domingo, junho 02, 2013

LUIZ CARLOS BONZANINI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 01 de junho de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: LUIZ CARLOS BONZANINI




Luiz Carlos Bonzanini é a imagem perfeita do profissional que trabalha naquilo que gosta de fazer. Apaixonado por rádio, dono de uma voz marcante, conhece desde a mesa de som até como gerenciar uma emissora, atividades que exerceu. Mestre de cerimônias ancora de jornal, apresentador, narrador de esportes, narrou até mesmo algo inusitado, um sepultamento. Grandes estrelas da comunicação partilharam do seu convívio profissional. Talvez um dos mais conhecidos do grande público seja o apresentador Carlos Nascimento. Nascido na cidade de Dois Córregos a 10 de dezembro de 1952. (É, portanto dois-correguense), na língua indígena Mokoi-Yembú significa Dois Córregos. Luiz Carlos é filho de Luiz Bonzanini e Maria Aurora Quero Bonzanni que tiveram ainda as filhas Aparecida Maria e Maristela. Luiz Carlos Bonzanini hoje apresenta o programa “ONDA CIDADE” das 13 ás 14 horas de segunda a sexta.


Qual eram as atividades dos seus pais?


Minha mãe era do lar e meu pai ferroviário. Ele começou trabalhando o que na época chamavam de “soca”, depois passou para o vagão troley, para a manutenção da caternária (linha aérea de energia), depois ele foi para o vagão solda, que soldava os terminais na linha do trem. Mais tarde ele voltou para o vagão troley como encarregado e aposentou-se como inspetor. Ele trabalhava na Companhia Paulista de Estradas de Ferro, mais tarde denominada Ferrovias Paulista S/A FEPASA.


Você chegou a morar em casa que a Companhia Paulista oferecia à seus funcionários?


Por um período moramos em casa de nossa propriedade, depois fomos morar na casa oferecida pela Companhia Paulista, era uma casa bem confortável, tinha dois dormitórios, sala, copa, cozinha, como de hábito na maioria das casas da época o banheiro ficava na área externa da casa.


Seus estudos foram realizados em que cidade?


Estudei em Dois Córregos, no Grupo Escolar Francisco Simões. Minha primeira professora foi Dona Leonor Guerreiro, no segundo ano foi Dona Letícia Poletti, no terceiro ano foi uma professora de sobrenome Capuzzi e a professora do quarto ano foi Dona Neide Francisconi. Ao concluir o primário, fiz um curso preparatório e ingressei na Escola Prática de Contabilidade, eu tinha uns 12 anos.


Com que idade você começou a trabalhar em rádio?


Comecei novo no rádio! Naquela época havia os comitês políticos, colocavam uma vara de eucalipto e a corneta (alto-falante) lá na ponta. Era montado um estúdio, como se fosse um estúdio de rádio. Com toca discos, microfone, eu tinha nove anos quando falei pela primeira vez em um microfone. Aos nove anos ia até o comitê, ficava ali por curiosidade e prazer, não ganhava nada. Era o comitê do Osvaldo Cazzonato candidato a prefeito e do Clineu Alves de Lima candidato a vice-prefeito. Eu tinha muita amizade com um locutor da Rádio Cultura de Dois Córregos, eu ficava ali, ele dizia: “- Fale um pouquinho!”. Fiz até um slogan para um vereador: “Vote bem, votando assim: para vereador Pedro Burin”. Eu tinha apenas nove anos. Foi um mandato “tampão” que eles cumpriram. Eu não tinha nenhuma remuneração era apenas o prazer de estar lá. Dalí a dois anos veio outra campanha, ai eu voltei com tudo. Tinha uns treze anos de idade, nessa ocasião ancorei mesmo o comitê político. Eu já estava lá, o outro apresentador disse-me: “Durante o dia você comanda”, a noite eu não podia ficar em função da idade, não era permitido.


Você continuou trabalhando sem nenhuma remuneração?


Não ganhava nada. Sempre diziam o seguinte: “Quem nasceu em Dois Córregos e não trabalhou na Rádio Cultura não é dois-correguense” Todos os jovens da cidade tinham o sonho de trabalhar na Rádio Cultura, a única que havia na cidade, 100 watts de potência, “ZYR-54 Rádio Cultura de Dois Córregos”. A freqüência era boa 650 khertz. No “dial” (mostrador de rádio) você encontrava um número pequeno de emissoras, não era congestionado como hoje. O que eu fazia na rádio do comitê já era o caminho que eu havia encontrado, já fui me preparando. Colocava músicas do Tonico e Tinoco, Tião Carreiro, Teixeirinha, Zilo e Zalo, Nelson Ned e fazia a campanha do candidato.


Já trabalhando na rádio você era procurado por artistas querendo divulgar suas músicas?


Nelson Ned gravou um compacto simples e ele foi até a emissora para promover a música “Será, Será” e na outra face do compacto era a música “Domingo a Tarde”, essa música estourou nas vendas. Nelson Gonçalves esteve lá divulgando seu trabalho, era de fato gago.


Você formou-se no curso de contabilidade?


Formei-me, mas não exerci. Nasci para o rádio. O candidato a vice-prefeito era o gerente da rádio, o Clineu, o meu sonho era conversar com o Clineu, pedir uma oportunidade na rádio. Uma determinada tarde eu estava fazendo a locução no comitê quando um cidadão parou logo atrás de mim, com o queixo apoiado em sua mão, ficou olhando. Perguntou-me se eu tinha a intenção de trabalhar na Rádio de Dois Córregos. Quase cai da cadeira. Respondi-lhe: “É o meu maior sonho”. Ele perguntou-me por que eu não ia. Disse que era por não conhecer o Seu Clineu. Ele disse-me: “Seu Clineu sou eu! Amanhã ás seis horas da manhã você vai até a emissora, estará lá o Compadre Vadô que apresenta o programa Aurora Sertaneja. As 5 horas e quinze minutos da manhã eu já estava na porta da rádio. O Sergio Cazonato era o técnico dele, eles entraram , entrei junto, já sabiam da minha ida. Como eu já tinha experiência na mesa de operação do comitê, com dois pick-up, fui para a mesa, o Cesar deu-me uma explicação, foi fácil para desenvolver. No dia seguinte o Sérgio que era o técnico não apareceu para trabalhar, passei a ser o técnico de som. Era para que eu praticasse a mesa para depois ganhar um horário. Nesse meio tempo se aprendia a “Humildade” que o Seu Clineu falava: varrer o salão da rádio. Tinha que fazer cobrança também para a emissora. Depois aprendemos como um transmissor trabalhava. Tinha um programa chamado “Variedades Musicais”, composto por uma música nacional, uma internacional e uma executada por uma orquestra. Era um programa para formar locutores, fui então fazer o “Variedades Musicais”, começava as nove horas da manhã e ia até as onze horas. As onze horas tinha um programa chamado “Instante Social”, era o clímax da programação da emissora. Eram noticiados os aniversários, batizados, comunicados, festas diversas , bailes. O locutor que fosse apresentá-lo era tido como o melhor locutor da rádio. Tive o prazer de apresentar esse programa durante dois anos, isso com quinze anos de idade. Passei a ser funcionário, ganhava 600 cruzeiros. Na época era um valor significativo, além disso tínhamos o livre acesso a cinema, clubes, carnaval. Bastava apresentar a carteirinha da emissora.


Por quanto tempo você permaneceu na Rádio Cultura?


Permaneci na rádio até os 18 anos, nesse meio tempo meu pai adquiriu um escritório de contabilidade e despachante policial. Eu e um colega que tinha sido técnico de som meu, o Carlos Alberto Soriano do Nascimento, que é o Carlos Nascimento hoje no SBT, ele foi operador de som em um programa que eu apresentava, chamava-se “O Comando é dos Brotos”, o prefixo era “Tijuana” com “The Clevers” e o fundo musical era “O Milionário” com os “ Os Incríveis”


O Carlos Nascimento é de Dois Córregos também?


Ele é nascido em Jaú só que cresceu em Dois Córregos, o pai dele é o Lalito, que faleceu em Piracicaba. A mãe dele é da família Soriano de Jaú, ela foi professora em Dois Córregos. O Nascimento tem uns dois anos a menos do que eu. O Nascimento tinha um trauma, o sotaque dele era piracicabano, ele não queria falar em rádio de jeito nenhum. Foi difícil. Eu apresentava o programa, animava e ele lia os comerciais. Um dos comerciais era da “Biga, Calçados de Pneus Ltda.” Era uma fábrica que havia em Dois Córregos. Outra empresa que anunciava era a “Distribuidora de Bebidas Santana” que era do Osvaldo Casonato. Fomos para um teste na emissora Jauense, emissora coligada. Fizemos o teste, após dois dias cheguei a minha casa e a minha mãe me entregou uma chave, dizendo: “É para você ir para o escritório que o seu pai comprou em sociedade”. Disse-lhe que não queria, estava esperando a Rádio Jauense me chamar! Meu pai era duro na queda, com isso fui contrariado para o escritório. Naquele dia o Seu Alides Fabris que era o gerente da Rádio Jauense me procurou, expliquei-lhe que estava comprometido com o escritório. Ele levou o Nascimento, só que a mãe dele era contraria a ele fazer rádio. Na época havia discriminação com quem fazia rádio não era considerada uma profissão. O Nascimento acabou não indo para a Jauense. Logo em seguida ele foi para São Paulo para estudar, foi quando ele ingressou na Rádio ABC do falecido Lombardi que trabalhava com o Silvio Santos. O Nascimento trabalhou muito tempo na Rádio Nacional, hoje Globo, ele cobria noticias do aeroporto. Depois ele foi para a TV Globo. Eu fiquei no escritório um ano. Abandonei, disse que ali não ficava. Vendi o escritório e fui trabalhar no escritório da Usina Santa Adelaide em Dois Córregos, Fazia dois meses que eu estava trabalhando, naquela época havia o jornal Gazeta Esportiva, o chefe da seção após o almoço abriu a Gazeta, foi quando vi escrito: “Campeonato Paulista Começa Domingo”. Bateu-me um desespero danado, pedi demissão na usina. Meu tio Eduardo Quero teve gráfica na Rua Alferes José Caetano disse que a Dedini estava contratando para o almoxarifado. Decidi vir para Piracicaba, isso foi no período entre 75 e 76. Passei nas provas, a tarde tinha entrevista no almoxarifado da Dedini. Quando entrei na sala assustei, pensei: “Agnaldo Rayol!”. Era Erotides Gil, idêntico a Agnaldo Rayol. Conversando ele me perguntou se eu era locutor de rádio, disse-lhe que era. Ele me disse: “-Então o que você veio fazer aqui?”. Mandou que fosse esperá-lo em frente à Rádio Difusora de Piracicaba as 17:50 horas. Entramos, ele me apresentou para o Luiz Hercoton, José Suave, pediram para que eu fizesse um teste, o operador era Claudinei Vaz. Gravei, ouviram e eu fui contratado pela Rádio Difusora de Piracicaba. Na Dedini eu ia ganhar um valor que na moeda da época era de cinco unidades, na Difusora passaria a ganhar cinco e meio. Nessa época eu já estava casado, casei-me aos 18 anos, eu já tinha meu filho. Naquela época tínhamos as taças Ouro, Prata e Bronze. A nossa equipe era composta pelos narradores: Ary Pedroso, Erotides Gil, repórteres de campo era Orlando Murilo e eu. O saudoso Luiz de Oliveira era o plantão. Recebi um convite dentro do Estádio Barão de Serra Negra em um jogo entre XV de Novembro e Vasco da Gama para me transferir para a Rádio Piratininga de Jaú, acabei indo para Jaú. Em Jaú permaneci por 15 anos, trabalhando ora na Rádio Piratininga de Jaú ora na Jauense.


