sexta-feira, maio 10, 2013

SÉRGIO LUIS PICCOLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 11 de maio de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: SÉRGIO LUIS PICCOLI




Sérgio Luis Piccoli nasceu a oito de abril de 1948, em Rio Claro, é filho de Pedro Antonio Piccoli e Maria Yolanda Piccoli, ambos agricultores, donos de uma propriedade rural. Tiveram nove filhos: Laurides, Eurides, Gilberto, Ides, Carmem, Natalina, Sérgio, João e Luis. Aos nove anos Ségio já estava na roça, alimentava os animais. Nessa época estudava em Ipeúna, andava uns sete a oito quilômetros a pé, pisando descalço no barro, até chegar ao ponto onde o ônibus passava. Naquela época ia para a escola descalço. A família mudou-se para a cidade de Rio Claro, foram morar no Bairro Santana. Seu pai ia e voltava ao sítio todos os dias, o trajeto era feito em carroça com tração animal, uma distância de uns 12 quilômetros, o tempo de percurso era de aproximadamente uma hora. Às vezes alguns filhos iam com ele. Logo que mudou para Rio Claro já passou a trabalhar em jornal. Na época os jornais funcionavam com linotipos. (Linotipo é uma máquina inventada por Ottmar Mergenthaler em 1886, na Alemanha, que funde em bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta de um teclado, como o da máquina de escrever. As matrizes que compõem a linha-bloco descem do magazine onde ficam armazenadas e, por ação do distribuidor, a ele voltam, depois de usadas, para aguardar nova utilização. As três partes distintas: composição, fundição e teclado ficam unidas em uma mesma máquina). Clichê: chapa metálica que traz gravada em relevo a reprodução de uma composição tipográfica ou de uma imagem destinada à impressão, através de prensa tipográfica.


Onde foi o seu primeiro emprego?


Com uns treze anos entrei no jornal “Jornal Cidade de Rio Claro”, ficava na Avenida 4, bem no centro da cidade, entrei pra fazer serviços gerais, trabalhava a noite, entrava umas oito horas e só saia quando terminava o jornal. Não havia horário fixo para sair, poderia ser uma, duas, três, quatro, horas da manhã. Quem me indicou para o jornal foi um primo que era linotipista no jornal. Havia em Rio Claro outro jornal “O Diário”.


O que era linotipista?


Era quem trabalhava com o linotipo. Linotipo funciona como uma máquina de escrever mais sofisticada funciona com matrizes, tem todas as letras, quando bate no teclado uma letra ela cai, como se tivesse datilografando. Quero escrever “para”, por exemplo, basta bater as letras no teclado e elas caem formando a palavra. O linotipo tem o componidor, que é onde se regula o tamanho da linha, dois furos, três furos. É usada uma linguagem técnica própria de gráfica. A matriz era de metal. O chumbo misturado com antimônio era um material que já vinha pronto do fornecedor. Ficava em uma caldeira, a temperatura ideal para trabalhar tinha que atingir 400 a 450 graus centígrados.


Para fazer uma página quanto tempo levava em média?


Demorava! Um balanço de uma empresa, para ser digitado levava de duas a três horas. A composição corrida em uma hora e meia, duas horas, dava para fazer uma página, geralmente com dois ou três linotipistas. Era feita a composição da matéria, tirada uma prova, ia para o revisor, o erro encontrado era só tirar linha e corrigir, em seguida a matéria era encaminhada para a paginação. Uma página composta através de linotipo pesava em média 35 a 40 quilos só de chumbo. Após pronta era rodada de duas ou quatro páginas. Fazia um lado do papel, depois fazia o outro. Se era um jornal de quatro páginas rodava primeiro as páginas 1 e 4 depois a 2 e 3. Não era jornal a cores. Antigamente havia o clichê feito pelas empresas especializadas nessa arte. Uma foto era feita no zinco, preparava-se o zinco, tirava o negativo da foto, colocava-se em cima, mergulhado em ácido havia o processo de corrosão para permanecer as imagens. Era um processo trabalhoso, demorado. Fazer um jornal naquela época era difícil. Após um período como ajudante geral, passei a aprender a trabalhar com o linotipo. Ajudava na paginação. Na distribuição.


Em que ano você mudou-se para Piracicaba?


Foi em 1969. Teve um período de 1967 a 1968 me afastei do jornal e fui para Pirassununga, fazer carreira na aeronáutica. Não deveria ter saído de lá nunca! Cheguei a trabalhar nos hangares, abastecer os aviões, controlar o combustível da aeronave. Eu decidi não continuar. Acho que o jornal estava no meu sangue, sai de lá e já entrei no jornal. Eu era muito novo ainda, pegava um jornal e já tinha o olhar crítico para os defeitos que via em algum jornal impresso.


Em Pirassununga você tinha soldo, no jornal o salário, onde você ganhava mais?


Em Pirassununga ganhava praticamente uma ajuda de custo, no jornal ganhava mais.


O que o trouxe para Piracicaba?


Naquela época, em 1969, eu tinha acabado o meu aprendizado de linotipista. Aprendia-se com os amigos, na raça. Só havia a escola de linotipista no Senai em São Paulo, mas era muito restrita. A maioria se formava trabalhando, na prática.


O seu primeiro emprego em Piracicaba foi aonde?


Foi em “O Diário”. Fiquei sabendo que precisavam de um linotipista, fiz um teste, na época o responsável por essa área era o Seu Novaes. Acertamos, trabalhei por 10 anos em “O Diário”. Em determinada época chegou a ter quatro linotipos. Trabalhei com Antonio Foratto, Messias, Sérgio “Bico Fino” de Santa Barbara, Gaita. Muita gente passou por lá. Tinha um equipamento que rodava a provas da matéria que foi digitada, e havia uma pessoa encarregada de levar essa prova impressa para o revisor, era o paginador, conhecido como “Rolha”. O revisor fazia as correções, voltava para o linotipo, fazia as emendas, o paginador ia lá, tirava o que estava errado e colocava o que tínhamos feito certo.


Esse processo todo começava a que horas?


Duas horas da tarde, ia até duas, três, quatro horas da manhã. Fazer um jornal de quatro páginas era um processo demorado. Nesse período tomávamos lanches, às vezes o Cecílio levava o jantar.


Dava sono?


Tinha que dormir bem durante o dia senão não agüentava. Antigamente trabalhávamos de segunda a sábado. O único dia em que não circulava o jornal era na segunda feira.


Uma das visitas constantes junto aos linotipistas era a do folclorista João Chiarini?


Ele chegava e já ia dizendo: Olha a água! Aconselhava muito que tomássemos água. Às vezes ele mesmo ia buscar. Ele era bastante exigente, queria que seu texto saísse certinho. Assim como Hugo Pedro, Professor Benedito Andrade.


“O Diário” ficou com o linotipo por muitos anos.


Acredito que foi o primeiro jornal do interior do Estado de São Paulo a ter o sistema off-set. Era um jornal que reuniu grandes nomes como Jago, Araken Martins, Mauricio de Souza com suas “Mini Notas”, Dr. Mário Terra que fazia a coluna social, Carlinhos Gonçalves, Manoel de Mattos Filho, João Maffeis. Houve uma época gloriosa em que o”O Diário” tinha a página “Recados”, cujo principal mentor era o Cerinha, junto com Alceu Marozzi Righetto, Caetano Rípoli, tinha uma linha próxima ao famoso “Pasquim” de quem esse pessoal era amigo. Um período em que falar de política era perigoso e escrever mais ainda.


Quando veio o sistema off-set vieram equipamentos novos que complementavam o sistema, como por exemplo a máquina tituladora.


Isso facilitou muito. Uma página impressa em chumbo que pesava 30 quilos passou a pesar 30 gramas, que é um filme.


Atualmente qual é o processo de confecção de um jornal?


É digitada a matéria, o diagramador monta a página, envia para a oficina onde é tirado o filme, é uma máquina especial vem o filme e um tamanho certo, em rolo, fotografa, tira as cores: preto, magenta, amarelo e azul, são as quatro cores básicas para sair a imagem colorida. Para fazer uma página tem que ter quatro filmes. Um de cada cor. Se são oito páginas, pega-se a página 1 e página 8, o montador a monta, azul nas duas páginas,, vai para o gravador de chapa,a máquina com raio laser em 15 segundos grava. O que está no filme passa para uma chapa de alumínio. Cada página usa quatro chapas, cada uma em uma cor. Quando leio escrito em preto é em função da chapa gravada em preto.


Após gravada, se houver algum erro tem como corrigir uma chapa?


Não, não tem. Dependendo do problema tem que ser feita outra.


Qual é o momento crítico dessa operação toda?


Tem que haver muita atenção, não pode ocorrer nenhuma falha. Funciona com gabaritos, se sair do gabarito, as cores não se justapõem uma sobre a outra.


Por isso que vemos algumas publicações, até mesmo revistas, onde se percebe que as corês estão desalinhadas.


Isso é falha na impressão. Alguém dormiu no ponto.


Quantas pessoas trabalham só nas oficinas da Tribuna?


Só na confecção do jornal umas 12 pessoas. Depois tem o pessoal do encarte. Por exemplo, um jornal com 16 páginas com dois cadernos de oito páginas, eles formam esses cadernos. No encarte há dias em que trabalham de 10 a 12 pessoas. O parque gráfico da Tribuna imprime muitos jornais para terceiros. Em qualidade técnica a Tribuna está em um patamar bem avançado.


