sexta-feira, setembro 11, 2015

MARIA BARBOSA MELLEGA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS 

JOÃO UMBERTO NASSIF 

Jornalista e Radialista 

joaonassif@gmail.com 

Sábado 12 de setembro de 2015.

Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana 

As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:

http://blognassif.blogspot.com/
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ENTREVISTADA: MARIA BARBOSA MELLEGA


Maria Barbosa Mellega nasceu a 13 de dezembro de 1937 em uma fazenda próxima a Artemis, quando tinha dois anos a sua família mudou-se para Piracicaba. É filha de José Barbosa Galvão e Rosalina Clemente Barbosa que tiveram seis filhos: Lázaro, Pedro, Benedito, Antonio, Maria e Manoel Luiz. Seu pai trabalhava na Fazenda São Pedro, quando se mudou para Piracicaba passou a ser empreiteiro com uma turma que realizava serviços na agricultura. Maria Barbosa Mellega, a Dona Maria da Biblioteca do Colégio, quando tinha 12 anos ajudava a sua tia que tinha uma cantina no Colégio Piracicabano. Torrava café, buscava doces, carregava gelo em uma bolsa de pano que pingava pelo caminho. A cantina ficava perto do muro que separava as áreas femininas e masculinas. Haviam janelas separadas para servir aos meninos e as meninas. Antonio Mellega nasceu a 28 de maio de 1932, em Rio das Pedras, filho de Luiz Mellega e Teresa Perboni. Realizou seus estudos em Piracicaba no Instituto Cultural do Trabalho, curso de Sindicalismo e Cooperativismo nos Estados Unidos. Realizou viagens referentes ao sindicalismo ao México e Canadá.
Em que escola a senhora iniciou seus estudos?
Estudei na escola que ficava ao lado da Igreja dos Frades, o prédio existe até hoje.
Em que bairro a família veio morar?
No bairro da Paulista, na Avenida Madre Maria Teodora, dois quarteirões abaixo da Praça Takaki, na época era conhecido como Morro do Enxofre, chão de terra onde passava boiada, caminhão carregado com cana-de-açúcar. Em frente à Igreja dos Frades, onde hoje é um jardim eram realizadas as quermesses. Nos fundos havia um salão de festas, após celebrar o casamento na igreja iam comemorar no salão. Havia o trem da Companhia Paulista, todo o domingo ia esperar a chegada do trem. Durante a semana não dava para ir. Minhas amigas e eu íamos esperar o trem do meio dia. Nos arrumávamos para irmos. Eu tinha 11 anos. Tinha um mocinho que vendia revistas no trem, nós íamos só para vê-lo chegar, nem conversávamos com ele. Ele chamava-se Ariovaldo. Dali a pouco todos iam embora, o trem fazia a manobra para voltar. Era trem a vapor. Em frente a estação havia a sorveteria do Amstalden, nas imediações morava a dupla de cantores Cachoeira e Diamante. Fui fazer o curso preparatório para ingressar no ginásio. Só que na época ocorreu uma crise financeira. Tive que ir trabalhar.  

Em que lugar a senhora foi trabalhar?
Fui trabalhar na Sapataria Santo André, de propriedade de João (Joanin) Fustaino, situada na Rua Joaquim André, na época eu tinha por volta de 14 anos. Em frente havia uma casa muito bonita, de propriedade de Agostinho Scalise, fazendeiro. Tinha uma escada majestosa, uns desenhos alusivos a gado. Na outra esquina era o Perina, acredito que trabalhava com material elétrico. A Regina Perina é filha do proprietário na época. Permaneci na loja de calçados Santo André por volta de um ano e meio, Quando casei, eles foram meus padrinhos.
Com quantos anos a senhora casou-se?
Tinha dezesseis anos quando casei-me com Antonio Mellega. Ele tinha trabalhado com o Giovanni (Joanne) Ferrazzo na Fábrica de “Vassouras Canta Galo”. Depois ele trabalhou na Vila Rezende, com o Gianetti na “Fábrica de Vassouras Elefante”. Até que depois ele abriu a própria fábrica, chamava-se “Nossa Senhora Auxiliadora” ficava onde naquele tempo era camada de Bimboca, na Rua Manoel Conceição, entre a Travessa Luis de Bragança e Avenida Lourenço Ducatti. Moramos muito tempo na Rua Dona Santina. Dona Santina era tia do meu marido. O meu sogro, Luiz Mellega, que tem seu nome em uma das ruas do bairro, tinha um bar na esquina da Rua Dona Santina com a Rua Dr.Eulálio, antes o bar era do Osvaldão, depois meu sogro comprou. Ali em volta era brejo, meu sogro é que tomava conta. Quando eu fui para lá, só tinha o Hospital dos Fornecedores de Cana, era pequeno, do lado do hospital havia uma cerca de arame, dessas que se estica e prende-se em um arame no mourão, muito comum em áreas rurais. Do outro lado só tinha o Mário da Baronesa (Mario Areas Witier), minha tio, tio, primos, por parte do meu marido eram funcionários do Mario. Nós íamos muito lá. Conheci o Mario, a sua esposa Da. Mercedes, lembro-me da Da. Vitalina, que era cozinheira. O Mario teve os filhos, Ana, Nice, Marinho e outra filha, se não me engano Luisa. Nesse tempo eu já era casada.
A senhora casou-se em que igreja?
Casei-me na Catedral de Santo Antonio no dia 15 de maio de 1954.

          (09-06-2013) Ernst Mahle - Catedral de Piracicaba

Como foi o namoro da senhora e o seu marido?
Naquela época existia muita rixa de um bairro com outro bairro. Eu morava na Paulista e ele na Vila Rezende. Cada vez que ele ia namorar passava um aperto, o pessoal esperava ele descer do bonde. Do ponto de bonde onde ele descia até a minha casa tinha bastante bar, meu irmão às vezes esperava ele descer do bonde para acompanhá-lo até a nossa casa. . Depois ele começou a ir de carro com os famosos “biribas” (automóveis Mercedes-Benz, diesel, que eram utilizados por taxistas). O problema era na hora dele voltar, os pontos de biribas não tinham telefone. Namoramos só nove meses. Em casa eram cinco homens, só eu de mulher. Meu marido disse: “-Vamos casar, está muito difícil!”.
Ele continuou com a fábrica?
Ele parou com a fábrica de vassouras e interessou-se pela vida sindicalista, isso foi em 1964. Fez curso, foi para os Estados Unidos onde fez diversos cursos inclusive de cooperativismo. Nos Estados Unidos ele permaneceu três meses. Quando voltou dedicou-se ao sindicalismo, pertencia ao CNTI- Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria de Brasília. E atuou no setor religioso.
                                ANTONIO MELLEGA HOMENAGEADO "EM QUEM É QUEM"


                                                          ANTONIO MELLEGA
Ele representava o sindicato de qual categoria?
O sindicato do papel, hoje denominado Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Papel, Papelão e Cortiça,cujo presidente hoje é Francisco Pinto Filho, o Chico. Meu marido que fundou o sindicato. Ele fundava sindicatos. Em Campinas, Santa Bárbara   D `Oeste, Capivari, Piracicaba, Americana. Meu marido trabalhou com o Lula, com a Dilma, com o Fernando Henrique, Ruth Cardoso, isso foi em 1964. Ele ficava mais em São Paulo do que em Piracicaba. Foi um período em que meu marido passou por muito aperto devido a situação política daquele momento. E eu sofria muito com isso tudo. Ele trabalhava em um sindicato em Americana, tinha que descer do ônibus um ponto antes ou um ponto depois. No ponto correto em que ele deveria descer tinha alguém esperando.  Ele fundou também o Sindicato dos Motoristas de Ônibus em Americana.
Ao fundar um sindicato o objetivo era oferecer as melhores condições ao trabalhador agindo sempre com lisura. Meu marido, Toninho, conheceu o deputado Rubens Paiva,

