sexta-feira, junho 05, 2015

PAULO ROSSI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 6 de junho de 2015
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/ 



ENTREVISTADO: PAULO ROSSI
Paulo Rossi nasceu a 18 de setembro de 1940, em São Paulo, no bairro Vila dos Remédios, é filho de Constantino Rossi e Tereza Zanin Rossi que tiveram os filhos Valdomiro, Maria Ester e Izidro. Paulo Rossi escolheu Piracicaba para residir, após percorrer as regiões mais longínquas e agrestes do nosso país. Esteve alojado em acampamentos, hotéis, pensões, como funcionário administrativo, ajudou a levar o progresso através das torres de energia elétrica de alta tensão. Obras geralmente realizadas em locais agrestes. Isso não impediu que Paulo Rossi mantivesse seu gosto e sensibilidade pela música clássica. Piracicabano por adoção, Paulo leva uma vida pacata, costuma caminhar pela cidade, pela Rua do Porto, admira o Rio Piracicaba, explora a Escola de Agronomia Luiz de Queiroz. Após morar em São Paulo por muitos anos, percorrer boa parte do Brasil, Paulo Rossi escolheu Piracicaba como seu porto seguro.
O Curso primário o senhor estudou em qual escola?
Estudei o curso primário no Educandário São José na Vila Leopoldina, o ginásio fiz no Olavo Bilac, na Lapa. Passei a trabalhar no Banco da América, ficava no Edifício Martinelli, térreo. Eu trabalhava meio período no banco, ou era das sete da manhã até a uma hora da tarde ou da uma até as seis horas da tarde.

O Banco da América era um banco grande?
Na época era. Foi um período em que havia muitos bancos em São Paulo.
O Edifício Martinelli foi considerado um dos prédios com maior glamour, como era trabalhar em um  lugar tão conhecido?
Na minha época, por volta de 1956, já não era mais aquele prédio tão elitizado como tinha sido antes. O centro de São Paulo era bem diferente, São Paulo já era uma cidade cosmopolita. Conheci o Mappin na Praça Ramos, ficava em frente ao Teatro Municipal.

Na época o senhor morava na Lapa, qual era o meio de transporte que era utilizado?
Eu morava na Vila dos Remédios, na época não havia um ônibus que fosse diretamente até a minha casa, eu tinha que pegar um ônibus ou um bonde até a Lapa e na Lapa tomava um ônibus até a Vila dos Remédios. Tomei muito o bonde “camarão” que era fechado e o bonde aberto também. Nessa época o centro era bem diferente, o metrô não existia ainda, muitos prédios foram demolidos para dar lugar às estações do metrô. A Rua São Bento, a Rua Direita, eram bem comerciais. Era o tempo em todos usavam terno, gravata. Havia cinemas que exigiam o uso da gravata para poder entrar. Os cinemas mais freqüentados de São Paulo ficavam no quadrilátero das ruas São João, Ipiranga, tinha cinemas ótimos: Marrocos, Ipiranga, Coral, Marabá, Metro, Ouro e muitos outros. Na época eu freqüentava o Ponto Chic, onde dizem ter sido criado o famoso sanduíche “bauru”. Freqüentei o famoso restaurante “O Gato Que Ri”, ficava no Largo do Arouche.

O Banco da América atendia algum perfil especial de clientes?
Não era um banco voltado a contas populares. Tinha muitas agências situadas nos bairros mais sofisticados de São Paulo.
E trabalhar no Banco da América significava ter um bom emprego?
Era bom, o salário era um salário digno. Tanto que permaneci por 14 anos trabalhando no Banco da América. Se não me engano entrei para trabalhar no banco em janeiro de 1957 e permaneci até 1971.
Nesse ano eu entrei em acordo com o banco, naquela época eu era optante, ser optante era não ter o Fundo de Garantia, depois surgiu o Fundo de Garantia. O optante tinha direito a estabilidade, não podia ser mandado embora. Para sair tinha que fazer um acordo com o banco.
O Banco da América S/A era de origem norte-americana?
Ele era brasileiro! Pertencia a família do Herbert Levy. Quando eu saí foi em um período em que o Banco Itaú estava incorporando uma série de bancos. Passou a ser Banco Itaú América, depois passou a denominar-se apenas de Banco Itaú.
O senhor chegou a usar aquelas máquinas contábeis, que tinham um “carro” enorme?
Usei. Na época existiam também umas fitas perfuradas aonde eram registrados os números, assim como cartões perfurados, mais tarde muito utilizados pelas lotéricas quando o cliente fazia uma aposta.
O que o senhor decidiu fazer após sair do banco?
Inicialmente reformei a minha casa, na ocasião eu morava na Vila dos Remédios. Uma parte do bairro pertence ao bairro da Lapa e outra parte pertence agora a Osasco. Nessa época minha mãe faleceu sete meses depois meu pai faleceu também. Decidi viajar, fui trabalhar com obras, fui trabalhar na SADE SUL AMERICANA que trabalhava na área de engenharia. Fui mandado para Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Como era Campo Grande na época?
Campo Grande já era uma cidade bonita, embora fosse uma cidade pequena ainda.
Qual era o trajeto que o senhor fazia para chegar de São Paulo à Campo Grande?
Embarcava em São Paulo em um ônibus da Viação Motta e descia em Campo Grande. Depois fui mandado para o Pantanal.
Que região do Pantanal?
Fui para Aquidauana, Miranda, Corumbá. É uma região muito bonita, pena que na época em que fui para lá havia muita queimada.
Havia muitos resquícios acentuados da população indígena, natural do local?
Ainda tinha. Até onde fomos fazer um acampamento em Miranda, funcionava a parada dos trens de carga, onde eram feitas as manobras, manutenções, era a localidade chamada de Guaicurus O trem era da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. A locomotiva era movida a vapor.