Você jogava futebol?


Joguei no time Associação Atlética Mokoi-Yembú ( Dois Córregos) como lateral esquerdo, volante e ponta esquerda.


Em que ano você voltou para Piracicaba?


Em 1983 voltei para a Rádio Educadora de Piracicaba, quando o XV de Novembro subiu em uma partida contra o Bandeirantes de Birigui. Ainda na Educadora fui contratado por Adhemarzinho de Barros( Filho de Adhemar de Barros), ele havia instalado uma rádio em Bariri. Fui para gerenciar a emissora, permaneci lá por uns seis ou sete anos. Voltei para Jaú. De lá fui para a Rádio Gazeta em São Paulo, Tony José me levou, a família não se adaptava em São Paulo. Voltei para Jaú. Ao todo passei por 19 emissoras de rádio. Inclusive fiquei por algum tempo na Bandeirantes em Salvador, Bahia. Acabei indo para Igaraçu do Tietê onde gerenciei a rádio por 10 anos. Em 1998 o radialista Roberto de Moraes ne buscou, voltei para a Rádio Difusora de Piracicaba, fui para a Rádio Educadora, passei pela MIX de Limeira,


Você atualmente está na Rádio Onda Livre, já ha quantos anos?


Já estou ha quatro anos. Vim convidado pelo Roberto de Moraes e pelo Edirley Rodrigues.


Qual foi o primeiro jogo profissional que você narrou?


Foi do XV de Jaú contra o São Bento de Sorocaba. Jaú tinha uma dificuldade muito grande para ter narradores de partidas de futebol, o gerente da Piratininga na época Angenor Zago, perguntou-me se eu conhecia alguém, disse-lhe que sim, um amigo meu. O falecido Jamil Netto que morava em Piracicaba. No jogo XV de Jaú e São Bento de Sorocaba o Jamil teve um problema de saúde, fui comunicado pela sua esposa, avisei o gerente que perguntou quem indicou o homem. Disse-lhe que fui eu, ele então me disse: “-Então você se vira, você vai narrar esse jogo!” Narrei. Fui bem. Fiquei como narrador.


Qual é a maior dificuldade que um narrador de futebol enfrenta?


Nos dias atuais é o número da camisa. A confecção delas impossibilita o narrador enxergar o número da camisa. Esse número dourado é de difícil visualização à noite. O narrador em pouco tempo memoriza os nomes e posições de cada jogador. Cada jogador tem algo que diferencia de outro jogador.


Uma partida que envolva jogadores de um país estrangeiro com idioma muito diferente do nosso dá mais trabalho na hora de narrar?


O bom narrador consegue fazer isso de forma natural, existe algumas técnicas que ajudam. Temos casos de narrador que em um jogo ele utilizou apenas quatro nomes do time adversário. Geralmente isso pode ocorrer se ele tiver dificuldade na escalação, sem tempo de deixá-la correta.


Qual foi o primeiro jogo que você narrou?


Narrei muitos jogos amadores, o primeiro foi um jogo do "Scratch do Rádio", da Rádio Bandeirantes onde estavam jogando entre outros: Fiori Giglioti, Oslain Galvão, em um jogo contra o Barra Funda Futebol Clube. O melhor narrador do futebol esportivo estava ali, Fiori Giglioti, deu para tremer. Mas narrei, no final ele veio, me abraçou.


Narrar futebol é uma característica profissional muito pessoal?


Ser narrador é um dom. Não se aprende a narrar, quantos querem e não conseguem.


Você já foi mestre de cerimônia?


Muitas vezes.


São atividades que grandes nomes do rádio não exercem.


Existem locutores de um potencial incrível dentro do estúdio, inclusive alguns trabalharam comigo, se for expô-lo em público, subir em um palco ou algo que o valha, ele trava. Assim como existem locutores famosos que não tem a menor intimidade com a mesa de operações. Isso está mudando, o rádio com a mania de contenção faz com que o locutor passe a operar a mesa de som. Sempre houve o técnico de som e o locutor, hoje o estúdio é um ambiente só. Não tem mais a divisória entre estúdio e técnica.


Você narra outros esportes?


Gosto de narrar basquete, vôlei, futsal.


A célebre história de microfone aberto e conversa informal já aconteceu alguma vez?


Isso acontece. Ouvi certa vez uma frase que memorizei: “Antes de abrir a boca ligue o cérebro”. Às vezes entra em um estúdio pessoas que não são do ramo, algum convidado e no bate papo solta até alguma palavra mais forte.


Luiz Caarlos Bonzanini você construiu um nome forte no rádio.


Isso não me preocupa, considero mais as amizades que fiz. Gosto dos amigos. Fora do rádio tenho uma relação bastante simples com as pessoas que conheço. Conheci muitas personalidades esportivas, grandes astros, guardo algumas fotos de alguns desses momentos, narrei jogos com Zé Carlos que jogou no Cruzeiro, Sócrates, Rivelino, Clodoado, Airton Lira, Pedro Rocha, Zenon.


Hoje a tecnologia mudou, mas até pouco tempo narrar uma partida de futebol exigia uma logística que jamais o leigo poderia imaginar?


Para você ter uma idéia, quando narrávamos futebol na Rádio Cultura, você ia para Bariri transmitir o jogo, ao chegar ao campo tinha um rapaz da telefônica lá, nos identificávamos e perguntávamos onde estava a nossa linha. Ele respondia: “-Está lá naquele poste”. O locutor tinha que arrumar uma escada, subir, puxar o fio, engatava em uma maleta, era telefone magnético naquela época, girava uma manivela, falava com a telefonista: “ – Telefonista, é da Rádio de Dois Córregos, me liga no 18”. Era o número da rádio. Ligava, falava com a técnica, dizia que estava tudo em ordem. O gerente perguntava se os times estavam em campo, se estivessem, contava até cinco e mandava bala, passava a transmitir o jogo. Naquela época não tinha retorno. Não sabia se estava no ar ou não. Era como navegar no escuro. Com o tempo houve a evolução, apareceu o retorno, na Rádio Difusora, Arildo José, um grande técnico, nos dava condições de retorno no gramado.


Você trabalhou com Benedito Hilário?


Em 1983 ele apresentava comigo um jornal falado na Rádio Educadora. Atinilo José foi uma pessoa memorável. Apresentei muitos anos Jornal da Difusora, Segunda Edição, com Atinilo José. Desde que passamos a apresentar o jornal nunca fechamos de forma séria, sempre tinha algo pra sair rindo, tanto ele como eu. Sinto saudades das apresentações feitas com Atinilo José. Ele dizia “Dezooooiiito horas!”. Ele tinha um programa chamado “Show das Três e Meia” em nome do Arroz Fortuna, pedia para levar alguma coisa inusitada até a rádio, quem levasse dentro do horário pré-estabelecido ganhava um prêmio. Em 1976 quando trabalhei na Difusora trabalhavam: Nhô Serra, que abria a rádio, depois eu e J. Roberto cujo nome completo é José Roberto de Souza, apresentávamos o “Jornal da Difusora Primeira Edição” às sete horas da manhã, vinha o Ary Pedroso, terminado o programa do Ary vinha o esporte, que eu, Orlando Murilo, Ary, Gil, Luiz de Oliveira, apresentávamos. Depois vinha eu e o J. Roberto com o Jornal Falado, na seqüência do esporte, das onze e meia até o meio dia. Ai entrava o programa do saudoso Waldemar Billia, depois voltava o J. Roberto com o programa “Difusora, Rádio Tudo Bem”. Em seguida vinha o Atinilo com o programa “Varandão da Casa Verde”. À tarde J.Roberto e Atinilo apresentavam o jornal, em seguida vinha o esporte. A noite tinha o programa do Craveiro e Cravinho, e o Edirley Rodrigues que tinha o programa dele da noite. Em 2004 fui narrador esportivo na Rádio Brasil de Santa Bárbara D`Oeste, o Paulo Edison era o plantão esportivo. Edvaldo Tietz deu seus primeiros passos como repórter ali conosco. Outro foi Luiz Adalberto Nascimento, o Beto Pastor. Fui eu quem o apelidou. Foi em um jogo no Estádio Barão de Serra Negra, eu estava narrando e ele estava estreando, achei que chamar “Luiz Adalberto” era estranho, como ele era ligado a uma determinada religião eu chamei: “- Agora o destaque do repórter Beto Pastor!”. Se ele pudesse vir pela linha ele viria, ficou bravo, pegou o apelido. Um profissional que tem tudo para estar no rádio mas que fez a opção de trabalhar com publicidade.


