sexta-feira, maio 15, 2015

ANSELMO PEREIRA RODRIGUEZ

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 

joaonassif@gmail.com 

Sábado 9 de maio de 2015

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

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ENTREVISTADO: ANSELMO PEREIRA RODRIGUEZ


Anselmo Pereira Rodriguez nasceu a 16 de março de 1937, em Ponte Vedra, Provincia de Galícia, Espanha.Filho de Domingos Pereira Presa e Pilar Rodriguez Esteves. Casado com Neyde Marly Barnez Rodriguez, nascida em São Paulo, nascida a 23 de junho de 1937, filha de imigrantes espanhóis. Anselmo é o filho mais novo de seis irmãos: Maria, Manoel, José, Domingos, Antonio e Anselmo. Atualmente Anselmo e Neyde residem em Piracicaba.
Os pais do senhor exerciam qual atividade na Espanha?
Eram agricultores, um agricultor espanhol geralmente plantava de tudo: milho, centeio, trigo, muita uva. Meu pai tinha uma serraria. Naquela época para curtir couro usava-se casca de carvalho. Ela era retirada, deixava secar e depois se mandava para as indústrias.
Nessa época a energia era fornecida através de usinas ou era energia gerada por moinho com roda água?
Já existia a energia elétrica e também se usava a energia gerada em moinhos movidos a roda de água. A energia elétrica era utilizada na serraria que trabalhava com carvalho, pinho de riga e a energia do moinho de água era mais para moer grãos: trigo, milho. Como na época havia muito pouco trigo fazia-se muito pão de milho, assado no forno a lenha. Era um pão forte, fazia-se o que era chamado de “miga”, um pão amassado composto por uva e alho. O pão era amassado primeiro com o alho, eram cozidos, formava-se uma pasta, tinha-se uva a vontade ao lado e se comia. Era um prato forte, essa é uma característica que tínhamos na Espanha, todos os alimentos eram muito fortes. Meu pai fazia vinho, tínhamos o tinto e branco. Fazíamos o vinho xerez , em castelhano, jerez, um tipo de vinho fortificado, licoroso o vinho alvarinho. Estávamos muito próximos da fronteira, da minha casa até Portugal levava uns quarenta minutos. Tínhamos dois pontos para atravessar a fronteira: Salvaterra de Miño e por Tui, onde havia a ponte internacional, muito vigiada no tempo de Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco y Barramonde, ou simplesmente Francisco Franco, general e chefe de estado espanhol. Franco liderou um governo de orientação fascista na Espanha de 1936 até sua morte, em 1975. Essa ponte tem uma curiosidade, só passava trem da Espanha para Portugal, há uma história que se conta, de que quando foi inaugurada, era uma ponte muito alta, Portugal e Espanha fizeram um tratado, o trem que conseguisse passar primeiro tinha o direito de vir para a cidade, dizem que os portugueses foram até a metade da ponte, parece que voltaram. Já o maquinista espanhol pôs toda a velocidade na maquina dizendo: “-Se cair, que caia!” e passou! E assim ficou, a Espanha tinha o direito de ir à Portugal, mas Portugal não tinha o direito de atravessar a ponte para vir a Espanha.

Havia escola nas proximidades?
Tinha, não podíamos faltar. Trabalhávamos no campo ajudava. Na época da colheita o dia clareia cedo, íamos para o campo com os pais.
Com que idade o senhor começou a trabalhar?
Acho que comecei a trabalhar com a idade que comecei a comer. Andava na frente do boi, naquela época não tinha trator. A terra era arada por quatro bois. Os bois recebiam o nome de Malhado, Pintado, Galhado. Como o tempo esquentava muito tínhamos que estar de madrugada no campo, depois esquentava muito e os bois se cansavam. Saíamos cedinho, nem tinha clareado e já estávamos no campo. Tinha que levar o adubo, colocar o adubo todo no campo. Depois vinha o arado. Alguns iam ajudando com as enxadas, nos cantos, onde não entrava o arado direito, meus irmãos e minha mãe iam fazendo esse trabalho. Umas nove, nove pouco, a minha mãe vinha em casa, pegava o almoço e levava para o campo. Era uma vida muito difícil, embora sempre estivéssemos sempre alegres e muito contentes. Era tuda na tração animal e pessoal, não havia maquina nenhuma.



O senhor tinha noção do tamanho da propriedade?
Nós tínhamos muitas propriedades, não muito grandes, mas eram propriedades muito boas. Nós íamos para o campo, em torno das oito horas da manhã, minha mãe nos arrumava direitinho e íamos para a escola, a pé. Fazíamos uma corrida com a piçarra debaixo do braço.
O que era piçarra?
Não havia caderno. Era uma pequena lousa de piçarra, com madeira em torno dela e um piçarrim para escrever nela. Era uma lousa (de piçarra) e uma espécie de giz (piçarrim).
E para apagar o que tinha escrito como se fazia?
Apagava-se com a mão ou com um paninho.
O senhor lembra-se do nome de alguma professora?
Lembro-me do nome de um professor, Dom Antonio, naquela época não estudavam meninos e meninas na mesma classe. Havia classe de homens de um lado e classe de mulheres do outro lado. Tive outro professor por dois anos, José Açores, que por sinal depois ele veio para o Brasil. (José Ozores ou José Açores é o famoso Pepe Gordo que foi procurador do Pelé). Ele tinha muita amizade com o meu pai, vinha tomar chocolate quente em casa, com meu pai. Aprendi muita coisa com ele, se não aprendesse apanhava! Professor naquela época usava palmatória, dava sopapo. Depois fui estudar com Dom Francisco, sacerdote da nossa aldeia. Ele disse ao meu pai: “- Domingos! Você poderia colocar este seu filho para estudar no seminário. Aí eu já não ia mais para o campo. Ia de manhã para a escola, voltava, almoçava e ia estudar com o sacerdote.
Qual era o padroeiro?
O santo padroeiro da nossa cidade era São Pelágio (ou Paio), natural da Galícia. Após a preparação, entrei para o Seminário Diocesano de Tui. Era encostado com o Rio Minho, de Portugal. Lá permaneci por dois anos como seminarista interno.