Vocês fizeram um acampamento usando madeira para construí-lo?
Em Miranda era de madeira. Havia a parte administrativa, onde funcionava o escritório, onde eram feitos os pagamentos.
Como era feita a comunicação com a matriz da empresa em São Paulo?
Era feita via rádio. Não existia outra forma. Peguei uma enchente muito grande em Miranda, o Rio Miranda subiu muito seu volume de águas. Encheu o Pantanal todinho, acabou com muitas pontes, tivemos que mudar para o Porto de Manga, já no Rio Paraguai. Perdemos documentos, até pessoas faleceram, caiu a ponte.
A empresa em que o senhor trabalhava fazia que tipo de obra no local?
Estávamos montando toda estrutura para transmissão de energia, em alta tensão. Ligava Campo Grande a Corumbá. Essas torres passavam todas pelo Pantanal. Era um solo difícil de trabalhar, as sapatas em que eram fixadas as torres eram enormes.
Quantos homens trabalhavam em cada torre?
Devia ter uns vinte ou trinta em cada torre. O material ia de caminhão até Campo Grande, depois seguia em caminhão mesmo ou trem de acordo com a conveniência. Nós montávamos as torres e puxávamos os cabos de transmissão de energia também.
Como era feita a seleção de pessoal para realizar esses trabalhos?
Em Campo Grande anunciávamos que estávamos admitindo funcionários e eles eram selecionados e mandados para nós. Era um trabalho difícil. Muitos não permaneciam mais do que três dias trabalhando. Tinha casos de malária. Quando alguém adoecia tínhamos que levar até Miranda ou Corumbá. A região era bem selvagem, com cobras, onças, jacarés, catetos.
Vocês tinham que entrar nas águas dos rios para trabalharem, havia piranhas nesses rios?
Tinha. Tivemos um caso muito lamentável, na época da enchente do Rio Miranda, quando caiu uma ponte, um dos funcionários ficou preso a ponte de madeira. O seu corpo foi encontrado três dias depois, havia sofrido ataque de piranhas.
Qual era o lazer do pessoal?
Era difícil. Nos finais de semana encaminhávamos o pessoal para Miranda ou Corumbá, onde cada um distraia-se da sua forma.
Os trabalhadores eram dedicados?
Eram. A administração era bem pesada. Havia engenheiros, a parte toda de montagem, era composta de profissionais muito qualificados.
Quanto tempo o senhor permaneceu no Mato Grosso?
Fiquei um ano ali. Acabou a obra, fomos transferidos. Fui para Irati, nas proximidades de Ponta Grossa. Irati era uma cidade pequena, a maior parte da população era composta por ucranianos, poloneses, russos. Havia algum tipo de discordância religiosa entre eles. Era algo enraizado que eles traziam de seus países de origem. Era uma cidade gostosa, com um pessoal muito trabalhador. Tinha cinema, havia um centrinho onde havia o footing ou paquera, juntava a cidade inteira naquele centrinho.

De São Paulo como o senhor foi para Irati?
Fui com o meu carro, um Fuscão, cor ocre, lá eu morava em um hotel de propriedade de uma família polonesa. Trabalhávamos muito, das sete da manhã até as sete ou oito horas da noite. A folha de pagamento do pessoal era feita por nós. Fazia admissão de pessoal.


O senhor freqüentava muito o cinema?
Freqüentava! O cinema era a minha paixão. Desde o tempo em que morava em São Paulo. 
Em Irati o senhor permaneceu quanto tempo?
Ficamos cerca de um ano, instalamos as torres, dali fui para Alagoinhas, na Bahia, a uns 130 quilômetros de Salvador. Alagoinhas era uma cidade muito boa, gostosa, não era muito quente, ficava mais na parte da serrinha que existe lá.
O senhor estranhou a alimentação?
Não estranhei, morava em uma pequena pensão, a comida era bem caseira, mesmo usando o tradicional óleo de dendê nunca tive problemas. Em Alagoinhas instalamos torres também, lá eu fiquei uns seis ou sete meses. Fui encaminhado para Santa Inês, no Maranhão. Ficava na época a uns 300 quilômetros de São Luís. Era uma cidade pobre. Não tinha energia elétrica, era tudo na base do motor, com gerador. Tinha o Rio Pindaré-Mirim, havia uma barca no meio do rio, o lazer era pescar.
Do Maranhão para que local o senhor foi?
Fui para Moreno, uma cidadezinha de Pernambuco, próxima a Jaboatão. Essa cidade recebeu esse nome porque tinha um cotonifício chamado Moreno, a empresa fechou, mas o nome permaneceu.
O senhor sentia diferença de um estado para outro no Nordeste?
Tinha sim. Pequenos detalhes, porém diferenciavam um estado do outro. A própria maneira de falar é uma delas. Musicas. Costumes. Há diferenças. As praias do Nordeste são muito bonitas. Em Pernambuco eu ia muito à Praia da Boa Viagem. 


Cada local tem uma festa típica, um santo de devoção. Recife é muito bonita, tem o frevo como característica própria. Olinda , cidade ao lado, tem construções muito importantes. Tive a oportunidade de conhecer a Paraiba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe.

Após esse período no Nordeste para que local a empresa o enviou?
Trabalhei uma temporada em Bertioga, no litoral de São Paulo. O acesso na época era difícil, era através de balsa, de Guarujá para Bertioga. Lá ficamos em uma república. De lá fui para Sinop.

Porque a cidade chama-se Sinop?
A origem é a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, nome da empresa responsável pela colonização do norte de Mato Grosso por agricultores do norte do Paraná, ali foi muita gente de Maringá. Eram 500 quilômetros de terra de Corumbá até lá, quando chovia era triste. No tempo da seca era uma poeira enorme. Sinop não tinha uma rua asfaltada, não tinha nada.
Qual era a diversão dos moradores?
Tinha um cinema. Já havia energia elétrica, tinha uma emissora de rádio, depois criaram uma emissora de televisão. Essa empresa imobiliária fazia o seguinte: para quem ia desbravar o campo eles davam um terreno na cidade para a pessoa construir uma casa. A cidade de Sinop foi uma pequena Maringá. Na época fizemos uma usina de álcool tendo como matéria prima a mandioca. A nossa empresa fez a parte elétrica.
O senhor é religioso?
Fui bastante. Sou católico, freqüentava muito a igreja. Tenho devoção a São José.
O seu gosto por música clássica como surgiu?
No inicio eu não gostava muito, depois passei a ouvir a Rádio Cultura, emissora de São Paulo, passei a gostar, hoje tenho uma boa seleção de músicas clássicas.
O que a música clássica traz ao senhor?
Sinto um bem estar, gosto bastante.
O senhor também gosta de música popular?
Também gosto, mas de música raiz.
O senhor toca algum instrumento?
Não, já tive vontade de tocar piano, no tempo em que freqüentava o Coral da Vila dos Remédios. O Padre Guerino, um italiano, tocava o órgão com muita perfeição. Isso na Igreja Nossa Senhora dos Remédios. Na época era uma capela, hoje é uma igreja muito grande. 
Até que ano o senhor permaneceu na SADE ENGENHARIA?
Trabalhei lá até 1982. A sede ficava bem no centro, na Avenida Ipiranga, a fábrica ficava em Jacareí.
Tive que trabalhar mais sete anos, fui trabalhar no Hospital Sepaco, na Vila Mariana. Lá trabalhei na parte de atendimento a pacientes, agendar, encaminhar aos médicos. Eu era encarregado da turma. Foi uma experiência diferente, fiz plantão a noite. Na época não tinha UTI no hospital era muito difícil transferir o paciente para outro hospital. Em 1991 eu aposentei-me.
Como o senhor escolheu Piracicaba para morar?