Rádio dá dinheiro?


Deu. Ganhei dinheiro em rádio, mesmo no interiorzão. Na época combinava-se: “Quero você na minha equipe”. Hoje dizem: “Eu pago o piso salarial”. Nunca fiz só uma coisa no rádio, apresentava o esporte, tinha o meu programa musical, e fazia jornalismo.


Você ajudou a promover muitos nomes que hoje são estrelas no cenário nacional?


Na Rádio Canoa Grande de Igaraçu do Tietê Daniel e João Paulo com frequencia estavam lá, estavam começando. Sou da época em que os artistas e cantores apresentavam espetáculos em circo. Tinham que apresentar um drama. Lembro-me de Zé Fortuna e Pitangueira com o drama “O Punhal da Vingança”. Tinham que apresentar o show deles e um drama. Havia o Circo e Teatro Ascope.


Se você não fosse radialista o que faria?


Se não fosse radialista gostaria de ter trabalhado na FEPASA Ferrovias Paulista S/A. Meu pai dizia: “Onde o pai trabalha o filho não pode trabalhar”. Para não haver protecionismo.


Como radialista você cobriu noticias policiais?


Em Piracicaba eu fiz. É uma área em que se tem que ter jogo de cintura. Às vezes tinha que entrevistar o contraventor, mas tem que pesar muito, senti-lo, saber como ele está. Fiz a cobertura policial por muito tempo, nunca tive nenhum problema, mas sempre procurei trabalhar de forma a não ofender quem quer que fosse.


Como você vê o rádio atualmente?


É difícil falar. Hoje funciona da seguinte maneira, não importa quantos anos você tenha de rádio ou a sua audiência, você tem que vender. Se você não tiver sua carteira de clientes, amanhã vem um moleque que está começando no rádio, vem com R$ 10.000,00 de vendas, pede o seu horário, dão o seu horário para ele porque o dele é rentável e o seu não.


Baixou o nível do rádio?


Baixou! Hoje o rádio é comercial. Totalmente comercial.


Você fez televisão?


Trabalhei na TV do Silvio Santos, tinha um estúdio em Jaú. Era São Paulo, Jaú. Depois abriu outro estúdio em Ribeirão Preto. Eu gravava os créditos da televisão. E apresentei um jornal falado, entrava na rede. Tive uma rápida passagem pela MIX mineira, eu, Rogério Achiles. Gosto mais de rádio.


O ouvinte usa muito a imaginação ao ouvir o rádio?


Pela voz ele começa a imaginar o locutor, às vezes ele pensa que você é um cara de um metro e oitenta de altura, atlético, olho verde, quando ele vai ver não tem nada disso. Houve uma época em que o público feminino criava ilusões sobre um locutor de voz marcante. Atualmente isso mudou.


Você transmitiu de tudo, por acaso algum sepultamento?


Transmiti o sepultamento do jogador “Chicão”, Francisco Jesuino Avanzi, transmiti pela Rádio Onda Livre. Eu e Edirley Rodrigues fomos acompanhando o féretro até o Parque da Ressurreição. Narrava “Agora pela Avenida Independência nos aproximamos do Campo Santo, onde será sepultado...”. A transmissão foi feita por etapas. No ato do sepultamento narrei: “Acaba de ser sepultado...” Ai tinha diversos jogadores como o Careca, o Almeida., completamos com as entrevistas.








HÉLIO DE SOUZA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 25 de maio de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: HÉLIO DE SOUZA




Hélio de Souza nasceu a 31 de março de 1940, no município de São Pedro. Filho de Oscar de Souza e Rosa Barganholo de Souza. O casal teve os filhos: João, Julia, Luzia, Irene, Hélio, Antonio, José, Maria Rosário. Tiveram ainda um filho falecido aos 11 anos de idade, em 1936. Oscar e Rosa eram lavradores trabalharam no plantio de arroz, feijão, milho para sua subsistência, e trabalhavam como meeiros de café. Havia muitas fazendas de café, como Santa Júlia, Capim Fino, Monte Roxo, Macuco. Hélio de Souza, agricultor, sindicalista, político, é uma referência de idoneidade e integridade em todo o seu percurso nessas áreas. Assumiu muito jovem a responsabilidade de arrimo de família.


O senhor começou a trabalhar muito jovem na lavoura?


Comecei a trabalhar na Fazenda Santa Maria das Pedreiras, hoje denominada Santa Maria da Ponte do Meio, na época propriedade de Ernesto Piedade. Da fazenda eu vinha até a escola onde estudei até terminar o quarto ano. A fazenda tinha como atividade principal a criação de gado, na época havia umas oito casas na fazenda, sendo que em cada uma havia uma família com no mínimo cinco pessoas. Comecei a estudar com sete anos, na Fazenda Suíça, região de Marília. Meu pai caiu na ilusão contada por um senhor que dizia que em Marília alface dava do tamanho de uma pedra grande, porte equivalente a um saco de arroz. Com essa história ele levou daqui para lá cinco famílias. A fazenda lá era bem estruturada, com terreiro de café, escola, armazém. Quando chegamos lá vimos que a história era bem diferente, o cultivo era só de café. O salário era destinado a fazer a compra do que se consumia em casa. Se o alimento fosse suficiente para passar o mês tudo bem, senão se virasse. Com isso o trabalhador estava sempre devendo, era uma escravidão. Para sairmos de lá tivemos que sair fugidos, meu pai deu uma desculpa de que tinha uma tia passando mal em Jaú, tinha que vir embora. Tomamos o ônibus que passava na fazenda, a famosa jardineira, até Garça. De lá seguimos de trem até Torrinha. Chegamos a Torrinha à uma hora da madrugada, minha mãe estava grávida de oito meses, não tinha onde posar, lembro-me de que havia um bar aberto ainda, arrumaram uns colchões para nós passarmos a noite no armazém da estação. No dia seguinte, às sete e meia voltamos para casa. Viemos morar em frente ao antigo armazém de Vitório Longhi, era a casa onde morava a minha tia, irmã do meu pai. Permanecemos ali por uns quinze dias, depois mudamos para uma casa situada na Rua Veríssimo Prado, onde hoje é o Posto Serrano.


Morando na cidade qual atividade o pai do senhor exercia?


Sempre lavrador. Saia ia até as fazendas, cortava lenha, trabalhava por dia. Sempre existia uma condução que passava e o levava até o trabalho.


Os filhos ajudavam?


Meu irmão mais velho aos 18 anos foi servir o exército, quando terminou foi embora para São Bernardo do Campo. Ficou a Julia que era empregada doméstica; a Luzia e a Irene trabalhavam com bordado.


O senhor reiniciou o primário em São Pedro?


Como tínhamos ficado apenas sete meses em Marília não cheguei a concluir o primeiro ano do curso primário. Comecei o primeiro ano no Grupo Escolar Gustavo Teixeira, minha primeira professora foi Dona Lili Capeletti, a segunda professora foi Dona Mirtes, a terceira foi Dona Lela, a quarta foi Dona Lurdinha. Nessa época eu saia da escola e ia trabalhar na roça. Tinha um caminhão que nos levava para colher algodão na hoje Fazenda São Pedro do antigo Berge, e na Fazenda Altão. Eu tinha uns treze ou quatorze anos, íamos bastantes crianças. Na época usava alpargatas. Em novembro de 1955 meu pai faleceu. Fiquei com três irmãos menores e com a minha mãe. Eu tinha treze anos, José com nove anos, o Antonio tinha onze anos e a menorzinha com sete anos. Costumo dizer que ampliei meus conhecimentos na USP – Usina São Pedro.


Como foi a sobrevivência de vocês?


Minha mãe lavava roupa para outras famílias, meu pai morreu em uma terça feira, fizemos seu enterro na quarta feira, na segunda-feira seguinte eu comecei a trabalhar na lavoura como diarista. Fui trabalhar na Várzea do Araquá, no plantio de arroz, alho e cebola. Eu ia com o caminhão de turma, era um Chevrolet V-8. Comecei a trabalhar no Fazendão, na turma de Luiz Albino, já na lavoura de cana-de-açúcar. Trabalhei em toda a região de São Pedro, plantando e colhendo cana.


O senhor era bom no corte de cana-de-açúcar?


Acredito que era, tinha que ser para sustentar meus irmãos e minha mãe.


Cana queimada ou sem queimar?


Cana queimada. Naquele tempo tinha que cortar, amarrar em feixes de 12, 15, 18 unidades conforme a cana. O Fazendão era da antiga Usina Paraíso.


Qual era a melhor marca de podão?


Era o Santa Bárbara, dava para fazer a barba de tão afiado. Na época havia a enxada Duas Caras, mas eu gostava da Dragão, e lima era a KF.


Que horas era o almoço?


Saia daqui às seis horas chegava cedo, antes da sete horas tinha que comer um pouquinho, almoçava ás nove horas da manhã, voltava ao serviço ás nove e meia, o almoço era composto por feijão, arroz, ovo e batatinha cozida. Não esquentava a marmita, por isso surgiu o nome “bóia-fria”. Cada um levava o seu corote ou garrafão de água. À uma hora da tarde tomava café, que era o resto da comida que sobrava do almoço, café. Tinha uma hora de descanso e parava às cinco horas da tarde, de segunda a sábado. Chegava em casa, tomava banho e ia dormir. Naquele tempo não tinha televisão, quem tinha posses adquiria um rádio.