A vida como seminarista interno era rigorosa?
Era muito rigorosa. Pior do que se estivesse no exército. A comida era horrível, os padres muito rigorosos. Tinha sempre um cheiro forte de lentilha. Se aparecesse uma lacraia na alface, tirava-se aquele pedaço e comia o resto. Ou comia aquilo ou não comia nada, não havia outra coisa para comer. Naquela época existiam poucos seminários na Espanha, portanto estavam todos muito cheios. Havia poucos padres, nós chamamos os padres de curas, os padres das cidades incentivam os pais para mandarem os filhos para o seminário.
Como funcionava, havia um dormitório amplo?
Era um salão muito grande, as caminhas uma ao lado da outra, isso logo que o seminarista ingressava ao seminário, os alunos do terceiro ano ficavam em um salão, os do quarto ano em outro salão, eram todos separados por ano que estudavam. E sempre passavam os chamados reitores de disciplina, andavam de um lado para outro, para ver se estávamos dormindo, conversando com um amigo. Por volta das oito horas da noite batiam o sino todos tinham que ir dormir. As seis horas da manhã tocava o sino, lavávamos rapidinho. Naquele frio tinha que tomar banho frio e andar sempre limpinhos. As vezes usávamos a alça-coelho, era colocado no pescoço, branquinho, algumas vezes jogávamos futebol, toda semana ou de quinze em quinze dias, a minha mãe, meu pai ou minha irmã, iam me levar um pouco de comida e roupas limpas.  Nos seminaristas, às vezes lavávamos alguma peça de roupa, púnhamos embaixo do colchão, de manhã estava sequinha! De manhã levantávamos íamos à capela, fazíamos a oração, tudo em latim, depois íamos tomar café, em seguida íamos para a aula, tínhamos aulas o tempo todo, até o a hora do almoço, em seguida tinha o recreio, voltávamos, descansávamos uns quinze ou vinte minutos, íamos fazer a oração da tarde, essa era a nossa rotina de segunda a segunda, aos domingos era bom porque tínhamos as visitas. Só íamos de férias para casa no Natal. Aí passávamos um mês e pouco em casa.
Quanto tempo de estudo o senhor tinha para tornar-se padre?
Eram doze anos de estudos, eu estudei dois. Eram dois anos de latim, cinco de filosofia e cinco anos de teologia. Eu entrei para o seminário com doze anos. Durante as nossas férias havia muitas festas religiosas, em louvor ao nosso padroeiro. Eu acabava voltando para o seminário porque tinha medo em dizer ao meu pai que não queria ir mais.
Até que o senhor decidiu não continuar no seminário?
Eu cheguei junto ao padre orientador espiritual e disse-lhe que não suportava mais aquela vida. Ele escreveu uma cartinha muito bonita para o meu pai, Disse-me: “-Já que você não tem vocação, leva esta carta e entrega ao seu pai!”. Entreguei. Meu pai não gostou muito. Voltei a trabalhar na lavoura, onde permaneci até os 18 anos. Nesse meio tempo meu pai faleceu, quando ele era vivo ninguém saia de perto dele. Apareceram uns parentes da minha mãe que estavam aqui no Brasil, foram visitar a minha mãe. Conversei, perguntei se não poderia vir ao Brasil com eles. Tinha que ter uma carta convite emitida no Brasil, com o trabalho garantido aqui. Havia uma lei que determinava que em cada dez funcionários sete devesse ser brasileiros e três poderiam ser estrangeiros. Acabei embarcando no navio
Santa Maria, vapor português, no Porto de Vigo 16 de abril de 1955.
A viagem demorou quantos dias?
Foram treze dias de viagem, aportei em Salvador, Bahia. Meu primo já estava me esperando, fiquei morando com eles na Cidade Alta, na Avenida Sete de Setembro. Eles tinham um estabelecimento comercial, a Sequeiros & Rodriguez Cia. Ltda., fui trabalhar com eles na Cidade Baixa, na Rua Campos Salles,63. Fiquei lá quatro anos.
O senhor sentiu-se mais livre no Brasil?
Aqui eu tinha muito mais liberdade, na Espanha as regras eram rígidas. Tinha muitos espanhóis, nos reuníamos para ir à praia aos domingos. Com a língua logo me adaptei.
Sai dessa empresa e fui de ônibus para o Rio de Janeiro, tentar a sorte lá. Não consegui nada, fui então para Belo Horizonte. Também não arrumei nada lá, vim para São Paulo. Em São Paulo fiquei no Bairro Santa Cecília. Fiquei muito impressionado com aquelas avenidas enorme. Fui até a Praça da Republica, tinha um primo que trabalhava lá no escritório da Swift, onde era promotor. Ele era muito conhecido dos supermercados Peg-Pag. O primeiro supermercado do Brasil foi o Sirva-se, aberto em 1953 em São Paulo. Em 1957 São Paulo ainda vivia com seu comércio de armazém e vendas, mercearias e quitandas; foi aí que inauguraram o primeiro supermercado na Rua das Palmeiras: o Peg Pag.Fui trabalhar como repositor.Em pouco tempo passei a ser chefe do depósito. Permaneci lá por uns dois anos. Tinha que digitar o valor e a seção a qual pertencia o produto. Aos sábados eu trabalhava nos caixas também. Naquela época caixa trabalhava com gravata. Para entrar no cinema tinha que ir de gravata. Isso foi por volta de 1959. O centro de São Paulo era muito bonito, você podia andar tranqüilo. Conheci a minha esposa em uma festa de família, nos casamos na Igraja Santa Margarida Maria, no bairro Aclimação, fomos morar ali perto em um apartamento na Aclimação mesmo.




(No Brasil o primeiro supermercado da cidade, e do Brasil, foi inaugurado em agosto de 1953, com o nome 'Sirva-se'. Ficava na esquina da rua da Consolação com a alameda Santos. Os proprietários tentavam pela primeira vez implantar aqui o sistema norte-americano de vendas no varejo, o auto-serviço, como era chamado, que possibilitava uma escolha mais livre dos produtos por parte do consumidor, dispensando a presença do vendedor.
O Estado de S. Paulo - 4/9/1953)


No Brasil. O primeiro supermercado da cidade, e do Brasil, foi inaugurado em agosto de 1953, co

Como o senhor fazia  para ir trabalhar na Rua das Palmeiras morando na Rua Lins de Vasconcellos na Aclimação?
Ia de ônibus, bonde. Havia muitos restaurantes espanhóis no Brás, o La Coruña já existia. No Largo da Concórdia tinha dois ou três restaurantes espanhóis. Íamos comer o cozido, o puchero, polvo. Os espanhóis todos tinham uma bota de vinho.
O senhor continuou no Peg Pag?
Não, eu saí para montar um barzinho na Rua Japurá, na Bela Vista. É uma região onde moravam muitos italianos e espanhóis. Ali tive a honra de conhecer Agostinho dos Santos
                                                      AGOSTINHO DOS SANTOS

 e José de Vasconcellos,




                                                         JOSE DE VASCOLNCELLOS

foram tomar café ali em uma madrugada. Após uns oito meses vendemos e fomos para a Pompéia. Compramos um restaurante, trabalhávamos em baixo e morávamos em cima. Era na Avenida Pompéia próximo ao campo do Palmeiras. Ali os jogadores do Palmeiras vinha comer bife na chapa com cerveja. Conheci vários jogadores do Palmeiras: Gilmar, Ademir da Guia. Estávamos começando a ter um progresso maior, quando deu uma enchente muito forte. Perdemos tudo. Fomos para a casa da minha cunhada. Arrumamos um apartamento na Rua Vergueiro e mudamos para lá. Eu arrumei um serviço na Rua Pinheiros. Voltei a trabalhar como empregado de uns franceses que tinham comprado As “Lojas Três Leões" uma loja de departamentos. Eles transformaram nos “Supermercados Sugar”. Ficava próximo ao Largo da Batata. Ali permaneci cerca de um ano. Fui trabalhar com um primo meu que tinha um hotel no Brás. Trabalhei um bom tempo lá.
Associei-me a um espanhol, adquirimos um bar na Rua Augusta, dois quarteirões abaixo da Avenida Paulista, no sentido centro. Era um desfile de uma multidão aos finais de semana. Ali foi bar, lanchonete. Ficamos ali um bocado de tempo.
É um ponto excelente?
Muito bom. Coloquei certas restrições, pela manhã não vendia bebida alcoólica. Tinha muitas boates na redondeza, o pessoal saia das boates e queriam continuar a beber. Atrapalhava os clientes que queriam tomar o café da manhã. 


                                            ROBERTA CLOSE   A Roberta Close tomou muito café ali. Era uma menina perfeita, muito bonita. Muito educada. Ela sempre vinha com as amigas tomava café. Eu abria o estabelecimento as seis horas da manhã, meu sócio fechava em torno da meia noite. Ali passavam muitos artistas para tomar café. Tínhamos seis funcionários.
O senhor era querido ali naquela região?
Era respeitado.
O ultimo emprego do senhor foi onde?
Foi em um hotel de propriedade de dois primos na Rua General Olimpio da Silveira.
O senhor voltou à Espanha?

Estive diversas vezes, a passeio, ficava hospedado na casa paterna.  A Espanha evoluiu muito, os campos hoje são todos trabalhados com máquinas, cada um com seu celular. 

sábado, maio 09, 2015

GENERAL DE BRIGADA EDSON DIEHL RIPOLI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 9  de maio de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
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ENTREVISTADO: 
GENERAL DE BRIGADA EDSON DIEHL RIPOLI