É que a minha irmã mora aqui. Eu estava morando em Peruíbe, sozinho. 

sábado, maio 30, 2015

ÁUREA DE MORAES LIBARDI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 

joaonassif@gmail.com 

Sábado 30 de maio de 2015

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

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ENTREVISTADA: ÁUREA DE MORAES LIBARDI

                

Áurea de Moraes Libardi, nasceu em Piracicaba a 12 de janeiro de 1940, filha de José Humberto Libardi e Lázara de Moraes Libardi. Seu pai trabalhava com seus avós paternos na lavoura de fumo, no Bairrinho. Filha única do casamento do seu pai em suas segundas núpcias. Ele foi casado em primeiras núpcias com Paulina Zandoná. A mãe de Áurea foi professora na Água Branca, Pederneiras. A última escola em que ela lecionou foi no bairro então denominado “Bimboca”, hoje Nhô Quim. Lá ela faleceu antes mesmo de aposentar-se. Seu tio Romeu Cândido de Moraes foi um homem muito conhecido em Piracicaba, quando começaram a aparecer os receptores de rádio, ele era um dos poucos técnicos que consertavam esse aparelho inovador, geralmente adquirido por famílias de posses. Romeu viveu uma grande paixão: o cinema, mais propriamente a sala de projeção e as complicadas e difíceis técnicas de realizar uma projeção de um filme com o menor número de falhas possíveis, um quase precursor do filme “Cine Paradiso”. Romeu amava o cinema. Formou-se professor, mas nunca exerceu a função. Outra paixão inexplicável era pelos automóveis da marca Dauphine e Gordini, chegou a ter seis veículos dessas duas marcas. Quem faz um relato da sua própria trajetória e a de seu tio Romeu é Áurea de Moraes Libardi.


A senhora começou seus estudos em que escola?
O primário  estudei no Grupo Escolar Moraes Barros, minha primeira professora foi Dona Áurea Godinho, no terceiro ano tive aulas com a professora Irene Gatti Bergamin, no quarto ano minha professora foi Dona Antonia Martins.
Existia nas imediações do Grupo Moraes Barros um estabelecimento característico daquela época, o tradicional empório ou pequena venda, a senhora chegou a conhecer?
Conheci! Era de propriedade do “Bento Chulé”, minha avó não gostava quando dizíamos que tínhamos ido até o “Bento Chulé”. Ela dizia que tínhamos que chamá-lo pelo nome correto: Bento Sampaio. O seu estabelecimento ficava na Rua do Rosário na esquina com a Rua Voluntários de Piracicaba, onde mais tarde a família Maluf adquiriu e construiu a casa que existe até hoje. Onde hoje é o Estádio Barão de Serra Negra, era um bosque. Lembro-me do Itapeva, eu ia brincar aqui embaixo, com as minhas amigas ( Nas proximidades de onde hoje é o Clube de Campo de Piracicaba). Íamos sem que nossos pais soubessem.
Como era o Seu Bento Sampaio?
Ele tinha esse barzinho, morava ao lado, era um senhor encorpado, cabelos brancos, era uma pessoa muito boa, tratava todo mundo bem. Tinha aqueles doces típicos de vitrine de bar, que a criançada olhava com olhar guloso.  Minha avó não deixava comermos aqueles doces. Quando minha mãe faleceu vim morar com a minha avó materna, Maria Cândida de Moraes, ela morava na Rua Tiradentes.

Após concluir o primário em qual escola a senhora estudou?
Fui fazer o ginásio no Instituto de Educação Piracicabano, na Rua Boa Morte. A seguir fiz o curso normal, e me formei professora em 1961. Meu pai faleceu no dia 10 de junho de 1961.
Após formar-se, a senhora foi lecionar em qual escola?
De 1962 a 1964 fui professora substituta no Grupo Escolar Prudente de Moraes. O diretor era Seu Dagoberto de Souza Coelho. Após esse período, com outras colegas fomos para São Bernardo do Campo, isso foi em 1965.  Lá fui professora substituta tanto na escola estadual como na escola municipal. Em São Bernardo dei aulas na escola do Jardim Ipê. Pela prefeitura lecionei no bairro Baeta Neves. Permaneci lecionando lá por uns três anos. Prestei concurso no Estado em 1964 só fui conseguir ser efetivada em 1968, em Salesópolis. Passei a residir lá. Fiquei de outubro até março do ano seguinte só que para chegar até a escola andava a pé seis quilômetros para ir e mais seis para voltar. Quando chovia era triste! Pedi remoção e volte para São Bernardo do Campo mesmo. O Dr. Cesarino foi Secretário da Educação, ele foi daqui de Piracicaba. Dei aula no bairro de Ferrazopolis, em São Bernardo do Campo de 1970 a 1976. Dei aulas em Santo André em um bairro chamado Cidade dos Meninos, pedi remoção para uma escola em São Bernardo do Campo, aonde as escolas eram bem atendidas pela prefeitura. Infelizmente, quando voltei lá, para mostrar ao meu filho a escola onde trabalhei, eu chorei. Tudo deteriorado! Antes a prefeitura cuidava daquilo com zelo. São Bernardo do Campo já teve a vocação de cidade do setor moveleiro, fabricava muitos móveis. Em 1976 eu voltei à Piracicaba. Fui dar aula no bairro do Recreio, próximo a Charqueada. Conheci Roberto de Morais, a família dele, eles tinham armazém lá, chamavam de Turqui, que é o sobrenome da família da mãe dele. Lá dei aula de 1980 até 1989. Dei aula por um ano no Jardim Sonia, em Santa Terezinha, o diretor era o Seu Tuffi Dumiti.
A senhora chegou a usar o famoso flanelógrafo para dar aulas?
Usei muito! De um lado era flanela e tinha uma espécie de lixa para fixar, era utilizado como material didático. Antigamente as crianças iam à escola para aprender, a educação era dada em casa.
A senhora vivenciou um período político agitado?
Conheci o Lula!  Eu ficava esperando o ônibus onde era a Brastemp, isso foi quando eu dava aulas em Ferrazópolis e mesmo no Jardim Ipê. O Lula passava todos os dias por ali. Passava a pé, todo mundo mexia com ele: Hei Lula! Já usava barba. Parece que ele ia até onde era o sindicato. E de vez em quando ele ia preso. Ele passava, cumprimentava.
Cumprimentava a senhora também?
Cumprimentava! Eu tenho a impressão que gostavam dele, todo mundo o cumprimentava, era bem popular.
A senhora é sobrinha de uma das pessoas que tinha uma importante função nos cinemas de Piracicaba?
Sou sobrinha de Romeu Cândido de Moraes. Ele sempre gostou de rádio, eletrônica, era técnico em conserto de rádios. Ele formou-se como professor na Escola Normal, hoje Sud Mennucci, só que nunca lecionou. A turma dele, de 1946, todo ano reunia-se, assistiam a missa na catedral e depois iam até o restaurante Brasserie para confraternizarem-se. A grande paixão dele era o cinema. Romeu Cândido de Moraes nasceu a 23 de abril de 1917, em Piracicaba. Ele mantinha uma oficina de consertos de rádios na casa da minha avó, isso no tempo em que o rádio funcionava com válvulas.
                                              Romeu Cândido de Moraes
Além do rádio, Romeu era apaixonado por cinema, isso o levou a trabalhar nos cinemas de Piracicaba?
Ele começou como ajudante de operador na Empresa José R. Andrade, o famoso Andrade de São Paulo, foi registrado no dia 1° de abril de 1938. Ele trabalhava nos cinemas a noite e a tarde quando tinha matinê. Às vezes ele ficava até altas horas consertando rádios.