Em sua opinião, a tendência do jornal é de ser mais um formador de opinião do que um veículo de notícia com a velocidade de outras mídias. Como a internet, por exemplo?


O famoso “furo” de reportagem praticamente terminou. Já fiz muitos furos de reportagem, às vezes ficávamos até as quatro, cinco horas da manhã esperando sair a noticia. Era aí que estava o sabor do jornalismo. Às oito horas da manhã o jornal já estava na rua com a notícia do que tinha acontecido as cinco. O Cecílio Elias Neto, João Maffeis, incentivavam muito isso.


Entre os inúmeros “furos” de reportagem, qual deles você se lembra que impactou muito?


Foi quando faleceu o Papa João Paulo I. Tínhamos uma máquina ligada a agência internacional de notícias chamada UPI, estávamos lá quando saiu a notícia do falecimento do Papa, “O Diário” publicou no dia seguinte. As redações de jornais mantinham máquinas de diversas agências de noticias como AP, UPI, ANSA, France Presse, DPA e Reuters.


Políticos gostavam de visitar oficinas de jornais?


Muitos sempre gostaram. Visitavam-nos muito.


Existe ainda linotipo?


Só em museu! O pessoal de hoje nem imagina como era. Aconselho ao pessoal de hoje: “- Vocês deveriam visitar um museu de jornal para conhecerem. Hoje vocês conhecem isso aqui, nem imaginam como era até a pouco tempo”. Duas chapas de jornal impresso pesam 300 gramas, antigamente eram 30 a 40 quilos.


Se alguma faculdade de jornalismo o convidar para uma palestra sobre o assunto, você tem essa disposição?


O que posso afirmar é que o volume de informações é muito grande. Peguei desde o começo até os dias atuais. Tem coisas que nem me lembro. Com o advento da informática, a diagramação tem tido grandes avanços e facilitado a vida de muitos. Imagine um jornal diário sendo diagramado no past-up. Hoje está tudo pronto no filme, 10 a 15 minutos e o jornal está pronto. Antes datilografávamos tudo. O próprio autor manda datilografado, e até mesmo a página montada. Com um computador, sentado na esquina, você monta um jornal. Antigamente, tinha que pegar a máquina de escrever, por a lauda, datilografar. Revisar para o linotipista não copiar errado. Edirley Rodrigues fazia bastante esporte, ele revisava tudo.


Eram mandados manuscritos para o jornal?


Muito pouco.


Tinha noticia que necessitava de autorização do editor ou diretor para ser publicada?


Tinha principalmente as que envolviam noticias policiais.


Com isso vocês eram as pessoas mais bem informadas da cidade?


Éramos os primeiros a saber!


Quais são as sessões mais lidas de um jornal?


No meu ponto de vista, pela ordem: noticias policiais, esportes e obituários.


Você deve ter visto coisas inimagináveis em termos jornalísticos.


Havia alguns clientes que gostavam de colocar anúncios de ponta cabeça! O Anúncio ficava virado ao contrário para chamar a atenção. Isso existia muito nos jornais antigos.


Sérgio, há quantos anos você trabalha na profissão?


Na Tribuna fui trabalhar com o Evaldo Vicente desde a sua fundação em 1974. No inicio funcionou na Rua Alferes José Caetano esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, foi para a Rua Rangel Pestana, próxima a Rua do Porto. Dali foi para onde está até hoje. Eu trabalhava no “O Diário” e dava uma mão na Tribuna. Terminava “O Diário” uma hora, duas horas da manhã ia para a Tribuna dar uma força se precisasse. A Tribuna sempre foi diária. Quando cheguei de Rio Claro fui morar na pensão da mãe do Evaldo, na Rua São José ,748, esquina com a Rua do Rosário. Dali saí só para casar.


Você se casou aonde?


Casei-me em Rio Caro com Elizabete Hohne Piccoli no dia 15 de abril de 1972. Temos três filhos: Claudia, Fabiano e Juliana.


Como é a relação familiar para um profissional que sempre trabalhou a noite?


É difícil. Aos finais de semana, se haver uma reunião na casa de algum parente, logo depois de chegar você já está dormindo. O cansaço vai acumulando, chega ao final de semana todo lugar que você vai logo está dormindo. Você está acordado quando todo mundo está dormindo e dormindo quando todos estão acordados.


A profissão tem insalubridade?


Tinha. Hoje já não é mais considerada insalubre.


Você praticava esporte?


Já cheguei a jogar até no antigo campo do XV de Novembro, o Roberto Gomes Pedrosa, “O Diário” tinha um time de futebol, eu jogava nesse time, o uniforme era lindo, com o Mapa Mundi na camisa. Nós fazíamoso “ Torneio da Imprensa” , o “Jornal de Piracicaba” tinha seu time, as rádios tinham seus times de futebol. Havia um grande espírito de confraternização.


Você conheceu Sebastião Ferraz?


Trabalhei com ele, ele chegou a ser sócio do Cecílio Elias Neto. Era um homem integro. Chegou um dia em que ele não tinha dinheiro para fazer o pagamento dos funcionários, foi na época em que saiu o Karmann Ghia, ele tinha um, vendeu, a noite pagou todos os funcionários. Foi um grande jornalista e excelente pessoa.


Você lembra-se de um jornal que era impresso em “O Diário” chamado Inter News?


Lembro-me sim, fiz muito esse jornal. Eu que compunha esse jornal, o proprietário era o Roberto Santos, era um jornal distribuido no interior de São Paulo todo. A tiragem era de 40.000 exemplares, isso na decada de 70. Ele comprou o linotipo e a matriz que ele queria e mandou a máquina para “O Diário”. Era um tablóide de oito páginas. “O Diário” funcionou por muitos anos na Rua Prudente de Moraes, sendo que parte de suas instalações hoje é ocupada pelo banco HSBC, depois mudou-se para um prédio na Rua São José, quese em frente ao Teatro São José.


Ao pegar um jornal feito por terceiros antes de ler a noticia você faz a análise técnica do mesmo?


Com certeza! Olho, vejo, e penso, o amarelo teria que ter vindo para cá. O azul tem que baixar. Na hora já vejo os defeitos. Isso em qualquer publicação, como revistas também.


Você já pensou em escrever sobre a imprensa em Piracicaba?


Já, só que sou péssimo para guardar nomes, quantas pessoas trabalharam comigo, conheço de fisionomia mas não me lembro do nome. Carlos Bonassi trabalhava no “O Diário”, Caxuxo, Araquem Martins, Mário Clicherista, Germinal, Adolpho Queiroz, Carlos Colonegsi, Caetano Ripoli foi um tempo romântico. Após terminar o jornal íamos tomar um lanche no Bar do Tanaka na Rua do Porto. Lá encontrava gente do Jornal de Piracicaba, da Tribuna, amanhecia nós íamos embora. A cidade era mais humanizada.


Linotipista financeiramente era uma profissão rentável?


Nos anos 70 e 80 era. Foi rentável, ganhava-se muito bem. Quando faltava alguém outro era chamado as pressas. Quantas vezes eu terminava “O Diário” o Maurício Cardoso me chamava: “ Sérgio você não quer vir terminar “O Dário de Limeira” ? O Ferraz foi sócio desse jornal por muito tempo também. Eles me pagavam o combustivel, a mão de obra e eu ia para lá, acabar o jornal, isso porque alguém tinha faltado. De algum lugar todo dia aparecia serviço extra. Eu também consertava máquina de linotipo. Não só trabalho com a máquina, conheço seu funcionamento, fiz muitas reformas de máquinas. Desmonto e monto qualquer linotipo. Eu conhecia a parte mecânica da máquina, quebrava uma máquina em Cerquilho a proprietária que era a Célia me chamava, eu tinha um Fusquinha 75, ia para lá. Nós só chamávamos o técnico quando tinha que trocar a resistência que ficava na caldeira e com o passar do tempo ela queimava.


Quantos modelos de tipos gráficos tinha um linotipo?


Eram 90 modelos, com numeração, virgula, ponto e virgula, letras maiusculas, minusculas, isso tudo ficava armazenado no magazine da própria máquina. Assim como os tamnanhos, se quizesse o corpo 10 mudava Magazine Corpo 10. Tinha máquinas com 4, 8, 10 corpos. O tipo de letra mais usado era o corpo 10. O Times New Roman sempre foi o modelo mais usado, padrão de jornal. Manchete era feita em corpo 72.


O fato de trabalhar em jornal trazia alguns privilégios?


Recebia muitos convites para ir a festas em clubes, não pagava ingresso para entrar em cinema.


Como você vê o futuro do jornal impresso?


Pela minha experiência e vivência, acredito que o jornal impresso em papel não acabará nunca, poderá mudar de formato, métodos de produção.








