sábado, julho 20, 2013

MAURICIO CARDOSO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 13 de julho de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: MAURICIO CARDOSO

Advogado formado pela PUC de Campinas, jornalista, escritor, professor, estudioso com profundos conhecimentos em Cabala, Mauricio Cardoso militou por décadas na imprensa piracicabana: em “O Diário”, “Jornal de Piracicaba” e “ A Tribuna Piracicabana”. Transitou nas mais diversas áreas do jornalismo, com maestria, sendo que sua coluna “Mini Notas” por muitos anos foi a coqueluche da cidade. Ao abrir o jornal o leitor ia imediatamente à seção, era a primeira a ser lida. Maurício conseguiu formular um noticiário abrangente, que despertava o interesse de todos os segmentos de leitores. Nascido a 21 de março de 1932 em Tatuí, na Rua Coronel Bento Pires, 212, coincidentemente na mesma rua em que nasceu a sua esposa e que ele não a conhecia, Jurema Ferraz Cardoso. Na ilha ártica de Spitsbergen, na Noruega, a quase 1.500 quilômetros do Polo Norte, estão armazenadas mais de meio milhão de sementes de todo o mundo. A "Arca de Noé botânica" é mantida pelo governo norueguês isso mostra como o tema Cabala é atual.


O nome Mauricio Cardoso pode ter origem no que chamam de “cristão-novo”?


Tenho a convicção de que sou “cristão-novo”. Dizem que “Cardoso” significa “Cheio de Espinhos”, e Mauricio vem de mouro.


O senhor começou a estudar em que escola?


No Grupo Escolar Florêncio de Abreu, lembro-me das professoras Dona Conceição e Dona Zenaide, mãe do Presidente do Supremo Tribunal Federal Dr. Celso de Mello, ele é tatuiano, O ginásio e Curso Normal. estudei no Barão de Sarui onde me formei professor. Por concurso do Estado ganhei uma cadeira no Mirante do Paranapanema. \para chegar lá eram 18 horas de viagem.


Antes de ir lecionar ao Mirante do Paranapanema o senhor protagonizou uma peça teatral?


Fiz uma peça teatral em Piracicaba, intitulada “Compra-se um Marido”. Sou um dos privilegiados em ter trabalhado e encenado no Teatro Santo Estevão. Era lindo demais. Tinha uma acústica perfeita, camarotes todos pintados em dourado, aquilo tudo era sensacional. Nessa peça que vim encenar fiquei conhecendo minha esposa, ele é filha do jornalista Sebastião Ferraz. No intervalo entre um ato e outro da peça, levávamos um conjunto para tocar, tirei-a para dançar e estamos dançando até hoje. O nosso casamento civil foi em Tatuí. O casamento religioso foi realizado na Matriz de Santo Antonio em Piracicaba. Eu gostava muito de teatro. Tinha ido de Tatuí morar em São Paulo, a minha dificuldade era conseguir dinheiro para me manter. Morava na Rua Javaés, no Bom Retiro. Era professor na Avenida Casper Libero no Instituto de Ciências e Letras Colégio Alfredo Pucca. Eu era professor coringa, faltava o professor de física nuclear lá ia o Mauricio. Eu soube que tinha uma escola de arte dramática que dava uma sopinha com pão a tarde. Essa sopinha com pão me levou até a Escola de Arte Dramática, ficava na Avenida Angélica, era de propriedade de Alfredo Mesquita do “Estadão”. Passei no exame. Um dos meus contemporâneos era o Francisco Cuoco. Eu era para ser um artista Global mesmo. Desisti de terminar a escola por que veio um teatrólogo italiano, Rogério Jacob que ia dar uns cursos gratuitamente no Conservatório de São Paulo, na Avenida São João. Inscrevi-me, os professores que compunham banca examinadora eram Sérgio Cardoso e Cacilda Becker. Tive o privilégio de ficar por cinco a des minutos com ambos em minha frente. Fizeram esse curso comigo Laura Cardoso e Flávio Migliaccio.


Por que o senhor deixou o teatro?


Porque era uma vida muito sacrificada, eu queria ter uma família, o teatro era visto de forma diferente da que é visto hoje, quando o indivíduo se identificava como ator era um demérito. As pessoas que atuavam de fato na profissão eram totalmente designadas para isso. Cheguei a ser convidado para fazer a ponta de um filme, mas recusei. Conheci Berta Zemel, Fran Carlos que era de Piracicaba, nomes dessa grandeza. Cheguei apresentar uma peça infantil no Teatro da Concórdia, muito interessante, eram só números. No Parque do Ibirapuera trabalhei em uma peça com Célia Camargo e Altair Lima. Depois eu vim fazer a peça em Piracicaba, conheci a minha esposa, fui lecionar no Mirante do Paranapanema, apareceu uma vaga, mandei um telegrama para ela que foi lecionar comigo lá.


O senhor foi morar em que local ao ir lecionar no Mirante do Paranapanema?


Fui morar em uma pensãozinha em Água da Saúde distante do Mirante do Paranapanema uns vinte ou trinta quilômetros. Depois arrumei um lugarzinho em Mirante do Paranapanema e lá fiquei. Tinha uma escola lá, comigo tinha mais uns quatro ou cinco professores. Eram uns 200 alunos, vinham de toda região, eram classes mistas.


Após se casar o senhor mudou-se para Piracicaba?


Inicialmente vim comissionado no Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes. A diretora era Luci Do Marco.


O museu recebia muitas visitas?


Principalmente as escolas visitavam muito o museu. Não faz parte da cultura popular freqüentar museus. Muitas pessoas doaram peças importantes, assim como algumas doavam algum objeto que para um museu fugia do contexto. Acabávamos aceitando a doação, que geralmente permanecia eternamente na reserva técnica do museu.


Qual é a origem dessa falta de importância que temos para com a história, muito diferente do britânico que preserva e valoriza suas tradições?


Acho que é da idade, do país e nossa. Não temos o habito de guardar esse tipo de memória. Toda noite eu guardo a minha memória familiar, rezo para noventa pessoas, pelo nome. Não é nenhuma reza especial, apenas uma seqüência. Rezo dentro de um contexto hebraico.


O senhor conheceu a sinagoga que existiu em Piracicaba?


No dia em que fiquei sabendo da existência dessa sinagoga em Piracicaba, fui até lá, na Rua Ipiranga. Havia no local apenas um terreno vazio, ela tinha sido demolida. Fui então falar com o Jaime Rosenthal, pegar alguns detalhes sobre esse fato. Faço essa minha reza para noventa e poucas pessoas, parentes, amigos. Tenho um clube em Tatuí, chama-se “Clube 17”. Éramos 17 jovens e fizemos o clube. O tempo foi passando, fizemos o “Clube 34”, composto por mais pessoas, senão com a morte dos integrantes terminaria o clube. Hoje temos apenas 17 vivos, os demais faleceram. É um clube fechado, onde não recebemos mais associados. São quase 50 anos de clube. Nos reunimos anualmente em um almoço, para relembrar as nossas passagens. Dia 13 de julho um dos “dezessetudos” irá dar um almoço em São Paulo, de Tatuí sairão duas vans para levar o pessoal para lá. Mensalmente dou uma palestra no Centro Espírita Manoel Girão.


Como professor em Piracicaba o senhor lecionou até que data?


Até uns 20 anos atrás, nas escolas “Alfredo Cardoso”, “Dario Brasil”. Tive experiências extraordinárias no ensino. Fui Secretário de Esportes no tempo do prefeito Luciano Guidotti. Começamos meio estremecidos, ele chegou até a publicar no Diário Oficial que eu era comunista. O Luciano Guidotti era formidável, uma criatura puríssima. Muito honesto. Uma vez ele nos disse que iria abrir uma avenida, que por sinal hoje tem o seu nome, em frente ao Cemitério Parque da Ressurreição. Ele disse na reunião: “- Se eu souber que alguém que participou desta reunião adquiriu algum terreno lá, suspendo a construção da avenida”. Tinha diversas autoridades presentes, inclusive vereadores. Luciano Guidotti era um tocador de obras, ele queria dar à Piracicaba um jeito de respirar.


O senhor era secretário quando houve a queda do Comurba?


Era sim. Afetou até o esporte na cidade. Onde hoje é o Estádio Municipal Barão de Serra Negra era um bosque, Luciano Guidotti foi quem construiu o estádio.