Aos domingos quais eram as atividades?


Assistia a missa das sete e meia da manhã, aqui em São Pedro passaram muitos padres, um dos que lembro era o padre Floriano Colombi que permaneceu por muito tempo em São Pedro. Ele que celebrou o meu casamento. A devoção da cidade é São Pedro, mas sempre fui muito devoto de São Benedito. O Roque Ferraz era fiscal da turma do Seu Luiz Albino, além de ser o motorista que nos levava. Eu tinha 17 anos, estava cortando cana perto de Artemis, antigamente denominado de Porto João Alfredo, foi uma semana difícil, ruim de cortar cana, estava chovendo muito. Em São Pedro havia a festa de São Benedito, era uma festa bonita, vim até a festa, fui até a igreja, naquele tempo havia a reza, pedi com tanta devoção, que me desse um serviço melhor, naquela semana não havia ganhado para pagar o armazém do Chiquinho da Venda. Quando retornei para casa, isso foi em uma sexta feira, meu tio estava me esperando em casa. Naquele tempo havia o preço pago para homem, para mulher e para criança. Uma criança poderia trabalhar melhor do que um homem, o salário seria sempre o de uma criança. A mulher, era a mesma coisa, dava um ‘couro” em homem na enxada, mas não ganhava igual a ele. Meu tio disse que ia abrir um serviço na Fazenda São Pedro, segunda feira: “-Você começa a trabalhar conosco, irá ganhar o preço pago a um homem”. Eu tinha 17 anos. Não sai mais da fazenda. Lá plantamos a primeira cana. Meu tio José Marciliano era o fiscal. Pedi ao meu pai, que já tinha falecido, e à São Benedito, com tanta fé, ele me deu luz e me protegeu.


Qual é o nome da sua esposa?


Maria Alves Batista de Souza, ela era empregada doméstica, nos conhecemos no centro de São Pedro, quadrando jardim. Casamos em 24 de dezembro de 1960. Tivemos quatro filhos: Aparecida de Lourdes, Lazara Bernadete, Francisco Valentim e Cláudia Helena. Tenho os netos Alessandra Cristina, Hélio Neto, Rodrigo, Renan, Letícia e Renata, os bisnetos Kaik e Matheus. Com 17 anos entrei no Engenho São Pedro na beira do Rio Piracicaba. Quem construiu o engenho foram o Dr. Celso Silveira Mello e o Dr. Leo Silveira Mello. Da. Isaltina Silveira Mello era irmã deles. Na época havia a Fazenda Samambaia que era do grupo. Tinha seis casas de colonos na Fazenda Samambaia , e na Fazenda São Pedro dez casas Ali era produzida pinga que era vendida a granel. Naquela época o trabalhador rural não tinha décimo terceiro salário, trabalhava de segunda a sábado, não tinha férias. Foi quando surgiu o movimento sindical no Brasil. Isso foi em 1962. Posso afirmar que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Pedro nasceu no Engenho São Pedro. Participaram Adolfo Bonifácio Bragaia que era pequeno produtor rural, Sebastião Mengatto, eu participava, assim como outros, formando um grupo. Primeiro foi fundada a Associação Profissional dos Trabalhadores Rurais, em março de 1962, em um domingo de páscoa. Em junho do mesmo ano formamos o sindicato, não tinha sede, funcionava aos domingos a tarde na Câmara Municipal. Isso foi até a Revolução de 1964.


Mesmo em uma cidade pacata como São Pedro ser sindicalista em 1964 não era muito confortável?


Era perigoso. Na época o sindicato que tinha muita força era o dos ferroviários. Nós tínhamos um advogado, Dr. Pompilho Rafael Flores, naquele tempo não havia juntas trabalhistas as questões trabalhistas eram resolvidas no fórum pelo juiz de direito. Dr. Pedro Capellari foi um dos que nos ajudou muito na fundação e na continuidade de propósitos. Outro que nos ajudou muito foi João de Brito.


Em que ano o senhor assumiu como Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Pedro?


Foi em 1967. A partir de 1970, 1973 Dr. Winston Sebe nos deu uma grande força. Em 1973 me licenciei do Engenho São Pedro e vim para o sindicato.


O senhor atuou na política?


Em 1976 fui candidato a vereador, no meus dois primeiros mandatos não existia essa história de subsidio politico, vereador não tinha salário, era voluntário. Tinha que trabalhar para a cidade de São Pedro e ter mais força para lutar pela nossa categoria. Eu não tinha nem automóvel, tinha uma bicicleta Monark Barra Forte. No segundo mandato surgiu a aposentadoria do político. Em São Pedro o prefeito mandou para a Camara o projeto para que o político, prefeito ou vereador, com oito anos de mandato passaria a ter o benefício da aposentadoria. Eu e os companheiros do antigo MDB não aceitamos. Em 1973 o trabalhador rural aposentava-se com meio salário mínimo, foi o primeiro benefício que conseguimos para o trabalhador rural, além da assistência médica, dentária, hospitalar, através do sindicato. Eu achava um absurdo o trabalhador rural aposentar-se com 65 anos e receber meio salário mínimo. Não aprovamos a lei para o político se aposentar em São Pedro com oito anos de mandato.


Quando o senhor foi eleito pela primeira vez quem era o prefeito de São Pedro?


Era Walmy Modesto. No meu segundo mandato foi Antonieta Eliza Ghirotti Antonelli, fui presidente da câmara quatro vezes. Fui eleito cinco vezes como vereador. Fui uma vez vice-prefeito da Antonieta.


O que a política trouxe de ensinamentos para o senhor?


É gostoso ser político, embora sempre deixe algumas mágoas. Nem tudo sai da forma como se deseja. Tenho orgulho em dizer que fui vereador por cinco mandatos, vice-prefeito, Presidente da Assembléia Municipal Constituinte na mudança da Constituição de 1988. Sempre fui filiado ao MDB depois PMDB.


Quais são os projetos do sindicato atualmente?


Hoje são mais dedicados á agricultura familiar. Representamos quatro categorias: o corte de lenha, a lavoura diversificada, a cana-de-açúcar e a laranja. De uns quatro anos para cá até junto ao pé da serra tem eucalipto plantado. Uma parte do Alto da Serra de São Pedro pertence ao município de São Pedro, outras partes pertencem a Itirapina, Brotas, Torrinha.


Qual é a vocação do município de São Pedro?


Eu falo que a agricultura é a vocação, mas o turismo está muito forte. Há muitos loteamentos, muitas chácaras, aos finais de semana prolongados a cidade fica muito movimentada. No censo São Pedro tem pouco mais de 33.000 habitantes, nesses feriados a cidade passa a ter mais de 50.000 pessoas. O Alto da Serra era o celeiro do município, hoje está tomado pelo plantio de cana-de-açúcar. Ainda tem um pessoal que cultiva verduras e legumes. Temos a Feira do Produtor Rural, a qual fui idealizador, atualmente aos sábados a Feira do Produtor Rural é muito freqüentada, é a venda do produtor para o consumidor. O nosso sindicato tem 51 anos de existência. Damos assistência médica, hospitalar, jurídica e previdenciária.







quinta-feira, maio 30, 2013

IRMÃ LUIZA BERTAZZONI

IRMÃ: LUIZA BERTAZZONI
Faleceu na cidade de Piracicaba aos 68 anos de idade e era filha do Sr. Ferrucio Bertazzoni e da Sra. Angelina Chinelatto, ambos falecidos.
Falecimento: 29/5/2013  Velório: R. BOA MORTE - 1.955 - CENTRO
Sepultamento: 30/5/2013 - 15:00:00
Local: CEMITERIO DA SAUDADE

EM SUA HOMENAGEM PUBLICAMOS ENTREVISTA REALIZADA EM 2008 NOS ESTÚDIOS DA RÁDIO EDUCADORA DE PIRACICABA 1060 KHERTZ.




PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Produção e apresentação Jornalista e Radialista JOÃO UMBERTO NASSIF
Transmitido pela RÁDIO EDUCADORA DE PIRACICABA AM 1060KHERTZ
aos sábados das 10:00 ás 11:00 horas da manhã.
Contato com João Umberto Nassif :e-mail:joao.nassif@ig.com.br
Este programa está também transcrito no site www.teleresponde.com.br
O Primeiro Setor corresponde à manifestação popular, que pelo voto confere poder ao governo. É o Estado. O Segundo Setor corresponde à livre iniciativa, que opera a agenda econômica, utilizando-se do lucro. É o mercado. O Terceiro Setor corresponde às instituições com preocupações e práticas sociais, sem fins lucrativos, que geram bens e serviços de caráter público, tais como: ONGs, instituições religiosas, entidades beneficentes etc.






ENTREVISTADA: IRMÃ LUIZA BERTAZZONI DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS FRANCISCANAS DO CORAÇÃO DE MARIA.