ANTONIO CARLOS FIORAVANTE - “BOLÃO”

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 04 de maio de 2013.
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: ANTONIO CARLOS FIORAVANTE - “BOLÃO”




Antonio Carlos Fioravante, o Bolão, canta com alma, coração e espírito. Seu prazer é cantar, afinadíssimo, é capaz de cantar sem nenhum instrumento musical acompanhando-o com o dom supremo de comover seus ouvintes. Com uma memória privilegiada emite suas emoções em letras muito bem elaboradas pelo compositor. Um grande artista piracicabano, que como muitos nos mais diversos setores não são devidamente reconhecidos. Infelizmente valores medíocres, mas com bom marketing pessoal ganharam fama de bons artistas, na música, nas letras ou nas artes. Alguns até “desterraram” na própria cidade verdadeiros gênios, para que eles ocupassem o pedestal da fama. Conforme Marcel Proust: “O tempo passa e um pouco de tudo aquilo que nós chamávamos de falsidade se transforma em verdade” Nascido a 11 de julho de 1941 em Piracicaba, no bairro da Paulista, na Rua Benjamin Constant entre a Rua Joaquim André e Dr. Paulo de Moraes, na “Vila” do Sr. Panfilo Passari, mais conhecido como Pampaluche. Filho de Luciano Fioravante, natural de Rovigo, Sul da Itália, e Rosalina Guizzer Fioravante nascida em Piracicaba. Bolão é o filho caçula, teve os irmãos Luiz Osvaldo Fioravante e Luciano Oneido Fioravante.


Qual era a profissão do pai do senhor?


Ele trabalhava com marcenaria, na Rua Moraes Barros esquina com a Rua Riachuelo, onde hoje há um edifício com um apartamento por andar. Ali meu pai tinha sua oficina. Naquele tempo era muito comum o uso de carroças em Piracicaba, era o segmento que ele mais trabalhava.


A mãe do senhor tinha qual atividade?


Ela por 30 anos trabalhou como parteira na Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba. Ela era conhecida como “Dona Nina”.


Aonde a família do senhor foi residir depois de sair da Paulista?


Fomos residir em um antigo bangalô, uma casa com uma área e a frente em arco, que havia na Avenida Independência, perto do Lar Franciscano, onde há uma igreja. Na época era tudo chão de terra, mato, ali passei a minha infância. Lembro-me quando estavam asfaltando a Avenida Independência. Aos sete anos passei a freqüentar o Grupo Escolar Barão do Rio Branco, ia a pé com os colegas. Na época havia dois ônibus, que faziam o percurso em sentidos contrários, um subia enquanto outro descia passando em frente a Santa Casa. Minha primeira professora foi Dona Nena, a segunda Dona Helena, a terceira Dona Mimi e a quarta Dona Eline.


O primeiro emprego do senhor foi em qual local?


Foi na Companhia Cervejaria Rio Claro que tinha um depósito na Praça Enes da Silveira Mello, Largo da Sorocabana. Tinha uns 16 anos, entregava bebida, carregava caixas de madeira, com dúzias de garrafas, a caixa de Caracu vinha com três dúzias, eram garrafas pequenas, tinha uma cerveja que era do Rio de Janeiro a Cayrú, era uma cerveja comum. Mãe Preta era de outra cerveja, era em uma garrafa pequena. Vinha para um depósito grande que havia no Largo Santa Cruz, de propriedade do Sr. Gelindo Lovadini. Meu grande amigo Antonio Goldschmidt Sobrinho que me apresentou à Cervejaria Rio Claro.


Que caminhões eram utilizados para a entrega?


Eram utilizados um caminhão International L180 e um caminhão Thames. Ambos pintados de amarelo com uma inscrição: “Companhia Cervejaria Rio Claro”. A carroceria era especial. Era aberta, com divisória de madeira no meio, e de cada lado uma inclinação no assoalho de tal forma que, as caixas ficavam inclinadas para o centro do caminhão, e as caixas não caissem nas curvas. Entregávamos também refrigerantes, o chope não havia ainda.


A cerveja Caracu passou a ser encarada popularmente quase como um remédio para diversos males?


Naquele tempo batiam Caracu com ovo no liquidificador, sem tirar a casca do ovo. O brasileiro tem essa mania de fazer essas misturas, colocavam de tudo com a Caracu.


Por quanto tempo o senhor permaneceu na Caracu?


Fiquei por quatro anos. De lá fui trabalhar com o Sr. José Alves, da Antarctica. Era um depósito de bebidas muito grande que existia no Largo da Igreja Bom Jesus. Fiquei mais um ano e pouco ali, além das bebidas engarrafadas ele tinha chope e uma fábrica de gelo, ele colocava a água em uma espécie de caixa grande, tinha umas formas para saírem aquelas barras de gelo, na água era colocada uma mistura aonde ia sal. (Para fabricar gelo em barras: a água é colocada em formas especiais de 10 Kg, que são mergulhadas em solução de cloreto de sódio ou álcool hidratado, a uma temperatura de 15ºC. Dez horas depois o gelo está formado). Depois eram tiradas as pedras de gelo, geralmente pesavam uns 15 quilos. Colocava-se um pano no ombro para não molhar e a carregava. O local onde a entrega era mais difícil era no Mirante, tinha que levar o barril de chope e a pedra de gelo descendo as escadas, parava-se longe do local final de entrega. O primeiro Restaurante Mirante era de Rondino Pires Neto. Depois fui trabalhar em um lugar que me deixa muitas saudades, Companhia Industrial e Agrícola Boyes onde fiquei por quatro anos, lá eu era ajudante de contramestre. Contra mestre é o mestre de determinado setor da tecelagem, de determinados tipos de teares, grandes, menores. Como eu era muito forte, trabalhava nesses teares grandes. Produzia tecidos para sacarias de açúcar. A Boyes foi uma grande empresa, naquele tempo, em 1961, quando entrei na Boyes, tinha 1.5000 funcionários.


O senhor fez Tiro de Guerra?


Fiz, começamos a fazer no Ginásio Municipal e depois passamos para o prédio situado na Rua Santa Cruz, esquina com a Avenida Dr. Paulo de Moraes. Inauguramos o prédio. Isso no tempo do Sargento Olavo da Primeira Companhia, eram seis companhias. O Olavo era o homem mais bravo que tinha no Tiro de Guerra. Nesse período, foram 10 meses, não trabalhei, esse tempo foi computado para aposentadoria.


O senhor tem saudades desse tempo?


Muita! Não tem coisa de que eu tenha mais saudade do que da minha mocidade. Alguns me dizem: “Por que o senhor não entra na Melhor Idade?”. Pergunto: ”Qual é a melhor idade?”. Respondem: “Setenta anos, em torno disso.”. Digo-lhes: “ Não tenha dúvida! Dezoito, dezenove anos é que era ruim!”. Em minha opinião essa história de “Melhor Idade” é uma bobagem. Feliz aquele que tem histórias de amores para contar! Esse passou por aqui e viveu. Quem não tem nada disso para contar não viveu, só passou por aqui. Minha esposa, Teresa Contarelli Fioravanti eu conheci na Boyes, onde ela trabalhava.


Após sair da Boyes o senhor foi trabalhar aonde?


Ingressei na Guarda Civil de São Paulo. Sai da Boyes em 1964, a Guarda Civil já estava presente em Piracicaba em 1963, eu tinha um irmão que era Guarda Civil, ele me incentivou muito para ingressar na corporação. Fui para São Paulo, fiz os exames para ingressar, a escola de polícia ficava no bairro da Liberdade, na Rua São Joaquim, a sede administrativa ficava na Avenida Angélica próxima a Praça Buenos Aires. Prestei o exame, passei, fui chamado e permaneci por um ano. Entrei para a Guarda Civil no dia 15 de março de 1965. Após um ano em São Paulo vim para Campinas. No fim de 1965 vim para Piracicaba.


Como era o uniforme da Guarda Civil?


Azul marinho, poderiam ser colocados os botões dourados, no estilo da polícia norte –americana. Quepe com os dizeres: “Guarda Civil de São Paulo”. Havia uma cinta de lona cuja fivela tinha o emblema da guarda, e tinha sobreposto o cinturão, no último cinturão que usamos estava escrito “GC” Guarda Civil. Usávamos sapatos pretos, muito bem engraxados. A farda tinha que ser muito bem passada. Usávamos as divisas: Uma divisa pertencia a Terceira Classe; Duas divisas pertenciam a Segunda Classe; Três divisas eram para a Primeira Classe; Quatro divisas eram para a Classe Especial. Depois tinha uma divisa para quem tinha feito a escola de sargento, que nós denominávamos de Classe Distinta. Acima vinha Sub Inspetor, Inspetor, Chefe de Divisão e Chefe de Agrupamento. Sai como Guarda Civil. Em 1970 o Presidente Emílio Garrastazu Médici extinguiu as guarda civis do país. Não era toda cidade que tinha Guarda Civil, a de São Paulo além da capital tinha em Campinas, Sorocaba, Piracicaba, Ribeirão Preto, Marília, Santos e Jundiaí. Era muito difícil ter uma unidade da guarda civil em uma cidade.


O senhor usava arma de fogo?


Usava um revolver calibre 38, Taurus, só podia ficar de posse da arma após dois anos de estágio probatório. Usava também cassetete de madeira. Se trabalhasse em Rádio Patrulha levava algemas, a Guarda Civil tinha Rádio Patrulha, as viaturas eram preto e branco, já eram Volkswagen.


Quais eram as áreas de atuações básicas da Guarda Civil?