O senhor trabalhou no prédio onde funcionava a Prefeitura Municipal, na esquina da Rua São José com Rua Alferes José Caetano, que foi o palacete do Barão de Serra Negra, depois demolido e hoje é estacionamento de veículos. Aquela construção imponente trazia-lhe alguma sensação especial?


Era gostoso trabalhar ali. Energizante.


Como advogado o senhor atuou em que áreas do direito?


Fiz de tudo. Tem um caso em que o juiz me nomeou para ser advogado de defesa de um individuo que matou o seu vizinho, isso foi na Rua do Porto. Ele matou o vizinho porque o galo pertencente ao mesmo, ia até a sua mesa para se alimentar. Um dia o galo estava como de habito comendo sobre a mesa, ele simplesmente pegou um revolver e matou o vizinho.


Ele não matou o galo, matou o vizinho?


É a lição moral que tiro disso tudo. Havia formas de impedir o acesso da ave, com uma cerca ou qualquer outro tipo de providencia mais lógica. Fui até o presídio, conversei com o assassino, disse-lhe: “- Você matou uma pessoa por causa de um galo!”. Ele disse-me: “ O senhor já se imaginou, conviver todos os dias com um galo aborrecendo-lhe?”. Como eu gostava de fazer júri, fui ver o local dos fatos. Dirigi-me até a Rua do Porto, entrei na casa, a esposa do assassino estava lá, me apresentei como advogado do marido dela, disse-lhe que gostaria de conhecer a cozinha da casa. Ela me convidou para entrar. Sabe quem estava em cima da mesa da cozinha? O galo! Perguntei-lhe: “- Dona, esse é o galo que provocou a tragédia?”. Ela me respondeu: “-É o próprio!”. São lições que tive em minha vida. Existem casamentos que terminam porque o marido deixou a toalha de banho no meio da sala, ou porque o marido esqueceu o chinelo no meio do quarto. São coisas minúsculas, banais.


Isso não é a gota d’água que faltava para terminar uma relação desgastada?


É uma gota d’água, mas não justifica que seja suficiente para determinar o fim de um casamento. É dar muito valor para a gota d água. Para segurar um casamento pode jorrar água do copo e não terminar por causa de uma gota.


Quantos livros o senhor já escreveu?


Tenho três livros. “Dezessete das Pedras”, é a história do “Clube dos 17” que eu escrevi, foi uma experiência que eu queria fazer, nunca li um romance, a não ser um livro que li quando estava ainda na escola Barão de Surui, fui até a biblioteca e peguei um livro de romance, fino, o título era “A Beleza Dolorida de Getúlio Schelling”. Escrevi “ Sua Majestade O Pé Esquerdo” e um terceiro que está em processo de lançamento. Estou concluindo outro que é sobre a capacidade de harmonizar opostos. Esse é mais cabala. Estou rascunhando uma peça jurídica. Menciono que escutei um político dizendo: “Precisamos ouvir a voz da rua.”. Digo: “- Você tem que começar a ouvir na sua casa, a voz da sua empregada, do seu jardineiro, a voz do seu açougueiro, a voz da pessoa que limpa a rua, até chegar a ouvir a voz da sua consciência”. Não venha com essa maquiagem intelectual. Rua não fala.


O senhor escolheu esse romance ao acaso?


Ao acaso, eu gostava muito de ir á biblioteca, para ler livros mais pesados. Quando eu trabalhava na área de Direito tinha uma biblioteca de 4.000 livros.


Nesse período em que o senhor cursou Direito como era a sua rotina?


Ia e voltava todos os dias a Campinas. Saia daqui às seis horas da manhã, com uns colegas que tinham carro, ao meio dia entrava no museu, onde estava comissionado, ficava até as seis horas, ia para “O Diário” de onde saia a meia noite.


Qual era a atividade do senhor em “O Diário”?


Fazia a reportagem policial e tinha uma coluna chamada “Mini Notas”. Reportagem policial é uma barra, éramos uma trindade: eu, Rubens Lemaire de Moraes e o Tuca Barreiros, que também tinha a coluna “O Prato Do Dia”. Nós tres éramos inseparáveis. Fizemos uma denuncia contra um traficante, na época a maconha era a droga do momento, isso na decada de 60, um dia jogaram um carro contra nós três em plena Praça José Bonifácio. Escapamos de morrer por muito pouco.


Vocês eram repórteres investigativos?


Metidos a bestas! Fomos fazer batidas juntos com delegados. Ficamos em meio a tiroteio entre policiais e traficantes. Isso é um trabalho policial e não para jornalistas. Fui reporter policial por uns 10 anos. Mais marcante para mim foi na época em que houve um escandalo de drogas em Piracicaba. Dei uma entrevista para o jornal “O Estado de São Paulo”, que recebeu o título dado pelo entrevistador: “A Amesterdam Brasileira”. Essse reporter faleceu atropelado na Avenida São João em São Paulo.


Quer dizer que o cognome que Piracicaba ganhou de Amesterdam Brasileira é fruto de uma reportagem feita com o senhor?


Isso mesmo. Naquela época as coisas estavam feias. Eu tinha tido um aluno de 12 anos que ao ser descoberto fumando maconha suicidou-se. Aquilo repercurtiu muito, tive que tomar uma atitude. O jornal “Estadão” entrou em contato comigo. Ele veio até aqui, fez a matéria, um advogado do “Estadão”, Dr. Manoel Afonso Alceu, me telefonou pedindo que fosse á São Paulo. Disse-me: “ A sua entrevista está na minha mão, estou achando muito pesada, pode trazer-lhe consequencias”. Eu confirmei que deveria ser publicada, nessa época eu já era advogado.


Como surgiu “Mini Notas”?


Sei que surgiu como uma coisa muito gostosa. Tudo na vida é tempero. Fazer jornalismo é como fazer um bolo, uma feijoada. Se faltar algum ingrediente não fica bom. Se for fazer uma coluna tem que temperar com uma notícia curiosa, outra noticia desagradável: “Fulano separou-se da mulher, fulano está doente!”. Cicrano ganhou na loteria, nasceu o filho de tal pessoa, fulano foi viajar, foi enterrado ontem fulano de tal. Tem que fazer o tempero. Outro dia li no “Estadão” a coluna de uma jornalista, ela repetiu a mesma noticia por cinco vezes em sua matéria, perdi o interesse em ler a coluna dessa moça. “Mini Notas” não era uma coluna social, era um caldeirão de noticias. Segundo diziam-me as pessoas que liam, quando o jornal chegava, a primeira parte que liam era “Mini Notas”. Eu fazia pilulas de informação. Quem pesquisar em “Mini Notas” saberá fatos curiosos da época. ”Mini Notas” permaneceu sendo publicada por uns 20 anos: primeiro em “O Diário”, depois no Jornal de Piracicaba e mais tarde na Tribuna Piracicabana.


O senhor ganhou muito dinheiro publicando “Mini Notas” que foi coqueluche na cidade?


Não ganhei nada, Graças a Deus! Havia quem imaginava que eu ganhava muito dinheiro publicando “Mini Notas”.


O que é Cabala?


Para mim é um sistema de pensamento, que você aplica na existencia de Deus, na existencia do mundo, na sua vida, para voce comprar sorvete, para escrever alguma coisa, constituir uma empresa. Você que decide o que quer aplicar. Ela tem uma figura chave que se chama “Arvore da Vida”, que você aplica em tudo que irá fazer. Pela Árvore da Vida você começa a dscobrir que o saber é importante. Cabala, que soletrada em hebraico é QBLH, deriva da raiz Qibel e significa "receber". Basta eu saber? Não! É necessário entender e compreender o saber. Tem muita gente que sabe muito, mas não entende aquilo que sabe. Há outro tipo de pessoa que compreende aquilo que ela sabe, mas não sai disso. Não conhece, conhecer é aplicar. É importante que você saiba, compreenda e aplique. Há pessoas que são eruditas, mas não crescem na vida, na família, no casamento. Fica parada. Ela não sabe aplicar em sua casa tudo que ela vê.


Quando foi o início da Cabala?


Alguns estudiosos afirmam que ela vem do tempo de Noé, 3.000 anos antes de Cristo. “Arca” em hebraico quer dizer palavra. Noé colocou um casal de cada animal que ele tinha que preservar, dentro da arca, isso simbolicamente. Há estudos que afirmam que Noé montou um banco de espermatozóide na Arca. Ele queria preservar a semente.