Quantos filhos vocês tiveram?
Tivemos seis filhos: Rosani, Antonio Celso, Marli Terezinha, Elide Regina, Eliana Cristina e Andrea Cristiani.
Ele atuou até aposentar-se no Sindicato em Americana?
Ele ia trabalhar de ônibus. No final, quase aposentando conseguiu adquirir um carro. Mas vida inteira ia de ônibus, levava marmita, o objetivo dele era defender o trabalhador. Lá ele atuava no Sindicato dos Empregados em Empresas de Ônibus. Tinha muitas reivindicações junto a AVA – Auto Viação Americana e a Auto Viação Ouro Verde.
Com seis filhos a senhora não tinha outra atividade a não ser cuidar das crianças?
Eu ainda costurava, de madrugada às vezes, levantava da máquina não agüentava nem andar. Cortava, costurava roupas femininas. A nossa família é grande, sempre costurei para eles. Além dos filhos tinha meu marido, meu pai e minha mãe em casa. Por duas vezes fiz a matricula para estudar inglês, não consegui, não tinha tempo para estudar.

Como a senhora foi trabalhar na biblioteca do Instituto Piracicabano?
Fiquei sabendo que estavam ampliando a escola e contratando funcionários, em minha carteira consta como início 1º de Maio de 1977 como meu primeiro dia de trabalho. Fui, passei pelo teste com Levi Cachioni, fiz uma entrevista com a Marisete, no dia seguinte comecei a trabalhar na secretaria. Após dois anos fui para o Campus Taquaral, trabalhava das 14:00 ás 18:00 horas e das 19:00 ás 22:30 horas. Eu mudei na Rua do Rosário esquina com a Rua XV de Novembro, a dois quarteirões do Colégio. Pedi para ser transferida para o Campus Centro. Aposentei-me em 1997, mas continuei trabalhando até 2004. Eu trabalhava na biblioteca. Sempre tive amor pelos livros. Se eu fechar os olhos lembro-me perfeitamente das seções principais onde se encontravam os livros respectivos aos assuntos. Tínhamos na biblioteca do Campus Centro em torno de 13.000 livros. A medida que os cursos foram sendo transferidos para o Campus Taquaral os respectivos livros iam sendo levados. Calculo que devem existir mais de 30.000 livros na biblioteca do Campus Taquaral. Sem contar o Campus de Santa Bárbara D`Oeste e o Campus de Lins. A biblioteca que pertenceu ao folclorista João Chiarini inicialmente foi para um depósito para ser cadastrada. Nesse mesmo deposito tinha muitos livros bem antigos. O pátio do prédio na Rua Boa Morte, a noite tinha que andar de lado de tanta gente. Depois que inauguraram Taquaral, Santa Bárbara.
                                          LANÇAMENTO DO COMPLEXO TAQUARAL
A senhora leu muito?
Li e leio bastante. Comecei lendo filosofia. Adorei. Conforme ia chegando os livros, ia lendo. Tive a oportunidade de fazer muitos cursos que eram oferecidos pela universidade, todos voltados para o trabalho com os livros, inclusive Marketing Bibliotecário, Psicologia, com isso ia me aprofundando cada vez mais.
A qual a leitura que a senhora está se dedicando mais agora?
Estou lendo muito sobre religião por estar fazendo um curso a respeito. Sou católica, catequista e agora vou iniciar aulas de catequese para adultos. Há muitas pessoas que sequer são batizadas! Apesar de não ter podido estudar formalmente a vida foi uma escola que me ensinou.
Até hoje a senhora gosta de ler?
Gosto muito! Leio de tudo! Depois separo o joio do trigo.
Há muita técnica envolvida na manutenção de livros?
São necessárias uma série de procedimentos. Cada livro exige um tipo de cuidado em sua manutenção. Quando há traça tem ser passado o veneno próprio. O ideal é a dedetização. Na prateleira não se põe ela inteira cheia de livros, uma vez por semana, a cada quinze dias, você pega o livro e limpa, muda de lugar na estante. Vai limpando o lugar e o livro. Isso evita que a traça venha. Os livros muito antigos são mais delicados. Temos lá na biblioteca uma bíblia do século XIX. Ela fica quebradiça, é mandada para especialistas arrumarem, dá para ler, não fica muito bonito, mas recupera.
A senhora usa internet?
Uso! Acho que o livro digital não vai substituir o livro em papel. Hoje temos inúmeras obras na internet.
Por que dizem que o brasileiro não lê?
Há o fator custo, mas também não há interesse em ler. O pouco que lêem é em sua maioria leitura de consumo.
Qual é a melhor forma de incentivar a leitura?
Se o custo do livro for menor já ajuda muito. Na escola eles pegavam muitos livros na biblioteca. Às vezes a criança ainda não sabia ler, mas a mãe lia para eles. Os pais são responsáveis em incentivar a leitura. Pelo fato de que eu gosto de leitura, todos os meus filhos gostam de ler. A família deve motivar, com o passar do tempo a própria criança irá mostrar sua vocação para leitura.
Sob o ponto de vista da senhora qual é a importância do livro para a humanidade?
É uma estrada interminável. Uma casa sem livros é uma casa meio morta.
O Estado deveria ter uma política voltada para incentivar a leitura?

Acho sim. Lembro-me que em Piracicaba chegaram a fazer um ônibus que estacionava em determinados pontos e oferecia livros emprestados. (Atualmente no Parque da Rua do Porto, aos domingos pela manhã, são colocados livros para doação, assim como os jornais do dia para leitura no local). Eu tenho uma passagem bastante curiosa que aconteceu comigo e com o meu neto Ricardo, ele morava com a minha filha e sua família em São Paulo. Ele telefonou-me dizendo que não ia para a escola porque não sabia fazer a lição. Disse-lhe que pegasse o caderno, eu ia ditar e ele iria escrever. Disse que após escrever deveria ler umas dez vezes, porque se a professora perguntar ele saberia o que tinha escrito. Fui ditando, ele foi escrevendo. No outro dia ele foi para a escola. Na volta a mãe perguntou-lhe como tinha ido, ele disse que ia telefonar para a avó. Ele ligou todo eufórico dizendo: “- Vó! Tomamos dez!”. Hoje ele é adulto, tem um conhecimento geral muito grande, já morou em vários países. 

sexta-feira, setembro 04, 2015

CLAUDINEI POLLESEL

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 05 de setembro de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:
CLAUDINEI POLLESEL


Qual é o seu nome completo?
Cladinei Pollesel isso porque requeri a cidadania italiana, tive que adaptar meu sobrenome que era com “l” e “z” para dois “l” e “s” ara ficar igual ao original do meu bisavô. Naquele tempo ainda se exigia essa adaptação.