Transito e diversões públicas. Eu gostava muito de trabalhar em cinemas. Mantinha a ordem na fila, rondava o cinema intermente durante as sessões. Trabalhei muito em campo de futebol. Naquele tempo ainda não existia a postura de ficar voltado para o público, assisti muitos jogos. Cheguei a ver Pelé jogando, tinha autógrafo dele. Trabalhamos em muitos bailes de carnaval em Piracicaba.


Onde foi a primeira sede da Guarda Civil em Piracicaba?


Era na Rua Moraes Barros, no prédio da antiga biblioteca. Depois ela passou para a Rua Voluntários de Piracicaba esquina com a Rua Alferes José Caetano, em um casarão antigo que resiste até hoje. Nessa época bem próximo havia a fábrica de bebidas do Andrade, que fazia as famosas Gengibirra e a Cotubaina. O Dario Correa já era um guarda muito antigo quando eu entrei.


Como Guarda Civil em Piracicaba quano tempo o senhor permaneceu?


Foram cinco anos. Fazia todo serviço de policiamento, menos trabalhar na cadeia. Trabalhava junto ao Fórum.


Havia aquelas ocasiões onde a Guarda Civil comparecia com sua roupa de gala, como era o procedimento para requisitar a presença da Guarda Civil e como era o uniforme?


Era feito um ofício ao comandante pedindo a presença de dois ou quatro guardas civis. O uniforme de gala constava do próprio uniforme azul, com polainas brancas, talabarte branco e espadim do lado direito. Não se usava armas de fogo nessas ocasiões. Eram ocasiões de muita pompa. Fui a muitas ocasiões solenes, casamentos, no Clube Coronel Barbosa, Igreja dos Frades, Igreja Bom Jesus, Igreja Matriz da Vila Rezende, fui a muitas procissões de Corpus Christi, ia à frente vestido de gala, a pé, muitos anos antes a Guarda Civil chegou a ter cavalos. Fiz a guarda de honra das pompas fúnebres do prefeito Luciano Guidotti. Ficava em posição de sentido em média umas duas horas, não podia se mexer, conversar, cumprimentar amigos.


Quem era o comandante da Guarda Civil em Piracicaba?


O primeiro comandante chamava-se Durval Nazeozeno Lopes era Inspetor, o comandante que mais permaneceu aqui e nos comandou por vários anos, foi um dos maiores homens que eu conheci na minha vida; Elias Domingos da Silva, o Sub- Elias. Ele era Sub-Inspetor da Guarda Civil.


Com a incorporação da Guarda Civil pela Polícia Militar o senhor passou a ser policial militar?


Permaneci por sete anos na Policia Militar em Piracicaba, o quartel já era onde está atualmente. Fizemos um treinamento, trocamos a farda. Passei muitas noites guardando presos, na época ficava na cadeia situada na Rua São José, ali passei muitas e muitas noites trabalhando. Um dia conversei com Ulysses Michi, ele era diretor da Itelpa. Foi mais difícil sair da polícia do que entrar. Eu era um bom elemento, não era vantagem à corporação se desfazer de um elemento bom. Sai em 1977. Em dois de fevereiro de 1977 entrei na Itelpa como chefe de segurança. Permaneci na Itelpa até 1993, quando me aposentei.




Como se iniciou a sua paixão pela música?


Francisco Alves, Silvio Caldas, Orlando Silva e Carlos Galhardo formavam o quarteto de aço. Tínhamos uma eletrola marca Arrow com capacidade para colocar 12 discos. Eram tocados em seqüência. Colocava-se 12 discos em um braço da eletrola, caia um por vez. Meus irmãos traziam muitos desses discos e também discos de tango. Eu adorava essas músicas, eu tinha uns 12 a 13 anos, fui aprendendo. A música ficou impregnada em mim. Gostava muito da Elizeth Cardoso.


O senhor toca algum instrumento?


Nenhum. Eu gosto mesmo é de cantar.


Há pessoas que sonham com o passado, paixões juvenis, em sua maioria platônica, o senhor como conhecedor da sensibilidade da alma o que diz a respeito?


Nessa vida não teve quem não amou, às vezes pode existir em alguém uma vontade louca de rever determinada pessoa, só que o tempo é uma máquina de fazer monstros. Peça a Deus para não encontrar-se com essa pessoa, caso isso aconteça você terá uma decepção danada. Isso sempre acontece. Sempre, invariavelmente. Bolão canta: “Tua imagem permanece imaculada/Em minha retina cansada/De chorar por teu/amor/Lábios que beijei/Mãos que eu afaguei/Volta, dá lenitivo à minha dor” (Composição: Leonel Azevedo uma das músicas interpretadas por Orlando Silva)

O senhor imagina quantas serenatas já fez?


Fiz serenatas por uns 30 anos. Pode ter gente que fez serenata igual a mim em Piracicaba, mas mais do que eu não. Fazíamos serenatas quase todos os fins de semana, naquele tempo todo mundo trabalhava aos sábados. As serenatas eram feitas aos sábados à noite. A nossa cidade era provinciana, dez e meia, onze horas da noite, já estavam todos dormindo. A cidade era um silêncio. Era uma maravilha. Todos com os instrumentos afinadinhos. Parava o carro uma quadra longe da casa da moça que era a homenageada pela serena
Ela abria a janela?



Ela acendia a luz e apagava. Era quando sabíamos que a homenageada estava ouvindo. Eu não fazia só para a minha namorada, fazia para muita gente, o enamorado ficava eufórico. No dia seguinte era aquele comentário da moça; “ – Nossa como gostei, tem que ver o que a vizinhança falou!’ Era um acontecimento muito bonito. Imagine uma moça adormecendo ouvindo alguém com uma voz considerada expressiva, cantando: “Ò linda imagem de mulher que me seduz / Ah se eu pudesse tu estarias num altar/ És a rainha dos meus sonhos, és a luz/ És malandrinha não precisas trabalhar”.Muitas famílias nos recebiam. Quantas noites eu não passei em casa de família cantando, a noite inteirinha, só saia quando tinha raiado o sol. Acabava tomando café e indo embora.


Nunca tinha um pai mais nervoso?


Tinha, mas nós fazíamos a serenata na casa ao lado, geralmente conhecíamos quem morava ao lado.


Os seresteiros tinham um ponto de encontro?


O Quatizinho foi o reduto das serestas de Piracicaba. Tem um menino em Piracicaba que canta muito bem, está gravando um CD é o Roberto Mahn. Esta semana, ele vai cantar em um teatro no Rio de Janeiro. Conheci um extraordinário flautista, Carlos Poiares.


O que é ser boemio?


É uma pessoa que gosta da noite, de bares, mulheres. Não precisa necessáriamente beber. Tenho um amigo que andou comigo por 30 anos nunca o vi tomar um copo de cerveja. Hoje já não sou mais um boemio, mas se fosse seria boemio sem beber, ontem saí do Quatizinho a meia noite, tinha bebido duas garrafs de refrigerantes zero.


Quantos componentes tem uma serenata?


Uma serenata bonita tem que ter um bandolim, dois violões, um de seis cordas outro de sete, naquele tempo não tinha violão de sete cordas, e uma flauta. E um cantor que cante razoavelmente bem.


O senhor aprendeu a cantar aonde?


Não se aprende a cantar, é um dom, nasce com a pessoa. Você pode aprender divisão, alguém que lhe ensine, como Sérgio Beluco me ensinou muito, foi um dos maiores violãonistas daqui, foi professor do artista Alessandro Penezzi.


O senhor se apresenta regularmente em algum local?


Gosto muito do Teatro Municipal, Teatro do Engenho e Teatro do SESC. Em barzinho não canto mais, já passei muitas noites cantando em bares. No Largo dos Pescadores quantas e quantas noites não passei cantando embaixo daquela árvore! A Rua do Porto não tinha quase nada, tinha o bar do Largo dos Pescadores, o Bar do Otsubo que era o mercadinho da Rua do Porto e o bar do Hélio Pecorari, naquele tempo ainda não era a Arapuca. Quem levou muito movimento para a Rua do Porto foi o Tanaka. Ele montou um bar e levou conhecidos frequentadores da noite. Hoje a Rua do Porto vive essa efeversencia principalmente voltada ao turismo. Na década de 70 foi um ponto de reunião da noite piracicabana.


Qual é a sua musica predileta?


Conheço mais de mil músicas, mas tenho predileção por Chuvas De Verão: “Podemos ser amigos simplesmente/ Coisas do amor nunca mais/ Amores do passado, do presente/Repetem velhos temas tão banais/ Ressentimentos passam como o vento/ São coisas de momento/ São chuvas de verão/ Trazer uma aflição dentro do peito./ É dar vida a um defeito/ Que se extingue com a razão / Estranha no meu peito/ Estranha na minha alma/ Agora eu tenho calma/ Não te desejo mais/ Podemos ser amigos simplesmente/ Amigos, simplesmente, nada mais”. Bolão embalado pela sua voz notável interpretou diversas músicas, mostrando que ainda consegue comover qualquer platéia, e fez isso sem nenhum instrumento musical o acompanhando.




















domingo, abril 28, 2013

SANTO PAVANELLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 27 de abril de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/




ENTREVISTADO: SANTO PAVANELLI

Santo Pavanelli nasceu a 12 de dezembro de 1933, no bairro rural Volta Grande, na Fazenda São Luiz, foi criado na Fazenda Olho D`Água. Filho de Fermino Pavanelli e Maria Oriani, lavradores, tiveram nove filhos: Luiz, Durvalino, Cesário, Guerino, Antonio, Henrique, Fermino, José e o caçula Santo. Em 1939 a família mudou-se para a Fazenda Olho D`Água, lá Santo foi matriculado na Escola Mista da Fazenda Olho D`Água onde sua primeira professora foi Dona Maria Pedreira de Lima. Nessa fazenda era cultivada fumo, batata, cebola, alho, feijão, arroz e milho, além de lavouras convencionais para tratamento de suínos como abóbora, mandioca. Seu pai foi radicalmente contra o plantio da cana de açúcar. A fazenda era de João Rodrigues de Moraes. Tinha 12 casas de colonos.