Quando a senhora era mocinha chegou a ir ao cinema assistir filmes com o seu tio Romeu operando os projetores?
Ah, sim! Nós tínhamos o que chamavam de “permanente”, dava acesso livre a qualquer cinema onde ele trabalhava. Eram dois projetores, ele que fazia a troca dos rolos de filmes. Com isso eu assistia a muitos filmes, foi um tempo muito bom. Tive uma professora, Dona Melita, ela tocava piano e o marido tocava violino, isso no tempo do cinema mudo. Meu tio Romeu falava muito do Cine Íris, que segundo sei, ficava na atual Rua Governador Pedro de Toledo
Os filmes eram em forma de rolos e vinham de São Paulo?
Vinham de ônibus, pelo Expresso Piracicabano, eram rolos, dentro de uma embalagem metálica, um único filme muitas vezes era composto por várias latas, cada lata tinha uma parte do filme, era função do projetista deixar a continuidade do filme “no ponto” para não parar a projeção. 

Acontecia de quebrar parte da fita durante a projeção?
Era relativamente comum. Tinha que colar um pedaço do filme no outro. A platéia manifestava-se em uma grande algazarra. O Cine São José, hoje Teatro São José, era carinhosamente chamado pelo povo de “pulgueiro”. Minha tia gostava mais do São José do que do Broadway, ela achava o São José mais espaçoso, mais gostoso. Bastante gente daqui, como a família Tolaine, morava na esquina da Rua Tiradentes com a Rua Monsenhor Rosa, lá também tinham o Armazém do Tolaine, Dona Chiquinha Tolaine gostava de ir ao Cine São José. Eu ia a todos os cinemas, Politeama, Broadway. Minha tia, Lidioneta de Moraes Francisco casada com João Francisco, irmã do meu tio Romeu, era fanática por cinema, ela gostava muito de costurar, e se vestia muito bem. Ela via os modelos nos filmes e fazia idênticos. O Broadway depois mudou seu nome para Tiffany.

Artistas de filmes brasileiros vinham à Piracicaba para o lançamento do filme?
Lembro-me do filme “Armas da Vingança”, com a participação do piracicabano Gregório Marchiori. No Colégio Piracicabano estudava um índio, que foi criado pelos missionários ainda menino, ele estudava no Colégio Piracicabano, chamava-se Tapir Caiuá, ele fez cenas junto com o Gregório. A Olga Marchiori, mãe do Gregório, fazia fisioterapia com o filho do Tapir.
Seriados vocês não perdiam?
Seriados não se podia perder! Naquele tempo vendia-se bala dentro do cinema, os meninos com um tabuleiro ofereciam balas.
Seu tio Romeu, tinha outra paixão além do rádio e do cinema?
Ele gostava muito dos carros Dauphine e Gordini. Ele chegou a ter seis veículos dessa marca. O ultimo eu vendi. Era um Dauphine, a um senhor que já tinha insistido muito com o meu tio para vender esse carro. Ele não vendia. Após o seu falecimento, pensei o que vou fazer com esse carro?  Passado algum tempo, o homem que sempre se interessou por esse carro me procurou. Ele é de Limeira. Eu vendi. Após algum tempo ele trouxe-me o carro para que eu visse. A paixão desse homem de Limeira era esse Dauphine que saiu em1962, ele restaurou o carro todinho, colocou tudo original. Trouxe peças até da Argentina. Isso foi em um dia Sete de Setembro, muitas pessoas pararam para ver o carro.

O Seu Romeu faleceu em que ano?
Ele faleceu em 04 de março de 2006, com 88 anos. Ele andava sempre de paletó, até mesmo para ir fazer compras no supermercado. Antigamente até mesmo os balconistas e atendentes de lojas usavam roupa social, gravata. No cinema ninguém entrava se não estivesse usando gravata.
O tio da senhora, o Seu Romeu, comentava sobre os filmes que estavam em cartaz?
O Romeu era muito calado no ambiente doméstico. Na rua ele conversava. Quem era muito amigo dele era João Breglia. Ele ficava junto com um grupo seleto de amigos, em frente ao Cinema Politeama.
Ao lado do Cine Politeama existia uma bomboniere que deixou saudades?
Era o Passarela! Como eu gostava de ir lá! Ele tinha umas balas de coco queimado que era uma delicia. As queijadinhas, empadas.
O Romeu tinha algum colega de profissão com quem mantinha uma amizade mais próxima?
Tinha o Horácio Gorga. Ele gostava muito do Seu Max Graner. O Dr. Filipini era também um grande amigo. Ele conheceu Erotides de Campos. O Romeu gostava muito de ler, tinha enciclopédias, falava inglês. Meu avô, pai de Romeu teve açougue, minha avó contava que o açougue ficava na Rua Tiradentes, depois tiveram açougue em frente ao Grupo Moraes Barros, eles moraram aí. Depois se mudaram para o início da Rua do Rosário, antes do viaduto (que não existia naquela época), ali o bonde virava para ir para a Vila Rezende, era próximo a empresa ABIL existente hoje. Era uma casa que ia até o Itapeva, parecia um sítio. Nessa época que meu avô trabalhou muito com gado, cavalo, o pai do meu tio Romeu tinha propriedades, estava bem de vida. Meu avô em 1895 comprou um jazigo no Cemitério da Saudade para enterrar uma filha. Lembro-me  de que na Rua São José, quase na esquina da Rua Alferes José Caetano havia uma fábrica de gelo.


sexta-feira, maio 22, 2015

GILBERTO FRANZONI

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 16 de maio de 2015
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
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            GILBERTO FRANZONI COM A MEDALHA DE GRANADEIRO DO IMPERADOR