Você nasceu em que localidade?
Nasci em Piracicaba, no bairro do Rolador. Exatamente onde eu nasci hoje se chama Jardim Itamaracá. Ao lado do bairro Sol Nascente e do bairro Alvorada. Ali eram sítios, chácaras. É um mistério até hoje porque o bairro tinha esse nome: Rolador. Eu tenho a tese de que tem a ver com “rolo”, em Piracicaba quando se faz uma permuta diz-se que foi feito um “rolo”. É um bairro antigo, existem registros com esse nome Rolador, antiqüíssimos. O escritor, jornalista e historiador Cecílio Elias Netto já localizou até uma capela naquele bairro, a Capela do Rolador. Foi naquele bairro que nasci a 30 de setembro de 1968. Hoje ali virou uma série de bairros. O meu nome é Claudinei por causa do goleiro do Esporte Clube XV de Novembro, meu pai é fanático até hoje. O goleiro do XV em 1968 era o Claudinei. E eu nunca gostei muito de futebol!
Qual é o nome dos seus pais?
José Alberto Polezel e Rosa Caetano Polezel. Existe uma grande família em Piracicaba, inclusive mora aqui perto o luthier piracicabano Nelson Polizel, é outra família. Meus filhos já foram registrados da forma nova. Meus pais antes de eu nascer trabalhavam como oleiros, na época em que nasci meu pai já era agricultor, era meeiro, trabalhava com o cultivo de arroz.
Tendo a Praça da Catedral como referência, até lá dá qual distância?
Uns 10 quilômetros. Nós fazíamos esse caminho, do sítio onde morávamos até o Piracicamirim. Íamos a pé, a cavalo ou de carroça. Era comum fazer esse caminho do sítio onde morávamos até o Piracicamirim, a nossa referência de “cidade” não era bem o centro, era o “Pisca”, corruptela de Piracicamirim. É ali que vínhamos na venda, adquirir bens, a nossa igreja era a Capela Nossa Senhora Aparecida, que pertencia a paróquia do Bom Jesus. Naquela época monsenhor Rubens já estava lá, era muito conhecido dos meus pais. Meus pais se casaram na igreja do Bom Jesus, e nós, cinco irmãos: Maria Cecília, José Carlos, Ana Aparecida, João Luiz e eu Claudinei, fomos batizados na igreja do Bom Jesus, todos pelo monsenhor Martinho Salgot. Foi ele quem fez o casamento dos meus pais.  



Com que idade você começou a estudar?
Meu primeiro ano foi em 1976, na Escola do Taquaral. De onde morávamos até o Taquaral, eram praticamente três quilômetros, que percorríamos a pé. Minha mãe era a merendeira da Escola do Taquaral. Meus irmãos e eu, todos estudamos na Escola Mista da Fazenda Taquaral. Fiz todo o curso primário na Fazenda Taquaral. Minha primeira professora foi Dona Gilda Lavorenti que deu aulas no primeiro e segundo anos, e no terceiro e no quarto ano minha professora foi Gislene Maria Macluf Medinilha, casada com José Medinilha. Atualmente com quase 50 anos ainda lembro-me do primeiro dia de aula, não sabia fazer quase nada, não sabia escrever, lembro-me das mãos de Dona Gilda, ela pegando na minha mão para fazer as primeiras escritas, essa imagem ficou gravada, aquela mão dela, com as suas unhas pintadas em vermelho, bem feitas. Segurando na minha mão para que eu aprendesse a escrever! A cartilha era Caminho Suave. Ia para escola pela manhã, a pé. 
De quem era a propriedade?
A Fazenda Taquaral estava sob o controle da Usina Monte Alegre. Naquela época existia a igreja, o patrono era São José, a escola, a sede, a colônia, o campo de futebol, o gabinete dentário.
Para localizarmos com mais precisão ficava exatamente em que lugar?
Seguindo pela Avenida Rio das Pedras, sentido Centro-Unimep, lembrando que a Unimep está a esquerda da Avenida Rio das Pedras, e a Fazenda Taquaral estava a direita. Ainda existe remanescente o campo de futebol da Fazenda Taquaral, que entrou em litígio porque se não me engano a Associação Piracicabana de Futebol ou entidade semelhante tinha a posse desse campo. Na época o Padre Joaquim que era pároco do Piracicamirim tentou conter a demolição, mas a capela era particular, não era da Diocese e não era tombada. Assim como também a escola foi demolida, era um prédio enorme, com dois andares, biblioteca, também foi destruída porque não estava doada ao Estado. Era uma coisa interessante que a escola oferecia no inicio do ano um quite que tinha os materiais da escola, além de um tênis, uma blusa e um jaleco, um guarda pó. A escola era da Usina Monte Alegre, nós não éramos funcionários da Usina, mas tínhamos acesso a essas regalias. Após terminar o quarto ano nessa escola estudei por dois anos na escola Pedro Moraes Cavalcante, que fica no bairro Dois Córregos. Ai já era levado pelo ônibus. Lucio Ferraz, que depois se tornou prefeito de Saltinho, foi diretor dessa escola. Depois meu pai mudou-se dali, foi morar no Campestre, exatamente atrás da Usina Santa Helena, na Fazenda Canadá. De propriedade da família Filipini: Milos, Nilton, Benito. Nesse período estudei em Rio das Pedras, fiz a sétima e oitava série, na Escola Estadual Professor Manoel da Costa Neves "Macone", ia de ônibus. O prefeito de Rio das Pedras era Álvaro Bianchim. Após concluir a oitava série fui para Saltinho, para concluir o colegial no Colégio Manoel Dias de Almeida. Sou formado em História pela UNIMEP.
Nesse período você trabalhava?
Trabalhei com o meu pai, nessa época ele cuidava de uma cerâmica em Saltinho. Nesse período do colegial eu já estava no Seminário Xaveriano da Paulicéia, onde hoje é a Casa Paroquial, na Rua Antonio Bachi, 1065 Ali foi a casa do Padre João Echevarria, ele foi o construtor. Lá era um seminário que não tinha um curso colegial interno. As pessoas estudavam fora, uns estudavam no Dom Bosco, outros estudavam na escola do bairro. Fiz o seminário morando naquela casa, deixei a casa dos meus pais e vim morar no bairro Paulicéia, no Seminário Xaveriano, nessa época eu tinha uns 15 a 16 anos.
Na época era uma região diferente do que é hoje?
Era um bairro de periferia.
Qual era o seu lazer?
O meu lazer sempre esteve ligado a leitura, a igreja, amizades. Sempre gostei de freqüentar a vida social da cidade, os museus, os eventos culturais. Após concluir os estudos em Saltinho fui estudar Filosofia na PUC de Campinas.
O que o atraiu para o Seminário Xaveriano?
Em 1982 mudei para o bairro Campestre, lá há uma capela da Paulicéia, cuidada pelos Xaverianos. Conheci os padres Giuseppe Chiarelli, (Pe Zezinho) e Padre José Ibanez Serna que eram os padres tanto do bairro Chicó, cujo padroeiro é São José, como no bairro Campestre. O Chicó não é mais capela da Paróquia da Paulicéia, é capela da nova Paróquia que foi criada na Água Branca, que se chama Capela São João Batista Precursor. Eram as duas capelas em que eu ia com a minha família a missa e as duas eram administradas pelos Xaveriamos. Eu me encantei por eles.
Você é uma das pessoas mais bem informadas a respeito da estrutura religiosa católica de Piracicaba?
Eu gosto da igreja católica, da sua história, sou um estudioso. Tive o privilégio de trocar correspondência com Dom Ernesto de Paula, que foi o primeiro bispo, fundador da Diocese, quando eu era seminarista tive o prazer de escrever para Dom Ernesto, e ele escrevia para mim. Considero relíquias os escritos de Dom Ernesto. Conservo essas cartas comigo até hoje.
Você continuou no Seminário Xaveriano?
Saí do seminário, caso continuasse deveria ir para Curitiba, estudar filosofia. Como eu não tinha tanta certeza conversei com o bispo na época, Dom Eduardo Miled Koaik e pedi para ingressar no seminário da Diocese que fica em Santa Barbara D`Oeste. O reitor na época era o Padre Salvador Paruzzo que hoje é o bispo de Ourinhos. Permaneci um ano fazendo Filosofia na PUC de Campinas, e morando em Santa Bárbara DÒeste, no seminário da diocese. Aí resolvi sair e não quis continuar mais com a vida religiosa.
Você deve ter sentido muito em deixar a vida religiosa?
Senti muito, sinto falta até hoje. Existe um ditado entre os seminaristas que diz: “Você deixa o seminário, mas o seminário não deixa você.”
Pode-se dizer que você é um exemplo típico de quem a Igreja Católica poderia aproveitar toda a vivência e vocação de um padre que seja casado?
Na verdade, o celibato não é teológico, não é um dogma fechado. A Igreja Católica pode mudar isso a qualquer instante. Existe uma possibilidade de essa mudança acontecer. Mas, não será pelo que parece, com o papa atual, Francisco. Ele já declarou que não irá mudar isso.
Existe uma resistência muito forte?
E existe também o receio de que se é realmente bom que isso aconteça. A Igreja não tem certeza de que terminar com o celibato seja bom. Talvez o meio termo seja bom. Como a Igreja do Oriente, que tem padres solteiros e padres casados. Seria opcional. O padre solteiro, sempre será melhor para a Igreja. Ele pode ser missionário, tem disponibilidade, pode ser transferido, não precisa se prender a questões domésticas. Ele está cem por cento disponíveis. O padre casado tem a função de ser um exemplo interessante. Há um numero altíssimo de padres que estão casados e são mal aproveitados. Piracicaba que o diga, quantos padres que estão casados? E continuam padres. Não são padres atuantes porque a Igreja não permite. Padre é padre sempre! Esses homens que estão casados e tem a ordem, deveriam ser os primeiros a serem aproveitados. O padre que se casou, deveria ser mais bem aproveitado. Quantos existem em Piracicaba! Assim como aquelas pessoas que tem condições de serem padres e são casados. Deveriam também ser aproveitados. A Igreja não deu esse passo ainda. E nem sei se dará esse passo logo, porque passou a crise das vocações. Tem muita vocação!