Nosso objetivo principal é dar uma pequena imagem de quem foi Irmã Cecília, que muitos piracicabanos conhecem como nome de rua, Rua Madre Cecília muitos sem saberem da importância dessa religiosa. Madre Cecília, ou Mamãe Cecília como é carinhosamente chamada, nasceu em Piracicaba aos 7 dias do mês de julho de 1852, filha de Pedro Liberato Macedo e Rosa Martins Bonilha, foi batizada com o nome de Antonia. No dia 11 de fevereiro de 1888, na presença do Padre Francisco Galvão Pais de Barros, por imposição paterna, casou-se com Francisco José Borges Ferreira, português, com quem teve três filhos: João, Antonio e Rosa. Seis anos após, ficou viúva e foi com seu trabalho de costureira que conseguiu criá-los. Piracicaba contava com 10.540 habitantes em 1888. Em 1895 ingressou na Ordem Terceira Franciscana, recebendo o nome de Irmã Cecília do Coração de Maria Aos 6 de janeiro de 1896, sentiu uma inspiração de Deus, que expressou às suas companheiras de trabalho e ao Diretor Espiritual da Ordem Terceira Franciscana - Frei Luiz Maria de São Tiago: “desejava arranjar uma casa, onde, junto com outras Irmãs Terceiras, pudéssemos viver a oração, o trabalho, ajudando os Capuchinhos em suas missões”. dizendo que essa casa seria “um asilo para as meninas órfãs”. As Irmãs Terceiras, confiantes no Coração de Maria, começaram a pedir ajuda ao povo para essa construção que foi inaugurada aos 2 de fevereiro de 1898. No dia 30 de setembro de 1900, sete Irmãs Terceiras por graça de Deus, davam início à Congregação das Irmãs Franciscanas do Coração de Maria. Madre Cecília era a superiora geral da nova Congregação. Transcrevemos na integra, texto publicado na época: “Estracto para publicação dos estatutos da Asylo de Nossa Mãe Artigo 1o – Com denominação de Asylo “de Nossa Mãe”, fica fundado com sede e estabelecimento na cidade de Piracicaba, um instituto destinado a educar e sustentar meninas desvalidas, orphams ou não,sem distinção de cor ou classe. Artigo 7o – O asylo será representado activa e passivamente em Juízo e em geral nas suas relações para com terceiros pela Directora, que poderá outhorgar mandato em delegação de poderes. Artigo 8o - A administração fica a cargo exclusivo da Directora, com as restrições expressamente consignadas nestes estatutos. (Essas restrições só dizem respeito à admissão ou retirada de algumma aluna,benfeitora ou mestra.) Artigo 3o – Os membros do Asylo não respondem subsidiáriamente pelas obrigações que os seus representantes comtrhirem expressa ou intencionalmente em nome della. Artigo 6o das disposições transitórias. Fica a directora auctorizada a fazer inscrever estes estatutos e a fazel-os publicar no jornal official do estado, na forma da legislação em vigor. Pelo Art. 9o das mesmas disposições foi declarada directora a sra. D. Antonia Martins de Macedo. Piracicaba, 27 de outubro de 1896 – Antonia Martins de Macedo”. A primeira pedra ficou bem embaixo de onde se vê , até hoje , o quadro de Coração de Maria. No dia 2 de fevereiro de 1898, mesmo sem estar feita a instalação da água, o Asilo foi inaugurado.


Existe um quadro do Coração de Maria exposto em uma das janelas, de tal forma que todo transeunte pode vê-lo?


Esse quadro tem um significado muito grande para nós. Frei Luiz Maria de São Tiago, no dia 21 de setembro, aos 22 anos de idade, recebeu o hábito dos capuchinhos, no noviciado da Província de Trento, Itália, no convento de Ala. Ele era colaborador de Irmã Cecília. Quando foi enviado da Itália para o Brasil, ao receber um quadro do Coração de Jesus do Papa Leão XIII , com a incumbência de propagar a devoção ao Coração de Jesus, por isso a Igreja dos Frades é Igreja do Sagrado Coração de Jesus, ele decidiu propagar também a devoção ao Coração de Maria. Quando foi construído o Lar Escola, foi ele quem esboçou aquele espaço para que um quadro sempre iluminasse a vida daqueles que passam à frente do Lar Escola. Na fachada lia-se: “Asilo Coração de Maria nossa Mãe” e um quadro do Coração de Maria, sempre iluminado ocupa a janela mais alta até os dias de hoje. Já são mais de 20 quadros utilizados nesses mais de 100 anos. De tempos em tempos temos que mudar por causa do efeito do sol que incide sobre o quadro. O sol queima a pintura.


Existe um espaço de relíquia da Mamãe Cecília no Lar Escola?


Costumamos dizer que é um espaço de relíquia. Tem as últimas coisas que ela usou, que pudemos guardar e conservar até hoje. Inclusive coisas que se desgastam rapidamente como tecidos por exemplo. Estamos conseguindo conservar um pouco.


Como é a história da construção do Asilo?


Mamãe Cecília, como sabemos, foi casada, e teve três filhos, sendo que a sua filha Rosa era portadora de deficiência múltipla, dando bastante trabalho. (Rosa era cega e deficiente mental). Viveu por 65 anos. Seu marido Francisco José Borges Ferreira faleceu no dia 7 de dezembro aos 43 anos de idade. Antoninha tinha 41. O pai de Antoninha Pedro Liberato de Macedo morreu aos 88 anos de idade e sua mãe Rosa Maria Bonilha faleceu três meses depois no dia 5 de março de 1894. Antonia completou 42 anos de idade em 7 de julho de 1894. No ano de 1895 os capuchinhos inauguraram a Igreja do Coração de Jesus em Piracicaba. A Ordem Terceira Franciscana é constituída de homens e mulheres que não deixam suas famílias nem seus trabalhos. Muitas fraternidades da Ordem Terceira do Brasil Imperial eram verdadeiros clubes que reuniam pessoas influentes e poderosas, como um sinal de prestígio e para garantir algumas vantagens como...jazigos em cemitérios! O Papa Leão XIII enfrentou uma corajosa reforma para que a Ordem Terceira voltasse à suas origens. Irmã Cecília foi nomeada conselheira da Ordem Terceira. Constam ainda como terceiras Dona Maria das Dores Morato (Da. Mariquinha) e Dona Luiza Josefina de Matos (Da. Luizinha). Um dia passando pela Rua Boa Morte com sua amiga, Da.Mariquinha Morato na altura onde ficava nesse tempo a casa provisória dos capuchinhos, Da. Antonia ficou encantada com uma bela paineira em flor, do outro lado da rua, e manifestou que aquele poderia ser um bom lugar para construir o Asilo. Disse então: - Eu gostaria tanto que a casa fosse construída no lugar dessa paineira. Mas aonde vamos arrumar o dinheiro necessário para adquirir esse terreno? Dona Mariquinha disse: Já é seu! Esse terreno é a minha herança de família! Foi a mais forte manifestação de que Deus queria que essa casa fosse erguida! Muitas crianças nesses mais de 100 anos já tiveram seu aconchego, seu descanso, seu alimento.


Como funciona hoje o Lar Escola?


Funciona como creche. Até a década de 1980 era internato, abrigo para meninas, ali eram abrigadas até 130 meninas abandonadas, órfãs, que não tinha com quem ficar. A partir do Estatuto da Criança e do Adolescente veio a proposta do desinternamento. Foi um longo processo que fizemos para que nenhuma criança ficasse abandonada, na rua. A partir daí passou a funcionar como creche e educação complementar. Hoje temos cerca de 250 crianças de 2 a 11 anos. Nota do Jornalista: Em 20 de novembro de 1989, a Assembléia Geral das Nações Unidas, aprofundando a Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1959, adotou a Convenção sobre os Direitos da Criança (uma carta magna para as crianças de todo o mundo). No ano seguinte, o documento foi oficializado como lei internacional. Hoje, a Convenção é ratificada por praticamente todos os países do mundo, excetuados Somália e Estados Unidos. No Brasil regulamentamos a CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. 5198 :: Profissionais do sexo. Por questão de bom senso, deixo para os legisladores e estudiosos do assunto analisarem e detalharem a matéria.


Aonde a senhora acredita que estão as possíveis 130 meninas que poderiam estar abrigadas aqui no Lar?


Hoje, se olharmos tantas unidades da Febem com situações sérias, é possível que não teríamos o passo do desinternamento. Não seria uma Febem, mas seria um abrigo com crianças com encaminhamento, saem aos 18 anos já com emprego. Algumas das meninas bem adiantadas em seus estudos.


O mesmo acontece com o Lar Franciscano de Menores?


Também! Um dos serviços que eles prestavam à comunidade era o de encadernação. Um trabalho de muito boa qualidade.


Hoje o Lar dos Velhinhos de Piracicaba recebe uma importantíssima atuação das irmãs?


A partir de 1917 nossas irmãs começaram a trabalhar lá. São quase 90 anos de serviços prestados aos idosos. E de serviço à saúde. No ano passado completamos 90 anos cuidando de doentes na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba.


O começo do Lar Escola foi difícil?


De 1898 a 1900 apenas era o Lar Escola. Cuidando de crianças. No dia 2 de fevereiro de 1898 , mesmo sem estar feita a instalação de água, o Asilo foi inaugurado. Era um edifício muito simples e pobre, que existe até hoje. Tinha três andares para economizar terreno. Naquele dia instalaram-se D. Antonia com quatro companheiras da Ordem Terceira Franciscana., seus três filhos, e as duas órfãs. Elas porém não eram freiras. Simplesmente moravam juntas, viviam uma vida religiosa. A casa era tão pobre que elas, quase sempre trabalhavam descalças. Alguém lhes doou doze latas de marmelada, abriam uma lata cada vez que entrava uma órfã: a lata vazia servia de prato. Até que Luiz de Toledo, um comerciante, visitou a casa e , e vendo aquela pobreza mandou um bom donativo de talhas, pratos, jarras e outros utensílios. Em 1900 foi fundada a Congregação. Com sete irmãs. Logo no início, ficando com sua filha Rosa, de oito anos de idade, mandou os filhos João, com sete anos e Antonio com cinco anos , para o Liceu Coração de Jesus, mantido pelos padres salesianos em São Paulo, sendo que as despesas correram por conta do Sr. José Estanislau do Amaral e segundo dizem, também Da. Tereza de Jesus Aguirre auxiliou. Mamãe (Madre) durante doze anos abriu novas casas, e cresceu o número de irmãs.


A senhora sente alguma diferença da criança de hoje com relação à criança de alguns anos passados?


Existem grande diferenças. Trabalho na educação há quase 40 anos. Os meios de comunicação toda à parte da mídia, liberam instintos, que não são bem direcionados. Hoje sentimos as crianças muito mais liberais, mais questionadoras, mais atrevidas. Não se conformam com certas coisas. São princípios da educação que tentamos passar mas encontramos resistência. Porque? Porque existe uma babá eletrônica, que é a televisão, aonde aprende a responder para o pai, para a mãe, para as autoridades.