ENTREVISTADO: GILBERTO FRANZONI
O 1° Batalhão de Guardas é a versão atual do Batalhão do Imperador, criado em 1823 por D.Pedro I. É herdeira das mais gloriosas tradições da guarda pessoal do Imperador. D.Pedro I ,em outubro de 1822, mandou reunir no Campo de Santana todas as tropas da guarnição e escolheu, homem a homem, oitocentos militares, que logo passaram a integrar o Batalhão do Imperador. .
                        CERTIFICADO DE INTEGRANTE DO BATALHÃO DO IMPERADOR
Gilberto Franzoni é natural de Piracicaba, nasceu na Vila Rezende a 8 de fevereiro de 1943, filho de Paschoal Franzoni e Carmem Gutierrez Franzoni que tiveram ainda os filhos Antonio e Adilson. Seu pai trabalhou por muitos anos na Dedini. Gilberto iniciou seus estudos na Escola Imaculada Conceição, dirigida por freiras.
A escola era dirigida por freiras, eram aceitos meninos também?
Aceitava! Nós éramos sete meninos na classe e umas trinta meninas aproximadamente. Isso no início da década de 50. Lembro-me que tive aulas com a Irmã Boaventura, tinha a professora Dona Maria, que não era freira. Fui coroinha na capela do próprio colégio, o Instituto Baroneza de Rezende.  Na época as freiras eram todas brasileiras.
Aonde foi o seu primeiro emprego?
Fui trabalhar em um escritório de contabilidade, isso por volta de 1954 a 1955. Permaneci por uns dois anos trabalhando lá, o proprietário era Roberto Carvalho, conhecido como Coba, era na Avenida Rui Barbosa.
Quais eram as diversões comuns na época?
Saíamos da Vila Rezende e íamos aos cinemas: Politeama, São José, Colonial, Palácio, assistia a primeira sessão em um cinema, a segunda sessão em outro, depois pegava o bonde e ia para a Vila Rezende, às onze horas da noite.
Havia uma rivalidade muito grande entre os moradores dos diversos bairros, inclusive da Vila Rezende?
Era uma rivalidade bem forte. O bairrismo predominava.
A única linha de bonde das três que existiam: Paulista, Agronomia e Vila Rezende, a da Vila tinha dois bondes correndo no sentido contrário, e em determinado ponto havia um desvio na linha para dar passagem a um dos bondes, aonde era esse local?
Era na Rua Campos Salles.
Qual era a sua atividade no escritório de contabilidade?
Eu ia até as empresas que eram clientes do escritório, buscar os livros contábeis. A maior parte dos clientes era da própria Vila Rezende, havia clientes até do Areião.  Ia a pé. Às vezes me aventurava a utilizar a máquina de escrever, “catando milho”. Era uma máquina Remington. Após dois anos que permaneci no escritório fui trabalhar na Dedini, como ajudante do torneiro que era o Seu Henrique Stoccomo. Funcionava onde hoje é a Avenida Mário Dedini. Fui estudar no SENAI, fiz o curso de três anos, e passei a trabalhar em torno. O SENAI já era próximo ao Colégio Dom Bosco. Comecei o curso em 1956 e conclui em 1959. Naquela época eu ficava seis meses na escola SENAI e seis meses na empresa. Formei-me como torneiro mecânico. Fui trabalhar na seção que chamávamos de “Seção das Bombas”, onde eram feitas as peças voltadas à usina de açúcar. Eu só fabricava quem fazia as instalações e manutenções era o setor de ajustagem.
O senhor conheceu o Comendador Mário Dedini?
Eu o via quando passava pela seção. Era um homem forte, muito bom.
Os funcionários do Dedini iam muito ao Restaurante do Papini. O senhor ia também?
Eu ia ao Grisotto, que também ficava na Avenida Rui Barbosa. O Restaurante Grisotto foi fundado em 1947. O proprietário era Elpidio Grisotto. Naquela época a coxinha de frango feita pelo Grisotto era imbatível.
O bom ali era coxinha e chopp?
Naquele tempo lá não havia chopp, tomava-se cerveja Antártica, Faixa Azul!
A que horas o senhor entrava no serviço?
Entrava às seis e meia da manhã, ia almoçar em casa, naquele tempo não havia restaurante na empresa, eu morava em uma das casas de propriedade do Dedini. O Dedini havia construído muitas casas para seus funcionários. Era na Rua Dr.Kok, hoje Monsenhor Jerônimo Gallo,terminava na Capela São Luiz, quem construiu a capela foi Mário Dedini. Lá havia festas, ele participava.
Ali era uma região com muito mato?
Era muito mato, mais abaixo no Nhô Quim era tudo brejo. No Algodoal havia o famoso Bairro do Pitá. Tinha a plantação de sisal, de propriedade de Virgilio Lopes Fagundes.
Em que data o senhor passou a ser funcionário da Dedini?
Dia 10 de novembro de 1955 e saí em janeiro de 1965.  Trabalhei em uma oficina na Rua Moraes Barros chamada Roma,fazia cabeçotes de carros, sai fui para a Nardini, em Americana, fiquei um mês, fui para São Paulo trabalhar em uma empresa próxima ao Parque Antártica, fazia filtros de carros, chamava-se Impeca, fiquei dois meses lá. Voltei a Piracicaba e fui trabalhar na empresa Motocana, lá trabalhei de 1966 até 1987 onde me aposentei. Era de propriedade de Leopoldo Dedini e Arnaldo Ricciardi. Fabricava carregadeira de cana-de-açúcar. Foi uma das pioneiras no Brasil, tinha uma concorrente, a Santal, de Ribeirão Preto. A Motocana localizava-se na Rua Primeiro de Agosto, na Vila Rezende. Adquiriam um trator de linha, vindo da fábrica, e colocavam-se os implementos para transformá-lo em carregadeira de cana. Eu fazia a parte hidráulica. Usinava por dentro o tubo aonde ia o mecanismo hidráulico. Era sócio também o Bragion, que saiu e junto com o Sérgio D`Abronzo montaram a Hima-Transhid, uma empresa que teve muitos equipamentos comercializados. O Leopoldo Dedini colocou Roberto Carvalho como diretor da empresa.
Um fato que marca a vida do senhor até hoje é ter ido servir no Batalhão de Guarda, como isso se deu?
Foi em 1963, eu tinha 19 anos. Eu me alistei no Tiro de Guerra de Piracicaba, formamos uma fila, eu estava na frente, meu irmão logo atrás. O oficial que estava selecionando mandou que eu escolhesse o Rio de Janeiro ou Brasília para ir servir. Meu irmão foi dispensado do serviço militar.
                                                           GILBERTO FRANZONI
O que passou pela sua cabeça na hora?
Fiquei em dúvida. No ano anterior, em 1962 já tinha ido um pessoal servir o Exército em Brasília. Decidi optar por ir para o Rio de Janeiro, fui servir no Primeiro Batalhão de Guarda, no bairro São Cristovão.

Estamos falando de 1963, a véspera da Revolução de 1964.
Eu dei baixa em dezembro, a revolução foi em março do ano seguinte. Eu tinha servido onze meses e pouco.
Após ser selecionado aqui em Piracicaba, como foi essa viagem ao Rio de Janeiro?
Fomos de trem da Companhia Paulista até Campinas. Em Campinas fomos para o G Can, um ônibus nos levou até lá. Ficamos uns três ou quatro dias no G Can, até que um ônibus da Viação Cometa nos levou até São Paulo, para embarcar na  Estrada de Ferro Central do Brasil na Estação  Roosevelt. Foram vinte horas de viagem de trem de São Paulo ao Rio de Janeiro. Descemos na Estação Central do Brasil  no centro da cidade do Rio de Janeiro. A cidade era muito bonita, eram outros tempos, sem tanta violência. Lá estava nos esperando o caminhão do Exército. Assim que chegamos já fizemos os exames médicos, cortamos o cabelo a moda militar e fomos fotografados. Dali a uma semana nós recebemos o fardamento. Tinha a farda para tirar guarda, farda de passeio, calção azul para ginástica.
O Batalhão da Guarda tinha alguns requisitos especiais?
Quando era tocada a corneta tinha um tempo para descer do alojamento, já fardado e armado. Usávamos a metralhadora INA. O pessoal que tirava guarda no quartel usava o mosquetão.
Era obrigado a saber a desmontar e a montar a arma?
O mosquetão sim. A metralhadora era simples. No quartel quem tirava guarda era a CIA. CPP. A Primeira, Segunda e Terceira Companhias tiravam guarda fora do quartel: no Ministério da Guerra, Monumento aos Mortos, Estande de Tiro, Palácio Laranjeiras, que era onde ficava o Presidente da República.
Na época o presidente era João Goulart?
Ele tinha assumido com a renuncia de Jânio Quadros, foi um período de muitas greves.