As vocações aumentaram?
Aumentaram, Existem congregações que passam por dificuldades e outras não. É um fator que alguém deveria estudar os porquês. Na década de 80 quando fui seminarista, imperava a Teologia da Libertação. Ela foi boa, é boa até hoje em muitos aspectos, mas não para vocação. Ela não favoreceu as vocações. Ela não favoreceu a espiritualidade específica e perderam-se vocações. São as vitimas da Teologia da Libertação. Ela foi mais para o social, foi bom, foi útil. E, produziu santos. Que o diga D. Aniger, D. Eduardo, Prof. Almir de Souza Maia, Elias Boaventura. São pessoas dessa época que produziram frutos espirituais e materiais ao mesmo tempo. No âmbito nacional, D.; Helder Câmara, D. Paulo Evaristo Arns, D. Luciano Mendes, D. Thomaz Balduino. Agora, para vocações não foi bom. Passada essa época da Teologia, entrou a época em que eu chamo de Renovação Carismática. Essa época da espiritualidade maior foi boa para a vocação. Os jovens que querem ser freiras ou padres procuram congregações tradicionais. Que usam habito, tem um carisma definido.
Existem igrejas ou santuários que atraem multidões, e há o inverso também. É o carisma de quem conduz que atrai multidões?
Na verdade, a primeira coisa que existe é o carisma de quem está liderando. As pessoas querem ser lideradas por um líder com a o qual se identificam. Deveria haver por parte do católico uma mudança de mentalidade, não se deveria ir atrás de um líder e sim de Jesus.
Em sua concepção o que significa Deus?
Eu nunca tive dúvidas da presença de Deus! Na minha vida, Deus sempre foi uma figura muito presente, real. Eu consigo ver Deus no meu dia a dia. Sinto a presença de Deus como alguém que está próximo. Nunca tive dúvidas se existe ou não existe.
Você é casado?
Sou casado com Dalva Severo Pollesel, temos dois filhos: Ezequiel e Vitória, com 21 e 18 anos. Casamo-nos na Catedral de Santo Antonio, o casamento foi celebrado pelo padre Claudio, dos claretianos. Foi em 8 de fevereiro de 1982.
Como vocês se conheceram?
Desde que sai do seminário fui administrador de restaurantes. O primeiro restaurante que administrei quando sai do seminário foi a churrascaria Beira Rio, tanto eu como a Dalva trabalhávamos lá. A Dalva é de Jacupiranga, uma cidade do Vale do Ribeira, onde também nasceu a dona d a churrascaria Beira Rio, a Luisa Laude.
Para o católico o que é a confissão?
Confissão é um ato de humildade maravilhosa. Você admitir diante de Deus, diante do padre, que você tem falhas. E, admitir diante de uma pessoa que também tem falhas! Isso é um aspecto muito bonito da confissão. O fato de confessar é uma limpeza da alma. Não existe pecado que não seja perdoado.
É uma energia renovada no confessionário?
Por isso que a Igreja pede que pelo menos uma vez por ano a pessoa faça a confissão. Hoje as pessoas não valorizam o que tem de mais simples e sem nenhum custo, preferem buscar outras alternativas.
O fato de a pessoa ter fé influencia em sua saúde física e mental?
Não tenho duvida disso! Tendo fé ela consegue vencer inclusive os males atuais, que é a depressão, tendo fé ele irá compreender a vida com mais energia, naturalidade. Entenderá que o que existe de ruim também passa. Ela não irá se ater nem ao negativo demais nem ao positivo demais.
Claudinei, como você vê a vida depois da morte?
Alguém já disse assim: “Se morrer é estar com meus pais, com meus antepassados, bom! Se morrer é estar com as pessoas que eu gosto, é bom! Se morrer é estar com Deus é isso!” A fé é a certeza de estar com Deus. Você não perde nada tendo fé. Imagine que não existe nada, você não irá descobrir! Qual é a perda? Vamos ter fé! Você não terá aquele momento de pensar ou dizer: “-Meu Deus não tem nada aqui!”. Você não terá esse momento. O que vai existir é que você irá retornar para Deus. Santo Agostinho dizia que somos uma gota no oceano. A minha fé diz: “-Eu vim de Deus e volto para Deus!”. A humanidade está cada vez mais triste, cada vez mais distante do sagrado, toda vez que você se distancia do sagrado , quando acha que você é tudo, pode tudo, você quer tornar-se maior do que Deus. E isso causa tristeza.  
Ao concluir o curso de História na UNIMEP você realizou um trabalho muito interessante de pesquisa?
Foi sobre a minha família, fiz a pesquisa e publiquei o centenário da família Pollesel no Brasil. É um censo de todos os descendentes dos meus bisavós, Fortunato Pollesel e Regina Gobbo, vieram da Itália em 30 de outubro de 1897 pelo vapor Manila, foram até Itatiba e de lá para Campinas. Esse casal teve 12 filhos, 62 netos, 134 bisnetos, 174 tetranetos e doze quintonetos. Um casal só em 100 anos gerou 394 pessoas. Eu relacionei as 329 famílias que vieram juntas com ele no mesmo navio, são 1597 pessoas.
                                           FOTOGRAFIA DO VAPOR MANILA