                                                      PASSAGEM DE COMANDO

Piracicaba é uma cidade historicamente pródiga em talentos. Nas mais diversas áreas. O primeiro presidente civil da republica brasileira, Prudente de Moraes após concluir seus estudos iniciou sua carreira como advogado e como político em Piracicaba, aqui viveu muitos anos, aqui faleceu, seus restos mortais encontram-se sepultados em Piracicaba. O controvertido governador Adhemar de Barros Filho, que construiu o maior hospital da América Latina, o famoso Hospital das Clínicas nasceu na Rua Boa Morte. Grandes cientistas responsáveis pela importante posição agrícola do Brasil estudaram na “Escola Agrícola”, nome pelo qual o piracicabano denomina a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. O ensino básico teve o pioneirismo de Miss Martha Watts, a atuação de Sud Mennucci. Culturalmente uma cidade riquíssima. A instalação dos sistemas de água encanada, energia elétrica e canalização de esgotos ocorreram em Piracicaba ainda no século XIX. Tecnologias avançadas proporcionaram uma situação de pioneirismo para Piracicaba em relação às outras cidades brasileiras. A instalação da primeira metalúrgica, a Krähenbhül, e da Companhia de Navegação Fluvial Paulista, colocaram Piracicaba como pioneira no processo de desenvolvimento industrial da Província de São Paulo, como era denominado o Estado de São Paulo. Artistas, escritores, músicos, inventores como o gênio da mecânica João Bottene, que entre muitas criações construiu diversas locomotivas, Mário Dedini, pioneiro em equipamentos para a indústria sucro-alcooleira A atuação de Luiz de Queiroz no desenvolvimento industrial de Piracicaba acabou sendo o ponto de partida para a instalação do abastecimento de energia elétrica da cidade e a primeira a ter linha telefônica. A primeira indústria a se instalar em Piracicaba foi a Oficina Krähenbühl em 9 de maio de 1870. A Krähenbühl foi também a primeira metalúrgica da Província de São Paulo e fabricava troles, tílburis, charretes, carroças, carroções, jardineiras e carros fúnebres. Ficava instalada na antiga Rua do Comércio (Governador Pedro de Toledo) e dava fundos para o córrego Itapeva, na grande porção de terras que seu fundador, o suíço Pedro Krähenbühl. Nos esportes Piracicaba sempre mereceu destaque, no basquete, no futebol. Duas características acompanham o piracicabano, o seu amor pelo Esporte Clube XV de Novembro fundado a 15 de novembro de 1913 e seu sotaque característico, com o “erre” acentuado. Edson Dhiehl Ripoli é piracicabano, ainda muito jovem decidiu seguir a carreira militar. Ingressou na extremamente rigorosa Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), sendo o primeiro colocado de uma turma de 365 cadetes. Em 31 de março de 2015 foi promovido ao posto de General de Brigada, o primeiro general piracicabano. E quinzista roxo! 
O General de Brigada Edson Dhiehl Ripoli é o mais jovem general do Exército Brasileiro. Foi condecorado com as seguintes medalhas nacionais: Ordem do Mérito Militar – Comendador; Medalha Militar de Ouro; Medalha do Pacificador; Medalha Mérito Tamandaré; Medalha Marechal Hermes – Bronze com uma coroa; Distintivo de Comando Dourado; Medalha Corpo de Tropa – Bronze; Medalha Prêmio Conde de Linhares; Medalha do Mérito do Ex-Combatente do Brasil; Medalha Sangue dos Heróis; Colar Comemorativo do Sesquicentenário da Revolução Sorocabana. Medalhas de Condecorações Estrangeiras: Medalha do Mérito Militar, de Portugal; Cruz da Ordem do Mérito Militar com Distintivo Branco, da Espanha (Condecoração feita pelo então príncipe, hoje rei da Espanha; Medalha de Ouro, da Itália; Medalha Esportiva de Bronze, da Alemanha;Medalha de Proficiência no Serviço de Tropa, da Alemanha;Medalha Libertador General Bernardo O’Higgins, do Chile;Medalha Francisco José Caldas - Aplicação, da Colômbia;Medalha das Nações Unidas – UNAVEM III.Medalha das Nações Unidas por Serviços Especiais.
                                                     PASSAGEM DE COMANDO
O senhor nasceu em que data?
Nasci a 9 de dezembro de 1964,em Piracicaba, sou filho de Romeu Italo Ripoli e Maria Apparecida Diehl. São seus irmãos Caetano Ripoli (Falecido), Bete Ripoli e Roberto Godoy.
O senhor fez seus primeiros estudos em que escola?
Entre 1971 e 1978, estudei na Escola Paroquial São Norberto (Igreja São Judas Tadeu) e na Escola Estadual Benedito Ferreira da Costa. Minha primeira professora era Dona Dulce, na Escola São Norberto.
O então colegial, em qual escola o senhor freqüentou?
Saí daqui com 14 anos, em  17 de fevereiro de 1979 assentei praça na Escola Preparatória de Cadetes em Campinas.



O que o levou a ingressar nessa escola?
Tomei a decisão de seguir essa carreira, prestei esse concurso, passei e fui. Foi uma decisão minha não houve nenhum incentivo familiar, não tenho nenhum parente que seja ou tenha sido militar.
O senhor identificou-se com o curso?
Acredito que sim, quando me formei ao final do curso que durou três anos, fui classificado como o primeiro aluno da minha turma composta por 210 alunos. Isso foi em 1981.

Qual foi a próxima etapa em sua carreira?
Fui para a cidade de Rezende, ingressei na famosa Academia Militar de Agulhas Negras – AMAN. Lá permaneci por quatro anos onde cursei o ensino universitário. Diplomei-me em 7 de dezembro de 1985, fui mais uma vez o primeiro aluno da turma de 365 cadetes, na época eu recebi a espada das mãos do presidente da república José Sarney.
Para quem conhece a rigorosa disciplina e o nível de excelência do ensino da Academia de Agulhas Negras, sabe o quanto é difícil cursá-la. Qual é o segredo para ser o primeiro aluno da turma?
Muito estudo! Quando conclui o curso e recebi a espada das mãos do presidente da república, para mim foi uma realização muito grande.
Terminado o curso qual foi o destino determinado ao senhor?
Em janeiro de 1986 me apresentei no quartel de Jundiaí, no 12º Grupo de Artilharia de Campanha. Era aspirante a oficial. Por oito meses permaneci como aspirante a oficial, nesse período ganhei uma viagem com a Marinha de Brasil, fui viajar por seis meses para Estados Unidos, Europa. Fui com o navio de guerra, na época denominado Custódio de Melo, hoje é o Navio Escola Brasil. Nesse período permaneci vinculado ao quartel de Jundiaí, fui promovido a segundo tenente em agosto daquele ano. Um ano depois promovido a primeiro tenente. Permaneci em Jundiaí de 1986 a 1989.
Nessa viagem com a Marinha do Brasil como era o uniforme que o senhor utilizava?
Era o uniforme do Exército adaptado. Usava os uniformes normais do Exército, mas tinha o uniforme de bordo, que era uma bermuda, uma sandália. Eu usava calça verde, eles usavam calça cinza, com a camiseta branca do navio.
Quais eram as atividades desenvolvidas pelo senhor a bordo?
Eu freqüentava todas as atividades do pessoal da Marinha. Tinha todas as instruções que eles recebiam. Tirava serviço no passadiço igual ao pessoal da Marinha. Quando chegava aos portos obviamente saia para conhecer as cidades.
O que é “tirar serviço” em um navio?
A navegação é dia e noite, quando está no mar não para nunca. O guarda-marinha, que é equivalente ao aspirante a oficial, tinha uma escala de serviço, ficavam cuidando da navegação. Eu permanecia ali, entrava na escala também, não ficava sozinho, é claro que tinha ali os oficiais. Acompanhava o radar, observando onde nós estávamos. Praticamente cuidando da navegação. Foi uma experiência interessantíssima. O pessoal daquela época passou a ser promovido a Almirante no ano passado. Mantenho contato com alguns deles até hoje, inclusive na minha entrega de espada na semana passada estava um amigo almirante, que é da minha turma, viajou comigo. E um amigo fuzileiro-naval esteve comigo no Rio de Janeiro no dia 31 de março ultimo. Essa viagem foi uma experiência diferente. Só um que viaja por ano. Era eu e um companheiro da Força Aérea que tinha se classificado em primeiro lugar na Academia de Pirassununga. Todos os tripulantes eram da marinha, menos eu e esse companheiro da Força Aérea.
Como o pessoal da Marinha via a permanência de dois companheiros um do Exército e outro da Aeronáutica, embarcados?
O relacionamento era ótimo! Receberam-nos muito bem.
Ficar 24 horas dentro de um navio é uma experiência muito marcante?
Não é fácil não. Para se ter uma idéia, de Fortaleza para Miami foi uma travessia de nove dias. De Miami para a França foram dez dias de mar, dentro daquele navio, vendo só água e céu é complicado realmente. Pensar que quando viaja e pega um avião em dez horas está na Europa. 
Isso foi em um período em que não tinha internet?
Não havia internet, mas quando chegávamos conseguimos telefonar para o Brasil. Nem GPS. Existia, havia um sistema de navegação.  Tinha um sistema de telefone via satélite, dentro do navio, era caríssimo. Essa facilidade que temos de mandar mensagens pelo celular claro que não existia. O que fazíamos era quando chegava a algum porto, íamos até um telefone público e telefonávamos.
Após essa viagem o senhor dirigiu-se para onde?
Voltei, continuei trabalhando em Jundiaí como tenente, em 1988 fiz um curso de especialização em comunicação no Rio de Janeiro, foram seis meses, permaneci até dezembro de 1989 em Jundiaí. Fui nomeado instrutor do Curso de Artilharia da AMAN em 1990 e 1991. Foram dois anos muito bons. Terminado esse período fui promovido a capitão, em dezembro de 1991, e fui transferido para Itu, para o 2° Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado- Regimento Deodoro, chegue em Itu em janeiro de 1992 permaneci três anos em Itu, nesse período fiz o curso de aperfeiçoamento, que é um curso obrigatório para capitães, é feito no Rio de Janeiro, tem a duração de seis meses. Retornei à Itu. No final de 1994 fui designado para a Missão de Paz da ONU, a primeira delas. O ano de 1985, inteiro, eu passei em Angola. Na época Angola tinha um conflito a UNITA, em tese apoiada pelos Estados Unidos e o MPLA - Movimento Popular Pela Libertação de Angola que esta no governo até hoje e é teoricamente apoiado pelos soviéticos. Houve vários acordos na tentativa de paz, e em um desses acordos Protocolo de Lusaka, realizado em  20 de Novembro de 1994, estabeleceu-se a UNAVEM III - United Nations Angola Verification Mission III, missão que integrei, ao longo desse ano fiquei em duas sedes, primeiro em Luena, que era ao Leste do país, dominado pelo governo e depois fiquei em um lugarejo chamado Chiteno, deve ter uns 500 habitantes, é mais ao Sul e era dominado pela UNITA.