Como era uma casa de colono?


Eram dois quartos de barrotes, sala, cozinha com fogão a lenha, e chão batido. A cobertura nos quartos e sala eram feitas com telhas de barro e o resto era sapé. As camas tinham colchões feitos de palha de milho. Uma delícia.


Que idade o senhor tinha quando a sua família mudou-se para a cidade?


Quando nós viemos para a cidade de Piracicaba eu tinha 11 anos, foi em 1943. Fomos morar na Rua Cristiano Cleopath, 1440, era um bairro de ruas de terra, não me lembro se tinha esgoto ligado, água e luz tinham, o proprietário era Batista Rapetti, pagávamos aluguel. A casa era muito pobre. A área era de uns 10 metros de frente por uns quarenta metros da frente aos fundos. A casa tinha uns 60 metros quadrados. Ali meu pai fazia sua hortinha e tirava o sustento para a família. Os irmãos já tinham se encaminhado, o mais velho ficou na Fazenda Olho D`Água, alguns foram para São Paulo. apenas os três mais novos vieram com o meu pai: Firmino, José e eu. Meu primeiro emprego foi em uma fábrica de balas, a Atlante S/A, na época era onde hoje é a papelaria Kalunga, na Rua Governador Pedro de Toledo. Tratamos que me pagariam um salário de dois mil réis por hora, no final do mês pagaram só um. Eu empacotava balas. Nesse meio tempo meu pai adoeceu, eu não estava satisfeito com a empresa e sua forma de remuneração. Assumi a venda de bananas, fui trabalhar na rua vendendo bananas, ganhava mais do que trabalhando como empregado. Aos 14 anos perdi meu pai.


De onde vinham as bananas que o senhor vendia?


Quem fornecia era um atacadista de dentro do mercado municipal, Seu Pedro. Eu pegava de manhã, duas cestas de vime, cada cesta pesava de 10 a 12 quilos, para a minha idade era um peso brutal, mas eu era um menino forte. Vendia no Bairro Alto, na Paulicéia, na Paulista, andava pela cidade inteira. Cada dia eu fazia um bairro. Usava como calçado alpargatas. Com isso eu ganhava o dobro do que tinha tratado com o meu ex-patrão. Eu trabalhava de segunda feira a domingo. Começava a trabalhar entre três e meia e quatro e meia da manhã. Tinha que selecionar a banana, não existia tecnologia nenhuma, tinha que escolher. Às vezes eu não comprava do atacadista, comprava dos carroceiros que vinham dos bairros Dois Córregos ou da Pompéia. Era uma banana melhor e com preço menor. As bananas naquele tempo eram mais cheirosas, tinham mais aroma. Eu sentia na carroça que vinha vender de Pompéia, aquele cheiro da banana. Lotava as duas cestas e ás 6 horas já saia do mercado. A pé.


A que horas o senhor terminava de vender tudo?


Às vezes até as 10 horas da noite. Eu tinha um compromisso comigo mesmo: “Vender 100 dúzias de banana por dia! São 1.200 bananas” Isso foi uma meta que estabeleci para poder em 1951 comprar um caminhão. O meu sonho já era alto. Era buscar banana em Iguape. E fui. No dia 8 de janeiro de 1951 comprei o caminhão do meu querido e amado Luciano Guidotti que me vendeu fiado.


Por quanto tempo o senhor vendeu banana a pé na rua antes de adquirir o caminhão ?


Um pouco mais de oito anos. Nesse tempo não pude freqüentar escola e nem o campo do XV de Novembro que eu amava. Estamos falando de 1944 a 1951


Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente hoje jamais o senhor poderia fazer isso.


Eu estaria morto. Talvez eu voltasse para a Fazenda Olho D` Água se existissem todas essas leis de hoje..


O senhor fez muitas amizades vendendo bananas?


Fiz o pessoal gostar de bananas e a gostar de mim. As vezes eu percebia que certos fregueses compravam para me ajudar. Tinha um libanês na Rua Santa Cruz, Seu Zich, parecia ser um homem de posses, ele comprava duas a três vezes por semana, às vezes sua esposa até ficava brava, eu a ouvia dizendo: “ –Tem muita banana Zich!”. Ele comprava, eu percebia que era para me ajudar. Nunca usei despertador, nem minha mãe precisou me acordar, isso de segunda feira a domingo.


A que horas o senhor deixava de trabalhar aos domingos?


Às duas horas da tarde.


O senhor se alimentava onde durante o dia?


Comia o que dava para comer. Geralmente era pão com mortadela. Nunca tomei refrigerante nem álcool na minha vida. Era pão com mortadela e água. Bem mais tarde tive uma grande casa que vendia bebidas, a Serv Sempre, eram quase 2.000 metros quadrados.


Após oito anos vendendo bananas nas ruas o senhor tinha certa economia?


Tinha trinta e oito milhões, era assim denominado popularmente o dinheiro na época. O dinheiro que eu tinha dava para pagar metade do caminhão. Dei 30 milhões de entrada e fiquei devendo 30 milhões.


Onde o senhor guardou esse dinheiro todos esses anos?


Em casa, em uma latinha guardada no colchão. Ninguém imaginava que eu tinha esse dinheiro.


Que idade o senhor tinha quando adquiriu o caminhão?


Tinha perto de dezessete anos. Quando fui até a agência de veículos pertencente a Luciano Guidotti eu era um menino. Fui recebido pelo Sr. Vila Guidotti, filho do Seu Luciano Guidotti. Perguntou a minha idade, quando disse-lhe, ele me aconselhou a ir embora. O pai dele, de dentro do escritório ouviu e perguntou: “-Quem está aí?”. Ele então respondeu: “-É um moleque que quer comprar um caminhão!”. Luciano disse: “- Mande-o entrar aqui!”. Entrei, tremia. Luciano era um homem imponente, inteligente. Perguntou-me porque eu queria adquirir um caminhão, respondi. Ele então me disse: “- Além da entrada você terá que pagar 10 pagamentos de 3 milhões”. Disse-lhe: “- Eu pago!”. Ele chamou o filho e disse-lhe: “- Vila, pegue os trinta contos dele, e faça o restante em 20 pagamentos para ele”. Em 8 de janeiro de 1951 adquiri o meu primeiro caminhão. Era só o chassi do caminhão. Era um caminhão GMC 1951, zero quilômetro. Sobraram-me oito mil contos para fazer a carroceria que fiz na Paulista com o Chico Carretel. Paguei dois contos e duzentos. Quando peguei o primeiro caminhão disse ao Beija-Flor: “- Vá até o Scudeller!”. Mandei escrever no pára-choque dianteiro: “Viva o crédito!”. Essa mesma frase eu escrevi no segundo, terceiro e quarto caminhão. A frase ficou famosa. Era a gratidão por ter crédito e ser correto.


Qual era a capacidade de carga do caminhão?


Seis mil quilos. Como eu não tinha idade para dirigir contratei um motorista, um mulato cujo apelido era Beija-Flor. Eu o conhecia do Mercado Municipal. Fizemos a primeira viagem até Iguape, chegamos com um calor imenso, eu não conhecia nada, nem o caminho, ou até mesmo por onde começar a comprar. Em Iguape o Beija-Flor disse-me: “Esqueci de te avisar, eu só tomo água Prata!”. Disse-lhe: “ – Com o seu dinheiro pode tomar, eu tomo água de torneira!”. Fomos até a roça, carreguei as seis toneladas de banana e vim embora, levamos seis horas de viagem, era estrada de terra. Logo após voltarmos a Piracicaba, fui para São Paulo, trouxe meu irmão Henrique que se tornou meu sócio depois.


A diferença de preço da banana comprada lá era grande?




Lá era em torno de setenta por cento mais em conta do que aqui.


Chegando a Piracicaba, o que o senhor fez com um caminhão de banana?


Deixei as bananas no quintal da casa da minha mãe, na Rua José Pinto de Almeida, 251. Comprei um encerado e cobri, as bananas estavam ainda meio verdes. Fui vendendo com as cestas de vime. Deixei o caminhão estacionado na frente da casa da minha mãe, Sai vendendo as bananas que estavam mais maduras. Vendi seis toneladas de banana em três semanas. Minha mãe passou a atender os clientes de banana no portão da sua casa. Meu lucro foi tão grande que eu peguei o ônibus, fui até a Vila Prudente em São Paulo, onde meu irmão Henrique era marceneiro da Rádio Pioner, Disse-lhe: “-Vamos embora que você precisa tirar carta de motorista!”. Vou comprar outro caminhão. Ele relutou e veio. Em janeiro de 1952 compramos um caminhão GMC de oito toneladas. Eu estava pagando o primeiro caminhão com facilidade, paguei antecipadas as parcelas. Em onze meses quitei as parcelas velhas e dei uma entrada menor no segundo caminhão.