A seguir você escreveu outro livro?
Eu gosto muito de biografia, escrevi a biografia do Padre Drumond, que morava atrás da Igreja São Judas Tadeu, ele é o fundador da Congregação das Irmãs do Cenáculo. Primo de Carlos Drumond de Andrade, jesuíta, veio para Piracicaba, na década de 50 fundou uma congregação de freiras que existe até hoje, ele faleceu na década de 90 com mais de 90 anos. Era um poeta exímio, eu escrevi a biografia dele e anexei alguns versos inéditos, escritos a mão pelo padre (Roberto) Drumond. O prefácio é de Cecílio Elias Netto. O terceiro livro escrevi sobre a biografia da companheira dele na fundação das irmãs do Cenáculo, que é a Madre Maria do Cenáculo (Zulmira Soares), essa religiosa teve a inspiração de fundar uma congregação, por volta de 1956, e convidou o Padre Drumond. Elas foram acolhidas por Dom Ernesto de Paula, primeiro bispo de Piracicaba. Depois disso fui para São Paulo e encontrei meu antigo reitor do Seminário Xaveriano, que é o Padre Giovanni Murazzo, tínhamos o habito de caminhar no Parque da Aclimação rezando o terço. Planejamos alguns livros caminhando: “Os Jovens e a Civilização do Amor”, um livro dirigido aos jovens, edição bilíngüe, português e italiano, “Memórias do Padre Luigi Médici” também em português e italiano. Logo depois surgiu “Diário de Um Homem Feliz”, que é a biografia do Padre Luigi Médici. Quando Padre Giovanni Murazzo completou 50 anos de padre, planejei uma entrevista com ele, que se tornou esse livro aqui. “Missionário, Ternura da Família Trinitad”, já na terceira edição, foram feitos mais de três mil livros. Português e italiano também. Pra comemorar os 60 anos da Paulicéia, publiquei “Paróquia Imaculado Coração de Maria – 60 Anos de Vida e Missão”. Desde quando eu era seminarista na Paulicéia, eu sonhava em publicar os escritos do Padre João Echevarria, esse livro é cópia do livro tombo número um. Depois veio a “Biografia da Madre Celina”. Dom Ernesto trouxe para Piracicaba dois conventos de clausura: as carmelitas e as concepcionistas. A Madre Celina é uma das cinco primeiras, uma das fundadoras, faleceu no ano passado. No total, até o momento são 10 títulos de livros publicados.





                                                                             





                PINTURAS REFERENTES AO AVÔ E AVÓ PATERNO DE CLAUDINEI
                                     NO CENTRO BRASÃO DA FAMÍLIA POLLESEL

História da Igreja Senhor Bom Jesus do Monte

Tudo começou no dia 08 de outubro de 1857, data em que o terreno na qual se localiza a Igreja Senhor Bom Jesus do Monte, foi doado por João Antonio de Siqueira, onde já existia uma capela, mas o bispo Conde Dom Barreto, da diocese de Campinas, à qual Piracicaba pertencia, entendeu que a cidade estava crescendo e necessitava criar urgentemente uma paróquia.
Para a consecução desse objetivo, concorreram com valiosa ajuda e muito trabalho.
Dados os primeiros passos para a construção, ocorreu o lançamento da primeira pedra no dia 6 de agosto de 1918. Consegue erigir a capela-mor, na qual foram entronizados um grande crucifixo e as imagens de Nossa Senhora e de São João Evangelista. A mesma foi benzida e inaugurada em 6 de agosto de 1919.
Em 4 de dezembro de 1922, por decreto do bispo Dom Francisco de Campos Barreto, foi criada a paróquia do Bom Jesus e seu primeiro padre foi Lázaro de Sampaio Mattos, nomeado no início de 1923, empossado pelo cônego Manoel Rosa, em missa no dia 11 de fevereiro do mesmo ano.
Após alguns meses, o padre Lázaro foi transferido e quem assumiu a paróquia foi o padre Henrique Nicoletti, também por pouco tempo. Sem pároco para serviços religiosos e com a construção da igreja paralisada, a autoridade diocesana determinou ao cônego Manoel Rosa, em 30 de janeiro de 1924, que a igreja fosse fechada para quaisquer atos religiosos e que a chave da mesma ficasse sob sua guarda.
Em 23 de janeiro de 1925, foi nomeado novo padre, Mário Montefeltro, que tomou posse em 2 de fevereiro do mesmo ano, data em que a igreja foi reaberta. Ele consegue através de donativos e quermesses angariar fundos para erguer as paredes e dar início às outras obras da igreja.
Para dar continuidade à construção, foi contratado o construtor Napoleão Belluco.
Em 25 de abril de 1926, o padre Mário foi transferido para Rio das Pedras, e o novo vigário da paróquia foi o padre Francisco Borja do Amaral.
No início de janeiro de 1927, as paredes externas estavam levantadas e as paredes centrais da nave já respaldadas; após o término do madeiramento, iniciado em 5 de maio, deu-se a cobertura da nave central. No dia 20 de maio, chegam às peças de mármore do altar mor. Em 5 de agosto, com a presença do bispo diocesano, houve a inauguração do altar mor.
Segue-se um período de progresso na paróquia. No começo de 1928, a paróquia já contava com 11 associações religiosas e o forro de estuque começava a ser feito.
No ano seguinte, chegam mais bancos, o carrilhão. Este foi o primeiro carrilhão a existir em toda diocese de Campinas.
Em agosto, nos dias 28 e 29, respectivamente, foram inauguradas a pintura da capela mor e a decoração do forro de estuque, trabalho realizado pelo grande artista Mario Thomazzi.
Em 1929, foi aprovada a ideia de substituir a cruz, que seria colocada no alto da torre, pela imagem do Senhor Bom Jesus. Era preciso que a torre fosse terminada, uma vez que após a instalação do carrilhão, as obras ficaram quase paralisadas.
Entre as várias propostas dos interessados em construir a imagem do Senhor Bom Jesus, foi aceita a de Agostinho Odisio. Com a torre levantada e o carrilhão coberto, as peças da imagem foram transportadas da cidade de Limeira para Piracicaba no dia 11 de abril de 1932.
No dia 19, a imagem começou a ser montada e, no dia 22, com o badalar dos sinos e içada a bandeira papal, foi anunciado o término dos trabalhos.
As festas de inauguração do monumento do Senhor Bom Jesus foram marcadas para o período de 30 de julho a 15 de agosto de 1932, no entanto, em virtude do movimento constitucionalista, iniciado no dia 9 de julho, as festas programadas para o mês de agosto foram adiadas para os dias 5 a 15 de novembro.
Finalmente, no dia 13 de novembro de 1932, domingo, tendo como convidado especial o bispo Dom Francisco de Campos Barreto, deu-se a tão esperada inauguração de grandiosa imagem. Ainda foram necessários mais 5 anos para o magnífico templo ficar totalmente concluído, inaugurado em 1 de maio de 1938.
Depois do padre Francisco Borja Amaral, passaram pela paróquia os padres: Vicente Rizzo, Francisco Machado, João Batista Martins, Martinho Salgot e José Nardin. Após a paróquia ser confiada aos Salesianos de Dom Bosco no ano de 1972, passaram pela paróquia os seguintes padres: Otorino Fantin – SDB, Antonio Corso – SDB, Reynaldo Zaniboni Neto – SDB, Hugo Guarnieri – SDB, Aramis Francisco Biaggi – SDB, José Cipriano Filho – SDB, Essetino Andreazza – SDB e o atual Pároco, Antonio Célio Costa Francisco – SDB.
(Fonte de Pesquisa: Luiz Nascimento) IHGP