Quanto à história do chalé?


Madre Cecília recebeu uma carta do Bispo Diocesano de Campinas, Dom João Batista Correa Nery, aonde dizia: “Madre,[...] cumprimentos. Se a senhora puder conservar os seus filhos do locutório para fora (Locutório é o compartimento separado por grades, donde falam as pessoas recolhidas em conventos, prisões etc. com as de fora que as procuram) poderá ficar em qualquer casa.; do contrário, ficará dispensada da Comunidade, em lugar onde possa recebe-los e cuidar deles”. Pouco tempo antes, uma sua benfeitora, tinha comprado para a Congregação uma casa vizinha ao Asilo, com um lote intermediário. Pertencia a uma tal de “Nhá Eva” e de lá vinha sempre muito barulho. Mamãe Cecília, brincando, chamava o lugar de “urupuca da cabocla”. Era um sobradinho a que as irmãs apelidaram de “o chalé”. Quando o bispo perguntou se não tinha aonde alojar a fundadora, essa foi à casa indicada. Teve de ir para lá, com sua filha Rosa, cada vez mais insuportável por causa dos seus gritos, e com a dedicada Irmã Maria do Carmo que lhe fez companhia até o fim. Esse chalé foi adquirido em nome do Asylo Coração de Maria em 1910, seus proprietários eram: Sr. Veridiano Rolim Barbosa e Sra. Maria Joaquina Barbosa, ficava na Rua Saldanha Marinho, 13 atual Rua São Francisco. Madre Cecília morou nessa casa por 31 anos. Esse chalé foi derrubado e foram construídas algumas casas para sustento do Lar.


O chalé está sendo reconstruído?


Hoje está sendo reconstruído não o chalé, mas um pequeno espaço de oração. Onde as pessoas podem ir lá, rezarem, se encontrarem, bem nas costas aonde era o chalé. Existe a maquete do chalé na sala de lembranças.


Tem uma fotografia mostrando religiosos ajoelhados na porta do chalé, simboliza o que?


Todos os anos, ela enfeitava a sacada do chalé, eram dois pavimentos, a parte de baixo com belas flores, e era um dos lugares aonde o Santíssimo parava e todo o povo rezava naquele momento de uma maneira especial. O chalé era mesmo a casa da Mamãe Cecília. Um lugar da Eucaristia. Mamãe Cecília tinha um amor muito grande por Jesus.E a noite quando ela acordava,ela visitava em pensamento todas as igrejas de Piracicaba. A gente sente em Mamãe Cecília uma pessoa muito envolvida com a comunidade, com a sociedade, com a pobreza, com os necessitados.


Quando a catedral sofreu um incêndio ela fez um apelo pelo jornal aos piracicabanos, dizendo que ela conhecia a generosidade deles e tinha a certeza de que todos iam doar se não me engano, 2 reais para a reconstrução da Catedral.


A documentação para a canonização de Madre Cecília foi reunida, tendo inclusive o Monsenhor Luiz Giuliani como secretário da causa. São aproximadamente trinta volumes que foram enviados a Roma. Acompanhei de perto. Hoje em Roma o processo já está se encaminhando, a questão das virtudes heróicas. Existe um sumário, onde se colocam as virtudes heróicas de Madre Cecília. São elas: a dedicação ao pobre, a disponibilidade, a obediência, o carinho e a dedicação para o doente, para o velhinho, para a criança. A fé que ela tinha. O cuidado com as crianças. Isso praticamente está pronto. Foi tudo traduzido para a língua italiana, hoje está se fazendo uma outra biografia documentada, Irmã Armanda Franco Gomes de Camargo é a responsável na Congregação pelo processo. Estamos já na fase dos milagres. Por isso todos aqueles que alcançam graças por interseção de Madre Cecília devem se comunicar com a Congregação descrevendo. Às vezes são verdadeiros milagres que acontecem, e não apenas pequenas graças. O telefone para comunicar-se é (19) 32329922 em Campinas, com a Irmã Cristina. Ou então escrevendo para a Rua Barão de Jaguara,140 Campinas. Ou ainda aqui em Piracicaba, a Rua Boa Morte 1955. Nós podemos ajudar na redação do texto. Pode ser encaminhado ao Lar Escola através do E-mail : larecmnm@terra.com.br. (É fácil guardar o endereço eletrônico são as iniciais de: lar escola coração Maria nossa mãe). Mamãe Cecília durante esse tempo em que ela ficou no chalé ela dava muitas bênçãos. Era chamada “Mulher das Bênçãos”. Essas bênçãos eram de acordo com a conversa que ela tinha com as pessoas. Hoje somos aproximadamente 200 irmãs, espalhadas em 8 estados do Brasil. Temos a Irmã Celina, missionária na África. Queremos no próximo ano se Deus quiser iniciar uma tramitação para que a força do carisma de Irmã Cecília também vá para a África. Esse carisma é ter o coração de mãe como Nossa Senhora. Nossas irmãs hoje trabalham na saúde, em hospitais, com crianças, em várias creches, na educação em colégios, com lares de velhinhos e na pastoral. Estamos abrindo também um novo ramo na Congregação, que é para os leigos Franciscanos do Coração de Maria. Pessoas casadas, que queiram ter esse coração como o de Nossa Senhora. Viver o carisma. Temos uma reunião por mês, de formação, e a expressão do carisma é onde você estiver, aonde você trabalha. O nosso encontra é todo segundo sábado do mês, a partir das 3 horas da tarde até as 4 horas aproximadamente. É um momento de formação para aquelas pessoas que querem viver como nós, que vivemos esse carisma de ter um coração como o de nossa senhora. Isso é para jovens, casados, solteiros, para todas as situações da vida. Todo ano no primeiro domingo de setembro fazemos uma peregrinação. Tem pessoas que vêm do Rio de Janeiro, do Paraná, da Bahia, Minas Gerais. Passam o dia em oração e reflexão, em convívio com Mamãe Cecília. Visitam o quarto, conhecem a sua história. O encontro se dá das oito e meia da manhã ás quatro horas da tarde. No próximo dia 3 de setembro a comunidade toda de Piracicaba e região está convidada. Entrem em contato conosco, dando sua adesão, para termos uma idéia se temos que colocar mais água no feijão! (risos). No último encontro participaram aproximadamente 450 pessoas. Pouco adianta as palavras. O exemplo arrasta. É marcante que fundada a Congregação em 1900, em 1904 ela vai para Descalvado, em 1905 em Descalvado mesmo ela inicia outra obra o Externato Imaculada Conceição.Logo depois em 1906 vem o Hospital de Jundiaí. Em 1914 a Santa Casa de Limeira. Mamãe Cecília tinha o coração voltado para quem sofria ! Hoje temos aproximadamente 34 casas. Mas se formos olhar quantas abrimos e saímos, porque o nosso carisma é de peregrinas, como São Francisco, esse número atinge cerca de 80 e poucas casas! Inclusive no Amazonas! Já estive lá várias vezes.








sábado, maio 18, 2013

RAUL HELLU

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 18 de maio de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/

ENTREVISTADO: RAUL HELLU



Raul Hellu é funcionário público aposentado, ingressou no Lions Clube Piracicaba-Leste em 1971 sendo seu presidente no ano Leonístico73/74, por vários anos foi diretor de comunicação do mesmo Lions. Foi diretor do Centro Cultural e Recreativo “Cristóvão Colombo” durante 23 anos. Por 10 anos foi diretor do Centro de Reabilitação de Piracicaba. Diretor da Guarda-Mirim de Piracicaba por 6 anos. Assessor do ex-prefeito Luciano Guidotti, ex-secretário municipal para assuntos extraordinários na administração José A. Borguese, Membro do Conselho Municipal do Idoso, durante anos foi redator esportivo nos jornais: “O Diário” e “Jornal de Piracicaba”, comentarista esportivo na Rádio Difusora de Piracicaba. É Presidente da Comissão de Sindicância da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa, Diretor da Escola de Mães “Branca Motta de Toledo Sachs”, membro Emérito da loja maçônica Piracicaba. Raul Hellu nasceu a primeiro de março de 1921 em São José do Rio Preto. Filho de Elias Hellu e Bassima Hellu ambos imigrantes sírios. Elias Hellu, ainda aos 20 anos imigrou para os Estados Unidos onde permaneceu e trabalhou por cinco anos. Voltou para a Síria onde se casou.

Recém casados, Elias e Bassima, imigraram para o Brasil, desembarcaram em Santos e seguiram para São José do Rio Preto. Elias veio acompanhado de seu tio Azis e sua esposa.

Qual atividade o pai do senhor exerceu ao chegar ao Brasil?

Montou uma loja, progrediu muito, o primeiro automóvel de São José de Rio Preto foi adquirido por ele, era um Ford. No dia 24 de outubro de 1929, que ficou conhecida como Quinta-Feira Negra, ocorreu o crash (quebra) da bolsa de valores de Nova York, atingiu em cheio a economia do Brasil, muito dependente das exportações de um único produto, o café. Meu pai fornecia mercadoria para as famílias instaladas nas fazendas de café. Os volumes de mercadorias eram altos: um vagão de açúcar, um vagão de sal. Com a quebra dos fazendeiros, o comércio do meu pai também quebrou. Com o que sobrou, um restinho de loja, ele transferiu-se para Piracicaba, com ele vieram esposa e seis filhos.

Em Piracicaba ele passou a fazer o que?

Ele montou uma pequena loja na Rua Governador Pedro de Toledo, quase em frente a Casas Pernambucanas, o prédio existe até hoje. A tradução para Hellu em árabe é “doce, açucarado, ou belo”, depende de como é colocada a expressão na frase. Meu pai ao chegar ao Brasil queria mudar o nome para Elias de Mello, não deixaram. Ele queria abrasileirar o seu nome para facilitar a vida dele no Brasil.

