34 fazendas, fui apresentado ao gerente. Cumpri as formalidades necessárias e comecei a trabalhar a 1 de outubro de 1961. Minha primeira função foi ser caixa. Naquela época eram dois guichês, com uma gaveta só para dois caixas. Quando entrei tinha um caixa trabalhando, é amigo meu até hoje, chama-se Jayme Zampieri. Usávamos maquinas Burroughs, elétrica, quando faltava energia colocava manivela e continuava trabalhando. Por dois anos trabalhamos com caixa juntos. Fiquei no banco até 2002, foram 41 anos trabalhando no banco. Trabalhei no caixa, no conta corrente, lançando fichas de clientes, tinha uma ficha amarela com várias colunas onde lançava, depois veio uma maquina grande, tinha uma fita que era picotada, soltava um diário grande, carbonado, em três vias. tive que fazer um curso para trabalhar com ela. Quando chegou o computador eu estava afastado prestando serviço no Sindicato dos Bancários de Tupã, onde fui tesoureiro e vice-presidente. Fui suplente de Juiz Classista em Adamantina e Presidente Prudente.


Nesse meio tempo você estudou?


Fiz o curso de madureza, hoje chamado de supletivo.


Quando você conheceu sua esposa Wilma Scalise Bertolucci?


Eu a conheci na época em que estava com o cinema em Arco-Íris. Eu vinha comprar selos no IBGE com o pai dela, ela trabalhava no CPP, Centro do Professorado Paulista, situado ao lado. Às vezes ela vinha conversar com o pai dela logo voltava. Casamos em Tupã. Temos dois filhos: Welton e Fabrizio.


Como começou a sua paixão por avião?


Eu sempre gostei de avião, em Dracena tinha um amigo, Ângelo Sanches, que tinha avião. Em 1966 eu já estava no banco em Tupã, a prefeitura tinha construído um aeroporto novo e o aeroclube de Tupã estava fechado. Tupã tem uma pista boa, asfaltada, com 1530 metros e 35 metros de largura, balizamento e iluminação. Para dar um número maior de associados e reabrir o aeroclube, preenchi uma ficha. Fui procurado por João Marin Berbel, meu amigo, já tinha pertencido ao aeroclube antigo. Nosso instrutor era Manuel Nunes Feijó, de Marília. Comecei a voar em um P-56, motor de 90 HP, Paulistinha fabricado em Botucatu.


Qual foi a altura máxima que você já voou?


Com o Paulistinha foi 4;000 pés se não me engano. São aproximadamente 1.200 metros. Um pé são 33 centímetros.


Quantas horas de vôo você tem?


Tenho entre 800 a 1.000 horas de vôo.


Já teve pane alguma vez?


Só simulada, pane normal eu nunca tive. Uma manobra que eu fazia é o chamado “oito preguiçoso” Fiz vôos rasantes sobre o chamado Rio Feio. Voava com meu irmão, ele levava diversos pára-quedas pequenos, com um boneco, passávamos sobre o rio ele lançava os pára-quedas pequenos para o pessoal que estava pescando no rio. Tem um fotógrafo em Tupã que tirava muitas fotografias na cidade, Na época da construção do CEAGESP a cada quinze ou vinte dias tirávamos uma foto, acompanhamos a sua construção. Ele sentava no banco de trás, eu tirava uma porta do avião, eu ia com o nariz do avião para cima da torre, quando ele me dizia: “-Já” eu tirava o avião para o lado esquerdo e ele pelo espaço onde deveria ter a porta fotografava.


Como se deu a sua vinda à Piracicaba?


Após me aposentar continuei trabalhando por vários anos no banco. O Banco Econômico passou a ser BBV, cujos donos eram espanhóis. Em 2002 foi vendido para o Bradesco. Eles me ofereceram a oportunidade de continuar trabalhando ou se quisesse poderia sair. Eu e outro colega saímos do banco. A minha esposa Wilma se aposentou da escola onde trabalhava. Nossos filhos estavam morando em Piracicaba, decidimos mudar para cá.


Qual a diferença entre Piracicaba e Tupã?


Morei em Tupã quase 50 anos, é uma cidade bem menor do que Piracicaba. Atualmente tenho um circulo de amizades em Piracicaba, além de fazer pequenas tarefas junto aos filhos tenho lido muito.








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