sábado, agosto 29, 2015

CELIO SOARES MOREIRA

PROGRAMA PIRACICABA HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
JOÃO UMBERTO NASSIF
Jornalista e Radialista
joaonassif@gmail.com
Sábado 29 de agosto de 2015.
Entrevista: Publicada aos sábados no caderno de domingo da Tribuna Piracicabana
As entrevistas também podem ser acessadas através dos seguintes endereços eletrônicos:
http://blognassif.blogspot.com/
http://www.teleresponde.com.br/
ENTREVISTADO:  CELIO SOARES MOREIRA
                                                                                                    Foto by J.U.Nassif
O professor doutor Célio Soares Moreira nasceu em Jaú, a 1º de março de 1930. É filho de Silvio Moreira e Minica que tiveram os filhos: Iná, Célio, Sonia, Raul e Fábio.
Qual era a atividade principal do pai do senhor?
A sua atividade principal iniciou-se por volta de 1932, em Cordeirópolis. Ele era agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiro em 1923. Ele é da terceira ou quarta turma que se formou pela ESALQ. Naquele tempo a turma com a qual ele se formou era composta por cerca de 10 formandos, sendo que ele formou-se em segundo lugar. A Salitreira comercializava salitre do Chile. É uma empresa grande, que existe até hoje. Meu pai foi contratado pela Salitreira para trabalhar em Jaú. Naquela época Jaú tinha uma posição de muito destaque. O café trazia muito dinheiro para a cidade. Eu já era adulto, quando um dia perguntei-lhe: “-Pai, como foi chegar a Jaú, terra de coronéis?”. Ele respondeu que tinha sido muito bem recebido. Muito fidalgamente. Quando a Salitreira o contratou, deu-lhe um “Fordeco”, um carro Ford do ano para ir trabalhar. Quando ele chegou a Jau chamou a atenção de seus moradores. Eles não sabiam o que era um agrônomo! Diziam que se esquecessem um grão de café na terra virava árvore! Após a formação e Jaú ficar um lugar conhecido, alguém mandou para a França uma amostra de terra para analisar. De lá veio uma resposta: “Aquilo não era terra, devia ter adubo misturado”. Era terra roxa.
Qual é a função do salitre para a agricultura?
Ele é estimulador, principalmente da clorofila. Ele tem que estar associado ao potássio e fósforo.
Naquela época não havia adubo composto, eram elementos isolados que eram colocados junto ao solo?
Eu já era mocinho quando fui com meu pai até a primeira fábrica de adubo composto que conheci, era fabricado pela Manah, estava começando suas atividades, o Dr. Fernando Penteado Cardoso, agrônomo formado pela ESALQ é quem estava desenvolvendo o projeto, ficava em um barracão, antes de chegar a São Paulo, nessa época meu pai já estava trabalhando na Estação Experimental de Cordeirópolis.  Ele tinha saído da Salitreira, foi trabalhar em Guatapará, ficou algum tempo e depois  foi para a Estação Experimental de Cordeirópolis. Meu pai nasceu em 1900 e faleceu em 1986.

Em que cidade o pai do senhor conheceu a sua mãe?
Foi em Jaú. Meu avô chegou a Jaú com o diploma de farmacêutico, ele era descendente de franceses, estabeleceu uma vida comercial, casou-se com a minha avó,da família Prado, uma das filhas do casal era a minha mãe. Meu pai e minha mãe se conheceram, casaram-se e foram morar em Guatapará. De lá que vieram para Cordeirópolis, por volta de 1932. Ali ficava a bifurcação da linha-tronco da Paulista que seguia para Barretos e Colômbia, no rio Grande, e a linha do ramal de Descalvado. Existia a estação, uma colônia dos funcionários da Companhia Paulista, não havia mais nada. Naquele tempo o governo estava formando essa rede de estações experimentais. Tinha uma em Sorocaba, em Cordeirópolis, em Campinas. Quando meu pai aposentou-se era chefe da divisão de Estações Experimentais do IAC- Instituto Agronômico de Campinas. 



O curso primário o senhor estudou em qual escola?
Minha irmã e eu íamos de automóvel até a Escola São José em Limeira, era colégio de freiras. Lá estudei até o terceiro ano primário. Por volta de 1940, mudamos para Campinas, papai foi transferido como chefe. 
Foi um choque para o senhor sair de Cordeirópolis e ir morar em Campinas?
Campinas era uma cidade muito rica, que por determinada época chegou a rivalizar com São Paulo. Era uma cidade muito orgulhosa. Campinas ainda era terra roxa. Teve o período da era dos Barões do Café. Era toda região que se estendia por Jaú, Amparo, Pirassununga, Araraquara. Veio até aqui, daqui para frente temos terra de qualidade inferior. Quem tinha posse ia para terra boa, terra roxa, para ficar rico rapidamente. As principais peças de teatro vinham da Europa para Jaú! Não ia para Campinas que era uma cidade que tinha dinheiro, mas estava todo mundo alvoroçado para sair de lá, precisavam progredir! Campinas tinha e tem ainda terra boa, mas é pouca. Jaú já era uma área bem mais extensa.