O senhor estava em uma base brasileira?
Não, eu estava sozinho, com militares estrangeiros. Posteriormente o Brasil mandou um batalhão para lá. Éramos uns 10 observadores brasileiros, cada um em um canto do país. Eu fiquei no Quartel Regional de Luena, uns quatro meses e depois fiquei uns oito meses em de Chiteno, um lugarejo muito pobre, muito pequeno. Éramos um time de quatro militares, monitorávamos a área, informávamos o que estava acontecendo, foi uma experiência muito interessante. Os angolanos por falarem também o português, gostam muito dos brasileiros. Fazíamos nosso papel inclusive com interpretes, no primeiro quartel regional em que fiquei o chefe era um coronel holandês, eu era o tradutor, falava do português para o inglês.
O senhor fala quantos idiomas?
Uns seis. Estudei, fiz provas em inglês, francês, espanhol, italiano e alemão. O sexto idioma é o português, claro! Desses cinco idiomas estrangeiros empreguei pelo menos quatro em missões. O primeiro em Angola em inglês, na Alemanha o alemão, no Senegal em inglês e francês, e agora nessa última missão em espanhol. Esse estudo de idiomas foi extremamente válido porque o Exército me empregou muito bem. Ele sabia que eu falava diversos idiomas e me mandou para diversas missões. Após permanecer um ano em Angola retornei ao Quartel de Itu ao 2º Grupo de Artilharia de Campanha Autopropulsado entre 1996 e 1998. Voltei como capitão para Itu. Estudei para o Estado Maior, que é um concurso interno feito pelo Exército, fui promovido a major, em 1998 e fui para o Rio de Janeiro na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, sediada no Rio de Janeiro entre 1999 e 2000, obtendo o título de Doutor em Ciências Militares. Terminado o curso fui como Oficial de Estado-Maior, chefiar a 3ª Seção da Artilharia Divisionária/5, sediada em Curitiba – PR, nos anos de 2001 e 2002. Ai fui designado para ir para a Alemanha. Fui para Colônia, para a escola de idiomas das Forças Armadas Alemã. Fiz um curso de nove meses de alemão, já sabia o alemão mas aperfeiçoei bastante, e depois fui para Hamburgo onde entre 2002 e 2004, realizei o Curso de Estado-Maior das Forças Armadas na República Federal da Alemanha. A diferença e que é uma escola da OTAN, onde aprendemos a doutrina da OTAN.
                                      DIVISAS DE GENERAL DE BRIGADA
Qual é a visão que o estrangeiro tem do militar brasileiro?
Há um relacionamento muito bom, normalmente o Exército seleciona bem os militares que vão para o exterior. Nessa missão em que fiquei por dois anos lá, conheci pessoas do Leste Europeu, da África, da Ásia, de todos os cantos do mundo. Na Alemanha há dois cursos diferentes, o primeiro que é Curso para oficiais da OTAN. E o curso que eu fia era para o pessoal de países não pertencentes a OTAN. latino-americanos só havia eu e um chileno. Havia muitos africanos, asiáticos e do leste europeu. Foi uma experiência excelente. Pela primeira vez fui com a minha família, minha filha com 12 anos teve que aprender alemão.
O senhor é casado?
Sou, a minha esposa é a Renata, é de Piracicaba, formada em odontologia. Nossa filha, Karina, também é piracicabana.
Após a permanência na Alemanha para que localidade o senhor dirigiu-se?
Terminado o curso na Alemanha, fui para Brasília, no Centro de Comunicação do Exército, que é o órgão do Exército que trata com a imprensa. Após um mês fui designa do como comandante do 2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve - Regimento Deodoro, em Itu onde permaneci nos anos de 2005 e 2006. Na época cheguei a ter até 700 subordinados. Aquele prédio é de 1868, foi o Colégio São Luiz até 1918. Funcionou por 50 anos como colégio. Em 1918 o Exército negociou o prédio e instalou um regimento de artilharia lá. Dia 20 de janeiro faz 97 anos que o Exército está instalado naquele prédio.
Após a Alemanha o senhor fez algum outro curso no exterior?
Terminei o comando em Itu e fui para Brasília para servir no Gabinete do Comandante do Exército. Transferido para Brasília - DF, em 2007 trabalhei na Assessoria/3 (Assuntos Institucionais) do Gabinete do Comandante do Exército. Em 2008 e 2009, fui Assessor Militar da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Em 2009, integrei a Assessoria/2 (Assuntos Jurídicos) do Gabinete do Comandante do Exército. No ano de 2010, fui o Conselheiro Militar Principal do Escritório das Nações Unidas para a África Ocidental (UNOWA), em Dakar no Senegal. É uma missão que cuidava de 15 países, monitorava o que acontecia na Nigéria, Niger, Libéria, Costa do Marfim. Foi uma missão mais tranqüila do que a primeira, lá em Angola não tinha como me comunicar, ficava totalmente isolado, cheguei a ficar 35 dias sem falar com a família para saber se estava vivo ou morto. No Senegal não, a tecnologia tinha evoluído, já tinha Skype. A alimentação era elaborada por pessoas locais. Dakar para os padrões africanos é uma cidade muito boa. A missão era bilíngüe inglês e Frances, o chefe era um diplomata da Argélia.
GENERAL DIEHL RECEBENDO A ESPADA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA JOSÉ SARNEY POR TER SIDO O MELHOR ALUNO DA ESCOLA MILITAR DE AGULHAS NEGRAS  DA TURMA DE 1985  COMPOSTA POR 365 CADETES
Terminada a missão o senhor retornou para onde?
Retornei pela terceira vez para o gabinete do Comandante do Exército, que é o órgão da organização do Exército que assessora o comandante. Em 2011 e 2012, servi na Assessoria/3 e na Assessoria de Contratações Internacionais do Gabinete do Comandante do Exército. Nesse período, fui também gerente do Projeto Estratégico do Exército ASTROS 2020. No final de 2012 fui designado para ir para a Espanha. Entre janeiro e março de 2013, realizei o Curso de Altos Estudos Estratégicos para Oficiais Superiores Ibero-Americanos, no Centro Superior de Estudos da Defesa Nacional, em Madri, Espanha. Em seguida, permaneci como instrutor daquele Centro até janeiro de 2015. Retornando ao Brasil, fui Chefe da Assessoria/3 do Gabinete do Comandante do Exército. Fui promovido ao posto de General de Brigada em 31 de março de 2015 e designado Comandante da Artilharia Divisionária da 1ª Divisão de Exército, situada em Niterói, cargo que assumi dia 28 de abril de 2015. Ela cuida instrução de seis grupos de artilharia.