Não teria que ser mantido congelado?


Na realidade a idéia passada é que se deve ter muito cuidado com a semente. Os estudos da Cabala levam você a ter preocupação com a palavra, para a Cabala letra é vida. Ela ensina que a letra é viva. Existe a letra masculina e feminina. Tudo na vida é casamento. Tudo na vida tem espermatozóide e ovo.


Na sua visão o que move o mundo, dinheiro ou sexo?


Eu acho que é o sexo. Já vi muito sexo fazer sumir o dinheiro! Você faz as coisas por que tem prazer.


O senhor foi candidato a algum cargo político?


Fui presidente de partido político o PR, Partido Republicano do Governador Laudo Natel. Fundamos o partido 45 dias antes das eleições. Escolhemos a dedo um quadro de candidatos a vereador. Conseguimos ser o partido majoritário em Piracicaba. Nenhum dos candidatos a vereador podia fazer campanha individual, quem fazia campanha de um fazia campanha de 40. O Rubens Braga foi um dos eleitos, inclusive como presidente da câmara municipal. Outro eleito foi Lázaro Pinto Sampaio. Elias Jorge foi vereador também. Waldemar Romano. Isso no tempo em que vereador não ganhava nada para trabalhar.







LUIZ ANTONIO ARTHUSO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 06 de julho de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO: LUIZ ANTONIO ARTHUSO

Luiz Antonio Arthuso é nascido a 20 de abril de 1957 na cidade de Rio das Pedras. Filho de Antonio de Jesus Arthuso e de Ana Modesto Arthuso, é casado com Maria Luiza Packer Arthuso. Luiz Antonio e Maria Luiza tem dois filhos, Luiz Alexandre e Ana Luisa.


O senhor atualmente ocupa qual cargo na Receita Federal?


Eu tenho o cargo de Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil. O cargo de Delegado da Receita Federal é o cargo de chefe da unidade. A receita aqui tem o delegado, os chefes dos serviços, chefes das equipes, e os funcionários. Isso gera um pouco de confusão. O delegado de polícia tem esse cargo. O meu cargo é de auditor, como delegado exerço a função de auditor chefe, ou chefe da unidade. A receita federal tem duas carreiras, uma carreira de auditoria da receita e outra de analista.


Seus estudos iniciaram-se onde?


Fiz o curso primário em Rio das Pedras no Grupo Escolar Barão de Serra Negra, o ginásio estudei na E. E. "Prof. Manoel da Costa Neves" (MACONE).Em seguida fui estudar no Colégio Comercial Municipal Contador Waldomiro Domingos Justolin, depois fui para a Unimep onde estudei Economia de 1975 a 1978. Em 1989 voltei pra terminar a Facldade de Ciencias Contábeis. Em 1992 fiz o mestrado em Administração na Faculdade Metodista de São Paulo. Não havia o mestrado aqui naquela época. Ia uma vez por semana e voltava. Quando meu pai faleceu eu tinha onze anos, ele foi pedreiro, depois foi desenhista na prefeitura, ele auxiliava o Engº Civil Ciro Barbosa Ferraz. Minha mãe era do lar, lembro-me que ela e minha tia bordavam em casa. Nasci na Rua São Paulo, 43, é uma rua de apenas duas quadras. Em !957 quando nasci o Gramani era o prefeito, ele tinha feito tanto o encamento de água, o egotoe os paralelepipedos na rua.


Nessa época tinha trem em Rio das Pedras?


Quando o trem ia passar eles fechavam a porteira no centro da cidade. Aos sábados e domingos era comum ir ver a chegada do noturno as nove horas da noite, a coisa mais dificil era o trem da Sorocabana chegar no horário. Quando estavamos em Indaiatuba saiamos as seis horas da noite para chegar as nove horas da noite, era uma aventura, principalmente quando era a Maria Fumaça.


O senhor chegou a andar de trem?


Muito! Minha tia morava em Indaiatuba e praticamente todo mês íamos à Indaiatuba de trem. Isso foi no período em que eu tinha de seis a doze anos. O trem parou de correr em 1975 com o transporte de passageiros, depois tiraram o de cargas. A linha férrea só foi tirada em 1984.


A estrada para Piracicaba era essa mesma?


Essa que vem pela Rodovia Cornélio Pires teve a ligação com Rio das Pedras construida por volta de 1960 a 1961, asfaltada. A estrada de terra na realidade é essa que é a continuação da Avenida Rio das Pedras, saia onde é o Borsato, no Bom Retiro. É bem mais curta, praticamente a metade do caminho. A tendencia natural é que se faça uma grande avenida ligando Piracicaba a Rio das Pedras. Isso já foi discutido entre os prefeitos Machado e Galvão. Sentei a mesa para discutir isso com eles. Tem uma série de custos, despropriações, mas é uma questão de tempo. Hoje Piracicaba e Rio das Pedras estão praticamentes juntas. O Anel Viário onde está o Ceasa já é Rio das Pedras. O Ceasa está em Rio das Pedras. Quando se vai pela Unimep o Córrego da Batistada é a divisa do municipio.Quando eu era criança pescava no Tanque da Companhia, hoje não existe mais, era onde hoje tem a escola no Cambará. Um pouquinho para baixo era o tanque, eles aterraram ali. A Sorocabana fez o tanque ali, por gravidade levava até a estação, para encher as Maria Fumaças de água.


O senhor tinha alguma atividade profissional além dos estudos?


Aos treze anos comecei a trabalhar na fábrica de gaiolas do Paulo Pascon. Eu ia estudar no ginásio de manhã e a tarde fazia gaiolas. Parei de trabalhar na fábrica de gaiolas aos 16 anos. Fui trabalhar com o meu tio em uma ofina de marcenaria. Depois trabalhei uns quatro ou cinco meses na cerâmica que o Seu Augusto , Seu Olívio e Seu Euclides Barrichello tinham, eram três irmãos. Onde hoje é a seção de pintura da Painco era a Cerâmica Santa Rosina. Onde hoje há uma chaminé no Bom Jardim era a Cerâmica Barrichello. Fazia tijolos. Eu trabalhava no escritório, tirava notas, Depois fui trabalhar na Painco, comecei na escrituração fiscal, depois fui fazer a contabilidade da Painco. Fiquei na Painco de outubro de 1973 até maio de 1978. Em 1978 vim trabalhar em uma pesquisa da Unimep, acho que foi o primeiro passo na tributação. O estudo sobre a reforma tributária de 1.966. Trabalhei com Lineu Mafezzolli que é professor até hoje, com o Machado que foi prefeito, com o Barjas, Pedro Ramos, ficamos um ano trabalhando, acabou saindo um livro de finanças públicas pela Secretaria de Economia e Planejamento. Quando acabou a pesquisa voltei trabalhando junto com o Godoy, Perecim e o Geraldo Cillo. Devois fui trabalhar na Convem com o Toninho Abdalla. Eu ja tinha prestado um concurso como fiscal da previdência, tinha passado em 1980, em 1981 prestei o concurso da Receita, na época de Controlador de Arrecadação Federal. Quando entrei, no final de 1982, fui trabalhar em Limeira. Em Piracicaba trabalhei na agencia de outubro de 1984 a outubro de 1985. O chefe era o Altafim, antes dele era o Shirley Prado, o nome do prédio que ocupamos hoje é Shirley Prado, em homenagem a uma pessoa que todos gostavam.


Qual era a gaiola mais famosa?


Acho que era a fabricada pelo Angelo Cobra, para o curió.


Existemuitos macetes para confeccionar uma gaiola?


Existe os caminhos da arte de produzir gaiola. A parte que as pessoas menos entendem é como você consegue arquear a gaiola. A madeira é cortada, é cozida na água, ficava meio dia cozinhando na água, tinha que tomar muito cuidado com as fibras, tinha que ser fibras retas, após cozida era colocada em um molde onde era pregada e ficava uns 15 a 20 dias secando até adquirir aquela forma. Dava bastante trabalho. O processo de fabricação dessas gaiolas arqueadas, que a gente chama de cambota, demorava praticamente um mês. Eram produzidas em série, começava a a fazer, enquanto isso passava a fazer outros modelos. Eram vários modelos de gaiolas feitos ao mesmo tempo. Cada uma em um estágio. A madeira utilizada era o pinho, as vezes cedro. Eu brinco, que ele era um grande reciclador, praticamente desde quando eu trabalhei até quando ele morreu ele tinha o estoque de carreteis de madeira de fios que foram utilizados nessas torres de energia elétrica da região, ele foi adquirindo aquele carreteis e demontando, com isso ele tinha madeira a vontade para fazer gaiolas. E barata.