 Quando mudamos para Campinas, saímos da Estação Experimental de Limeira, que ficava na Rodovia Anhanguera, era estrada de terra, e mudamos para uma casa de um italiano, proprietário de um cortume, ele estava muito bem financeiramente, construiu uma casa na esquina, em frente ao Clube de Campo.  Ele não podia morar ali, era a época da Segunda Guerra Mundial havia pessoas que o hostilizavam, pelo fato de ser italiano. Meu pai acabou alugando a casa, era finíssima, muito bem acabada, tinha um belo jardim em frente. Ficamos sócios do Clube de Campo que ficava bem em frente. Éramos cinco irmãos entre os grã-finos! Tinha piscina, quadra de tênis, quadra de vôlei, instalações para ginástica. Morávamos na Rua Guilherme da Silva esquina com a Rua Coronel Quirino. O bonde passava ali! Ao lado havia o Clube Regatas. Na época um clube modesto, mas com bons esportistas. Passei a freqüentar a natação do Clube de Campo. Os bailes eram memoráveis, freqüentados pela fina flor de Campinas. Eu tinha uns 15 anos. Em frente a nossa casa morava um juiz cujos filhos iam ao clube. Outro vizinho era o proprietário da Piccolotto Calçados e Roupas eles tinham dois filhos e uma filha. Fomos grandes amigos.
Em Campinas o senhor fez seus estudos em que escola?
Fiz o curso preparatório para exame de admissão ao ginásio. Prestei o concurso, entrei em uma escola do Estado, era uma Escola Normal, o prédio inclusive muito semelhante a nossa Escola Normal, hoje Instituto de Educação Sud Mennucci. Lá eu cursei o ginásio, a primeira professora que tive era professora de música, regente, era muito conhecida, Dona Dulce. Ela formava um orfeão, entrei no primeiro ano, ela foi selecionando. Tive professores marcantes, inclusive o de inglês, que graças a Deus era de uma exigência muito rigorosa. Ele tinha sua cartilha. Era o Professor Coriolano. Tinha que estudar aquela cartilha, quando chegasse ao meio do ano ele só falava em inglês. Quem não estivesse a altura de conversar, ele não perguntava, mas também não molestava. Ele repetia a última nota que o aluno tinha obtido, e geralmente era baixa. Vi-me nessa situação. Conversei com os meus pais e passei a ter aulas de inglês com uma professora particular. Fiz meio semestre de inglês com ela. Um dia do mês de junho ele perguntou se alguém queria ir à lousa. Ofereci-me e fui. Fez algumas perguntas, pediu que eu respondesse terminada a argüição mandou-me sentar. Começou a me por na conversa, a conversa dele era mandar que ouvíssemos a BBC em inglês, determinava o horário, a noite e o programa que deveríamos ouvir. Na aula ele se referia ao programa. Deu uma prova escrita, fui muito bem. Estranhando o meu desempenho pediu que fosse até a lousa e fez-me uma sabatina. Eu estava preparado. A partir daquele dia passei a fazer parte do time dele. Meu primeiro ano de ginásio foi no prédio onde existe uma praça cheia de palmeiras. O intervalo das aulas era na praça em frente, não havia pátio. Havia o famoso pouso das andorinhas, que chegavam de vôo, reuniam-se antes de continuar o vôo, daí o cognome de Campinas: “Cidade das Andorinhas”. Era uma quantidade incontável de andorinhas.
Após concluir o ginásio o senhor foi fazer o colégio?
Fiz o curso preparatório e entrei para o Colégio Culto à Ciência, colégio do Estado. Concluindo o colégio vim para Piracicaba para estudar na ESALQ.
Como surgiu a vocação para estudar agronomia?
O meu pai tinha se formado na ESALQ. Eu sempre viajei com ele, gostava da profissão. Uma vez disse que gostaria de plantar feijão. Ele marcou um quadrado, disse-me: “-O arado está aí se quiser pode plantar nesse pedaço”. Coloquei o arado no pedaço, mal ou bem acabei plantando. , era arada com tração de um animal só. Na hora de colher foi uma decepção. Meu pai disse-me: “Feijão é lavoura de manutenção própria para o individuo que a planta”. Muito mais tarde tive a comprovação, depois de formado, em meu terceiro emprego, o fazendeiro que quis plantar feijão perdeu muito. Eram quatro alqueires de feijão que estavam em uma área cujo destino final era servir de pasto.
Em que ano o senhor entrou na ESALQ?
Foi em 1950. Tenho o nome de todos que se formaram na nossa turma, guardo comigo o convite de formatura. A única mulher da turma era Olga Zardetto de Toledo. Tive aulas com grandes professores: Prof. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos, Eduardo Augusto Salgado, genética tive aulas com Friedrich Gustav Brieger, Walter Radamés Accorsi,  Edgard do Amaral Graner, Salim Simão.
Em Piracicaba o senhor morava em que lugar?
Você conheceu uma república chamada “Mosteiro”? Éramos cinco moradores, fundamos a república e alugamos uma casa, em frente onde mais tarde foi a Escola de Odontologia, ali havia um colégio de freiras. Na Rua Alferes José Caetano. Na outra esquina tinha a casa do Ex-Prefeito Luiz Dias Gonzaga, a república era no sentido bairro-centro, a segunda casa.
Quem escolheu o nome da república?
Foram as meninas internas do Colégio São José. Na verdade elas caçoavam de nós.  Colocamos cortinas nas janelas, para podermos ter mais liberdade. O pessoal da ESALQ colocou o nome de “Mosteiro”.
A diversão naquela época qual era?
Eu não tinha dinheiro para diversão! Fui equilibrar minha mesada quando mudamos para outra casa da republica, descendo a Rua Alferes José Caetano, após a Rua Voluntários da Pátria. Continuou com o nome “Mosteiro”. Nesse grupo de cinco estudantes, o único que era pobre era eu. Arrumei um emprego, uma amiga de Campinas, disse-me:” –Se você arranjar a sala, tenho como montar uma biblioteca”.
Como o senhor conheceu a sua namorada?
Acho que foi em um baile, no Cristóvão Colombo, na esquina da Rua Governador Pedro de Toledo com Rua São José. O nome dela era Rosa Maria Fleury Moreira, conhecida como “Tuia”. Filha de Aldrovando Fleury. Irmã de João Ribas Fleury. Casamos em São Paulo, tivemos três filhos: Ângela, Eduardo, Arnaldo. 
A Lua de Mel foi onde?
Foi em São Vicente, era a moda na época. Fomos em um carro do meu pai, Chevrolet 1951, azul. Fui ser agrônomo, chefe da Estação Experimental de Ubatuba. Era uma localidade ainda em desenvolvimento, não tinha o movimento que existe hoje. Chegar até Ubatuba era uma aventura, estrada de terra, tinha que ir até Taubaté, não havia a Rodovia dos Tamoios. Quando assumi a Estação Experimental de Ubatuba não estava casado ainda, me empreguei como Chefe do IAC em Ubatuba. O Instituto Agronômico fornecia alguma condução para ir para lá, geralmente a pior condução. Era muito comum ir de jipe, esse jipe era resto de guerra, americano, descia a serra, era uma aventura, havia dois horários de ônibus, quem estava descendo ficava preocupado por não ter cruzado ainda com o ônibus. Quando cruzasse não passava os dois veículos. Tinha que ajeitar.
Não havia trânsito?
Havia trânsito de caminhão de banana! Só que com o caminhão de banana era bem mais fácil de passar ao lado do jipe. O perigo era o ônibus, porque ele vinha despreocupado. Ali a cultura forte era a banana. Permaneci lá um ano e meio. Tinha uma casa na Estação Experimental, a comida era feita por uma empregada. A comida de Ubatuba é baseada em peixe. Quando havia sobra eles ofereciam de graça o camarão. O porto de Ubatuba era muito pequeno, não tinha frigorífico, toda semana passava uma barca com frigorífico. Eles pescavam e tinham que vender. Se a barca não passasse aquela semana, ou atrasasse três ou quatro dias o que tinha sido pescado podia estragar. Eu estava a sete quilômetros da cidade. Às vezes ia de bicicleta. Formei muitos amigos lá, a Cachaça Ubatubana era muito famosa, fabricada por uma família de Piracicaba que moravam na  Fazenda Velha, os Irmãos Chiéus, fabricavam a pinga Ubatubana. Fui membro do Rotary Club que já existia em Ubatuba  na época. Ia daqui para lá o especialista em genética de cana, que era o chefe das Estações Experimentais.
O senhor ficou aproximadamente um ano e meio lá?
 O Janio Quadros fez uma circular onde todo funcionário que tivesse menos de 10 anos trabalhando para o Estado até tal data estava dispensado. Dali a uns meses eu iria completar os 10 anos. Vim para Piracicaba, marcamos o casamento, depois saímos em viagem de núpcias em Itanhaem voltamos à Campinas e Piracicaba. Fui trabalhar,  arrumei um emprego para trabalhar em Xiririca, hoje se chama Eldorado. Surgiu uma vaga na Casa da Lavoura de Rio das Pedras. Rio das Pedras não tinha condução, não tinha sede,. No começo eu ia de ônibus. Existia um armazém grande, cujo proprietário era sócio da usina, ele ofereceu à Casa da Lavoura para que ocupasse uma sala no prédio dele.  Em resumo, tinha uma sala que não era de ninguém, uma mesa, eu tinha que andar a pé. Não tinha condução, não tinha nada. A opção que restava era um sitiante vir me buscar e levar para seu sítio. Mas ninguém estava interessado nisso. Tinha a cooperativa, dentro da Usina Bom Jesus. Quando eu produzia muda, plantei uma fileira de palmeiras imperiais em frente a Usina Bom Jesus. Depois de algum tempo eu ia de Lambretta para lá. Estrada de terra. Um dia que choveu muito não cheguei. A roda empastou de lama. Decidi sair, pedi demissão em Xiririca, meu irmão Raul, tinha se formado agrônomo, foi para lá onde ficou o resto da vida.
O senhor voltou à Piracicaba?
Voltei, decidi adquirir um sítio. O Bellato substituiu o Dante. Ele foi ótimo, ele gostava desse entrosamento com as famílias. Foi excelente. Adquiri um sítio em Tupi, eram 15 alqueires, adquiri junto com O Esmani Junqueira Dias e outro sócio era o João Fleury, ambos meus cunhados. Adquiri para fazer mudas, comecei a fazer mudas de laranjas, uma área que eu tinha bastante conhecimento. Cheguei a ter de 40 a 60 mil mudas de laranja. Em paralelo comecei a plantar mudas de rosas eu trazia de uma localidade próxima a São Paulo.
 O clima aqui é bom para esse tipo de cultivo?
Roseira e laranja vai bem no mundo inteiro. Fazia a enxertia. Tinha uma coleção de plantas e laranjas para tirar borbulhas e fazer enxertos. Naquele tempo era obrigado a ter árvores selecionadas, de origem conhecida, vendidas pelo governo e o governo fiscalizava. A Casa da Lavoura ia a cada três meses verificar se as plantas estavam de acordo com as normas. As minhas plantas eram garantidas pela Casa da Lavoura. A primeira viatura que adquiri era mais velha do que eu, era uma caminhonete Chevrolet, 1927. Depois tive uma Kombi. Nesse meio de tempo o Prof. Felipe Westin Cabral de Vasconcelos convidou-me para trabalhar com ele, na ESALQ. Isso foi em 1960. Entrei como professor assistente convidado. Após quatros tinha que fazer um concurso para ser professor assistente. Fui professor adjunto. Fui livre docente e depois professor titular na horticultura. Finalmente tornei-me professor catedrático.  O Heitor Montenegro foi para a FAO- Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura onde ficou um tempo. Trabalhei bastante tempo com o Professor Dr. Jairo Ribeiro de Mattos.
O senhor aposentou-se quando?
Aposentei-me como professor titular em 1990.
O senhor foi Presidente do Lar dos Velhinhos?