Após instalar pequena loja na Rua Governador Pedro de Toledo como foi a vida comercial da família?

Meu pai sempre atuou como benemérito, principalmente com os imigrantes seus patrícios. Issa Antonio é um contemporâneo seu, que sempre afirmou isso. Ele dizia que meu pai tinha ajudado muitos patrícios. Meu pai era um homem generoso. Quando teve prejuízo nunca se mostrou alterado, não ofendeu ninguém. Era um homem pacífico. Era um homem com cultura, tinha instinto poético.

Qual foi a providência imediata que ele tomou para sanear as finanças?

Passamos a mascatear. Eu era um menino ainda, e ele me levava. Íamos com uma carroça cujo cavalo chamava-se “Patriota”. A rota de percurso era Formigueiro, Saltinho, Sete Barrocas. Levávamos tecidos, miudezas, trazíamos frutas, verduras, frangos, ovos. Era feita a permuta. E assim meu pai foi levando, com muita dificuldade. Cheguei a dormir em paiol, embaixo de pé de café. Comia bortoega, tomate, tudo que era planta rasteira produzida no sítio, ele levava sal e pimenta, mergulhávamos no sal e na pimenta e comíamos.

E os outros irmãos?

Ficavam em casa, naquele tempo mãe era a “maezona”, cuidava dos filhos, não terceirizava o filho como hoje. A educação está perdida porque os filhos estão terceirizados. A mãe e o pai vão trabalhar, os filhos são deixados com as babas, e creches, isso é um crime que está sendo feito, os filhos estão perdendo noção de família. Nossos filhos eram educados embaixo da saia da mãe.

A família continuou morando no mesmo local?

Mudamos para a esquina no Largo do Mercado em frente onde atualmente é a Loja Cybelar. Uma casinha, o pé direito da casa era um mourão de ferro. Um dia eu fiquei com uns trocados do meu pai, para ir ao Cine Iris, mais tarde Cine Broadway, era ainda tempo do cinema mudo. Uma orquestra tocava antes do início dos filmes. Meu pai ficou sabendo que eu tinha ficado com o dinheiro fruto da venda de um retrós de linha, para ir ao cinema. Deu-me uma surra muito bem aplicada. Nunca mais eu coloquei a mão em nada. A educação era severa. Hoje o jovem pode tudo! Sem dizer que na sua grande maioria não são educados pelo pai, pela mãe. Hoje da forma como é feita, entregar o filho para que terceiros eduquem é perigoso. Já falam que daqui a algumas décadas não haverá família. A sociedade está se esgarçando moralmente, isso é mundial.

O senhor tem alguma religião?

Sou Católico Apostólico Grego. Faço o sinal da cruz com três dedos. A missa é escrita em árabe e traduzida para o português.

Onde o senhor estudou o primário?

As primeiras letras estudei no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. O ginásio eu fiz na Escola Normal (Sud Mennucci). Tive que ajudar meu pai não prossegui os estudos. Aos 18 a 19 anos de idade entrei um pouco na política, fui integralista, fui fã de Plínio Salgado. A causa integralista tinha umas particularidades que me agradava muito. Diziam que era fascista. Não tinha nada de fascista. A palavra Anauê é um vocábulo de origem tupi, que servia como saudação entre os indígenas e de brado. É uma palavra com conteúdo afetivo que significa: "Você é meu irmão" O integralismo usava o sigma “Σ”. Os alemães usavam a suástica. Como havia alguma semelhança os americanos passaram a combater o integralismo.









O senhor chegou a ter farda?

Usava o uniforme verde que simbolizava a esperança, com o sigma. Quando os grandes matemáticos faziam cálculos avançados colocavam ao final o sigma como exatidão da operação. Lembro-me quando Plínio Salgado esteve em Piracicaba no Teatro Santo Estevão. Grandes nomes da cultura nacional pertenceram ao integralismo. Jorge Coury era integralista. Gustavo Barroso era integralista. Tínhamos uma estirpe de homens de valor que foram integralistas. Plínio Salgado queria criar o Homem Integral, por isso se chamava integralismo.

O senhor permaneceu no integralismo até quando?

Até ele ser extinto. Nós desafiamos a diplomacia americana, acabaram conosco. Enquanto existiu o integralismo eu participei, estimo uns oito ou nove anos. Nós reunimos em casas de membros do integralismo, não havia um local que funcionasse como sede. Isso foi nas décadas 30/40 período de Getulio Vargas.

Como Getúlio via o integralismo?

Atravessado! Era oposição. Considero que Getúlio só criou duas coisas boas: a Petrobrás e a CLT. Na Revolução Constitucionalista de 1932 eu era um menino ainda, mas vi a movimentação ocorrida.

O senhor entrou para o Clube Cristóvão Colombo com que idade?

Eu era menino já ajudava o Clube Cristóvão Colombo que funcionava na Rua São José esquina Com a Rua Governador Pedro de Toledo, em um prédio antigo que existe até hoje. Como estava sempre colaborando com o clube, acharam que eu deveria ser diretor, isso foi em 1956 o presidente era Telmo Otero. Comecei a pegar gosto pelo Cristóvão e fiquei, sou sócio Benemérito.

O senhor sempre foi bom orador?

Logo que entrei para o Clube Cristóvão Colombo fiz o curso de oratória com Frei Thimóteo. Em 1948 fui fazer um discurso, na Igreja Bom Jesus, eu ajudei a construir a Igreja do Bom Jesus. Quando era menino ajudava na construção do campo do Palmeiras (Piracicaba), eu era “pinante”, assim é como denominavam o menino que guiava o cavalo do carrinho. Levava os resíduos para a baixada onde hoje é o Supermercado Pão de Açúcar da Cidade Alta, ali era uma barroca. Fiz um discurso para Luiz Dias Gonzaga, foi em cima de um caminhão, não havia palanque. O Dr. Antonio Cera Sobrinho também era integralista, era uma espécie de padrinho para mim. Ele era chamado de médico dos pobres, quem não tinha dinheiro não pagava. Ele me encaminhou para essa área da política. Subi no caminhão e fiz um discurso. Eu era muito observador, vi o Cristo de braços abertos, disse no meu discurso: “-Imagine que até o Cristo está lá para receber Luiz Dias Gonzaga de braços abertos!”. A multidão ficou eufórica, aplaudiu muito. E Luiz Dias Gonzaga estava lá, foi um impulso na sua candidatura, ele foi eleito com uma boa margem. Paulo Negri, José Rodrigues Filho e eu prestamos um concurso, fomos trabalhar na prefeitura. Em 1948 começou a minha carreira.

O senhor entrou para qual função?

Fui escriturário, chefe de divisão, chefe de departamento, diretor administrativo, e acima de mim só tinha o prefeito. Na época não existia a categoria de secretário. A prefeitura funcionava na Rua São José esquina com a Rua Alferes José Caetano, onde foi o palacete do Barão de Serra Negra. Antigamente a prefeitura tinha uns livros enormes, peças altas, dorso largo, tinha que escrever tudo a mão, registrar o imóvel da pessoa. Depois entrou a mecanografia, era uma máquina já com teclado elétrico, formulário contínuo, os avisos que eram mandados aos contribuintes eram feitos e o formulário ia girando. Nós abandonamos o livrão velho. Por exemplo, chegava um homem rico como o José Guerra, antigo comerciante da cidade, ele tinha 20 a 30 prédios, dizia: “Quero pagar impostos desse, mais esse, esse. Esse aqui eu vendi, esse outro também vendi.” Tinha que somar com uma maquina de calcular Walter. Era complicado. A juventude hoje usa o computador, não tem o trabalho de pensar, não raciocina, não guarda, não imagina, não lê.
 


                                                  MÁQUINA DE CALCULAR WALTER




Até que ano o senhor permaneceu na prefeitura?

Até 1977, época do prefeito João Hermann Netto. Aconteceu comigo um fato inusitado. Aposentei-me, o prefeito mandou bater o decreto, desceu do seu gabinete, veio a minha mesa, no Departamento da Receita, aposentei-me como Diretor do Departamento, assinou o decreto na minha mesa, sentado na minha cadeira, eu tinha uma máquina escamoteável, virava e o fundo dela tornava-se uma mesa. Ele fechou, sobre aquela mesa assinou o decreto e me entregou. E me entregou uma carta onde me elogiava como cidadão Raul Hellu. Após ter sido aposentado, fui contratado pelo próprio João Hermann Netto. Ele fez uma revisão nos chamados valor venal dos imóveis. Fizemos uma revisão, tinha um engenheiro Francisco Cerignoni, ele tinha um automóvel Dodge, saíamos nas ruas com alguns coadjuvantes e fizemos um levantamento rua por rua, lembro-me que na Rua Curt Nimuendajú, tinha a rua, um terrreno plano e depois uma barroca. Antigamente coloríamos as ruas para determinar o valor: azul tinha um valor, verde outro e assim por diante. A área que era barroca não tinha o mesmo valor que a área plana, nós achuriávamos a àrea de menor valor. Tudo isso feito a mão, em cima do Dodge do Chico. Para fazer a revisão do valor venal era penoso, o funcionário ia de casa em casa, para ver qual era o valor pago pelo aluguel, usado como referência. Depois passamos a estimativa do valor venal.

Não era mais fácil fazer o levantamento por fotografia aérea?

Depois a VASP veio fazer esse trabalho. Contratamos a VASP para fazer fotografia aerofotogramétrica. Isso facilitou muito. Nós passamos por um período muito difícil, não havia recursos técnicos. A máquina de escrever, a mecanografia, tinha uma barra de seletores, tinha que montar a barra com seletor de acordo com o valor que você desejava no formulário contínuo.

Como contratado o senhor permaneceu na Prefeitura Municipal de Piracicaba até que ano?