                                                          GENERAL DIEHL

domingo, maio 03, 2015

PAULO JUSTO BUENO MORETTI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 02 de maio de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 


ENTREVISTADO: PAULO JUSTO BUENO MORETTI





Em 22 de março de 1995, um grupo de cerca de 30 amigos aficionados pelo ferreomodelismo (trens em miniatura), reuniu-se na Rua Alferes José Caetano,701, dependências da Verna Variedades, onde foram deslocados balcões, expositores, e mesinhas com cadeiras. Foi especialmente convidado um aeromodelista (praticante de hobby de aviões em miniatura) para relatar sua experiência de ter fundado uma associação. O lendário Oda, já falecido, contou como se iniciou no hobby do aeromodelismo, e que aquele momento era muito significativo para nós ferreomodelistas. A palavra foi usada por diversas pessoas presentes, de todas as faixas etárias. Desde então acalentamos o sonho de realizar efetivamente uma associação. Nos fundos da loja Verna existia um enorme salão, que tinha sido no passado a área de preparação de pães e doces, da Padaria Brasileira, com dois enormes fornos. Era um prédio com uma área bem definida como loja, e nos fundos, onde um dia foram feitos muitos pães e assados, foi ocupada pela Associação Piracicabana de Ferreomodelismo. Por ali passaram muitos ferreomodelistas, hoje nomes consagrados: Tarcisio Lessa, Paulo Lessa, Avary Perches, Paulo Moretti, Antonio Lima, Geraldo Zaratin, Guido Sarin, Gilson ABC, José Mattos, que chegou a dar aulas de maquetes naquele local e muitos outros cujos nomes constam em ata. Foi criado o logotipo e carteirinhas da associação. Paulo Moretti sempre foi um entusiasta tanto dos trens como da associação. Na ocasião seus filhos ainda muito pequenos já o acompanhavam. Construímos uma maquete modular, com 14 partes independentes, porém que poderiam ser conectadas. Cada parte media 1,50 metros por 0,75 cm de largura, totalizando 21 metros de percurso. O circuito tinha 3 linhas independentes, que se conectavam no início e no fim de cada módulo. A paisagem ficava a cargo do "dono" do módulo. Existia uma fiação embaixo da maquete que funcionava como rede de alimentação para os trilhos. Essa maquete ficou por duas vezes exposta no Shopping Piracicaba, 30 dias cada vez que para lá foi levada. Eram necessárias duas viagens de uma caminhonete F-4000 para leva-la. A primeira exposição de maquete de ferreomodelismo ocorrida em Piracicaba foi na Casa do Povoador, onde a Verna expôs uma maquete cedida por Gilson A.B.Camargo. A segunda exposição pública ocorreu na agência do Banespa da Rua Moraes Barros, quando uma maquete foi trazida da fábrica Frateschi de Ribeirão Preto até Piracicaba, em um caminhão 3/4 tipo baú. Todos os eventos que envolviam a APF, as várias exposições realizadas em diferentes dependências da Unimep, inclusive na Faculdade de Arquitetura tiveram a participação ativa da Verna como incentivadora e mediadora. Acreditem, mas foi realizada uma exposição de trem elétrico dentro de um cemitério! O Cemitério dos Americanos, em Santa Barbara D' Oeste, em uma festividade da comunidade norte-americana e seus descendentes no Brasil. Paulo Moretti estava presente nessa exposição com seu material. Participamos de inúmeras exposições, inclusive os incontáveis sábados à tarde em que montávamos nosso material rodante em duas maquetes móveis, nas dependências já precárias da Estação da Paulista. Guido Sarin e sua família foram incansáveis nessa tarefa. Foram dezenas de apresentações onde a maioria do público eram crianças de periferia, que jamais tinham colocado os olhos em uma maquete! Foi contratada uma empresa especializada (Telas Gomes), para cercar o local onde a enorme maquete modular foi pela última vez montada. Foram tomados todos os cuidados para não furar as paredes, mas sim usar braçadeiras, com o objetivo de preservar um ambiente histórico (Estação da Paulista). Tomamos todos os cuidados necessários para preservar a maquete, mas a população de pombos que infestava o local achou por bem "retocar" a maquete com suas fezes. Os cupins devoraram a madeira. Vândalos cortaram os fios de força da malha central que ficava embaixo da maquete. Nosso sonho permanece na nossa saudade, e nas imagens fotografadas e filmadas. Mas o mais importante nós conseguimos: motivar os talentos adormecidos, revelar artistas que o tempo perpetuará. E isso o cupim não corroeu e nem os pombos destruíram. Hoje estamos felizes em ver a Estação da Paulista restaurada. Nesses muitos anos, percorremos um longo caminho, mas em momento algum desistimos do nosso sonho: a Associação Piracicabana de Ferreomodelismo - APF, ter um espaço aonde possa lembrar a história do trem na formação da nossa cidade e região. 


A primeira oficial exposição de ferreomodelismo de Piracicaba e Região foi realizada em parceria com a Frateschi Trens Elétricos, de Ribeirão Preto e a Verna de Piracicaba, com o apoio do vereador José Pedro Leite da Silva e da Secretaria da Cultura, cuja titular Rosângela Camolesi incentivou muito. Foi em um sábado, dia 8 de abril de 2006 no barracão existente logo no final da ponte pênsil, no Engenho Central. Uma segunda exposição foi mais tarde realizada na Estação da Paulista, já restaurada, sendo que na ocasião o Prefeito Barjas Negri inaugurou essa exposição.
Cabe ressaltar que cada ferreomodelista tem sua característica pessoal, como se fosse uma impressão digital. Ao conhecedor, basta olhar uma maquete e logo dirá quem é o autor.
Em 30 de abril de 1854 foi inaugurada a primeira linha ferroviária do Brasil, o que fez com que data se transformasse em o Dia do Ferroviário. O vereador Pedro Kawai decidiu homenagear os ferroviários, heróis esquecidos que muito fizeram para o progresso do nosso país, para Piracicaba, realizando um evento com inicio no dia 24 de abril de 2015 nas dependências do SEST SENAT. Foi feito o lançamento de um rico documentário denominado “Alma de Ferro”, História e Lembranças de um Passado Ferroviário assim como exposição de cerca de uma dezena de maquetes ferroviárias. Paulo Moretti e Guido Sarin participaram ativamente com as suas obras e material rodante. 

Paulo Justo Bueno Moretti nasceu a 1 de fevereiro de 1955, na Rua Governador Pedro de Toledo, centro de Piracicaba, é filho de Justo Moretti Filho e Dina Moretti.que tiveram também as filhas Adriana e Lia.
Em que escolas você estudou?
Escola Estadual Professor Elias de Mello Ayres, depois COTIP- Colégio Técnico de Piracicaba, onde fiz engenharia e administração. Tenho dois filhos, Ralf e Caio.
Como surgiu essa exposição de ferreomodelismo?
Fui procurado pelo vereador Pedro Kawai. Junto com alguns amigos fizemos a montagem das maquetes e dos dioramas.


Qual é a escala utilizada para realizar essas maquetes?
O diorama conta o pedaço de uma situação. Como se fosse a fotografia de um local. Ele retrata uma situação dentro do contexto da ferrovia. São relativamente pequenos, estáticos. As maquetes foram feitas em duas escalas: uma em escala HO que é 1:87, ou seja, 87 vezes menor que a original. Outra é a escala N, que é a metade da escala HO. Ou seja, 1:164.
O material é de procedência nacional?
O material rodante em parte é de procedência nacional. Temos material de procedência japonesa, européia de uma forma geral e algumas dos Estados Unidos. A maioria das maquetes que estão expostas foi realizada por mim, são maquetes semi-profissionais. São maquetes de fácil locomoção, não tem uma grande parafernália eletrônica, que hoje é utilizada em maquetes profissionais. Tenho algumas maquetes analógicas, outras digitais, mas ainda não estão ligadas a um computador. No Brasil estamos engatinhando nessa área de informatização de maquetes. Em São Paulo temos pelo menos duas maquetes ligadas ao computador, que dá todos os comandos para as máquinas irem buscar vagões, descarregar vagões. Ainda é algo de valor elevado, fora da nossa realidade.
Paulo, você além das exposições locais, participou de diversas exposições?
Devo ter participado de 12 a 15 exposições. Participei também de concursos de ferreomodelismo de várias cidades, sendo que em vários desses concursos tive a felicidade de ser classificado em primeiro lugar. Fui convidado por um amigo, Armando Canhão, de Coimbra, mandei três trabalhos, quando os trabalhos são escolhidos ninguém sabe quem é o autor, para minha surpresa, os três trabalhos que mandei na categoria “Construções”, ganhei em primeiro, segundo e terceiro lugar.