O senhor chegou a conhecer a primeira dama Maria Thereza Goulart?
Só de vista. Era uma mulher atraente.
Quantos soldados compunham o Batalhão da Guarda?
Éramos mil soldados. Hoje ao que consta são seiscentos soldados do Batalhão da Guarda.
Vocês formaram um grupo com características próprias, que se mantém unidos até hoje?
Ao chegarmos não conhecíamos ninguém, conhecia daqui de Piracicaba o Roberto Simioni, o Lalá, da Loja do Lalá, o Leleca Rossin, Moacir, Manarim, Galvani.
Qual era o seu nome de farda?
841 Franzoni.
Foi criado um grupo de Veteranos de Piracicaba e cidades da região que foram soldados do Batalhão da Guarda?
Na ultima ida nossa foram 15 companheiros para o Rio de Janeiro. O José Rolin vem de van de São Paulo, passa me pegar, passa pegar o Gamaleão, vamos buscar mais três companheiros em Rio Claro e quatro em Limeira. Quando fomos convocados, de Piracicaba éramos 180 soldados. Estimo que estejam vivos mais de uma centena desses soldados.  
No Rio de Janeiro vocês ficam hospedados onde?
Ficamos alojados no quartel. Não há nenhum custo. Só tomamos o café da manhã e saímos passear, não almoçamos nem jantamos no quartel. No ano passado reformaram o alojamento, ficou muito bonito. O quartel é de 1870, é a antiga Cavalaria, RCG. O General Figueiredo foi desse quartel. O nosso quartel, onde ficamos quando servimos, foi vendido para a Guarda Civil a poucos anos.
Quando vocês chegam qual é a reação dos militares que estão na ativa?
Geralmente chegamos à noite, o sargento do dia nos recebe e leva-nos para o alojamento. É mandada uma lista antecipadamente dos visitantes. Isso geralmente ocorre na quinta feira. Na sexta feira é feita a festa da entrega do “braçal”, se tiver 400 soldados para receberem o braçal, terão também 400 madrinhas. No nosso tempo não havia esse tipo de cerimônia. Geralmente no dia seguinte a nossa chegada, somos recebidos por um coronel, que nos conduz a uma sala, onde estabelecemos um dialogo. Somos convidados a entregar as medalhas aos soldados que se destacaram. É montado um palanque onde ficam as autoridades militares, nós somos convidados a permanecer juntos a eles.
O Exército valoriza seus ex-soldados?
Eles gostam muito de nós. Sempre dizem que não precisamos ir apenas a dia de festa, de entrega dos braçais, que ocorre geralmente no Dia das Mães, mas que terão o prazer em nos receber sempre.
Geralmente quantos dias vocês permanecem no quartel?
Em torno de quatro dias. Cada coronel tem uma norma própria de conduta, alguns mandam dois tenentes nos acompanharem, armados. Sempre nos recomendam sobre os cuidados a serem tomados, quais locais e horários são mais convenientes, como por exemplo, o passeio no bondinho sobre o Complexo do Alemão, a noite não é recomendado passear no mesmo. Nesses passeios turísticos não estamos acompanhados de escolta.
O que o senhor sente ao ser valorizado por uma instituição como o Exército?
É uma satisfação indescritível. Após o soldado receber o braçal há o desfile, e nós abrimos o desfile, vamos em trajes civis, existe uma camisa personalizada que usamos, está escrito BG. Logo em seguida, acompanhando-nos vem a tropa com uns 400 soldados. Geralmente o tenente-coronel nos acompanha.
Há um hino característico do Batalhão de Guarda?
Existe um CD com músicas executadas pela Banda Sinfônica do 1° Batalhão de Guardas comemorativo aos 180 anos de existência do Batalhão de Guardas, fundado em 1832 e que realizou esse CD em 2012.
Em algum momento o senhor pensou em seguir a carreira militar?
Fomos convidados para ir servir no Canal de Suez, mas da nossa turma ninguém aceitou. Houve muitas melhorias na profissão militar. Quem cursa a Academia de Agulhas Negras já sai com o posto de tenente. No meu tempo era mais difícil, um capitão já tinha mais de cinqüenta anos.
Há locais históricos conservados pelo Exército?
O Forte de Copacabana com canhões Krupp, a Fortaleza Santa Cruz, em Niteroi,  uma das mais antigas instalações militares do Brasil, onde a prisão permite que o preso fique só deitado, ele não consegue ficar em pé, pela altura do teto. A Academia Militar de Agulhas Negras. São lugares muito bonitos, que visitamos.

Em 1963 a situação política do país estava delicada, isso o preocupava?
Não, só fui até o aeroporto, Cinelândia, na Central do Brasil, tinha muita greve, os trens paravam. Havia uma tensão no ar.
O soldado do Exército era respeitado pela população?
Muito.