Entrei com o Jairo Ribeiro de Mattos em 1971, permaneci até 2.000. Ocupei os mais diversos cargos dentro da instituição, inclusive a de Presidente do Lar dos Velhinhos. 
                                                                                                    Foto by J.U. Nassif


A ESTAÇÃO: Cordeiro, ou Cordeiros, era um lugar perdido perto da histórica Fazenda Ibicaba que acabou sendo escolhida para ponto de saída da estrada do Mogy-Guassú, mais tarde chamado de ramal de Descalvado, porque, apesar do seu isolamento, apresentava condições técnicas mais favoráveis para a saída da nova linha. A estação foi inaugurada em 11 de agosto de 1876, no mesmo dia da abertura da estação de Rio Claro, como um barraco de madeira, como a maioria das estações daquele tempo. Seu nome viria da existência por ali de cordeiros - ou seja, fabricantes de cordas, embora hoje em dia se aceite como mais provável a herança do nome, pela estação, da antiga fazenda Cordeiro. Mesmo com o isolamento, somente cinco anos mais tarde se pensou nos funcionários do local, de acordo com o relato de 1881: "Em Cordeiro tambem se construiu um rancho de madeira para os empregados dalli, visto não haver commodidade alguma naquelle logar". Dois anos depois, construiu-se um botequim na estação - não seria este ainda, no entanto, aquele que foi conhecido pelos freqüentadores da estação até os anos 1990. Em 1914, o prédio foi reformado e ampliado, ganhando um botequim novo em forma de quiosque, no centro do triângulo formado pelo prédio da estação e as plataformas de embarque de cada uma das duas linhas. O quiosque tornou-se famoso pela sua beleza e arquitetura. Cordeiros tornou-se, então, mantendo basicamente o mesmo prédio de 1883, uma das estações mais belas da Paulista. Em 1916, com a modificação das linhas de bitola larga da Paulista, continuou como uma estação do tronco principal, mas a linha para Descalvado se tornou a partir daí o ramal de Descalvado, e o tronco seguia para Rio Claro e São Carlos. Nos anos 1940, a cidade emancipou-se com o nome de Cordeirópolis. A partir de fevereiro de 1977, os trens de passageiros para o ramal de Descalvado não circularam mais. Cordeirópolis continuou a atender os passageiros do tronco, com a estação seguindo ativa até 1995. O abandono pesado veio em seguida. Mesmo embarcando uma quantidade muito diminuta de passageiros até março de 2001, quando passou por ali o último trem de passageiros da nefasta Ferroban, o prédio foi sendo invadido aos poucos por mendigos, que causaram dois grandes incêndios, um, em 1993, que destruiu totalmente o belo quiosque de madeira, e teria sido causado por um funcionário da Fepasa descontente, e outro em 1995, depois do fechamento da estação no início de abril, que destruiu o interior da casa de controle, do outro lado da plataforma em relação ao prédio da estação. Aliás, ainda pode se ler no dístico pintado na casa de controle, o nome Cordeirópolis, e, por baixo dele, apagado, o nome antigo: Cordeiro. Sem portas e janelas, e um prédio totalmente vazio e depredado, a estação de Cordeirópolis parece gritar por socorro para cada trem que passa por ali (Do livro de Ralph Mennucci Giesbrecht - "Caminho para Santa Veridiana" - Ed. Cidade, 2003). Em fevereiro de 2004, a Prefeitura acertou a compra do prédio, já nas últimas, com a Rede Ferroviária Federal, sua proprietária desde a extinção da Fepasa, em troca das dívidas existentes. No entanto, desde então, a estação está cada vez mais em frangalhos. Alguns edifícios do imenso pátio foram recuperados. O belo e histórico prédio da estação e a cabine de controle, bem como o armazém das locomotivas, não foram. Notar que o prédio da estação de Cordeirópolis é o mesmo, com algumas reformas, desde a inauguração da estação, em 1876. É ele o prédio de estação mais antigo das linhas da hoje extinta Companhia Paulista. Ao que tudo indica, o milagre esteve perto: em 2009, começaram obras para a restauração do prédio da estação. Mas logo pararam e a estação degradoi-se mais ainda. Em novembro de 2014, a estação estava cercada, de forma a restringir o acesso de vândalos. Porém, continua do mesmo jeito, abandonada e arruinada.   Ralph Mennucci Giesbrecht

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