O reconhecimento é cultural ou financeiro?
Reconhecimento financeiro não existe nenhum. E eu também não busco isso. Há o reconhecimento cultural e a satisfação de ter o meu trabalho reconhecido.
Quando surgiu essa sua atração pelo ferreomodelismo?
Ainda criança eu ganhei do meu pai alguns trens, não eram brinquedos, já era equipamento voltado ao hobby. Era da marca italiana Lima. Com o tempo fui aprimorando, muitas tentativas, hoje estou realizando trabalhos em um nível bom, em um patamar de realismo dentro do ferromodelismo.
O custo do hobby é alto?
Há duas formas de se praticar o modelismo: uma é comprar todo o material e montar. É a maneira de custo mais elevado. Outra forma é você mesmo criar suas peças, modificando materiais. É o que eu faço. Comprar pronto, ou comprar “kit” é muito fácil. Só que você não tem uma peça exclusiva. Gosto justamente disso, exercitar minha criatividade. Com isso consigo um efeito muito superior do que o material pronto.
Quantas maquetes você trouxe para essa exposição?
São quatro maquetes rodantes e em torno de meia dúzia de dioramas.
Tem alguma peça que você considera diferencia da das demais?
Uma é a Estação da Paulista, que eu tive que medi-la em todos os seus detalhes, desenhar, depois executar na escala 1:87. Outra é um diorama estático, uma estação do Mandaqui em São Paulo, era um ramal da Sorocabana, já extinto, fiz através de fotos. Até onde sei é o único diorama existente dessa estação.
Quanto tempo você usa para fazer uma peça dessas?
Como não é meu meio de subsistência, faço isso aos finais de semana. Por exemplo, a maquete da Estação da Paulista levou seis meses para ser concluída. É um trabalho de paciência, não pode ter pressa. É um trabalho que dá prazer, você faz cada peçinha com carinho, com tranqüilidade. Isso me dá uma paz, um sossego, me desligo do cotidiano. O grau de concentração é muito grande. Fico imaginando como vou fazer encaixar, o final de semana é pleno em cima da maquete.
A busca pelo realismo é incessante?
Cada vez mais! Cada peça que faço  melhoro o meu nível. Aprendo coisas novas, aprendo como fazer de outra forma, melhor, mais fácil, mais bonita. A cada maquete que faço vou melhorando o meu grau de aprimoramento. O olhar para cada objeto é diferenciado: uma tampinha de desodorante pode tornar-se uma caixa de água!
Qual é a faixa etária que se interessa pelo ferreomodelismo?
Pela minha experiência de outras exposições, posso afirmar que ela atinge tanto a criança, como o adolescente, o jovem, o adulto. Todos gostam!
Você dá cursos, aulas?
Já cheguei a dar algumas oficinas de maquetes. Como fazer árvores. Como transformar peças para modelismo. No ano passado até fui convidado pelo Colégio CLQ a fazer uma maquete  com os alunos. A partir do momento em que a maquete passou a tomar forma o interesse deles foi muito grande. Neste ano fui convidado novamente a dar algumas aulas para alunos da oitava série.
Há um choque entre a tecnologia que domina as novas gerações (celulares, games) e o trabalho artesanal com maquetes?
Existe  esse choque, não é pequeno. Isso de certa forma me entristece, a juventude não cria com suas próprias mãos, não elabora trabalhos manuais. De certa forma é uma geração passiva, que senta em frente a um computador, onde consegue coisas maravilhosas, só que cada vez mais está se perdendo a habilidade manual e a transformação que pode ser feita manualmente. O jovem passa a ser o consumidor de um produto, ao passo que quando realiza, por exemplo, uma maquete, ela está produzindo alguma coisa. O jovem, em sua maioria, ao ficar junto a um computador, está produzindo alguma coisa, mas principalmente está sendo orientado a ser consumista. Em geral deixa de lado a sua criatividade. Com isso perde grandes artesãos. Hoje já não existem mais alfaiates, relojoeiros que saibam consertar um relógio mecânico. São profissões em extinção.
Isso pode ocorrer com a construção de maquetes?
São poucas pessoas no Brasil que desenvolvem essa arte, comparada a população do país. Não sei precisar quantas, mas sempre haverá pessoas que irão desenvolver suas habilidades manuais. A tendência hoje no ferreomodelismo é a pessoa adquirir tudo pronto. Monta com algumas falhas, e põe aquilo para funcionar. O modelista que fabrica todas as suas peças, cria do nada alguma coisa que fique bonito, dê um impacto, isso está cada vez mais difícil. O próprio meio induz as pessoas a comprar e montar kits, a fazer um diorama ou uma maquete. E não é esse o propósito. O bom modelista tem por obrigação criar suas peças.

E as maquetes eletrônicas?
São muito bonitas, gosto, admiro. Você pode programá-las. Você pode fazer inúmeras manobras como se estivesse dentro da cabine de um trem. Só que você está sentado em uma cadeira em frente a uma tela! É gostoso, mas não é mais prazeroso do que fazer uma maquete física.
Nos lançamentos imobiliários usam-se maquetes eletrônicas ou maquete físicas?
São usadas as duas modalidades. Em qualquer lançamento você vê uma maquete física, é um chamariz. No caso de uma residência, principalmente os arquitetos fazem toda a parte de arquitetura através da maquete eletrônica, inclusive a decoração interior, isso dá um impacto muito forte. O consumidor irá se encantar pela maquete eletrônica. Sob o ponto de vista comercial é muito importante uma maquete física e uma maquete eletrônica. Os softwares são cada vez mais poderosos, é um processo muito rápido.
Você utiliza-se desses meios?
Na construção civil tive curso de AutoCAD, na parte de modelismo existia um software chamado CadTrem, ele fazia alguns circuitos, ele auxiliava. Mas nada melhor do que você pensar e você criar. Às vezes fico dias pensando como fazer uma peça. Algumas vezes, em um “clique” vem com toda a clareza do mundo como devo fazer aquela peça. Você tem ferramental próprio para o modelismo?
Tenho uma oficina completa. É uma oficina para hobby. Ali tenho máquinas específicas: micro-serra, micro-torno, todo ferramental que utilizo para fazer essas peças. Existem algumas ferramentas que eu criei.
Você vê a possibilidade do modelismo ser utilizado como terapia em instituições tais como locais de detenções?
Como terapia com toda certeza sim, não só no modelismo, mas qualquer atividade que seja feita e ocupe o tempo com certeza irá beneficiar muito o recluso. Quando estou me dedicando ao modelismo me esqueço do mundo. Para mim é um remédio! Quando você cria alguma coisa em que não tenha nenhum interesse a não ser a satisfação pessoal, isso se torna automaticamente uma terapia.
Material rodante, que são locomotivas, carros de passageiro e vagões, você tem idéia de quantos  possui hoje?
Devo ter por volta de 300 a 400 peças. Tanto na escala HO 1:87 como na escala N 1:160. Existe uma outra escala com a qual não trabalho, que é a escala 0 (zero), ela é grande 1:43,5 e tem a escala Z que é 1:220. Ou seja, são peças 87; 160; 43,5 e 220 vezes menor que o modelo original.
Existe em São Paulo, no Parque Ibirapuera uma maquete coletiva, muito grande, e possivelmente a mais antiga do Brasil ?