Qual foi a reação do Guidotti?


Recebi o melhor tratamento possível, inclusive do seu filho que anteriormente havia me atendido com certo receio.


Com dois caminhões, o quintal da casa da sua mãe funcionando como depósito de banana, qual foi o próximo passo?


Foi tirar o meu irmão Fermino, já falecido, que era contínuo do Banco Comércio e Indústria, mais tarde proprietário da Pavanelli Importadora, e comprar o terceiro caminhão. Nessa época eu já dirigia um caminhão, o Henrique dirigia o caminhão maior. Com o caminhão grande passamos a levar banana de Iguape para Curitiba. Curitiba era pequena, era chegar e descarregar. Curitiba tinha o tamanho de Piracicaba de hoje, um pouco menor, vendia muito na praça principal, chamava “Frutaria Coração da Cidade”, bem em frente à catedral, o proprietário era Ali Mustaf, ele sempre dizia: “Menino! Primeiro atende Ali! Se interessa compro caminhão sozinho! Não venda para o Elias da Praça Zacharias!”. Ele estava sempre rindo, usava um chapelão. Era uma frutaria linda. A banana também era descarregada na feira. O Fermino pegou outro caminhão de oito toneladas, já tínhamos pagado o primeiro e o segundo caminhão, demos entrada no terceiro e seguimos em frente. Chegamos a ir até Porto Alegre para entregar banana, de lá trazíamos cebola, negociadas por família de Piracicaba, Irmãos Ortega. Nessa altura a cana de açúcar tinha proliferado ninguém plantava cebola em Piracicaba. As cebolas vinham em réstias, iam amarrando, os Ortega carregavam, eles tinham muita prática no “amarramento” das réstias elas não deslizavam. Eu vendia na Rua Santa Rosa, tradicional região de atacado cerealista de São Paulo.


Vocês tinham funcionários?


Não! Nós mesmos trabalhávamos. Sem ajudante, sem “chapa” sem nada. Descarregávamos caixas de abacates, laranjas, cachos de bananas. Hoje ninguém faz nada sozinho mais.


Em média quantas bananas têm um cacho?


De setenta a oitenta e quatro bananas.


Quantos tipos de banana existem?


Nossa! Banana ouro, prata, nanica, figo, banana-da-terra. Nesse tempo tinha a São Thomé, a São Domingos. Para fritar tanto serve a banana figo como a terra. A que mais vendia era sempre a nanica, isso é assim até hoje. A banana maçã era recomendada para pessoas adoecidas. Era bem cara. A banana prata quase não existia. A banana São Domingos lamentavelmente desapareceu, ela tinha a casca roxa. Era um mel. Às vezes vinha um cacho, o preço era bem mais caro.


O senhor procurou informar-se o porquê do desaparecimento da banana São Domingos?


Sou muito curioso, alguns integrantes da ESALQ afirmaram que o motivo é a baixa produção do cacho dessa banana. Não chega a dar 40 bananas no cacho. É a explicação que tive de agrônomo.


Vocês estavam com três caminhões viajando?


Viajávamos de Iguape para Piracicaba, Curitiba e Porto Alegre, as estradas eram de terra. De Piracicaba à Curitiba íamos por Tietê, Tatui, Itapetininga, Capão Bonito, Guapiara, Apiaí, Pedra Preta, Bocaiuva e Curitiba. Dava 650 quilômetros, só montanha, terra e buraco. Ninguém ia, quando chovia encalhava. De lá para cá trazia madeira: pinho, imbuia, canela para a fábrica de urnas Sbrissa. Seu Augusto Perecin era meu grande freguês, assim como Malacarne Gemente, onde hoje é um grande estacionamento de veículos. Daqui a Porto Alegre a viagem durava três dias e precisava viajar bem duas meias noites.


Não era perigoso?


O maior perigo eram as estradas ruins. Só que havia uma solidariedade total entre os motoristas. Parava o caminhão para dormir, o primeiro que passasse perguntava: “- Precisa de alguma coisa paulista?”. Os caminhões eram a gasolina. Trabalhei assim até 1956. O Henrique continuou até 1960 o Fermino já veio para o Mercado com o armazém de secos e molhados. Diversificamos os produtos, carregávamos abacate em São Carlos, laranja pera em Limeira. Não tinha estradas. Estradas de ferro eram poucas e ruins, hoje não existe nenhuma. Eu nunca tive medo. Às vezes estava saturado o mercado de madeira em Piracicaba, eu ia de Curitiba até Guarapuava e carregava fósforo, na fábrica Pinheiro. Era uma carga que ninguém queria, a carga dava no máximo duas toneladas eles pagavam seis toneladas. No caminhão grande carregava quatro toneladas eles pagavam oito toneladas. Nem eu, nem meus irmãos fumávamos. Qualquer atrito ou choque faria explodir o caminhão. Em 1956 vendi minha parte aos meus irmãos e me casei em 22 de dezembro de 1956 com Maria Cleusa Asta Pavanelli. Começamos a namorar em 13 de outubro de 1951. Em meu último ano de solteiro morava com a minha família, mãe e irmãos, na Rua São José entre a Rua Governador Pedro de Toledo e a Rua Benjamin Constant. Quando casamos, Maria Cleusa e eu, fomos morar na Rua Governador Pedro de Toledo, 1429, coincidentemente em frente à fábrica que não me pagou o devido salário. Alugamos um sobrado da família Sabino, montei uma loja de materiais de construção na frente, a Casa Asta, e moramos nos fundos. Em 1962 construi em outro local e permaneci por mais 10 anos com a Casa Asta funcionando. Eu tinha três carroceiros só para fazer as entregas, eram o Teófilo, Egídio Razera e Diogão Perdido, este último tinha saído da cadeia, disse que precisava trabalhar, eu compraria uma carroça e um cavalo e iria descontando do seu trabalho. Ele trabalhou para mim por quatro anos. Nunca me deu um transtorno.


O senhor chegou a freqüentar algum clube?


Santo exibe a sua carteira de sócio da Sociedade Beneficente Treze de Maio de Piracicaba. E diz: ” Quando eu vendia banana com cesta, a minha atual esposa perguntou de qual clube eu era sócio, disse-lhe que era do Cristóvão Colombo, como não sei mentir, tratei de me associar imediatamente ao clube, na época ficava naquele sobradão em cima do Pastelão, o diretor Antonio Marossi disse-me que a minha carteira de associado ao clube na quinta feira estaria pronta . Para minha tristeza, ele me entregou a carteira, eu com as duas cestas de banana, foi quando ele me disse: “ Você não se toca menino? Aqui não entra bananeiro!”Se disser que não saí chorando eu minto. Hoje isso daria cadeia para ele. E adianta cadeia para alguém? A dor do meu peito quem tira? Ninguém! Desci a Rua Governador, virei na Rua Treze de Maio, gritei na porta do Clube: “ Bananeiro!”. Vendi cinco dúzias para o Seu Anastácio, era um negro de cabelos brancos, presidente do clube. Ele me convidou para entrar para o clube. Fiquei lá, não criei trauma, não há coisa na vida que lave um trauma mais do que uma lágrima. Os anos foram passando, é um clube tradicionalmente composto por negros, sou o único sócio branco. Sou sócio desde 1950.


Como o senhor é visto pelos demais sócios?


Como um irmão branco. Lá para ajudar a saúde do Parafuso, fiz muito cururu, pagando a rádio por minha conta. Outro artista que apoiei muito foi Joca Adamoli, um dos grandes pintores piracicabanos que não teve apóio nem mesmo de pessoas muito próximas dele. Ajudei muito o Jaraguá Futebol Clube, na construção da Igreja São José, na Paulista, Abel Pereira, Vitório Fornazier e José Nassif eram sempre consultados em qualquer iniciativa a ser tomada. Inclusive a pia batismal da Igreja São José eu e José Nassif que dividimos o seu custo.


Quando o senhor encerrou as atividades da Casa Asta?


Foi em 1978. Comercialmente era o momento de parar. Junto com meu irmão Henrique e dois filhos do meu irmão José, montamos o Serv Center, distribuidora de bebidas. Foi o maior centro de distribuição de bebidas da região.


Interessante o senhor não beber, mas comercializar o produto.


Realmente, às vezes algum cliente perguntava qual cerveja eu preferia beber. Respondia-lhe: “-Nenhuma!”. A pessoa então dizia: “Desculpe! O senhor é doente ou então o senhor é crente?” Dizia que tinha saúde perfeita e sou católico. No imaginário popular para não beber tem que ser crente ou doente! Simplesmente não vejo motivo para beber. Tenho três filhas, seis netos e agora dois bisnetos. Acho terrível fazer festa de aniversário de primeiro, segundo ano de vida de uma criança servindo bebida alcoólica. A festa não é da criança?


O senhor entrou para mais alguma instituição?