Piracicba foi famosa por fabricar gaiolas.


Foi muito famosa. Hoje não vemos mais isso, mas até uns 15 anos, as lojas do mercado de São Paulo exibiam cartazes dizendo “Gaiolas de Piracicaba”, acredito que algumas nem eram mais feitas em Piracicaba. Assim como a pamonha, a cachaça, era dada a origem como sendo de Piracicaba. Acho que produziamos umas 200 gaiolas por mês. As vezes apareciam alguns clientes conhecidos, dois dos quais me lembro eram o Oberdan Cattani que atuou como goleiro outro era o Nílton De Sordi. Foi o De Sordi que trouxe os pintassilgos da Venezuela para criar o canário vermelho, ele cruzava com as femeas do canário do reino gerando a cor vermelha. Eles apareciam lá, tinhamos a oportunidade de conversar com eles.


O cultivo da cana-de-açucar reduziu drásticamente o numero desses passaros nativos?


Eu acredito que hoje vemos um grande número de pássaros na cidade, mas para mim, o que acaba com os passarinhos não é a cana, mas a pulverização de inseticidas e dissecantes por meio de avião. A queima da cana também prejudica muito. O grande problema da cana é que ela tira o habitat, por exemplo na cultura do café a árvore é perene. Mesmo assim as aves acabaram migrando para os vales onde ficaram as árvores. A pulverização por avião é extremamente danosa para o meio ambiente, principalmente para os passaros.


O fato de trabalhar nessa idade trouxe algum prejuízo ao senhor?


Ao contrario, ali aprendi não só a trabalhar como também a dar valor para o dinheiro. O Paulo tocava na banda, incentivado por ele, pelo meu tio Adão Brandila, como eu não tinha dinheiro para estudar datilografia fui aprender música. Eu tocava clarineta e sax, a banda era composta por 28 a 35 componentes. Hoje ela chama “Banda Antenor Cortelazzi” , o Seu Antenor Cortelazzi era o grande incentivador da banda. Na época era chamada “Corporação Musical Santa Cecília”. Aquela sede que tem da banda foi construída pelo pessoal mais antigo, isso foi em 1966, 1967. Eu comecei a tocar na banda em 1971. Tocávamos dobrado, maxixe, valsa. Depois passamos a tocar em carnavais, tocamos na Sociedade Cultural Riopedrense, a partir de 1973 começaram a fazer os carnavais populares nas ruas. Depois toquei na Banda Municipal, a última vez acho que foi em 1987.


Seguia uma partitura ou tocava de ouvido?


Seguia a partitura. Estudei com Seu Antenor um ano e pouco. Lembro-me quando entrei na banda. O pessoal mais antigo que fazia parte, morreram quase todos.


Como era o uniforme?


Logo que eu entrei tinha um uniforme que era uma calça preta, camisa branca, gravata preta, jaqueta banca com cordões amarelos e um quepe vermelho. Tocávamos em toda a região. Música é arte, não é competição, não nos preocupávamos muito com prêmios. Sempre estávamos viajando, vinha para Piracicaba, ia para Santa Bárbara, Americana, Monte Mor, Tietê. Era muito comum aquela cidade em que nos apresentávamos depois ela vinha se apresentar em Rio das Pedras. No aniversário de uma cidade ou outra ficávamos rodando as cidades.


O senhor tocou no coreto que existia em Rio das Pedras?


Toquei quando a sede era onde é a atual concha acústica. O coreto ficava no meio e a praça circulava o coreto. Em 1971 quando comecei a tocar ainda havia o coreto. Foi reformado em 1974 ou 1975.


O senhor vinha muito à Piracicaba?


Comecei vir para Piracicaba quando comecei a estudar, vinha todos os dias para a faculdade, praticamente andava de carona, todo mundo me dava carona. Comento que adquiri um passe para trinta dias, após 4 anos ainda não havia consumido o talão de passes. Muitas vezes eu estava no ponto do ônibus o pessoal chamava. Outras vezes pegava carona na própria escola. Havia uma solidariedade muito maior do que existe hoje. A cidade era bem menor, todo mundo se conhecia. A cidade deveria ter uns 15 a 16 mil habitantes. Rio das Pedras começou a crescer primeiro com a crise forte do café, a geada que deu no Paraná em 1975, muita gente acabou constituído o bairro conhecido como Serra Pelada. Eu imagino que o pessoal do nordeste do Brasil começou a vir para Rio das Pedras em 1988 a 1989.


A Receita Federal mudou sua postura nas últimas décadas?


O que eu sempre comento é o seguinte, todo serviço público, assim como a nossa vida, passou a ser algo totalmente corrido, a demanda que a Receita tinha era muito pequena em relação a que nós temos hoje. O trabalho que nós temos para ser feito é maior e a quantidade de recursos humanos que nós temos é menor. Para você ter uma idéia a Receita tinha em 1968 quando ela foi criada juntando quatro departamentos, 12.000 auditores (fiscais) no Brasil. Hoje ela tem 10.000 auditores. Ela trouxe do IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool incorporado em 1985 e da Previdência fusionada em 2007, mas mesmo assim estamos abaixo que tínhamos em 1968.


Isso se deve a informatização?


A informatização tem sua influencia, sempre digo que é algo absurdo, a ponto de ser citada nos livros do Bill Gates da Microsoft, pela grande quantidade de situações que ela tem informatizada. A quantidade de dados que a Receita tem é algo fenomenal.


O que o senhor diz a respeito do T-Rex, um supercomputador?


Na verdade há muito folclore. Existe sim todo um trabalho da Receita para trabalhar com o que chamamos de Inteligência Artificial. Isso para entender como determinado grupo, determinado setor, tende a trabalhar. Nós trabalhamos com gestão de risco, não dá para afirmar: fiscalizamos todo mundo. Temos 6,5 milhões de empresas no país. A receita é dividida da seguinte forma: são 10 regiões, que são 10 superintendências. Uma é o Estado de São Paulo. Outra é Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Distrito Federal. Outra pega Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Pará. Outra atinge Maranhão, Piauí, Ceará. A quarta região pega Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. A quinta região é Sergipe e Bahia, a sexta região é Minas Gerais, a sétima é Espírito Santo e Rio de Janeiro, a oitava é o Estado de São Paulo, a nona Paraná e Santa Catarina e a décima que é o Rio Grande do Sul. Dentro de cada superintendência há a divisão de delegacias, inspetorias e alfândegas. São Paulo que é a maior de todas tem 26 delegacias, quatro alfândegas e uma inspetoria. Piracicaba e uma dessas delegacias.


Piracicaba tem um porto seco?


Não existe mais, não havia movimento para levar isso em frente. Era uma concessão pública. Economicamente não era viável, acabou sendo encerrada. Temos alfândega em Viracopos, Santos, Cumbica e uma alfândega em São Paulo que distribui as coisas da cidade de São Paulo. Há uma inspetoria que é a fiscalização aduaneira na cidade de São Paulo. Cada delegacia tem subordinada a ela as agências. Têm aqui as agencias de: Americana, Capivari, Rio Claro e Tietê. Cada agência tem sob seu controle algumas cidades. Somando tudo temos sob a delegacia de Piracicaba 25 cidades. Em extensão territorial não é tão grande, mas em termos de valores é muito significativa. Hoje no Estado de São Paulo em termos de arrecadação somos a décima delegacia. Com a instalação do parque automotivo em Piracicaba devemos subir alguns passos no ranking da arrecadação. A delegacia de Piracicaba é maior do que a delegacia de muitas capitais de estados.


O maior contribuinte é a pessoa jurídica?


Hoje a pessoa física paga o que foi descontado do salário dela, quem acaba recolhendo isso é a pessoa jurídica. Dos seis milhões e meio de empresas existentes no Brasil, setenta por cento da arrecadação está concentrada em doze mil empresas. Esse é um foco que acompanhamos permanentemente. As demais trabalhamos com gestão de risco. Não significa que ela será abandonada, ela será olhada dentro dos desvios que podem ocorrer. Até porque uma grande parte das pequenas empresas, os tributos delas são substituições tributárias, quem pagou é a grande. Por exemplo, a indústria automobilística, quem pagou foi a fábrica, a concessionária paga muito pouco. Ela ira recolher impostos de serviços, mas não da venda do veículo novo.