É da SBF – Sociedade Brasileira de Ferreomodelismo Esses dias o Alberto, que é um dos diretores, me convidou para fazer uma estação para essa maquete. É a maior do Brasil, talvez a mais importante. Entreguei-a semana retrasada. É uma estação de ramal, pequenininha, não tem nome, colocaram lá “Estação Moretti”.  

sexta-feira, abril 24, 2015

JOSEFINA HORTÊNCIA DE CAMARGO E MARIA INÊS CAMARGO

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 
joaonassif@gmail.com 
Sábado 25 de abril de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 

ENTREVISTADAS: JOSEFINA HORTÊNCIA DE CAMARGO E                                     MARIA INÊS CAMARGO



                                Da esquerda para a direita as irmãs Maria Inês e Josefina


Duas irmãs, uma advogada e uma jornalista, buscam resgatar a passado da família. Pesquisadoras incansáveis nasceram e residem em São Paulo, decididas, tomaram como rumo a cidade de Piracicaba. Sabem que muito da história de seus ascendentes está em nossa cidade. Revelam ainda que a família foi proprietária de dois ícones do comércio piracicabano, as lojas “A Porta Larga” e “Loja Duas Âncoras”.
Qual é o seu nome?
Josefina Hortência de Camargo, meu nome tem origem no nome da minha avó, a piracicabana Josephina Hortência Soares de Camargo, casada com o piracicabano João Baptista de Camargo. Eles residiram em Piracicaba até 1920. Sou a neta mais nova dela, em sua homenagem recebi o seu nome. Eu nasci na cidade de São Paulo, no bairro da Lapa a 4 de outubro. Meu pai, Ismael Camargo, filho do casal João Baptista e Josephina. Ele nasceu em Piracicaba, foi ainda muito jovem para São Paulo, estudou no colégio São Bento. Fez o curso de medicina, e acabou não voltando mais para Piracicaba. Minha mãe, Maria Paula Camargo, nasceu no Rio de Janeiro e mudou-se ainda menina para São Paulo.
Maria Inês Camargo, você nasceu em São Paulo onde exerceu qual profissão?
Nasci em São Paulo a 18 de setembro, sou jornalista.
Maria Inês como surgiu o interesse em fazer essa pesquisa com tanta dedicação de ambas?
Acredito que com o passar do tempo passamos a sentir saudade de todos nossos entes queridos que já nos deixaram. Coloco a cabeça no travesseiro e lembro-me de uma frase qualquer, penso: “Isso aqui o meu pai dizia e é a realidade!” Os anos passam a tecnologia muda, tanta coisa mudou, mas continuo pensando “- É aquilo mesmo que meu pai falou! Ele estava certo!” Ou foi algo que alguma tia falou. Esse sentimento despertou o interesse em pesquisar a história mais próxima, que é a da sua família, e descobre várias pérolas.
O que vocês descobriram, por exemplo?
Descobrimos que o nosso avô João Baptista de Camargo teve treze filhos: Nasceram em Piracicaba: João Baptista Jr, Maria Angélica Camargo Almeida, Antonio Bento de Camargo Neto, Josephina Camargo Silveira, José de Camargo, Ismael Camargo, Joanna D!Arc Camargo Jany. Nasceram em São Paulo: Isabel Camargo Simões, Paulo de Camargo, Beatriz de Camargo Pujó, Eliza de Camargo, Helena Soares de Camargo e Jorge de Camargo.  Os oito primeiros filhos nasceram em Piracicaba, os outros cinco nasceram em São Paulo, quando meu avô vendeu seus negócios em Piracicaba e transferiu-se para São Paulo.



Maria Inês, o seu avô atuava no comércio em Piracicaba?
Meu avô fundou a Loja “A Porta Larga” em sociedade com o irmão dele José Basílio de Camargo. (Cabe observar que o livro ACIPI 80 anos, editado em 2013, na página 58, cita que o nome “Porta Larga” surgiu em fevereiro de 1884 quando Eduardo de Paula Carvalho abriu uma sapataria a rua do Commercio (Governador Pedro de Toledo) canto (esquina) com a rua Direita ( Moraes Barros).O proprietário trazia as últimas novidades das melhores lojas da Corte, calçados e também armarinho, chapéus de sol e “lindíssimos artigos da moda”. O texto prossegue afirmando que no final de 1887 João Baptista de Camargo e seu irmão José Basílio de Camargo, compraram a loja e participaram seus fregueses que estavam mudando seu depósito de secos para o prédio onde ficava a Porta Larga. Em 1895 a loja passa por uma reforma). A loja ficava inicialmente na esquina da Rua Governador com Moraes Barros, ao lado direito da Rua Moraes Barros no sentido centro para o bairro, mais tarde ali funcionou a Farmácia do Povo. João Baptista de Camargo e seu irmão José Basílio de Camargo fundaram “A Porta Larga” em um prédio na mesma esquina do lado esquerdo da Rua Moraes Barros, onde funcionou até se dar o seu encerramento em 2006.  Em 1921 foi vendida para Pelippe Zaidan Maluf com a ajuda de Elias Zaidan, Jorge e Hide Maluf).