Ajudei a fundar a Casa do Bom Menino, com o meu irmão Henrique fizemos o Palmeirão que chegou a ter 1800 sócios. Em 1962 assumi o primeiro cargo de diretor do XV de Novembro, ainda no Estádio Roberto Gomes Pedrosa. A lei que permite o menor entrar sem pagar no estádio é praticamente minha. Para entrar no estádio o menor tinha que pagar, fui a Rádio Difusora e anunciei que no jogo XV e Corinthians todo menor de 12 anos acompanhado do pai poderia entrar sem pagar. O presidente da Federação Paulista de Futebol era João Mendonça Falcão, me processou. Ganhei a causa e se tornou lei. Isso foi em 1962. Em 1976 como vice-presidente fiquei vice-campeão paulista. Em 12 de junho dee 1967 ganhei a eleição para presidente do XV do Novembro, meu adversário era o Comendador Humberto D`Abronzo, a minha campanha chamava-se “O Tostão Contra o Milhão”, fui presidente até 1969.


O senhor conheceu grandes nomes de Piracicaba, como Newton de Mello.


Conheci e conversei muito com Newton de Mello que por razões políticas locais foi transferido de Piracicaba, de diretor do Sud Mennucci para professor em uma escolinha mista 40 quilômetros, além de Capivari, em uma fazenda, choveram mais de 40 dias e ele não podia sair de lá por causa das enchentes dos ribeirões. Só tinha a estrada de Ferro Sorocabana para vir para Piracicaba. Ele tocava violão, compôs o Hino de Piracicaba, quando passou a chuva veio para Piracicaba com a saudade que punge e mata. Ele de fato agrediu a esposa, não a matou, mas jamais fez essa composição no cárcere, isso é puro folclore. Hospedei o General Leônidas Cardoso em 1952, pai de Fernando Henrique Cardoso. Conheci Luiz Carlos Prestes, de quem eu era fã incondicional. Conheci Dr. Mário Schenberg. Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar exilados políticos.


O senhor é compositor?


Sou compositor profissional, com carteira da Ordem dos Músicos desde 1984. Tenho mais de 150 composições feitas e gravadas. São executadas em muitos lugares mais do que em Piracicaba. Sertão Querido, Terra Onde Nasci, Mulher da Minha Vida, são muito solicitadas. Quando Tião Carreiro, com 800 músicas gravadas, faleceu me desfiz de todo material musical que eu guardava. Tião Carreiro era meu amigo, compadre, todo mês esrtava aqui. Tião Carreiro amava o Rio Piracicaba. Ele fez oito músicas para Piracicaba. Erotides de Campos foi outro grande injustiçado ainda em vida.










NORBERT BRÜSCHKE

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
Sábado 20 de abril de 2012
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
 





ENTREVISTADO:NORBERT BRÜSCHKE


Norbert Brüschke (O nome correto tem um trema sobre o ü, quando chegou ao Brasil quem anotou o seu nome aboliu por vontade própria o trema originalmente existente).
Nascido a 27 de junho de 1932 em Eskisehir, Turquia. Filho único do engenheiro mecânico Willi Brüschke e Martha Brüschke. Casado com Eunice Brüschke são pais de Klaus, Marlies e Richard.


O senhor é filho de alemães, porém nasceu na Turquia?


Nasci na Turquia por força do trabalho do meu pai, como engenheiro ele estava naquele país para instalar os equipamentos fabricados pela empresa na qual ele trabalhava na Alemanha. Ele se especializou em instalar equipamentos fora do país, assim ele esteve na Tchecoslováquia, na Romenia, um dos seus grandes trabalhos foi na Turquia onde permaneceu por quatro anos.


Em qual empresa ele trabalhava?


Na Knorr Bremse, em alemão Bremse quer dizer freio. A especialidade deles era colocar freios nos trens. Acredito que todos os trens alemães estão equipados com sistema de frenagem da Knorr concorrente da Westinghouse americana.


Em que ano o pai do senhor foi prestar serviços na Turquia?


Foi em 1931, após um ano eu nasci, fui registrado em Istambul como alemão. Na Europa e na Ásia Menor a lei da nacionalidade sempre é definida pelo sangue do pai. A nacionalidade do pai é que determina a nacionalidade do filho. Há até uma passagem muito curiosa ocorrida com a minha esposa, Eunice Brüschke, estava em um estabelecimento bancário no Brasil, fazendo um cadastro, quando lhe perguntaram qual era a nacionalidade do seu marido ela afirmou: “Ele é alemão.”. Ao perguntarem-lhe em que cidade eu havia nascido, ela respondeu, foi quando lhe afirmaram: “Então ele é turco!”. Ficaram naquele impasse, ela afirmando que eu era alemão e a pessoa dizendo que eu era turco. Até que ela perdeu a paciência e disse-lhe: “Uma gata dá a cria de gatinhos em um forno de uma padaria, o que nasce é gata ou biscoito?”. Nesse momento a pessoa entendeu.


A esposa do senhor é brasileira?


Sim, nascida em São Paulo.


Com que idade o senhor saiu da Turquia?


Aos três anos de idade deixei a Turquia, permaneci até os cinco anos em Berlim, na Alemanha, onde meus pais tinham residência própria. Dentro de dois anos meu pai foi mandado para fazer o mesmo trabalho no Brasil.


Isso foi por volta de 1937?


Foi em torno de 1937 a 1938. Ele veio até o Brasil, fez o que tinha que fazer participar de uma concorrência pública da Companhia Paulista de Estadas de Ferro, nas oficinas de Rio Claro. Descemos do navio em Santos e fomos para Rio Claro, fomos morar na Terminada a concorrência, a experimentação, durou quase dois anos. Ele falava só alemão, na Companhia Paulista havia um tradutor. Quando tudo terminou, meu pai já tinha a passagem do navio em suas mãos, estourou a Segunda Guerra Mundial, isso foi em 1938. O navio cujo nome era Cap Arcona, e com o qual deveríamos ter voltado nunca chegou a Santos. Após a guerra eu soube que ele foi afundado no Mar do Norte. Lembro-me que estávamos hospedados no Hotel Aurora, na Rua Aurora, naquele tempo era chique. Era um hotel muito bonito, com um jardim em frente, permanecemos ali na indefinição se ele voltava ou não para a Alemanha. Ele queria voltar de avião, havia uma companhia aérea chamada Linee Aeree Transcontinentali Italiane, L.A.T.I. que tinha um voo até Recife, depois para Açores, Norte da África, Itália e Alemanha. Naquele tempo havia a famosa Blitzkrieg (termo alemão para guerra-relâmpago), achavam que dentro de duas semanas a guerra terminava e o meu pai retornaria. Esse era o pensamento da empresa. Até 1940 ele recebeia o salário dele normalmente via Banco do Brasil. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra, o salário que o meu pai recebia da Knorr foi interrompido, ele então teve que procurar um trabalho.


O fato de ele ser alemão e o Brasil estar em guerra com o a Alemanha trouxe-lhe aborrecimentos?


Não diretamente. Lógico, em São Paulo durante a guerra houve perseguição aos alemães, só que era focado mais nos alemães mais conhecidos, como o diretor da Deutsche Schule, Dr. Hoch, morreu na prisão, no Brasil. Essa escola foi transformada no famoso Colégio Visconde de Porto Seguro, escola que freqüentei do primeiro até o terceiro ano científico. Ficava na Praça Roosevelt em São Paulo, nós morávamos na Rua Dom José de Barros, entre a Rua Barão de Itapetininga e a Rua 7 de Abril. Não faz muito tempo passei pelo prédio onde morávamos, no quarto andar. O elevador era com porta pantográfica. Para ir à escola ia pela Rua Barão de Itapetininga até a Praça da República, subia a Avenida Ipiranga e ia até a Praça Roosevelt. Naquele tempo não existia praticamente nada do que existe hoje. Era uma praça abandonada onde brincávamos, um terreno baldio em frente a escola. A escola ficava na Rua Olinda, existente até hoje. Era uma escola bonita, o prédio existe até hoje. Dr. Hoch foi substituído por um interventor brasileiro, mais tarde substituído pelo Dr. Turelli que permaneceu por uns quarenta anos ou mais na função, foi o meu diretor durante todos os anos que lá estudei. Após muito tempo, já casado, com filho, um dia eu fui ao Colégio Visconde de Porto Seguro, já localizado no Morumbi, passei por ele que me cumprimentou: “- Oi Norberto! Como vai?”. Após 30 anos ele ainda recordava-se do meu nome.


Com a permanência no Brasil, o pai do senhor passou a trabalhar onde?


O primeiro emprego dele foi numa fabrica chamada Aliança, que faz fivelas, a primeira máquina de costura brasileira feita durante a Segunda Guerra cópia da máquina de costura Pfaff foi feita sob a responsabilidade do meu pai. O dono da fábrica de fivelas queria se lançar em um novo mercado, pegou todos os direitos da Pfaff alemã e fabricaram os protótipos, as primeiras máquinas. Sei que meu pai todo orgulhoso chegou até a costurar uma folha bem fininha de chumbo para mostrar a robustez da máquina em demonstração para as autoridades brasileiras. Eu tenho a impressão de que essa máquina não foi produzida em larga escala. Depois ele foi trabalhar em uma fábrica de prensas no bairro do Tatuapé.


Após estudar no Colégio Visconde de Porto Seguro qual foi a próxima etapa escolar do senhor?