Na opinião pessoal do senhor, não como delegado, mas como economista, o senhor não acha que há um conflito em uma empresa de pequeno porte arcar com tributos na mesma proporção de uma grande empresa?


Essa é a opinião minha não é da Receita. Temos que tomar certo cuidado para não estabelecer certa concorrência que se torna desleal. Quando se dá muito incentivo para quem está começando, estará criando um desequilíbrio para o outro que é maior. Em minha opinião, deveríamos ter uma legislação para aquele que é muito pequeno e uma só para todos os outros. Isso evitaria uma série de distorções e desvios. Nós temos uma legislação tributaria extremamente complexa. As empresas alegam que a carga tributária é muito alta, só que o que ela gasta para administrar a empresa em termos de tributo é um valor muito grande. A pergunta é: “ Por que não muda?” Porque politicamente fazendo algumas mudanças, chegamos na questão da divisão do bolo tributário, entre união, estados e municípios, principalmente entre a união e os estados, quando você mexe de um jeito sempre alguém irá perder alguma coisa. Esse alguém nunca é o Estado de São Paulo. A grande dificuldade em mexer na legislação tributária é que todos os outros estados querem tirar mais alguma coisa do Estado de São Paulo. Por mais que o Estado de São Paulo abra mão, isso acaba ocorrendo porque acabou concentrando a riqueza no Estado.


O americano tem taxação única?


O americano tem dois grandes impostos, o imposto de renda que é nacional, é muito mais alto, as pessoas físicas pagam muito mais lá, e tem o imposto de consumo, que varia de estado para estado, não é uma taxa fixa. Vai de 5 a oito ou oito e meio por cento. Sempre perguntam: “-É possível fazer isso?”. Digo: “- Estamos falando de uma cultura anglo-saxônica!”. Não estamos falando de uma cultura latina. Nos Estados Unidos se o individuo for pego com uma mercadoria sem nota ele será preso. Mesmo que seja uma pessoa física andando na rua. Eles fazem isso exemplarmente. Aqui a saída foi mudar o modelo, esse modelo foi ficando extremamente complicado, está na hora de se mexer nisso. A questão é ter condições políticas de passar algo compatível, quando se tenta fazer isso sempre tem algum estado querendo levar vantagem.





sexta-feira, junho 28, 2013

DEBORA FERNANDA DA SILVA NUNES

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de junho de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADA: DEBORA FERNANDA DA SILVA NUNES



Debora Nunes é atleta da Seleção Brasileira de Tae kwon do. Uma vencedora dentro e fora dos palcos de luta. Nas competições esportivas internacionais tem os famosos “membros da delegação” que em grande parte nada tem a ver com o esporte, apenas vão para desfrutar as mordomias da viagem, infelizmente alguns são vistos apenas nas viagens. Isso ocorre nas mais diversas modalidades esportivas. Sabe-se que o atleta deve receber dois capacetes, um azul outro vermelho, por medida de economia talvez, lhe é fornecido apenas um capacete de uma única cor. O Brasil tem grandes valores em todas as áreas esportivas, tem recursos financeiros, o que não existe é um emprego racional e efetivo desses recursos com o propósito de alavancar outras modalidades de esportes. O esporte assim como a cultura fortalecem uma nação. Quem deve tomar frente desssas iniciativas é o poder público e não a poderosa mídia dos grandes centros. Não existe uma preocupação com as reais necessidades do atleta, é um quase “se vire como pode”. Quando o atleta com esforço sobre-humano consegue galgar um lugar de destaque muitos querem pegar carona no sucesso alheio. É o velho ditado: “Quando o filho é bonito todo mundo quer ser o pai”. Muitos atletas iludem-se achando que ao atingir o auge se realizarão, na realidade são apenas integrantes de uma grande engrenagem, de certa forma são manipulados. Mais conhecida como Debora Nunes, filha de Claudete da Silva Nunes e Francisco Nunes nasceu a 19 de junho de 1983 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, tem 1,75 metros de altura. Tem uma irmã de 20 anos e um irmão de 25 anos. Debora fez seus estudos na Escola Municipal Grande Oriente do Rio Grande do Sul e no Colégio Estadual Dom João Becker. Iniciou seus estudos na Universidade Feevale localizada no município de Novo Hamburgo.




Que curso você realizou na Feevale?


Iiniciei curso de Educação Física, mudei para São Paulo, continuei fazendo a faculdade na UNIP. Tudo através do esporte, sempre com bolsa de estudo. Acabei concluindo o curso aqui na UNIMEP em Piracicaba.


Você pratica qual esporte?


Tae kwon do .(Taekwondo também grafado taekwon-do ou TKD).


O que a levou a praticar esse esporte?


Minha mãe sempre quis que eu fizesse algum esporte de defesa pessoal. Sempre fui muito franzina, muito magrinha, as vezes voltava para casa chorando, vitima de alguma brincadeira ou discussões próprias de crianças. Um dia minha mãe disse-me: “- A partir de hoje você não vem mais para casa chorando!” Fui em busca de uma arte marcial, iniciei no judô, após uns seis meses não quiz mais. Um vizinho treinava Tae kwon do, disse-me: “Não desista não! Venha treinar comigo, vê se você gosta!”. No inicio relutei um pouco, ele foi me convencendo, iniciei com ele, seu nome é Francisco Godoi, foi meu primeiro professor, ele devereia ter uns quarenta anos. Ele convidou umas amiguinhas minhas, e montou uma turminha na garagem do prédio. Inicialmente improvisamos uns uniformes que nem eram da modalidade, às segundas, quartas e sexta-feiras ele dava o treinamento.


Como funciona essa arte marcial?


É uma arte marcial olímpica que trabalha muito a questão de chutes, pés. Mão muito pouco. Hoje com a implantação dos coletes eletrônicos você chuta em uma potência e afere o ponto. Não há mais a necessidade dos árbitros darem os pontos. Cada categoria tem uma potência. O soco passou a fazer parte também.


Vocês usam algum tipo de protetor?


Usamos protetor de peito, de canela, de antebraço, protetor genital, luva, capacete e protetor bucal.


Hoje o que a leva a praticar o esporte?


Eu tinha o sonho de participar de uma olimpíada. Em 2008 fui para a olimpíada. Em 2005 fui convidada para morar em São Paulo. Inicialmente morei no alojamento do Clube Rosa Mística em São Bernardo do Campo. Esse clube dava apoio para o clube de São Bernardo do Campo. Morei lá oito meses.




O que a trouxe do Rio Grande do Sul para São Paulo?


Em Porto Alegre eu treinava e trabalhava na Academia Lee, o mestre chama-se In Kyu Lee. Dava aula, trabalhava na recepção. Abria a academia, fechava a academia. Isso foi após eu estar treinando com o Francisco “Chinês” Godoi, eu estava super bem, ele então me disse: “ Debora, você tem muito potencial, só que aqui comigo não irá crescer, não tenho como fazer exame de faixa, com graduá-la, mas vou te levar para a academia onde eu treino”. Foi assim que fui para a Academia Lee. Isso foi em 1996.



Já a convidaram para desfilar em passarela como modelo?


Já participei de desfiles, fiz curso de modelo, em função da altura, pelo fato de ser magra. Mas não é uma área que pretendi seguir carreira. Um dos motivos pelos quais desisti é que tinha que emagrecer três quilos. Pensei: “Estou fora disso, já sou magra, vou ficar esquelética!” Fui competir Tae kwon do, eu pesava 57 quilos, hoje meu peso são 67 quilos.


Você é bem magra, isso é bom ou ruim?


Para o Tae kwon do isso é ótimo ser alta e magra, é o biotipo. Perna longa, magra e alta, ganha na questão de envergadura , distância. Uma adversária menor tem muito mais dificuldade em me acertar do que eu acertá-la.


Qual é a potência do seu soco?


Soco a gente não afere, aferimos o pé. Existe uma escala de potencia introduzida pelos coreanos.


Se você acertar o pé de forma bem colocada pode causar danos?


Machuca! Graças a Deus nunca precisei usar e nem quero utilizar. Só em competição mesmo.


Dentro de competições você já chegou a provocar alguma lesão na adversária?


Quebrei o nariz de uma menina, quebrei o braço de outra. Isso acontece em decorrência do contato, o capacete deixa a face desprotegida. O nariz é um dos pontos mais vulneráveis. O maxilar também é muito exposto.