sexta-feira, maio 15, 2015

ANSELMO PEREIRA RODRIGUEZ

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 

joaonassif@gmail.com 

Sábado 9 de maio de 2015

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/




ENTREVISTADO: ANSELMO PEREIRA RODRIGUEZ


Anselmo Pereira Rodriguez nasceu a 16 de março de 1937, em Ponte Vedra, Provincia de Galícia, Espanha.Filho de Domingos Pereira Presa e Pilar Rodriguez Esteves. Casado com Neyde Marly Barnez Rodriguez, nascida em São Paulo, nascida a 23 de junho de 1937, filha de imigrantes espanhóis. Anselmo é o filho mais novo de seis irmãos: Maria, Manoel, José, Domingos, Antonio e Anselmo. Atualmente Anselmo e Neyde residem em Piracicaba.
Os pais do senhor exerciam qual atividade na Espanha?
Eram agricultores, um agricultor espanhol geralmente plantava de tudo: milho, centeio, trigo, muita uva. Meu pai tinha uma serraria. Naquela época para curtir couro usava-se casca de carvalho. Ela era retirada, deixava secar e depois se mandava para as indústrias.
Nessa época a energia era fornecida através de usinas ou era energia gerada por moinho com roda água?
Já existia a energia elétrica e também se usava a energia gerada em moinhos movidos a roda de água. A energia elétrica era utilizada na serraria que trabalhava com carvalho, pinho de riga e a energia do moinho de água era mais para moer grãos: trigo, milho. Como na época havia muito pouco trigo fazia-se muito pão de milho, assado no forno a lenha. Era um pão forte, fazia-se o que era chamado de “miga”, um pão amassado composto por uva e alho. O pão era amassado primeiro com o alho, eram cozidos, formava-se uma pasta, tinha-se uva a vontade ao lado e se comia. Era um prato forte, essa é uma característica que tínhamos na Espanha, todos os alimentos eram muito fortes. Meu pai fazia vinho, tínhamos o tinto e branco. Fazíamos o vinho xerez , em castelhano, jerez, um tipo de vinho fortificado, licoroso o vinho alvarinho. Estávamos muito próximos da fronteira, da minha casa até Portugal levava uns quarenta minutos. Tínhamos dois pontos para atravessar a fronteira: Salvaterra de Miño e por Tui, onde havia a ponte internacional, muito vigiada no tempo de Francisco Paulino Hermenegildo Teódulo Franco y Barramonde, ou simplesmente Francisco Franco, general e chefe de estado espanhol. Franco liderou um governo de orientação fascista na Espanha de 1936 até sua morte, em 1975. Essa ponte tem uma curiosidade, só passava trem da Espanha para Portugal, há uma história que se conta, de que quando foi inaugurada, era uma ponte muito alta, Portugal e Espanha fizeram um tratado, o trem que conseguisse passar primeiro tinha o direito de vir para a cidade, dizem que os portugueses foram até a metade da ponte, parece que voltaram. Já o maquinista espanhol pôs toda a velocidade na maquina dizendo: “-Se cair, que caia!” e passou! E assim ficou, a Espanha tinha o direito de ir à Portugal, mas Portugal não tinha o direito de atravessar a ponte para vir a Espanha.

Havia escola nas proximidades?
Tinha, não podíamos faltar. Trabalhávamos no campo ajudava. Na época da colheita o dia clareia cedo, íamos para o campo com os pais.
Com que idade o senhor começou a trabalhar?
Acho que comecei a trabalhar com a idade que comecei a comer. Andava na frente do boi, naquela época não tinha trator. A terra era arada por quatro bois. Os bois recebiam o nome de Malhado, Pintado, Galhado. Como o tempo esquentava muito tínhamos que estar de madrugada no campo, depois esquentava muito e os bois se cansavam. Saíamos cedinho, nem tinha clareado e já estávamos no campo. Tinha que levar o adubo, colocar o adubo todo no campo. Depois vinha o arado. Alguns iam ajudando com as enxadas, nos cantos, onde não entrava o arado direito, meus irmãos e minha mãe iam fazendo esse trabalho. Umas nove, nove pouco, a minha mãe vinha em casa, pegava o almoço e levava para o campo. Era uma vida muito difícil, embora sempre estivéssemos sempre alegres e muito contentes. Era tuda na tração animal e pessoal, não havia maquina nenhuma.



O senhor tinha noção do tamanho da propriedade?
Nós tínhamos muitas propriedades, não muito grandes, mas eram propriedades muito boas. Nós íamos para o campo, em torno das oito horas da manhã, minha mãe nos arrumava direitinho e íamos para a escola, a pé. Fazíamos uma corrida com a piçarra debaixo do braço.
O que era piçarra?
Não havia caderno. Era uma pequena lousa de piçarra, com madeira em torno dela e um piçarrim para escrever nela. Era uma lousa (de piçarra) e uma espécie de giz (piçarrim).
E para apagar o que tinha escrito como se fazia?
Apagava-se com a mão ou com um paninho.
O senhor lembra-se do nome de alguma professora?
Lembro-me do nome de um professor, Dom Antonio, naquela época não estudavam meninos e meninas na mesma classe. Havia classe de homens de um lado e classe de mulheres do outro lado. Tive outro professor por dois anos, José Açores, que por sinal depois ele veio para o Brasil. (José Ozores ou José Açores é o famoso Pepe Gordo que foi procurador do Pelé). Ele tinha muita amizade com o meu pai, vinha tomar chocolate quente em casa, com meu pai. Aprendi muita coisa com ele, se não aprendesse apanhava! Professor naquela época usava palmatória, dava sopapo. Depois fui estudar com Dom Francisco, sacerdote da nossa aldeia. Ele disse ao meu pai: “- Domingos! Você poderia colocar este seu filho para estudar no seminário. Aí eu já não ia mais para o campo. Ia de manhã para a escola, voltava, almoçava e ia estudar com o sacerdote.
Qual era o padroeiro?
O santo padroeiro da nossa cidade era São Pelágio (ou Paio), natural da Galícia. Após a preparação, entrei para o Seminário Diocesano de Tui. Era encostado com o Rio Minho, de Portugal. Lá permaneci por dois anos como seminarista interno.