Fiquei por cinco anos, até a segunda administração do ex-prefeito Adilson Benedito Maluf, em 82/83. Saimos juntos, eu e Florivaldo Coelho Prates, pessoa competente, humilde e de uma integridade moral muito rara.

O senhor entrou para a Sociedade Sírio Libanesa?

Houve uma mudança nos estatutos da entidade permitindo que naturais e descendentes também pudessem se candidatar a presidente da entidade. O Dr. Antonio Carlos Neder foi o primeiro presidente eleito após essa mudança de estatuto. Eu sempre fui orador da instituição. Eu gosto de oratória, fiz cursos de oratória.

O senhor passa a imagem de que gostaria de ter cursado Direito.

Eu me considero um advogado e um médico frustrado. Estudei muito ambas as atividades, como autodidata. Infelizmente meu pai não tinha recursos para me proporcionar o estudo em uma faculdade, naquela época era bem mais difícil do que hoje fazer uma faculdade.

Como o senhor começou a trabalhar em rádio?

Houve uma época em que a prefeitura ficou cinco meses sem pagar, quando recebia era referente a 15 dias do mês “x” anterior. Mais 15 dias do mês “y”. Nós funcionários fundamos uma associação, eu, Hélio Morato Kreaembhull, e demais companheiros. Hélio Morato Kreaembhull foi meu mestre no Departamento da Receita. Com dois filhos, na época eu morava na Rua Tiradentes, entre a Rua XV de Novembro e a Rua Moraes Barros, em uma casinha que pertencia ao Romagnoli, ele tinha muitas propriedades naquela região, nessa quadra as casas tinham um pequeno quintal, no quarteirão inteiro, a àrea restante era ocupada por ele, que tinha uma casa na Rua Tiradentes com todo esse quintal plantado. Pensei: “- Quer saber de uma coisa? Vou procurar outro serviço”. Fui para a Rádio Difusora de Piracicaba, conversei com a Dona Maria Conceição, o Hercoton era gerente na época. Expliquei a minha situação, como eu tinha boa oratória, recurss linguisticos, o Hercoton disse: “-Só se você fazer comentários, ajudar a equipe esportiva.” Assim comecei a dar os primeiros passos na equipe esportiva da Difusora, com Ulisses Michi, Ary de Camargo Pedroso, Rubens de Oliveira Bisson, Bouchardet, Atinilo José, Waldemar Billia. Ganhei até o Troféu Aristides Figueiredo como melhor comentarista na oportunidade. O primeiro presidente da Asssociação dos Cronistas Esportivos de Piracicaba foi Ludovico Silva. A sede era em cima do Cine Politeama, no local hoje é o estacionamento do Bradesco, no centro. Fui um dos fundadores junto com Ludovico. Comentei muitos jogos de Maria Helena, Heleninha, Waldemar Blatkauskas que dá seu nome ao nosso ginásio de esportes. Eu o conheci, era um gigante, ele faleceu na Via Anhanguera que na época estava sendo duplicada. Nas imediações de Campinas seu carro foi prensado por um caminhão contra um trator que trabalhava na rodovia. O Vlamir tinha ido para o Corinthians, ele foi cognominado como “Diabo Loiro” no Chile, a seleção brasileir ficou campeã do mundo, a Rússia na época se negou a participar por razões políticas.

Quantos anos o senhor permaneceu na Rádio Difusora?

Foi bastante tempo. Fiz um programa pela manhã, começava as cinco e meia da manhã, depois entrava o programa do Nhô Serra. Eu tinha um salário na rádio. E tinha no Jornal de Piracicaba no tempo de Losso Neto. Em “O Diário” trabalhei com Mauricio Cardoso no Departamento de Esportes. Trabalhei em “O Diário” tanto no período de Sebastião Ferraz como de Cecilio Elias Netto.

O senhor praticava algum esporte?

Pratiquei. Joguei futebol como centro-médio, hoje chamam de terceiro zagueiro, no Paulista Futebol Clube, ficava logo no início da Avenida São Paulo, ali havia um pasto meio brejo, nas imediações moravam membros da família Pompermayer onde tinham uma loja. Nas proximidades de onde hoje é o Posto de Combustível Irmãos Sabadin. O Pompermayer tinha um filho que era zagueiro, nós íamos treinar lá, jogaram lá Waldemar Dalpogetto, Tibério, pai do Dinival Tibério. Nosso treinador era um negro chamado Ferreira, chegou lá um japonês de chuteirinha, sentou e ficou esperando. Dali a pouco Waldemar Dalpogetto contundiu-se, não tinha outro para colocar no lugar, escalaram o japonês. Era Sato! Formou uma fila de jogadores correndo atrás dele, querendo tirar a bola dos seus pés. Ao terminar o jogo, colocamos ele no automóvel, levamos para a sede social do Paulista Futebol Clube que ficava em frente ao Teatro São José. Fizemos a inscrição do Sato no clube a noite, tinhamos o receio de que outro clube o levasse.

Quanto ele ganhava para jogar futebol?

Nada! Ele veio para estudar agronomia em Piracicaba. O time do XV de Novembro era formado por Tão, Elias, Ediarte e Aedo; Pedro Cardoso, Staruss e Adolfinho; Cardeal, Sato, De Maria, Picolino, Gatão e Rabeca. Era um timão!

Como o senhor vê o futebol hoje?

É uma enganação. Como dizia o Fiola quando ficou campeão: “-Vão lá e fazem o que sabem fazer!” Pronto! Hoje é tudo cheio de gráfico, 3-4-1; 4-2-2; 2-4-1. Hoje o Brasil não tem técnico, tem treinador. Não tem revelações, não tem mais futebol de várzea, só tem escolinha, é o que falei, terceirizam, o pai manda o filho lá porque a mãe está trabalhando. Não tem onde deixar o filho mandam terceirizar. A familia vai perdendo o vinculo.

O senhor trabalhou no XV com o Rípoli, como ele era?

Era um caboclo. De gestos caboclos. Falava meio acaipirado, meio puxado, sempre com cigarro de palha.

No futebol sempre houve superstições?

No tempo do Athie Jorge Coury no Santos Futebol Clube, havia uma mulher que benzia o time. Um dos presidentes do XV, não era o Rípoli, mandava chamar essa mulher de Santos para benzer o XV.

Funcionava?

Funcionava, os jogadores em sua maioria eram crédulos em benzimentos. Hoje quase todo jogador brasileiro faz o sinal da cruz ao entrar em campo, usam ramos de arruda. Eu até pergunto, e quando os dois times pedem a vitória ao poder divino com quem Ele fica?

Como um integralista vê o momento atual?

Há uma história interessante, uma conferência entre Hitler e o primeiro-ministro inglês Chamberlain. Hitler tirou o cinturão com sua arma e munição e depositou sobre a mesa, em uma atitude bélicosa. Chamberlain apenas tirou a sua caneta do bolso e depositou sobre a mesma mesa. Isso diz tudo.

O senhor se casou em que ano?

Casei-me no dia 9 de junho de 1951 em Franca, minha esposa é francana, sempre a chamamos de Leila, mas o correto é Laila Elias Hellu. Temos três filhos: Ivan Sérgio, Denise, engenheira agronoma, e Raul Hellu Júnior que é médico. Esse meu filho sempre me diz: “ Não brigue com duas coisas: com o tempo e nem com o travesseiro.” O tempo irá te vencer, aceite a velhice, sou um homem pacífico, estou com 93 anos, mas se eu morrer amanhã vou falecer gratificado, lúcido. Não brigar com o travesseiro é não fazer mal às pessoas, você terá dificuldade em dormir a noite, terá insonia. Isso mata.

O senhor acredita em Deus?

Li uma matéria onde o articulista diz: “ Reunam todos os melhores cientistas do mundo, todos os recursos científicos, criem um único ser humano e eu nego a existência de Deus”. Quem escreveu isso foi um ateu que se converteu ao cristianismo.

Qual é o segredo para chegar com essa saúde e disposição aos 93 anos?

Acho que fui beneficiado sem saber. Pratiquei remo no Clube de Regatas de Piracicaba, levantava as quatro horas da manhã, acordava Seu Antonio, que era o zelador, eu ia buscar a chave do clube. Lá estavam: Virgílio Lopes Fagundes, Dovílio Ometto, Franquesta. Quando enchia o Rio Piracicaba fazíamos campeonato de mergulhar e sair na mesma direção na outra margem. Franquesta fazia isso, não sei o nome completo dele, sei apenas que era funcionário da Caixa Economica Estadual. Ele mergulhava , atravessava debaixo da água e saia na mesma direção na outra margem. Antigamente eu nadava até o Porto João Alfredo (Artemis). Tetsuo Okamoto que foi campeão sul-americano nadou aqui conosco. Hercio Hoeppner era um nadador de primeira linha. Joguei basquete, Virgilio Fagundes era canhoteiro. Caminhei por 16 anos na Esalq, junto com Ermor Zambello, Dovilio Ometto.

O senhor pode falar algo sobre a Festa das Nações?

Essa não é a trigésima festa, e sim trigésima primeira. A primeira foi no campo do XV, Estádio Roberto Gomes Pedrosa, feita por nós do Lions, o presidente era Mário Sturion. A festa seguinte Adilson Maluf e sua esposa Rosa Maria fizeram a Festa das Nações no Lar Franciscano de Menores.

O senhor trabalhou com Luciano Guidotti?

Fui seu chefe de gabinete. O Luciano construiu muitas obras públicas, foi um grande empreendedor, há muitos que afirmam que Piracicaba tem como marco Antes de Luciano Guidotti e Depois de Luciano Guidotti. A Guarda Mirim foi criada por projeto de lei de Rubens Leite do Canto Braga e idealizada pelo Comandante Ciapina, formou muitos jovens, hoje adultos que ocupam altos postos nos mais variados campos de trabalho. Por muitas vezes em suas solenidades fui o orador da Guarda Mirim.
















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