Quanto tempo você permaneceu treinando com In Kyu Lee?


De 1996 até 2005. Lá disputei muitos campeonatos estaduais. Antes de vir para São Paulo, teve um ano em que decidi disputar uma seletiva, tem que se fazer diversas seletivas para poder chegar na seleção brasileira. Busquei ranking no Sul para poder vir à seletiva. Buscar ranking significa realizar pontuação. Só que quando chegou o campeonato ou eu ia para a seletiva ou ia para o brasileiro representando o Sul. Eu só tinha dinheiro para ir a um dos dois. Pensando bem, e aconselhada pelo In Kyu, fui para o Campeonato Brasileiro, fui classificada em primeiro lugar na categoria até 55 quilos, issso foi em 2003.


Apareceram muitos interessados em patrocinar seu trabalho?


Nada! Só teve dirigentes querendo tirar fotografia ao meu lado.


Nessa hora eles prometem muita coisa?


Sim. Dizem que vão dar apoio, estão pleiteando um patrocinador novo. Eu acreditava, hoje já não acredito mais.


Porque o futebol atrai tanto enquanto outros esportes são tão carentes de recursos? É a mídia que provoca isso?


Acho que em parte é a mídia que determina e também o fator cultural. Quando uma mãe tem um filho a primeira coisa que ela faz é colocar o filho em uma escolinha de futebol. O sonho dela é que o filho siga praticando futebol.


Isso sem contar que com apenas uma bola podem participar até 22 crianças.


Tem isso também. Pode-se jogar em qualquer lugar.


Muitos pensam que irão ficar ricos jogando futebol.


Exatamente, é a esperança.


Qual é o tempo de vida útil de um praticante de arte marcial Tae kwon do?


Masculino vai até mais longe, uns 35 a 36 anos. Feminino é um pouquinho mais complicado, geralmente até uns 31 a 32 anos.


Geralmente são solteiras sem filhos?


O que acontece é isso, a mulher casa, tem filho. O homem consegue ter filho e continuar, para a mulher pesa esse lado família, o fato de ser mãe.


Você é casada?


Sou casada com Frederico Mitooka, mestre de Tae kwon do e técnico. Ainda não tenho filho.


Como é treinar com o marido?


É complicado, a cobrança é muito maior. Ele sempre exige mais de mim. A expectativa é sempre maior de que tudo seja melhor.



Você faz parte da Seleção Brasileira de Tae kwon do?


Já faz nove anos que sou titular da Seleção Brasileira. Em 2004 passei a ser titular, isso ocorreu porque uma atleta da categoria sofreu uma lesão, estavam reunidas, treinando para o mundial. Se não me engano foi em Londrina. Chamaram duas atletas, para treinar e participar de confrontos para ver quem iria no lugar dessa atleta. Uma menina do Pará e eu fomos convocadas. Treinamos juntas, depois fizemos uma seletiva onde eu ganhei e fui para o mundial em Madrid. Passei a integrar a Seleção Brasileira.


Quantos atletas fazem parte da Seleção Brasileira de Tae kwon do?


Dezesseis, sendo oito masculino e oito feminino. Existem dois técnicos que acompanham.


Em Madrid você ficou hospedada em hotel?


Fiquei em um hotel de excelente qualidade.


O integrante da seleção tem alguma remuneração?


Pela Lei Piva é destinado um salário para as atletas. Na época era de 600 reais. Em 2010 com a entrada da Petrobrás estipularam rankings e dentro de cada ranking cada um tinha um salário. O valor mais baixo acho que era R$ 1.200,00 e o mais alto R$ 3.000,00. Se você for pagar seu preparador fisico, seu fisoterapeuta, viagens, suplementação nutricional, material, verá que tem que tirar dinheiro do próprio bolso. A confederação é patrocinada pela Petrobras, foi informado que a Petrobrás liberou 10 bolsas das 16 que então patrocinava. Cortaram seis bolsas. Eu e outra atleta da nossa academia estamos dentro desses seis que foram cortados. Alegam diversos critérios que qualquer um poderia ser enquadrado nesses critérios. Não existe uma explicação clara dessa exclusão.



Você está com 30 anos, isso a deixa dentro da faixa etária competitiva?


Posso afirmar que sou uma atleta mais experiente. Se ganha na experiência.


Quais são seus planos para o futuro?


Poderia prolongar por mais alguns anos a minha participação em competições, mas não pretendo levar isso adiante por muito tempo. Pretendo trabalhar na academia, dar aulas. Acho que tenho muito a passar, do que já vivi. Considero uma forma valiosa com a qual posso ajudar. Contribuir com as novas atletas. Sempre me preocupei em fazer uma faculdade para quando chegasse a hora de deixar de competir ter novos horizontes.


Você tem quantas medalhas de ouro em seletivas?


Tenho nove medalhas de ouro em seletivas. Hoje as seletivas são mais importantes do que o campeonato brasileiro. Em 2004 ganhei a medalha de ouro no Campeonato Brasileiro.


O esporte a realizou financeiramente?


Posso afirmar que tenho uma vida mais tranqüila do que antes, quando iniciei. Tudo que consegui foi graças ao esporte.


Você transmite serenidade, isso é em decorrência do esporte?


Acredito que é uma característica pessoal, mas que o esporte também contribui muito para que isso ocorra. O Tae kwon do dá muito isso, a questão da disciplina, autocontrole, perseverança.


O fato de ser um ambiente onde se pratica arte marcial traz a imagem de um local onde a violencia está presente, e é exatamente o contrário.


Isso ocorre porque a pessoa não conhece o local. Há um ambiente harmonico.



Em algum momento você pensou como seria se tivesse seguido a carreira de modelo?


Possivelmente teria ganhado mais dinheiro, mas não teria vivido o que vivi. Nunca parei para contar quantos países conheci, mas foram muitos.


Como se deu a sua mudança para Piracicaba?


Foi após conhecer o Frederico em um campeonato na Grécia, lá nos conhecemos e fomos mantendo contato. Eu morava em São Paulo quando começamos a namorar. Ele me convidou para vir disputar os jogos abertos por Piracicaba. Lutei por Piracicaba por dois anos. Por outras cidades disputeis diversos anos, há muitas cidades que investem no esporte. Se não me engano, Piracicaba em Jogos Regionais é oito vezes campeã em Tae kwon do. Temos um núcleo de alojamento com 12 atletas no total. Tem gente do Ceará, da Bahia, Espirito Santo disputando por Piracicaba. E moram aqui na academia. Recebem uma ajuda de custo, a cidade mantém um núcleo, apoia diversos esportes.


Não há uma divulgação maçiça como ocorre com o futebol?


Mas existe uma cobrança muito forte de medalhas!


Hoje os pais se preocupam muito com os filhos, a questão da disciplina, para contribuir geralmente os pais trabalham e não tem como estar sempre por perto dos filhos. O Tae kwon do pode ajudar na formação do jovem?


Acho que sim. Parto do principio de que o Tae kwon do é uma filosofia de vida. O trabalho com as crianças envolve muita disciplina. Tem que haver repeito aos mais graduados. Tem que pedir para poder falar.


Qual é a idade mínima para iniciar?


Tres anos. Idade máxima não existe. Temos alunos de tres anos até com mais de sesssenta anos.


Quantas faixas existem?


É uma realização trocar de faixa. São nove faixas: branca, amarela, amarela ponta verde, verde, verde ponta azul, azul, azul ponta vermelha, vermelha, vermelha ponta preta e a preta. Depois tem primeiro, segundo, terceiro e quarto dan. Quarto dan já é mestre. Os nomes dos golpes, a contagem é tudo em coreano. Para entrar na sala é feita uma saudação pedindo permissão para entrar na sala. No final comprimenta-se os professores, assim como a cada um que estava na aula com você. Ha 10 anos fazemos trabalho principalmente com crianças. Quem quiser conhecer um pouco mais do esporte pode entrar em contato pela internet através do site www.dojannippon.com


Como boa gaúcha você gosta de churrasco?