A vida como seminarista interno era rigorosa?
Era muito rigorosa. Pior do que se estivesse no exército. A comida era horrível, os padres muito rigorosos. Tinha sempre um cheiro forte de lentilha. Se aparecesse uma lacraia na alface, tirava-se aquele pedaço e comia o resto. Ou comia aquilo ou não comia nada, não havia outra coisa para comer. Naquela época existiam poucos seminários na Espanha, portanto estavam todos muito cheios. Havia poucos padres, nós chamamos os padres de curas, os padres das cidades incentivam os pais para mandarem os filhos para o seminário.
Como funcionava, havia um dormitório amplo?
Era um salão muito grande, as caminhas uma ao lado da outra, isso logo que o seminarista ingressava ao seminário, os alunos do terceiro ano ficavam em um salão, os do quarto ano em outro salão, eram todos separados por ano que estudavam. E sempre passavam os chamados reitores de disciplina, andavam de um lado para outro, para ver se estávamos dormindo, conversando com um amigo. Por volta das oito horas da noite batiam o sino todos tinham que ir dormir. As seis horas da manhã tocava o sino, lavávamos rapidinho. Naquele frio tinha que tomar banho frio e andar sempre limpinhos. As vezes usávamos a alça-coelho, era colocado no pescoço, branquinho, algumas vezes jogávamos futebol, toda semana ou de quinze em quinze dias, a minha mãe, meu pai ou minha irmã, iam me levar um pouco de comida e roupas limpas.  Nos seminaristas, às vezes lavávamos alguma peça de roupa, púnhamos embaixo do colchão, de manhã estava sequinha! De manhã levantávamos íamos à capela, fazíamos a oração, tudo em latim, depois íamos tomar café, em seguida íamos para a aula, tínhamos aulas o tempo todo, até o a hora do almoço, em seguida tinha o recreio, voltávamos, descansávamos uns quinze ou vinte minutos, íamos fazer a oração da tarde, essa era a nossa rotina de segunda a segunda, aos domingos era bom porque tínhamos as visitas. Só íamos de férias para casa no Natal. Aí passávamos um mês e pouco em casa.
Quanto tempo de estudo o senhor tinha para tornar-se padre?
Eram doze anos de estudos, eu estudei dois. Eram dois anos de latim, cinco de filosofia e cinco anos de teologia. Eu entrei para o seminário com doze anos. Durante as nossas férias havia muitas festas religiosas, em louvor ao nosso padroeiro. Eu acabava voltando para o seminário porque tinha medo em dizer ao meu pai que não queria ir mais.
Até que o senhor decidiu não continuar no seminário?
Eu cheguei junto ao padre orientador espiritual e disse-lhe que não suportava mais aquela vida. Ele escreveu uma cartinha muito bonita para o meu pai, Disse-me: “-Já que você não tem vocação, leva esta carta e entrega ao seu pai!”. Entreguei. Meu pai não gostou muito. Voltei a trabalhar na lavoura, onde permaneci até os 18 anos. Nesse meio tempo meu pai faleceu, quando ele era vivo ninguém saia de perto dele. Apareceram uns parentes da minha mãe que estavam aqui no Brasil, foram visitar a minha mãe. Conversei, perguntei se não poderia vir ao Brasil com eles. Tinha que ter uma carta convite emitida no Brasil, com o trabalho garantido aqui. Havia uma lei que determinava que em cada dez funcionários sete devesse ser brasileiros e três poderiam ser estrangeiros. Acabei embarcando no navio
Santa Maria, vapor português, no Porto de Vigo 16 de abril de 1955.
A viagem demorou quantos dias?
Foram treze dias de viagem, aportei em Salvador, Bahia. Meu primo já estava me esperando, fiquei morando com eles na Cidade Alta, na Avenida Sete de Setembro. Eles tinham um estabelecimento comercial, a Sequeiros & Rodriguez Cia. Ltda., fui trabalhar com eles na Cidade Baixa, na Rua Campos Salles,63. Fiquei lá quatro anos.
O senhor sentiu-se mais livre no Brasil?
Aqui eu tinha muito mais liberdade, na Espanha as regras eram rígidas. Tinha muitos espanhóis, nos reuníamos para ir à praia aos domingos. Com a língua logo me adaptei.
Sai dessa empresa e fui de ônibus para o Rio de Janeiro, tentar a sorte lá. Não consegui nada, fui então para Belo Horizonte. Também não arrumei nada lá, vim para São Paulo. Em São Paulo fiquei no Bairro Santa Cecília. Fiquei muito impressionado com aquelas avenidas enorme. Fui até a Praça da Republica, tinha um primo que trabalhava lá no escritório da Swift, onde era promotor. Ele era muito conhecido dos supermercados Peg-Pag. O primeiro supermercado do Brasil foi o Sirva-se, aberto em 1953 em São Paulo. Em 1957 São Paulo ainda vivia com seu comércio de armazém e vendas, mercearias e quitandas; foi aí que inauguraram o primeiro supermercado na Rua das Palmeiras: o Peg Pag.Fui trabalhar como repositor.Em pouco tempo passei a ser chefe do depósito. Permaneci lá por uns dois anos. Tinha que digitar o valor e a seção a qual pertencia o produto. Aos sábados eu trabalhava nos caixas também. Naquela época caixa trabalhava com gravata. Para entrar no cinema tinha que ir de gravata. Isso foi por volta de 1959. O centro de São Paulo era muito bonito, você podia andar tranqüilo. Conheci a minha esposa em uma festa de família, nos casamos na Igraja Santa Margarida Maria, no bairro Aclimação, fomos morar ali perto em um apartamento na Aclimação mesmo.




(No Brasil o primeiro supermercado da cidade, e do Brasil, foi inaugurado em agosto de 1953, com o nome 'Sirva-se'. Ficava na esquina da rua da Consolação com a alameda Santos. Os proprietários tentavam pela primeira vez implantar aqui o sistema norte-americano de vendas no varejo, o auto-serviço, como era chamado, que possibilitava uma escolha mais livre dos produtos por parte do consumidor, dispensando a presença do vendedor.
O Estado de S. Paulo - 4/9/1953)


No Brasil. O primeiro supermercado da cidade, e do Brasil, foi inaugurado em agosto de 1953, co

Como o senhor fazia  para ir trabalhar na Rua das Palmeiras morando na Rua Lins de Vasconcellos na Aclimação?
Ia de ônibus, bonde. Havia muitos restaurantes espanhóis no Brás, o La Coruña já existia. No Largo da Concórdia tinha dois ou três restaurantes espanhóis. Íamos comer o cozido, o puchero, polvo. Os espanhóis todos tinham uma bota de vinho.
O senhor continuou no Peg Pag?
Não, eu saí para montar um barzinho na Rua Japurá, na Bela Vista. É uma região onde moravam muitos italianos e espanhóis. Ali tive a honra de conhecer Agostinho dos Santos
                                                      AGOSTINHO DOS SANTOS

 e José de Vasconcellos,




                                                         JOSE DE VASCOLNCELLOS

foram tomar café ali em uma madrugada. Após uns oito meses vendemos e fomos para a Pompéia. Compramos um restaurante, trabalhávamos em baixo e morávamos em cima. Era na Avenida Pompéia próximo ao campo do Palmeiras. Ali os jogadores do Palmeiras vinha comer bife na chapa com cerveja. Conheci vários jogadores do Palmeiras: Gilmar, Ademir da Guia. Estávamos começando a ter um progresso maior, quando deu uma enchente muito forte. Perdemos tudo. Fomos para a casa da minha cunhada. Arrumamos um apartamento na Rua Vergueiro e mudamos para lá. Eu arrumei um serviço na Rua Pinheiros. Voltei a trabalhar como empregado de uns franceses que tinham comprado As “Lojas Três Leões" uma loja de departamentos. Eles transformaram nos “Supermercados Sugar”. Ficava próximo ao Largo da Batata. Ali permaneci cerca de um ano. Fui trabalhar com um primo meu que tinha um hotel no Brás. Trabalhei um bom tempo lá.
Associei-me a um espanhol, adquirimos um bar na Rua Augusta, dois quarteirões abaixo da Avenida Paulista, no sentido centro. Era um desfile de uma multidão aos finais de semana. Ali foi bar, lanchonete. Ficamos ali um bocado de tempo.
É um ponto excelente?
Muito bom. Coloquei certas restrições, pela manhã não vendia bebida alcoólica. Tinha muitas boates na redondeza, o pessoal saia das boates e queriam continuar a beber. Atrapalhava os clientes que queriam tomar o café da manhã. 


                                            ROBERTA CLOSE   A Roberta Close tomou muito café ali. Era uma menina perfeita, muito bonita. Muito educada. Ela sempre vinha com as amigas tomava café. Eu abria o estabelecimento as seis horas da manhã, meu sócio fechava em torno da meia noite. Ali passavam muitos artistas para tomar café. Tínhamos seis funcionários.
O senhor era querido ali naquela região?
Era respeitado.
O ultimo emprego do senhor foi onde?
Foi em um hotel de propriedade de dois primos na Rua General Olimpio da Silveira.
O senhor voltou à Espanha?

Estive diversas vezes, a passeio, ficava hospedado na casa paterna.  A Espanha evoluiu muito, os campos hoje são todos trabalhados com máquinas, cada um com seu celular. 

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