Nessa época o ensino da língua alemã era proibido, só mais tarde, quando se mudou para o Morumbi, como sempre foi um colégio freqüentado pela colônia alemã, ele acabou fazendo um convênio com o governo alemão para poder lecionar a língua alemã e também que as aulas fossem ministradas em alemão. Para que os filhos dos profissionais alemães ao voltarem para a Alemanha tivessem o reconhecimento oficial do diploma dos cursos feitos no Brasil.


O senhor freqüentou algum cursinho para ingressar na faculdade?


Fiz o Curso Anglo-Latino, entrei na Escola Politécnica em oitavo lugar, isso foi em janeiro de 1951, fiz o curso de engenheiro mecânico e eletricista na época eram cursos juntos. Sou da turma em que se formou Mário Covas em 1955. Paulo Maluf se formou na Politécnica um ano antes de nós. Naquele tempo o Covas já era politicamente muito ativo, foi presidente do grêmio estudantil. Quando fazíamos greve era ele que estava a frente de tudo. Após 25 anos de formatura na Poli fizemos uma festa e nos encontramos, fomos com nossas esposas, ao sair de lá, minha esposa disse-me: “- Agora entendo o seu jeito de ser! Vocês na Poli tem a mesma mentalidade, a mesma forma de pensar”. Eu diria que o Mário Covas tinha uma mentalidade Politécnica, o ideal de construir um Brasil melhor. Éramos muito idealistas. Fui rotariano por 21 anos.


A religião professada pelos alemães, em sua maioria qual é?


Luteranos.


No Bairro do Campo Belo em São Paulo existe uma entidade freqüentada por alemães, qual é a finalidade?


Trata-se da Kolping Haus, é uma entidade com fins sociais da colônia alemã. Recentemente, ao comemorar 25 anos de formatura no Colégio Visconde de Porto Seguro almoçamos lá. Quando morávamos na Rua Dom José de Barros o clube que freqüentávamos era o atual Clube Pinheiros, na época era denominado Clube Alemão. Quando criança eu praticava natação, quando fiquei maior, junto com o meu pai jogava tênis, que foi o meu principal esporte depois.


Após formar-se como engenheiro na Politécnica o senhor foi trabalhar aonde?


Tive 12 ou 13 empregos diferentes. A cada 2 ou 3 anos eu mudava de emprego. O meu primeiro emprego foi na Indústrias de Parafusos Mapri onde permaneci por um ano e pouco. Dali fui para a Mercedes-Benz, onde também fiquei por um ano e pouco, lá trabalhei no controle de qualidade de recebimento de materiais. O controle de qualidade de entrada de produtos dos fornecedores da fábrica de São Bernardo de Campo passava pelo meu departamento. Isso foi em 1956. De lá fui para a Brastemp onde tive uma experiência muito linda: o meu pai estava trabalhando na Brastemp! Pude vê-lo trabalhando, foi um privilégio. Ele era daqueles engenheiros no qual tive que me espelhar, era um profissional que além de ter a teoria tinha a prática. No departamento de engenharia desenvolvia o ferramental para fazer uma geladeira, uma porta de geladeira era feito de chapas, através de prensas enormes de duas, três mil toneladas, eu vi meu pai ajustando aquelas ferramentas uma por uma. Ele tirava o paletó e punha a mão na graxa. Naquele tempo não saia de um emprego sem ter contrato já feito em outro. Havia uma demanda muito grande por profissionais.


Da Brastemp o senhor foi trabalhar em qual empresa?


Fui para a Fichet Schwartz Hautmont onde permaneci por 3 anos. Lá tínhamos a fábrica de esquadrias de alumínio, vigamento pesado que era a minha área, esquadrias de ferro e cofres. Vigamento com um metro, dois metros de altura, inclusive fazíamos pontes rolantes, a maior ponte que eu vi lá foi uma que levantava 250.000 quilos, feita para Furnas, para levantar o gerador. Fazíamos tanques enormes para a Petrobrás, com 10 metros de diâmetro por seis metros de altura. Na Fichet trabalhei três anos.


Qual foi a próxima empresa em que o senhor trabalhou?


Fui trabalhar na Willys Overland do Brasil , isso foi em 1960, ela só fabricava o Jeep e a Rural Willys. O meu teste de admissão foi uma peça do capô do Jeep. A pergunta que me foi feita é qual seria o ferramental que eu iria utilizar para fazer aquela peça. Eu tinha visto aquilo na Brastemp, só visto, mas eu sou curioso. Fiz o projeto da ferramenta, do fluxograma, de um processo de fabricação daquela peça e expliquei ao americano, eu falava inglês. Disse-lhe que me interessava muito em projetar ferramentas de corte e repuxo profundo. Permaneci por três anos na Willys. Após um ano um diretor de uma escola técnica procurando por um professor me contratou por indicação do meu chefe. Depois de um ano e meio ele reuniu a turma e disse: “- Nós vamos lançar um carro novo, diferente. È o Aero Willys, vamos trazer as ferramentas dos Estados Unidos e vamos lançar no Brasil. Fui chamado a ser o coordenador desse projeto na área de ferramentas de corte e repuxo. O que eu soube é que o Aero Willys antes de ser lançado, uma equipe de pilotos pegou um Aero-Willys americano, importado, e andaram pelo Brasil afora, tiveram que soldar a carroceria inúmeras vezes, o carro americano não era feito para estradas brasileiras. A nossa engenharia teve que reformular todo chassi, principalmente a suspensão. Era até engraçado, pegávamos os desenhos das peças para fazer as ferramentas, de repente tinha que suspender tudo, ia ser modificado tudo. O Aero Willys brasileiro, toda parte de chassi e suspensão é genuinamente brasileiro, por ter sido adaptado as condições das estradas brasileiras. Passado um ano, aquilo tudo estava funcionando, ele me chamou e disse: “- Agora vamos lançar o Dauphine.”. E 1800 ferramentas do Dauphine passaram pela minha mesa.


Qual é a origem do Dauphine?


Francesa. O projeto era da Renault. Fui indicado pelo meu chefe para coordenar o “Projeto Dauphine” para ser fabricado na Aero Willys do Brasil.


Da Willys o senhor foi trabalhar em que empresa?


Fui para a Siemens, para a área de transformadores. Ficava na Marginal Tietê, trabalhei lá por três anos. Fiz parte da área denominada preparação de produção. A área que tendo o desenho e especificações técnicas determina o processo de fabricação. Eu tinha um departamento com 25 funcionários, que emitia toda a documentação, peça por peça, para as máquinas correspondentes, cada operador de máquina recebia toda instrução de como fazer aquela peça. Tinha um pequeno grupo de cronometristas que determinava os tempos padrões. Naquele tempo se pagava até premio por produção.


Qual foi a próxima empresa que o senhor trabalhou?


Da Siemens fui para a Isopor. Naquele tempo era uma empresa particular, hoje é da BASF , empresa alemã. O isopor foi “inventado” por um amigo do meu pai, era um homem de uma versatilidade extrema, iniciou sua empresa fazendo lã de vidro para a Brastemp usar como isolante térmico das geladeiras. Ele fabricava a lã de vidro baseado em um processo alemão. O isopor foi inventado pela BASF na Alemanha. Ele vendeu a fábrica de lã de vidro e passou a fabricar isopor baseado na patente da BASF alemã. Trabalhei com ele por um ano. Quando eu estava na Siemens fiz um curso na Manegement Center do Brasil, localizado na Avenida Paulista, fui fazer um curso de programação, eu queria saber a diferença entre o computador e o bonde elétrico, naquela época o computador era novidade, isso foi por volta de 1963 a 1965, me ofereceram um curso de programação específico para cientistas, fiz o curso por curiosidade, fiz o curso de Planejamento e Controle de Produção, o PCP, um dia o diretor me chamou e perguntou se eu queria dar o curso de PCP, era a minha área na Siemens. Passei a dar aula de PCP. Eu já estava na Isopor quando ele lançou um curso de administração de empresas para pessoas que já tinham formação acadêmica, eu queria fazer esse curso, acabei fazendo o curso, sendo que nas aulas de PCP eu passava de aluno a professor. Um dia um aluno-colega me fez uma oferta salarial muito atraente, e assim fui trabalhar na Eucatex. Ali permaneci por 21 anos, foi meu último emprego.


Quem dirigia a empresa?


Roberto Maluf, irmão mais velho de Paulo Maluf. No dia em que fui admitido fui apresentado ao senhor Roberto Maluf. A administração ficava no bairro da Água Branca e a fábrica em Salto. Milton Monteiro, engenheiro e diretor da Eucatex, foi quem me contratou.


Eucatex é feito do que?


De fibra de madeira, de eucalipto, chama-se Eucatex por causa do eucalipto.


O senhor praticou remo?


Quando estava na Politécnica pratiquei Yole A8 no Rio Tietê. Foi feita uma competição entre o Clube de Regatas Tietê e o Espéria. Frequentei o Espéria, pegava o barco normal e ia passear pelo Rio Tietê, mergulhava no Rio Tietê. Como todo rio era cheio de barro, mas não era poluído. Naquele tempo pescava-se no Rio Tietê, em São Paulo. Eu não pescava. Atravessava o rio a nado para ir ao Clube de Regatas Tietê, pulava o muro e tomava banho na piscina do clube. Isso foi por volta de 1950.














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