Amo churrasco. Tomo chimarrão. Meu esposo é vegetariano. Ele tenta me convencer, mas parece impossível, está no meu sangue. Quando saio do Brasil gosto de experimentar as coisas, na China experimentei grilo assado, tem gosto de terra.








domingo, junho 23, 2013

HERBERT BARBOSA DE MATTOS

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 22 de junho de 2013
Entrevista: Publicada aos sábados na Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/


ENTREVISTADO:HERBERT BARBOSA DE MATTOS

Herbert Barbosa de Mattos é filho de José Alves de Mattos e Lázara Pires Barbosa, nasceu a 8 de dezembro de 1940. Sua mãe era professora primária e seu pai dentista formado pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba então denominada “Washington Luiz”. Após exercer a profissão como dentista, seu pai decidiu optar em ser proprietário de farmácia exercendo a atividade de farmacêutico. A sua primeira farmácia foi em Artemis, naquela época chamada de Porto João Alfredo, isso no tempo em que a malária afetava a saúde pública, década de 30. Inclusive ele foi vítima da doença. Um dos seus conhecidos era o pai do atual vice-prefeito de Piracicaba, João Chaddad. Em agosto de 1941 José Alves de Mattos transferiu-se montando uma farmácia ma Rua Benjamin Constant, ficava entre a Avenida do Café e a Avenida Dr. João Conceição.


Como se chamava a farmácia?


Era a Farmácia Mattos, a primeira farmácia da Paulista foi a dele. Até duas casas acima, antes de chegar na Avenida do Café do lado esquerdo não havia nada. Era o muro do pasto do Pedro Ferrari. Quando a minha família mudou-se eu tinha oito meses de idade.


Ali em determinada época foi o depósito de entulho da cidade?


Foi em um período anterior, nessa época as crianças iam lá garimpar ferro, osso, vidro, para vender para o ferro-velho situado na Avenida Independência entre a Rua Benjamin Constant e o Córrego Itapeva. Era o ferro velho do Rodrigues, descendo, do lado esquerdo da Rua Benjamin Constant.


Na Avenida São Paulo também havia pouca coisa?


Tinha o Pompermayer que morava em frente ao campo do Paulista, era um brejo, virando a Rua Benjamin Constant e entrando na atual Avenida São Paulo não havia ninguém, era estrada ali. Do lado esquerdo não existia nada, do lado direito havia a Fazenda do Ditoca, bem mais acima.


Seu pai montou a farmácia no tempo em que o farmacêutico manipulava os remédios?


Quase tudo era feito na própria farmácia. A maioria era através de receituário formulado pelos médicos da época: Dr. Correa, Dr. Samuel. A letra mais difícil de compreender era a do Dr. Samuel, lembro-me de que eu tinha até a pouco tempo um óculos que precisávamos usar para conseguir ler a receita. O meu pai estava acostumado, vinha de farmácia, tinha feito farmacologia.


Era o tempo em que na farmácia havia inúmeros frascos, cada um com uma finalidade, você conserva algum desses vidros?


Não tenho quase nada, conservo daquele tempo um aparelho em que naquela época fazíamos cápsula antigripal. Era preparada a aspirina, apertada bem no aparelho, colocava em uma cápsula. Havia um vidro com uma telinha, onde havia água, a outra parte da cápsula passava na água, colocava em cima, e fechava a cápsula. Fiz muito disso ai. Assim como pomadas, xaropes.


Havia um consumo muito grande de xarope?


Tinha! A nossa era a única farmácia que havia na Paulista, na Rua do Rosário não tinha nenhuma. Meu tio, Nelson Alves de Mattos, montou a Farmácia São Judas Tadeu bem depois. Ele foi sócio do meu pai em Artemis, meu tio começou a exercer a profissão em Gália, com o cunhado dele. Como só havia a farmácia do meu pai, todo o pessoal da zona rural vinha ali. Lembro-me de uma característica do Dr. Correa, ele ia atender o paciente de taxi, não utilizava seu automóvel. A corrida do taxi era paga pelo cliente. Muitas vezes a noite, chovendo, ele vinha com o marido da paciente ou alguém da família da pessoa enferma, parava na farmácia, desciam, para fazer a receita. As vezes meu pai dizia: “- Dr. não tem esse produto, posso substituir por este outro?”. O médico então dizia: “- Pode Mattos, pode sim!”. Ele fazia a receita enquanto a pessoa descia, para levar o Dr. Correa até a sua casa, meu pai preparava, deixava tudo pronto para a pessoa passar e levar. No sítio, na parte sul do município, todo mundo conhecia meu pai.


Na época ali era tudo chão de terra?


A Rua Benjamin Constant era calçada com pedregulho.

                                          José Alves de Mattos e Lázara Pires Barbosa

Em que escola a sua mãe lecionava?


No Grupo Escolar Moraes Barros, para ir lecionar tomava o bonde na Avenida Dr. Paulo de Moraes, ia até o centro e dali ia até o grupo. Nas imediações da farmácia já havia a Padaria Cruzeiro, a fábrica de barcos do Ferrari, a carpintaria e marcenaria do Chico Carretel em sociedade com o Gobeth.


Naquele tempo o farmacêutico era praticamente o médico das famílias?


Eu fui ao médico quando era nenê, no Dr. Tito. Depois em agosto de 1945 fui ao hospital quando quebrei a perna.


Como você quebrou a perna?


Todos os domingos eu e a minha mãe íamos à casa da minha avó. Minha tia também ia. A família reunia-se na casa da minha avó, lá no Bairro dos Alemães, no fim da Rua Saldanha Marinho, ela não continuava, parava na Rua São João. Minha mãe saiu, meu pai tinha saído, eu estava com uma peteca na mão, ia levar para brincar na casa da minha avó, bati a peteca, havia umas árvores com um quadradinho de madeira em torno delas como proteção, fui pegar a peteca, havia enroscado, sem querer bati a canela, trincou. Fui levado para casa, meu pai me levou no dia seguinte até a Santa Casa. Tiraram radiografia, estava trincada, engessaram. Era época da guerra, a gasolina estava racionada, Dr. Toledo que disse: “- Mattos! Eu os levo!”.


Na esquina da Rua Benjamin Constant com Avenida Dr. Paulo de Moraes havia casas?


Nas duas esquinas havia casas construídas uma de João Elias, que morava em um sobrado com sua irmã Amélia, ambos eram solteiros, além de uma irmã que casou-se com o Macluf, e na outra esquina era o Bar do Latiffe Naime, pai do Walter Naime, onde hoje é uma casa de peças. Do outro lado, onde hoje existe uma farmácia, residiam os barbeiros Nelson e Antonio Marconi, irmão do Milico, que mais tarde teve salão de barbeiro na Rua Governador Pedro de Toledo esquina com a Rua Joaquim André. Ali também havia o João Fustaino que tinha uma sapataria. Os Filetti já estavam estabelecidos com fecularia na Avenida Dr. Paulo de Moraes.


Até que ano seu pai teve a farmácia na Rua Benjamin Constant?


Ali ele ficou até 1951, nesse salão, ai ele mudou para outro quarteirão quase na esquina com a Avenida São Paulo. Onde hoje tem um bar. Era em frente ao Angeli, que teve ali um bar. Depois quem mudou ali foi a família do Cristóvão Martins. Para onde meu pai mudou era a fábrica de balas do Benedito (Dito) Baglioni. Ele teve inicialmente a fábrica de balas do lado direito, onde é a sapataria do Cella, passando um pouco, onde há uma bicicletaria ao lado, era a fábrica de balas do Benedito. Ele saiu de lá, comprou do lado esquerdo da Rua Benjamin Constant. Ele fechou a fábrica de balas e acabou vendendo para o meu pai que se mudou para o salão enquanto construía a farmácia ao lado. Onde era a fábrica de balas meu pai construiu um bar, com bocce, e alugou. Ali meu pai permaneceu até 1957. Foi quando ele vendeu para o “Lico da Farmácia Neves”. O meu pai foi para Santa Terezinha, bem na esquina da praça. Ali ele ficou até 1974, acredito que mais. Sempre com o nome de Farmácia Mattos.


Nesse período você cresceu e foi estudar em que escola?