Quando João Baptista de Camargo vendeu a loja "A Porta Larga" entre outros itens comercializava louças importadas, estas duas peças ainda existem e a fotografia é uma cortesia da proprietária.   
Maria Inês essa loja trabalhava com o que?
Eles tinham várias coisas, vi referências, anúncios de jornal da época, dizendo que eles tinham desde gêneros alimentícios até produtos para uso doméstico, agrícola.
Josefina complementa:
O que as tias contavam é que o pai (João Baptista de Camargo ou então o irmão e sócio João Basílio de Camargo) ia de navio para a Europa, para adquirir louças finas, porcelanas, sedas, essas coisas mais sofisticadas. Ele fazia as compras e trazia para serem comercializadas pela sua loja.
Em que ano faleceu João Baptista de Camargo?
Ele nasceu a 16 de junho de 1870, faleceu em 1940.
Qual é a origem da família?
Josefina responde: “- É o que estamos pesquisando!” O pai da minha avó Josephina Hortência Soares de Camargo era português. Veio de Portugal para Piracicaba, ele trabalhava como lavrador. O pai do meu avô João Baptista de Camargo, não tenho certeza se era piracicabano ou não, mas eles tinham vinculo com Piracicaba através do Antonio Bento e do irmão Joaquim Cipriano de Camargo. Joaquim Cipriano de Camargo foi o padre que celebrou a missa na inauguração do Cemitério da Saudade. Na família todos tratavam como “tio padre”, descobrimos isso recentemente. Ele tinha uma tia, Maria Justina de Camargo, diziam que era uma excelente quituteira. Procurei saber quais eram os quitutes da época, eles comiam o que plantavam e o que criavam. Tinha muitas receitas a base de porcos e frangos, muitos alimentos feitos a base de mandioca: sopas, ensopados, farinha de mandioca era utilizada em lugar do trigo, que praticamente não existia. Conhecer os costumes da época despertou-me muita curiosidade.  Maria Justina de Camargo, tia do meu bisavô, isso por volta de 1870. A maior dificuldade é encontrar documentos dessa época.
Josefina, qual era a principal fonte de lazer dessa época?
Percebi que o grande divertimento deles era em função da igreja. Divertiam-se através das festas religiosas. Era o núcleo deles. Até a proclamação da república os registros eram todos feitos nas igrejas. Consegui ver os registros de nascimento de João Baptista de Camargo, de Josephina Hortência Soares de Camargo, do falecimento do Antonio Bento de Camargo, pai de João Baptista de Camargo. Antonio Bento de Camargo está sepultado aqui no Cemitério da Saudade de Piracicaba. Há uma rua com o nome dele aqui em Piracicaba.
Maria Inês, como era o seu avô João Baptista de Camargo?
Seus pais foram Antonio Bento de Camargo e Sebastiana do Amaral Gurgel, que tiveram cinco filhos: Antonia, José Basílio, João Baptista, Pedro e Maria Angélica. Um fato curioso é Pedro de Camargo foi o fundador e proprietário de uma loja muito conhecida na época: a loja “Duas Âncoras” que de certa forma concorria com “A Porta Larga”.  Pedro de Camargo permaneceu em Piracicaba até por volta dos anos 50. Meu avô João Baptista, ao voltar para São Paulo, acabou envolvendo-se com o comércio novamente. Teve uma loja chamada “Ao Bandeirante”, que ficava no chamado “centro velho” nas proximidades da Praça Julio de Mesquita. Era similar ao que foi a Porta Larga. Nessa loja ele acabou contratando um rapaz para ajudar no atendimento ao público. Esse rapaz chamava-se Gabriel Gonçalves, que com aquele aprendizado, acabou montando seu próprio negocio e tornou-se um grande nome do comércio de São Paulo, montou uma rede de lojas chamada Gabriel Gonçalves conhecido como “GG Presentes”. Na Revolução Constitucionalista de 1932 meu avô aderiu plenamente na luta de São Paulo contra o Governo Federal. São Paulo queria uma constituição, Getulio Vargas negava. Meu avô já era uma pessoa mais idosa, na faixa de mais de 60 anos, os filhos foram lutar na frente de batalha paulista, meu avô ficou em São Paulo e fazia a Ronda Noturna, percorria o quarteirão onde morava, na Rua General Jardim, na Vila Buarque. Havia o temor de que como a maior parte dos homens estava servindo em combate, alguém se aproveitasse disso para invadir alguma residência. Os homens mais velhos das famílias, quase em sua totalidade circulavam durante a noite em cada quarteirão. No inicio da Segunda Guerra Mundial meu avô já estava idoso, vendeu seus negócios e encerrou as atividades comerciais.
Josefina com relação a “A Porta Larga” também havia uma vigilância à noite?
Isso eu descobri na pesquisa, ele e outros comerciantes da região faziam a ronda também com o intuito de segurança, era um grupo de comerciantes que se revezavam, cada noite ia um deles. Eles trabalhavam na loja durante o dia e a noite faziam essa ronda. Foram os primeiros guardas-noturnos. Essa ronda deu origem a Guarda Municipal, isso deve ter sido entre 1890 a 1900.
Em sua busca pela origem dos seus antepassados até que época sua pesquisa abrange?
Chegamos até por volta de 1500, com um ascendente nosso chamado Fernão Ortiz de Camargo, ele era espanhol. Percorrendo a linha do tempo chegamos a Marta de Camargo, que teve treze filhos. Uma das suas filhas é Maria Joaquina de Camargo, que supostamente seria a mãe do Padre Diogo de Feijó. O Padre Diogo de Feijó seria o provável pai de Antonio Bento, na época era muito comum terem filhos, eles não eram a favor do celibato.
Existe alguma documentação a respeito?
Descobri recentemente em Piracicaba, um primo que é filho de José Basílio, esse meu primo disse que toda documentação que tinham sobre Feijó foi entregue à Cúria. Estive nas Cúrias de Piracicaba e de São Paulo, mas não consegui levantar nada a respeito. Em alguns livros, Feijó se declara filho de Maria Gertrudes, que era filha da Marta e irmã de Maria Joaquina. Feijó era uma pessoa muito culta, com grande participação política, foi o fundador de uma loja maçônica, mas com o seu envolvimento com a Corte, com o Império, ele não levou adiante suas atividades maçônicas.
O que motiva vocês duas a se deslocarem de São Paulo a Piracicaba apenas para pesquisar o assunto?
Tudo começou comigo, Josefina. Embora a Inês goste muito também.  Comecei a perguntar-me: Como era o meu passado? Quais informações eu tenho? Vi que tinha muito pouca história. Baseei-me um pouco na história do meu marido, a família dele é espanhola, por parte de pai e de mãe, ele conseguiu fazer a árvore genealógica dele, no ano passado tivemos a felicidade de poder ir para a Espanha e nós fomos à cidade, à igreja, vimos os livros dos registros dos avós, bisavós, dele, aquilo me acendeu uma chama.
Maria Inês, você é jornalista, trabalhou na grande imprensa paulista por alguns anos.
Trabalhei, estudei jornalismo na Universidade de São Paulo – ECA, meu primeiro emprego foi no Jornal da Tarde, do Grupo Estado de São Paulo, permaneci por 10 anos na empresa, trabalhava na reportagem de “Cidades” principalmente. Trabalhei em outros veículos de comunicação, em revistas, em jornalismo especializado na área de construção. Trabalhei no então Diário Popular, que foi vendido e passou a se chamar Diário de São Paulo.
Como era o seu pai?
Meu pai Ismael Camargo, médico, nasceu em Piracicaba, era o sexto filho do casal João Baptista de Camargo e Josephina Hortência Soares de Camargo. Ele estudou na Faculdade de Medicina de Pinheiros, incorporada mais tarde a Universidade de São Paulo. Foi um grande médico, cirurgião, fazia a área de ginecologia e obstetrícia, ele foi assistente do médico que introduziu a cesárea no Brasil, Raul Briquet. Quando meu pai formou-se em 1928 a sua tese já era sobre cesárea. Ele era um médico que se dedicava integralmente a profissão. Ele teve consultório no centro de São Paulo, na Rua Barão de Itapetininga,  trabalhou muito tempo no Hospital Matarazzo, na Maternidade São Paulo, que era uma referência na área, depois trabalhou na rede publica de saúde, inclusive no Hospital Sorocabana.
Maria Inês lembra-se de uma particularidade a respeito do seu pai.
Ele saiu de Piracicaba ainda criança. Conheceu minha mãe em São Paulo, onde se casou. Uma particularidade dele era quando estava chateado ou aborrecido punha-se a cantar o Hino de Piracicaba, lembro-me de um trecho: “Ninguém compreende a grande dor que sente o filho ausente a suspirar por ti...”



Josefina complementa
Lembro-me que meu pai não gostava de dirigir, como tínhamos acabado de nos habilitarmos, adorávamos sair. Ele então pedia para levá-lo para fazer as visitas aos seus pacientes no hospital. Chegou uma época que ninguém mais queria levá-lo nessas visitas, nós ficávamos aguardando no carro dentro do estacionamento, alguém chamava ele entrava em cirurgia. De tanto que ele gostava ficava fazendo cirurgia e ficávamos lá em baixo esperando! Não era uma cirurgia que estava programada, alguém o chamava e ele entrava na sala cirúrgica. Nós às vezes ficávamos horas esperando por ele.
Quando seus pais se casaram foram morar onde?
Na Avenida Dr. Arnaldo, no bairro Sumaré, eles tinham uma diferença de 30 anos de idade. Uma diferença muito grande, mas era um casal muito harmonioso. Ele tinha 50 anos, minha mãe 24. Davam-se muito bem, ficaram casados quase 30 anos. Ele faleceu em 1980. A minha mãe está com 84 anos, uma cabeça excelente!
Maria Inês, com sua experiência e vivencia em grandes veículos de comunicação, a seu ver, porque Piracicaba encanta tanto?
Acho que Piracicaba é uma grande metrópole. A primeira vez que estive aqui foi há uns 30 anos, ao retornar notei que a cidade cresceu muito. As grandes empresas deram um eixo econômico para a cidade. A cana-de-açúcar deu um grande impulso. A Escola de Agronomia Luiz de Queiroz é uma referência para o país todo. Foram dois grandes marcos. È uma cidade que parece oferecer uma qualidade de vida muito boa.
Josefina, o que significa para você esse mergulho ao passado?
Acho que é a busca pela minha origem. De onde vim. Comecei a descobrir na família personagens que me chamaram muito a minha atenção, uma delas é a Maria Justina de Camargo, tia de Antonio Bento de Camargo e Joaquim Cipriano de Camargo. Não me considero uma boa cozinheira, mas descobri um livro chamado “As Receitas do Imperador”, ele é rico em fotos e curiosidades, mostra como faziam as comidas naquela época. Usavam banha que chamavam de “manteiga de leite”. Os doces eram feitos a base de frutas. Faziam compotas. Tentei cozinhar alguns pratos baseando-me naquelas receitas. Tive que fazer algumas adaptações de ingredientes. Tem uma receita de peru recheado que desperta a salivação.  Eles faziam a farofa com pão colocavam diversos ingredientes, aquilo parece que deve ficar muito bom! Era comum ele comerem muito peru. Outra coisa que me chamou muito a a atenção é que nessa época eles descobriram o banho-maria. Os banquetes eram feitos para muitas pessoas, as mesas das famílias eram muito grandes, com isso preparam tudo com antecedência, havia a dificuldade em aquecer o alimento na hora de servir. Descobriram aquela tampa usada para o prato não esfriar. (Cloché ou abafador).
Qual religião era seguida pela família?

Pode-se afirmar que há dois ramos: O irmão do João Baptista, o Pedro, era espírita, teve uma participação muito grande na Federação Espírita em São Paulo. Meu avô João Baptista também era espírita, embora não tivesse a mesma dedicação que seu irmão Pedro teve. Outro lado da família é católico. Meu pai era muito engraçado no que ele falava: “Eu sou ateu, graças a Deus!”. Duas gerações anteriores, dentro da família Camargo, têm muitos familiares que foram padres. Sebastiana do Amaral Gurgel era casada com Antonio Bento de Camargo, pais de João Baptista de Camargo, ela tinha um sobrinho Manoel Joaquim do Amaral Gurgel, isso por volta de 1870, ele era padre, deu o nome a Rua Amaral Gurgel, é tido como um excelente deputado. 

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