Minha primeira escola foi o Externato São José, localizado no prédio onde mais tarde funcionou a Escola de Odontologia de Piracicaba, Ali fiz o primeiro ano e metade do segundo ano, minha primeira professora foi Ruth Pilli , foi ela quem me alfabetizou. Eu descia de bonde, na época dava certo, ia com a minha mãe. Descia na esquina, ia pra o colégio e minha mãe seguia para a escola para lecionar. Na volta ela passava e me pegava. Íamos até a esquina da Rua XV de Novembro com a Rua Boa Morte, pegávamos o bonde e íamos para casa. Na esquina da Rua D. Pedro II com a Rua Boa Morte, havia um posto de gasolina, do Lú, o nome dele era Rocha, sogro do Samir que é professor da Faculdade de Odontologia. O prédio existe até hoje. O segundo semestre do segundo ano fui estudar no Grupo Escolar Moraes Barros, minha professora foi Dona Helena Pousa. No terceiro e quarto ano foi Maria José (Zizinha) Verderesi. O irmão dela, João Verderesi, foi assessor do deputado Pacheco Chaves. Em 1950 me formei. Ano do cinqüentenário do Grupo Moraes Barros. Tive a satisfação de cinqüenta anos, depois em 2000, participar das comemorações do centenário do Grupo Moraes Barros. Conclui o grupo com nove anos, naquela época a lei não permitia que aquele que fizesse dez anos depois de junho entrasse no ginásio. Com isso não pude prestar exame para entrar no ginásio. Estudei um ano inteiro de curso preparatório por causa da idade. Fiz na primeira turma do Colégio Dom Bosco, que funcionava ao lado da Igreja dos Frades. No “coléginho” como chamávamos. Na esquina da Rua Alferes José Caetano com a Rua São Francisco de Assis (que antes se chamava Rua Saldanha Marinho) tinha um salão de reuniões, de catecismo, era também onde havia um cineminha onde domingo a tarde passavam filmes para a turma que estudava catecismo. No fundo tinha um campinho de vôlei que a turma do Dom Bosco ia jogar antes de começar a aula. As quermesses eram feitas em frente a Igreja dos Frades, na praça. Só que era fechado. Tinha grade, porque o pessoal do sítio naquela época vinha de charrete e deixava o carrinho com o cavalo no lado interno.


Ao lado do coléginho, na década de 60 havia quermesses, o que funcionava ali anteriormente?


Era o campo de futebol dos cordigeros. Ali embaixo, atravessando a Rua Alferes José Caetano havia um túnel que levava ao vestiário no outro lado da rua.


Você chegou a passar por esse túnel?


Oh! Joguei muita bola lá. O túnel deve existir até hoje, devem ter fechado ambas as entradas. Esse túnel saia do campinho de futebol e ia do outro lado, no vestiário atrás da igreja. Ao lado da Igreja dos Frades, além da calçada, existe um degrau com uma segunda calçada, era fechado com muro e aberto em cima sem telhado. Ali era o vestiário da turma que jogava bola. O vestiário não tinha comunicação com a igreja.


Esse túnel era iluminado?


Não era pelo fato de ser aberto em ambas as extremidades e relativamente pequeno. Só para passar debaixo da rua.


Você chegou a ser coroinha?


Fui coroinha um ano na capela das freiras do Lar Escola Maria Nossa Mãe, na Rua da Boa Morte, no Do Bosco, no Colégio Assunção, eu não era coroinha na Igreja dos Frades. Eu tinha 10 anos, foi quando entrei no Colégio Dom Bosco, em fevereiro de 1951. Os padres do Dom Bosco passaram a dar assistência religiosa tanto na Colégio Assunção como no Lar Escola, a missa era as seis horas da manhã no Lar Escola. No Assunção era aos domingos, onde havia a missa dos alunos. Eu morava na Rua Benjamin Constant, saia de casa as 5:30 da manhã, naquele tempo a Avenida Dr. Paulo de Moraes era uma escuridão, tinha muitas árvores, era uma rua calçada com paralelepípedo com um enorme tanque onde os animais que tracionavam as carroças vinham beber água. A missa terminava a sete horas, as irmãs davam café, eu andava pelo pomar que existia lá e depois vinha embora para casa. Fiz isso todos os dias nesse período de um ano e pouco. Com a mudança do Dom Bosco para o local onde se encontra, passei a ajudar missas apenas lá. O Colégio Dom Bosco tinha o compromisso de iniciar suas atividades naquele local em 1952 ou perderia a concessão do terreno. Lá estudei o ginásio e o curso científico.


Você chegou a conhecer Mamãe Cecília, ou Madre Cecília?


Conheci, ela é parente nossa. Tanto que quando fizeram a documentação para o processo de canonização dela vieram conversar com o meu pai.


Ao terminar o curso científico, você já sabia qual seria a carreira a seguir?


Conclui em 1959 o científico, meu pai queria que eu fizesse medicina. Com uns três colegas fomos fazer cursinho para prestar vestibular, morei em uma pensão em frente ao Cine Regina que depois se tornou auditório de TV do Silvio Santos, na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, o cursinho era na Liberdade. Ao lado da pensão onde morava ficava o Restaurante Zillertal, a Federação Paulista de Futebol. Permaneci por dois anos morando em São Paulo. Percebi que não tinha vocação para fazer medicini, prestei exame na ESALQ e em 1963 entrei para a faculdade. Sou formado na turma de 1967. O CALQ – Centro Acadêmico Luiz de Queiroz mudou para prédio próprio no ano em que entrei. Antes era na Rua Prudente de Moraes onde hoje é o HSBC. Ficava no andar superior. No meu tempo foram diretores da ESALQ o Malavolta, o Salim e o Galli.


Ao sair formado como engenheiro agronomo qual foi o seu primeiro emprego?


Sai da faculdade e fui trabalhar na Ultrafertil o presidente da empresa era Pery Igel.Era uma empresa multinacional de origem norte mericana. A Ultrafértil veio com a mentalidade da venda técnica, contrataram agrônomos, que iam conversar com os fazendeiros em suas fazendas, realizavam análises de solo e recomendavam o uso do produto adequado. A Ultrafértil trouxe o que não existia na época: adubo concentrado, a quantidade utilizada era muito menor do que a quantidade utilizada normalmente.


A origem da matéria prima do fertilizante é totalmente nacional?


Não. Fósforo existe alguma coisa, mas a maioria vinha do Marrocos. Potássio, Nitrogênio e o Fósforo é o básico de qualquer fertilizante. Permaneci um ano e meio na Ultrafértil. O Dr. Dimer Accorsi, irmão do Dr. Walter Acccorsi, era diretor do Ensino Agrícola, em São Paulo, eles estavam ampliando, só existiam Colégios Agricolas em São Manoel, Jaboticabal, Jacarei e Espírito Santo do Pinhal. Contratado fui dar aula no Colégio Agrícola de Santa Rita do Passa Quatro. Lá fiquei pouco tempo, saiu o concurso do Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, que é do Parque da Água Branca. Passei no concurso, permaneci de 1969 até outubro de 1993, onde me aposentei.


Você conheceu sua esposa em que ano?


Conheci minha esposa Maria Cecília Teixeira de Mattos no carnaval do Clube Cristóvão Colombo, quando ainda era na Rua Governador Pedro de Toledo, em fevereiro de 1964. Casamos na Igreja São Judas Tadeu, no dia 29 de junho de 1969. Temos dois filhos: Waldssimiler e Wlastmiler.


Você pratica algum esporte?


Pratiquei até 2004, jogava futebol, pratiquei todo tipo de esporte, mas a minha paixão sempre foi jogar bola.


Como você vê a realidade dos Centros Acadêmicos atuais?


Algumas decadas passada, por exemplo, o estudante que estava em Piracicaba e tinha sua família em Ribeirão Preto, para sair daqui e ir até lá, o estudante levava quase um dia de viagem. Ia daqui para Limeira, de Limeira à Pirassununga e de lá para Ribeirão Preto, os horários de onibus não coincidiam. Sábado tinha aula até meio dia. Então ele saia ao meio dia e ia chegar a noite em Ribeirão. No outro dia tinha que sair cedo para vir embora, segunda feira cedo ele tinha aula. Quando ele ia visitar a família? Ou por necessidade, quando tinha feriado ou nas férias. Não havia onibus de meia em meia hora para Campinas, a maioria do pessoal de Campinas morava aqui. Iam aos finais de semana porque era mais perto. Sábado após o almoço pegavam carona, naquele tempo dinheiro não era como hoje. Poucos tinham carro. Para ir a São Paulo levava-se tres horas e meia quatro horas. Com isso o pessoal permanecia mais em Piracicaba, acabava a aula de sábado vinham para a Brasserie, Bar do Tanaka, tomar chopes, caipirinha. A vida social do estudante era na cidade de Piracicaba. A noite iam ao cinema, quadrar jardim. Por isso essa foi a época em que o Centro Acadêmico mais cresceu.








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